• Nenhum resultado encontrado

O latim das inscrições romanas em território português até à queda do império

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O latim das inscrições romanas em território português até à queda do império"

Copied!
140
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS

EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS

ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO

Susana Gabriela Mendes dos Santos

MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS

NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA

(2)

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS

EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS

ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO

Dissertação orientada pelo

Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida

Susana Gabriela Mendes dos Santos

MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS

NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA

(3)

Ao Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida, pela cadeira de Linguística Latina, e à Prof. Doutora Esperança Cardeira, pela cadeira de História da Língua Portuguesa, no último ano da licenciatura em Línguas e Literaturas Clássicas;

Ao Prof. Doutor Amílcar Guerra, por me ajudar a abrir a porta do conhecimento da epigrafia romana em Portugal;

Ao orientador deste trabalho, mais uma vez o nome do Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida, pelos seus ensinamentos e pelo seu empenho;

Aos meus pais, amigos e colegas, que acompanharam a concretização deste trabalho;

A todos eles,

(4)

Resumo

O latim das inscrições romanas no território português não foi até à data alvo de um estudo individualizado. A única obra na qual o assunto foi tratado analisa o latim de toda a Península Ibérica e foi publicada há pouco mais de cem anos, estando desactualizada.

As inscrições romanas do território português estão publicadas em diferentes obras. O Corpus Inscriptionum Latinarum continua a ser uma referência fundamental, mas, ao longo do século XX, foram publicados novos estudos, que actualizam leituras ou divulgam novas epígrafes. Desta forma, para caracterizar o latim das inscrições romanas no território português, é necessário constituir um

corpus que inevitavelmente terá de incluir epígrafes provenientes de diversas

publicações.

A análise do latim das inscrições compreende aspectos fonéticos, morfológicos, sintácticos e lexicais. São seleccionados apenas aspectos relevantes para o estudo do texto epigráfico. O tratamento de cada um dos aspectos está dividido numa componente teórica, na qual se faz um balanço das conclusões da literatura científica, e numa componente prática, na qual se relatam os dados das inscrições do território português.

O latim das inscrições do território português pode ser caracterizado como conservador, predominando nele o respeito pela correcção da língua. Para esta caracterização conservadora, contribui a presença de arcaísmos nas desinências nominais e verbais, alguns no século II. Por outro lado, não deixa de manifestar, à semelhança do latim de outras regiões, nomeadamente de Pompeios, algumas particularidades inovadoras, como a monotongação do ditongo ae ou a oscilação na grafia das vogais. Além destes aspectos, são ainda perceptíveis ténues diferenças internas, visto que há fenómenos documentados apenas em algumas regiões.

(5)

Abstract

The Latin in the Roman inscriptions in Portuguese territory hasn’t been object of an individualized study until the present time. The only work in which the subject was dealt with analyses the Latin of the whole Iberian Peninsula and was published about one hundred years ago, thus being out of date.

The Roman inscriptions in Portuguese territory are published in different works. Corpus Inscriptionum Latinarum is still a main reference, but new studies were published throughout the twentieth century which update readings and divulge new epigraphs. In order to characterise the Latin of the Roman inscriptions in Portuguese territory, it is necessary to constitute a corpus which inevitably will include epigraphs from several published works.

The analysis of the Latin in the inscriptions includes phonetic, morphological, syntactical and lexical aspects. Only the aspects which are relevant for the study of the epigraphic text are selected. In dealing with each aspect, there will be a division in a theoretical and a practical component. The first concerns a balance of the conclusions presented in the scientific literature, while the second concerns the presentation of the data found in the inscriptions in Portuguese territory.

The Latin of the inscriptions mentioned above can be classified as conservative and the conformity to correctness in the language is predominant. The presence of archaisms in the nominal and verbal endings, some in the second century, contributes for that classification. On the other hand, like the Latin in other regions, namely Pompeii, it also shows some innovating particularities, such as the monophthongization of the diphthong ae or the oscillation in the graphic representation of vowels. In addition to these aspects, slight internal differences are still perceptible, since there are phenomena which are documented only in some regions.

(6)

Palavras chave:

língua latina epigrafia romana território português Portugal análise de inscrições

Key words:

Latin language Roman epigraphy Portuguese territory Portugal inscriptions analysis

(7)

Índice geral

Introdução 8

Capítulo I – Constituição do corpus 11

1. Delimitação de área e de época 12

2. Bibliografia existente 13

2.1. Critérios da selecção da bibliografia 13

2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das

inscrições 14 3. Constituição do corpus 15 3.1. O Sul de Portugal 16 3.2. O Centro de Portugal 17 3.3. O Norte de Portugal 22 3.4. Os miliários 24

4. Bibliografia não considerada 24

5. Organização das epígrafes para análise 25

Capítulo II – Fonética 27 1. Vogais 28 1.1. A vogal a 28 1.2. As vogais e e i 29 1.3. As vogais o e u 32 1.4. As vogais i e u 34 2. Ditongos 36 2.1. O ditongo ae 36 2.2. O ditongo au 39 2.3. O ditongo oe 41 3. Consoantes 44 3.1. A consoante b e a semivogal u 44 3.2. A consoante c e a consoante g 46

3.3. A consoante m em posição final 50

3.4. A consoante s em posição final 52

3.5. As consoantes duplas 54 3.6. Os grupos consonânticos 58 3.6.1. O grupo cs 58 3.6.2. O grupo ct 59 3.6.3. O grupo nct 60 3.6.4. O grupo ns 60 3.6.5. Os grupos ps, pt e rs 62 3.6.6. Os prefixos 63

(8)

Capítulo III – Morfologia 67 1. Nomes 68 1.1. A declinação 68 1.1.1. O género 68 1.1.2. Os temas 69 1.2. As declinações estrangeiras 73 2. Pronomes 75 3. Numerais 77 4. Verbos 78 Capítulo IV – Sintaxe 81 1. Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos 90 6. Coordenação e subordinação 91 Capítulo V – Léxico 93 1. Derivação 94 1.1. Os prefixos 94 1.2. Os sufixos 96 1.2.1. Os sufixos nominais 96 1.2.2. Os sufixos verbais 100 2. Composição 101

2.1. A composição propriamente dita 101

2.2. A justaposição 103 3. Renovação lexical 104 4. Empréstimos 107 5. Mudanças de sentido 109 Conclusão 111 Bibliografia 113

Índice remissivo de formas documentadas nas inscrições romanas

do território português 125

(9)

Introdução

Desde a primeira publicação da obra de Carnoy, Le latin d’Espagne d’après

les inscriptions, passaram cerca de cem anos. O Corpus Inscriptionum Latinarum

é anterior a este trabalho. Desde a publicação das duas obras, foram feitos progressos na área do estudo da língua latina e da epigrafia.

Em relação a esta última, em Portugal, destacamos a descoberta de novos achados, durante o século XX, alguns resultantes de novos trabalhos de escavações, como é o caso de Conimbriga. Ao trabalho da descoberta, associou-se o do estudo e da divulgação, mais acentuado nestes últimos vinte anos, com a publicação de várias obras, nas quais são feitas releituras de inscrições e edição de novas. Em alguns casos, foram divulgados monumentos que já se julgavam perdidos, tendo sido o seu texto alvo de nova leitura, depois de estes terem sido descobertos. Este trabalho de divulgação e releitura já foi feito para a região sul do país, para algumas zonas da região centro e para parte da região norte. A ele, acresce o início de uma publicação em série (Ficheiro

Epigráfico) que divulga os monumentos epigráficos encontrados.

Quanto ao estudo da língua latina, várias obras foram publicadas nos últimos cem anos, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado acerca da mesma. Ao nível da análise da língua latina em epígrafes, o trabalho de Väänänen sobre as inscrições de Pompeios continua a ser um marco incontornável.

O nosso trabalho integra-se neste panorama científico. O principal objectivo deste estudo é caracterizar o latim das inscrições romanas em território português, considerando que a obra de Carnoy é demasiado ampla, por considerar toda a Península Ibérica, além de se encontrar desactualizada, visto que, durante o século XX, foram encontradas novas inscrições e outras foram alvo de novas leituras, como referimos.

(10)

Esta análise do latim das inscrições do território português, permite determinar, em relação àquilo que era a norma, se existe manutenção ou não de correcção na língua latina, nesta zona específica; permite determinar se a epigrafia do território português tem semelhanças com a epigrafia de outros locais; permite determinar se existe diferenciação do território, já que a zona correspondente a Portugal pertencia a diferentes províncias e a diferentes

conuentus; e, por último, permite determinar eventuais influências, quer

indígenas, quer gregas.

Para se proceder à análise, torna-se necessário de elaborar um corpus, já que as inscrições romanas do território português estão dispersas por diferentes obras. O corpus será dividido em três partes de forma a facilitar o tratamento e apresentação dos dados, tal como a determinação de conclusões. Estas correspondem a três grande regiões de Portugal: região sul, a sul do Tejo; região centro, entre os rios Tejo e Douro; e região norte, a norte do rio Douro.

O trabalho está dividido em capítulos distintos consoante a matéria apresentada. O primeiro é dedicado à constituição do corpus e aos critérios utilizados. Nele, são justificadas opções, sobretudo ao nível da bibliografia (selecção e apresentação), assim como é descrita a constituição do corpus e a organização dos dados para análise. Os seguintes são dedicados à análise do latim das inscrições. Esta análise está dividida em quatro secções: fonética, morfologia, sintaxe e léxico. Em cada uma destas secções, são apresentados pontos relativos à língua latina. Na apresentação de cada um deles, é feito um balanço do que a literatura científica tem estabelecido e, seguidamente, são apresentados os dados documentados nas inscrições romanas do território português.

Devemos, desde já, salientar que não são abordados todos os pontos relativos à fonética, à morfologia, à sintaxe e ao léxico da língua latina, só os mais relevantes para a análise do texto epigráfico. Quanto à apresentação dos dados documentados nas inscrições, a apresentação dos resultados é feita de duas formas: quando o número de exemplos é muito grande, é feita uma descrição

(11)

mais abreviada, salientando-se a distribuição de formas pelo território e os exemplos mais antigos, para cada uma das zonas (sul, centro e norte); quando o número de exemplos é mais reduzido, a sua descrição é mais pormenorizada, fazendo-se referência às inscrições e a datas para todos os casos. A descrição mais abreviada, no entanto, não omite dados relevantes para o ponto que está a ser analisado.

Salientamos, ainda, que certas particularidades relacionadas com a grafia de nomes indígenas, sobretudo, de divindades, não foram consideradas na apresentação dos resultados. Tal deve-se ao facto de, pela sua especificidade, o seu estudo não se integrar plenamente no âmbito do nosso trabalho, havendo bibliografia especializada sobre o assunto.

Em relação à análise das epígrafes, resta-nos acentuar que foram preteridas palavras que se encontravam reconstituídas, isto é, considerámos para exemplo formas que não oferecessem dúvidas de leitura. Quando a reconstituição não afectava directamente o aspecto que estava a ser analisado, considerámos algumas delas.

(12)

Capítulo I

(13)

1. Delimitação de área e de época

O corpus sujeito a análise é constituído por inscrições romanas pertencentes ao actual território português.

Temos notícia de que, na sequência das Guerras Púnicas, os Romanos chegaram à Península Ibérica em 218 a.C. (Alarcão, 1983, p. 26). Desde logo, começaram a espalhar-se e a apoderar-se da região, por questões defensivas. O território que corresponde a Portugal Continental começou a ser ocupado pelo Algarve e pelo Alentejo em 202 a.C.. A conquista da totalidade do território demorou anos, sobretudo devido à resistência dos povos autóctones, e só foi concluída na época de Augusto. A Península Ibérica ficou conhecida como

Hispania e foi dividida administrativamente várias vezes: primeiro, em duas

províncias, depois, em três e, finalmente, entre 284 e 288, em cinco (Alarcão, 1983, p. 27, 49 e 61). Para além da divisão em províncias, o poder romano procedeu a divisões territoriais mais pequenas: os conuentus. Deste modo, uma província estava dividida em vários conuentus (Alarcão, 1983, p. 55), para uma correcta e mais eficiente governação do território.

À maior parte do território português correspondiam três conuentus: o

conuentus Pacensis, o conuentus Scallabitanus e o conuentus Bracaraugustanus

(Alarcão, 1983, p. 55-56). Acontece que a definição da área a que correspondiam estas divisões administrativas ainda hoje é discutida e os limites das fronteiras dos conuentus ainda levantam dúvidas. Neste trabalho, vamos deixar de lado a definição das áreas administrativas romanas. O que se irá considerar é a totalidade do actual território de Portugal Continental, sem exaustivas preocupações em relação aos limites dos conuentus romanos.

As inscrições a considerar para o corpus correspondem ao período que vai desde o início da romanização até à queda do Império Romano do Ocidente, já que o objectivo principal do trabalho é caracterizar o latim do território português.

(14)

As inscrições de carácter cristão, paleocristãs, por apresentarem características diferentes, não são consideradas.

2. Bibliografia existente

2.1. Critérios da selecção da bibliografia

Para se proceder ao levantamento das inscrições, houve necessidade de recorrer a diferentes estudos epigráficos. A referência mais importante nesta área científica é o Corpus Inscriptionum Latinarum, levantamento generalizado das inscrições latinas, levado a cabo no século XIX. Acontece que esta obra está desactualizada1 tendo em conta as descobertas epigráficas que ocorreram durante o século XX, sobretudo na área portuguesa. Por este motivo, recorremos a outras obras que, para muitas zonas, fazem uma actualização dos dados daquela recolha. Muitas destas obras foram publicadas nos últimos anos e correspondem a estudos epigráficos de âmbito local e regional2 (teses, catálogos de museus, publicações municipais).

O critério utilizado na escolha destas obras foi o da autoridade. Quando determinada zona não apresentava um estudo cientificamente seguro, utilizámos o critério da actualidade. Desta forma, escolhemos as recolhas mais fidedignas, ou, na sua falta, as mais recentes. Convém salientar que existem áreas que apresentam lacunas: umas por terem sido pouco estudadas, outras por apresentarem estudos desactualizados ou duvidosos.

1

O CIL, na área que corresponde à Península Ibérica, está a ser alvo de uma actualização. Os dad os já publicados estão disponíveis, em linha, no sítio da especialidade com a seguinte morada:

http://www2.uah.es/imagines_cilii/.

2

Keay, num artigo publicado no Journal of Roman Studies (2003, p. 146-211), divulga as últimas descobertas arqueológicas ocorridas na Península Ibérica e, na introdução do artigo, refere os principais títulos relativos à epigrafia do território espanhol e do território português. Este ponto da situação no âmbito das publicaçõ es epigráficas é relevante e digno de interesse. No mesmo número do Journal of Roman Studies, R. Gordon e J. Reynolds (2003, p. 212-294) mencionam as principais publicações epigráficas, a nível internacional, fazendo referência a sítios da especialidade, nos quais se pode fazer pesquisa, já que estes contêm bases de dados. Podem, ainda, ser consultados os artigos anteriores a estes, visto que, tanto num caso, como no outro, há regularidade na publicação.

(15)

Para além das recolhas, recorremos a duas publicações em série actuais, de forma a serem colmatadas eventuais falhas para determinadas zonas: o

Ficheiro Epigráfico, suplemento da revista Conimbriga, e “Para um repertório das

inscrições romanas do território português”, de M. M. Alves Dias, publicado na revista Euphrosyne de 1988 a 1999. Como o Ficheiro Epigráfico continua ainda a ser publicado, definimos o ano de 2000 como último de consulta para o levantamento.

2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das inscrições

Antes de passarmos à descrição da constituição do corpus, convém esclarecer alguns aspectos práticos relativos à apresentação da bibliografia.

Nas obras de carácter epigráfico é comum a utilização de abreviaturas para designar grandes recolhas. O Corpus Inscriptionum Latinarum é um exemplo disso e a ele corresponde a abreviatura CIL. Este sistema facilita a referência a determinada inscrição. Por exemplo, CIL 236 remete para a inscrição 236. A indicação de volume surge suprimida, já que recorremos, exclusivamente, ao volume II. Para as outras recolhas é, também, utilizada uma abreviatura. De modo a facilitarmos a leitura, quando apresentamos a obra pela primeira vez, apresentamos, entre parêntesis3, a sua abreviatura: A ciuitas de Viseu (CV). Desta forma, quando nos referirmos a uma determinada inscrição da recolha basta referir CV seguido do número da inscrição: CV 98.

Visto que as inscrições do território português estão dispersas por várias publicações, decidimos alterar também o modelo de elaboração da bibliografia final. Em vez de apresentarmos uma listagem de todos os títulos, decidimos agrupar separadamente as obras de carácter epigráfico que forneceram dados para a constituição do corpus. Desta forma, é mais fácil e mais rápido identificar

3

Constituem uma excepção as abreviaturas do catálogo do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas. Estas não aparecem entre parêntesis (v. 1.3.2.).

(16)

em que publicações estão as inscrições. Esta bibliografia do corpus é acompanhada de uma lista das abreviaturas usadas.

Quando nos referimos a determinada inscrição, apenas utilizamos a referência a uma obra, ou seja, não são usadas duas ou mais referências para designar a mesma inscrição. Mesmo que a inscrição tenha sido publicada em diferentes obras, só será designada através de uma referência de uma dessas obras, normalmente a mais recente. Quando uma inscrição tem a referência de que foi recolhida do Corpus Inscriptionum Latinarum (CIL) ou do Ficheiro

Epigráfico (FE) ou de “Para um repertório das inscrições romanas do território

português” (RIRP), tal indica que a inscrição só aparece publicada nessas obras. Quando tem a referência de uma das outras recolhas, pode ter sido publicada em várias. Para anular as repetições, elaborámos tábuas de correspondência que podem ser consultadas nos anexos. A referência da direita será sempre a usada para citar a inscrição.

3. Constituição do corpus

Apresentamos, agora, para cada região do país os estudos escolhidos, a sua representatividade no mundo da epigrafia, as razões que nos levaram a excluir algumas inscrições e o porquê de preferirmos algumas recolhas. A informação é apresentada segundo a ordem do CIL, isto é, de sul para norte e de forma tripartida. Na verdade, aquando da constituição do corpus dividimos as inscrições em três grandes grupos, de forma a facilitar a sua análise e o tratamento dos dados.

(17)

3.1. O Sul de Portugal

Para o Sul de Portugal, região localizada a sul do rio Tejo, foi considerado, sobretudo, um dos principais levantamentos epigráficos existentes para o território português: Inscrições Romanas do conuentus Pacensis (IRCP). O trabalho da autoria de J. d’Encarnação (1984) consiste no estudo das epígrafes romanas da região a sul do rio Tejo, excluindo a margem esquerda do Guadiana, por esta se inserir noutro conuentus, conuentus Hispalensis, e até noutra província romana, a Bética.

Resolvemos seguir as indicações de IRCP, incluindo aquelas que fornece em relação ao CIL, já que o CIL em relação a esta área do país foi todo revisto e muitas informações foram actualizadas por J. d’Encarnação. Desta forma, excluímos, como também é indicado na obra, por apresentarem uma autenticidade duvidosa ou por não parecerem de época romana as inscrições:

CIL 10 (Encarnação, 1984, p. 39), CIL 11 (id., p. 40), CIL 57a (id., p. 294), CIL 69

(a, b) (id., p. 295), CIL 84c (id., p. 436), CIL 85c (id., p. 295), CIL 114 (id., p. 442),

CIL 115 (id., p. 443), CIL 122 (= 5189) (id., p. 443), CIL 152 (id., p. 631), CIL 153

(id., p. 632), CIL 4629 (id., p. 296), CIL 4634 (id., p. 719) e CIL 5171 (id., p. 817). Excluída apenas por pertencer à categoria de instrumentum que J. d’Encarnação não considera neste trabalho (id., p. 294), e não tendo nós motivo para a excluir, resolvemos considerar no corpus a inscrição CIL 54.

Tendo sido o CIL revisto, houve inscrições pertencentes a outras zonas que foram correctamente localizadas. Também seguimos estas indicações. As inscrições CIL 63 (= 5225) (Encarnação, 1984, p. 294), CIL 103 (id., p. 252) e

CIL 157 (id., p. 632) pertencem à zona de Lisboa. De facto, elas já estão

presentes na recolha que temos para a cidade: Epigrafia de Olisipo (EO) da autoria de A. Vieira da Silva (1944). A inscrição CIL 63 (= 5225) aparece com o número 43, a CIL 103 com o número 92 e a CIL 157 corresponde a CIL 236 e surge, em EO, com o número 50. A inscrição CIL 73 ainda teve número no

(18)

Nova de Ourém (Encarnação, 1984, p. 425). A inscrição CIL 79 corresponde a

CIL 346 e é originária de Collippo, actual S. Sebastião do Freixo, perto da Batalha

(id., p. 295). A inscrição CIL 93 pertence ao concelho de Moura (id., p. 295) de que trataremos a seguir. As inscrições CIL 4642 e CIL 4643 pertencem ao concelho de Belmonte, distrito de Castelo Branco (id., p. 719).

Visto que a obra IRCP data de 1984, considerámos, como actualização, inscrições publicadas posteriormente em FE e em RIRP. Para as inscrições que foram publicadas em FE e em IRCP, deve consultar-se a Tábua de correspondência 1, em anexo.

Para a margem esquerda do Guadiana, foram consideradas várias obras. Como não há uma recolha que englobe todas as inscrições desta zona e como ainda não foi publicada a actualização do CIL para o conuentus Hispalensis, considerámos as inscrições que foram divulgadas em diferentes publicações de modo a constituirmos um corpus bem definido para esta zona. Desta forma, do

CIL foram consideradas as inscrições: 93, 963, 968, 969, 970 e 971. De FE as

inscrições: 84, 118 e 119. De RIRP as inscrições: 1, 83, 176, 177, 191, 284, 285, 286, 287 e 288. Foi ainda utilizada a obra Arqueologia do Concelho de Serpa (ACS) que conta com a colaboração de J. Alarcão e J. d’Encarnação (Lopes, Carvalho e Gomes, 1997). Desta recolha, não considerámos a inscrição 41, por ser cristã. Para anular as repetições e ajudar a clarificar a constituição desta parte do corpus, encontra-se em anexo a Tábua 14.

3.2. O Centro de Portugal

Em relação ao Centro de Portugal, região entre o rio Tejo e o rio Douro, a constituição do corpus revelou-se mais complicada, devido ao elevado número de estudos existentes para esta área do território. Devemos salientar que alguns destes estudos se encontram desactualizados e necessitam de revisão urgente.

4

Na tábua, a recolha ACS surge com interrupções na numeração. Os números que faltam correspondem a monumentos anepígrafos.

(19)

Para o concelho de Cascais, seguimos a obra de J. d’Encarnação (2001)

Roteiro epigráfico romano de Cascais (RERC). Nesta obra, Encarnação

apresenta, como sendo do concelho de Cascais, algumas epígrafes que A. Vieira da Silva (1944) ou não conseguira localizar com total certeza ou não localizara correctamente. Em anexo, duas tábuas fazem a correspondência entre as epígrafes coincidentes nas duas obras e entre as epígrafes publicadas em RERC e em FE (v. Tábua de correspondência 2 e 3).

Em relação a Lisboa, seguimos a já mencionada obra de A. Vieira da Silva (1944): Epigrafia de Olisipo. Esta obra, bastante desactualizada, deve ser utilizada com precaução, já que inclui algumas inscrições de autenticidade duvidosa e outras que, como mais tarde se confirmou, não pertencem à cidade de Lisboa ou, até mesmo, a Portugal (Silva, 1944, p. 274-275). Por estes dois motivos, houve algumas inscrições que rejeitámos. Por serem possivelmente falsas, excluímos as inscrições 13, 29, 104 e 128. Por serem oriundas de Itália, as inscrições 126 e 144. Por ser de proveniência incerta, a inscrição 141. Por se referirem apenas a pessoas de Lisboa e serem de outros locais, as inscrições 144A a 144D.

Existem inscrições que, depois da publicação da obra, foram referidas em outros estudos. A inscrição 120 surge em IRCP com o número 105, pertencendo à região sul. Algumas inscrições surgem em RERC (v. Tábua de correspondência 2). A inscrição 119 corresponde a CIL 325, integrando-se na zona de Santarém.

Apesar de não se ter a certeza absoluta se serão de Lisboa, considerámos as inscrições 133, 134, 136 a 140. Convém lembrar que na recolha olissiponense surgem três inscrições que Hübner considerara serem da região sul, tal como lembrámos na abordagem de IRCP (v. 3.1.). Estas surgem em EO com os números 43, 50 e 92.

(20)

O Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas tem o seu catálogo feito por M. Cardozo5, em três artigos com diferentes datas (1956, 1958, 1961). Estes três artigos estão reunidos no segundo volume da colectânea de trabalhos deste autor: Obras de Mário Cardozo (1999)6. A catalogação foi feita em três fases porque ocorreu na época de organização do museu, ao qual iam chegando constantemente novas peças. No primeiro artigo, Cardozo (1956) adopta a numeração da peça no museu, em caracteres romanos, não havendo uma sequência no número das epígrafes. No segundo e terceiro artigos, Cardozo (1958; 1961) adopta uma numeração sequencial, em caracteres árabes, à medida que vai apresentado as inscrições. Por terem sido publicados em datas diferentes e para não haver confusão com as numerações, apresentamos três abreviaturas diferentes para os artigos: Odr. 1, para o primeiro; Odr. 2, para o segundo; e

Odr. 3, para o terceiro. Considerámos todas as inscrições presentes nos artigos.

Aquando do levantamento das inscrições de Odrinhas, pareceu-nos existir uma correspondência não assinalada no artigo entre duas inscrições: CIL 297 e

Odr. 2 13. Deixamos aqui a informação.

O Museu Municipal de Torres Vedras também tem as suas inscrições publicadas. O estudo foi feito por V. Mantas (1982) e publicado na revista

Conimbriga: “Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras” (IRTV).

As treze inscrições divulgadas pelo artigo foram consideradas para o corpus7. Resultado das escavações efectuadas em Conimbriga, o segundo volume da obra Fouilles de Conimbriga (FC) trata da epigrafia desta antiga localidade romana. Passamos a explicar quais as inscrições consideradas para o corpus, quais as excluídas e que correspondências existem.

Até à inscrição número 105, excluímos as inscrições 7 e 24, por serem de Mérida, a inscrição 28, por ser de Ávila, e as inscrições 83 e 84, por serem possivelmente cristãs e de data avançada (século V ou século VI). A inscrição 25,

5

As inscrições de Odrinhas foram também tratadas por J. Fontes. Uma das edições do seu estudo conta com o contributo de F. de Almeida (1979). A obra, no entanto, não inclui o texto latino, somente a tradução.

6

O primeiro artigo foi publicado pela Câmara Municipal de Sintra. O segundo e o terceiro foram publicados na

Revista de Guimarães.

7

V. Mantas publicou mais três inscrições de Torres Vedras na revista Conimbriga, em 1985. Estas serão consideradas para o corpus, mas são recolhidas de RIRP.

(21)

apesar de ser apresentada por Hübner como duvidosa (CIL 41*), é considerada para o nosso corpus, já que a explicação a confirmar a sua autenticidade está bastante bem fundamentada (Etienne [et al.], 1976, p. 51-52). A inscrição que surge no apêndice I, apesar de ser de Mortágua, distrito de Viseu, também foi considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 47-48). A inscrição 29 surge na obra de F. de Almeida (1956), Egitânia (Egit.), com o número 143 e no trabalho de A. P. Ramos Ferreira (2004),8 Epigrafia funerária romana da Beira Interior (EFRBI), com o número 111.

As inscrições 106 a 111 foram excluídas por serem cristãs. A inscrição 112 foi considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 76)9. As inscrições gravadas em peças de cerâmica ou de vidro (113 a 305) foram excluídas, à excepção do grupo 294 a 304. A exclusão deve-se ao facto de as epígrafes serem gravadas no local de produção dos artigos, fora de Portugal (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975; Alarcão [et al.], 1976). O grupo que foi considerado para o corpus corresponde a produtos originários das oficinas de Conimbriga ou de localidades da região (Alarcão, 1975).

Em relação ao grupo 306 a 443, o grupo dos grafitos, sobretudo em cerâmica, há um aspecto que de tem de se ter em conta: se o grafito é feito antes ou depois da cozedura. Se é feito antes da cozedura, é feito no local de produção do artigo. Se é feito depois, é feito no local de uso e tal marca, algumas vezes, indica o proprietário de uma determinada peça (Etienne [et al.], 1976, p. 218).

Deste grupo (306 a 443), excluímos as inscrições 322, 352, 353, 354, 355, 356 por serem grafitos feitos antes da cozedura em objectos não produzidos em território português. Excluímos, também, as inscrições 343 e 429, por serem de época suevo-visigótica.

Para a zona de Viseu, recorremos ao trabalho de J. L. Inês Vaz (1997)10

A ciuitas de Viseu (CV). Desta recolha, excluímos a inscrição 10, por ser uma

8

O trabalho de A. P. Ramos Ferreira corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação.

9

Esta inscrição aparece fora de ordem, surgindo entre as inscrições FC 48 e FC 49.

10

O trabalho de J. L. Inês Vaz corresponde à sua tese de doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra, em 1993.

(22)

inscrição em língua lusitana, a inscrição de Lamas de Moledo (Vaz, 1997, p. 188-192). Vaz (1997) recorre a muitas inscrições já publicadas no FE. Para uma correspondência entre as duas obras, deve consultar-se a Tábua de correspondência 4, em anexo. A inscrição FE 79 corresponde a CV 53 e a

EFRBI 218. A inscrição CV 75 corresponde a EFRBI 125.

Relativamente à zona de Castelo Branco, foram consideradas duas obras, tratadas em simultâneo: Egitânia (Almeida, 1956) e Epigrafia funerária romana da

Beira Interior (Ferreira, 2004). A última abarca também o distrito da Guarda.

Como a obra de A. P. Ramos Ferreira é mais actual e corresponde a um estudo que oferece segurança, preferimos segui-la nas inscrições que F. de Almeida tinha já tratado. Para se perceber quais são as inscrições publicadas nas duas obras, apresentamos, em anexo, a Tábua de correspondência 5. Ferreira (2004) também divulga inscrições publicadas no FE. Para verificar as coincidentes, deve consultar-se a Tábua de correspondência 6. Como já foi referido, a inscrição

FC 29 corresponde a Egit. 143 e a EFRBI 111, a inscrição FE 79 a CV 53 e a EFRBI 218 e a inscrição CV 75 a EFRBI 125. A inscrição CIL 455 corresponde a FE 101 e a EFRBI 229.

No seu trabalho, F. de Almeida (1956) tinha incluído inscrições que Hübner considerara de natureza duvidosa11, por razões de autenticidade. Ferreira (2004) acaba por incluir também algumas destas na sua obra. Não as considerámos para o corpus. Deste modo, excluímos as inscrições: Egit. 3, Egit. 5, Egit. 6,

Egit. 33 (= EFRBI 68), Egit. 74 (= EFRBI 172) e Egit. 102 (= EFRBI 51). De igual

forma, por não se enquadrarem na época que pretendemos estudar, excluímos a inscrição visigoda (Egit. 178) e as inscrições portuguesas (Egit. 179, Egit. 180).

A obra de Almeida inclui uma secção com inscrições de fora de Idanha-a-Velha (1956, p. 255-273). Destas, só considerámos as que correspondem a território português12 e que se integram na época a estudar: I,

11

J. M. Garcia (1991, p. 568) também analisa a autenticidade de três inscrições: Egit. 3, Egit. 5 e Egit. 6. Acaba por considerá-las falsas.

12

A numeração destas inscrições vai em números romanos para evitar confusões, como o próprio Almeida frisa (Almeida, 1956, p. 255).

(23)

VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XVI. Para a correspondência entre estas e EFRBI, consultar a tábua já referida, nos anexos.

Para a região centro, foram ainda utilizadas três obras de carácter geral:

CIL, FE e RIRP. Destas, seleccionámos as inscrições que não surgem em

nenhuma das recolhas apresentadas. Como já tinha sido referido na análise de

IRCP, integrámos na região centro a inscrição CIL 73. Relembramos que CIL 79

corresponde a CIL 346 e que os miliários CIL 4642 e CIL 4643 pertencem a Belmonte, Castelo Branco (v. 3.1.).

3.3. O Norte de Portugal

Em relação ao Norte de Portugal, o levantamento foi mais complicado do que para o Centro. Na verdade, poucos estudos existem para esta região e um dos existentes levanta problemas.

Para a zona de Braga, recorremos a um artigo de Tranoy e Le Roux (1989-1990) publicado em Cadernos de Arqueologia, “As necrópoles de Bracara

Augusta, B. Les inscriptions funéraires” (NBA), e ao estudo de J. M. Garcia (1991) Religiões Antigas de Portugal (RAP). Com o primeiro pretendemos recolher as

inscrições funerárias, com a segundo as inscrições votivas desta área, já que não existe uma recolha que as considere em conjunto ou com outro tipo de inscrições. Em anexo, apresentamos uma lista das inscrições, consideradas para o corpus, retiradas da obra de J. M. Garcia (1991), já que esta é de âmbito nacional (v. Quadro 1).

Relativamente à zona de Chaves, recorremos à obra de A. Rodríguez (1997) Aquae Flaviae (AF). Esta recolha inclui a zona de Chaves, grande parte do distrito de Vila Real, parte do distrito de Bragança e, ainda, parte da actual Galiza. A primeira tarefa foi excluir as inscrições localizadas em território espanhol. A segunda foi confrontar a recolha com a obra de A. Redentor (2002) Epigrafia

(24)

romana da região de Bragança (ERRB)13. Sendo o trabalho de Redentor mais recente e mais fiável, preferimos segui-lo nas inscrições que Rodríguez também trata. Desta forma, o número de inscrições levantadas somente a partir da obra de Rodríguez ficou relativamente reduzido.

Existe em AF uma inscrição anteriormente publicada em FE. Esta inscrição surge com o número 125 e corresponde a FE 179.

Importa referir que o trabalho de A. Rodríguez (1997) apresenta problemas. Em primeiro lugar, graficamente não segue as normas da maior parte das recolhas epigráficas. Em segundo lugar, as informações apresentadas nem sempre são fidedignas. Na verdade, é frequente encontrarem-se nesta obra erros gráficos, correspondência entre inscrições não feita, duplicação de inscrições por uso de duas fontes distintas, informações pouco seguras em relação aos achados, enfim, um sem número de falhas que torna a consulta da obra pouco segura. Importa referir, também, que a obra foi utilizada com o máximo cuidado possível, tendo nós corrigido erros gráficos, feito correspondências e anulado duplicações, sempre que tínhamos dados seguros, fornecidos por outras obras, como o CIL.

O trabalho de Redentor (2002), como o próprio nome indica (Epigrafia

romana da região de Bragança), trata da epigrafia bragançana e actualiza os

trabalhos efectuados pelo Abade de Baçal. A obra, entre uma série de informações relevantes de carácter epigráfico, apresenta várias tábuas de correspondência entre o estudo e outras recolhas (Redentor, 2002, p. 281-289). Considerámos para o corpus todas as inscrições incluídas na obra.

À semelhança do que fizemos em relação à região centro, CIL, FE e RIRP forneceram inscrições não presentes nas recolhas mencionadas acima. Seguindo uma indicação de Garcia (1991, p. 566), não considerámos a inscrição CIL 2418, originária da Aquitânia.

A zona de Miranda do Douro também foi incluída no nosso levantamento. As inscrições consideradas foram fornecidas, sobretudo, pelo CIL. Relativamente

13

Este estudo de Redentor corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação.

(25)

a esta zona, foram incluídas no corpus as inscrições CIL 5657 a CIL 5661 e

AF 215. Apesar de não estudar a zona de Miranda, Rodríguez (1997) acaba por

incluir esta inscrição na sua recolha.

3.4. Os miliários

Os miliários também foram incluídos no corpus. Os que aparecem em recolhas ficaram com a referência da recolha. Os outros ficaram com a referência do CIL. Importa salientar que, nas vias que ligavam a actual Braga à actual Astorga, só foram considerados os miliários que correspondem a território português. Neste aspecto, a recolha de Rodríguez (1997) forneceu algumas informações.

4. Bibliografia não considerada

Houve algumas partes do CIL que não considerámos para a constituição do corpus, assim como algumas obras. Estas surgem citadas na bibliografia geral, pois foram consultadas e podem fornecer informações a quem queira aprofundar o assunto. De seguida, indicamos esta bibliografia não considerada e as razões pelas quais a excluímos.

Em relação ao CIL, não considerámos inscrições de proveniência incerta, à excepção de uma que Encarnação (1984) inclui no seu trabalho, IRCP 328. Tal indica que também não considerámos as inscrições de lugares incertos da

Gallaecia, apesar de Rodríguez (1997) as localizar na recolha feita para a zona de

Chaves. A secção do CIL intitulada Instrumentum domesticum, por não fornecer indicações completas acerca do local de fabrico das peças, também não foi

(26)

incluída. As inscrições de autenticidade duvidosa ou que levantavam problemas, assinaladas por Hübner com *, também não foram consideradas14.

Algumas recolhas de âmbito local não foram consideradas para a constituição do corpus devido ao já elevado número de obras a partir das quais procederíamos ao levantamento de inscrições. Além disso, a utilização destas recolhas não iria fornecer muitos dados novos.

As publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica também não foram consideradas. Temos consciência da importância das duas no panorama da divulgação de textos epigráficos. No entanto, à medida que consultávamos as recolhas utilizadas e estas publicações, percebemos que havia um elevado número de repetições, isto é, muitas inscrições presentes nas recolhas já tinham sido ou eram, mais tarde, divulgadas nestas publicações, sobretudo no Année

Epigraphique. Importa referir que, relativamente, aos últimos anos as inscrições

inéditas divulgadas nestas duas publicações foram, também, divulgadas no FE ou em RIRP.

Tal como as publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica, a obra de Vives Inscripciones latinas de la Espãna Romana (1971-1972) não foi utilizada. À semelhança das obras mencionadas, temos consciência da importância desta no panorama epigráfico. No entanto, a obra não iria fornecer muitos mais dados novos, em relação aos que já tinham sido recolhidos.

5. Organização das epígrafes para análise

A epigrafia tem como principal objectivo estudar inscrições. Em relação às inscrições romanas, existe uma forma já bem definida de as apresentar. Para além da descrição das condições em que foi encontrada a epígrafe, é descrito o

14

Algumas inscrições pertencentes a esta secção do CIL foram incluídas em recolhas. Na análise das recolhas, em 3., indicamos quais as inscrições que considerámos.

(27)

suporte desta, feita a leitura ou a reconstituição da leitura, caso o material se encontre danificado, e elaborado um pequeno comentário acerca dos nomes que possam aparecer no texto. No final, costuma datar-se a inscrição.

O corpus para análise corresponde a um levantamento das inscrições latinas em território português. Das recolhas epigráficas, foi considerado, sobretudo, o texto epigráfico, a existência de várias leituras feitas por diferentes autores, quando a inscrição é pouco clara, a datação e a localização. O estudo onomástico, normalmente, foi consultado.

As inscrições foram todas inseridas em computador. Cada uma apresenta: um número, uma referência ou referências que remetem para a obra ou obras em que a inscrição foi publicada, a possível datação, o local onde foi encontrada e o texto epigráfico. Para ajudar no processo de as inserir no computador, recorremos a sítios da especialidade indicados na bibliografia. O texto da inscrição e os outros dados foram retirados das obras epigráficas que mencionamos ou, por vezes, retirados dos sítios e conferidos. Não houve informação, no entanto, que não fosse confrontada com as obras epigráficas.

(28)

Capítulo II

(29)

1. Vogais

O sistema vocálico latino sofreu transformações na evolução do latim para as línguas românicas. As transformações mais profundas foram a perda de quantidade e a alteração de timbre. Na análise que faz da evolução do sistema vocálico latino15, Bartonek (1996, p. 117-124) conclui que a noção de quantidade já não existiria no século V. Quanto à alteração de timbre, Väänänen (1981, p. 30) também apresenta um esquema ilustrativo das alterações.

1.1. A vogal a

A vogal a foi das que sofreu menos transformações na passagem do latim para as línguas românicas. A vogal mantém, regra geral, o seu timbre inalterado. Há, no entanto, uma tendência que deve ser registada: a flutuação entre a e e, em posição átona e antes da consoante r. Um exemplo é a oscilação entre Caesar e

Caeser. Esta tendência está documentada na epigrafia da Península Ibérica e de

Pompeios (Carnoy, 1906, p. 17-18; Väänänen, 1966, p. 19). A epigrafia de Pompeios16 permite datar estas oscilações, pelo menos, da segunda metade do século I. O Appendix Probi17 também as documenta, com o exemplo: cithara non

citera (Väänänen, 1981, p. 200). Os exemplos seguintes também atestam a

confusão: carcer non carcar, camera non cammara, passer non passar, anser non

ansar, nouerca non nouarca (Väänänen, 1981, p. 201-202). A palavra pássaro,

em português, confirma a opção pela versão passar e a generalização da tendência de oscilação.

15

Segundo o mesmo autor (ibid.), na evolução do sistema vocálico, entre o século I a.C. e o século IV, há uma tendência verificável para aumentar o número de vogais longas e para baixar o de vogais breves, ao contrário do equilíbrio verificado anteriormente entre umas e outras.

16

Exceptuando alguns exemplos mais antigos, a epigrafia de Pompeios data da segunda metade do século I, sobretudo dos últimos anos que antecederam a erupção do Vesúvio em 79.

17

Flobert analisa diversos factores, de modo a precisar a data do Appendix Probi, que situa em meados do século V (1987, p. 315 e 318).

(30)

A epigrafia do território português confirma a manutenção da vogal a. Vários são os exemplos que registam esta manutenção: AERARIAS,

APPARVERIT, CAPITVLARIVM, DIANAE, DIARIAS, FERRAMENTA, MARITA, PIETATIS, TRACTARE.

A oscilação entre a vogal a e a vogal e, em posição átona e antes da consoante r, está atestada apenas uma vez, num exemplo com reconstituição da vogal final: CAESER[I] (ERRB 128). A forma encontra-se num miliário que data do ano 133 ou 134.

Mesmo em palavras que poderiam documentar, inversamente, a flutuação entre a vogal a e a vogal e, a grafia que surge é a correcta: CRATERA (IRCP 339). A inscrição a que pertence a forma não está datada.

1.2. As vogais e e i

Das quatro vogais, ĕ, ē, ĭ e ī, a vogal ĭ é a que vai ter a alteração de timbre mais marcada, em posição tónica, aproximando-se da articulação de ē, na passagem do latim para as línguas românicas. Esta alteração de timbre acabará por originar oscilações na grafia entre as duas vogais. Mariné (1952, p. 21) refere que a alteração de timbre de ĭ era comum no século III. Carnoy documenta a confusão gráfica entre e e i, em posição tónica, na Península Ibérica e regista exemplos já do século I18 (1906, p. 21). A epigrafia de Pompeios (Väänänen, 1966, p. 21) também apresenta exemplos desta data.

Para além do contexto de ĭ em sílaba tónica, há outras situações de escrita de e por i. A epigrafia documenta largamente estas situações de oscilação. Carnoy delimita vários contextos de oscilação na epigrafia da Península Ibérica. Destes contextos, salientamos a escrita de e por i em posição pretónica, com exemplos do século III (Carnoy, 1906, p. 22), em posição postónica, com exemplos do século II (id., p. 23) e em posição de hiato, com um exemplo de

18

Em relação a estas duas vogais, o trabalho de Carnoy (1906) é bastante exaustivo e o número de exemplos apresentados é superior ao número de exemplos da epigrafia de Pompeios.

(31)

finais do século I (id., p. 39). Väänänen (1966, p. 21 e 23) apresenta exemplos mais antigos, também em diferentes contextos, embora em men or número.

Inversamente, a epigrafia também documenta a escrita de i por e. Carnoy apresenta-a em vários contextos na epigrafia da Península Ibérica. Destes, destacamos a escrita de i por e em posição tónica, em átona inicial livre, em posição postónica e em posição de hiato (Carnoy, 1906, p. 32-33 e 36-38). Em todos os casos o número de exemplos é menor do que para a escrita de e por i. Väänänen (1966, p. 19-20) também apresenta alguns exemplos.

Carnoy apresenta ainda exemplos para a troca entre e e i em posição de sílaba final. Para este contexto específico, são apresentados, para além de outros, exemplos de formas verbais. As datações apresentadas correspondem ao século II e, sobretudo, ao século III (Carnoy, 1906, p.18-19). Mais uma vez, o número de casos de escrita de e por i é superior ao de i por e (id., p. 18-20). A epigrafia de Pompeios apresenta exemplos já do século I, para estes casos (Väänänen, 1966, p. 21-22).

O Appendix Probi documenta, com um grande número de exemplos, a confusão entre as vogais e e i, em diferentes contextos. Alguns dos exemplos são: delirus non delerus, effiminatus non imfimenatus, dimidius non demidius,

sirena non serena, senatus non sinatus, festuca non fistuca, fames non famis e aedes non aedis (Väänänen, 1981, p. 201-202).

Na evolução do latim para o português, como já foi referido, em posição tónica, a vogal ĕ mantém o timbre, a vogal ē também, a vogal ĭ altera o timbre, aproximando-se do da vogal ē, e a vogal ī mantém também o seu timbre. Exemplo desta evolução é a passagem de petram a pedra, de acetum a azedo, de pirum a pêro e de tristem a triste.

Nas inscrições do território português, observa-se uma tendência inversa quanto à distribuição da vogal e e da vogal i. Nestas inscrições, há mais exemplos de escrita de i por e do que de e por i.

Quanto a exemplos da grafia e em vez de i, temos, de sul para norte: HEC (IRCP 109), RELEGIONE (IRCP 522), CARESSIME (RIRP 54), AVEAE

(32)

(ERFBI 16), DOMENO (RAP 50). Destes, só há indicações cronológicas para os da zona sul e da zona centro. O mais antigo, a sul, data de finais do século II (IRCP 109). O mais antigo, na zona centro, da segunda metade do século I (EFRBI 16). A norte há ainda outro exemplo, sem data e com uma particularidade gráfica, sendo os ii equivalentes a um e19: LARIIBVS (RAP 382). Para além da vogal i, a semivogal i também surge representada com um e num exemplo, igualmente sem data, que apresenta a mesma particularidade gráfica do anterior:

EVENTVTII (IRCP 230).

A escrita de e está, ainda, patente em nomes próprios que apresentam a grafia i num maior número de exemplos: MARCEA (EFRBI 16), ENTARAMICO (EFRBI 55), APONEVS (CV 8), LECENIO e LECENIANO (CV 92), BOVTEAE (CIL 2380). Destes, destacamos o facto de dois serem nomes de imperadores romanos, de inícios do século IV: LECENIO, LECENIANO. Em outras inscrições, pode observar-se a grafia correcta destes nomes. Além destes, ainda surge o nome de outro, em miliários do ano 283 ou 284: NVMEREANO (CV 87 e CV 95). Quanto a este nome não há registos de grafia com i, já que, à excepção deste exemplo, surge sob a forma de abreviatura.

Em relação à grafia de i em vez de e, temos, de sul para norte: MISOLIO (IRCP 16), CALCIAMENTORVM e CALCIAMENTA (IRCP 142.4.), CONIACTIA (IRCP 298), VTERI (IRCP 602), MAESOLIVM (EO 35), MILIS (Egit. XIII),

PRINCIPS (CIL 4816), MIIS (AF 611). Só há indicações cronológicas para os

exemplos da zona sul e da zona norte. Os mais antigos, a sul, datam de finais do século I ou de inícios do século II e encontram-se na mesma inscrição (IRCP 142). O mais antigo, a norte, data do ano 238 (CIL 4816), embora haja dúvidas quanto a esta indicação.

Em alguns nomes próprios que apresentam, normalmente, a grafia e, surge a escrita de i: AVINTINA (IRCP 41), HIRINIANA (IRCP 46), IRINAEI (IRCP 289),

NIVIVS (AF 146), RIBVRRA (ERRB 81), MISSIO (CIL 4812 e 6219). Em outros, é

visível a oscilação entre as duas vogais, estando registadas formas duplas:

19

Redentor (2002, p. 210) realça o carácter cursivo dos ii e desvaloriza a hipótese de se poder considerar uma particularidade de linguagem.

(33)

Cilea/Cilia, Coelea/Coelia. Existe, ainda, a grafia CELEA (RAP 62). A inscrição em

que se encontra o exemplo não está datada. O nome de uma divindade também aparece alterado com a grafia INDOVELLICO (IRCP 507, 513, 520). Não existem indicações cronológicas para qualquer uma destas inscrições.

1.3. As vogais o e u

À semelhança do que acontece com as vogais e e i, das quatro vogais ŏ, ō,

ŭ, ū, é a vogal ŭ que, em posição tónica, tem uma alteração de timbre mais

marcada na passagem do latim para as línguas românicas, aproximando -se da articulação de ō. Também à semelhança do que acontece com e e i, esta alteração de timbre vai originar confusões entre a grafia de o e de u. Mariné (1952, p. 26) refere que a oscilação está atestada em grafias do século IV e que es exemplos de escrita de o por u são mais numerosos do que os exemplos da escrita de u por o. Situação semelhante verificava-se com a oscilação entre e e i. A vogal mais baixa é a que surge escrita mais vezes.

Para a Península Ibérica, Carnoy delimita outros contextos de troca entre o e u. Destes destacamos a oscilação entre o e u em posição final (Carnoy, 1906, p. 49-50). Mariné recorda a generalização desta tendência por todo o Império e refere que esta ocorreu mais tardiamente do que a oscilação entre e e i na mesma posição, apontando o século II (1952, p. 25). Carnoy apresenta exemplos já do século I na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 49).

A epigrafia de Pompeios documenta também a confusão entre as vogais o e u, em diferentes contextos (Väänänen, 1966, p. 27-30). Para além dos exemplos da segunda metade do século I, Väänänen apresenta alguns do século I a.C. (1966, p. 29-30).

Tal como acontece com as vogais e e i, o Appendix Probi apresenta um grande número de exemplos da confusão entre o e u, em vários contextos:

(34)

furmica, sobrius non suber e formosus non formunsus (Väänänen, 1981,

p. 200-202).

Exemplo da evolução do latim para o português das vogais ŏ, ō, ŭ e ū, em posição tónica, é a passagem de mortem a morte, de amorem a amor, de lutum a lodo e de nudum a nu, respectivamente.

Destacamos ainda a tendência para escrever o grupo uu como uo20, nos casos nominativo singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-. Esta tendência pretendia eliminar ambiguidades, por exemplo, entre o grupo uu e a vogal ū que se grafava uu21. A grafia está documentada na Península Ibérica por Carnoy, com os exemplos mais antigos a datarem do século I (1906, p. 52-53).

Para além desta tendência, o grupo uu surge, por vezes, abreviado: serus em vez de seruus. Este tipo de grafias surge atestado no século I pelas inscrições de Pompeios (Väänänen, 1966, p. 50). O Appendix Probi também documenta a grafia abreviada: auus non aus, flauus non flaus, riuus non rius (Väänänen, 1981, p. 200-202). Väänänen (1966, p. 49-50; 1981, p. 51) refere que o fenómeno está relacionado com uma tendência do latim, que se verificava desde a época arcaica, de simplificar este tipo de grupo22 e sublinha que na evolução para as línguas românicas, em alguns casos, o u acabou por ser reposto. Um exemplo, em português, é a evolução de seruum para servo.

Nas inscrições do território português, quanto à distribuição da vogal o e da vogal u, dá-se uma tendência inversa à habitual, como acontece na distribuição das vogais e e i: há mais exemplos da escrita de u por o do que de o por u.

Em relação à grafia de o em vez de u, temos três exemplos: MISOLIO (IRCP 16), VOCTO (CV 19), FILIO (FE 241). O primeiro data da segunda metade do século II; o segundo do século II ou século III; o terceiro de finais do século II.

20

Faria (1970, p. 121-122) refere que a grafia uo é a grafia usual até ao período dos Flávios.

21

A duplicação das vogais é uma das formas de representar a quantidade longa. Faria (1970, p. 117-118) indica que é um costume introduzido por Ácio e apresenta, como primeiro exemplo epigráfico, uma inscrição de 132 a.C.. Niedermann (1997, p. 7) situa a duplicação das vogais nos séculos II e I a.C. e menciona que esta é a imitação de uma prática usada pelos Oscos.

22

Na época arcaica, as palavras que apresentavam a semivogal u e a outra consoante recuada, o o, sofreram também uma redução: deiuos evoluiu para deus.

(35)

Quanto à escrita de u em vez de o, temos, de sul para norte: VOTV (IRCP 58), RENSPONSV (IRCP 484), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266),

MVNIMENTVS (CIL 266), MVNIMENTV (EFRBI 107), AVGVSTV (RIRP 18), AFINATV (RIRP 59). Os mais antigos são os registados em EFRBI 107 e RIRP 18: segunda metade do século I e ano 23 a.C., respectivamente. O primeiro

data de finais do século II e o terceiro, em IRCP, assim como o último (RIRP 59), do século III. Para os outros, não existe indicação.

No que se refere à grafia do grupo uu como uo, nos casos nominativo singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-, temos, como exemplos, de sul para norte: CLAVOM (IRCP 142.4.), SERVOS (IRCP 143.10., 143.13. e 143.17.), SVOS (EFRBI 230) e FLAVOS (CIL 2502). O mais antigo é o primeiro: é de finais do século I ou de inícios do século II. O segundo é do período entre o ano 117 e o ano 138 e o terceiro de finais do século II. Para o último, não há indicação cronológica.

A redução do grupo uu a u também está atestada. Temos, de sul para norte: EVENTVTII (IRCP 230), IVAT (IRCP 270), PERPETVM (EO 41),

IVENTVTIS (AF 410, 411 e 414; CIL 4756 e 4757). O mais antigo é o terceiro:

data de inícios do século I. Na categoria dos nomes próprios, existe a variante

FLAVS a par de FLAVVS. O exemplo mais antigo data do século I (IRCP 445).

Esta forma do nome é, sobretudo, frequente a norte. Inversamente, temos a grafia

uu em vez de u: POSVVIT (FE 238), CONVENTVVS (RAP 454). Só existe

indicação cronológica do segundo exemplo: século II.

1.4. As vogais i e u

A vogal i, antes de uma consoante bilabial e em posição postónica, apresenta a tendência para ser grafada u. Exemplo disto é a oscilação entre

optimus e optumus. Esta tendência é relativamente comum e existe um grande

(36)

de exemplos na epigrafia da Península Ibérica, datando os mais antigos do século I (1906, p. 66). A epigrafia de Pompeios também documenta esta data (Väänänen, 1966, p. 26).

Mariné afirma que esta tendência para as duas vogais mais altas oscilarem antes de bilabial é visível nos textos epigráficos desde o século II a.C. (1952, p. 33). O mesmo autor afirma que se pode concluir ter sido, primeiramente, u a grafia mais comum. A partir de dada altura, a grafia i terá começado a difundir-se e a surgir mais vezes. Esta ideia é confirmada por Faria (1970, p. 186). Numa época mais arcaica da língua, antes de bilabial a vogal que existia era um u. O que terá acontecido foi a passagem desta vogal a i, como atesta uma citação de Quintiliano. Kent (1959, p. XXII) refere que a grafia i passa a ser a norma na época de César23. Estes dados apontam, assim, para a ideia de que a tendência para escrever u antes de bilabial é mais antiga e a tendência para usar o i é mais inovadora e explicam a oscilação entre as duas vogais.

Nas inscrições do território português, a oscilação gráfica entre u e i está documentada. Comparativamente, é maior o número de exemplos em que se optou pela grafia i antes de bilabial. No entanto, há uma série de palavras que apresenta a grafia u: MAXVMA, MAXVMVS, com as variantes MAXSVMA e

MAXSVMVS, MAXVMINA, MAXVMINVS, OPTVMA, OPTVMVS, PIISSVMA.

Algumas destas surgem declinadas em diferentes casos. Como se pode observar pelos exemplos, a escrita de u está predominantemente documentada apenas antes de uma bilabial: m.

A grafia u surge em inscrições das três zonas do país. Para a zona sul, os exemplos mais antigos são de inícios do Império e do ano 5 ou 4 a.C.: MAXVMVS (IRCP 267) e MAXVMO (IRCP 184), respectivamente. Quanto à zona centro, dos exemplos datados, os mais antigos são de inícios do século I: OPTVMO e

MAXVMO (FE 266). Em relação à zona norte, é reduzido o número de exemplos

datados. O mais antigo é da segunda metade do século II ou do século III:

MAXVMO (ERRB 5). No que respeita à zona sul, aquela que apresenta o maior

23

Kent já confirmara esta ideia em outra obra (1945, p. 47), na qual refere que, na época de Júlio César, se nota uma preferência, nas inscrições oficiais, pela grafia i.

(37)

número de exemplos com data, as restantes formas são, sobretudo, do século I e do século II. O mesmo acontece em relação aos exemplos datados da zona centro.

É vulgar na mesma inscrição mais do que uma forma com a grafia u:

IRCP 594, FC 67, FE 266, RAP 341, AF 414. Tal deve-se ao facto de as palavras

que apresentam contexto para a grafia de u surgirem, muitas vezes, em conjunto:

OPTIMVS MAXIMVS.

Existe, ainda, outro exemplo que documenta a oscilação gráfica entre u e i, mas esta não se dá em posição postónica: LVBEN[S] (EO 144E). A inscrição em que se encontra não está datada.

Inversamente, a grafia da palavra monumentum também apresenta uma oscilação gráfica. Existem seis formas que apresentam a grafia i24 em vez de u, registando estas simultaneamente alterações na escrita da primeira vogal (v. 1.3.). Temos, por ordem alfabética: MONIMENTVM (EFRBI 88; EFRBI 230),

MVNIMENTV (EFRBI 107), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266), MVNIMENTVS

(CIL 266). O exemplo mais antigo é da primeira metade do século I (EFRBI 88).

2. Ditongos

2.1. O ditongo ae

O ditongo ae corresponde à evolução de ai. Em indo-europeu existia o ditongo ai, que se mantém em latim na época arcaica (Faria, 1970, p. 171). A partir do século III a.C., esta grafia altera-se para ae25. Vários exemplos da epigrafia documentam a forma arcaica do ditongo26 e os gramáticos latinos

confirmam, igualmente, a pronúncia. Mais tarde, numa atitude de

24

Não estamos a incluir nestes a forma abreviada que surge em IRCP 566.

25

Faria e Niedermann tomam posições diferentes em relação a esta data: o primeiro (1970, p. 171) indica o século II a.C. como o século da transformação; o segundo (1997, p. 59) o século III a.C..

26

Um dos exemplos epigráficos encontra-se no Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C.. Niedermann, no entanto, defende que a grafia ai, nesta inscrição, já não corresponderia à realidade fonética (1997, p. 60).

(38)

conservadorismo linguístico e de gosto pelas formas arcaicas, a forma ai é recuperada por alguns escritores e o imperador Cláudio exige que o seu título seja escrito Caisar.

A forma ae está atestada pelos gramáticos, com o registo da pronúncia. Paralelamente, há notícias de que, em algumas regiões rurais, o ditongo começa a ser pronunciado de forma diferente: e. Esta tendência tende a difundir-se, sobretudo nas classes mais populares (Faria, 1970, p. 172), e, rapidamente, o ditongo é pronunciado, cada vez mais, como se se tratasse de uma vogal só27. Niedermann aponta o início do século II a.C. como data da transformação e comprova-a com exemplos das peças de Plauto28 (1997, p. 59). Exemplos da evolução de ae para e também estão presentes nas inscrições de Pompeios (Väänänen, 1966, p. 23-24), sendo os mais antigos do século I a.C.. Kent (1959, p. XIX) refere que há exemplos da monotongação em inscrições rurais bastante antigas e refere que esta tendência se generaliza, sobretudo, depois de finais do século I. Carnoy (1906, p. 71-72) apresenta, para a Península Ibérica, exemplos, sobretudo, do século II.

O e resultante da monotongação de ae é diferente dos outros e latinos: trata-se de um ē aberto, ao contrário do ē primitivo, que era fechado, e do ĕ primitivo, que era aberto. A grafia ae mantém-se, por vezes, para distinguir este som diferente, mas as formas em que ae é substituído por e, à medida que o tempo passa, começam a ser cada vez mais comuns.

A grafia ae vai servir ainda para registar as palavras importadas. Nas palavras em que o som ē aberto se verifica, os latinos optam por grafá-lo com ae (ex.: scaena, raeda). Em relação aos empréstimos gregos, a grafia ae é utilizada para representar este som desde a época arcaica. Biville (1987, p. 13) apresenta um exemplo de Névio. O mesmo autor (1987, p. 17) refere que a grafia ae está atestada para empréstimos gregos desde o início do século II a.C., em inscrições.

27

A monotongação do ditongo ae tem paralelo no úmbrico, já que ai indo-europeu evoluiu, nessa língua, para e.

28

Referências

Documentos relacionados

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Utilizando os dados contidos no Balanço Social de 16 empresas, este trabalho testou quatro hipóteses sobre o sentido causal entre lucros e salários visando clarificar a relação

Considerando a importância dos tratores agrícolas e características dos seus rodados pneumáticos em desenvolver força de tração e flutuação no solo, o presente trabalho

A simple experimental arrangement consisting of a mechanical system of colliding balls and an electrical circuit containing a crystal oscillator and an electronic counter is used

a) política nacional de desenvolvimento do turismo; b) promoção e divulgação do turismo nacional, no país e no exterior; c) estímulo às iniciativas públicas e privadas de

In order to increase the shelf life and maintain the quality and stability of the biological compounds with antioxidant activity present in Castilla blackberry fruits, a

Neste estudo foram quantificadas as concentrações de Zn, Cd, Cu e Ni em amostras de músculo de peixes da espécie Prochilodus argenteus (Prochilodontidae, Characiformes)