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5. Organização das epígrafes para análise

1.2. As declinações estrangeiras

Algumas palavras de origem grega mantêm marcas da sua declinação original em alguns casos. Em relação a estes vocábulos que apresentam desinências de carácter grego e de carácter latino, Ernout diz tratar-se de uma declinação mista, metade latina, metade grega, por vezes artificial, usada, sobretudo, com os nomes próprios (1953, p. 23-24). O mesmo autor refere que foi Ácio, no século II a.C., que introduziu a tendência de transcrever os nomes gregos na sua declinação original. O mesmo costume manteve-se nos poetas do final da República e do tempo de Augusto. Como era difícil transcrever em latim a declinação grega, estes nomes acabaram por seguir, em alguns casos, as desinências gregas e, noutros, as latinas. Os nomes deste tipo integram-se na primeira, segunda e terceira declinações (Ernout, 1953, p. 23-24, 34-35 e 61-63).

Na epigrafia latina há exemplos destes nomes. Väänänen apresenta alguns, da segunda metade do século I, na epigrafia de Pompeios (1966, p. 83). Carnoy apresenta exemplos na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 236-238). Além destes exemplos, Carnoy apresenta outros, nomeadamente de palavras que apresentam vestígios da declinação osca (id., p. 235-236) e da declinação céltica (id., p. 239-240).

Na epigrafia do território português, são várias as palavras de cariz grego que apresentam marcas da sua flexão original. Temos diferentes grupos, tendo em conta o seu nominativo: nomes femininos terminados em -e, nomes masculinos terminados em -es, em -us e um reduzido número de nomes femininos terminados em -is e masculinos terminados em -os. Temos ainda outro

grupo que apresenta particularidades ao nível das desinências: o dos nomes masculinos terminados em -on.

Os nomes femininos terminados em -e são os mais numerosos, em comparação com os outros grupos. Temos como exemplos60: ACTE, AGATE,

ANCHIALE, CALETYCHE, CALLIOPE, CHRESTE, DAPHINE, HELENE, MVSICE, SYCECALE, TERSPICORE, THYMELE, TYCHE. Os exemplos são mais

frequentes na zona sul, sendo mais raros no centro e mais ainda a norte. A sul, os exemplos mais antigos são: NICE (IRCP 270) e HEGESISTRATE (IRCP 448). Ambos datam de finais do século I ou de inícios do século II. No centro, são

GAMICE (RERC 9) e NYMPHE (EFRBI 30). O primeiro data de cerca do ano 50;

o segundo da segunda metade do século I. Dos poucos exemplos registados a norte, nenhum é datado: SELENE (AF 177), SINETHE (AF 245), CABVRENE (AF 605).

Os nomes masculinos cujo nominativo termina em -es também apresentam um número considerável de exemplos, embora não sejam tantos como os nomes femininos acima referidos. A sua distribuição é semelhante: mais a sul, menos no centro e menos ainda a norte. Temos como exemplos: ASCLEPIADES, HERMES,

LETOIDES, ORESTES, PHILOGENES, PILIDES e PYLADES. Os exemplos

datados mais antigos são: EVPREPES (IRCP 93), para a zona sul, de meados do século II, e EVTYCHES (EFRBI 81), para a zona centro, de finais do século I ou inícios do século II. Na zona norte não existem exemplos datados.

Quanto a nomes masculinos terminados em -us, temos, de sul para norte:

PARTHENOPAEVS (IRCP 571), THESEVS (FE 167), MVSAEVS (CIL 368) e NEREVS (CIL 5559). Não existe indicação cronológica para as inscrições em que

se encontram.

Dos nomes terminados em -is e em -os, existem poucos exemplos. Temos, por ordem alfabética: CHRYSEROS (Egit. 8), CHRYSIS (CIL 374, FC 112),

CRYSEROS (IRCP 419), CRYSIS (IRCP 262), ELPIS (EO 71), HELPIS (FE 66).

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Em relação aos exemplos há um aspecto que deve ser salientado: alguns deles encontram -se em dativo singular com a terminação -e. Esta tanto pode ser a desinência grega, como a desinência latina com a monotongação de -ae.

O exemplo mais antigo a sul é CRYSIS (IRCP 262), do século II, e na zona centro é CHRYSIS (FC 112), do período entre o ano 12 e o ano 68.

Relativamente aos nomes masculinos terminados em -on, temos uma ressalva a fazer: nem sempre a desinência de nominativo -on é a correcta. Alguns destes nomes parecem ter sofrido adaptações. Em vez de apresentarem -o no nominativo singular, como seria esperado, dá-se a inserção de n, e os nomes apresentam -on no nominativo singular. Os exemplos estão maioritariamente a sul. Temos, de sul para norte: THEMISON (IRCP 10), PRISCION (IRCP 86),

EVREMON (IRCP 114), PAEZON (IRCP 151), AGATHON (IRCP 249), MOLON

(IRCP 250), PHILON (IRCP 333a), CHARITON (IRCP 347), ELICON (IRCP 394),

TRYPHON (IRCP 450) e LANGON (EFRBI 29). O exemplo mais antigo a sul é MOLON, de inícios do século II, e o exemplo registado na região centro data do

século I.

2. Pronomes

O sistema de pronomes latinos divide-se, segundo Ernout, em dois grupos: por um lado, os pronomes demonstrativos hic, iste, ille, assim como is, o pronome relativo qui e o interrogativo-indefinido quis; pelo outro, os pronomes pessoais (1953, p. 79).

Na evolução do latim para as línguas românicas, alguns destes pronomes

sofreram uma mudança de sentido e certas alterações fonéticas.

Morfologicamente, também sofreram transformações. Os pronomes ille e iste começaram a ser reforçados com a partícula ecce, anteposta. Väänänen (1981, p. 123) documenta esta tendência já em Plauto. Este tipo de reforço acabou por originar formas como aquele, em português. Outra transformação foi a de ille, a partir do qual se formou, nas línguas românicas, o artigo definido e o pronome pessoal ele. Outra, ainda, foi o reforço, em final de palavra, dos pronomes hic, iste

e ille com -i ou -ce. Este -ce surge por vezes abreviado: -c (Ernout, 1953, p. 80). Väänänen apresenta exemplos deste reforço na segunda metade do século I (1966, p. 86).

Destacamos, também, a evolução do pronome pessoal ego na sua forma de dativo, mihi. Esta forma apresenta uma redução, sendo grafada mi. Carnoy regista-a na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 246).

Nas inscrições do território português, os pronomes demonstrativos e o relativo estão documentados, embora não sejam muito frequentes. O pronome hic não surge muitas vezes e não apresenta muitas formas documentadas: HAC,

HIC, HOC, HORVM, HVIVS, HVNC. Salientamos o facto de os poucos exemplos

de HIC ocorrerem com nomes neutros interpretados como masculinos (v. 1.1.1.). De ille, registamos a forma ILLIVS. Is apresenta variedade de formas, embora algumas não sejam muito frequentes: EA, EAE, EAS, EIVS, EO, EORVM, EOS,

EVM, ID, IS. Grande parte das ocorrências encontra-se nas Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. O pronome relativo apresenta, de igual modo, diversidade de

formas e está registado frequentemente nessas mesmas inscrições: QVA, QVAE,

QVAM, QVAS, QVI, QVIBVS, QVO, QVOD, QVORVM.

Os pronomes pessoais encontram-se documentados através de algumas formas: EGO, ME, MIHI; TV, TE, TIBI; SE, SIBI; VOBIS. Algumas destas, como

TIBI e VOBIS, estão relacionadas com as fórmulas epigráficas de carácter

funerário.

Quanto ao reforço dos pronomes, quer com a partícula ecce, anteposta, quer com -i, com -ce ou -c, pospostos, não há registo de exemplos.

Estão documentadas formas diferentes do comum, com grafias inesperadas, em alguns pronomes. De hic, temos o exemplo, sem data, HAC por

HANC (CV 31). Além da confusão a nível morfológico, a forma contribui para a

confusão entre casos. Noutra inscrição, encontramos um exemplo, com duas ocorrências, do pronome sem o h inicial: AC (AF 611). A inscrição em que se encontra o exemplo é do século IV, embora a datação levante dúvidas. Do pronome relativo, existem vários exemplos de formas anómalas. Temos, de sul

para norte: QVAM por QVA (IRCP 259), do século III; QVE por QVAE (IRCP 314), de finais do século II ou inícios do século III, resultante da monotongação do ditongo; QVOT por QVOD (IRCP 571), sem data; QVIVS por CVIVS (IRTV 7), da primeira metade do século I (v. Cap. II, 3.2.). Está ainda registado o arcaísmo

QVAI por QVAE (IRCP 430). No entanto, a forma está por CVI (v. Cap. II, 2.1. e

Cap. IV, 1.1.). O exemplo data do século III. Dos pronomes pessoais, temos os seguintes exemplos: MI por MIHI (IRCP 270), de finais do século I ou inícios do século II, e MIGI por MIHI (AF 611), do século IV, embora a datação levante dúvidas.

3. Numerais

O sistema de numerais latinos era um sistema bastante coeso. Tal característica pressupõe que cada uma das formas estava exposta às influências analógicas das outras (Mariné, 1952, p. 56). Segundo o mesmo autor, esta característica explica as transformações morfológicas ocorridas nos numerais que aproximavam setuagesima e octogesima das outras designações ordinais de dezenas, terminadas em -agesimus, através das formas septagesima e

octagesima.

Outra transformação registada nos numerais, também explicada pelo processo de analogia, é a substituição de formas subtractivas por formas aditivas:

decem et octo por duodeuiginti (Väänänen, 1981, p. 119).

O numeral unus, -a, -um, que deu origem em português ao artigo indefinido, apresenta, também, transformações na sua flexão. Nos casos genitivo singular e dativo singular tende a seguir a flexão dos adjectivos terminados em -us, -a, -um, normalizando as formas mais irregulares (Väänänen, 1981, p. 119).

Na epigrafia do território português, a noção de número surge, sobretudo, sob a forma de algarismos. Este dado pressupõe que não haja um registo alargado de numerais. No entanto, temos alguns exemplos que representam os diferentes tipos: VNO, VNVM, QVINQVE, SEX, DECEM; PRIMVS, SECVNDAM;

SINGVLA, BINI; BIS. Parte considerável destes exemplos ocorre nas Tábuas de

Aljustrel: IRCP 142 e 143.

Como se pode perceber pelos exemplos apresentados, há o respeito pela correcção das formas. A confirmar este dado, acresce o facto de não estarem registadas transformações ou alterações morfológicas nas formas de numerais documentadas.

4. Verbos

Uma das principais transformações no sistema verbal, na evolução do latim para as línguas românicas, foi a substituição das desinências passivas dos verbos depoentes por desinências activas, ou seja, o tratamento dos verbos depoentes como verbos activos. Este processo levou ao desuso das desinências passivas nos depoentes, com exemplos já em Plauto (Ernout, 1953, p. 115; Väänänen, 1981, p.128). Por outro lado, a voz passiva também sofre alterações: as formas sintéticas são preteridas e, em vez destas, surgem formas compostas (Väänänen, 1981, p. 129-130). Na epigrafia, há exemplos dos depoentes com desinências activas, no século I, em Pompeios (1966, p. 87) e na Península Ibérica (Carnoy, 1906, p. 252).

Além desta transformação, houve outras (Väänänen, 1981, p. 129-145). Das documentadas em epigrafia, destacamos a grafia dos tempos do perfectum. Estes tempos, sobretudo o pretérito perfeito do indicativo activo, apresentam tendência para a contracção, surgindo formas como amasti ou amarunt (Väänänen, 1981, p. 142). Mariné (1952, p. 59-60), apoiado em outros autores,

afirma que estas formas contraídas são as que prevalecem na evolução do latim para as línguas românicas61. Na Península Ibérica, Carnoy atesta a tendência, apresentando diferentes grafias de pretérito perfeito do indicativo activo, terceira pessoa do singular, do verbo pono62 (1906, p. 252-253).

Outra transformação é a confusão entre temas e conjugações. Carnoy documenta uma forma de particípio passado que apresenta uma vogal temática diferente da esperada (1906, p. 249-250). Väänänen (1981, p. 87-88) regista uma forma que denuncia uma tendência arcaica, já documentada em Plauto, de eliminar os verbos de tema em -ĭ- a favor dos de tema em -ī-, ou seja, uma tendência para integrar os primeiros na conjugação dos segundos. Em português, o sistema de conjugações latino acabou por se simplificar. De quatro conjugações, em latim, passou-se, em português, a três.

Nas inscrições do território português, temos documentados, ainda, arcaísmos nas desinências verbais: TVLEI (EFRBI 93). A forma corresponde à primeira pessoa do singular do pretérito perfeito activo e, segundo Ernout (1953, p. 213), é comum encontrar a desinência -ei em inscrições da época arcaica, porque nessa época existia confusão, ao nível da grafia, entre ī e ei. A inscrição onde se encontra o exemplo data do século II. Existe outra forma que apresenta, igualmente, a grafia arcaica ei, embora não ao nível das desinências: FEICIT (EFRBI 230). Neste caso, ter-se-á dado uma confusão ao nível da grafia e terá sido grafado ei por erro de contexto63. A inscrição data de finais do século II. Outra forma verbal de cariz arcaico é FAXINT (IRCP 647). Esta encontra-se numa inscrição com uma data bastante precisa: 11 de Maio de 37.

A maioria das formas verbais apresenta correcção ao nível morfológico. Um dado que confirma esta ideia é a grafia de tempos, como o futuro imperfeito

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Väänänen (1981, p. 142) apresenta uma síntese das desinências de pretérito perfeito do indicativo activo que terão evoluído nas línguas românicas.

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Algumas destas grafias estão relacionadas com a tendência para a contracção, outras com a própria morfologia do verbo.

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Niedermann (1997, p. 58) refere que o ditongo ei passou a ī, na primeira metade do século II a.C.. No entanto, terá havido uma fase intermédia, por volta dos primeiros anos do século II a.C., em que ei se terá escrito ē. Esta fase intermédia deu, nesta época, por erro, origem a grafias inversas, já que em contextos de

do indicativo e o imperativo futuro, ambos documentados nas Tábuas de Aljustrel (IRCP 142 e 143), e de formas irregulares também de imperativo, como DIC.

Apesar da correcção, há particularidades a assinalar. Estão documentadas formas sincopadas, dos tempos do perfectum. Temos, de sul para norte:

EMERINT (IRCP 143.8.), VITIASSE, LABEFACTASSE e DECAPITASSE64

(IRCP 143.13.), CVRARVNT (EFRBI 113 e AF 414). Os quatro primeiros exemplos datam do período entre o ano 117 e o ano 138. A primeira ocorrência do último data da segunda metade do século I ou de inícios do século II; a segunda data do ano 238.

Há outras formas, ainda, que se destacam pela sua singularidade. Numa inscrição de Conimbriga, temos TACIM por TACEAM (FC 357b). O exemplo data do período entre o ano 98 e o ano 117. Temos algumas formas que apresentam a queda de -t. FECI (IRCP 513), SI (ACS 27), RETVLI (AF 126), REFECI (AF 404). O segundo exemplo data do século III; o último do ano 135. Para os outros não existe indicação cronológica. Inversamente, temos uma forma com a duplicação da consoante: CVRAVITT (IRCP 585). Esta data da segunda metade do século I (v. Cap. II, 3.5.). Do mesmo verbo, temos duas formas que apresentam tratamentos diferentes da mesma vogal. No primeiro exemplo, registado a sul, a vogal surge duplicada: POSVVIT (FE 238). No segundo, registado na zona centro, surge omitida: POSIT (EFRBI 23). Não existe indicação cronológica para os exemplos. Está, ainda, registada uma forma de um derivado de eo, que, pela supressão de um dos i do pretérito perfeito, neutraliza a distinção entre terceira pessoa do singular do presente do indicativo e terceira pessoa do singular do pretérito perfeito: OBIT (CIL 5238). A inscrição em que se encontra o exemplo data do século I.

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Capítulo IV

1. Casos

1.1. Os casos

O latim tinha seis casos: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e ablativo. O instrumental e o locativo apenas deixaram alguns vestígios na língua latina. O primeiro fundiu-se com o ablativo. O segundo está patente em algumas indicações de lugar como domi ou belli (Ernout e Thomas, 1984, p. 7-8).

Na evolução do latim para as línguas românicas, o sistema de casos latino sofreu profundas transformações (Väänänen, 1981, p. 110-117). O resultado destas transformações foi a abolição deste sistema nas diferentes línguas românicas. As palavras começaram, na frase, a ter um lugar fixo que marcava a sua função sintáctica e deixaram de se declinar. Antes, contudo, deste resultado final, as transformações ocorreram de forma gradual. Além das desinências comuns que muitas palavras apresentavam e que poderiam suscitar dúvidas quanto à identificação de alguns casos, mudanças de ordem fonética vieram dificultar, ainda mais, a distinção, como a queda da consoante m em posição final, no acusativo singular, causando confusão entre acusativo e ablativo, e a alteração de timbre das vogais, originando ambiguidades, por exemplo, na terceira declinação. Estas e outras transformações levaram a que se começasse a confundir os casos. A consequência deste processo é a tendência para a redução do número de casos. Esta transformação gradual culmina na redução dos seis existentes a apenas dois: o caso sujeito e o caso regime (Ernout e Thomas, 1984, p. 9). A acompanhar a transformação, as palavras começaram a ter um lugar mais fixo na frase, já visível na época tardia. Nas línguas românicas a noção destes dois casos acaba por desaparecer.

Os textos epigráficos documentam o processo de decadência do sistema latino de casos, exemplificando algumas das ambiguidades ou dos usos indevidos de determinado caso, antes do seu final. Na epigrafia da Península Ibérica, Carnoy (1906, p. 270-271) documenta, por exemplo, o uso de dativo em vez de

acusativo e o complemento de fruor em acusativo em vez de ablativo. Väänänen (1966, p. 115-119) apresenta um maior número de exemplos, registando situações como nominativo em vez de vocativo, uso excessivo de acusativo em detrimento de outros casos ou escrita de ablativo em vez de locativo.

Nas inscrições do território português, está documentado o uso de alguns casos em vez de outros. Começamos pelo nominativo. O nominativo está registado uma vez por vocativo e duas por dativo. Temos nominativo por vocativo numa inscrição da região centro: DVATIVS (FC 357b). O exemplo data do período entre o ano 98 o e ano 117. Nominativo por dativo está documentado a sul e a norte. A sul, temos o exemplo: MARIA EVPREPIA QVAI FATE CONCESSERVNT

VIVERE (IRCP 430). A forma do pronome relativo parece ser arcaica e estar por QVAE. No entanto, sintacticamente o que estaria correcto era CVI (v. Cap. II, 2.1.

e Cap. III, 2.). A inscrição data do século III. A norte, temos o exemplo:

PRONIIPOS (ERRB 129). O nominativo encontra-se num miliário cujo texto

principal está em dativo. A inscrição data do ano 213 ou 214. Está registado, também, o uso de acusativo por nominativo: FILIAS MATRI PIISSIME

POSVERVNT (IRCP 331). A inscrição data do século III. O genitivo surge por

ablativo em POTESTATIS (IRCP 665 e 666), numa fórmula epigráfica habitual:

TRIBVNICIA POTESTATE. As duas ocorrências datam do mesmo ano: 275.

Semelhante a este exemplo é TRIBVNICIE POTESTATIS (FE 102a), também do mesmo ano. A situação será a mesma: genitivo por ablativo, aqui com monotongação do ditongo ae em TRIBVNICIE. Dativo por nominativo surge num texto de um miliário, do ano 218: PRINCIPI (CIL 4834). Por último, temos o registo de ablativo em vez de dativo: PONTIFICE (CIL 4801) e FELICE (ERRB 130). O ablativo surge em de miliários que apresentam o texto principal em dativo. Os exemplos datam de 214, o primeiro, e 213 ou 214, o segundo.

Além da confusão no uso dos casos, temos as já registadas alterações de ordem fonética, como a omissão de -m e de -s ou a mudança de timbre de algumas vogais (v. Cap. II, 1.3., 3.3., 3.4.). Estas, além de originarem a incorrecta flexão das palavras (v. Cap. III, 1.1.2.), levam a que a distinção entre os diferentes

casos e até mesmo entre as diferentes declinações se torne cada vez mais difícil. Temos, como exemplo destas situações: DVATIVS APINIVS F(ilius) BANDI

TATIBIIAICVI VOCTO TOLIT I(ussu) (CV 19); TERTVLA ARCI(i) F(ilia) ET PRISCVS MAXILLONIS F(ilius) TVOVTAE TONGI F(iliae) MATRI MVNIMENTV STATVERVNT H(ic) S(ita) E(st) (EFRBI 107); D(iis) M(anibus) S(acrum) VAL(eriae) AMOENAE A(nnorum) LXX FILIO F(ecit) (FE 241); IMP(eratori) CAESAR(i) DIVI F(ilio) AVGVSTV CO(n)S(uli) XI IMP(eratori) VIII (RIRP 18); AFINATV F(ilio) A(nnorum) XX S(it) T(ibi) T(erra) L(evis) M(ater) F(aciendum) C(uravit) (RIRP 59).

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