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Comunicação na disputa pela hegemonia:contradições da imprensa sindical

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Academic year: 2021

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(1)CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO. Comunicação na disputa pela hegemonia contradições da imprensa sindical. Gabriela Torres. Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação do Prof. Luiz Anastácio Momesso. Recife, maio de 2006.

(2) Gabriela Torres Barros. Comunicação na disputa pela hegemonia contradições da imprensa sindical. Trabalho apresentado ao Programa de PósGraduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco como um dos requisitos para obtenção de título de mestre, sob orientação do Prof. Luiz Anastácio Momesso.. Recife, 2006.

(3) Barros, Gabriela Torres Comunicação na disputa pela hegemonia: contradições da imprensa sindical / Gabriela Torres Barros. – Recife : O Autor, 2006. 193 folhas: il., fig., quadros.. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Comunicação, 2006. Inclui bibliografia, apêndices e anexos. 1. Jornalismo. 2. Comunicação. 3. Movimentos sociais. 4. Sindicalismo. 5. Imprensa e política. I.Título. 070 070. CDU (2.ed.) CDD (22.ed.). UFPE CAC200623.

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(5) À todos aqueles que teimam em sonhar, aos que morrem lutando, aos que se doam, aos loucos e poetas, aos que acreditam que a vida é boa demais para desitirmos dela..

(6) Agradecimentos. Aos que trilharam o árduo e prazeiroso caminho acadêmico ao meu lado. Aos que tiveram paciência e serenidade e que, com isso, ensinram-me. À Daniela Torres por existir. À Heloisa Quintão pela força. À Luiz Momesso pela tranquila sabedoria. À Ailson Druck por ter sido o melhor avô do mundo. Aos sindicatos e amigos que tão gentilmente colaboraram com essa pesquisa..

(7) Resumo. Este trabalho analisa a comunicação produzida pelo movimento sindical como ferramenta na disputa por espaço social e por construção de projeto social. Debruça-se sobre o discurso sindical com suas formas de representação,. estruturas. argumentativas,. processos. dialógicos. de. construção. Para isso, analisa matérias jornalísticas de dois diferentes sindicatos, o Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf) e o. Sindicato Nacional dos Docentes das. Instituições de Ensino Superior (Andes), durante o início do ano de 2003 em meio à discussão e ao embate político sobre a mudança na estrutura previdenciária pública brasileira. Palavras-chaves: Comunicação social, imprensa sindical, movimento sociail. Abstract This project analyzes the communication produced by the union movement as a tool for disputing social space and social project construction. It leans over the unions speech with its forms of representation, argumenting structures and dialogical processes of construction . For this purpose its analyzes news articles of two different unions The Federal Judiciary Workers Union (Sintrajuf) and The National Union of The Professors of Higher Education Institutions (Andes), at the beginning of the year 2003 during the political discussion and political battles about the changes in the structure of the Brazilian public pevidenciary system.. Keywords: Social Communication, Union Press, Social Movement..

(8) “Agora, entre esses seres humanos mais livres, tem havido, durante as últimas oitenta ou noventa gerações, uma relevante concordância quanto ao ideal individual. Os escravizados têm mantido erguido ainda, com admiração, tal modelo ideal de homem, certamente. No entanto, em todas as épocas e em todos os lugares, os que alcançaram a libertação se têm expressado a uma só voz.” (HUXLEY, O despertar do mundo novo, 1937:09).

(9) SUMÁRIO INTRODUÇÃO: COMUNICAÇÃO NO CENÁRIO DE DISPUTA SOCIAL. 10. 1. METODOLOGIA 1.1. Jornais sindicais X site governista 1.2. Descrição do corpus 1.2.1. Site Reforma da Previdência 1.2.2. Jornal InformAndes 1.2.3. Jornal Tem Novidade. 14 14 19 19 20 21. 2. COMUNICAÇÃO SINDICAL NO CONTEXTO 2.1. Conceituando imprensa sindical 2.2. História da imprensa sindical no Brasil 2.3. Imprensa sindical hoje. 22 22 35 50. 3. COMUNICAÇÃO SINDICAL NO TEXTO . 3.1. Disputa ideológica e comunicação sindical 3.2. Análise dos textos do site do Ministério da Previdência Social 3.2.1. Análise do artigo Previdência justa e sustentável 3.2.2. Estrutura argumentativa do discurso governista 3.3. Análise dos textos dos jornais sindicais 3.3.1. Representações sociais 3.3.2. Verbos introdutores de opinião 3.3.3. Formas de representação 3.3.4. Estrutura argumentativa do discurso sindical 3.3.5. Temas abordados pela imprensa sindical 3.3.6. Dialogismo na comunicação sindical. 62 62 64 72 77 88 88 96 101 117 125 139. CONCLUSÃO: QUEBRANDO E REPRODUZINDO PADRÕES. 142. BIBLIOGRAFIA Livros Publicações Artigos Trabalho Acadêmico Jornais Artigos em meios eletrônicos. 148 148 152 152 153 153 154.

(10) TABELAS Tabela 1 – Contrução de imagens no discurso governista. 79. Tabela 2 – Imagens da Previdência Pública no momento presente e futuro. 83. Tabela 3 – Para o Andes – SN Berzoini afirma que reforma não está definida. 97. Tabela 4 – Governo não assume retirada do PLP 9/99. 99. Tabela 5 – Imagem do governo no discurso sindical. 113. Tabela 6 – Previdência do presente e do futuro no discurso sindical. 120. Tabela 7 – Previdência projetada nos diferentes discursos. 122. Tabela 8 – Desvios do sistema previdenciário (governo X sindicato). 125. Tabela 9 – Previdência projetada (governo X sindicato). 132. Tabela 10 – Imagem da Previdência no discurso sindical. 135. APÊNDICE Entrevista 1 – Vito Giannotti. 155. Entrevista 2 – André Pericione. 159. Entrevista 3 – Hélcio Duarte. 161. Entrevista 4 – Alexandre Lopes. 162. Entrevista 5 – Guilherme Marques. 164. Entrevista 6 – Kátia Ferreira. 169. Entrevista 7 – Josevaldo Cunha. 172. Entrevista 8 – Antônio Lins (Tato). 174. Entrevista 9 – Kátia Saraiva. 179.

(11) ANEXOS Anexo 1 – InformAndes, fevereiro 2003 Capa: Servidor público pode parar. 183. Anexo 2 – InformAndes, março 2003, p.3 Matérias: Governo não assume retirar do PLP/99 Servidores públicos definem dia de luta contra o PLP 9/99. 184. Anexo 3 - InformAndes, janeiro 2003, p.6 Matérias: Andes – SN Tem encontro com Cristovam Para Andes – SN, Berzoini afirma que reforma não está definida. 185. Anexo 4 - InformAndes, fevereiro 2003, p.4 Matéria: Campanha Salarial 2003 está nas ruas – 46,95% já. 186. Anexo 5 – Tem Novidade, março 2003 Capa: Reforma da Previdência Servidores públicos são privilegiados. 187. Anexo 6 – Tem Novidade, março 2003 Matérias: A lenda do déficit da Previdência Fundos de Previdência servem ao mercado financeiro. 188. Anexo 7 – Tem Novidade, março 2003, p.3 Matérias: Contribuição dos inativos precisa ser barrada Mobilização pelo arquivamento do PL 09/99 Os riscos do sistema de contribuição definida. 189. Anexo 8 – Tem Novidade, fevereiro 2003 Capa: Reforma da Previdência ameaça direitos do servidor público. 190. Anexo 9 – Site Reforma da Previdência Página principal do site. 191. Anexo 10 – Site Reforma da Previdência Página da sessão opinião (artigos). 192.

(12) INTRODUÇÃO:. COMUNICAÇÃO. NO. CENÁRIO. DE. DISPUTA SOCIAL Penetrar no mundo sindical, com suas contradições, perspectivas e dificuldades, por meio de sua linguagem, de suas produções textuais; estender o olhar sobre sua dinâmica social e formas de expressão; compreender como o movimento sindical utiliza a comunicação em meio à dinâmica social são as principais motivações que impulsionam a pesquisa Comunicação. na. disputa. pela. hegemonia:. contradições. da. imprensa sindical. Por meio da análise de textos jornalísticos sindicais, pretende-se entender a utilização da comunicação pelo sindicato como meio de expressão de idéias, de versões de fatos e de disputa da hegemonia na sociedade. Hegemonia é entendida, partindo-se do conceito gramsciano, como a direção intelectual, moral, cultural e ideológica de uma classe ou grupo de classe sobre outras classes ou sobre toda a sociedade. Essa direção ou domínio pode se dar por coerção, força ou persuasão, legitimação e consenso. [...] podem-se fixar dois grandes ‘planos’ superestruturais: o que pode ser chamado de ‘sociedade civil’ (isto é, o conjunto de organismos designados vulgarmente como ‘privados’) e o da ‘sociedade política ou Estado’, plano que corresponde, respectivamente, à função de ‘hegemonia’ que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de ‘domínio direto’ ou de comando, que se expressa no Estado e no governo ‘jurídico’ (GRAMSCI, 2004, v. 2, p. 20 - 21).. A comunicação desenvolve papel crucial nesse processo de disputa de poder e de domínio de uma classe ou bloco social sobre as demais, uma vez que é por intermédio dela que valores são revelados, ideologias transmitidas, persuasões realizadas. O papel da comunicação se dá como mecanismo de elaboração e difusão de cultura, de modelo de concepção. 10.

(13) de. mundo,. levando-se. em. conta. que. a. hegemonia. é. disputada. principalmente na sociedade civil, nos âmbitos cultural e intelectual. Teun. van. Dijk,. na. conferência. “A. comunicação. na. disputa. pela. hegemonia” publicada pela Universidade del Vale, ressalta:. El poder moderno es el que se ejerce por medio del control mental, esta es la manera indirecta de controlar los actos de otros. El poder moderno consiste en influenciar a los otros por medio de la persuasión para lograr que hagan lo que quiere (1994, p. 11).. O texto da conferência ministrada por Van Dijk traz à tona essa visão da comunicação como ferramenta empregada no alcance de espaço social e poder por parte dos grupos sociais. A fim de estudar essa dinâmica da comunicação como ferramenta de disputa pela hegemonia, a pesquisa se centra no episódio da Reforma da Previdência Social, durante o ano de 2003, o qual suscitou embates ideológicos entre sujeitos sociais, principalmente sindical e governista. Foram escolhidos jornais sindicais pertencentes a entidades cuja atuação se destacou, ao longo do processo da Reforma da Previdência, com mobilizações, publicações e ações com vistas a atingir ora segmentos específicos, ora grupos sociais mais amplos ou toda a sociedade. Parte-se da hipótese de que os impressos jornalísticos dessas entidades refletem o embate. de. idéias. e. posições. em. torno. da. reforma. do. sistema. previdenciário. A comunicação nesse cenário de disputa de convencimento configura-se em ferramenta essencial para todos os sujeitos sociais envolvidos no embate. A forma como o movimento sindical se apropria da comunicação para se posicionar, colocar suas idéias e valores, contra-argumentar, e, enfim, disputar um modelo de sociedade fortalecendo-se como sujeito é o foco dessa pesquisa, que também procura verificar até que ponto essa comunicação produzida pelo movimento sindical não reproduz valores. 11.

(14) hegemônicos, ainda que tente combatê-los ou exercer postura crítica em relação a eles. [...] uma análise crítica das formas de comunicação das classes subalternas deve ter como objetivo verificar até que ponto essa comunicação se distancia do modelo de dominação das classes hegemônicas, no âmbito dos sindicatos, partidos, associações, etc; ou se realmente exercita novas formas de democratização da informação (FERREIRA, 1995, p. 17).. A partir de um olhar prolongado sobre a imprensa sindical e de reflexões acerca de aspectos textuais e de como esses aspectos podem refletir um âmbito maior no qual o sujeito se encontra imerso, interagindo com outros sujeitos sociais, ganhou corpo, para desenvolvimento de pesquisa, o questionamento de como o movimento sindical estaria se utilizando da comunicação no processo de disputa social. A pesquisa pretende traçar um perfil geral da comunicação sindical e aproximar-se de suas problemáticas, compreendendo melhor a relação entre o sujeito e sua forma de expressão e, ao mesmo tempo, a estratégia de comunicação que esse sujeito constrói para se fazer presente socialmente 1 . Com base nesse tema de pesquisa foram estabelecidas as seguintes hipóteses: a) a comunicação produzida pelo sujeito, no caso o sindicato, reflete aspectos desse sujeito, como valores, ideologia, posturas políticas e sociais, embates, contradições; b) o. discurso. do. meio. sindical. reproduz,. mesmo. que. não. intencionalmente, aspectos do discurso dominante ao qual visa dirimir. Foi escolhido, para efeito de estudo, o episódio da reforma da Previdência Social que teve lugar durante o ano de 2003 ocupando fóruns de O termo “sujeito social” é utilizado para expressar a concepção de sujeito, representado tanto individualmente quanto na figura de entidades representativas, órgãos sociais ou públicos (como sindicatos, governo, ministério, câmara legislativa, etc.), numa perspectiva de inserção na sociedade ou na esfera pública. O conceito de esfera pública é descrito por Jürgen Habermas em sua tese de doutorado “Mudança Estrutural na Esfera Pública” como espaço de discussão entre iguais. Há, portanto, uma suposição de que os sujeitos estejam em igualdade de condições para discutir e trocar idéias de interesse social.. 1. 12.

(15) discussões, assembléias, pautas no Congresso, debates, mobilizações e matérias nos meios de comunicação sindicais e da grande mídia. Jornais sindicais, produzidos pelo segmento do movimento sindical auto-intitulado classista 2 , filiado à Central Única dos Trabalhadores - CUT - na época da pesquisa (ano de 2003) e de categorias pertencentes ao setor público, foram escolhidos para análise de matérias jornalísticas sobre o assunto reforma da Previdência. A escolha desse perfil de sindicato (classista, predominantemente do setor público e filiado à CUT) se deu por serem entidades que se caracterizam como atuantes no cenário político-social, críticas ao sistema hegemônico e buscadoras de uma comunicação que visa mobilizar a categoria a lutar por seus direitos e disputar versões de fatos e ideologias 3 na sociedade.. Há várias correntes dentro dos sindicatos classistas, em linhas gerais, caracterizadas por privilegiar a organização nas bases, por serem legitimadas por suas categorias; por serem críticas a estrutura sindical onde atuam; por estimularem a participação dos trabalhadores; por defenderem a independência dos sindicatos frente ao Estado e aos empresários; por procurarem ampliar e melhorar sua intervenção na categoria; pela luta por melhores condições de vida para os trabalhadores. 3 Entende-se por ideologia um sistema de crenças ou práticas simbólicas, sendo que essas concepções e representações, mesmo simbólicas, traduzem relações de poder e dominação (VAN DIJK, 1994). 2. 13.

(16) 1. METODOLOGIA 1.1. Jornais sindicais X site governista Inicialmente foi previsto o estudo de três jornais sindicais. Além do Tem Novidade, do Sindicado dos Servidores Públicos do Judiciário de Pernambuco – Sintrajuf – PE, e do InformAndes, do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior - Andes – SN foi planejado o estudo do Jornal Sindsprev, do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Rio de Janeiro – Sindsprev. O Tem Novidade foi selecionado pelo papel de destaque desenvolvido por seu Sindicato, o Sintrajuf – PE, ao longo de 2003 acerca do assunto da reforma da Previdência. Os trabalhadores do judiciário de Pernambuco aderiram à greve, promovida como protesto contra a reforma, participaram de manifestações e lideraram atos. A diretoria e representantes do Sintrajuf estiveram presentes em frentes de discussão entre entidades sindicais, com o objetivo de unir categorias para fortalecimento do movimento em torno das reivindicações sobre a reforma. O jornal InformAndes foi escolhido também pelo papel de destaque do Andes – SN em todo o território nacional. A maior parte das universidades públicas filiadas ao Andes aderiu à greve, proposta pela entidade como forma de pressionar o governo, realizou atos locais, regionais e nacionais, promoveu discussões. O Sindicato Nacional participou de audiências e reuniões com representantes do governo e foi um dos organizadores de duas grandes passeatas realizadas em Brasília contra a reforma da Previdência, a qual juntou entidades de todo o País e dos mais diversos segmentos sociais. O papel desempenhado pelo Andes no episódio da reforma influenciou entidades, política e ideologicamente, e fortaleceu o movimento sindical e social. Por sua vez, os servidores da saúde do Rio de Janeiro foram responsáveis por boa parte da movimentação de resistência à reforma nesse Estado.. 14.

(17) Lideraram mobilizações e atividades conjuntas com outros sindicatos, promoveram discussões e abriram canal de discussão com o governo estadual e federal, tudo isso graças à atuação ativa do Sindsprev. A intenção, ao se escolher os jornais dessas entidades, foi observar como esses impressos se portam nesse período; como refletem, em seus textos, comportamentos e posturas adotadas por suas entidades; como o movimento sindical, que participou ativamente de um embate, constrói seu discurso. Com o decorrer dos estudos dos textos dos jornais, percebeu-se que o discurso sindical sobre a reforma da Previdência contrapõe-se a um outro discurso – o hegemônico – representado pelo discurso do governo. Para melhor entender esse embate, mediado pela comunicação, resolveu-se contrapor o discurso construído pelos sindicatos ao discurso governista. O site Reforma da Previdência (www.previdenciasocial.gov.br/reforma), construído pelo Ministério da Previdência Social e disponível na Internet desde janeiro de 2003, foi escolhido como fonte representativa desse discurso governamental.. O site traz seções explicativas sobre a. Previdência e sua proposta de alteração, quadros comparativos entre a Previdência atual 4 e a futura, depoimentos de políticos e especialistas, artigos assinados, que também foram veiculados em outros veículos (sites, jornais ou revistas). A facilidade de acesso ao conteúdo desse meio, a quantidade e a representatividade dos textos encontrados foram determinantes na escolha dos textos do site para a pesquisa. A pesquisa copiou todo o conteúdo disponível do site da Reforma da Previdência, no dia 10 de outubro de 2005, e organizou os textos de acordo com a divisão no site por seções. Foram analisados os textos de 4. Como “Previdência atual” entende-se a Previdência em 2003 antes de ser modificada, ou seja, a Previdência atual para os textos analisados de janeiro a março de 2003. A futura Previdência consiste na Previdência pós-reforma.. 15.

(18) abertura das seções e dos artigos produzidos pelo ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini e por demais integrantes do governo e do Partidos dos Trabalhadores que foram também publicados em outros meios de comunicação na época da discussão da reforma. Textos técnicos não foram analisados por não ser de interesse da pesquisa se ater a dados (veracidade ou procedência dos mesmos), nem a especificidades da Previdência Pública e da proposta de reforma. A pesquisa se detém diante da colocação de argumentos e versões de fatos, da construção de raciocínios e representação de sujeitos sociais. Os textos do site escolhidos para análise da pesquisa pertencem às seções: A Reforma, O que muda, Perguntas Freqüentes e Opinião. Embora o conteúdo da seção Opinião conste de artigos assinados pelo ministro da Previdência, por membros do Legislativo e por especialistas e depoimentos de personalidades e especialistas sobre a Previdência e sua reforma, foram selecionados, para efeito de estudo, apenas os artigos de autoria do, à época, ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, e do presidente do Partido Nacional dos Trabalhadores, José Genoíno. A preferência por esses autores se dá por serem eles membro do Poder Executivo, no caso de Ricardo Berzoini, o chefe do Ministério responsável pela Previdência Social, e representante do Partido que se encontra no Poder, compondo a base do governo. Com o acréscimo dos textos da reforma da Previdência, houve aumento considerável do material a ser analisado pela pesquisa. Como os jornais sindicais são praticamente mensais ao longo de 2003 (há alguns meses sem publicação), os três sindicatos juntos somavam cerca de 36 jornais, com os textos do site, totalizaram um universo muito grande de texto a ser analisado. A necessidade de nova definição para viabilizar a pesquisa implicou a restrição dos meses das publicações analisadas, que passaram a ser janeiro, fevereiro e março, início do embate entre o movimento sindical e o governo, e o Jornal Sindsprev foi ejetado da pesquisa.. A. 16.

(19) desistência de se trabalhar com o jornal do Sindsprev se deveu à priorização de jornais com o perfil do InformAndes e do Tem Novidade, de abrangência nacional local, do Estado de Pernambuco respectivamente. Com isso, o material analisado reduziu-se para seis jornais sindicais (com matérias, artigo e editorial sobre a reforma) e cinco artigos e textos do site. Ao longo do processo de coleta do material de pesquisa (documentos sobre as entidades, suas histórias e principais ações, materiais impressos produzidos como informes, panfletos, jornais, etc.) e do estabelecimento de contato com as entidades sindicais, foram realizadas entrevistas com dirigentes, jornalistas e estudiosos que trabalham com o movimento ou com comunicação sindical 5 . A coleta de material ajudou a compreensão da relação do sindicato com sua produção midiática, embora as análises tenham se restringido às matérias dos jornais relativas à reforma previdenciária. As entrevistas deram suporte a informações sobre as entidades, ajudando a. aprofundar. informações. discussões,. sobre. as. esclarecer. instituições,. pontos seus. específicos. jornais. e. o. e. levantar. processo. de. comunicação. Trechos de entrevistas, inclusive com jornalistas ligados ao Sindsprev, são utilizados na pesquisa com o intuito de ampliar a visão sobre o papel da comunicação no sindicato, numa tentativa de enriquecer o conceito de comunicação sindical a partir do ponto de vista de quem trabalha com ela. Foram entrevistados: jornalistas do Sindsprev RJ: André Pericione, Hélcio Duarte, a dirigente Kátia Ferreira; o dirigente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Alexandre Lopes; membros do Núcleo Piratininga de Comunicação (RJ), que realizam estudos e trabalhos na área sindical: Vito. 5 As entrevistas transcritas podem ser lidas na íntegra ao final da dissertação (páginas 155 a 182).. 17.

(20) Giannotti, Guilherme Marques, no mês de novembro de 2004, na cidade do Rio de Janeiro. Do Andes – SN foram entrevistados: Antônio Lins de Andrade, o Tato, na época, da direção nacional, em fevereiro de 2005; Esmeraldo Fernando da Cunha, da direção nacional e da direção da Seção Sindical do Andes –SN, na Paraíba (ADUFPB), em agosto de 2005. Do Sintrajuf, foram entrevistadas a dirigente sindical Kátia Albuquerque e a jornalista Renata do Amaral, em maio de 2005. Mesmo o Jornal do Sindsprev não mais fazendo parte do corpus da pesquisa, depoimentos de seus dirigentes e jornalistas são utilizados como ponto de reflexão a respeito da relação do sindicato, de maneira geral, com seu produzir comunicativo. Para efeito final de estudo, foram definidos como corpus de análise da pesquisa matérias jornalísticas sobre a reforma da Previdência dos dois jornais (geralmente factuais), o editorial do InformAndes e os artigos de opinião do Tem Novidade; do site da Reforma da Previdência foram escolhidos textos das seções e artigos de opinião de representantes do governo ou do Partidos dos Trabalhadores, datados de janeiro a meados de maio de 2003 (com exceção de um artigo do ministro da Previdência de 1 de maio). Para análise dos textos selecionados, foram utilizados autores como Bahktin. (1981),. Dominique. Maingueneau. (1993. e. 2002),. Antônio. Marcuschi (1991), Helena Brandão (19997), Diana Luz Pessoa de Barros (2001) como suporte. Na linha da análise crítica do discurso são usados Norman Fairclough (2001) e Teuns Van Dijk (1996). A fim de levantar um breve histórico do movimento sindical no Brasil e de sua imprensa foram utilizados autores como Nazareth Ferreira (1995), Luiz Momesso (1997), Vito Giannotti (2002), Jácome Rodrigues (1997), André Scharlau Vieira (1996), Boito Júnior (1991), Janine Ribeiro (2000).. 18.

(21) Obras de autores como Antônio Gramsci (2004), Hannah Arendt (2003), Jürgen Habermas (1984), John Thompson (1995) ajudaram a esclarecer e amadurecer a visão sobre o papel dessas entidades e de sua produção midiática na sociedade, assim como a importância da comunicação nesse cenário social maior de interação entre diferentes sujeitos e interesses.. 1.2 Descrição do corpus 1.2.1. Site Reforma da Previdência (www.previdenciasocial.gov.br/reforma). O. site. da. Reforma. da. Previdência. (ver. anexo. 9,. p.. 163),. de. responsabilidade do Ministério da Previdência Social, vai ao ar no início do ano de 2003, permanecendo até os dias de hoje. Cumpre o perfil institucional com lay out limpo, navegação simples e informações objetivas sobre a Previdência Social e a proposta de reforma em questão. Seus textos, voltados para o público em geral, procuram não entrar em detalhes. a. respeito. da. reforma,. esclarecendo. dúvidas. básicas. e. oferecendo informações gerais sobre o processo da reforma, o conteúdo da mesma e a situação atual da Previdência Social (no ano de 2003).. 19.

(22) Sua página principal abre com as últimas notícias (datadas de dezembro de 2003), do lado esquerdo do site, há menu lateral com as seções: “PEC – Proposta de Emenda Constitucional”, “Conheça a verdade sobre a reforma da Previdência”, “Cartilha ‘Mudar a Previdência: uma questão de justiça’”, “Dê sua sugestão para a reforma”, “Fale Conosco” e “Mapa do site”. No menu superior, localizam-se as seções: “A Reforma”, “O que muda”, “Perguntas Freqüentes e Opinião”. Do lado direito da página inicial, embaixo da foto de um agricultor, encontra-se um box de questionário com a chamada “Confira os resultados das enquetes feitas entre 20 de julho e 24 de setembro de 2003”. Há, em seções como A Previdência atual e O que muda, intenso uso de números e dados, utilizados em textos argumentativos ou como fonte de informação para o leitor (especialmente em quadros comparativos entre o sistema de previdência público e o privado ou entre o sistema atual, em 2003, e o futuro - depois da reforma).. 1.2.2. Jornal InformAndes De perfil aguerrido e crítico, a publicação mensal InformAndes (ver anexo), do Andes, é distribuída aos sindicalizados ativos e aposentados pelas mais de 50 Associações Docentes – que representam o Sindicato Nacional nas suas várias seções sindicais localizadas próximas às universidades.. De. lá,. cada. AD. se. encarrega. de. distribuir. o. InformAndes, levando-o aos sindicalizados, geralmente junto com informe ou jornal produzidos localmente. O. impresso. foca. as. defesas,. principalmente. das. áreas. social. e. educacional, sem deixar de lado questões mais amplas da classe trabalhadora e da sociedade. Em 2003, fizeram parte da pauta do jornal, além de questões específicas da categoria docente, como a Campanha. 20.

(23) Salarial, temas de cunho mais amplo como reformas Universitária, Sindical e Previdenciária, questão da Alca e campanhas contra a violência e de cunho ecológico. As matérias do Informandes se utilizam de palavras de ordem, charges de humor e frequentemente são postas no jornal junto com outras matérias sobre o mesmo assunto – matérias vinculadas. Possui seções interativas. como. cartas. e. artigos. de. opinião,. além. do. editorial,. geralmente assinado por alguém do movimento docente (da mesma linha política do jornal). Suas cerca de oito páginas trazem as seções fixas: Editorial, Carta do Leitor, Momento Atual (matéria sobre fato político ou breve análise de conjuntura), Artigo (geralmente de professor universitário), Internacional (matérias com notícias do exterior colocadas sob um prisma diferente do tratado pela grande mídia).. 1.2.3. Jornal Tem Novidade Os 2.500 exemplares mensais do Sintrajuf, o Tem Novidade (ver anexo), são distribuídos por funcionários a todos os postos dos servidores públicos do judiciário do Estado de Pernambuco; são também enviados, por correio, a outras entidades representativas e sindicatos. O jornal, de oito páginas, debruça-se sobre o tema de reforma da Previdência com bastante ênfase ao longo de 2003. Seu Sindicato desempenha papel de destaque no Estado de Pernambuco durante o episódio da reforma em termos de mobilizações, reivindicações e ações na mídia e na rua. O Tem Novidade possui oito folhas de tamanho ofício, capa e contracapa coloridas e miolo bicolor (preto e mangenta). Seu cujo lay out é leve e limpo. Esporadicamente usa charges com críticas humoradas e desenhos. 21.

(24) explicativos ao lado de matérias e bastante uso de quadros elucidativos para destacar informações ou destrinchar acontecimentos. As matérias se assemelham. ao. estilo. da. grande. imprensa,. com. tendência. à. imparcialidade e a um tom mais objetivo, praticamente não usa frases de efeito. Costuma trazer balancete financeiro do Sindicato, calendário de atividades mensais e seções específicas da categoria como: Curtas e Justas (notícias sobre o sindicato e o judiciário em Pernambuco), Andamento de Processos Judiciais, Troca-troca (notinhas de contato para servidores que desejam mudar de local de trabalho). Possui. matérias. que. abordam. temas. políticos. de. interesse. mais. abrangente e temas mais próximos aos servidores do judiciário de Pernambuco. Procura não ser enfático em suas matérias, antes disso, tenta fustigar a dúvida e o questionamento no leitor, mas não perde o tom crítico especialmente diante de assuntos como a campanha salarial e a reforma da previdência, os quais o Sintrajuf trabalha bastante durante todo o ano de 2003. A linha editorial também é mais leve e faz pouco uso de artigos de opinião, menos de um por edição. É produzido na sede do Sindicato, rodado em gráfica terceirizada e distribuído por todo estado por meio de veículo que leva os exemplares até as cidades mais distantes – Petrolina, por exemplo. Apesar de ser apontado como ferramenta de mobilização pela jornalista responsável, o Tem Novidade não traz muitas chamadas, nem matérias sobre as assembléias, reuniões ou outros eventos da categoria. Na prática a mobilização parece ser feita por boletins semanais enviados via e-mail e fax e pelo boca a boca dos militantes.. 2. COMUNICAÇÃO SINDICAL NO CONTEXTO. 22.

(25) 2.1. Conceituando imprensa sindical A imprensa sindical representa a voz de um setor organizado da classe trabalhadora que fala para esse mesmo setor ou para esferas mais amplas dos trabalhadores. Trata-se da produção de textos e imagens impressos criada pelos trabalhadores (emissor) para os trabalhadores (receptor) com temas de interesse dos trabalhadores (mensagem). Definir a imprensa sindical como comunicação produzida para e pelos trabalhadores, contudo, não é suficiente para estabelecer os limites de suas especificidades, uma vez que as imprensas operária e partidária também são dirigidas ao proletariado. A comunicação operária, mais ampla que a sindical e partidária, abrange a produção comunicativa das classes subalternas, definida por Maria Nazareth Ferreira como imprensa de partidos políticos, associações culturais, sociedades de bairro, comunitárias. Ferreira (1988, p.06) define a imprensa operária como “sempre ligada a alguma forma de organização da classe trabalhadora, seja partido, sindicato ou qualquer outra espécie de agremiação, circulando de maneira diferente da imprensa burguesa, ou grande imprensa”. A imprensa partidária é produzida e mantida por organizações políticas, sendo considerada um braço importante da imprensa proletária. O segundo braço da imprensa operária, também pertencente ao núcleo central da imprensa de classe, é constituído justamente da imprensa sindical, produzida e mantida pelos sindicatos. Luiz Momesso destaca o papel da comunicação sindical na interação entre as pessoas, uma vez que sua criação e sustentação são frutos de um processo de construção coletiva, de troca de idéias, pensamentos, preocupações. Construção essa que não seria possível sem a comunicação, seja ela interna e organizativa ou externa, jornalística, panfletária, mobilizadora.. 23.

(26) A comunicação sindical é entendida aqui como a inter-relação dos indivíduos entre si enquanto integrantes das entidades sindicais; a inter-relação dos indivíduos com as instâncias organizadas das suas entidades e vice-versa, a inter-relação das entidades sindicais entre si, da instituição sindical com outras instituições e com a sociedade. É a comunicação entendida como processo, incluindo os recursos mediáticos existentes (MOMESSO, 1997, p.41).. Outra especificidade da imprensa sindical é sua forma de circulação, bastante diferente da imprensa burguesa. Os jornais sindicais são distribuídos gratuitamente, para membros da categoria e para outros setores sociais, por funcionários, diretores ou militantes do sindicato. A tática de distribuição do jornal não só interfere na forma como este é digerido pelos leitores, como também reflete aspectos do perfil de atuação do sindicato. Tradicionalmente o jornal e outros impressos sindicais são entregues por militantes ou diretores diretamente nas mãos dos leitores em potencial (MOMESSO, 1997, p.169). A entrega desse material funciona, então, como ferramenta de abordagem e aproximação da militância com os sindicalizados, reforçando o trabalho de interação e de mobilização da categoria. Ao entregar o jornal ao colega, determinada notícia é comentada, fatos são ressaltados, reflexões incitadas e as chamadas para atos ou reuniões ganham mais proximidade com o leitor. Com a expansão das entidades sindicais e conseqüente profissionalização da comunicação dos sindicatos, a partir do início da década de 80 (MOMESSO, 1997, p.171), boa parte das entidades passa a adotar uma distribuição feita por seus funcionários. O uso do sistema de correio também aumenta, principalmente para envio a aposentados e segmentos mais distantes dos pontos de distribuição 6 . Se, por um lado, a entrega ganha em agilidade e praticidade, por outro, há diminuição do contato 6. O Informandes, por exemplo, é enviado por correio para as seções sindicais e estas ficam encarregas de re-distribuir os jornais aos associados. Os professores que estão em local de trabalho geralmente recebem os jornais pelos seus departamentos ou depositados nos escaninhos pelos funcionários, já os aposentados os recebem por correspondência. O Tem Novidade é enviado aos postos de trabalho dos servidores do Judiciário de carro e de lá colocado à disposição para os interessados. Aposentados e sindicalizados fora dos locais de trabalho recebem por correio. Ambos os jornais também são enviados por correio para outras entidades e segmentos sociais.. 24.

(27) direto entre sindicalistas e sindicalizados e distanciamento entre a categoria de base e sua entidade. A desmobilização e a diluição da atuação da militância, também a partir da segunda metade de década de 80, são outros fatores nesse processo de afastamento (GIANOTTI; SANTIAGO, 1998, p.96). A forma de distribuição dos veículos de comunicação ainda hoje é alvo de críticas e polêmica dentro do movimento sindical. Contudo, em momentos de greves ou mobilizações, dirigentes e militantes tendem a recorrer à entrega tête-à-tête como forma de se aproximar das pessoas e melhor influenciá-las a participar. A dinâmica de distribuição também tem conexão com a forma de produção, uma vez que os textos são resultados do conjunto de discussões e preocupações produzidas pela coletividade e destinadas à coletividade: “O jornal é um instrumento de informação, conscientização e mobilização; o receptor não é um elemento passivo, mas alguém que tem interesses comuns e participa da mesma forma de organização” (FERREIRA, 1988, p.06). A pouca receptividade em relação ao informe sindical pode refletir dificuldade de identificação do leitor com as problemáticas abordadas, sendo indício do início de uma comunicação distante dos interesses e necessidades da categoria. À comunicação também cabe informar, relatar fatos, fornecer dados, ao mesmo tempo em que materializa formas de representação, valores e ideologias 7 , e constrói a imagem da instituição e do movimento sindical diante da sociedade. Nesse sentido, a comunicação produzida, fruto do ideário de uma coletividade, também possui o intuito de formar opinião, sensibilizar a sociedade e disputar versões dos acontecimentos com a grande imprensa e com outros sujeitos sociais. Daí o forte caráter. 7 Ideologia no sentido de conjunto de idéias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos (Bobbio, 1995, p.585).. 25.

(28) argumentativo de textos, pelo intuito de despertar na categoria e na sociedade questionamentos e debates. Promover. manutenção. de. direitos. antigos. e. aquisição. de. novos,. conscientizar a classe trabalhadora e sociedade para a luta de classe, motivá-las a agir coletivamente com base em ideologia e valores são também objetivos da imprensa sindical. Nesse caso, a comunicação ajuda a organizar e mobilizar a categoria, chamando para assembléias e atos públicos, instigando debates, propondo questões. Ao desenvolver essas funções, a imprensa sindical expressa a visão de um segmento social, coloca vozes de sujeitos que dificilmente encontram espaço nos meios da grande imprensa e que se utilizam de canais específicos, contribuindo, assim, para a pluralização de vozes no País. Ao retratar esses sujeitos e expressar-lhe voz, a imprensa sindical contribui para a construção de sua auto-imagem, fortalecimento da auto-estima e desenvolvimento da cidadania.. A comunicação sindical pode ser vista. como mecanismo de atuação, manutenção e aquisição de espaço social pelo sujeito social sindicato. O sindicato se utiliza da comunicação para se firmar como sujeito social, fazendo-se presente nas discussões de idéias, proposições de acontecimentos e disputando espaço com outros grupos sociais por meio do debate de idéias e contestação de versões. Vladimir Llich Lênin, em “La información de clase”, debruça-se sobre o tema da comunicação e de sua importância para o movimento organizado dos trabalhadores: El papel del periódico no se limita, sin embargo, a difundir ideas, a educar políticamente y a ganar aliados políticos. El periódico es no sólo un propagandista y un agitador colectivo, sino también un organizador colectivo. [...] Con ayuda del periódico y en relación con él, se irá formando por sí misma la organización permanente, que se ocupe no sólo del trabajo local, sino del trabajo general y regular, que se acostumbre a sus miembros a seguir atentamente los acontecimientos políticos, a valorar su significación y su influencia sobre los diversos sectores de la población, a elaborar los métodos. 26.

(29) adecuados que permitan al partido revolucionario influir sobre esos acontecimientos (LENIN, 1973, p.44).. O sindicato escreve para se constituir como forma de centrar e expressar os ideários de seus membros; para se comunicar com grupos sociais, seja para informar, convencer ou mobilizar. O sindicato escreve para existir socialmente. Sua imprensa está tão relacionada a esse campo do agir social, possui tarefa tão importante no funcionamento das atividades e nas dinâmicas sindicais que é considerada “o coração” do sindicato. A existência da instituição sindical por si só já implica num processo de comunicação. Não se constrói uma entidade sindical sem esse processo. Ele tem características bastante específicas. Origina-se do próprio relacionamento dos trabalhadores em seus locais de trabalho – fábricas, escritórios, bancos, hospitais, repartições públicas – onde desenvolvem a forma mais simples e primária de ação coletiva (MOMESSO, 1995, p.76).. Essa proximidade da comunicação sindical com o ambiente de trabalho explica o seu desenvolvimento e sua forma de atuação paralelamente à história do próprio sindicato. A imprensa sindical é também responsável por registrar e difundir a história do sindicato, dos movimentos sociais trabalhistas e das classes trabalhadoras que nem sempre têm suas histórias ou suas versões de fatos contadas ou documentadas pela grande mídia e por órgãos hegemônicos. Uma vez que o movimento sindical tanto influencia quanto é influenciado pelo contexto social no qual está imerso, atuando primordialmente na esfera pública, a divulgação dos fatos, a história contada sob seu ponto de vista são fundamentais para ampliação de suas ações e para sua penetração no tecido social. As esferas públicas de discussão, segundo a socióloga e escritora Hanna Arendt (2003), constituem um espaço onde atores sociais ouvem, têm espaço para falar e são ouvidos. No Brasil a opinião pública, composta por imprensa, formadores de opinião, entidades sociais, personalidades e autoridades de visibilidade, configura-se numa esfera de participação de sujeitos sociais com influência nas esferas de decisões do País, sejam elas. 27.

(30) econômicas,. política. ou. jurídicas.. Os. sujeitos. sociais. existem. politicamente quando atuam na esfera pública – ouvindo, falando, contribuindo em projetos sociais, opinando em decisões coletivas, etc. Arendt (2003, p.50), em “A condição humana”, aponta a esfera social como responsável pelo aniquilamento da esfera pública, que engloba tanto a esfera pública quanto a privada, esmagando-as. A super desenvolvida esfera social é caracterizada como a sociedade de massa onde. as. pessoas. estão. tão. conformadas. (leia-se. alienadas). que. participam pouco de discussões ou atividades coletivas. “O fenômeno do conformismo é característico do último estágio dessa evolução moderna”, sentencia a autora. Com efeito, Janine Ribeiro reforça essa leitura da alienação dos sujeitos, que, por estarem alheios ao entorno e a si mesmos como sujeitos sociais, deixam de atuar socialmente. Conseqüentemente esse processo contribui para a marcha de fragmentação por que passa a sociedade brasileira: É óbvio que o país não está dividido em duas realidades, como os "dois Brasis" de que se falou em décadas passadas. O problema é esse discurso que de tão difundido se tornou dogma de fé, segundo o qual nossa economia está cindida de nossa vida social - como se uma não implicasse a outra. O grave está nessa exclusão a que são submetidos a vida social, o cotidiano, a teia das relações que se nutrem entre os homens - um tecido rico e fascinante, mas agora conotado pela imagem de coisa menor, atribuída por aqueles que se proclamam sérios, que se dizem a sociedade (RIBEIRO, 2000, p.24).. O espaço do movimento sindical no conjunto da sociedade também não tem apresentado crescimento significativo. Pelo contrário, o movimento tem perdido influencia social e política, mostrando-se fragilizado nos últimos anos. jornalistas,. Mesmo com todo esse arsenal composto por redações,. designers,. fotógrafos. e. a. produção. de. um. número. considerável de publicações e outros meios de comunicação, o movimento sindical não tem explorado esse potencial de forma eficiente. Suas idéias e versões de acontecimentos não circulam na opinião pública com a. 28.

(31) amplitude e a influência que as de meios da grande mídia, mesmo os sindicatos possuindo, algumas vezes, uma estrutura melhor e um corpo maior de profissionais de que alguns jornais, rádios ou sucursais. A imprensa sindical possui, hoje, uma estrutura de comunicação social bastante consolidada, como estabelecido está o movimento sindical no País. Segundo Vito Gianotti e Claudia Santiago (1998, p.30), a redação jornalística da CUT é a segunda maior do País, ficando atrás apenas da estrutura comunicacional das Organizações Roberto Marinho. São mais de 600 jornalistas só nas CUTs estaduais e nas federações nacionais. Mais de 300 profissionais encontram-se nos departamentos de comunicação dos sindicatos filiados à CUT. Dados da CUT Nacional de 1994 mostram que os seus sindicatos filiados publicavam juntos sete milhões de jornais ou boletins por semana (GIANOTTI; SANTIAGO, 1998, p.31). Para Vito Giannotti e Claúdia Santiago (1998, p.30), contudo, os 600 jornalistas da Central Única dos Trabalhadores e os 300 profissionais da área de comunicação de demais sindicatos filiados não se organizam de forma a montar uma rede conjunta e eficiente de informação. Dispersos, as redações e os jornais têm seu poder de disputa ideológica na sociedade diminuído. Outro fator de perda dessa influencia, apontado por pesquisadores como Nazareth Ferreira (1995, p.29), é o processo de distanciamento de discussões gerais dos trabalhadores e de questionamentos ideológicos em conseqüência de um aumento de foco na especificidade da categoria refletido nos impressos sindicais.. Ao optar pelo enfoque em temas. específicos da categoria, o jornal sindical, como meio de informação e como formador de opinião, distancia-se dos interesses da sociedade.. 29.

(32) Luiz Momesso (1997) cita questões econômicas e políticas de fundo como principais. responsáveis. por. essa. dificuldade. de. penetração. da. comunicação sindical no tecido social. A atual situação de recessão do movimento sindical pode ser atribuída, em parte à situação de crise econômica nacional, à falta de perspectiva da luta dos trabalhadores no quadro da política geral com a derrocada das experiências de construção do socialismo real, agravada pelo avanço do neoliberalismo cujas marcas se encontram em todas as esferas sociais. O movimento sindical ficou na defensiva, inclusive presenciando o crescimento em seu próprio seio de organizações orientadas pela ideologia neoliberal e manifestações de penetração do neoliberalismo até mesmo nas fileiras do sindicalismo cutista (MOMESSO, 1997, p.17).. O isolamento político que o sindicalismo vem sofrendo repercute na imprensa sindical, embora sua estrutura tenha crescido e os números de profissionais envolvidos e de edições publicadas tenham aumentado nos últimos anos. Guilherme Marques 8 , em entrevista para a pesquisa, ressalta o mau aproveitamento da potencialidade comunicativa do movimento sindical. O que mais chama atenção é como o movimento sindical produz mais jornal do que qualquer tiragem da Folha ou do Globo se somarmos todos os jornais do movimento, mas não consegue produzir, nem regionalmente, um jornal de massa. Os sindicatos do Rio poderiam se unir para produzir um único jornal e atingir a massa. O movimento também não abraçou jornais alternativos como o Brasil de Fato e outras revistas. Impressiona como, com toda a estrutura que existe hoje nos sindicatos – jornalistas, diretores de comunicação, fotógrafos, não se consegue fazer um jornal para disputar a hegemonia na sociedade. (MARQUES, dez, 2004, entrevista 05). Esse divisionismo e essa falta de articulação na comunicação do movimento. sindical. podem. refletir. uma. segmentação. do. próprio. sindicalismo e uma dificuldade deste em se re-significar para se fazer presente na sociedade atual. Para melhor compreender os impressos sindicais de hoje, é necessário entender o sujeito que o produz - os 8. Guilherme Marques a época da entrevista (dezembro de 2004) era mestrando em História no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (RJ), sua dissertação versa sobre a relação de sindicatos com planejamento urbano.. 30.

(33) sindicatos. Ao mesmo tempo em que, em se analisando esses impressos, é possível traçar características de seus sujeitos, captar seus valores objetivos e subjetivos, enxergar contradições. A fim de enriquecer os conceitos e as idéias colocados sobre a imprensa sindical seguem, extraídas das entrevistas realizadas pela pesquisadora, falas de jornalistas e escritores, que atuam na área sindical, a respeito da imprensa sindical e sua função. Cada fala é seguida de comentário com vistas a destrinchar questões relevantes como a imprensa sindical enquanto espaço de fala de grupos organizados, como mecanismo de fortalecimento de instâncias democráticas ou como ferramenta para defesa e conquista de direitos, de disputa de classe. Também são apontados aspectos específicos, como o papel da imprensa sindical na qualidade de fonte de informação, a especificidade ou amplitude do público da imprensa sindical e implicações na escolha desse público. A principal função do jornal sindical é dar uma consciência de classe, um sentido de unidade. É um instrumento fundamental de formação política e histórica e fonte de informação. É um jornal de serviços no sentido da divulgação de informações que contribuem de alguma forma para a melhoria da vida no sentido social e econômico. É também um instrumento de mobilização - pode ser usada para isso sem ser panfletária. (PERICIONE, dez, 2004, entrev. 02). A fala do jornalista André Pericione, do Sindsprev/RJ - Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social no Estado do Rio de Janeiro, coloca em primeiro plano o aspecto conscientizador da comunicação com sentido de disputa da classe e, em segundo, o de formação histórica e política dos trabalhadores. Seu raciocínio parte do princípio de que para haver conscientização de classe deve ocorrer uma formação histórica e política e a comunicação é instrumento em ambas ações (conscientizar e formar). A imprensa sindical é posta por Pericione como ferramenta não apenas para o público específico que a usa para, dentre. outros. objetivos,. formar-se,. mas. também. como. fonte. de. 31.

(34) informação e notícias para a grande imprensa, beneficiando um público mais externo e amplo. Por último, o jornalista cita a mobilização como uma das principais funções da imprensa sindical. Uma mobilização “sem ser panfletária”, enfatiza, tocando no ponto de a imprensa sindical hoje ter dificuldade em ser aceita, mesmo pela categoria a qual representa, por sua linguagem ser considerada fechada ou radical por parte do público. O intenso uso de siglas, palavras-chavões ou frases de ordem contribuem para essa sensação de linguagem “panfletária”. Acho que a principal função da imprensa sindical é dar voz aos que não têm voz. A segunda é contribuir na construção de uma nova consciência; e, depois, organizar a categoria. (DUARTE, dez, 2004, entrev. 03). O jornalista Hélcio Duarte, também do mesmo sindicato de André Pericione, o Sindsprev, coloca em primeiro plano o fato de a imprensa sindical dar voz aos que não têm voz. Hélcio levanta, então, a questão de que os movimentos sociais, em específico o sindical, não possuem voz nos espaços públicos, nem pelos meios de comunicação públicos e muito menos nos da grande mídia. Como os movimentos sociais não se sentem representados nos cenários político e social, na tentativa de serem ouvidos lançam, eles mesmos, seus meios de comunicação (programas de rádio, tevê, outdoors, carros de som, panfletos e o velho jornal). Outras ações de visibilidade são inserções pagas na grande mídia, com propagandas publicitárias ou programas de rádio e tevê. Poucas entidades têm acesso a essa opção, uma vez que o custo para veicular peça publicitária ou produzir programa, ainda que curto, em mídias como a tevê é bastante alto. Há também a crítica interna do próprio movimento que resiste em pagar a grandes empresas de comunicação para utilizar um espaço ao qual poderiam ter acesso por meios de licenciamentos garantidos pela legislação; e citam o direito de concessão dado pelo. 32.

(35) governo federal a algumas empresas e pessoas físicas em detrimentos de tantas outras entidades representativas que não conseguem acesso. Essa discussão, contudo, não será aprofundada neste trabalho. O importante aqui é a noção de que o movimento sindical faz uso de outros meios de comunicação que não apenas o jornal impresso e atua para que tenha direito a concessões de rádio e tevê. Há ainda contatos com parlamentares e autoridades do Poder Executivo na tentativa de conquistar simpatizantes para causas e projetos de leis direcionadas para o universo trabalhista e sindical, além de outros projetos de fundo social ou econômico mais amplos, os quais parte do movimento sindical abraça, como a participação do Brasil na Alca – Associação de Livre Comércio das Américas e as implementações das reformas (Universitária, Previdenciária, Agrária, Sindical) presentes no ano de 2003. O movimento sindical também procura contatar parlamentares, a fim de influenciá-los a tomar posicionamentos favoráveis aos trabalhadores diante de discussões ou votações no Congresso, ou simplesmente para afinar canais de comunicação com o governo, operações nem sempre bem sucedidas, uma vez que na disputa de interesses acaba prevalecendo o mais forte, e o sindicalismo tem se encontrado enfraquecido. No episódio da reforma da previdência, o movimento sindical contrário à aprovação do projeto de lei que propunha a mudança na Previdência contatou de várias formas deputados federais e senadores na tentativa de dissuadi-los a votar contra a proposta. Uma das ações, no Recife, constou em interpelar os parlamentares no aeroporto dos Guararapes, antes de embarcarem para Brasília, conversando e entregando jornais e informes sindicais. Matérias nos jornais sindicais trataram de posicionamentos e falas de políticos a cerca da Previdência e do projeto de lei, valorizando os que lhe eram favoráveis.. 33.

(36) O fortalecimento de instâncias democráticas, da opinião pública e de esferas públicas é outra forma de garantir voz aos que não têm voz e de desenvolver justiça social. As esferas públicas de discussão constituem um espaço onde atores sociais ouvem, têm espaço para fala e são ouvidos. No Brasil, a opinião pública, composta por imprensa, formadores de. opinião,. entidades. sociais,. personalidades. e. autoridades. de. visibilidade, configura-se numa esfera de participação de sujeitos sociais com influência nas esferas de decisões do País, sejam elas econômicas, políticas ou jurídicas. O sentido da comunicação sindical é levar centenas, milhares, milhões de trabalhadores à ação em defesa de velhos direitos ameaçadas ou conquista de novas vitórias. (GIANNOTTI, 1998, p.86). Para Vito Giannotti, a conscientização e a mobilização andam de mãos dadas. A fim de levar os trabalhadores à ação em defesa e em conquista, são necessários uma boa formação, uma melhor ainda articulação do movimento e o envio constante de informação. Vale ressaltar que todas as falas coletadas nesta pesquisa giram em torno do aspecto aparentemente ativo no ato da comunicação – a fala, a emissão - seja ao se reclamar da falta de voz do movimento sindical na sociedade, seja pela necessidade de informar, mobilizar e conscientizar que tem a imprensa sindical. Em nenhum momento é mencionado o ouvir, o receber a mensagem do outro, o sentir os outros sujeitos sociais – o que seria o aspecto aparentemente passivo do ato de comunicar. [...] a posição normal do homem no mundo, como um ser da ação e da reflexão, é a de “ad-mirador” do mundo. Como um ser da atividade que é capaz de refletir sobre si e sobre a própria atividade que dele se desliga, o homem é capaz de “afastar-se” do mundo para ficar nele e com ele. Somente o homem é capaz de realizar esta operação, de que resulta sua inserção crítica na realidade. “Admirar” a realidade significa objetivá-la, apreendê-la como campo de. 34.

(37) sua ação a reflexão. Significa penetrá-la, cada vez mais lucidamente, para descobrir as inter-relações verdadeiras dos fatos percebidos 9 . (FREIRE, 1983, p. 31). Na sociedade atual, a excessiva valorização da ação, do sujeito ativo faz com que as pessoas, mesmo àquelas que trabalham numa perspectiva muitas vezes diferente da dominante ou que se esforçam por serem críticos, esqueçam de cultivar aspectos que também fazem parte da ação, e que são aparentemente passivos, como o ouvir e sentir o outro antes de expor sua idéia. A fim de produzir um jornal que tenha afinidade com o público-alvo, é necessária uma aproximação, um exercício de escuta e de percepção desse público. No caso do movimento sindical, a prática de assembléias, reuniões e o trabalho da militância criam canais de comunicação de mão dupla, que permitem que os diretores sindicais emitam informações e recebam conteúdos e reações da categoria, percebendo as necessidades da base.. 2.2. História da imprensa sindical no Brasil A imprensa sindical surge no Brasil, no século XIX, com a organização do movimento operário e de movimentos do campo.. Nesse período, a. indústria nacional, ainda incipiente, apresenta seus primeiros sinais de desenvolvimento, e o País recebe levas significativas de trabalhadores imigrantes que acabam se estabelecendo. São em sua maioria italianos, alemães, espanhóis e, mais tarde, japoneses e chineses. Os europeus, com uma vivência mais avançada de organização social e industrial e bastante influenciados pelas idéias comunistas e anarquistas que rondam a Europa de então, contribuem para a organização dos trabalhadores no país. 9. Grifos da pesquisadora. Paulo Freire aborda a importância de sentir o outro, do contato e da abordagem com o outro, ressaltando o processo dialógico da comunicação e da intervenção social no seu livro Extensão ou Comunicação?.. 35.

(38) Uma das principais ferramentas de organização e informação da época são os jornais operários, produzidos pelos próprios trabalhadores e direcionados aos mesmos. Sobre a ascendência dos jornais dessa época, Ferreira (1988, p.12) acrescenta: Justificava [Lênin] a necessidade da imprensa operária, justamente porque os trabalhadores não contavam com nenhum meio de comunicação tal como os outros segmentos da sociedade, que se representavam através de seus partidos legais, seus parlamentares, suas associações e da imprensa burguesa. [...] Assegurava que sem um jornal unificado o trabalho local permaneceria desarticulado das atividades gerais do proletariado.. Mesmo nos dias de hoje, a dificuldade de acesso a outros meios de comunicação, especialmente à grande mídia, permanece. A fase do início dos jornais operários no Brasil, que vai do século XIX até 1930, é chamada de anarco-sindicalista numa referência à influência anarquista no meio operário, que começa a se formar. Caracteriza-se pela força dos trabalhadores imigrantes (com suas ideologias e experiências com patronato e governo); pela intensa produção de periódicos, apesar das precárias condições de produção e mesmo do alto índice de analfabetismo da classe trabalhadora; pela forma “amadora” de produção de jornais; e pelo destacado papel dos gráficos, uma das poucas categorias que domina, à época, a língua portuguesa e técnica da impressão. Dos fatos históricos que marcam esse período destacam-se: a realização do 1º Congresso Operário Brasileiro, em 1906; a criação da Confederação Operária Brasileira, em 1908; as greves, em 1º de maio de 1907, pela redução da jornada de trabalho para oito horas; a criação do jornal A voz do Trabalhador, em 1913; a Fundação do Partido Comunista (PCB), em 1922, e a criação da Confederação Geral dos Trabalhadores Brasileiros, em 1929.. 36.

(39) Os impressos circulam nas fábricas, centros comerciais e urbanos e campos. e. levam. idéias. comunistas,. socialistas,. anarquistas. aos. trabalhadores em textos bastante densos e extensos. Ao falar sobre um debate, por exemplo, esses jornais não se limitam a descrever o evento e tecer comentários. Páginas e páginas trazem o conteúdo do que foi discutido (FERREIRA, 1988, p.21). Às vezes discursos inteiros são transcritos para os jornais, bastante lidos. A época, para os movimentos que começam a tomar corpo, é de grande efervescência. Os jornais dos trabalhadores têm, desde o início, esse papel de informar, conscientizar e mobilizar e funcionam, copiando os moldes da Europa, como um instrumento para organização e politização das categorias. A existência de periódicos em outras línguas chama a atenção. Dos 343 títulos. encontrados,. 60. são. editados. em. idioma. estrangeiro,. principalmente em alemão, espanhol e italiano (FERREIRA, 1988, p.14). Os jornais do operariado têm, desde o início, esse papel de informar, conscientizar e mobilizar, servindo de importante instrumento para organização e politização dos trabalhadores. Por serem contrários às leis do Estado, os anarquistas, diferentemente de demais correntes políticas e ideológicas de esquerda do Brasil, não reivindicam uma lei trabalhista, não concordam com sistema de partido, nem de governo, não admitem a formação de alianças com demais grupos sociais. Com o tempo, esses aspectos vão isolando o movimento operário até que, com a influencia da Revolução Socialista na Rússia, uma parte dos trabalhadores se desprende do bloco anarquista e funda, em 1922, o Partido Comunista, que passa a influenciar fortemente o movimento operário, ajudando-o a organizar-se. Assim que é criado o Partido Comunista passa a publicar a revista o Movimento Comunista e logo depois o Manifesto Comunista. Em 1925, edita o jornal A Classe Operária, com tiragem inicial de cinco mil exemplares.. 37.

(40) Com a ascensão de Getúlio Vargas à presidência da República do Brasil, em 1930, tem início a fase sindical-partidária do movimento sindical, que vai até o golpe militar, em 1964. Getúlio, sentindo a pressão dos movimentos trabalhistas, que vinham realizando greves e mobilizações para terem seus direitos adquiridos e espaço na sociedade, promove a legalização dos sindicatos, cria o Ministério do Trabalho, institutos previdenciários e estabelece o salário mínimo. Se, por um lado, reconhece os sindicatos, por outro engessa-os ao impor uma série de normas e medidas legais a serem seguidas. A Lei dos Sindicatos tem como modelo a “Carta del Lavoro”, decretada na Itália em 1927 por Mussolini 10 . Desde a entrada em vigor da Lei de Segurança Nacional, em 1935, os sindicalistas vinham sofrendo perseguições e as entidades passaram a perder suas características. Para aumentar o poder do Estado sobre as organizações dos trabalhadores, Vargas consolidou um modelo de cooptação de dirigentes e a criação de novos sindicatos, visando controlar as reivindicações e constituir uma estrutura sindical vertical e subordinada ao Estado (VIEIRA, 1996, p.15).. Greves em 1934; a promulgação, em 1935, da Lei de Segurança Nacional e fechamento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada no mesmo ano; o golpe do Estado Novo em 1937; a instituição do salário mínimo em 1942; a retomada de movimentos dos trabalhadores em 1944; o surgimento de partidos políticos ao longo da década de 30 são fatos que marcam essa segunda fase do movimento sindical, iniciada com o governo de Getúlio. As organizações operárias enfraquecidas aproximam-se de organizações partidárias, que, ao contrário, proliferam e crescem nesse período. Dos 1.494 sindicatos existentes no final de 1934, segundo Nazareth Ferreira (1988, p. 34), apenas 364 estão legalizados pelo novo decreto, enquanto 10. A Carta del Lavoro, segundo Ricardo Antunes, em seu artigo “O que é Sindicalismo”, da coleção Primeiros Passos, “Expressava a política da paz social, da colaboração entre as classes, conciliando o trabalho com o capital, negando violentamente a existência da luta de classes, com os nítidos objetivos de garantir a acumulação capitalista em larga escala e com um alto grau de exploração da classe operária” (vol 30, p.23).. 38.

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