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E digo-vos que a vida é de facto obscuridade excepto onde há
arrebatamento,
E todo o arrebatamento é cego excepto onde há saber, E todo o saber é vão excepto
onde há trabalho
E todo o trabalho é vazio excepto onde há amor.
E o que é trabalhar com amor? É pôr em todas as coisas
que fazeis Um sopro do vosso espírito.
Khalil Gibran
Í N D I CE
I. Introdução ...1
II. Corpo de Trabalho: Estágios Profissionalizantes...2
Medicina Geral e Familiar ... .2
Ginecologia e Obstetrícia...3
Cirurgia……...5
Pediatria………...6
Saúde Pública… ...7
Saúde Mental……...7
Medicina Interna………...….…8
I N T R O D U Ç Ã O
O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é considerado um estágio profissionalizante
que compreende o exercício orientado e programado da Medicina, por diversas áreas médicas e
cirúrgicas. Tem como principais objetivos:
desenvolver competências essenciais ao exercício da Medicina, tais como colheita de dados
elaboração de raciocínio clínico e tomada de decisões; desenvolver aptidões no domínio da
investigação clínica.
O presente relatório final diz respeito ao 6º ano profissionalizante tendo por base o Despacho nº
804/2011, publicado no Diário da República, 2ª série, nº7 de 11 de Janeiro e segundo o modelo
proposto e aprovado pelo Conselho Pedagógico e Científico da Faculdade de Ciências Médicas de
Lisboa( FCM).
Com o presente relatório pretendo descrever de forma sucinta, as atividades
desenvolvidas por MIM ao longo do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, estágio profissionalizante, correspondente ao ano
letivo de 2010/2011 e 2013/2014. Encontra-se organizado em 4
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ecç
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e
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: A introdução, o corpo
de trabalho onde descreverei resumidamente cada um dos 7 estágios profissionalizantes realizados,
uma reflexão crítica final onde demonstrarei os aspetos que correram bem e menos bem, no que
respeita às minhas necessidades/expetativas iniciais, bem como no cumprimento dos objetivos
propostos e as metas atingidas. Por último, nos anexos apresento atividades frequentadas pela
FCM-Universidade Nova de Lisboa, que acho oportuno serem mencionadas ( Suporte básico de vida/
C O R P O D E T R A B A L H O
O ano letivo correspondente ao estágio profissionalizante decorreu entre 2010/2011 e a última
cadeira 2013/ 2014, sendo constituído por 7 estágios parcelares sobre os quais farei de seguida
uma breve descrição dos elementos que considero representativos do seu funcionamento.
MEDICINA GERAL E FAMILI AR:
Estágio (USF S do Centro de Saúde do Seixal)
Período do estágio: 27/09/2010 a 22/10/2010 (USF do centro de saúde do Seixal) -4 semanas
Regência: Prof. Doutora Isabel Santos
Tutor : Dr. José Manuel Feliz
Sob a regência da Prof. Doutora Isabel Santos, estagiei no centro de Saúde (CS) do Seixal
durante quatro semanas, sob orientação do Dr. José Manuel Feliz. Considerei como objetivos do
estágio:
- abordagem dos padrões de sintomas mais comuns no contexto da comunidade, desenvolvendo
competências diagnósticas, terapêuticas e preventivas, aplicar o modelo clínico centrado nas pessoas
e no seu contexto; verificar as características próprias dos cuidados de saúde prestados em Medicina
Geral e Familiar.
a saúde e prevenção da doença. Apercebi-me da diversidade dos problemas observados em consulta,
da sua frequência e da variabilidade destes de acordo com o ambiente socioeconómico. Assim,
neste contexto, realizei durante este período do estágio um Diário de Exercício Orientado (DEO),
onde fiz um registo em tabela, do padrão de morbilidade observado em consulta, descrevi uma análise
de situação e apresentei um caso clínico. Julgo que foi uma mais-valia ter realizado o estágio nesta
área do Seixal, pois permitiu-me observar a importância do contexto socioeconómico e cultural
na relação médico-doente, bem como na abordagem ao doente e à sua doença. Destaco a
importância desta relação de confiança e proximidade entre o doente e o seu médico de família para o
sucesso dos nossos cuidados de saúde primários. Por fim, solidarizo-me com a possibilidade que me
foi concedida de conduzir algumas consultas autonomamente, procedendo à recolha e organização
de dados, estabelecendo os meus raciocínios clínicos, formulando hipóteses diagnósticas e
propondo um plano terapêutico, tudo isto realizado sobre supervisão. Assisti às sessões de
ensino-aprendizagem em grupo dirigida pela Drª Teresa Ventura, que teve lugar na FCM na terceira semana
do estágio.
GINECOLOGIA E O BSTET RÍCIA:
Hospital de São Francisco Xavier (HSF)
Período do estágio: 25/10/2010 a 19/11/2010 ( 4 s e m a n a s )
Regência: Prof. Doutor Jorge Branco
Tutores: Dra Lurdes Silva- Ginecologia, Dr. Pina Pereira-Obstetrícia
Este estágio teve lugar no Hospital São Francisco Xavier, sob regência do Prof. Doutor Jorge
Branco, tendo estagiado no serviço de ginecologia durante as duas primeiras semanas,
sob orientação da Dra. Lurdes Silva e no serviço de Obstetricía nas duas últimas semanas sob
orientação da Dra. Alexia Toller (Dr. Pina Pereira).
O estágio teve como principal objetivo adquirir competências individuais de forma a responder às
necessidades da mulher de um modo abrangente desde a educação para a saúde e prevenção da
doença até ao diagnóstico e tratamento da doença mais frequentes no âmbito da Ginecologia e
obstetrícia.
Observar e saber reconhecer patologia médica e cirúrgica em ginecologia e obstetrícia e praticar
o exame objectivo ginecológico e obstétrico.
Durante as 2 semanas destinadas à Obstetrícia tive a oportunidade de observar o seguimento
de grávidas com factores de risco nas consultas externas de alto risco e de referenciação, de par t i
c i p a r n as actividades inerentes à enfermaria do serviço materno-fetal (acompanhei 5 grávidas
com ameaça de parto pré-termo e um caso de ruptura prematura pré- termo de membranas),
interpretação de ECD (ecografias e cardiotocogramas), observação dos cuidados a puérperas, bem
como de cirurgias e procedimentos obstétricos no bloco operatório (Cesariana electiva e Aspiração
de restos ovulares após IVG). Nas 2 semanas de Ginecologia assisti à consulta de ginecologia (tendo
tido a possibilidade de praticar o exame objectivo ginecológico), a ecografias ginecológicas, a
procedimentos ginecológicos realizados na (Histeroscopias) e cirúrgicos, realizados no bloco
operatório (Ex: Polipectomia por Ressectoscopia). Ao longo do estágio integrei a equipa de urgência
dos meus orientadores onde pude observar diversas situações agudas (obstétricas e
CIRURGI A:
Hos pi tal Santo António dos Capuchos
Período do estágio: 22/11/2010 a 21/01/2011 (8 semanas)
Regência: Profª. Doutora Maria Teresa Leite de Noronha
Tutor: Drª Conceição Cardoso.
As actividades do estágio Cirúrgico foram organizadas da seguinte forma: distribuição dos alunos
pela Cirurgia Geral (CG) durante as 8 semanas, e nas especialidades de Gastrenterologia e mais uma
opcional.
Como objetivos para este estágio destaco: conseguir diagnosticar as principais patologias
cirúrgicas, a observação da evolução do doente desde o pré até ao pós-operatório, a execução de
técnicas de “pequena cirurgia” no serviço de urgência do Hospital de São Jóse bem como
observação e participação em cirurgias no bloco operatório.
Durante este período realizei atividades assistenciais na enfermaria, serviço de urgência e bloco
operatório, tendo sido 1ª e 2ª ajudante em algumas cirurgias (CG). Em todas as especialidades por
onde passei assisti a várias consultas (Ex: Consultas de cirurgia) e de gastroenterologia.
Considero a passagem pelas técnicas de Gastroenterologia de grande interesse e
relevância.
Como atividade formativa frequentei Se miná rios Teó rico s e Teó rico -P rá tico s dos quais destaco
o tema: “Colocação de acesso venoso periférico/ venopunção; Manuseamento de sistemas de soros e
seringas infusoras; Colocação de cateter venoso central (jugular, subclávia, femoral)”. Elaborei por fim
dois trabalhos de revisão sobre o temas “ Neoplasia Colo-Rectal bem como Doenças da Vesicula e
vias Biliares” (Colecistectomia) “
PEDIATRIA:
Hospital Cuf Descobertas
Período do estágio: (24/01/11 a 18/02/2011) quatro semanas
Regência: Profª Doutora Lígia Braga
Tutor: Drª Alexandra e Drª Silvia
Dos objetivos iniciais para este estágio destaco: saber reconhecer as patologias mais
comuns no RN, criança e adolescente, saber colher uma história clínica em pediatria (tendo em conta
a sua natural especificidade) e treinar a comunicação com a criança/ adolescente.
Durante este estágio tive a oportunidade de realizar algumas tarefas relacionadas com a prática
clínica diária da enfermaria. Destaco o acompanhamento de 2 casos: lactente ♂4M com síndrome de
Treacher-Collins e criança ♂9A com Púrpura de Henoch- Schönlein. Na consulta externa de pediatria
pude observar patologia diversa (Ex: ITU associada a RVU e enurese), bem como treinar o exame
físico da criança. Assisti também as consultas de imunoalergologia. O período de estágio em que
passei pela cirurgia pediátrica foi muito interessante, pois observei em consulta, patologia menos
frequente (Ex: Pectus Excavatum/Carinatum).
Na passagem pelo B.O. observei também cirurgias bastante interessantes (Ex: Ressecção
pulmonar atípica em ♂14A por pneumotórax espontâneo recidivante). Estive também presente no
serviço de urgência de pediatria e de cirurgia pediátrica tendo-me permitido observar,
examinar e diagnosticar patologias frequentes do foro pediátrico. Destaco deste período um caso:
SAÚDE PÚBLICA:
Sob regência do prof. Jorge Torgal e orientação do Prof. Doutor Mário Cordeiro
Raposo, o estágio de Saúde pública foi realizado na FCM, o seu objetivo primordial foi a
aprendizagem e iniciação no campo da investigação clínica, mediante a realização de um
estudo científico com posterior elaboração de um artigo científico. No referido contexto e
em conjunto com 6 colegas, realizei o trabalho intitulado “O direito de Ser Esquerdinho,
cujo objetivo foi de avaliar mediante a aplicação
Do questionário de Edinburg numa amostra de conveniência da população composta
por 1.029 inquiridos, entre os quais 868(85%) foram classificados como dextros,
78(7.6%) como esquerdinos e 75 (7.3%) como ambidextros.
Este estudo foi realizado com objetivo de determinar a lateralidade, o impacto na
qualidade de vida dos esquerdinos bem como a alteração da preferência manual. Ao
longo do estágio realizamos e apresentamos o artigo, sob a forma de comunicação oral,
na faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.
O artigo foi publicado na revista Visão, no semanário Expresso e posteriormente na
Agência Lusa bem como na RTP.
Tornando-se atualmente uma cadeira opcional, tendo eu obtido equivalência
Para prática de investigação ( investigação de conhecimentos em saúde pública.
SAÚDE MENTAL: Serviço de psiquiatria do hospital Fernando da Fonseca
Período do estágio: 28/03/2011 a 29/04/2011( quatro semanas)
Regência: Prof. Doutor Miguel Xavier
O estágio iniciou-se com dois dias de seminários teórico-práticos que decorreram na Faculdade
de Ciências Médicas (FCM), sob orientação do Prof. Doutor Miguel Xavier, onde foram apresentadas
algumas situações clínicas frequentes, muito úteis no contexto do serviço de Urgência. As técnicas de
anamnese e de exame objetivo foram também brevemente abordadas. Este estágio foi realizado na
Equipa comunitária da Amadora do Serviço de psiquiatria do Hospital Prof. Fernando Fonseca E.P.E.
Os meus objetivos para este estágio prendiam-se em: conhecer e identificar as patologias
psiquiátricas mais comuns, adquirir competências na colheita da história psiquiátrica nesta população
e ganhar experiencia no reconhecimento de patologia psiquiátrica na urgência.
Durante o estágio tive a oportunidade de contatar com diversas atividades da prática clinica da
psiquiatria, assisti e participei nas Várias consultas de Psiquiatria, realizei histórias clínicas, assisti as
reuniões semanais e sessões clínicas. Assim, assisti a consultas de 1ª vez e de seguimento, onde
contatei com as patologias mais prevalentes : Esquizofrenia, Perturbação bipolar, Stress
pós-traumático Perturbações de comportamento e Perturbações afetivas, participei em reuniões
semanais do serviço e realizei uma história clínica colhida na condução autónoma de uma consulta de
1ª vez .Finalmente, frequentei também o serviço de urgência de psiquiatria do Hospital Fernando
Fonseca, onde observei situações frequentes da psiquiatria de adultos (depressão, ansiedade e um
caso de para-suicídio). Realizei também uma história clínica final que foi discutida e entregue na
FCM. Na última semana de estágio apresentei tema com os restantes colegas um trabalho intitulado
Marta, sob regência do Prof. Doutor Fernando Nolasco e orientação do Dr. Miguel Toscano Rico.
Parti para este estágio com os seguintes objetivos:
Integrar-me na equipa médica e praticar diariamente procedimentos como colheita de história
clínica, diagnóstico, prescrição de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, tudo isto por
forma adquirir uma autonomia crescente e aprimorar o raciocinío clínico.
Assisti às aulas téorico-práticas e aos seminários semanalmente sobre discussão de casos
clínicos das patologias mais frequentes e preferencialmente ligadas à Urgência/ Emergências. Ao
nível das actividades desenvolvidas durante o estágio, dou especial relevância ao internamento, não
só por ter sido aquela que mais tempo ocupou, mas também por ter sido a que mais contribuiu para o
cumprimento dos objetivos propostos. A integração de conhecimentos e raciocínio clínico
hipotético-dedutivo introduzida pelas discussões no final de cada manhã e pela visita clínica semanal foram um
contributo essencial para a consolidação da marcha envolvida no diagnóstico, tratamento e
seguimento dos doentes. Além disso, o acompanhamento diário dos doentes na enfermaria permitiu
perceber a importância de reconhecer, por vezes, súbtil variação clínica diária dos doentes, bem
como as decisões
subsequentes que essas variações acarretam. O treino da comunicação de informação
clínica durante a visita clínica foi também um ponto reconhecidamente positivo na minha formação.
Finalmente, a presença de alunos do 3º ano no serviço, fez-me deparar com uma nova realidade: a
de ter colegas mais novos e a quem podia, dentro de determinados limites, dar alguma orientação,
ensinar-lhes técnicas gasimetricas e punções venosas. Sendo o ensino da medicina altamente
dependente da transmissão de conhecimento dos mais velhos para os mais novos, considero ter
feito um esforço no sentido de integrar e informar os colegas, acreditando ter havido um benefício
para ambas as partes envolvidas.
Durante este período desenvolvi atividades na enfermaria, onde tive oportunidade de
acompanhar 62 doentes observando-os clinicamente diariamente.
Aprendi a redigir notas de entrada / altas e participei ativamente na reunião da equipa que
decorria diariamente.
Frequentei o serviço de Urgência do Hospital de São José onde acompanhava sempre o meu
tutor e alguns internos do meu tutor, onde observei os doentes na apresentação aguda da sua
doença, sendo que alguns destes foram internados no serviço 4 de medicina da unidade funcional
do Hospital de Santa Marta.
Considero ainda a presença no serviço de urgência um momento importante do estágio, por
mostrar uma realidade diferente da do internamento, na qual o médico é forçado a tomar decisões
importantes num período de tempo muito breve. A oportunidade de ter recebido doentes nas salas
de atendimento confrontou-me com a necessidade de avaliar, em circunstâncias diferentes daquelas
a que estava habituado até então, quais dos sintomas apresentados pelos doentes deveriam ser, ou
não, relevados.
Neste ponto, lamento que constrangimentos logísticos inerentes ao próprio funcionamento do
serviço de urgência, e relacionados com a necessidade de presença de outros alunos, tanto do 6º
como do 3º anos, não tenham permitido que passasse mais tempo no serviço de urgência.
Foi sem dúvida o estágio onde senti maior autonomia e onde consegui acompanhar os doentes
desde o SU até a alta do serviço de medicina.
R e f l e x ã o C r í t i c a F i na l
Concluído o 6º Ano, considero os diversos estágios profissionalizantes realizados como
excelentes vias para sedimentar os conhecimentos teóricos adquiridos nos 5 anos anteriores,
bem como para facilitar a transição da realidade académica para a laboral. Os meus objetivos para
este ano letivo prendiam-se então com a obtenção de uma maior autonomia, num ganho de
confiança nos conhecimentos e práticas médicas, bem como num acréscimo de experiencia da
prática clínica, objetivos estes que considero ter atingido de forma bastante satisfatória.
Durante este ano pude praticar não só as minhas competências clínicas como também
académicas nos vários trabalhos de síntese e apresentações que realizei. Lidei com questões
éticas, como o sigilo médico e o consentimento informado e apercebi-me ainda da importância do
trabalho em equipa para uma assistência e tratamento adequados.
Considero que a minha postura ao longo deste ano foi de interesse e dedicação. A
integração em equipas distintas foi benéfica para a aprendizagem de novas metodologias de trabalho,
bem como para a construção de um referencial de qualidade que será útil ao longo da minha vida
profissional.
Penso ter cumprido de uma forma geral os objetivos a que me propus nos vários estágios
parcelares. Considero contudo, que poderia ter tido uma atitude mais pro-ativa no estágio de Cirurgia,
onde o meu tutor não fazia o serviço da pequena cirurgia, e teria de partir de nós alunos, a iniciativa
de por lá passar. No caso optei por permanecer mais tempo no bloco operatório ou a estudar para a
Prova Nacional de Seriação (PNS). Já no estágio de Medicina Interna penso que poderia ter estado
mais tempo no SU, no entanto, devido ao facto da minha tutora não fazer urgência e constatando que
os seus internos (do 1º e 2º ano) não tinham a experiencia necessária para tutorar, abdiquei algumas
vezes de ir, dedicando esse tempo ao estudo para a PNS.
Como menos positivo, destaco o carácter meramente observacional de metade dos
estágios ditos profissionalizantes, que deveriam servir para incentivar o aluno a uma postura mais
autónoma. Pelo contrário, nos estágios de Medicina Interna, MGF e Psiquiatria senti-me
verdadeiramente como parte integrante das equipas que me acolheram.
Atribuo uma nota extremamente positiva à frequência nas unidade curriculares (UC) de
Preparação para a Prática Clínica (PPC). Permitiu- me integrar conhecimentos através de sessões
multidisciplinares, que me obrigaram a treinar o raciocínio clínico por via da apresentação de temas e
casos clínicos transversais às várias áreas da Medicina.
Considero ser de excelência o nível formativo ministrado nesta faculdade. Isto deve-se ao
elevado nível de conhecimentos e de confiança transmitido pelos nossos tutores/orientadores e ao
favorável rácio aluno/tutor, único no país. A passagem por vários hospitais ao longo do curso
permite-nos conhecer diferentes realidades, o que exige de nós capacidade de adaptação, tornando-permite-nos
assim mais versáteis, sendo que esta característica nos distingue pela positiva relativamente a alunos
de outras faculdades.
Finalizo com um profundo agradecimento à FCM UNL que me acolheu como aluna e a
todos os profissionais que contribuíram para a minha formação.
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«(…)os baixos pagam os encontros dos altos, que é justiça de canhoto ou esquerda justiça.» D. Francisco Manuel de Melo, in Relógios Falantes (séc. XVII)
Agradecemos,
ao Professor Doutor Mário Cordeiro, por toda a orientação e ajuda prestada na realização do trabalho;
à Mestre Sara Dias, docente do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela ajuda prestado no esclarecimento de dúvidas;
à Sr.ª D. Luísa Barata, secretária do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela sua disponibilidade;
à PaperZone.pt por ter apoiado o nosso projecto;
ao Sr. Luís Almeida, que gentilmente imprimiu os questionários;
a todos os que aceitaram colaborar, respondendo ao questionário, sem os quais este trabalho nunca teria sido possível.
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO ... 5
BIBLIOGRAFIA ... 7
DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO ... 9
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO ... 10
CRONOGRAMA PREVISTO/CONCRETIZADO ... 11
OBSTÁCULOS E DIFICULDADES.LIÇÕES APRENDIDAS ... 12
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 14
ANEXOS ... 15
Anexo 1 - Protocolo………....………....16
Anexo 2 - Apresentação do Protocolo………26
Anexo 3 - Questionário………..………35
Anexo 4 - Artigo Científico………...…………..40
I
NTROD UÇÃOO estágio de Saúde Pública, sob regência do Professor Doutor Jorge Torgal e coordenação da Professora Doutora Carlota Louro, integra o plano curricular do 6º ano do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, leccionado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Teve a duração de cinco semanas, tendo decorrido entre 21 de Fevereiro e 25 de Março de 2011.
O presente dossier de investigação tem por objectivo reflectir o trabalho realizado durante este período, sob tutela do Prof. Doutor Mário Cordeiro, e inclui uma abordagem descritiva das actividades desenvolvidas, assim como um posicionamento crítico acerca das mesmas.
O objectivo primordial deste estágio é aprendizagem e iniciação no campo da investigação científica. Assim, foi-nos proposto a realização de um estudo científico com posterior elaboração de um artigo científico.
No início do estágio, e antes da distribuição pelos diversos assistentes, surgiram dentro do nosso grupo vários temas que nos interessaram, nomeadamente, avaliação da depressão pós-parto e, avaliação de conhecimentos e atitudes sobre a infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida em estudantes do secundário. Contudo, a sugestão do Prof. Doutor Mário Cordeiro em realizar um estudo sobre esquerdinos, pela sua originalidade e impacto na sociedade, imediatamente despertou a nossa curiosidade.
Após uma breve pesquisa bibliográfica sobre o tema, observámos a existência de uma enorme quantidade e variedade de estudos sobre o tema, em áreas tão diversas como Psicologia, Antropologia, Arqueologia, e dentro da Medicina, especialidades como a Neurologia, Psiquiatria, Saúde Pública, entre outras.
Desde logo elaborámos um conjunto de opções de estudo:
- Caracterizar os acidentes de trabalho em relação à lateralidade manual, numa população fabril; - Avaliar a lateralidade da população admitida no SU, em particular nas salas de Pequena
Optámos por esta última alternativa, pela pouca quantidade de estudos científicos realizados acerca deste tema, pelo escasso período de que dispomos e pela dificuldade em obter autorizações legais.
Os objectivos definidos foram analisar as percepções, conhecimentos e atitudes sobre esquerdinos na população estudada. Secundariamente pretendeu-se efectuar a caracterização demográfica da lateralidade na amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual, aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e registar eventuais dificuldades dos mesmos no quotidiano.
Ao longo do período de estágio, tivemos reuniões com o orientador do projecto, Professor Doutor Mário Cordeiro, com quem discutimos a elaboração do protocolo e dos questionários1,
inteirando-o da evolução do trabalho de campo e a preparação do artigo científico.
O protocolo foi apresentado, discutido e aprovado2 na Faculdade de Ciências Médicas, no dia 28
de Fevereiro. Tal como estipulado, o artigo científico3 foi entregue dia 21 de Março no Departamento
de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas, tendo sido apresentado4 no dia 23 de Março, no
anfiteatro 3 da faculdade.
1 Vide Anexo 3.
BIBLIOG RAF IA
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37. Oldfield, RC. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychololgia. Vol. 9, pp. 97-113.
38.http://homepage.ntlworld.com/steve.williams7/A%20major%20revision%20of%20the%20Edinburgh%20Ha ndedness%20Inventory.pdf. [Online acedido a 18/03/2011]
39. Estatística, Instituto Nacional de. Censos 2001: XIV Recenseqmento Geral da População. 2002.
40. Pollak, RA. An Intergenerational Model OF Domestic Violence. Journal of Population Economics. 2004, Vol. 17 (2), pp. 311-329.
41. Francks, C and et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
D
E SCRIÇÃO DO TRA BALHO DECA MPO
Efectuou-se um estudo descritivo e transversal, com colheita dos dados através do preenchimento de um questionário individual e anónimo, entre os dias 4 e 13 de Março de 2011, em locais públicos, nas cidades de Lisboa, Porto e Leiria.
O questionário anónimo, individual e de auto-preenchimento, composto por: - Dados demográficos gerais;
- Avaliação da Lateralidade;
- Avaliação da convivência familiar com esquerdinos;
- Avaliação das percepções da população acerca dos esquerdinos, em diversos campos: Saúde, Escola, Escrita Forçada, Trabalho, Personalidade e Quotidiano.
Foi realizado um pré-teste no dia 3 de Março a 11 pessoas, que permitiu efectuar algumas modificações.
Recolheu-se uma amostra de conveniência, de acordo com os critérios de inclusão descritos no protocolo, constituída por 1.029 indivíduos.
Orçamento e Recursos Humanos:
Fotocópias, encadernações, outro material 150€ Deslocações 100€ Comunicações 20€ Honorários5 3.675€
O
RGAN IZAÇÃO E GESTÃO DA INFO RMAÇÃ OOs dados recolhidos foram organizados segundo uma base de dados do Microsoft Office Excel 2010®. Para tratamento estatístico dos dados foi utilizado o mesmo programa, procedendo-se à análise dos mesmos pelo lançamento de tabelas de frequências, cálculo da média e mediana, avaliação da associação de variáveis pelo teste de χ2 (Qui-Quadrado) e teste de Fisher, com um nível de significância estabelecido de p<0,05.
O artigo científico foi redigido tendo por base o programa informático Microsoft Office Word 2010®, e todos os gráficos e tabelas nele incluídos são originais e elaborados através do programa Microsoft Office Excel 2010®.
Para a apresentação audiovisual do Protocolo e da Comunicação Científica utilizámos o software Microsoft Office PowerPoint 2010®.
CRONOG RA MA
P
REV ISTO/CONCRETIZ ADO
O cronograma previsto inicialmente foi globalmente cumprido, embora não se tenham realizado as aulas de: Formatação Epi-Info® (dada posteriormente conjuntamente com a 2ª sessão), Edição de Artigo e Preparação das Comunicações – material referente às 3 aulas foi facultado em formato digital por via electrónica.
Legenda:
Sessões Teórico-Práticas Projecto de Investigação Prazos de entrega Aulas Canceladas
O
BSTÁC ULO S E DIF ICULDADE S. LIÇÕE S APREND IDASAo longo destas curtas 5 semanas, tivemos que aprender – e fazê-lo de facto! - a elaborar um estudo de Saúde Pública de raiz, novidade para todos os elementos do grupo. Para tanto, foi necessário assimilar todos as etapas a percorrer, desde a elaboração do protocolo à redacção final do artigo, passando pela colheita e tratamento estatístico dos dados. Como era de prever, ao longo deste processo deparámo-nos com inúmeras contrariedades, ultrapassadas pela aquisição de novas competências ou recurso a estratégias alternativas.
Além do factor novidade, acresciam ainda o tempo escasso e o elevado número de elementos do nosso grupo. Aquilo que à partida é uma vantagem, facilmente se pode tornar numa dificuldade pela desorganização e dispersão de ideias de 7 intervenientes. Portanto, era essencial conseguir uma planificação desde o primeiro momento que fosse simultaneamente rigorosa e flexível para lidar com as alterações subsequentes. Para tal, muito nos ajudou a aula Elaboração do Protocolo. Com base nela, conseguimos ter desde o início um plano e metodologia bem delineados. Apesar de nem sempre ter sido fácil a adaptação a novas circunstâncias ou a divisão de tarefas para um trabalho constante nas várias frentes, pelo menos sabíamos perfeitamente o que tínhamos que fazer em cada momento.
Em relação ao processo de colheita de dados, uma das lições que tirámos foi a necessidade de uma cuidadosa correlação entre cada uma das perguntas do questionário e os objectivos estabelecidos para o estudo. Só assim se chega a um questionário simples e dirigido, sem perguntas desnecessárias e com todas as associações entre perguntas previamente definidas. Isto agiliza muito a ulterior análise dos dados, uma vez que já estão previstos todos os testes estatísticos a calcular. Para observar tendências gerais e ir delineando conclusões, podem mesmo fazer-se estes testes durante a colheita de dados com uma amostra preliminar.
No campo da análise de dados, tivemos várias dificuldades. Por um lado não estabelecemos bem todas as associações estatísticas a testar, o que originou alguma dispersão e perda de tempo. Também na utilização do software tivemos alguns obstáculos, uma vez que optámos utilizar o Microsoft Excel 2010® com o qual nunca tínhamos trabalhado a um nível tão avançado. Por outro lado, verificámos ainda que não dominávamos todos os conhecimentos de estatística necessários para este projecto. Foi por isso necessário que parte dos elementos do grupo estivessem dedicados a rever esta temática, perdendo-se recursos humanos necessários para a colheita de dados. Sentimos, por isso que teria sido muito útil uma aula de revisão sobre este tema.
Lamentamos ainda que não pudessem ter sido dadas as aulas relativas à Elaboração do Artigo e Comunicação Oral, uma vez que teriam sido ajudas preciosas para nos orientar nestas etapas tão
fundamentais em qualquer projecto. Como alternativa, consultámos alguns trabalhos de colegas no Departamento de Saúde Pública, para perceber quais as melhores estratégias a tomar.
A revisão bibliográfica do tema trouxe-nos algumas dificuldades na medida em que não é um tema habitual no nosso currículo, nem no âmbito da Saúde Pública em particular. Talvez por isso tenhamos demorado um pouco mais para encontrar – tanto para a fase inicial de estudo como para a discussão dos resultados -, referências bibliográficas credíveis, tais como artigos de revisão ou meta-análises sobre lateralidade. Por fim conseguimos, uma bibliografia teórica bastante completa, muito embora não tenhamos encontrado estudos com desenhos similares ao nosso.
Não será desmedido realçar, para colegas que venham a realizar estudos futuros, a importância de cuidar esta etapa do projecto. Trata-se no fundo dos alicerces em que tudo assenta. Sem ela dificilmente se constrói um questionário sólido, coerente e aplicável na prática. Tão-pouco é possível efectuar uma análise e discussão dos resultados conveniente se não se conhece o que já foi estudado nessa área. É como estar a trabalhar sozinho, partindo do zero.
Em suma, apesar de todas as dificuldades, esta foi uma excelente oportunidade para aprender na prática a elaborar um artigo científico, num tempo limitado, trabalhando em equipa, através de uma criteriosa metodologia de programação e distribuição de tarefas.
C
ONCLUSÕE S EREC OMEN DAÇÕE S
No final da realização deste trabalho, podemos dizer que obtivemos conclusões com tradução prática, interessantes e relevantes no âmbito da Saúde Pública, respondendo assim, aos objectivos a que nos tínhamos proposto quando apresentámos o desenho do estudo. Para além disso, fizemos algumas sugestões de próximos trabalhos na continuação do mesmo tema.
No decorrer deste estudo surgiram algumas limitações e dificuldades que nos alertaram para a necessidade de uma investigação mais aprofundada nalguns aspectos relacionados com a preferência manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade de um questionário para a avaliação da lateralidade manual validado na população portuguesa; estudar a real influência da lateralidade em acidentes (domésticos, profissionais e rodoviários).
Sugerimos ainda a investigação, na população abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual da preferência manual e da alteração forçada da mesma. Neste segmento etário importa também averiguar a persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos na escola, e o que está de facto a ser feito para as minimizar.
Com este estágio foi possível adquirir competências para a realização de um estudo científico, melhorar a capacidade de trabalho em equipa, o espírito crítico e o rigor científico. Todos estes conhecimentos serão certamente úteis no futuro, uma vez que a investigação médica fará impreterivelmente parte da nossa carreira médica.
No que à organização do estágio diz respeito, achamos que alguns pontos devem ser revistos. Para uma melhor sedimentação de conhecimentos sobre estatística, seria útil, para além da aula de EpiInfo®, uma aula de revisão da matéria. Alertamos também, pelas dificuldades que surgiram no seio do nosso grupo, para a necessidade de um financiamento aos estudos por parte do departamento (porque não na forma de disponibilidade para tirar fotocópias?). Sugerimos ainda, uma interacção entre os estágios de 4° e 6° ano, sendo permitido aos alunos mais novos estarem presentes durantes as nossas comunicações científicas. Achamos que tal seria altamente proveitoso, porque traduz uma vertente mais prática do estágio, e talvez mais atraente, mas também como forma de sensibilizá-los desde logo para as limitações e dificuldades que surgem na criação de um artigo científico.
Por fim, e como recomendações para os futuros grupos, gostaríamos de reforçar a importância de fazer uma boa revisão bibliográfica sobre o tema, que, para além de inteirar os autores do estado da arte, facilita a posterior argumentação na discussão. Salientamos também que a discussão dos resultados é um processo moroso, que requer dedicação de todos os elementos e cedências de parte a parte.
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ACULDADE DE
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IÊNCIAS
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A N Á L I S E D A S P E R C E P Ç Õ E S ,
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Q U A L I D A D E D E V I D A D O S E S Q U E R D I N O S
M. C. EscherI
NTROD UÇÃO«...dizei-me ora quem sois e por que "esquerdos" fados viestes a ser nesta escravidão meu companheiro?...» D. Francisco Manuel de Melo, in Apólogos Dialogais (séc. XVII)
A questão da lateralidade, em particular da preferência manual (handedness), tem sido alvo de debate nas mais diversas áreas do conhecimento (Medicina, Antropologia, Psicologia e Sociologia, entre outras). Mesmo dentro da Medicina, este assunto diz respeito a várias especialidades como a Genética, Pediatria, Psiquiatria, Neurologia, Medicina do Trabalho e Saúde Pública.
Estima-se que 10% da população mundial tem preferência manual esquerda (esquerdino ou, mais vulgarmente, canhoto) (1; 2; 3), registando-se variações geográficas. Por exemplo, no Japão, a percentagem de esquerdinos na população é de aproximadamente 5% (1), presumivelmente devido à alta frequência de crianças forçadas a escrever com a mão direita. Em contraste, na população indígena Yanomamo, na Venezuela, por exemplo, a frequência de esquerdinos ronda os 23%. Neste caso, supõe-se que o facto de ser esquerdino traz vantagens em actos de confrontação física (bastante frequentes nesta população), pelo factor-surpresa acrescido (4).Globalmente, a lateralidade à esquerda é mais frequente no sexo masculino, havendo um decréscimo da prevalência de esquerdinos declarados com o aumento da idade (5; 6). Este declínio pode dever-se a uma maior frequência de indivíduos idosos forçados a escrever com a mão direita ou a uma menor esperança média de vida dos esquerdinos (7). A lateralidade esquerda também tem um componente hereditário significativo. Assim, segundo um estudo de McManus & Bryden, dois progenitores dextros têm menor probabilidade de terem um filho esquerdino (9,5%), do que se um dos pais (19,5%) ou os dois (26,1%) forem esquerdinos. Desconhece-se, no entanto, o verdadeiro peso da componente genética em relação à influência ambiental (por imitação ou por ensino propositado dos pais) (8)."
Na Idade da Pedra, a escrita era feita com o apoio do escopro seguro pela mão esquerda e batido com o martelo pela mão direita, e que levou a que os primeiros alfabetos se escrevessem da direita para a esquerda, como ainda o são o árabe e o hebreu, línguas nas quais a escrita com a mão esquerda está mais facilitada. Por contraste, o alfabeto Latino, escrito da esquerda para a direita, está mais adaptado à escrita com a mão direita (9).
Ao longo da História, os esquerdinos têm sido alvo de considerável discriminação. A conotação negativa da “esquerda” remonta ao proto Indo-Europeu (3000 a.C.), idioma precursor de todas as línguas latinas, que não tinha qualquer palavra para designar este lado (1). Em 1903, Cesare Lombroso, um dos pais da Criminologia, associava a lateralidade esquerda à criminalidade, insanidade e atraso mental (10). Em 1946, Blau definia a preferência manual esquerda como “um sintoma neurótico (…), um dos sinais de uma psico-neurose infantil”. Em 1960, Hertz afirmava: “Um dos sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção independente” (3). Este sentido pejorativo de tudo o que se relaciona com o lado esquerdo está patente na própria linguagem: no Latim, a palavra sinistra refere-se à esquerda, mas também ao Diabo e ao azar, tendo este duplo significado permanecido nas línguas europeias derivadas do Latim, como o Inglês ou o Português, como atestam os sinónimos de esquerdino canhoto6 e
sinistro7. Ao invés, o lado direito, está associado a correcção, rectidão, justiça e destreza (11). O
termo ambidextro (“ser dextro em ambas as mãos”) e, o menos usado, ambissinistro (“dejajeitado nos dois lados”, mais reforçam as conotações comummente atribuídas a estas palavras. Apesar de tudo, actualmente parece haver uma maior aceitação dos esquerdinos na maioria das sociedades (2). Também são encontrados exemplos de conotações positivas associadas à lateralidade esquerda, nomeadamente entre os Incas, e actualmente entre os indígenas dos Andes - onde está associada a capacidades espirituais, incluindo a magia e a cura – e no Budismo – representando a sabedoria.
Com o advento da Epidemiologia moderna, na segunda metade do século XX, foram efectuados estudos que demonstraram uma associação estatisticamente significativa entre ser-se esquerdino e ter doenças como alergias, enxaqueca, dislexia, gaguez, malformações esqueléticas, patologia tiroideia e outras doenças auto-imunes, e ainda patologia psiquiátrica como esquizofrenia (12). Com estes dados, Geschwind e Galaburda, em 1984, propuseram um modelo de desenvolvimento da lateralidade esquerda, segundo o qual os níveis de algumas hormonas durante a gravidez (nomeadamente a testosterona) influenciariam, tanto a organização dos hemisférios cerebrais, como a génese de outros órgãos como o timo e tiróide (13). Em 1988, Halpern e Coren, com bastante polémica, afirmaram que em média os dextros vivem mais 9 anos que os esquerdinos (14), tendência que tem sido corroborada por outros estudos (15). Contudo, esta diferença de longevidade não é unânime, já que alguns autores defendem que a menor prevalência de
Nos últimos 5 anos, com o recurso adicional a técnicas de Biologia Molecular, foram demonstradas algumas das associações acima citadas, nomeadamente com alguns tipos de esquizofrenia, esclerose múltipla, dislexia e algumas neoplasias (16; 17; 18; 19; 20).
No entanto, muitos dos estudos referidos têm sido alvo de diversas críticas. A existência de vários viezes, como a inconsistência nas formas de classificação da lateralidade, a escassa análise acerca da frequência de “esquerdinos corrigidos” durante a infância, ou mesmo o viés de publicação (estudos com resultados positivos são mais publicados), têm posto em causa a sua validade (2). Certos autores, como Perelle e Ehrman, defendem a existência de vários sub-grupos de esquerdinos: 1) esquerdinos “patológicos”, isto é, aqueles que sofreram uma lesão no hemisfério esquerdo durante o seu desenvolvimento (daí a maior prevalência de doenças do foro neuropsiquiátrico); 2) esquerdinos “naturais”, com dominância do hemisfério direito sem nenhum dano prévio; 3) esquerdinos “adquiridos”, que embora tenham dominância do hemisfério esquerdo, começaram a utilizar a mão esquerda por mero acaso (3).
Actualmente, o ambiente físico e estrutural está planeado e construído maioritariamente para dextros, por ser o grupo mais prevalente. Assim, desde os objectos de escritório aos instrumentos musicais, passando pelos automóveis, acessos a edifícios e sua arquitectura, bem como outras infra-estruturas, podem implicar dificuldades quotidianas para os esquerdinos. De facto, há provas da existência de uma maior vulnerabilidade destes, nomeadamente nos acidentes domésticos e de trabalho (21; 22; 23). A lateralidade esquerda está associada ainda a limitações, por vezes graves, no desempenho de algumas profissões (cirurgiões, dentistas) (23; 24).
Contudo, ser esquerdino também parece ter algumas vantagens (8). Por exemplo, no campo profissional, aonde um estudo verificou que os homens esquerdinos auferiam rendimentos mais elevados do que os dextros (25). Também nas artes, os esquerdinos parecem ser mais criativos do que os dextros (26), e existem dados a favor de uma maior proporção de esquerdinos entre os músicos do que na população em geral (27). Já no campo desportivo, naquelas modalidades como o ténis ou a esgrima em que existe interacção com um adversário, a preferência manual esquerda parece ser uma vantagem. No ténis, a proporção de esquerdinos nos lugares cimeiros é muito mais elevada do que aquela da população total de jogadores ou da população em geral (28). Por último, pensa-se ainda na preferência manual esquerda como uma vantagem na luta corpo-a-corpo, levando a um fenómeno de selecção natural, com preservação deste fenótipo ao longo da história (29).
No que diz respeito à população portuguesa, não existem dados referentes à caracterização demográfica da lateralidade, nem à avaliação do impacte sócio-cultural. Desconhece-se se tem havido evolução na educação para os esquerdinos, algum programa específico para prevenção de acidentes ou acções contra a discriminação descrita anteriormente. O presente estudo pretende abordar alguns destes aspectos.
O
BJEC TIVO SObjectivo Principal:
Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida (quotidiano, saúde e profissional) dos esquerdinos.
Objectivos Secundários:
Caracterização da preferência manual na amostra, incluindo diferenças de lateralidade associadas a sexo, idade, escolaridade.
Avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual nos vários grupos etários. Aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação à preferência manual esquerda.
Registar as principais dificuldades no quotidiano dos esquerdinos.
Verificar a existência de diferenças, designadamente entre os sexos, grupos etários e graus de escolaridade.
ME TODOLO GIA
Tipo de estudo: Estudo descritivo e transversal.
População em Estudo: Indivíduos com mais de 14 anos de idade Descrição da Amostra: Amostra de Conveniência da População Alvo
Critérios de Inclusão:
Idade superior ou igual a 15 anos
Presença no local e momento do questionário Disponibilidade para responder ao questionário Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita Ausência de deficiência dos membros superiores
Os investigadores negam qualquer conflito de interesses em relação a este estudo.
Processo da Colheita dos Dados:
Realização de questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual, constituído por perguntas de escolha múltipla e resposta curta.
Será realizado um pré-teste.
Descrição das Variáveis
As variáveis a estudar incidirão sobre:
Caracterização sócio-demográfica (sexo, idade, escolaridade e profissão) dos inquiridos; Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto por Stephen M. Williams)
(30) e mudança forçada de mão utilizada para escrever; Avaliação da convivência com esquerdinos;
Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos (dificuldades em tarefas e manuseamento de objectos em casa, na escola ou no trabalho; saúde e relações inter-pessoais, eventuais profissões, felicidade, etc);
C
RONOG RA MAMês
MarçoDia
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25Apresentação e aprovação do protocolo Pesquisa bibliográfica
Planificação do questionário Formação Epinfo
Recolha de dados
Processamento de dados e edição do artigo Aula de formação (edição do artigo) Entrega do artigo
BIBLIOG RA FIA
1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. s.l. : Murdoch Books, 2007.
2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and Handedness. Epidemiology. 2007, Vol. 18, pp. 191-193.
3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350. 4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272, pp. 25-28.
5. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3, pp. 236-7.
6. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D e Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function in Older Men and Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7.
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8. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R. Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894.
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14. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213.
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16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.
18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687.
19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.
20. Scerri, Thomas S e et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614.
21. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp. 101-103.
22. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol. 5, pp. 68-71.
23. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent). 2008, Vol. 21(3), pp. 304-307.
24. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91.
26. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills. 1981, Vol. 53, pp. 787-792.
27. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156.
28. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119.
29. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28.
30. Oldfield, R. C. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychologia. 1971, Vol. 9, pp. 97-113.
O Direito a Ser Esquerdino
Análise das Percepções, Conhecimentos e Atitudes
sobre a Qualidade de Vida dos Esquerdinos
Faculdade de Ciências Médicas Departamento de Saúde Pública Regente: Prof. Doutor Jorge Torgal Coordenação: Prof. Doutor Mário Cordeiro
Ana Rita Francisco, Carolina Almeida, David Navarro Dias, Francisco Vilaça, João Pinto, Pedro Garrido, Pedro Viana
Turma 7 Lisboa, 1 de Março de 2011
– Sumário –
– Introdução –
• 10% da População •
♂
> ♀• Prevalência < idosos
• Constante ao longo da História • Variações Geográficas
Japão – 5% Tribo Yanomamo – 23%
Viés Cultural? Menor Longevidade?
Esquerdino: s.m. quem tem maior habilidade com o lado esquerdo do corpo
– Introdução –
• Factores Genéticos
• Factores do Desenvolvimento
• Níveis hormonais durante a gravidez • Stress peri-natal
• Factores Culturais
Etiologia
– Introdução –
• > prevalência de: Alergias Enxaqueca
Morbi-Mortalidade Aumentada?
– Introdução –
“Um dos sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a
sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção independente” Robert Hertz, 1907
Canhoto: Desajeitado, acanhado, demónio (fig.)
Sinistro : Que pressagia desgraça, infunde receio, ameaçador, que revela malvadez…
Pressão Social - Escrita forçada com a mão direita
– Introdução –
• Status Socio-Económico • Música • Desportos Interactivos • Luta
Vantagens
– Introdução –
Não existem estudos epidemiológicos realizados em Portugal • Qual o impacte socio-cultural na sociedade Portuguesa?
• Como tem sido a evolução na educação para os esquerdinos? • Que atitudes são tomadas na prevenção de acidentes?
– Objectivos –
Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida (quotidiano, saúde e profissional) dos esquerdinos.
Objectivo Principal
– Objectivos –
Objectivos Secundários
Caracterização da preferência manual na amostra, incluindo diferenças de lateralidade associadas a sexo, idade, escolaridade.
– Metodologia –
Tipo de Estudo – Descritivo e Transversal
População em Estudo – Indivíduos com mais de 14 anos de idade Descrição da Amostra – Amostra de Conveniência da População-Alvo
Critérios de Inclusão •Idade ≥ 15 anos
•Presença no local e momento do questionário •Disponibilidade para responder ao questionário •Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita •Ausência de deficiência dos membros superiores
Critérios de Exclusão
•Questionários considerados insuficientemente preenchidos pelos investigadores, designadamente aqueles em que não seja possível aproveitar respostas de nenhum apartado de questões.
– Metodologia –
Colheita de Dados
•Questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual •Pré-teste
Descrição das Variáveis
•Caracterização sócio-demográfica dos inquiridos;
•Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto por Stephen M. Williams) e mudança forçada de mão utilizada para escrever; •Avaliação da convivência com esquerdinos;
•Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos (dificuldades em tarefas, manuseamento de objectos, saúde)
– Cronograma –
– Bibliografia –
1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. Murdoch Books, 2007.
2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and Handedness. Epidemiology. 2007, Vol. 18, pp. 191-193.
3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350.
4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272, pp. 25-28.
– Bibliografia –
16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.
18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687. 19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.
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