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ARGUMENTOS DOS SERVIDORES Fonte: jornais impressos Tem

(e, portanto, da confiança) obtido pelo grupo dominante por causa de sua posição e de

ARGUMENTOS DOS SERVIDORES Fonte: jornais impressos Tem

Novidade e Informandes (janeiro)

Folha de S. Paulo, 24/01/03 Há críticas graves e procedentes que terão por parte do Ministério da Previdência Social e da direção do INSS respostas objetivas e, quando necessário, duras.

As acusações de fraudes na concessão de benefícios ou na arrecadação não ficarão sem resposta. É obrigação nossa combatê-las de modo

incansável. Para isso, vamos reforçar a fiscalização e ampliar as parcerias com o Ministério Público e com a Polícia Federal. Além disso, a sonegação será tratada com rigor.

O sonegador, além de descumprir obrigações, pratica concorrência desleal com os contribuintes corretos. A fragilidade tecnológica do sistema de concessão de benefícios e da cobrança de contribuições também precisa ser superada. Anos de omissão

prejudicaram a Dataprev, reduzindo sua capacidade de prevenir riscos e fraudes sofisticadas.

(...) (diretores do Andes) deixaram explícito que essa reforma, “se necessária”, deveria ser precedida da tributária, dado que o financiamento previdenciário não pode ser dissociado do conjunto das contas públicas e, especialmente, no que se refere à Seguridade Social.

(Informandes, jan, p.6) (...) recaem sobre os servidores

algumas perguntas: qual a causa de tudo isso? E os rombos? Como estão os empréstimos a outros Ministérios? O patrimônio da Previdência está bem administrado? O problema da Previdência é financeiro, social ou político?

(Tem Novidade, jan, p.1) Ora, mas se isso é necessário alguém roubou essa contribuição. Imagine até nos dias de hoje o que você pode programar com uma aplicação de R$ 200,00 mensais garantidos ao longo de 35 anos. Não é pouca roubalheira.

(Tem Novidade, fev, artigo) A CNESF inclusive defende uma

auditoria nas contas da Previdência Social para identificar focos de

sonegação e fraudes que esvaziam os cofres públicos. A auditoria tem o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

(Informandes, fev, p.4)

O movimento sindical, a fim de abordar o tema da sonegação, introduz a questão da reforma tributária que, na opinião dos sindicatos, deveria ser feita antes da reforma previdenciária. Ao trazer esse tema para discussão, a imprensa sindical relaciona reformas distintas, apontando interligação entre ambas (a tributária influencia a previdenciária), reflete uma visão que interliga diferentes ações e temas. A imprensa sindical não raro relaciona ações e propostas, como a da reforma da Previdência, a

projetos maiores de construção de mundo, de desenvolvimento de macrossistemas econômicos e políticos. No caso da reforma da Previdência, a motivação do governo está ligada, de acordo com o movimento sindical, à ideologia hegemônica, contra a qual o sindicato se coloca, compondo o grupo contra-hegemônico.

As ideologias estão nos textos. Embora seja verdade que as formas e o conteúdo dos textos trazem o carimbo (são traços) dos processos e das estruturas ideológicas, não é possível “ler” as ideologias nos textos. Como argumentei no capítulo 2, isso é porque os sentidos são produzidos por meio de interpretações dos textos e os textos estão abertos a diversas interpretações que podem diferir em sua importância ideológica e porque os processos ideológicos pertencem aos discursos e não apenas aos textos que são momentos de tais eventos (FAIRCLOUGH, 2001, p.118).

Essa forma de lidar com a realidade, realizando interconexões entre diferentes projetos e ações que interferem uns nos outros, e procurando fazer uma análise específica e, ao mesmo tempo, macro da problemática tratada, revela a influência da dialética, da metodologia marxista, no movimento e na comunicação sindical. O governo, por exemplo, em nenhum momento relaciona a reforma tributária à reforma previdenciária, como também não faz referência a modelo econômico ou a uma concepção de construção de mundo que motivariam a realização dessas mudanças. O discurso governista coloca a motivação de mudança do sistema previdenciário como algo de cunho prático e sistêmico, como uma necessidade de se sanar um problema pontual (o desequilíbrio na Previdência) que prejudica o Estado e a sociedade. Aspectos políticos, ideológicos, de modelos econômicos não são mencionados no discurso do governo.

Enquanto o discurso do mês de janeiro constrói-se com ênfase na apresentação do tema da Previdência e sua reforma, embora não tenha proposta concreta, e na apresentação de justificativas da necessidade dessas alterações; o discurso sindical foca as problemáticas da reforma e levanta temas específicos de interesse dos servidores, questionando e criticando as sinalizações do governo. A imprensa sindical faz movimento

de aprofundar a discussão, de gerar debate. Ao mesmo tempo em que expressa sua postura de forma clara em relação à reforma, o discurso sindical procura questionar a postura do Governo Lula, enfatizando o enfrentamento entre ambos os sujeitos sociais nessa questão da reforma previdenciária. O governo prefere um caminho de conciliação, tentando homogeneizar a questão da reforma, ao não mostrar peculiaridades, nem traz à tona os inúmeros questionamentos existentes proferidos pelo movimento sindical, trabalhista e por outros setores da sociedade.

O discurso sindical não só se apresenta permeado de influência ideológica, como faz questão de explicitar essa influencia e esse posicionamento ideológico. Remete-se a questões, muitas vezes locais e pontuais, sem deixar de lado uma visão macro dos conflitos e embates. No artigo do mês de fevereiro, “O servidor e a Reforma da Previdência”, de 14 de fevereiro de 2003, o ministro da Previdência passa a tratar a imagem dos servidores com especial atenção. É clara sua preocupação em não depositar sobre os servidores a tarja de culpados pelo desequilíbrio no sistema previdenciário, tarja essa já colocada por alguns setores da sociedade, segundo o próprio ministro: “O início dos debates sobre a Reforma da Previdência levou alguns setores da sociedade a aderir a um argumento tão perigoso quanto desrespeitoso. Tratam os servidores como uma casta de privilegiados que deve passar pela execração pública, qual a Geni de Chico Buarque para se penitenciar por seus pecados” (BERZOINI, b). Apesar de afirmar que parte desse desequilíbrio se deve a “vantagens” concedidas aos servidores, como aposentadoria integral, o ministro credita a responsabilidade desse desequilíbrio nas contas públicas a governantes que não souberam administrar a máquina:

Apesar de reconhecer que o Regime Próprio de Previdência dos Servidores gerou um violento desequilíbrio fiscal nos últimos anos, este governo não vai aderir a esse tortuoso discurso, que degrada os funcionários públicos, fragiliza o Estado e, com isso, reduz sua competência e seu raio de ação (BERZOINI, b).

O governo anterior cometeu graves erros na condução desse debate, que não podem ser repetidos. Um deles foi esquivar-se de discutir com os servidores públicos o diagnóstico de seu regime previdenciário e buscar soluções para os problemas encontrados (BERZOINI, b).

A imprensa sindical procura desmistificar o discurso que se encontra presente na sociedade, culpando os servidores ou taxando-os de privilegiados. Geralmente se utiliza de frases categóricas para defender a imagem do servidor público, como a do Tem Novidade: “Há um folclore perverso que supõe que funcionários públicos não pagam a previdência”, (Tem Novidade, fev, p.1) e argumentações com vistas a mostrar a inexistência dos chamados privilégios ou das supostas vantagens dos servidores públicos: “A primeira grande distorção consiste em se difundir que a aposentadoria integral do servidor público se constitui em privilégio incabível”, defende o economista João Carlos Bezerra de Melo [...] (Tem Novidade, jan, p.3).

Uma questão central nessa discussão é a concepção de uma Previdência Pública deficitária, equilibrada ou mesmo superavitária. Enquanto o Governo afirma todo o tempo, e este consiste em um de seus principais argumentos de convencimento, que a Previdenciária está em desequilíbrio, sendo “deficitária” (essa expressão “deficitária” é utilizada pelos jornais sindicais na reprodução do discurso do governo. O governo prefere o termo “desequilíbrio” para definir as contas públicas); os sindicatos ora são contundentes na existência de uma Previdência equilibrada, ora admitem o desequilíbrio. Ao argumentar a respeito da imagem do servidor público tentando desvinculá-la da pecha de vilão, essa contradição no discurso sindical sobre a crise na Previdência aparece com mais evidência.

No mês de janeiro, por exemplo, o Tem Novidade procura mostrar ser baixa a possibilidade de a Previdência apresentar déficit: “Segundo

Moura, os debatedores do evento foram unânimes em afirmar que a previdência social brasileira não é deficitária e, por isso, não faz sentido falar em taxação de aposentados e pensionistas” (Tem Novidade, jan, p.3); mas, ao mesmo tempo, o Tem Novidade admite a existência de problemas no sistema previdenciário: “(...) recaem sobre os servidores algumas perguntas: qual a causa de tudo isso? E os rombos? (...) O problema da Previdência é financeiro, social ou político?” (Tem Novidade, jan, p.1).

O mesmo jornal retoma, em março, o discurso enfático de que a Previdência não é deficitária e aponta, ao contrário, a existência de um superávit: “É falaciosa a informação, amplamente divulgada pela imprensa nacional, que a Previdência Social se encontra em déficit. Estudo da Anfip, (...), revela que a Seguridade Social, que inclui Previdência, Assistência e Saúde, teve superávit de R$ 36 bilhões em 2002” (Tem Novidade, mar, p.2). Podem ser percebidas, portanto, contradições no discurso sindical a respeito dessa questão. Ora emite argumentos enfáticos afirmando o equilíbrio no sistema previdenciário, ora admite a existência de problemas, que indicariam ou explicariam um possível déficit, ora aceita a possibilidade de desequilíbrio (levantada pelo governo) e trabalha com ela em seus textos. Normalmente, quando admite essa última possibilidade, procura mostrar as causas desse desequilíbrio na contas da Previdência.

No mês de março, já não se discute a Previdência Pública do momento presente (concreta, real). O fato de estar ou não em equilíbrio (e as prováveis causas desse desequilíbrio); problemáticas como sonegação, não-contribuição da União, etc.; a eficiência no cumprimento de serviço à maioria da população, tão presentes nos meses de janeiro e fevereiro, são deixados de lado tanto por jornais sindicais quanto pelos artigos governistas.

A partir de março, sindicatos e governo passam a centrar seus discursos na reforma da Previdência, em como será a Previdência do futuro (na sua projeção). O governo, que já vinha construindo a imagem de uma Previdência pós-reforma (segura e equilibrada), reforça esse discurso. Sua estratégia implica em eleger pontos da reforma, geralmente os mais polêmicos, e discorrer sobre seu benefício para o sistema previdenciário e para a sociedade.

A projeção da Previdência pós-reforma presente no discurso governista difere bastante, quase antagonicamente, da Previdência prevista pelo movimento sindical no caso do projeto da reforma obter êxito. Essa divergência na concepção e na projeção do objeto de disputa (a Previdência) leva à busca de fundamentações para o discurso, a fim de conferir-lhe credibilidade. A imprensa sindical, com a finalidade de fundamentar a imagem que projeta da Previdência pós-reforma, recorre a um discurso acerca dos objetivos, das motivações que levam o governo a implementar essa Previdência anunciada. Uma das formas de desmascarar o discurso governista é apontar o que seriam para o sindicato as reais intenções de mudança no sistema previdenciário por parte do governo.

Na prática, o discurso sindical critica não apenas a reforma, mas também o seu propulsor, o governo, sua ideologia, possíveis forças políticas que estariam em seu apoio ou o influenciando e seu discurso. A tabela a seguir traz argumentos do governo e do movimento sindical, extraídos de seus respectivos textos estudados, a respeito da Previdência pós-reforma e do seu impacto na sociedade. Interessante observar a disparidade das imagens da Previdência Social construídas, bem como a forma como o discurso sindical se contrapõe ao governista e vice-versa:

Tabela 9 - Previdência projetada (governo X sindicato)

DISCURSO DO GOVERNO SOBRE