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Alienação parental: orfãos de pais vivos?

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE DIREITO

Alienação parental: Órfãos de pais vivos?

Mestranda: Juliana Lima Rejani

Mestrado científico em ciências jurídicas

Lisboa

2014

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE DIREITO

Alienação parental: Órfãos de pais vivos?

Mestranda: Juliana Lima Rejani

Mestrado científico em ciências jurídicas

Dissertação Orientada pelo Prof. Dr. Jorge Duarte Pinheiro

Lisboa

2014

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“Médeia matou seus próprios filhos para vingar -se de Jasão”. (E uríp edes)

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AGRADECIMENTOS

Pr ime ira me nt e, go st aria de a grade cer à minha fa mília pe lo supo rt e e a mparo nece s sár io p ara qu e eu pudes se rea liz ar e st e so nho que est a se co ncret iz a ndo at ravé s de st a d is ser t ação , po r t ere m so nha do ju nt o co migo e supo rt ado um o cea no no s s epara ndo po r t ant o t e mpo .

Ao s meu s a migo s pe la s pa la vra s de inc e nt ivo e po r t ere m e nt end ido a minha au sê nc ia e m mo me nt o s t ão impo rt ant es de sua s vida s.

Ao e xce le nt ís s imo Se nho r Pro fes so r Do uto r Eduardo Vera - Cruz pe la ser ied ade e d e lica dez a no apo io prest ado .

Ao me u ho nro so o rie nt ado r, exc e le nt ís s imo Senho r Pro fe sso r Do uto r Jo rge Duart e Pinhe iro , pe la mar a vilho sa e e nr iqu ecedo ra t ro ca pro po rc io na da, po r t er ace it o meu o r ie nt ar ne st a d is sert ação e po r t er s ido u m e xc e le nt e pro fes so r que é.

À min ha par ce ira d e t raba lho e e xe mp lo d e pro fis s io na l, An a Ge ba se, a que m, me mo st ra a cad a d ia o quão fas c ina nt e é o d ire it o da s fa mília s e a lis ura e co rre iç ão co m que de ve mo s co nduz ir no s so s pro cesso s e no ssa s vida s.

Mu it o o br iga da a t o do s, se m vo cês nada d is so ser ia po s s íve l.

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RESUMO

A Alie naç ão Parent a l co ns ist e na p ro grama ção da cr ia nça par a o d iar e re je it ar o o ut ro genit o r , se m mo t ivo , at ravés da imp le me nt ação de fa ls a s me mó r ias. Ger a lme nt e, a Alie naç ão Parent a l surge e m me io a d isput a s jud ic ia is e nt re o s pa is apó s a rupt ura co nju ga l. O pre se nt e t raba lho fa z u ma a ná lis e a cerca d a Le i 12.31 8/2010, e da fo r ma co mo o t e ma é t rat ado no Bra s il e e m Po rt uga l, t raze ndo se u co nce it o , id e nt ifica ção , e fe it o s e co ns equê nc ia s. Abo rda a s d ifere nt es v isõ es do s Tr ibu na is p e lo mu ndo e apres e nt a fo r ma s a lt er nat iva s e e fica ze s d e reso lu ção dest es co nflit o s.

Pa lav ras- chave: Rupt ura co njuga l. Alie nação Pare nt a l. Le i 12.318/2010. Gu arda co mpart ilha da. Med ia ção fa miliar. Alie naç ão Pare nt a l no mu ndo .

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ABSTRACT

The Pare nt a l A lie nat io n co ns ist s in t he sc hedu le o f t he c hild t o hat e and re ject t he ot her pare nt , wit ho ut any r ea so n, t hro ugh t he imp le me nt at io n o f fa ls e me mo r ies. Ge nera lly, Pare nt a l Alie nat io n co me s a mid le ga l d isput es bet wee n pare nt s a ft er ma r it a l d isrupt io n. T his p aper ma ke s a n a na lys is a bo ut t he Law 12.31 8/2010, a nd ho w t he su bje ct is t reat ed in Braz il a nd Po rt uga l, br ing ing it s co nce pt , ide nt ific at io n, e ffe ct s a nd co ns eque nce s. D is cu ss es t he d iffer e nt vie ws a bo ut Pare nt a l Alie nat io n i n t he Co urt s aro ud t he wo r ld a nd pr es e nt s a lt er nat ive a nd e ffe ct ive w a ys o f reso lving t hes e co nflict s.

K eyword s: D ivo rce. P are nt a l Alie nat io n. La w 12.318/ 2010. S hare d cust o d y. Fa mily me d iat io n. Pare nt a l Alie n at io n in t he wo r ld.

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LISTA DE ABRE VIATURAS

CPC – Có d igo de Pro cesso C iv il AP – Alie naç ão Parent a l

AP AV – As so c iação Po rt uguesa de Apo io à V ít ima CNJ – Co ns e lho Na c io na l d e Ju st iç a

OTM – Orga niz ação Tut elas d e Me no res STJ – Super io r Tr ibu na l d e Ju st iça CFP – Co ns e lho Fed er a l de Psico lo g ia

DEAPE – Dep art a me nt o de Pro mo ção da Sust ent a bilid ade TJRJ – Tr ibu na l d e Ju st iça do R io de J a ne iro

GDRS - D ir ecç ão -Gera l d e Re ins er ção Soc ia l

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SUMÁRIO

I nt r odu çã o. . . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 10

1. A Evo lução hist ó r ic a da fa mília ... . ... ... .... . .. . .. . ... .. ... . .. ... ... .13

1.1 O pape l do pa i e da mã e na fa mília ... ... ..16

1.2 O lugar da fa mília e m Po rt uga l e no Bras il ... ... ...22

1.3 As no va s fa mília s ... . . 26

2. D ivó rc io e a regu laç ão das respo nsa bilidade s pare nt a is . .. . .. . ... .. ... . 34

2.1Pare nt a lid ade x co nju ga lid ade .. . ... . ... ... ....34

2.2As res po ns a bilid ade s pare nt a is e sua regu lação ... ...38

a) Po rt uga l... ... ...38

b) Bra s il... ... ..45

2.3 O d ire it o do s avó s . . . ... ... . 51

2.4 Os des cu mpr ime nt o s ... ... . . 55

2.4.1 Rapt o parent a l x A lie na ção pare nt a l. ... ... ..58

3. A Alie nação Pare nt a l. . . .. . .. ... ..63

3.1 Sua o rige m e t eo r ia s . . . .... ... ... ... 66

3.1.1 D ifere nça e nt re S índro me d a Alie naç ão Parent a l e Alie na ção Pare nt a l... ... .72

3.2 Ele me nt o s ide nt ificado res . . ... . ... ... ...76

3.2.1 Afa st a me nt o invo lu nt ár io e não indu z ido ... ..83

3.2.2 Esca la d e Ind ic ado res Leg a is de Alie na çã o Parent a l... ... ..87

3.3 Efe it o s da Alie nação Pare nt a l... ... ..88

3.3.1 Efe it o s p s ico ló g ico s ... ..89

3.3.2 Efe it o s jur íd ico s . . . .. . .. ... .92

4. A Alie nação Pare nt a l no mu ndo ... ... ..97

4.1 EUA... .97

4.2 Grã-Bret anha... . . 100

4.3 Ale ma nha . . . .. . .. ... ... . . 101

4.4 Espa nha... ... ..103

4.5 Po rt ugal.. . .... ... ... ..104

5. O t rat ame nt o da Alie naç ão Parent a l no s Tribu na is... ...112

5.1 A le i 12.318/2 010 ... ... 114

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5.2 A imp le me nt a ção das fa ls as me mó r ia s e as de nú nc ia s d e a buso

se xu a l. . . ... 118

5.3 As equ ipe s mu lt id is c ip linare s ... ... ... ... 122

5.4 Depo ime nt o das cr ia nça s no Tribu na l ... ... . . 127

5.4.1 Depo ime nt o se m da no ... ... . . ... 127

6. O ca min ho para a so lução ... ... ... . 133

6.1 o pape l do ad vo gado ... ... 133

6.2 A guard a co mpart ilha da . . . .... ... . ... 135

6. 3 A M ed iaç ão fa miliar . . . .. . ... ... ... ... .. ... . .. . .. . ... .. ... . ... .. ... . .. . .. . 136

6. 3.1 Pro jet o s no Tribu na l do R io de Ja ne iro ... .... ...138

a) Pro jet o Be m me quer . . . .. . ... ... 139

b) Aud iê nc ia pr é via co let iva ... ... 140

Co nc lu são ...142

Re ferê nc ia s bib lio grá fic a s ...145

Ane xo I – Le i 12.318/ 2010 ... ...153

Ane xo II – Reso lução C FP nº 0008/2010 ...156

Ane xo III – Reso lução CN J nº 125/2 010 ...161

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INTRODUÇÃO

É inco nt est e que o ser hu ma no , desd e s ua co ncep ção est á lig ado ao se io fa miliar, não e xist indo ne nhu ma o ut ra inst it u iç ão t ão int ima me nt e ligad a ao ind iv íd uo e é a part ir da fa mília que o ho me m in ic ia su a co nvivê nc ia e m so c ied ade, de se nvo lve ndo sua p erso na lidad e.

De vido à e vo lu ção nat ura l do s co s t u me s e da so c ie dade qu e não ma is ac e it a va m a s d ist inçõ es, preco nc e it o s e de s igu a ldad e s e xist e nt es e m re la ção às e nt id ade s fa miliar es no o rde na me nt o jur íd ic o bra sile iro e a fim de at e nder o s no vo s a nse io s da so c ied ade, ho u ve a nece ss idad e do leg is la do r co n t o rná- la s e cr iar u ma no r ma ma is igu a lit ár ia e at ua l.

A fa mília ho je é u m núc leo o nde seu s in t egrant es e st ão e m tot a l int eraç ão e int erdep e ndê nc ia, cad a me mbro d e ve t er gara nt id a su a sat is faç ão , seu be m est ar e o dese nvo lv ime nt o de sua per so na lid ade, ma s t ambé m não de ixa d e ser u ma inst it u iç ã o so c ia l, co m no r mas jur íd ic a s que d e fine m o s d ire it o s e d e vere s de ca da u m e que a so c iedad e d e ve gara nt ir.

As no vida de s t raz ida s fo ra m a igua ldad e e nt re o s cô njug es, a per mis s ão da d is so lu ção da so c iedad e co njuga l p e l a s epar ação o u d ivo rc io , a igu a lda de e nt re o s filho s, o reco nhec ime nt o da união est áve l e das d iver sa s fo r mas d e fa mília s co mo ent id ade s fa miliare s.

A verdad e é q ue c o m a imp la nt ação do d ivó rc io , s urg iu a inst a bilid ad e da s u niõ e s t rad ic io na is, ac irrado a inda p e la ac e it a ção de o ut ro s t ipo s de u nião ad vind as d e o ut ras fa mília s, cu jo s me mbro s fo ra m le vado s ao co nvív io co mu m, cr ia ndo no va s e nt ida de s fa milia re s.

Est a lut a e nt re o ind iv id ua l e o co njuga l po de a carret ar o ro mp ime nt o do la ço a fet ivo e xist e nt e e n t re o cas a l. O gr a nde pro ble ma surge qu a nt o est e casa l sep arado po ssu i filho s e, co m is so , há a

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nece ss idad e de ree st rut uração do s seus papé is pare nt a is na no va d inâ mic a fa milia r inst aurad a.

Apó s a rupt ura co nju ga l, é co mu m qu e a inda rest e gr au d e a nimo s id ade e nt re as part e , po is o lut o gera lme nt e não é e la bo rado ao me smo t e mpo e nt re o s e x-pare s. Q ua nt o ma is t e mpo a o ut ra part e le var para e la bo rar s eu lut o , ma io r s erá o de se jo de vinga nça, o se nt ime nt o d e ra iva e a ba ndo no , po dendo at ing ir pat a ma res per igo s ís s imo s.

Nest es q uadro s, é co mu m que se ja inst a lada a Alie naç ão Pare nt a l, que é a do ut rinação da cr ia nça, usu a lme nt e pe lo g e nit o r guard ião , a fim d e e liminar o o ut ro genit o r da vid a d a cr ia nça. É a bus ca da rupt ura do víncu lo e mo c io na l e nt re ge nit o r e filho , que acarret a co ns equê nc ia s de vast ado ras na vida de t odo s o s envo lvido s.

Há o iníc io de u ma ma s s iva e crue l ca mp a nha de ne gr it ó r ia d a ima ge m de st e ge nit o r a lvo at é que a cr ia nç a pa ss e a co nt r ibu ir espo nt a ne a me nt e co m o s ins u lt o s e xa cer bado s e in ju st ific ado s ao ge nit o r a lie nado , que pas sa a ser vist o co mo um e st ranho , capaz de lhe fa zer ma l.

Nes se pro ces so de pro gra maç ão da cr ia nça, o genit o r a lie nado r ut iliza d es de d ificu ld ade s na r ea liz ação do s e nco nt ro s co m o o ut ro genit o r at é a imput ação de fa lsas de nú nc i a s de a bu so se xua l, e m caso s ma is gra ve s.

No prese nt e t ra ba lho a na lis are mo s a e vo lu ção da s fa mília s ao lo ngo da hist ó r ia e a e vo lu ção do pape l do s pa is d e nt ro da unida d e fa milia r, be m co mo a bo rdare mo s as d ive rsas fo r ma s ho je e xist e nt es e m no ssa so c ied ade.

No cap ít u lo II, abo rdare mo s a d ific u lda de na s epar ação d a co njuga lid ad e e da p are nt a lid ade e se us re fle xo s no e xerc íc io da s respo nsa bilid ad es pare nt a is. Abo r dare mo s a inda a t ut e la do s d ire it o s do s a vó s no s c aso s d e rupt ura do s pa is a fim de gara nt ir o co nv ív io sau dá ve l co m t o da a fa mília e xt e nsa. Ana lisare mo s o rapt o parent a l, t raça ndo u m

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para le lo co m a Alie naç ão Parent a l, a bo rdando a que st ão da Co nve nç ão de Ha ia e de co mo o s Tribu na is se po sic io na m a e ss e resp e it o .

No que se re fere ao est udo d iret o da Alie na ção Pare nt a l, t raremo s no cap ít u lo III to da d is cus são a respe it o das pr ime ir a s a bo rdage ns so bre o fe nô me no , fo r ma s de ide nt ifica ção do s at o s d e Alie na ção Pare nt a l e s eus e fe it o s ps ico ló gico s e jur íd ico s nas pe sso a s e nvo lvid as no pro cesso , no t ada me nt e na s cr ia nça s.

O cap ít u lo IV t raz u m est udo co mp arat ivo da s it ua ção da Alie na ção Pare nt a l no mu ndo e co mo ela est á s e ndo t rat ada e regu la me nt ada e m c ada o rde na me nt o jur íd ico .

Já o ca p ít u lo V ver sa so bre a co nt e xt ua lização da Alie naç ão Pare nt a l no s Tr ibu na is, apo nt a as pe c u liar id ad es e t râ mit e s da Le i 12.318/2010 be m co mo a s sa nçõ es ne la co nt ida s. Abo rda, t a mbé m, a d ifíc il que st ão da imp le me nt a ção de fa ls a s me mó r ia s e m p ara le lo co m a s de nú nc ia s d e a bu so se xua l. De nt ro da t e mát ic a do abu so se xua l, a bo rda mo s a ne ce ss ár ia e c aut e lo s a d ist in ção ent re o abu so rea l e a fa ls a imput aç ão , a lé m d a d e lica da a bo rdage m da e scut a da cr ia nç a no s ca so s e m vo ga. Po r fim, d is co rre mo s so bre o pape l fu nda me nt a l d as eq u ipe s mu lt id is c ip linar es ne st a t e mát ic a.

Po r fim, t e mo s o ca p ít u lo VI que t rat a do ca minho ad equad o e e fic az par a as co rret a abo rdage m e reso lução das qu est õ es que e nvo lve m at o s de A lie na ção Pare nt a l. Fa la mo s so bre o pape l do ad vo gado , da guarda co mp art ilhad a co mo fo r ma de co mbat e à Alie naç ão Pare nt a l, a fu nção da med iaç ão fa milia r na reso lução a lt er nat iva do s co nflit o s fa miliar es e po r fim, apre se nt amo s o s pro jet o s e xist e nt es no Tr ibu na l d e Ju st iç a do R io de Ja ne iro que b us ca m a lt er nat iva s me d iado ras de so luç ão do s co nflit o s.

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1. A EVOLUÇAO HI ST ÓRICA DA FAMÍLIA

É inco nt est e que o ser hu ma no , desd e s ua co ncep ção est á lig ado ao se io fa miliar, não e xist indo ne nhu ma o ut ra inst it u iç ão t ão int ima me nt e lig ada ao ind iv íduo . Segundo o hist o ria do r Jacque s Lec le rcq1 “s imp le s o u co mp le xa, a sse nt e do mo do ma is ime d iat o e m inst int o s pr imo rd ia is, a fa mília na sce espo nt a ne a me nt e pe lo s imp le s desenvo lvimento da vida humana”. E é a partir da família que o ho mem in ic ia su a co nvivê nc ia e m so c ied ade, de se nvo lve ndo sua p erso na lidad e.

Nest e s e nt ido , a fa mília de ixa de s er u m fe nô me no nat ura l, assu mindo a nt es u m carát er d e fe nô me no cu lt ura l , so me nt e apó s a pas sag e m do ho me m da nat ureza p ara a cu lt ura que s e to rna po ss íve l est rut urar a fa mília. Est a é a u ma e st rut ura ps íqu ic a e que po s s ib ilit a ao ser hu ma no est a be le cer -s e co mo su je it o e dese nvo lver re la çõ es na s poli s.

Não há qua lquer re lat o na hist ó ria d a hu ma n id ade d a e xist ê nc ia de u ma so c ied ade qu e não t enha t ido co mo bas e a fa mília o u a o rganiza ção fa milia r. A so c ied ade p at r ia rca l t eve su a o rige m na Ro ma Ant iga, co m a cr ia ção de no r ma s s e vera s que regu la va m a so c ied ade.

A fa mília ro ma na era reg id a e xc lu s iva me nt e p e la figur a pat erna e fu nda va -se no ca sa me nt o co m a fina lid ad e de pro cr iação para a co nt inu id ade da fa mília . Ape na s o s filho s ho me ns co nt inua va m o lega do fa milia r, po is qua ndo as filha s se ca sa va m, e la s pa ss a va m a p ert enc er à fa mília do mar ido . Er a co nst it u ída po r um grupo de pe s so as, ind epe nde nt e me nt e da co nsa ngu in ida de, que est a va m so br e a pat ria potest as do asc e nde nt e co mu m vivo ma is ve lho .

O po der do pate r f amília a lc a nça va o s de sce nde nt es não e ma nc ip ado s, espo sa, mu lher es c asada s c o m ma nus e s eu s des ce nd e nt es,

1 LECLERCQ, Jacques, cf. A família, Cit., pag. 9.

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se ndo , po rt ant o , a fa mília co ns id erad a u ma u nidad e po lít ic a, jur íd ica , eco nô mic a e re lig io sa.

Segu ndo Ar no ldo Wa ld2, a fa mília ro ma na era, u ma mist ur a de u nid ade s que e nvo lv ia eco no mia , re lig ião e po lít ic a . Pr ime ir a me nt e, pat rimô nio era fa miliar, ger ido ape na s pe lo pat er . Ma is ad ia nt e, a ind a de nt ro do per ío do ro ma no , o s p at rimô n io s pa s sara m a ser ind iv idua liz ado s, so b a ad min ist ra ção d e ind iv íd uo s su bo rd inado s ao pat er.

Para o s ro ma no s a fa mília era co nst it u ída pe lo d e ver c ív ico e pe la fo r ma ção da pro le co mo fo r ma impo rt ant e de de se nvo lv ime nt o para seu s e xérc it o s, razão pe la qu a l, o s filho s era m pr iv ile g iado s e m det rime nt o da s filha s. O p át r io po der er a ve dado à mu lher, se ndo est e t ransfer ido ao pr imo g ê nit o o u a o ut ro s ho me ns pert ence nt es ao nú c leo fa milia r.

Não ha via o co nce it o de fa mília nu c lear , e la era co mpo st a po r to do s que est ives se m so b o ma ndo do pa i d e fa mília.

Segu ndo Ro lf Mad a le no3, “a família era vista co mo a co let ivid ade de nt ro de u m lar, a ca sa, o s be ns e t udo o que era ne ce s s ár io para o bo m fu nc io na me nt o dessa e nt id ad e que não se su bo rd ina va a u m Est ado . Era t ot alme nt e vo lt ada ao pat r imô nio e à co nt inu ida de d a linhagem”.

A p art ir do sécu lo V, co m a de cad ê nc ia d o Impér io Ro ma no , essa co ncep ção ro ma na p at r iarca l co me ça a ru ir, pe net rando le nt a me nt e u ma no va co ncep ção de fa mília cr ist ã co mo unid ade co njuga l. O po der de Ro ma pa s so u a co nc e nt rar -se no che fe da Igre ja C at ó lic a Ro ma na, surg indo , ass im o D ire it o Ca nô nico .

2 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. ed.rev.atual.e ampl. Pelo autor, de acordo com a jurisprudência e com o novo Código Civil. (Lei n. 10.406,de 10-1-2002), com a colaboração da Prof.Priscila M. P. Corrêa da Fonseca. – São Paulo: Saraiva, 2004,p.57

3 MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais / Ana Carolina Carpes Madaleno, Rolf Madaleno. Rio de Janeiro: Forense, 2013. pág. 15.

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Na fa mília do mo de lo c a nô nico , a r e lação c ar na l er a requ is it o de va lidad e para a co nva lida ç ão do casa me nt o , vist o que a fu nç ão pr imo rd ia l do mat r imô nio era a pr o criação e a educ ação da pro le.

O ca sa me nt o era t ido co m u m a co rdo de vo nt ade s, co nt udo , não po der ia ser d es fe it o , vist o t rat ar -se d e u m sacr a me nt o rea liz ado po r Deus, lo go , o divó rc io não era per mit ido po r inic iat iva de u ma o u a mba s as part es. Ne s se se nt ido , Ro dr igo da Cu nh a Pere ira4 d iz que, “o ho me m e a mu lher se la m a s ua u nião so b a s bê n ção s do céu, t rans fo r ma ndo -se numa só ent idade física e espiritual e de maneira indisso lúvel”.

Maria Berenice Dias alerta que à época, “duas pessoas se fu nd ia m nu ma só , fo r ma ndo u ma u nida d e pat rimo nia l, t endo o ho me m co mo o único e le me nt o id e nt ifica do r do núc leo fa miliar.

A mu lher era re spo nsá ve l p e lo s a fa zere s do mést ico s e ao cu idado co m a pro le, não po de ndo ause nt ar -se do lar s e m a aut o riz ação do mar ido . Suas fu nçõ es re duz ia m- se a o int er io r, não t inha m vo z no grupo fa miliar, equ ip ara va m - se e m d epe nd ê nc ia ao s filho s me no res e, pera nt e a le i, era m co ns id erad as inc apa ze s .

Mar ia Bere nic e su st ent a que est a t ent at iva d e ma nt er a est rut ura da so cieda de na s acra liz aç ão do vincu lo mat r imo nia l le vo u ao e nge ssa me nt o do afet o e m u m ca sa me nt o ind is so lú ve l.

Apó s séc u lo s d e u ma le g is la ç ão ba se ada e m pre ce it o s cat ó lico s, ho uve a int ro dução de u ma no va rea lidad e ao dir e it o de fa mília, a fa mília ba sea da no a fet o . Ho uve o reco nhe c ime nt o co mo e nt idad e fa miliar, a lé m do cas a me nt o , das fa mília s mo no pare nt a is e da s uniõ e s est á ve is.

Há ago ra a ma nut e nç ão do víncu lo p e lo a fet o. Os cô njug e s passa m a se e sco lher, não po r co nve nçõ es, ma s sim pe lo a fet o . O fo co da

4 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Família, direitos humanos, psicanálise e inclusão social. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre, v. 4, n. 16, p. 05, jan-fev-mar. 2003, pág. 23.

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fa mília de ixa d e s er mar ido -asc e nde nt e s e se d es lo ca para mu lher - filho s, pas sa para a es fera nu c le ar pa i- mã e- filho s .

Para Mar ia Bere nic e5 “(...) ao sere m r eco nhec ida s co mo e nt idad e fa miliar merec edo ra da t ut e la jur íd ic a a s u niõ e s est á ve is , que s e co nst it ue m se m o s e lo do ca sa me nt o , t al s ig nific a que o a fet o , que une e e nlaç a dua s pe sso a s, adqu ir iu reco nhe c ime nt o e inserç ão no s ist e ma jur íd ico . Ho uve a co nst it uc io na liza ção de u m mo de lo de fa mília eude mo nist a e igu a lit ár io , co m ma io r esp aço para o a fet o e a rea liz aç ão ind iv idua l. ”.

Para Ro dr igo da C u nha P ere ira6, a per miss ão da d is so luç ão do casa me nt o be m co mo a equ iparaç ã o dest e co m a un ião est áve l significa “a co mpreensão de que o verdadeiro casamento se sustenta no a fet o, não na s re min is cê nc ia s cart o ria is. O D ir e it o deve pro t eger a essê nc ia, mu it o ma is do que a fo r ma o u a fo r ma lid ade ”.

O a fet o , enqua nt o va lo r fu nd a me nt a l d as r e laçõ es fa miliare s , a inda qu e não est e ja e xpre sso no t ext o co nst it uc io na l, ga nha ap lic aç ão nas let ra s de inú mero s jur ist a s, e na s de c isõ es de o ut ro s t ant o s ma g ist rado s, e m e spec ia l no que se t rat a da união e nt re pe s so as do me smo gê nero e da pare nt a lid ade so c io a fe t iva.

1.1 O pape l do pa i e da mã e na fa mília

Segu ndo est ud io so s do t e ma7, a e xa lt aç ã o à mat er nida de é u m fe nô me no rece nt e na hist ó r ia da s so c iedade s o c ide nt a is. A so c ied ad e fra nc es a, po r exe mp lo , at é o sécu lo X VII, ba seo u -se no pr inc ip io d a aut o ridad e, se ndo o pai so ber a no da fa mília.

Acred it a va-s e qu e e st a o bed iê nc ia à figur a ma scu lina de ver ia ser ma nt ida a qua lqu er cu st o e est a auto rid ade d eco rr ia d a d ifere nç a

5DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 69

6 PEREIRA, R. C. Da união estável. In Direito de Família e o novo Código Civil. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 230.

7 BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado. O mito do amor materno. Versão eletrônica disponível em http://www.redeblh.fiocruz.br/media/livrodigital%20(pdf)%20(rev).pdf

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nat ura l e xist e nt e e nt re o s ho me ns e a s mu lher es, cr ia da po r Deus, se ndo , po rt ant o , um po der leg ít imo .

Segu ndo Bad int er, at é me ado s do sécu lo XVIII, o amo r nã o era co ns iderado u m va lo r so c ia l da fa míl ia, épo ca e m qu e o casa me nt o era s imp le s me nt e u m co nt rato de mut uo int eres se e nt re fa mília s. E m lug ar a t ernura, é o medo que do mina no â mago de t o das as re la çõ e s fa milia re s.

No que d iz r esp e it o às cr ia nça s, Ar ié s8 apo nt a que, na Euro pa, at é o fina l da Idad e Méd ia, e la s e nco nt ra va m -s e mist urad as ao s adu lt o s na s d ifere nt e s at ivid ade s s o c ia is e , po r vo lt a do s s et e a no s, era m separ ada s da s fa mília s p ara rece bere m inst ruçõ es na co nd ição de apre nd iz es.

Co nt udo , ent re o s sé cu lo s XVI e X VII, a apre nd iz ag e m de u lug ar à e duca ção fo rnec id a na s e sco las. P ara Ar ié s e st a preo cupação co m a educa ção do s filho s ret rat a o surg ime nt o de uma no va co nc epç ão de in fâ nc ia, o nde a fa mília se vo lt a para o s cu idado s e de se nvo lv ime nt o de sua pro le. Po ré m, para B ad int er, a no va co nce pção de fa mília fo i s e ndo co nst it u ída, de fo r ma de s igua l, ao lo ngo do sécu lo XVIII.

Exe mp lo d ist o é a figur a das a ma s de le it e na Fra nça , co st ume ba st ant e co rr ique iro , o nde a s cr ia nça s, lo go apó s o nasc ime nt o , era m e nviad as à s a ma s de le it e, que viv ia m no s arredo res o u era m co nt rat adas a do mic ílio , no s ca so s d as fa mília s ar ist o crat as e d a a lt a burgu es ia .

A t a xa d e mo rt a lid ade in fa nt il na épo ca era mu it o e le vad a, de vido às co nd içõ es prec ár ia s e m que est a s a ma s viv ia m, a ss im, e x ist ia a t eoria de que a s mãe s não de ver ia m se ap e gar ao s filho s.

8 ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Verão digital disponível em <

http://www.faroldoconhecimento.com.br/livros/Educa%C3%A7%C3%A3o/PHILIPPE-ARIES-Historia- social-da-crianca-e-da-familia.pdf>

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As ju st ific at iva s ado t a das p ara es se t ipo de prát ica era da s ma is d ive rs as. Para u ma s a mat ernid ade era t ida co mo u m fardo , que rest r ing ia a vid a so c ia l e po der ia co mpro met er sua saúd e. Para o ut ras, a ded ica ção à pro le d ific u lt a va a re a liza ção de seu s a fa zere s p ara a ma nut enção da renda fa miliar.

No fina l do séc u lo X VIII, co m a a sc e ns ão da burgu es ia, o s sere s hu ma no s pa s sara m a ser vist o s co mo fo nt e de lu cro para o Est ado , de ve ndo , ass im, gar a nt ir a so bre v ivê nc ia das cr ia nça s.

Surge e nt ão u ma e no r me c a mp a nha d ir ec io nad a espe c ia l me nt e para a s mã es, e xa lt a ndo o a mo r mat er no co mo a lgo nat ura l e mo ra l, impo rt ant es para a pre ser va ção da so c iedad e.

Fo ra m ve icu la do s t rês t ipo s de d is cur so de inc e nt ivo à mat er nida de. O d is cur so eco nô mico apo nt a va o dec lín io po pu lac io na l, a lert ando a so c ieda de para a nece s s idad e de co nser va ção da v ida da s cr ia nça s a fim de gara nt ir o po der milit ar do Est ado .

O se gu ndo d isc urso era vo lt ado para a id e ia d e igua ldad e e nt re o ho me m e a mu lhe r, va lo r iza ndo o amo r no casa me nt o , o nde a espo sa pa s sar ia a t er impo r t ant e pape l na fa mília ju nt o ao s filho s, qu e são co ns id erado s a co ncret iza ção do amo r e nt re o s cô njuge s.

E po r fim, o d iscurso vincu la do po r méd ico s, filó so fo s e id eó lo go s, de que a mu lher ao to rnar -se mã e d e ver ia a ssu mir o cu idado do s filho s, u ma vez que so me nt e e la s s er ia m c apa ze s de gerar e a ma me nt ar.

A mu lher qu e não a ma me nt a s se er a cu lp a biliz ad a po r ro mpe r co m as le is da nat ureza, co m o a mo r mat e rno . So bre as mu lhe re s pa ss a a reca ir a re spo nsa bilid ade pe la u n idad e fa milia r. A no va figura mat er na passo u a ser u ma fu nção no bre, int e ira me nt e ded ic ada à fa mília.

E m deco rrê nc ia de t o das est as mud a nça s, no fina l do sécu lo XVIII, a fa mília grad at iva me nt e vo lt a -se para a int imid ade, d e ixa ndo de

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t er o carát er co let ivo de o ut ro ra. A co nd ição fe min ina pa ss a a se r mar cada pe la s t are fas do lar e cu id a do s co m o s filho s, se ndo a mat er nida de o pape l d a mu lher na so c ied a de.

No sécu lo XIX, ba ne -s e a figur a das a mas de le it e, a s esco la s part icu lar es são su bst it u ída s po r esco las pú blic a s e o s padre s, no â mb it o fa miliar, po r méd ico s. As mu lher es s ão co ns id erada s a s guard iã s nat ura is da mo ra l e da re lig ião e o dest ino d a fa mília e da so c iedad e depe nd e m d a fo r ma co m que edu ca m s eu s filho s. Sua figura pa ss a a ser co mparad a a da V irge m Mar ia.

Para le la me nt e à a sce nsão da figura ma t e rna, há o dec lín io gradat ivo do pap e l do pa i na fa mília, que p as sa a e xerc er u m pap e l co ad ju va nt e, fic a ndo à mar ge m d a cr ia ç ão de su a pro le, r est a ndo - lhe ape na s o pape l d e pro vedo r, deve ndo ded icar -se ao t raba lho par a gara nt ir u ma bo a vida à sua fa mília.

Ho je, não há ma is a e sco lha do parce iro vincu la da à pro priedad e e às que st õ es eco nô mic a s, há a e sco lha do co mp a nhe iro pe lo a fet o, se m qua lq uer int er ve nção at iva da co let ivid ade nes sa e sco lha.

Segu ndo Ro lf M ada le no9, nas ce u m s ist e ma de va lo res qu e e na lt e c e a fe lic idad e e o des e nvo lvime nt o pes so a l. A fa mília se co nc e nt ra no s filho s.

E m Po rt uga l, at é a re fo r ma d e 77, o pai er a o t it u lar do po der fa milia r, o pro vedo r da fa mília e do t ada de co mpet ê nc ia e xc lu s iva p ara o rie nt ar o s filho s. O Có d igo C iv il d e 196 7 e m s eu 18 81º art igo , e le nc a va to das a s at r ibu içõ es p at ernas que e ng lo ba va m t o da a a s s ist ê nc ia e o rie nt aç ão da vida da pro le. Já a mã e t inha u m p ape l mer a me nt e co ad ju va nt e, de ve ndo ve la r pe lo s filho s, o p inar e de se mpe nhar fu nçõ es ape na s qua ndo o pa i e st ive s s e impo ssib ilit ado .

9 MADALENO, Rolf. Op. cit, Pag 18

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Co nt udo , fat o cur io so é qu e, e m c as o de d ivó rc io o u separ ação jud ic ia l, a guard a d a pro le e ra e nt regue à mã e, ape na s e m caso s e xcep c io na is era at r ibu íd a ao pa i.

O art igo 36 da Co nst it u ição po rt uguesa já t raz ia o pr inc íp io da igua ld ade e nt re o s pro genit o res, co nt udo , est a igua ld ade só fo i co ncret izad a co m o adve nt o do Decret o -le i nº 496/77 de 25.11.

A ig ua ld ade na vig ê nc ia do casa me nt o passo u a ser a bso lut a e o po der parent a l e xerc ido de igua l mo do ent re o s pro genit o res e, no caso de d ivó rc io , a r egra é a at r ibu iç ão co nju nt a do exer c íc io da s respo nsa bilid ad es par e nt a is.

Out ro be ne fíc io q ue a r e fo r ma t ro uxe fo i a e liminaç ão da presu nção leg a l do art igo 1911 do Có digo C iv il que pr e via qu e, no s caso s d e u nião de fat o , a guarda do fil ho era d a mã e. E para qu e o e xerc íc io do po der p are nt a l pert e nc es se a a mbo s, era nec es sár io que s e dec lara s se pera nt e o fu nc io nár io do reg ist ro civil e st a vo nt ade.

Dest a fo r ma, de ixa d e ha ver no o rde na me nt o jur íd ico po rt uguês qua lqu er no r ma que d ifere nc ie o s pro g enit o res, o s co lo ca ndo e m a bso lut a igua ld ade.

No Bras il a e vo lu ção e igu a ldad e de d ire it o s e nt re ho me m e mu lhe r t a mbé m a co nt eceu de fo r ma grad ua l. Gra nde s fo ra m o s a va nço s, ma s fo ra m nece s sár io s ma is 462 a no s par a a mu lher ca sada de ixar d e s er co ns id erad a re lat iva me nt e inc ap az e ma is de 26 a no s para co nsu mar a igu a ldad e de d ire it o s e de veres e nt re ho me m e mu lher.

Ant es do ad ve nt o da at ua l Co nst it u ição Fed era l Bra s ile ira , e xist ia m regra s qu e não co nfer ia m d ire it o s igua is ao s cô njug es, co mo po r e xe mp lo , a mu l her era su bmis sa ao mar ido e co ns ider ada re lat iva me nt e inc apa z, não po dendo prat icar at o s da vida c iv il de sa ssist ida do mar ido , não po dia t er u ma pro fissão , t ão po uco po dia ve nder seu s imó ve is se m a aut o riza ção do mar ido .

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Ta mbé m não ha via igu a lda de e nt re o s filho s t ido s fo ra do cas a me nt o , co ns id erado s ileg ít imo s. Est e s não po dia m s er reco nhec ido s pe lo s p a is, me s mo que e st a fo sse a vo nt ade dest e ne m lhe s era p er mit ido o dire it o à suc es são .

Co nt udo , a part ir de me ado s do sécu lo X X, gradat iva me nt e o le g is la do r fo i co nfer indo d ire it o s ao s filho s ile g ít imo s e t o rna ndo a mu lhe r p le na me nt e c apa z. A le i 883 de 1 9 49 c ha nce lo u o reco nhec ime nt o e a inve st ig ação de pat er nidad e do s filho s t ido s fo ra do cas a me nt o e a le i 4121 de 1962 e ma nc ipo u a mu lher, equ ip ara ndo -a e m d ire it o s co m o cô njuge pa ss a ndo a ser r eco nhec id a co mo co la bo rado ra do mar ido na ad min ist ração da so c ied ade co njug a l, reco nhe ce ndo , a inda, su a capa c idad e c iv il.

Co m a e nt rada e m vigo r da le i 6515/77, t o rno u -se po ss íve l o ro mp ime nt o do vinc u lo co njuga l pe la sep aração jud ic ia l. De st a fo r ma, a mu lhe r não era ma is o br iga da a u sar o no me do mar ido e o ho me m pas so u a t er d ire it o à pe ns ão a lime nt íc ia t a l co mo a mu lher.10 E e m caso s de sep aração , a ma nut enç ão do s filho s fic a va a cargo de a mbo s o s pro genit o res.

A at ua l Co nst it u ição Fed era l br as ile ir a, pro mu lgad a e m 1988, ser viu para igua la r d e fin it iva me nt e est e s d ire it o s, t ant o do s filho s le g ít imo s e ileg ít imo s qua nt o do s cô nju ge s. D ia nt e de st a igua ld ade e nt re os cônjuges, a expressão “pátrio poder” fo i subst ituída po r “poder familiar”.

O inc iso I do art igo 5º da C art a Mag na bras ile ira e st abe lec e e xpres sa me nt e a gar a nt ia de igu a ldad e de d ire it o s e o br iga çõ es e nt re ho me ns e mu lher es11. E no que co ncer ne à so c iedad e co nju ga l, o art igo 226, §5º preceitua que “os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal serão exercidos igualmente pelo ho mem e pela mulher”.

10 SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome da alienação parental. Um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010. pag. 80.

11 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das familias. 8 ed. rev. E atual – SP. Editora Revista dos Tribunais, 2011. Pag. 100.

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Out ro marco mere cedo r de dest aq ue t raz ido pe la Co nst it u iç ão de 1988 fo i o reco nhec ime nt o co mo ent id ade fa milia r, a lé m da fa mília co nst it u ída pe lo ca sa me nt o , a un ião est á ve l e nt re ho me m e mu lhe r e a co mu n idad e fo r ma da po r qua lq uer do s pa is e seu s desc e nd e nt es.

O Có d igo C iv il bra sile iro t a mbé m bu sco u igua lar o s d ire it o s e de vere s do s cô njug es e do s filho s, e limina ndo , as s im, qua lque r d ist inç ão o u pr ivilég io a nt es e xist e nt e. O art igo 1511 e 1 566 at r ibue m igu a ldad e de d ir e it o s e de vere s ao s cô njuges ; o art igo 1567 e st abe lec e que a so c iedad e co n juga l será e xer c ida e m co la bo raç ão po r ambo s o s cô njuge s ; o art igo 1583 co nsa gra a guarda co nju nt a e m c aso d e ro mp ime nt o e, p o r fim, o art igo 1834 co nfere d ir e it o s ig ua is de s uce ss ão ao s desc e nde nt e s da mes ma linha.

1.2 O luga r da famí li a em Po rtuga l e no B ra si l

De vido à e vo lu ção nat ura l do s co st u me s e da so c ie dade qu e não ma is ac e it a va m a s d ist inçõ es, preco nc e it o s e de s igu a lda d e s e xist e nt es e m re la ção às e nt id ade s fa miliar es no o rde na me nt o jur íd ic o bra sile iro e a fim de at e nder o s no vo s a nse io s da so c ied ade, ho u ve a nece ss idad e do leg is la do r co nt o rná - la s e cr iar u ma no r ma ma is igu a lit ár ia e at ua l.

A fa mília ho je é u m núc leo o nd e seu s in t egrant es e st ão e m tot a l int eraç ão e int erdep e ndê nc ia, cad a me mbro d e ve t er gara nt id a su a sat is faç ão , seu be m est ar e o dese nvo lv ime nt o de sua per so na lid ade, ma s t ambé m não de ixa d e ser u ma inst it u iç ã o so c ia l, co m no r mas jur íd ic a s que d e fine m o s d ire it o s e d e vere s de ca da u m e que a so c iedad e d e ve gara nt ir12.

12 GORENINGA, Giselle Câmara. Generalidades do direito de família. Evolução histórica da família e formais atuais de Constituição. In: HIRONAKA, Gisela M.F.Novaes (Orient.); BARBOSA, Águida Arruda; VIEIRA, Claudia Stein (Coord.). Direito civil. Direito de família. São Paulo: RT, 2008. V. 7, p. 23.

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Co m is so , fo i pro mu lga da a Co nst it u içã o Federa l de 1988 , que de d ico u u m c ap ít u lo e xc lus ivo à fa mília (C ap ít u lo VII do T ít u lo VIII), co nsa gro u o princ íp io da d ignid ade d a pes so a hu ma na , co nst it uc io na lizo u o D ire it o de Fa mília e, co nsequ e nt e me nt e, a br iu ca minho para u ma no va e ma is a br a nge nt e co ncepç ão da fa mília fu nda d a na ig ua lda de, so lid ar ieda de e no respe it o à d ig n idad e da pe sso a hu ma na.

Tro uxe a d ig nid ade d a pesso a hu ma na co mo o princ ip a l fu nd a me nt o da so ciedad e e, co mo mu it o be m apo nt ado po r Lo ur iva l Sere jo13, “a d ig n idad e é, e nfim, o respe it o que ca da u m mer ece do o ut ro , a co meçar no se io d a pró pr ia fa mília, o nde a edu caç ão de ve s er vo lt ad a para essa co ns c ie nt izaç ão ”.

As no vida de s t raz ida s fo ra m a igua ldad e e nt re o s cô njug es, a per mis s ão da d is so lu ção da so c iedad e co njuga l p e la s epar ação o u d ivo rc io , a igu a lda de e nt re o s filho s, o reco nhec ime nt o da união est áve l e das fa mília s mo no pare nt a is co mo e nt idad es fa miliare s e o reco nhe c ime nt o do s dire it o s de co rrent es d as re la çõ es co nc u bina s.

Os art igo s 2 26 e 2 27 da Co nst it u ição Fe dera l Br as ile ir a d e 1988 t rat a m es pec ific a me nt e da fa mília, est a be le ce ndo que a fa mília é a base d a so c ieda de e t e m e spe c ia l pro t eção do Est ado :

Ar t . 226. A fa míl ia , ba se da soc i eda de, t em esp ec ia l pr ot eçã o do Est a do.

§ 1º - O ca sa ment o é c i vi l e gr a t uit a a cel ebr a çã o.

§ 2º - O ca sa ment o r el i gi os o t em ef eit o ci vi l, nos t er mos da l ei.

§ 3º - P a r a ef ei t o da pr ot eçã o do Est a do, é r ec onhec i da a uniã o est á vel ent r e o home m e a mu l her c omo ent i da de fa mi l ia r , devendo a l ei fa ci l it a r sua c onver sã o em ca sa ment o.

13 SEREJO, Lourival. Direito constitucional da família. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 20.

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§ 4º - Ent ende- s e, t a mb ém, c omo ent i da de fa mi lia r a c omu ni da de f or ma da p or qua l qu er dos pa is e s eus desc endent es.

§ 5º - Os dir eit os e dever es r ef er ent es à soci eda de c onju ga l sã o ex er c i dos i gua l ment e p el o hom em e p el a mu l her .

§ 6º O ca sa ment o c i vi l p ode s er diss ol vi do p el o di vór c i o.

§ 7º - F u nda do nos pr i nc íp i os da di gni da de da p ess oa hu ma na e da pa t er ni da de r esp onsá vel, o p la neja ment o fa mi lia r é l i vr e dec isã o do ca sa l, c omp et i ndo a o Est a do pr op ic ia r r ecur s os edu ca c i ona is e ci ent íf i c os pa r a o ex er c íc i o dess e dir eit o, veda da qua l qu er f or ma c oer c it i va por pa r t e de i nst it u iç ões of ic ia is ou pr iva da s.

§ 8º - O Est a do a ss egur a r á a a ssist ênc ia à fa mí lia na p ess oa de ca da u m dos qu e a i nt egr a m, cr ia ndo meca nis mos pa r a coib ir a vi ol ênc ia no â mbi t o de sua s r ela ç ões.

Ar t . 227. É dever da fa mí l ia , da s oc i eda de e do Est a d o a ssegur a r à cr ia nça , a o a dol esc ent e e a o j ovem, c om a bsolut a pr i or i da de, o dir eit o à vi da , à sa úde, à a li m ent a çã o, à educa çã o, a o l a z er , à pr of iss i ona l i za çã o, à c ult ur a , à di gni da de, a o r esp ei t o, à lib er da de e à c onvi vênc ia fa mi l ia r e c omu nit á r ia , a l ém de c ol ocá - l os a sa lvo de t oda f or ma d e negl i gênc ia , dis cr i mi na çã o, exp l or a çã o, vi ol ênc ia , cr u el da de e opr essã o.

Ao reco nhec er a u nião e st áve l e a s fa mília s mo no pare nt a is co mo e nt idad es fa miliar es (art igo 226, § 3º e 4º), a fa mília de ixo u d e t er co mo ba se o pat r imô nio e p asso u a t er co mo esco po o su je it o , a a fet ivida de.

(25)

Nece s sár io sa lie nt ar que o ro l do re fe r ido art igo não é t axat ivo , vist o a Co nst it u ição da Repú b lica bra s ile ira e m seu preâ mbu lo de ixar dec larado o s pr inc íp io s da igu a ld ade e da liberd ade, ligado s ao pr inc ip io da d ig n idad e da p es so a hu ma n a. Ass im, a s de ma is fo r ma s d e e nt idad e fa milia r não po de m ser ig n o r adas, me s mo qu e não est e ja m e xpres sa s na le i, de ve ndo ser de vid a me nt e prot egida s.

Mar ia Bere n ice14, reco nhece u ma sér ie d e pr inc íp io s q ue rege m a fa mília, qu a is s e ja m: d ig n idad e d a pe sso a hu ma na, a liberd ade, a igu a ldad e e re spe it o à d ifere nça, a so lid ar i edad e fa miliar, o p lura lis mo das e nt id ade s fa miliare s, a prot eção int e gra l a cr ia nça s, ado le sc e nt es e ido so s, a pro ib ição do ret ro cesso so c ia l e a a fet ivida de.

Já e m Po rt uga l, o s pr inc íp io s fu nd a me nt a is que rege m a fa mília e merg e m da Co nst it u iç ão da Repú bl ic a Po rt uguesa qu e d á d iret r ize s as no r mat iva s est rut urant es de st a mat ér ia.

O art igo 67 qu a lific a a fa mília co mo u m e le me nt o fu nd a me nt a l da so c ied ade e o art igo 36 est abe le ce qu e o s pa is t ê m d ire it o e o dever de educ ação do s filho s, go za nd o o s cô njuge s de igu a is d ir e it o s e de vere s.15

Jo rge Duart e P inhe iro su st ent a que a fa mília é e nt e nd id a co mo o grupo de pesso as u nid as e nt re s i po r qua lquer u ma da s re la çõ es jur íd ic a s fa milia re s que s e e xt rae m do no art igo 1576º do CC: re laç ão mat r imo nia l, re la ç ão de p are nt es co , re la ção de a fin idad e e re la ção d e ado ção .16

Gu ilher me de O live ira d e fe nde a inda e xis t ir u m co nju nt o de re laçõ es co ne xas co m as r e laçõ es d e fa mília, q ue s ão igu a lme nt e re le va nt es, a s re la çõ es p ara fa milia re s, que a br a nge m ig ua lme nt e a s uniõ e s de fat o , as re la çõ es e nt re espo sad o s, a vida e m co mu m, a re la ção

14 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: RT, 2011. p. 57

15 MARTINS, Norberto. Os direitos das crianças para terem direito a uma família. Estudos em Homenagem a Rui Epifânio. Pág. 203.

16 PINHEIRO, JORGE DUARTE. O Direito de familia contemporâneo. 2ª edição, Lisboa, AAFDL, 2009, pág. 33.

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e nt re t uto r e t ut e lado , a re la ção e nt re a pesso a e o utra que est á a cargo o u cu id ado , a re la ção e nt re pe sso a cr ia da e su st ent ada po r o ut ra e a re lação e nt re ex-cô njuge s.17 Afir ma que nã o sendo pro pria me nt e re laçõ es de fa mília, s ão co ne xa s co m e la s, est ão eq u ip arada s a re la çõ es de fa mília para det er minado s e fe it o s, o u são co nd iç ão de que dep e nde m, e m cert o s caso s, o s e fe it o s que a le i at r ibu i à re la ção co njuga l o u às r e laçõ es de pare nt esco , a fin id ade o u ado ção .

O d ire it o de fa mília no Bra sil at ra ve s sa u m per ío do d e t ransiç ão , a fa mília não é ma is co nsider ad a u ma mera inst it u iç ão jur íd ic a e sim u m a mb ie nt e de de se nvo lv ime nt o da perso na lid ad e hu ma na. A fa mília de ixo u d e s er pres a ao ca sa me nt o , mu it o pe lo co nt r ár io , t rat a-se de u m lu gar de a fet o , o nde o ind iv íduo bus cará a fe lic idad e e dese nvo lver á su a perso na lida de.

1.3 As novas fa mí lia s

Ora, as pe cu liar id ade s que per me ia m a fa mília são , se m dúv ida, mu it o a mp la s, ha ja vist o o seu co nce it o t e m aco mpa nhado a s co nst a nt es t rans fo r maçõ es da so c iedad e.

Fe lip a D a nie la ( pa g ina 24 – livro ) bu sca u ma de fin iç ão univers a l para a fa mília a fir ma ndo que o co nce it o de fa mília d e fin ir - se-á , na sua ba se, p e la e xist ê nc ia de pe lo me no s du as pe s so as, cu ja re la ção s e t raduz irá nu ma re la ção mar it a l, filia l o u nu ma r e laç ão ent re ir mão s o u pes so as re lac io nad as po r sa ngu e o u casa me nt o.

O Tr ibu na l Euro peu de D ire it o s Hu ma no s co nce it u a fa mília co mo “relação de duas pessoas casadas, excluindo -se para já os casos de co abit a ção e a bra nge ndo igua lme nt e a re la ção pa i- filho ” 18.

17 OLIVEIRA, Guilherme de. Curso de Direito de Familia, vol.I, 3ª edição, coimbra, coimbra editora, 2003, pag. 99.

18 Caso Berrehab v Netherlands.

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Oco rre que a fa mília que, o ut rora era vist a so b a ó t ic a int e ir a me nt e p at rimo nia l, eco nô mica e co m fins d e repro dução , pas so u a ser a na lis a da a part ir do víncu lo a fet ivo que a e mba la va.

A lig aç ão do Est ado co m a Igre ja i mp ed ia o reco nhec ime nt o de o ut ras fo r mas d e fa mília se não aq ue la fo r ma da pe lo c as a me nt o . Po rém, co m a e vo lu ção da so c ied ade , o ut ras ent id ade s fa miliar e s c la ma va m po r reco nhec ime nt o e prot eção . Ass im, o casa me nt o de ixo u de ser a ú nic a fo nt e de co nst it u ição da fa mília, a br indo e spa ço para t o das a s ma n ife st açõ es a fet iva s que t ive sse m o animus fa miliar.

De fat o, a ide ia ce nt ra lizad a de qu e o núc leo fa miliar ser ia so me nt e aq ue le co nst it u ído po r me io do mat r imô nio fo i se ndo a fa st ado à me d ida que no vo s agrup a me nt o s fo ra m se o rig ina ndo e co nqu ist a ndo espa ço e m me io à so c ieda de, o que, t o da via, não po der ia ser ig no rado pe lo le g is la do r, faz e ndo -se nece ssár io reco nhecê - la s e g ara nt ir su a prot eção .

A verdad e é q ue c o m a imp la nt ação do d ivó rc io , s urg iu a inst a bilid ad e da s u niõ e s t rad ic io na is, ac irrado a inda p e la ac e it a ção de o ut ro s t ipo s de u nião ad vind as d e o ut ras fa mília s, cu jo s me mbro s fo ra m le vado s ao co nvív io co mu m, cr ia ndo no va s e nt ida de s fa milia re s.

Lo go , vê-se que a fa mília não ma is s e ba se ia e m u ma vis ão pat rimo nia list a, co m fins eco nô mico s e de repro dução , ma s s im, co mo me io de ser at ing ida a d ig n idad e hu ma na.

E m sua in flue nt e co nt r ibu iç ão ao d ire it o de fa mília, Pa u lo Lobo considera que “não se pode enxergar na Const ituição o que ela e xpres sa me nt e r e pe liu, ist o é, a prot eção de t ipo o u t ipo s e xc lu s ivo s d e fa mília o u da fa mília co mo va lo r e m s i, c o m d es co ns idera ção das pe sso a s que a int e gra m. N ão há, po is, na Co nst it uição , mo de lo pre fere nc ia l d e e nt idad e fa milia r, do me smo mo do que não há fa mília d e f at o , po is co nt e mp la o d ir e it o à d ifere nça. Qua nd o ela t rat a de fa mília est á a

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re fer ir -se a qua lqu er das e nt idad es po ss íve is. Se há fa mília, há t ut e la co nst it uc io na l, co m id ê nt ica at r ibu iç ão de d ig nid ade. ” 19

Dest a fo r ma, t e m- se qu e t o da ent idad e fa milia r é c apaz d e gara nt ir a d ig nid ade da p esso a hu ma na , deve ndo rece ber t rat ame nt o igu a lit ár io , s e m qua lq uer t ipo de descr imina ção . As re la çõ es fa miliare s que t enha m pre se nt es o a fet o , a est abilidade e a o st ens ib ilid ade d e ve m ser t ut ela s e pro t eg ida s pe lo Est ado .

A no s so ver , que m me lho r de fine fa mília é Fre i Bet to20, “a fa mília é t o da re laç ão a mo ro sa e nt re pe s so as q ue dec id e m fa zer de su a união u m pro jet o de vida q ue inc lu i a g eração e/o u fo r maç ão de no va s vidas”.

Co m a va lo r iza ção do a fet o co mo ba se da fa mília, há o surg ime nt o de d iver so s o utro s t ipo s d e fa mília para a lé m daqu e le s fo r mado s pe lo c asa me nt o e po r laço s sa ngu íneo s, t a is co mo : u niõ e s est á ve is, u niõ es ho mo a fet ivas, fa mília s mo no pare nt a is, fa mília s reco nst ru ída s, fa mília s re co mpo st as, fa mília s so c io a fet iv a s, et c.21

U ma da s pr inc ipa is co nse quê nc ia s des t a va lo r iza ção d a a fet ivida de é o reco nhe c ime nt o jur íd ic o da união ho mo a fet iva co mo e nt idad e fa miliar. No d ir e it o bra s ile iro , a união e nt re pe sso as do me s mo se xo é equ ip arada à u nião e st á ve l, qu e po r sua vez é equ ip arad a ao cas a me nt o .

Out ra impo rt ant e co nseq uê nc ia é o reco nhec ime nt o da pat ernida de so c io a fet iva. Opo rt uno sa lie nt ar dest e t ipo de pat ernid ad e surgiu em 1979 no artigo “desbio lo gização da paternidade” escrito por

19 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do “numerus clausus”. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coord.). Família e cidadania: o novo CCB e a “vacatio legis”.

Belo Horizonte: IBDFAM/Del Rey, 2002, p. 107.

20Frei Betto recebeu o Prêmio José Martí/UNESCO de 2013, por sua contribuição excepcional para a construção de uma cultura de paz universal, de justiça social e do respeito aos direitos humanos na América Latina e Caribe. Navegando por mares desiguais. In Boletim IBDFAM, nº 78. Ano 13 – janeiro/fevereiro 2013.

21PEREIRA, Rodrigo da Cunha. IBDFAM - Nova revolução na constituição da família. Artigo,

2013.Disponível em <

http://www.ibdfam.org.br/artigos/892/Nova+revolu%C3%A7%C3%A3o+na+constitui%C3%A7%C3%A3o +de+fam%C3%ADlias>. Acesso em 20 de dezembro de 2013

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Jo ão Bapt ist a V ile lla22, que su st ent a que o vinc u lo da p at ernid ade é ma is do que u m dado bio ló g ico , é u m dado c u lt ura l, co nsagra ção t écnic a d a expressão “pai é quem cria”.

Rest a c laro que o elo que une pa is e filh o s são o s laço s d e a mo r e a fet iv idad e, indep e nde nt e me nt e das lig açõ es b io ló g ic a s . A fa mília so c io a fet iva e nvo lve pe sso a s se m ne nhu m grau de pare nt e sco o u de sa ng ue, são re laçõ es ba se ada s e xc lu s iv a me nt e no a fet o.

Ap es ar dest e t ipo de fa mília nã o est ar t ut elad a e xpres sa me nt e no o rdena me nt o jur íd ico bra s ile iro , e nt ende -s e que e la e nco nt r a respa ldo no s art igo s 22, §6º da C F e no art igo 1593 do CC:

Art . 227, §6º. Os filho s, ha vido s o u não da re lação do casa me nt o , o u po r ado ção , t erão o s mes mo s d ire it o s e qua lific açõ e s, pro ibida s qua is quer des ig naçõ es d is cr iminat ó r ia s re lat ivas à filiaç ão . (gr ifo s no sso s)

“Art. 1593, CC. O parentesco é natural ou civil, co nfo r me re su lt e de co nsa ngu in id ade o u o ut ra o rig e m.”

A ut iliz ação do t er mo “o ut ra orige m” de mo nst ra a int e nç ão do le g is la do r de resguardar t o do s o s t ipo s de re laç ão , se ja m co ns a ngu íne a s o u não , at r ibu indo , co m is s o , est abilid ade à fa mília para o dese mpe nho d a sua fu nç ão so c ia l co ns t it uc io na l no de se nvo lv ime nt o d ig no de s eus me mbro s.23

Part e da do ut rina e da jur is prud ê nc ia reco nhece co mo e nt idad e fa miliar a mu lt ip are nt a lida de, o nd e há do is pa is o u dua s mã e s

22 VILELLA, João Baptista. A disbiologização da paternidade. Separata da Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, ano XXVII, n. 21 (nova fase), maio 1979.

23 IBDFAM – Efeitos da paternidade socioafetiva no ordenamento jurídico brasileiro.

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no reg ist ro c ivil, para t o do s o s fins ju r íd ico s, inc lu s ive fa miliar es e suce s só r io s.

E m o utras pa la vra s, a mu lt ip are nt a lidad e nada ma is é do que a inc lus ão , no regist ro de nasc ime nt o , do pa i o u mãe so c io a fet ivo , per ma ne ce ndo o no me de a m bo s o s pa is bio ló g ico s.

Opo rt uno fr is ar que est a fo r ma d e e nt ida de fa miliar não s e co nfu nde co m a ado ção , uma vez que nã o há o ro mp ime nt o de qua lq uer vínc u lo co m o s pa is bio ló g ico s e sim a inc lus ão do vincu lo co m o s pa is so c io a fet ivo s.

Ap es ar de não ha ve r na leg is laç ão bras ile ira pre vis ão qua nt o à mu lt ipare nt a lida de, est a ve m se ndo reco nhe c ida po r e fet ivar o pr inc íp io d a d ig n idad e da pe sso a hu ma na e da a fet ivid ade, co m o reco nhe c ime nt o no ca mpo jur íd ico da filiação que há mu it o já e xist e no ca mpo fát ico .

E m rece nt e e iné d it a d ec is ão acerca d a mu lt ip are nt a lidad e, o Tr ibu na l d e Ju st iça do Est ado de São Pau lo ju lgo u pro cedent e ação dec larat ó r ia de mat er nida de so c io a fet iv a, na qu a l s e dec la ro u que a mat er nida de so c io a fet iva era co nco mit a nt e co m a mat ernid ade bio ló g ica.

“MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da Mat ernid ade B io ló g ic a. R esp e it o à me mó r ia d a mã e bio ló g ic a, fa le c ida e m deco rrê nc ia d o part o, e de su a fa mília. Ent eado cr iado co mo filho de sde do is a no s de idad e. Filia ção so c io a fet iva que t e m a mparo no art . 1.593 do Có digo C iv il e d eco rre da po sse do e st ado de filho , frut o de lo nga e e st áve l co nvivê nc ia, a liado ao a fet o e co ns id eraçõ es mút uo s, e sua ma n ife st ação públic a, de fo r ma a não de ixar dú vid a, a que m não co nhe ce, de que se t rat a de pare nt es - A fo r maç ão da fa mília mo der na

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não co nsa ngu íne a t e m s ua bas e na a fet iv id ade e no s pr inc íp io s da d ig n ida de d a p es so a hu ma na e d a so lidariedade. Recurso provido.”

E m co nso nâ nc ia co m o acó rdão cit ado , Pau lo Lô bo24 afir ma que a filia ção não é u m da do da nat ureza, e s im u ma co nst rução cu lt ura l, fo rt ifica da na co nvivê nc ia, no e nt re laça me nt o do s a fet o s, po uco impo rt ando sua o r ige m.

Na mu lt ipare nt a lid ade, o po der fa milia r será e xerc ido e m co nju nt o pe lo s pa is bio ló g ico s e pe lo s p a is so c io a fet ivo s, e m igu a ldad e de co nd içõ e s.

Nest e co mpa sso , t e m- se que a mu lt ipar e nt alidad e é a me lho r e ma is ju st a fo r ma d e reco nhec ime nt o do s la ço s de a fet o e cu idado cr iado s ao lo ngo da vida, lo nge da s a ma rras jur íd ic a s, s e m qu e ha ja a nece ss idad e de e xc lu sa i d e o ut ro víncu lo pré -exist e nt e. É a cha nce la do a mo r do a fet o , o nde a cr ia nç a só t em a g a nhar. É o e fet ivo reco nhe c ime nt o do super io r int eresse d a c r ia nça.

A mu lt ipare nt a lid ade a bre ju st a me nt e a po ss ib ilid ade do e xerc íc io da s fu nçõ es pare nt a is, e a s respo nsa bilid ad es qu e lhe s ão iner e nt es, s e m t er que e xc lu ir ne nhu m v íncu lo . A mu lt ip are nt a lida de e a ho mo pare nt a lida de de s lo ca m a re la ção linear e nt re se xo , gê nero e fu nçõ e s, per mit indo d iver so s arra n jo s e nt re o par parent a l, a p art ir d a fina lid ad e d a fa mília e do int er es se do s filho s , a lé m de ro mper co m a id e ia de qu e o s filho s são po sses do s pa is e que pa i e mãe são u m só .

Há, a ind a, a s fa mília s mo sa ico , co nst it u íd as po r pes so as qu e pert enc era m a o ut ras fa mília s e d ec id ir a m fo r mar u ma no va co m p art e do s me mbro s do núc leo des fe it o , o u se ja, est as e nt idad es fa miliar es s ão co nst it u ída s po r fa mília s mo no pare nt a is que dec id ir a m co nst it u ir no va fa mília co m o s filho s ad vindo s das re la çõ es a nt er io res.

24 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 4ª ed. São Paulo, Saraiva, 2011. p. 273.

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Segu ndo Se my G la nz25, apó s a rupt ura do s casa is , mu it o s re fa ze m seu s lare s e, já t endo filho s , ac a ba m ju nt a ndo o s seus ao s do co mpa nhe iro o u cô njug e do segu ndo c a sa me nt o . Mu it a s veze s, a mbo s t êm filho s e ac a ba m t e ndo ma is, do nde o surg ime nt o do s ir mão s ger ma no s e u nilat era is.

Nest a me s ma lin ha, Ro sa mé lia Ferre ir a co nce it ua a fa mília mo sa ico co mo u m no vo t ipo de fa mília ext e ns a, co m no vo s laço s d e pare nt esco e u ma var iedad e d e pe s so as e xerce ndo prat ica me nt e a me s ma fu nç ão , co mo , po r exe mp lo , dua s mã es, do is p a is, me io - ir mão s, vár ia s a vó s e as s im po r d ia nt e, de ma ne ir a que s e co mpõ e u ma rede so c ia l cad a vez ma is co mp le xa, co m no vas re laçõ es d e po der, de g ê nero , co m t endê nc ia a u ma ma io r ho r izo nt a lid ade nas r e laçõ es, as s im co mo a dec isõ e s ma is e xp lic it ada s e de sve la da s.26

As s im, co nst at a -se que para a car act eriz ação da fa míl ia mo sa ico , há a nece s s ida d e da e x ist ê nc ia u ma fa mília mo no pare nt a l e d e filho s da fa mília a nt er io r.

Lo go , po de-se co nc lu ir que a pare nt a lida de não se su st ent a ape na s e m bas es nat ura is. Fis io lo g ia, id ade, se xo , são par ad ig ma s, re fer ê nc ia s par a se pe nsar, re int erpret ar e ree la bo rar to do o sist e ma s imbó lico de repre se nt ação de cad a so c ied ade.

Enxerg ar so b est a no va ó t ica s ig nific a a fir mar q ue a s var iada s o rga niz açõ es fa milia re s d eco rrent es da a fet ivid ade q ue surge m de fo r ma cad a ve z ma is fr eque nt e, não p o de m ne m de ve m ser ig no rada s pe la so c ied ade, t ão po uco pe lo leg is la do r.

As s im, t e m- se q ue, at ua lme nt e, d ia nt e da s d iver sa s fo r ma çõ es fa miliare s e xist e nt es na so c ied ade, to das merece m t rat a me nt o

25 GLANZ, Semy. A família mutante – sociologia e direito comparado: inclusive o novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, pag. 157.

26 GUIMARÃES, Rosamélia Ferreira. Os recasados nas famílias reconstituídas. 1998, 170 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. p. 16.

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jur íd ico não d iscr iminat ó r io , respe it a nd o -se o s dire it o s e o s dever e s pert ine nt es a cad a u m do s me mbro s de st as e nt idad es fa miliar es, na s qua is t rês são s eus e le me nt o s car act er iz ado res: u nião de p es so as p e lo a fet o (princ íp io da a fet ivid ade), o bjet ivo de co nst it u ir fa mília (est abilid ad e) e reco nhec ime nt o público de ss e st atus f amilia e (o st ent abilida de).

Est a é a no va rea lidad e do D ire it o de Fa mília.

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2. DIVÓ RC IO E A REGU LAÇ ÃO DAS R ESPO NSAB IL ID ADE S PAR EN TAIS

2.1. Conjugalidade X Pa renta lidade

De vido às d ivers as muda nça s qu e o co rreram e m no s s a so c iedad e no s ú lt imo s t e mpo s, o s re lac io na me nt o s de ixar a m d e co rrespo nder ao s int ere s se s da s fa mília s de o r ige m e, segu ndo Bo zo n27, pas so u a est rut urar -se no a mo r. Co m is so , ho uve a va lo r iz aç ão da ind iv idua lid ade na s r e laçõ e s a mo ro sas, co nfer indo ao s su je it o s d a relação o sent imento de “estar livre”, ou seja, da liberdade de esco lha de per ma ne cer o u não e m u m re la c io na me nt o . Est e respe it o à ind iv idua lid ade fe z co m que a lig aç ão do casa l fo ss e est a be le c ida po r cr it ér io s pe s so a is.

Co nt udo , em d eco rrênc ia d es sa me s ma in d ivid ua liz aç ão , por veze s vo lát il, o s c as a is co nt e mpo râneo s e st abe le c e m re laçõ e s me no s est á ve is, co mo be m de fine At t a li28:

“Sendo o individualismo o valor supremo, todos se to rnarão ant es de ma is nada co nsu mido res de se nt ime nt o s. O ca sa me nt o va i se t o rnar cada ve z ma is pr ecár io . Co m ist o , será e ncar ado , já ao ser co nt rat ado, co mo pro visó r io , co mpro me t endo o s cônjuges apenas enquanto assim o quiserem.”

Est a lut a e nt re o ind iv id ua l e o co njuga l po de a carret ar o ro mp ime nt o do la ço a fet ivo e xist e nt e e nt re o cas a l. O gr a nde pro ble ma sur ge qu a nt o est e casa l sep arado po ss u i filho s e, co m is so , há a nece ss idad e de ree st rut uração do s seus papé is pare nt a is na no va d inâ mic a fa milia r inst aurad a.

27 BOZON, Michel. Sexualidade e conjugalidade: a redefinição das relações de gênero na França contemporânea. Cadernos Pagu. Campinas, nº 20, 2003, p.133.

28 ATTALI, Jacques. Dicionário do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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