• Nenhum resultado encontrado

O papel das condições naturais (adequação de recursos e localização)

No documento Tese_Doutoramento 27dez.pdf (páginas 100-104)

CAPÍTULO 2 – O GOLFO DA GUINÉ E O PETRÓLEO

2.3. Fatores explicativos do sucesso relativo da indústria petrolífera na região

2.3.2. O papel das condições naturais (adequação de recursos e localização)

da Guiné, ficou-se, também, a dever a fatores de ordem natural, sendo de relevar neste plano, a localização geográfica, o contributo da dimensão das jazidas, a qualidade dos

outputs obtidos e, ainda, as condições abrigadas proporcionadas pela própria natureza da exploração em causa.

Começando pela localização geográfica, é de salientar que o golfo da Guiné tem uma localização relativamente privilegiada, sendo de referir a ausência de condicionalismos e estrangulamentos decorrentes de condições naturais designados, na literatura especializada, por choke points, estando em causa passagens estreitas e fundos marinhos reduzidos que a literatura especializada tipifica (em termos gerais, vide, EIA, 2012, na ótica geopolítica, J.-P. Rodrigue, 2004, pp. 364 e seguintes, quanto à vertente económica, W. Komiss et al., 2011, em especial, pp. 6-8 e, no que respeita a esta região, em concreto, S. Raphael et al., 2011, em especial, p. 906). De precisar que estão em causa obstáculos naturais que potenciam dificuldades no escoamento da produção que, de forma obrigatória, tem de recorrer à via marítima, e que podem ser aproveitados seja no quadro de conflitos convencionais ou constituírem alvos privilegiados de ações de pirataria; a ausência daqueles constrangimentos não obviou, porém, à difusão deste flagelo e à crescente sofisticação dos meios utilizados pondo, cada vez mais, em causa outra vantagem comummente mencionada, as dificuldades de acesso às explorações offshore, decorrente do seu isolamento (de notar que a questão da pirataria, dado o enquadramento mais adequado, será retomada na secção 2.3 3. deste trabalho). Retomando a ótica da atratividade associada ao fator em epígrafe, é de referir que o golfo da Guiné não fica muito distante dos grandes centros consumidores da matéria-prima, sediados na Europa ou nos E. U. A., sendo de referir que as distâncias entre Lagos (Nigéria) e os portos de Nova Orleães ou de Roterdão são, respetivamente, de 6731 e 4744 milhas náuticas (valores apresentados em www.ports.com/).

Naturalmente que a distância é um fator relevante no quadro genérico do custo do transporte importando, no entanto, ter presente que, na determinação desta parcela de encargos no custo final de uma dada mercadoria, figura uma multiplicidade de outros

88

determinantes, como a concorrência de transportadores e serviços portuários, economias de escala, desequilíbrios comerciais, custos de investimento em infraestruturas e tipo e valor dos bens, especificando a Maersk um total de 108 possíveis encargos adicionais correspondentes a este domínio (ver, sobretudo, UNCTAD, Review of Maritime

Transport 2011, p. 64).

A situação é, porém, bem mais complexa, importando ter presente que, ao quadro acima referido, se vêm articular evoluções tendenciais e efeitos conjunturais poderosos, importando salientar, quanto à primeira vertente, que a necessidade de redução de custos ditou, no que respeita ao transporte do crude, a entrada em exploração de navios cada vez mais gigantescos (os VLCC e os ULCC, com capacidades superiores, respetivamente, a 200000 e 320000 dwt, com a maior destas unidades a atingir os 2100000 dwt), e sendo de enfatizar, quanto à segunda, a recente crise económico-financeira de 2008-2009, que teve um impacto brutal vide UNCTAD, 2011, quanto a tonelagens, The Energy Library). De referir, no entanto que os petroleiros que operam as rotas originadas na África Ocidental tendo como destino os centros consumidores europeus e norte americanos, correspondem, sobretudo, ao segmento suezmax, dotado com uma capacidade compreendida entre 125- 200 dwt que, de resto, em função dos constrangimentos colocados pelo canal do Suez, também, são utilizados nas rotas para o Extremo Oriente (vide UNCTAD, 2011, p. 68 e 70).

Não se afigurando importante abordar, para os nossos fins de análise, as vicissitudes decorrentes da evolução dos custos do frete importa, ainda, assim, acrescentar que o aprovisionamento em petróleo originado nesta geografia produtiva, pelas empresas da China, se traduz no efetivo encarecimento deste input que, no entanto, não constitui fator de exclusão da transação (cálculos correspondentes apenas à time chart earning, baseada em UNCTAD, 2011, p. 66-68, ceteris paribus, a distância Lagos-Xangai, de 12164 milhas náuticas, redundam-se num peso do custo de transporte, face ao valor da carga, de 0.7%, enquanto o correspondente ao porto de Nova Orleães se cingirá a 0.4%).

Outro elemento importante que torna atrativo o upstream da indústria petrolífera no golfo da Guiné, é a dimensão das jazidas, dada a ligação direta que existe entre este fator e a rentabilidade do negócio em consideração (cf., p. e., P. Copinschi et al., 2005, p. 31). Ora, num passado ainda recente, era flagrante a ausência naquela região, de campos gigantes (> 500*103 b/d) sendo de referir, que o levantamento efetuado, em 2000, por M. Simmons, apenas registou três ocorrências enquadráveis no escalão 100-200*103 b/d

89

(duas em Angola e uma na Guiné Equatorial), acrescentando, este autor que a Nigéria o principal produtor se caracterizava, antes da entrada em exploração do offshore, pela sua coleção alargada de poços de pequenas dimensões (vide, quanto à lista dos principais campos à escala mundial, anexo a pp. 64-67, e no que respeita ao caso nigeriano, p. 48). Com efeito, a transição para a pesquisa e produção em águas cada vez mais profundas ditou a alteração da situação acima referida, tendo-resultado no aparecimento de um conjunto alargado de explorações enquadradas no escalões superiores a 100*103 b/d, questão a que se aludiu na subsecção anterior (2.3.1.), e que é divulgada por várias fontes (vide, a título de exemplo, J. Pallanick, April 2012), importando mencionar, numa ótica de caracterização sistemática e sucinta a nível de projeto, a base de dados correspondente, disponibilizada in www.offshore-mag.com). A relação assumida entre dimensão e rentabilidade da exploração, sendo importante, e estando implícita na abordagem supracitada de M. Simmons, relativa à exaustão dos campos gigantes, enquanto elementos determinantes da produção global, matéria atualizada, em 2009, por M. Hook et al., impõe, entretanto, a introdução de algumas notas pertinentes que tendo como referencial o quadro global, procurarão levar em consideração as especificidades em presença no golfo da Guiné.

Nesta ótica, estará centralmente em causa, é a necessidade de dar resposta ao binómio nível de risco-nível de retorno envolvidos, tendo presente que o quadro correspondente ao primeiro termo é cada vez mais complexo, e que é crescente a volatilidade vigente nos mercados do petróleo, isto (vide, p. e., D. Huppmann, 2010, em especial, pp. 15-17 que, aliás, remete para atualizações mais sofisticadas, as Real

Options). Naturalmente, que no plano financeiro estamos na presença de projetos de investimento que, comportando dimensão variável, são muito onerosos, situação que ilustraremos de forma pontual através do Bonga Deepwater Project localizado no deep

offshore da Nigéria, num bloco concessionado em 1993, em que a primeira descoberta de matéria-prima se registou em 1995, e que entrou na fase de produção em finais de 2005, mediante um custo total de investimento de cerca de 3.6*109 dólares (cf. artigo com título idêntico, apresentado no site www.offshore-technology.com/, e Deepwater Nigeria Bonga Development, in Sheel in Nigeria). Conquanto o investimento, na região, seja tendencialmente atrativo (de recordar o gráfico da IEA, reproduzido na p. 38 deste trabalho, referente aos custos médios da produção no deep offshore face as cotações da

90 commodity vigentes à data da respetiva elaboração), a verdade é que o risco, de um dado projeto, nem sempre é fácil de avaliar.

Numa leitura simplificada, tendo presente a banda de cotações prevalecente está, sobretudo, em causa, não só o nível de profundidade mas, também, a complexidade geológica dos reservatórios, designadamente a natureza das formações em presença, matéria que, no plano mais geral, envolve, ainda, outras coordenadas, como a qualidade das ramas e as operatórias de players relevantes (IOC), no que respeita ao interesse, num dado período, na contabilização de novas reservas (ver K. Millheim, 2010, pp. 3-5). É neste quadro de raciocínio que assentará, p. e., o recente o arrefecimento na mobilização das reservas existente na JDZ, estando em causa o segmento correspondente aos 5 - 50*106 boe, situados a níveis de profundidade compreendidos entre os 1830-2130 metros, e cotações da ordem dos 100 dólares por barril, estimando a fonte utilizada que, nas atuais circunstâncias, incluindo as performances das tecnologias em uso, os campos compreendidos àquele nível de profundidade e com dotações entre os 50-100*106 boe, permanecerão inativos (cf., idem, exemplo apresentado a pp. 6-7).

Outro aspeto relevante, neste âmbito, é a qualidade das ramas, sendo de referir, de acordo com os padrões estabelecidos internacionalmente pela API, que estão em causa duas características do petróleo, o nível de gravidade e o teor das ramas em enxofre, importantes para a indústria refinadora atendendo, sobretudo, à crescente escassez de matérias-primas que permitam obter maiores níveis de rendimento/ produtividade. Assim, o primeiro daqueles indicadores, estruturado em torno das classificações extremas light e

heavy, faz ressalta o interesse da primeira tipologia, dada a maior densidade da matéria- prima exigir maior esforço e custos para obter destilados intermédios, precisamente, os de maior interesse comercial. Quanto ao segundo indicador, evidencia que o enxofre constituir a maior fonte de impurezas do crude pelo que toma o teor, em peso deste elemento como referencial (0.5%), sendo a matéria-prima classificada como sweet ou

sour, consoante estiver abaixo ou acima deste valor, sendo que a última categoria requer tratamentos mais exigentes que, também, se repercutem em danos nos equipamentos (Poyry, 2009, p. 24). A análise da repartição das ramas revela que, entre 1995 e 2010, ocorreu a nível global e, mesmo, no continente africano, à degradação da qualidade das ramas, com retração das light e reforço das medium e heavy, ainda que a última origem mencionada continue a apresentar uma estrutura de qualidades bem mais favorável do que a correspondente ao total mundial, conforme o quadro anexo 4 discrimina.

91

De acordo com o suporte informativo mencionado, a Nigéria constitui um caso ímpar, detendo uma estrutura de qualidades particularmente favorável que, até há pouco tempo, se encontrava ainda em upgrading, como o atesta o facto de uma das categorias de topo (light & sweet) ter reforçado o seu peso face à produção total deste país passando, entre 1995 e 2010, de 54.3 para 62.0%. De referir que as variedades nigerianas enquadradas na classificação acima mencionada, já representam 13.7% do total mundial respetivo figurando, entre elas, a denominada Bonny Light, que serve mesmo como referência mundial, uma realidade que não deixa de ter tradução no plano das cotações. Outra variedade, com características-base, também, muito favoráveis, é a designada por Forcados da Nigéria que, em finais de 2008, alcançava cotações superiores, em mais de 10%, às registadas, na mesma data, pelo WTI (vide, respetivamente, ENI, 2011, indicadores apresentados em gráficos comparativos, em especial, p. 26, que especifica os correspondentes à West Africa, e Poyry, 2009, quadro comparativo da p. 28).

No documento Tese_Doutoramento 27dez.pdf (páginas 100-104)