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Estrutura argumentativa do discurso governista

Os 2.500 exemplares mensais do Sintrajuf, o Tem Novidade (ver anexo), são distribuídos por funcionários a todos os postos dos servidores

3. COMUNICAÇÃO SINDICAL NO TEXTO

3.1. Disputa ideológica e comunicação sindical

3.2.2. Estrutura argumentativa do discurso governista

Pelo que se pode observar do artigo analisado e dos demais artigos (ver anexos nas últimas páginas da dissertação) está presente no discurso governista a imagem do governo e também imagens de outros sujeitos sociais. Em: “A necessidade de um sistema que possa ser sustentável e ao mesmo tempo justo socialmente nos dá a direção para um conjunto de medidas que possa conferir segurança aos beneficiários de hoje e do amanhã” (BERZOINI. Previdência justa e sustentável. 24 jan. 2003. a23)

governo se mostra preocupado em garantir a segurança dos beneficiários

23 Para melhor praticidade da manipulação e da leitura do material, os artigos do site da Previdência Social estão organizados em ordem cronológica pelas letras do alfabeto (de A a G) - bibliografia, página 154.

e sabedor de como fazê-lo. Passa uma auto-imagem de agente protetor, forte, seguro do que deve ser feito para o seu povo.

Enquanto que a sua imagem é a de um sujeito forte e seguro, a dos outros segmentos sociais tende a ser vaga, permeada de referências indiretas. O trecho: “Nem vamos ceder a argumentos tecnocráticos. A partir do debate, que deve contar com a participação de todos, queremos chegar a um regime [...]” (BERZOINI. a), o texto não diz de onde surgem esses argumentos tecnocráticos, nem quem os emite. Os leitores que estiverem acompanhando o embate a respeito da reforma podem deduzir que se tratam de críticos e até relacionar nomes de autores ou correntes políticas que vêem questionando o governo. O texto, no entanto, não fornece maiores especificações sobre essas pessoas e suas idéias.

Ao falar do debate com a participação de todos, o excesso de generalidade também leva a um esvaziamento de sentido. “Todos” é muito amplo para uma sociedade da complexidade da brasileira e para o entendimento das diferentes dimensões que a discussão da reforma abarca. Falar de todos é não apontar os setores sociais que vêm se envolvendo na discussão, a maioria em contraposição ao governo, é não tornar o processo de discussão e de envolvimento nela palpável.

A pesquisa localizou, nos artigos do ministro e do presidente do PT, referências a sujeitos e grupos sociais que, para efeito de estudo, foram classificados em três grandes grupos, de acordo com a imagem que o governo procura construir desses sujeitos:

a) a dos sujeitos amigos que dialogam com o governo;

b) a dos sujeitos críticos que não dialogam e desconhecem ações e proposta do governo;

c) a da sociedade, geralmente colocada numa posição de passividade e de concordância com relação às posturas do governo

O quadro abaixo ilustra, dentro desse agrupamento proposto, construções de imagem do discurso governista com exemplos extraídos dos artigos: Tabela 1 – Construção de imagens no discurso governista

GOVERNO GRUPO A

(amigos) (críticos) GRUPO B (sociedade) GRUPO C

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito por quase 53 milhões de votos e pela esperança na construção de um Brasil melhor (BERZOINI. Previdência justa e sustentável. a). Discuti o assunto com sindicalistas em São Paulo, em Belo Horizonte, na Bahia e no Rio Grande do Sul. Fui a audiências no Congresso Nacional e no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Discuti o tema com 27 governadores e com mais de mil prefeitos em Brasília (BERZOINI. Os desafios da reforma da Previdência Social. c). O PLP 9 [...] foi transformado em dois enganosos fetiches. [...] Para outros, expõe a prova cabal de que o atual governo apenas cumpre o roteiro definido por seus antecessores,

mancomunados com banqueiros e

organismos internacionais. A verdade tem mais laços com a razão fria das letras do que com a emoção tendenciosa das vozes (BERZOINI. Os fetiches do PLP 9. d). Com essas mudanças, a sociedade brasileira terá a oportunidade de reduzir a desigualdade social e acelerar a retomada do crescimento econômico(BERZOINI. c). A prioridade deste governo é garantir que mais brasileiros possam ter acesso, no futuro, a pelo menos um salário mínimo (c). Durante os 30 primeiros dias do governo Luiz Inácio Lula da Silva, tive a oportunidade de receber em audiências 45 entidades de classe [...] Uma das sugestões recebidas por representantes de servidores foi o reconhecimento contábil da contribuição patronal da União à Previdência (BERZOINI. O servidor e a Reforma da Previdência. b).

Por debate, entendo o confronto franco, honesto e

comprometido de idéias, números e fatos. Coisa que parte dos interlocutores, minoritária é verdade, tem se recusado a fazer. Preferem esconder- se atrás de velhos chavões, como o que sustenta que a reforma é exigência do FMI ou de banqueiros nacionais e internacionais (c). Trata-se de dar um tratamento democrático e com visão claramente social [...], em um país em que 40 milhões de brasileiros e brasileiras economicamente ativos estão excluídos de qualquer proteção previdenciária (c).

Pode-se perceber pelos exemplos do quadro que os sujeitos sociais vistos como amigos, como parceiros são retratados geralmente dialogando com o governo (escutando ou sugerindo), numa posição de concordância e contribuição. Por outro lado, os sujeitos sociais críticos são colocados numa postura de radicalidade, de pouco ou nenhum diálogo e de desinformação: “Alguns dos que estão contra a tramitação do PLP 9 denunciaram tratar-se da privatização da Previdência do setor público, contra a qual também estou e sempre estive. Estão enganados, creio, pois não admito que estejam enganando a quem representam” (BERZOINI. Os fetiches do PLP 9. 5 abr. 2003. d).

Já a sociedade, representada por brasileiros e brasileiras, servidores, trabalhadores, etc, é posta, no discurso governamental, numa posição de concordância, afinidade com o governo, numa demonstração, por outro lado, de que este se encontra em consonância com a sociedade. Aparece como sujeito passivo, numa posição de espera de que outro sujeito (geralmente o governo) faça algo por ela – os 40 milhões de brasileiros e brasileiras excluídos de proteção previdenciária devem aguardar que o governo aloque os recursos orçamentários.

O exemplo: “O servidor tem que ser valorizado e respeitado. A ele e à sociedade que paga por seus serviços deve-se dar conhecimento da realidade financeira do Estado” (BERZOINI, a), traduz a postura do discurso governista de procurar valorizar tanto o servidor quanto a sociedade, porém colocando-os numa posição secundária como sujeitos sociais. O servidor aparece como sujeito passivo na oração – “tem que ser respeitado” não é ele quem impõe respeito - e, embora o sujeito “a sociedade” exerça a ação de “pagar por seus serviços”, o “conhecimento da realidade financeira do Estado” é fornecido, de acordo com esse discurso, pelo governo, não é a sociedade que o exige. É, portanto, do governo a iniciativa de respeitar os servidores e de fornecer informações

financeiras do Estado. Demais sujeitos sociais, os próprios servidores e a sociedade, ficam numa posição de aguardo, numa postura passiva.

Há, por outro lado, um esforço em se retratar a sociedade numa posição ativa, acompanhada por verbos que indicam ação. Exemplos:

Com essas mudanças, a sociedade brasileira terá a oportunidade de reduzir a desigualdade social e acelerar a retomada do crescimento econômico (BERZOINI, c).

O Regime Próprio dos Servidores Públicos é hoje o principal foco de atenção da sociedade (BERZOINI, a).

Se as contribuições de cada sistema previdenciário não são capazes de cobrir integralmente as despesas com benefícios, a sociedade brasileira, por meio de impostos pagos ao Estado, é chamada a cobrir a diferença (BERZOINI,c).

No primeiro exemplo a sociedade brasileira ocupa a posição de sujeito da oração e mostra-se senhora de ações de peso – “reduzir a desigualdade e acelerar a retomada do crescimento”. No segundo exemplo, apesar de ocupar posição de objeto direto na oração – “é hoje o principal foco de atenção da sociedade”, a sociedade desenvolve a ação de ter como foco de atenção a Previdência, conferindo importância ao assunto. Mesmo ocupando, no segundo exemplo, posição gramatical secundária na oração (de complemento do predicado), o sujeito social sociedade desempenha o papel ativo, no contexto do enunciado, de focar sua atenção na Previdência. É esta atenção da opinião pública que, neste contexto, empresta peso ao assunto Previdência.

No terceiro exemplo, a sociedade brasileira aparece como agente da passiva (é chamada, não é ela quem chama) e, ainda assim, seu papel é de sujeito ativo, pois é ela quem vai cobrir a diferença das contribuições. Mesmo posta como vítima de uma situação, de acordo com o contexto de pagar a conta do sistema, e ocupando na oração o lugar de sujeito apassivado, a sociedade executa ação no contexto - de arcar com o ônus

de equilibrar as contas públicas. É representada, portanto, como um papel sujeito social forte e ativo, apesar de sofrer as conseqüências da Previdência em desequilíbrio (de ser também vítima).

Com relação à Previdência em si, o discurso governista trabalha com a construção de duas imagens bastante diferentes. Uma diz respeito à Previdência do momento presente em que se encontram os artigos (ano de 2003) e descreve uma Previdência desequilibrada, injusta e deficiente, como nos exemplos: “O Regime Próprio de Previdência dos Servidores gerou um violento desequilíbrio fiscal nos últimos anos” (b) e “Os dois sistemas [previdenciários], portanto, são subsidiados de forma desigual por toda a sociedade brasileira” (c).

A outra imagem encontrada no discurso governista delineia uma Previdência pós-reforma, que se concretiza caso a mudança no sistema previdenciário seja realizada. Apesar dessa Previdência futurista ser uma hipótese, uma projeção, seu tratamento nos textos governistas é o de algo tão concreto e palpável quanto a Previdência real. Os exemplos extraídos dos artigos ilustram esses aspectos:

Ao garantir o pagamento de um salário mínimo a esses trabalhadores, que representam quase dois terços dos beneficiários desse sistema, o Regime Geral de Previdência Social pode ser visto como o maior programa de redistribuição de renda do País (BERZOINI, c).

O PLP 9 poderá dar um direito pelo qual os partidos de esquerda lutam há muito tempo para toda a classe trabalhadora. O sistema de fundos de pensão geridos por empregados e empregadores (BERZOINI, d).

Essa Previdência do futuro, embora idealizada, encontra-se ao longo de todo o discurso governista, reforçando seus argumentos sobre a necessidade de uma mudança na Previdência atual e as melhorias que essas mudanças irão proporcionar. Comparações entre as imagens construídas da Previdência presente e da Previdência futura são uma

constante, a fim de convencer o leitor a aceitar e apoiar a realização desta última Previdência, a do futuro. O quadro a seguir traz trechos dos artigos que revelam essas imagens:

Tabela 2 – Imagens da Previdência Pública no momento presente e futuro