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A perspetiva empírica dos riscos

No documento Tese_Doutoramento 27dez.pdf (páginas 121-125)

CAPÍTULO 2 – O GOLFO DA GUINÉ E O PETRÓLEO

2.4. Riscos associados ao petróleo do golfo da Guiné

2.4.1. A perspetiva empírica dos riscos

No quadro da decisão de investimento, que compreende as perspetivas, académica e da gestão, as noções de risco e incerteza, são muitas vezes confundidas, sendo de acrescentar que, mesmo se nos circunscrevemos ao domínio de análise teórica, continua a ser evidente a ausência de convergência nas aceções que diferentes autores apresentam (vide, F. Macmillan, 2000, pp. 16-25). Não iremos aprofundar as destrinças acima aludidas, pelo que nos limitaremos a referir a perspetiva de Harrison relativa ao risco, que é tomado como: Um estado ou condição comum do processo de decisão caracterizado

109 pelo facto de se dispor de informação incompleta relativamente `a probabilidade de um acontecimento futuro (cf., F. Macmillan, 2000, tabela da p. 18, que, aliás, apresenta um conjunto alargado de aceções, alargado às incertezas).

No plano empírico em que nos situamos, a aplicação da análise do risco à cadeia de valor da indústria petrolífera evidencia a existência de várias classificações que, também, não são completamente coincidentes, como é exemplificado pelas abordagens desenvolvidas pela empresa de consultoria A. T. Kearney, e por F. Al-Thani. Com efeito, o primeiro daqueles enfoques, refere seis tipologias de riscos (geológicos e produção/ambientais e regulatórios/ de transporte/ disponibilidade de recursos/ geopolíticos/ de reputação), apresentando o segundo, dois grandes grupos, os riscos globais e os operacionais (cf., C. Enyinda, 2011, p. 39 e F. Al-Thani, November, 2011, p. 3). Mesmo se, no essencial, nos cingirmos ao upstream, como releva do nosso enfoque importa ter presente que esta matéria tem revestido significados algo distintos em função dos diferentes segmentos empresariais em presença neste âmbito da indústria, ou seja, para as IOC, para as NOC e para as Independentes, de que referiremos os aspetos seguintes:

o As alterações de perspetiva que, ao longo das últimas quatro décadas, se colocaram aos atores centrais, as IOC, que apesar de terem perdido posições privilegiadas em domínios cruciais conheceram na década de 90 uma fase em que parecem ter subalternizado a exposição a novos investimentos, preferindo tirar partido (financeiro), das baixas cotações do crude, comportamento por vezes interpretado de forma negativa (vide, NPC, 2007, Topic Paper #7, e, quanto ao último aspeto, A. Jaffe,

et al., 2007, em especial, pp. 19-21. No golfo da Guiné, o comportamento recente deste segmento, ainda que comportando nuances, assumiu natureza seletiva. Basta recordar quer os resultados dos últimos leilões de blocos para concessão, quer a redução parcial da exposição em mercados tradicionais e mesmo, o abandono de projetos em novas localizações, situações que podem ser exemplificadas, respetivamente, pelo round angolano de 2010-2011, pela alienação de alguns interesses da Shell na Nigéria, e pela venda das posições da Chevron na JDZ;

o A expansão e a afirmação recente de algumas NOC, matéria que comporta desenvolvimentos distintos, nomeadamente, a afirmação em domínios cruciais como a gestão e a tecnologia (casos da Statoil e da Petrobras), e a expansão global, sobretudo, das petrolíferas chinesas, centrado num mix que compreende um risco financeiro

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mitigado, tendo presente o objetivo de aceder a condições de exploração cada vez mais exigentes (quanto ao último aspeto, vide Bo Kong, 2010, pp. 94-114). Quanto aos interesses chineses, será de acrescentar que, na fase pós-crise, se assistiu à retoma da respetiva dinâmica expansionista, uma aposta que, tendo presente as realidades estabelecidas não parece ter descurado as novas áreas de expansão, i. é., à procura de entrada em força na Nigéria e à tentativa de obter posições na WATM (vide, secção 5.3., a elaborar);

o Quanto às Independentes, será de referir que, apesar das suas limitações, sobretudo, de dimensão, um estudo de meados da década passada, já, evidenciava a sua maior capacidade de interação com o meio negocial, a menor aversão ao risco e a adoção de estratégias de internacionalização consonantes com as especificidades que lhes estão associadas (cf., G. C, Reid, 2005, em especial, p. 28, 33 e 36, que, também, detalha o significado deste segmento).

No que respeita a desenvolvimentos mais recentes, importa referir que empresas deste segmento surgem intimamente associadas quer à afirmação de grandes projetos em novas áreas produtivas quer à crescente especialização em investimentos que envolvem grande complexidade, caso do pré-sal, situações que podem ser ilustradas, respetivamente, pela Kosmos, que opera o Jubillee field, e pela Cobalt, tida como especializada neste subsegmento específico (quanto ao último caso, vide, E. Calio, 2012). Dada a extensão da matéria em causa, iremos adotar uma perspetiva circunscrita à vertente geopolítica, uma opção que decorre do facto de, na secção anterior, termos abordado, ainda que de forma indireta, algumas das questões relacionadas com as categorias de riscos do domínio comercial e regulatório. Ora, no quadro da análise do investimento, o risco de natureza geopolítica que, de acordo com I. Bremmer et al., corresponde a …qualquer evento que, de forma direta ou indireta, possa alterar o valor de um ativo económico, tem âmbito muito alargado, sendo a respetiva análise complexa, dado as relações de causalidade serem difíceis de determinar, a que acresce o recurso a métodos de avaliação, em geral, subjetivos e qualitativos (vide D. A. Glancy, 2012, pp. 2-3, sendo de referir que estão em causa a definição e as ilações extraídas de um trabalho elaborado, por este autor, em 2009).

Na aceção referida estão compreendidas medidas tomadas pelo Estado (p. e., nos domínios da alteração dos contratos ou da fiscalidade), acontecimentos extremos reportados às relações internacionais (guerra ou terrorismo) ou, mesmo, mudanças

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profundas no panorama socioeconómico, incluindo situações de grande imprevisibilidade (cf., idem, p 3-4). Não seguiremos, no entanto, aquela lógica de abordagem, antes nos iremos circunscrever à perspetiva apresentada pelo Fraser Institute que, conforme já referido, apura um indicador específico, o índice de risco geopolítico referido aos investimentos no upstream do petróleo à escala mundial, sendo este tipo de risco analisado a partir das componentes estabilidade política e segurança (cf., edição de 2010, p. 24). Considerando apenas o índice agregado, os resultados estão em linha com os referidos na secção 2.3.3., com os Camarões, o Gana, o Gabão e Angola, posicionados, por esta ordem, na parte final correspondente ao 3º quartil da distribuição, enquanto os cinco países restantes integram o último quartil, evidenciando-se, pela negativa, a D. R. C. e a Nigéria, respetivamente no 123º e 133º e último lugar (ibidem, figura da p. 26). Sem esquecer o conteúdo da secção 2.1.2. deste documento (cf., A evolução recente da

vertente político-institucional face a um passado comum), importa referir toda uma vasta literatura focada na descrição das realidades envolvidas pela exploração dos recursos minerais e energéticos que faz com que aquelas classificações não pareçam desajustadas, seja no que respeita à especificação politica ou à da segurança.

Com efeito, no que respeita ao foco na componente política, é possível elencar um conjunto alargado de trabalhos que compreendem, desde o plano da denúncia reportada à região como um todo ou a casos nacionais (ex., K. Omeje, 2005 e B. Mcsherry et al., 2006), a outros de carácter mais elaborado, que associam alguns países produtores de petróleo a Estados falhados (ex., S. Patrick, 2006, autor que, em data posterior refinaria esta análise), a obras que assentam numa perspetiva e apreciação mais enquadrante (cf., R. S. Oliveira, 2007, em especial, pp. 63-122).

Quanto ao plano da segurança, as fragilidades são, também, muito consideráveis, compreendendo um vasto leque de conflitos violentos, que incluem guerras de âmbito alargado (guerras civis prolongadas, primeiro, com a secessão do Biafra, em Angola e na R D C, e conflitos regionais extensos, sendo o delta do Níger paradigmático neste domínio (vide, p. e., P. le Billon, 2003, e A. Gonzalez, 2010). Num plano mais circunscrito mas de grande relevância, são de referir os levantamentos populares relativamente localizados, ataques a explorações petrolíferas, constituindo a Nigéria um caso extremo, com registo de sabotagens, raptos e assassínios de funcionários, bem como roubos consideráveis de matéria-prima e, ainda ataques de pirataria, um fenómeno, também, mais frequente no país anglófono e com maior incidência direta noutras atividades (vide, entre muitos

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outros, S. Davis, 2008, ICC/IMB, 2011, C. Obi 2008 e 2010, K. Omeje (2008), J. Rousenstein, 2005, e M. Watts, 2008).

De assinalar que, mais recentemente, emergiu uma nova ameaça de grande espectro, a internacionalização dos conflitos na região, em resultado do alastramento, recente, do fundamentalismo subsequente à Primavera Árabe que, não só pôs o Mali a ferro e fogo, como veio evidenciar as ramificações que grupos radicais como a AQMI e Boko Aram, já dispõem na Nigéria (vide A. Lohmann, 2011 e notícias recentes do Nouvel Observateur e da BBC, designadas Nigeria, L´ ONU fait le lien entre Boko Haram e

Aqmi,e Nigeria Boko Haram crackdown kills 35, datadas, respetivamente, de 20.01 e 24.09.2012).

2.4.2. Da descrição empírica à explicação dos fenómenos: pistas teóricas

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