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Sistema interamericano de proteção aos direitos humanos e sua efetividade: análise do caso Ximenes Lopes

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

ELLEN TACIANA PREDEBON CHECHI

SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS E SUA EFETIVIDADE: ANÁLISE DO CASO XIMENES LOPES

Ijuí (RS) 2015

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ELLEN TACIANA PREDEBON CHECHI

SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS E SUA EFETIVIDADE: ANÁLISE DO CASO XIMENES LOPES

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Eliete Vanessa Scheneider

Ijuí (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha família e amigos, pelo incentivo, apoio, paciência e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo de minha vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer.

À minha família, que sempre esteve ao meu lado e me incentivou a não desistir, e persistir nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

À minha orientadora Eliete Vanessa

Scheneider, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação, paciência e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento, me fazendo despertar interesse pelos Direitos Humanos, tema com o qual me emocionei muitas vezes, ao ler os casos de violações a estes direitos tão importantes.

Agradeço а todos os professores por me proporcionar о conhecimento não apenas racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da educação no processo de formação profissional, por tanto que se dedicaram а mim, não somente por terem me ensinado, mas por terem me feito aprender. А palavra mestre, nunca fará justiça aos

professores dedicados aos quais sem nominar terão

os meus eternos agradecimentos.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigada.

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“Onde Não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não houver limitação de poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade e os direitos fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para dignidade humana e a pessoa não passará de mero objeto de arbítrio e injustiças.” (Ingo Sarlet).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso discorre sobre a proteção dos Direitos humanos, seu surgimento e evolução histórica anterior e pós Segunda Guerra Mundial. Também discorre sobre os Sistemas de proteção aos Direitos humanos, podendo eles serem de ordem Global, representados principalmente pelas Nações Unidas, e de ordem regional representada por três principais sistemas: Europeu, Americano e Africano. Estes possuem aparato jurídico próprio, e desta forma será analisada sua origem e formação histórica. Será analisada também a condenação sofrida pelo Brasil, perante a Corte Interamericana de Direito Humanos, no famoso caso Ximenes Lopes.

Palavras-Chave: Direitos Humanos. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Efetividade da Sentença. Ximenes Lopes.

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ABSTRACT

This course conclusion work discusses the protection of human rights, its emergence and historical development before and after World War II. Also discusses the protection systems for human rights, they can be of Global order, represented by the United Nations Agency, and regional order represented by three main systems; European, American and African, which have their own legal apparatus thus analyze their origin and historical development. We will also consider the condemnation suffered by Brazil before the Inter-American Court of Human Rights, by analyzing the effectiveness of the sentence handed down by the Inter-American Court of Human Rights in the case Ximenes Lopes.

Keywords: Human Rights. Inter-American Court of Human Rights. Effectiveness of the judgment. Ximenes Lopes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 DIREITOS HUMANOS... 10

1.1 Direitos humanos antes da Segunda Guerra Mundial ... 10

1.2 Direitos humanos pós-guerra ... 14

1.3 Formação do sistema global de proteção aos Direitos Humanos... 19

1.4 O sistema global de proteção aos Direitos Humanos ... 23

2 SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AO DIREITOS HUMANOS ... 26

2.1 Sistema interamericano de proteção aos direitos humanos ... 34

3 EFETIVIDADE DAS CONDENAÇÕES ORIUNDAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ... 48

3.1 História do caso de Ximenes Lopes ... 48

3.2 Efetividade da sentença do caso Ximenes Lopes ... 56

CONCLUSÃO ... 60

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INTRODUÇÃO

A internacionalização dos direitos humanos é um evento recente, ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, com o advento da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Esta temática vem tendo grande repercussão mundial, pois desde seu surgimento a pessoa humana passou a ter maior relevância, passando a ser protegida através de vários tratados e convenções para que este direito seja resguardado e protegido.

Com certeza, pode-se afirmar que uma das maiores conquistas da humanidade nessa sua caminhada evolutiva foi a concretização dos direitos humanos, que deu aos seres humanos a garantia da inviolabilidade dos seus direitos.

Nesta época em que vivemos, onde casos de desrespeito ao ser humano são cada vez mais comuns, tem-se a necessidade de observar que a vigilância dos direitos humanos em dado território não deve ser tarefa exclusiva do Estado. Assim, surgem os sistemas internacionais de proteção, como garantia adicional quando o Estado se mostra omisso.

Esta pesquisa teve a finalidade de analisar a abrangência da proteção internacional aos direitos humanos, em especial o Sistema Interamericano, e, através do exame do caso Ximenes Lopes em que o Brasil foi submetido e condenado pela Corte Interamericana, verificar a efetividade desta condenação.

O estudo do surgimento bem como da evolução histórica dos direitos humanos e seus principais marcos, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no âmbito do Sistema Global, e da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e da Convenção Americana de Direitos Humanos, no âmbito do Sistema Regional Interamericano,

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entre outros tratados e convenções importantes, se fazem necessários para compreendermos os sistemas que hoje são utilizados para garantir a não violação destes direitos.

Além da leitura das obras de renomados autores, se fez necessário o estudo da sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em que o Brasil figurou como parte, no caso Damião Ximenes Lopes, morto em 1999 em uma clínica de repouso no Ceará. Sendo este caso submetido à corte pela Comissão Interamericana em outubro de 2004 para que fosse decidido se o estado brasileiro era responsável pela violação do direito à vida, à integridade pessoal, às garantias judiciais e à proteção judicial.

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1 DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos vêm sendo um tema de grande repercussão mundial, pois desde seu surgimento a pessoa humana passou a ter uma maior relevância, passando a ser protegida através de vários tratados e convenções.

Muitas foram as lutas para que a humanidade chegasse ao patamar atual, com direitos e garantias asseguradas, embora se tenha a consciência de que esta luta é incansável e está bem distante do fim, vez que cotidianamente se tem notícia de violações a esses direitos em diversos locais por todo o mundo sendo que por vezes, os próprios Estados são os violadores.

Nesse sentido, faz-se necessário um segundo nível de proteção aos direitos humanos, uma segunda opção aos cidadãos que sofrerem violações dentro de seu estado, e a justiça desse estado mostrar-se falha.

Importante mencionar que este segundo nível de proteção em sua forma global, está em construção desde o pós Segunda Guerra Mundial, sendo que atualmente, sua maior missão é garantir a efetividade de suas decisões, o controle e punição dos estados por falhas ou omissões praticadas no âmbito dos direitos humanos.

Feitas essas primeiras considerações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema direitos humanos em sua concepção histórica, ou seja, desde o seu surgimento, destacando a sua evolução, para que posteriormente possa ser analisada a atuação das cortes internacionais de direitos humanos, quais as sanções que estão sendo aplicadas pelo descumprimento, bem como, por fim, analisar a eficácia destas decisões, que se configura no objeto principal deste estudo.

1.1 Direitos humanos antes da Segunda Guerra Mundial

Os direitos humanos têm como o seu marco principal as barbáries praticadas durante a Segunda Guerra Mundial, pois foi durante este lamentável episódio de dizimação de povos que se passou a ter cada vez mais a necessidade de proteção aos seres humanos, sem qualquer tipo de distinção, bem como de um documento que garantisse a não violação desses direitos, impondo sansões a quem os desrespeitasse.

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Tal documento trata-se da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. A respeito se refere José do Nascimento (2001, p. 32):

A declaração é a resposta do mundo aos horrores da Guerra. É o grito pelo respeito à pessoa humana, que deve ser vista não como objeto de produção, instrumento da ciência e da técnica, mas portadora de finalidade própria que transcenda o exclusivamente material, cientifico, industrial e experimental do positivismo, pregador do ‘progresso’. Pregador da mediação até das atividades do espírito, como se faz das substancias em laboratório.

No entanto, antes da Segunda Guerra Mundial, já se falava em Direitos Humanos, mas estes direitos estavam restritos apenas a algumas classes, não sendo um direito de toda a sociedade, tendo surgido na metade do século XIX, protegendo apenas três setores específicos, os quais eram: o direito humanitário, a luta contra a escravidão e os direitos dos trabalhadores assalariados. De acordo com Comparato (2001, p. 52), “esta conquista teve início ainda na metade do século XIX, tendo como referência três setores: o direito humanitário, a luta contra a escravidão e a regulação dos direitos do trabalhador assalariado.”

Em sentido semelhante, destaca Piovesan (2004, p. 125) que:

O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho situam-se como primeiros marcos no processo de internacionalização dos direitos Humanos. Como se verá, para que os direitos humanos se internacionalizassem, foi necessário redefinir o âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal, a fim de que se permitisse o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse internacional. Foi ainda necessário redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, para que se tornasse verdadeiro sujeito de direito internacional.

O Direito Humanitário ou “Direito da Guerra” como também era chamado, deu origem ao primeiro documento internacional de proteção aos direitos humanos, tendo surgido em 1864 em decorrência da Convenção de Genebra, esta convenção tratou sobre a necessidade de proteger os militares que lutaram em guerras e ficaram postos fora de combate, militares que ficaram feridos, doentes ou até mesmo prisioneiros em decorrência de batalhas, sem nenhuma forma de discriminação.

A Convenção de Genebra foi criada pelo suíço Henri Dunant, que após presenciar os horrores de que foi testemunha na Batalha de Solferino (1859) motivou-se para regular os direitos e os deveres de pessoas, combatentes ou não, em tempo de guerra. Desta forma foi

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que surgiu o primeiro documento que resguardava a dignidade da pessoa em quanto ser humano. Conforme diz Piovesan (2004, p. 134), “o Direito Humanitário foi a primeira expressão de que, no plano internacional, há limites à liberdade e à autonomia dos Estados, ainda que na hipótese de conflito armado”. No mesmo sentido vejamos o que diz Comparato (2001, p. 167, grifo do autor):

Ela inaugura o que se convencionou chamar de direito humanitário, em matéria internacional; isto é, o conjunto das leis e costumes de guerra, visando a minorar o sofrimento de soldados doentes e feridos, bem como de populações civis atingida por um conflito bélico. É a primeira introdução dos direitos humanos na esfera internacional.

Este tratado também desencadeou a fundação da Comissão Internacional da Cruz Vermelha em 1880, que tinha como objetivo proporcionar que os feridos decorrentes das guerras tivessem amparo médico sem que fossem discriminados. Comparato (2001, p. 168) assevera que “A comissão genebrina, que esteve na origem da Convenção de 1865, transformou-se em 1880 na Comissão Internacional da Cruz Vermelha, mundialmente reconhecida.”

Hoje a Comissão Internacional da Cruz Vermelha ainda está vigente e é um movimento internacional humanitário, neutro e imparcial, não vinculado a qualquer Estado. Seu objetivo é proteger a vida e a saúde humana e prevenir e aliviar sofrimento humano, sem discriminação baseado em nacionalidade, raça, sexo, religião, classe social ou opiniões políticas.

Outra classe protegida pelos Direitos Humanos antes da Segunda Guerra Mundial, segundo Comparato (2001) era as dos escravos, ou seja, a luta contra a escravatura. Em 1890, o Ato Geral da Conferência de Bruxelas, foi subscrito por 17 Estados, e estabeleceu em seu longo texto de quase 100 artigos, as primeiras regras interestatais de repressão ao tráfico de escravos africanos e criou a primeira organização internacional encarregada de coordenar as medidas repressoras.

Houve a necessidade de proteção dessa classe porque o tráfico inicial era feito pelos árabes em meados do século XV, atingiam tanto brancos quanto negros e tinham um caráter doméstico que decorria das capturas feitas durante as guerras. No entanto os europeus

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começaram a ter outra visão, e passaram a usar a escravidão com um caráter empresarial e desta vez atingindo somente a população negra. Com a crescente exportação do tráfico de escravos, dos quais milhares morriam ainda antes de desembarcar e outra maioria no primeiro ano, se começou a ter a necessidade proteger esta classe. Nesse sentido destaca Comparato (2001, p. 171):

As diferenças entre tráfico conduzido pelos árabes e o explorado pelos europeus foram significativas. A escravidão nas sociedades muçulmanas atingia, indiferentemente, brancos e negros, e tinha um caráter sobretudo doméstico. Para os europeus, o tráfico visou, desde o início, exclusivamente à população negra, e inseriu-se no empreendimento das culturas agroexportadoras, organizadas em forma capitalista nos grandes domínios do continente americano. Os primeiros estabelecimentos da agroindústria açucareira no Brasil datam já das primeiros décadas da colonização, e foram responsáveis, durante mais de um século, pela alimentação da maior corrente de comércio internacional da época.

No entanto, apenas no século XIX a repressão ao tráfico de escravos passou a ser executada. Vários tratados foram assinados, mas sem muita efetividade, passando apenas no ano de 1890 com o Tratado de Bruxelas a ter um destaque maior.

O terceiro grupo amparado pelos direitos humanos e que teve grande contribuição para a internacionalização do direito, era dos trabalhadores, que buscava garantir condições justas de trabalho. Em 1919 foi criada a Organização Internacional do Trabalho como parte do Tratado de Versalhes que pôs fim a primeira Guerra Mundial. Esta organização foi criada com intuito de regular as condições dos trabalhadores no âmbito mundial, e tinha por finalidade promover padrões internacionais de condições de trabalho e bem estar (PIOVESAN, 2004). Nesse sentido, refere a autora:

Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho (International Labour Office, agora denominada International Labour Organization) também contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos. Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho tinha por finalidade promover padrões internacionais de condições de trabalho e bem estar. (PIOVESAN, 2004, p. 127).

A partir da análise das três tendências acima referidas e exemplificadas, podemos concluir que todos tiveram um importante papel para a internacionalização dos direitos humanos. Ainda, de acordo com Piovesan (2004, p. 135),

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Apresentado o breve perfil da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e do Direito Humanitário, pode-se concluir que estes institutos, cada um do seu modo, contribuíram para o processo de Internacionalização dos Direitos Humanos. Seja ao assegurar padrões globais mínimos para as condições de trabalho no plano mundial, seja ao fixar como objetivos internacionais a manutenção da paz e a segurança internacional, ou, seja ainda ao proteger direitos fundamentais em situação de conflito armado, estes institutos se assemelham na medida em que projetam o tema dos direitos humanos na ordem internacional.

Assim podemos verificar, que antes da Segunda Guerra mundial já havia organizações que buscavam proteger os direitos humanos de determinadas classes. Contudo, pode-se dizer que após a segunda guerra mundial foi que a Organização dos Direitos Humanos deslanchou e passou a ocupar um importante e notável papel nos direitos dos indivíduos.

1.2 Direitos humanos pós-guerra

Como já constatamos, os Direitos Humanas surgiram antes da Segunda Guerra Mundial, no entanto, esses direitos eram reservados apenas a classes especificas e não atingiam a humanidade em geral.

Após os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, onde milhares de pessoas, comunidades inteiras foram dizimadas através de atos de crueldade, articulados friamente com o intuito de banir determinada raça, se teve a necessidade imensa de evitar que isto voltasse a acontecer. Neste sentido se manifestou Trindade (2002, p. 183):

O nazismo e os demais fascismos legislaram e agiram contra a humanidade, praticaram políticas racistas, xenófobas e imperialistas, dividiram pessoas e populações entre as que deveriam viver e as que precisavam ser abolidas, tentaram o extermínio, por métodos industriais, de povos inteiros, e levaram sessenta milhões de seres humanos a morrerem durante a guerra que deflagraram.

Desta forma, cabe ressaltar o que disse Piovesan (2004, p. 132) que “se a segunda guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o pós - guerra deveria significar a reconstrução desses direitos.”

O valor da pessoa humana durante a Segunda Guerra Mundial foi totalmente abolido pelas diversas formas de extermínios que foram praticadas contra a pessoa humana. No entanto, foi a partir do banimento que surgiu a necessidade de reconstrução desses Direitos.

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Após a Segunda Guerra Mundial se teve a consciência de que a violação aos direitos humanos deveria ser controlada, que a população não poderia mais simplesmente ficar desamparada. Nessa mesma linha de pensamento afirma Comparato (2001, p. 215): “o horror engendrado pelo surgimento de Estados totalitários, verdadeiras máquinas de destruição de povos inteiros, suscitou em toda parte a consciência de que, sem o respeito aos Direitos Humanos, a convivência pacífica das nações tornava-se impossível.”

Juntamente com essa consciência sobre a necessidade de se ter garantias surge o pensamento de que se durante a Segunda Guerra Mundial houvesse um sistema de proteção de direitos intencionais, poderiam ter sido evitadas as barbáries e atrocidades praticas por Hitler. Vejamos o que diz Piovesan (2004, p. 131):

Contudo, a verdadeira consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surge em meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Nas palavras de Thomas Buergenthal: ‘O moderno Direito Internancional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse.’

Com essa consciência em relação a necessidade de controle sobre as violações dos direitos humanos, passou-se a intensificar as relações entre os Estados, surgindo assim um ordenamento jurídico internacional preocupado com os direitos das pessoas humanas. Esse ordenamento de proteção internacional dos direitos humanos surgiu em decorrência da necessidade da existência de mecanismos de monitoramento e controle das atividades estatais e do exercício de sua soberania. Desta forma, a soberania deixou de ser um poder juridicamente incontestável, indivisível, inalienável e imprescritível, pois se houve a necessidade de proteger os seres humanos quando o Estado fosse omisso ou negligente, surgiu a necessidade de haver um sistema internacional de direitos humanos para que caso ocorresse essas omissões ou negligências por parte dos Estados, os seres humanos estaria amparados e protegidos. Desta forma, observamos o que diz Piovesan (2004, p. 132):

A necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos direitos humanos impulsionou o processo de internacionalização desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional, quando as instituições nacionais se mostraram falhas ao omissas na tarefa de proteção dos direitos humanos.

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O Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos rompeu o paradigma de que os estados eram os únicos sujeitos de direito no plano internacional, trazendo também a pessoa humana como sujeito de direitos, estando no mesmo nível dos Estados e Organizações Internacionais. De acordo com Bobbio (2003, p. 25),

Todo indivíduo foi elevado a sujeito potencial da comunidade internacional, cujos sujeitos até agora eram, eminentemente, os Estados Soberanos [...] o problema grave de nosso tempo, com relação aos direitos do homem, não era mais o de fundamentá-los, e sim o de protegê-los [...]. Com efeito, o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico, e, num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados.

Após a pessoa humana ser submetida às barbáries praticadas durante a Segunda Guerra Mundial, quando esta se findou, se passou a ter a consciência e necessidade de segurança para que tais atos não fossem novamente praticados. Com o fim da guerra se passou a ter a consciência que a pessoa humana tinha “direito a ter direito”, e não poderia mais ficar a mercê apenas de um esperado bom senso de estado. Neste sentido diz Bobbio (2003, p. 30):

Com a Declaração de 1948, tem início uma terceira e última fase, na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva: universal no sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens; positiva no sentido que põe em movimento um processo em cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou apenas idealmente reconhecido, porém efetivamente protegido até mesmo contra o próprio Estado que os tenha violado.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, se teve uma intensificação na criação de documentos internacionais, os quais modificaram as legislações nacionais dos países que os ratificaram. Desta vez estes documentos preocupavam-se com um sistema geral de proteção aos direitos humanos, com o ser humano pura e simplesmente pela condição de humanidade, sem distinções de qualquer espécie. Neste sentido Comparato (2001, p. 54) diz:

Meio século após o término da 2ª Guerra Mundial, vinte e uma convenções internacionais, exclusivamente dedicadas à matéria, haviam sido celebradas no âmbito da Organizações das Nações Unidas ou das organizações regionais. Entre 1945 e 1998, outras cento e quatorze Convenções foram aprovadas no âmbito da Organização Internacional do Trabalho. Não apenas os direitos individuais, de

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natureza civil e política, ou os direitos de conteúdo econômico e social foram assentados no plano internacional. Afirmou-se também a existência de novas espécies de direitos humanos: direitos dos povos e direitos da humanidade.

Como já referido após a Segunda Guerra Mundial houve uma significativa mudança no quadro das relações internacionais. Com o novo pensamento que envolveu o mundo de que problemas não poderiam ser resolvidos apenas pelos Estados, surgiu a necessidade de criar uma organização que regulamentasse as relações internacionais. Desse modo ocorreu a Criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, como um manifesto da população contra as atrocidades praticadas no decorrer da Segunda Guerra Mundial (COMPARATO, 2001).

A ideia de criação da Organização das Nações Unidas (ONU) surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, através dos Estados que lutavam contra o eixo nazista formado pela Alemanha, Itália e Japão, esses Estados congregavam em favor da manutenção da paz e da segurança nacional. Desta forma em 24 de outubro de 1945, na cidade de São Francisco, EUA, ocorreu fundação da ONU, como resultado das conferências de paz realizadas no final da Segunda Guerra Mundial. Assinaram inicialmente a Carta das Nações Unidas 50 países, excluindo os que haviam feito parte do Eixo (PIOVESAN, 2004).

A ONU foi a segunda tentativa de criar uma união de nações com o propósito de estabelecer relações entre os países. A primeira tentativa ocorreu com a formação da Liga das Nações, ao fim da Primeira Guerra Mundial, mas que fracassou em seus objetivos. Vejamos o que diz Comparato (2001, p. 215):

Enquanto a sociedade da Nações não passava de um clube dos Estados, com liberdade de ingresso e retirada conforme suas conveniências próprias, as Nações Unidas nasceram com a vocação de se tornarem a organização da sociedade política mundial, à qual deveriam pertencer portanto, necessariamente, todas as nações do globo empenhadas na defesa da dignidade da pessoa humana.

Importante ressaltar que a Carta das Nações Unidas trazia em seu preâmbulo:

Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas. (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

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Segundo Comparato (2001, p. 218-219), tem como primeiro objetivo:

Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz.

Desta forma, podemos concluir que a organização das Nações Unidas se estruturou dessa forma para evitar uma nova deflagração de conflitos mundiais, como as duas Guerras anteriores, criando condições para que isso se efetivasse, superando um objetivo apenas de controle militar e englobando a criação de instâncias responsáveis por garantir os direitos (COMPARATO, 2001)

De acordo com Comparato (2001, p. 215),

em 1945, objetivou-se colocar a guerra definitivamente fora da lei [...]. as Nações Unidas nasceram com a vocação de se tornarem a organização da sociedade política mundial, à qual deveriam pertencer portanto, necessariamente, todas as nações do globo empenhadas na defesa da dignidade humana.

Outro marco importante na história da formação dos direitos humanos, mais precisamente um documento internacional, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948, destacando a concepção contemporânea desses direitos. Nas palavras de Flávia Piovesan (2009, p. 200), “marcada pela universalidade, integralidade e interdependência de direitos. Esta concepção passa a ser o norte valorativo a inspirar a pavimentação ética da ordem jurídica internacional e interna.” Em sentido semelhante se manifesta Morais (2013, p. 24):

O momento fulcral para o estabelecimento dos direitos humanos como indicador ético do processo de mundialização é a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, a qual consolida ‘a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um consenso de valores de cunho universal a serem seguido pelos Estados’, que representam, para Norberto Bobbio, a consciência histórica da humanidade, síntese do passado e aspiração para o futuro, assinala o limite do que não é admissível no Nomos da Terra, pelo direito comum da humanidade.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi fundamental no quesito do reconhecimento da pessoa humana, o que só foi possível, de acordo com Comparato (2001, p. 228), “quando, ao término da mais desumanizadora guerra de toda a História, percebeu-se que a ideia de superioridade de uma raça, de uma classe social, de uma cultura ou uma religião, sobre todas as demais, põe em risco a própria sobrevivência da humanidade.”

Em seus trinta artigos a Declaração Universal do Direitos Humanos estabeleceu direitos essenciais de todos os seres humanos, passando a ser incontestavelmente um dos marcos mais importantes na história de (re)construção desses direitos. Bobbio (2003, p. 26) diz:

Não sei se se tem consciência de até que ponto a Declaração Universal representa um fato novo na história, na medida em que, pela primeira vez, um sistema de princípios fundamentais da conduta humana foi livre e expressamente aceito, através de seus respectivos governos, pela maioria dos homens que vive na Terra.

Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos a estratégia internacional era aumentar o número de tratados que contemplassem os direitos humanos, para isto se formou um Sistema Global de proteção aos direitos humanos, representado principalmente pela Organização das Nações Unidas, que tem por escopo a cooperação intergovernamental, ao lado desse sistema surgiu também o conjunto de Sistemas Regionais de proteção a esses direitos, destacando-se três em especial – o europeu, americano e o africano.

1.3 Formação do sistema global de proteção aos Direitos Humanos

Após a Segunda Guerra com os inúmeros tratados e convenções assinados e ratificados pelos países sobre os direitos humanos, passou-se a ter a necessidade de um sistema internacional de fiscalização sobre a aplicação desses novos direitos adquiridos. Desta forma destaca Piovesan (2004, p. 175): “O processo de globalização dos direitos humanos traz em si a necessidade de implementação desses direitos, mediante a criação de uma sistemática internacional de monitoramento e controle – a chamada international accountability.”

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A contribuição destes órgãos ao processo de universalização dos direitos humanos é inegável. Afinal, ao proteger os direitos fundamentais em época de guerra, promover a paz e a segurança internacionais, e estabelecer um padrão global mínimo para as condições de trabalho, deu-se o primeiro passo rumo ao reconhecimento de que os direitos humanos devem ser protegidos independentemente de raça, credo, cor ou nacionalidade, podendo a comunidade internacional intervir no caso dos Estados furtarem-se a fornecer tal proteção a seus nacionais.

A Carta da ONU trouxe em seu texto que os Estados-partes deveriam promover a proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sendo esses direitos definidos e fixados com a Declaração Universal de 1948, no entanto a declaração em si mesma não apresentava força jurídica obrigatória e vinculante, passando-se assim a discutir uma maneira de garantir e manter em eficácia dos dispositivos tratados em seu contexto (PIOVESAN, 2004). Em concordância, Lima Jr. (2002, p. 9) atenta para o fato de que: “temos que ressaltar que a Declaração Universal de Direitos Humanos não é um tratado, mas uma resolução da Assembleia Geral da ONU, sem força de lei”. Desta, forma passou-se a ter a necessidade de judicialização da Declaração Internacional dos Direitos Humanos, para que fosse posto em prática o que nela estava disposto, sem que omissões por parte dos estados-partes pudessem comprometer sua eficácia. Este processo de judicialização da Declaração dos Direitos Humanos começou em 1949 e foi concluído somente em 1966, com o advento de dois tratados internacionais distintos, sendo eles o Pacto internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, sociais e culturais (PIOVESAN, 2004).

Após a adoção da Declaração Universal houve uma preocupação em formular tratados internacionais com força jurídica obrigatória e vinculante, que pudessem garantir de forma mais efetiva o exercício dos direitos e liberdades fundamentais constantes da DUDH. Foi assim que, em 1966, foram aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. (LIMA JR., 2002, p. 10).

O Pacto internacional dos Direitos Civis e Políticos foi criado em 16 de dezembro de 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no entanto somente entrou em vigor em 23 de março de 1976, pois foi somente nesta data que atingiu o número mínimo de adesões estipulado de 35 estados. Neste sentindo refere Piovesan (2004, p. 178):

Embora aprovados em 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, sociais e culturais, entraram em vigor apenas dez anos depois, em

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1976, tendo em vista que somente nesta data alcançaram o número de ratificações necessário para tanto.

Em seus primeiros artigos o Pacto internacional sobre Direitos Civis e Políticos, foi levantado o dever dos Estados-partes em assegurar os direitos nele previsto a todos os indivíduos que estivessem sobre sua jurisdição, conforme afirma Piovesan (2004, p. 179):

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos proclama, em seus primeiros artigos, o dever dos Estados-Partes em assegurar os direitos nele elencados a todos os indivíduos que estejam sobre sua jurisdição, adotando todas as medidas necessárias para este fim.

Desta forma criou-se uma sistemática de monitoramentos ao cumprimento do que estava estabelecido no tratado, criando obrigações aos Estados Partes, sendo que ao ratificar o Pacto os Estados-partes, passaram a ter obrigação de enviar relatórios, obrigação que está expressa no art.40 do Pacto, os quais deverão ser encaminhados anualmente ao Comitê de Direitos Humanos.

Conforme Piovesan (2004, p. 184),

Os principais direito e liberdades cobertos pelos Pacto dos Direitos Civis e Políticos são: o direito à vida; o direito de não ser submetido a tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; o direito a não ser escravizado, nem submetido a servidão; os direitos a liberdade e a segurança pessoal e a não ser sujeito a prisão ou detenção arbitrária; o direito a um julgamento justo; igualdade perante a lei; a proteção contra a interferência arbitrária na vida privada; a liberdade de movimento; o direito a uma nacionalidade; o direito de casar e de formar família; as liberdades de pensamento, consciência e religião; as liberdades de opinião e de expressão; o direito à reunião pacífica; a liberdade de associação; o direito de aderir sindicatos e o direito de votar e de tomar parte do governo.

Como já referido acima o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais surgiu e entrou em vigor juntamente com o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, uma vez que a ideia inicial era de criá-los juntamente. Sendo que seu objetivo também é o mesmo; incorporar a Declaração Universal com força vinculante e obrigatória. Vejamos o que diz Piovesan (2004, p. 193):

Tal como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o maior objeto do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi incorporar os

(23)

dispositivos da Declaração Universal sob a forma de preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes.

Este tratado, como os demais, também teve o objetivo de criar obrigações legais ao Estados-partes, resultando em responsabilidade internacional no caso de violação dos direitos que nele esta elencando.

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estabelece direitos direcionados aos deveres dos Estados, enquanto o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos tem seus direitos direcionados aos indivíduos, afirmação esta que pode ser feita juntamente com Piovesan (2004, p. 194) que diz:

Enquanto o Pacto dos Direitos Civis e Políticos estabelece direitos endereçados aos indivíduos, o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estabelece deveres endereçados aos Estados. Enquanto o Primeiro Pacto determina que ‘todos têm o direito a...’ ou ‘ninguém poderá...’, o segundo Pacto usa a fórmula ‘os Estados-partes reconhecem o direito de cada um a...’.

Com a incorporação dos direitos dispostos na Declaração e os tratados acima referidos, houve a transformação dos dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em previsões juridicamente vinculantes e obrigatórias transformado em um movimento internacional dos direitos humanos. De acordo com Piovesan (2004, p. 176), “Com o efeito a conjugação desses instrumentos internacionais simbolizou a mais significativa expressão do movimento internacional dos direitos humanos, apresentando central importância para o sistema de proteção em sua globalidade.”

Segundo Piovesan (2004) foi a partir da elaboração desses pactos que formou-se a Carta Internacional dos Direitos Humanos, integrada pela Declaração Universal de 1948 e pelos dois pactos internacionais. Jack Donnelly (apud PIOVESAN, 2004, p. 176) disse que:

os direitos enumerados nessa carta internacional podem ser concebidos como direitos que refletem uma visão moral da natureza humana, ao compreender os seres humanos como indivíduos autônomos e iguais, que merecem igual consideração e respeito.

(24)

A partir da Carta Internacional dos Direitos Humanos se inaugurou o sistema global de proteção desses direitos, e ao seu lado já se delineava o sistema regional de proteção, nos âmbitos europeu, interamericano e africano.

1.4 O sistema global de proteção aos Direitos Humanos

O sistema global de proteção aos direitos humanos, portanto, é representado principalmente pela Organização das Nações Unidas, que tem como objeto principal a cooperação intergovernamental, objetivando a proteção referente a pessoa humana. Com a formação deste sistema global se teve normas de alcance geral. Seus mecanismos estão divididos em dois tipos: convencionais e extra convencionais, ambos sobre comando da ONU. Assim afirma o autor Lima Jr. (2002, p. 31) quando diz:

Os mecanismos de proteção dos direitos humanos podem ser de dois tipos: convencionais e extra convencionais. Seu funcionamento está sob a responsabilidade direta da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Esta, por sua vez, tem sua atuação balizada pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC).

Os mecanismos convencionais são assim chamados porque foram estabelecidos através de convenções, sendo compostos por especialistas que tem independência em relação aos países dos quais são provenientes. Em regra os comitês são formados por 18 membros com exceção de três, o Comitê sobre os Direitos da Mulher, integrado por 23 membros, Comitê sobre os Direitos da Criança e do Comitê contra a Tortura, integrados por 10 membros, tendo eles competência para examinar os relatórios dos governos e da sociedade civil como forma de monitoramento da implementação dos tratados nos estados-partes (LIMA JR, 2002).

Segundo Lima Jr. (2002), os comitês responsáveis pelo monitoramento dos tratados no âmbito das Nações Unidas são:

* Comitê de Direitos Humanos: Monitora a implementação do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 28).

* Comitê contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes: Monitora a implementação da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (art. 22).

(25)

* Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial: Monitora

a implementação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (art. 14).

* Comitê sobre os Direitos da Criança: Monitora a implementação da Convenção

sobre os Direitos da Criança (art. 43)

* Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher: 32 Monitora a implementação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (art. 21).

* Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: Monitora a implementação do

Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (criado por resolução do Conselho Econômico e Social).

Esses comitês de monitoramento têm responsabilidade de examinar os relatórios fornecidos pelos estados-partes, realizando pareceres para auxiliar os países a melhorar a implementação dos tratados, no seu plano interno. Sobre tais Comitês, Almeida (2001, p. 65) assevera:

Todos os comitês há pouco citados recebem relatórios dos Estados-partes a respeito da situação dos direitos humanos elencados nos respectivos tratados. Sua principal tarefa não é condenar os Estados que não cumprem com suas obrigações convencionais, mas prestar assistência na gradual implementação desses direitos. O relatório é muito mais um instrumento de informação e monitoramento do que de constatação de denúncia de alguma grave violação.

Os mecanismos extra-convencionais ou também conhecidos por especiais são criados através de resolução de órgãos legislativos da ONU, como a Comissão de Direitos Humanos, o Conselho Econômicos e social ou a Assembleia Geral, esses mecanismos tem como finalidade de examinar as violações cometidas pelos países (LIMA JR., 2002).

Aos relatores especiais são atribuídos os poderes de investigar situações de direitos humanos, através de visitas in loco, receber denúncias ou comunicações, e oferecer recomendações de como solucioná-las. Neste sentido diz Lima Jr. (2002, p. 63):

Os relatores especiais, representantes especiais ou experts independentes têm seu mandato estabelecido pela Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, órgão ao qual devem prestar contas anualmente, durante a reunião da Comissão, em Genebra. A Comissão estabelece dois tipos de mandatos: temáticos – quando se

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referem a situações específicas de direitos humanos – e por países – quando se referem à situação dos direitos humanos em determinados países.

Ao lado da criação da ONU, em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, havia necessidade de proteção aos direitos fundamentais dos indivíduos, necessidade esta que impulsionou a criação de sistemas regionais de proteção aos direitos humanos. Segundo Lima Jr. (2002, p. 59), “Esses sistemas regionais caracterizam-se por uma maior homogeneidade entre seus membros, se os compararmos à abrangência da ONU, tanto no que se refere aos seus sistemas jurídico políticos, quanto aos aspectos culturais”. Desta forma, surgiram três principais sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, sendo eles o Sistema Europeu, Africano e Americano. Nas palavras de Lima Jr (2002, p. 59),

Por sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, deve-se entender os atuais organismos internacionais regionais existentes nos diversos continentes, como no europeu, representado pela Corte Europeia de Direitos Humanos; no americano, representado pela Comissão Interamericana e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos; e no africano, representado pela Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos.

Passamos a analisar mais detalhadamente cada um desses sistemas regionais de proteção aos direitos humanos.

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2 SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

Com a internalização1 dos Diretos Humanos, após a Segunda Guerra Mundial, surgiram mecanismos, instituições e instrumentos voltados à proteção desses direitos, pois não poderia mais ser admissível que esses direitos ficassem a mercê de um bom senso de um estado.

Como já acima referido, o papel do Sistema Global de proteção aos Direitos Humanos é fazer a análise através de seus comitês de relatórios formulados por Estados-partes a respeito das medidas tomadas em seu âmbito doméstico para a implementação do tratado, a realização de investigações in loco, a apreciação de comunicações interestatais, bem como de petições individuais.

Ao lado desse Sistema Global possuidor de um aparato global de proteção não se limitando apenas a uma determinada região, mas sim a todos os Estados integrantes da ordem internacional, surgiram os Sistemas Regionais de proteção aos Direitos Humanos que buscaram internacionalizar os direitos humanos em um plano regional (PIOVESAN, 2004).

A criação desse Sistema Regional é positiva uma vez que os grupos são divididos de acordo com seu espaço geográfico, consequentemente os grupos são menores e por serem geograficamente próximas, tendem a ter os mesmo costumes regionais, se tornando assim mais fácil de se estabelecer um consenso político, fazendo assim aumentar o grau de adesão dos dispositivos. Assim, os Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos, se encontra dividido em três principais sistemas, sendo eles, Europeu, Interamericano e Africano. Afirmação esta que pode ser confirmada nas palavras de Henry Steiner (apud PIOVESAN, 2004, p. 218), que diz “há atualmente, três sistemas regionais principais – o Europeu, o Interamericano e o Africano”. Porém, a de se lembrar que há um quarto sistema de proteção aos direitos humanos em fase de construção e aperfeiçoamento, sendo ele o Sistema Árabe.

1 Internalização diz respeito à incorporação inconsciente de certos padrões, ideias, atitudes, práticas, personalidade ou valores de outra(s) pessoa(s) ou da sociedade, que o indivíduo passa a considerar como seus, enquanto internacionalização diz respeito ao ato de tornar internacional (PINTO, 2008).

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Em um primeiro momento a criação dos Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos, foi alvo de crítica em razão da característica da universalidade de tais direitos, no entanto, hoje se tem a consciência que os sistemas não concorrem entre si, e sim se complementam, tornando a efetividade da proteção dos direitos humanos mais efetiva e de longo alcance.

Nesta linha de pensamento diz Carmo Neto (2008, p. 322):

Se no âmbito do sistema global de proteção, cujas discussões têm lugar na Organização das Nações Unidas baseadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, torna-se difícil o consenso entre os Estados-partes, o que enfraquece a capacidade sancionatória de suas deliberações e impede a criação de órgãos jurisdicionais internacionais; por isso resultados diversos têm sido possíveis nos sistemas regionais de proteção dos direitos fundamentais.

Com a criação do Sistema Regional de Proteção aos Direitos Humanos, se criou um maior alcance sobre a aplicabilidade dos direitos humanos, pois em um grupo menor se torna mais fácil a fiscalização em relação as possíveis violações desses direitos. Conforme diz Piovesan (2000, p. 21):

Verifica-se que a proteção aos direitos humanos por meio de instituições de âmbito regional tem-se revelado mais positivo, na medida em que os estados situados num mesmo contexto geográfico, histórico e cultural têm maior probabilidade de transpor os obstáculos que se apresentam em nível mundial.

Desta forma, podemos concluir que enquanto o Sistema Global atua de forma mais genérica, os Sistemas Regionais têm por objetivo aperfeiçoar e fortalecer a proteção dos direitos humanos estabelecidos no Sistema Global. Assim os Sistemas se tornam complementares um ao outro, uma vez que possuem o mesmo objetivo: a proteção dos direitos humanos (PIOVESAN, 2004).

O Sistema Europeu de proteção aos Direitos Humanos foi o primeiro a ser criado, tendo como aparato jurídico a Convenção Europeia de Direitos Humanos, assinada em 1950, a qual estabeleceu a Corte e a Comissão de Direitos Humanos, sendo que em 1961 está Convenção foi complementada pela Carta Social Europeia, uma vez que a Convenção só tratava sobre direitos civis e políticos. Afirmação está que pode ser feita junto a Comparato (2001, p. 267):

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Celebrada em Roma em 4 de janeiro de 1950, a Convenção para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades fundamentais foi elaborada no seio do Conselho da Europa, organização representativa dos Estados da Europa Ocidental, criada em 5 de maio de 1949, para promover a unidade europeia, proteger os direitos humanos e fomentar o progresso econômico e social.

Lima Jr. (2002, p. 61) também se manifestou sobre:

Há de se destacar que a Declaração Americana foi o primeiro instrumento internacional de direitos humanos anterior à Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Americana sobre Direitos Humanos absorveu basicamente os mesmos conteúdo da DUDH45. Também na versão americana é reproduzida a divisão acerca dos direitos humanos civis e políticos em oposição aos econômicos, sociais e culturais, fruto da divisão do mundo em blocos econômicos.

Após sua entrada em vigor a Convenção teve a adição de vários protocolos, cabendo ressaltar entre eles o de n°11, que modificou o mecanismo de controle, estabelecendo a fusão da Comissão com a Corte de Direitos Humanos e também qualquer outra pessoa física ou ONG, fazendo com que ambos possam submeter à Corte sobre a violação dos Direitos Humanos. Modificação essa que elevou o Sistema Europeu a ser considerado o mais avançado entre os três (COMPARATO, 2001). No mesmo sentido manifesta-se Lima Jr. (2002, p. 60):

Em 11 de maio de 1994, o Protocolo n. 11 reestruturou o sistema de monitoramento, uma vez que o grande número de petições encaminhadas provocou a necessidade de simplificar os mecanismos. A solução adotada foi a criação de uma Corte permanente, para diminuir a demora nos procedimentos, e reforçar o caráter judicial do sistema, extinguindo-se a antiga Corte (31 de outubro de 1998), a Comissão (um ano depois, em 31 de outubro de 1999, pois tinha que cuidar dos casos previamente declarados admissíveis), e o papel do Comitê no exame de petições.

Como toda vantagem possui sua desvantagem, neste caso não foi diferente, pois com a extinção da Comissão, veio a possibilidade de qualquer pessoa poder se submeter a Corte, gerando assim um número de demandas muito grande, o que ensejou a discussão de um novo protocolo sob n°14 que discute a reforma dos mecanismos do Sistema Regional Europeu para que se possa ter uma melhor atuação diante das demandas (COMPARATO, 2001). Nesse sentido, destaca Ramos (2012, p. 51):

Depois da entrada em vigor do Protocolo n. 11, o indivíduo vítima de violações de direitos humanos ou outro Estado (actio popularis) devem apresentar sua ação diretamente à Corte Europeia Permanente de Direitos Humanos. No final de 2004,

(30)

foi elaborado o Protocolo n. 14, que busca otimizar a eficiência da Corte de Estrasburgo e ainda adaptar à Convenção ao futuro ingresso da União Europeia por meio de novos filtros de acesso.

Segundo o Art.38 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, a estrutura da Corte Europeia de Direitos Humanos é formada por um número de juízes equivalentes ao número de Estados participantes, que são eleitos pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e têm um mandato de seis anos. No entanto, os juízes são independentes, não atuando em seu Estado de origem. Nesse sentido manifesta-se Ramos (2012, p. 51):

A nova Corte Europeia, de acordo com o artigo 38 da Convenção, é composta de um número de juízes igual ao número de membros do Conselho da Europa, atualmente 47. De acordo com o Protocolo n. 11, o reconhecimento da jurisdição da nova Corte é obrigatório (no passado, era cláusula facultativa da Convenção Europeia de Direitos Humanos).

Em relação aos casos de violações dos Direitos Humanos, esses passam por um processo de admissibilidade, processo este realizado pela Corte. Sendo assim se a Corte após analise observar que a petição é inadmissível, esta decisão será definitiva, não cabendo recurso. Em caso contrário se a petição for admissível as partes serão informadas e a Corte tentará chegar em um acordo, não sendo possível, será aberto o prazo para apresentação de memoriais, e sendo necessário será designada audiência. Ramos (2012, p. 52) também destaca quais são os motivos de inadmissibilidade das petições:

Os motivos da inadmissibilidade são os seguintes: 1) ausência de esgotamento dos recursos internos; 2) perda do prazo de seis meses a contar da data da decisão interna definitiva para peticionar à Corte EDH; 3) anonimato da petição; 4) coisa julgada, caso a petição seja essencial, idêntica a uma petição anteriormente examinada pela Corte ou já submetida a outra instância internacional de direitos humanos sem qualquer fato novo; 5) teor incompatível com o disposto na Convenção ou manifestamente mal fundada ou com caráter abusivo; e, finalmente, 6) não ocorrência de qualquer prejuízo significativo ou matéria de grave indagação, salvo se o respeito pelos direitos exigir uma apreciação da petição.

Nos casos onde há responsabilidade por parte do Estado, este se compromete a cumprir as decisões da Corte, sendo que a efetividade do cumprimento dessas decisões se dá através de um Comitê de Ministros, ao qual é submetida todas as decisões demandada da Corte, este Comitê funciona como órgão executivo do Conselho da Europa, tem como função supervisionar a execução das medidas propostas pela Corte (RAMOS, 2012). Esse Comitê demandará que o Estado violador informe constantemente aos Ministros sobre a

(31)

implementação das medidas. Após que todas as medidas forem efetivamente cumpridas e que o Comitê considera que sua missão foi cumprida. Em caso contrário existem várias formas de encorajar os Estados a cumprirem os dispositivos internacionais, tais como pressões diplomáticas e outros, e em último caso a Corte ainda poderá aplicar a sansão de ameaça de expulsão do Conselho da Europa (ESTATUTO DO CONSELHO DA EUROPA, 1949, art.15).

A atuação da Corte Europeia de Direitos Humanos está cada dia se tornando mais eficiente, uma vez que os Estados participantes estão cumprindo suas medidas e modificando procedimentos e instituições, como é o caso do sistema de detenção na Alemanha (TRINDADE, 2003).

O Sistema Africano de Proteção aos Direitos Humanos teve origem através da Carta Africana de Direitos Humanos e dos povos, conhecida como Carta de Banjul, que foi adotada pela Assembleia da Organização da Unidade da África em 27 de junho de 1981, porém só entrou em vigor em 21 de outubro de 1986 quando alcançou o número mínimo de retificações necessárias para entrar em vigor. De acordo com Lima Jr. (2002, p. 59):

Dentro do Sistema Africano, a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos foi criada pela Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (adotada em Nairobi/Quênia, em 1981, pela Assembleia Geral da Organização da Unidade Africana), que entrou em vigor em 21 de outubro de 1986, e tem o objetivo de promover e proteger os direitos humanos e dos povos dentro do continente africano.

A Carta de Banjul busca espelhar e preservar contornos característicos da cultura e da formação histórica africana. Assim se destacam três principais aspectos: consagração dos valores tribais como corolário do espírito da Carta; a disposição singular não só de direitos, mas também de deveres dos indivíduos africanos para com seus grupos familiares e, finalmente, a afirmação conceitual dos direitos dos povos como direitos humanos, em especial aqueles concernentes ao direito à independência, à autodeterminação e à autonomia dos Estados africanos (TRINDADE, 2003).

A carta também inaugurou um grande avanço legislativo em relação ao tratamento normativo dos direitos humanos, pois elencou no rol de direitos protegidos, tanto os direitos civis e políticos e também os direitos econômicos, sociais e culturais. De acordo diz Trindade

(32)

(2003, p. 199) “Opta claramente, portanto, “por uma visão necessariamente integral ou holística dos direitos humanos, tomados todos em seu conjunto, seguindo com fidelidade o legado da Declaração Universal de 1948.”

Como no Sistema Europeu de proteção aos Direitos Humanos, o Sistema Africano também conta com a Comissão e a Corte de Proteção aos direitos humanos, as quais buscam fazer recomendações e punir os que violarem tais direitos. Em seu artigo 30 a Carta estabeleceu a Comissão Africana de Proteção aos Direitos Humanos e dos Povos, sendo que esta não possui caráter jurisdicional, visto a natureza não obrigatória de suas decisões (LIMA JR., 2002).

A Carta Africana de Direitos Humanos e dos povos de 1981, traz e seus Arts. 31 e 36, a composição da Comissão Africana de Direitos Humanos, sendo ela composta por 11 membros, eleitos pela Assembleia de Chefes de Estado e Governo da UA, para um mandato de seis anos cada um. A Comissão e realiza seus trabalhos através de duas sessões ordinárias anuais, com duração de aproximadamente duas semanas cada, podendo haver é claro sessões extraordinária. Assim destaca Ramos (2012, p. 77):

O único órgão criado pela Carta da Banjul foi a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, composta por onze membros escolhidos entre personalidades africanas (nacionais dos Estados contratantes) que gozem da mais alta consideração, integridade e imparcialidade, e que possuam conhecimento em matéria dos direitos humanos e dos povos. A escolha é feita pelos governos em votação secreta pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo (partes na Carta), a partir de uma lista de pessoas apresentadas pelos Estados-partes (cada Estado por apresentar até dois nomes). A Comissão não pode ter mais de um membro nacional por Estado e o mandato é de seis anos, renovável, tendo sua sede em Banjul, Gâmbia.

O art. 31 da Carta estabelece que em regra as sessões da Comissão são realizadas na sede da Comissão em Banjul, Gâmbia, chefiadas pelo presidente em exercício. No entanto, existe a possibilidade que essas sessões ocorram em outro lugar, desde que se tenha um pedido de seus membros e anuência do secretário administrativo da Comissão. (CARTA AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS, 1981, art. 31).

A Comissão tem autonomia para decidir se a execução de seus trabalhos será feita em sessões abertas ou fechas a população. É importante destacar que a Comissão pode convidar, se assim entender necessário, Estados, Movimentos de Libertação Nacional, Organizações

(33)

Não-Governamentais e entidades especializadas, para discussões dos casos que compõem a agenda (RAMOS, 2012).

A Comissão Africana tem exercido sua atuação principalmente no que diz respeito a promoção dos Direitos Humanos, limitando-se sua competência em examinar os relatórios apresentados pelos Estados; e investigar, debater e elaborar relatórios conclusivos frente a denúncias de violações aos direitos humanos salvaguardados pela Carta (CARTA AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS, 1981, art. 45).

Pode também a Comissão promover, no âmbito desta atribuição, estudos, seminários, congressos e convênios com outras instituições africanas ou internacionais que objetivem colocar em evidência a necessidade de se proteger tais garantias na África. A conclusão desses trabalhos podem ser encaminhados aos Estados e a Assembleia da UA como forma de recomendações e sugestões para que sejam adotadas as medidas cabíveis. Ramos (2012, p. 77) se reporta nesse sentido:

A promoção dos direitos humanos e dos povos é feita em especial por meio de estudos e pesquisas sobre problemas africanos na temática, capacitando os órgãos nacionais de direitos humanos. Também incumbe à Comissão buscar elaborar, para subsidiar a adoção de textos normativos pelos Estados africanos, princípios e regras referentes ao gozo dos direitos humanos e dos povos. Cabe ainda à Comissão dar pareceres ou fazer recomendações aos governos sobre a promoção de direitos humanos e cooperar com as outras instituições africanas ou internacionais especializadas na temática. Em 2007, a Comissão emitiu uma opinião consultiva sobre a ‘Declaração das Nações Unidas sobre Povos Indígenas’.

Em seu artigo 45, III a Carta de Banjul traz outra competência da Comissão, dizendo que comete a este órgão a responsabilidade de efetuar eventuais interpretações teóricas a respeito de seus dispositivos. Podendo realizar através de um pedido a qualquer um dos Estados-partes da União Africana, ou a qualquer um de seus órgãos (RAMOS, 2012).

Em junho de 1998, na 30º sessão da Assembleia de Chefes de Estado e Governo da Organização da Unidade Africana, foi adotada a resolução AHG/230, que foi o marco inicial para a iniciativa de um projeto de criação da Corte Africana de Proteção aos Direitos Humanos e dos Povos (RAMOS, 2012). No entanto, somente me 2004, após atingir o número de quinze ratificações necessárias, que o protocolo de criação da Corte, entrou em vigor, deixando claro em seus artigo 2º que a função da Corte era de complementar a Comissão,

(34)

devendo assim trabalharem lado a lada para a proteção e promoção aos direitos humanos. De acordo com Ramos (2012, p. 78) diz:

O Protocolo de 1998, elaborado em Ouagadougou (Burkina Fasso), à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos previu a criação deuma Corte Africana dos Direitos do Homem e dos Povos. O referido protocolo só entrou em vigor em 2004, após a 15 a ratificação.

Sendo assim, a Corte Africada é composta por onze juízes, os quais para serem indicados para o exercício do cargo, é necessário que sejam naturais dos Estados que compõem a União Africana. Os juízes também deveram possuir conduta ilibada e satisfazer os critérios de alta qualificação jurídica, acadêmica e pratica no campo dos direitos humanos (RAMOS, 2012).

As eleições desses juízes, se da através de uma lista de candidatos apresentada pelos países signatários do Protocolo, tendo o limite de três indicações por pais. Após feita esta lista a Assembleia de Chefes dos Estados e de Governo da União Africana elegerá, através de uma votação secreta os componentes da Corte, que terão um mandato de seis anos, sendo possível uma única reeleição. Em concordância com o parágrafo anterior e com este, destaca Ramos (2012, p. 79):

A Corte é composta por 11 juízes, nacionais dos Estados da União Africana (UA, substituta da Organização da Unidade Africana), que são eleitos por votação secreta pela Assembleia da UA entre juristas de notória reputação moral e experiência reconhecida na área jurídica e, em especial, no tema dos direitos humanos e dos povos. Cada Estado pode indicar até três nomes, sendo que, no caso de preferir indicar a lista tríplice, esta será composta por no máximo dois nomes de sua nacionalidade. O mandato é de seis anos, renovável apenas uma vez. A sede da Corte, instalada em 2007, é em Arusha (Tanzânia), que sedia também o Tribunal Penal Internacional para o Crime de Genocídio em Ruanda. A Corte, como a sua congênere americana, trabalha em sessões periódicas por ano (4 ordinárias), podendo ser convocada extraordinariamente.

Dentre esses onze juízes serão escolhidos um presidente e vice-presidente, com mandato de dois anos com possibilidade uma reeleição. Desses juízes será exigido bom desempenho profissional, baseado em premissas da boa-fé e imparcialidade. A eles é concedido a independência de atuação e imunidades reconhecidas pelo Direito Internacional aos agentes diplomáticos (CARTA AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS, 1981, art. 42 e 43).

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Em seus artigos 3 e 4 do Protocolo adicional a Corte Africana, esta possui dois tipos de competência, sendo elas a contenciosa que refere-se a possibilidade e legitimidade para apresentar demandas a Corte, e a competência consultiva que refere-se a competência para interpretar e imitir parecer sobre qualquer temática jurídica prevista na Corte Africana.

Sobre a competência contenciosa Ramos (2012, p. 79) diz:

A Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos (Corte ADHP), instalada em 2006, tem jurisdição sobre os casos contenciosos envolvendo a interpretação e aplicação da Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos, bem como os demais instrumentos de direitos humanos ratificados pelo Estado-réu.

E ao que se refere à competência consultiva Ramos (2012, p. 79) também se manifesta:

A Corte ADHP possui o poder de emitir opiniões consultivas a pedido de um Estado-Membro da União Africana (UA), ou de seus órgãos ou ainda a pedido de qualquer organização intergovernamental africana reconhecida pela UA. O objeto da opinião pode ser referente a qualquer matéria jurídica relativa à Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos ou ainda outro relevante instrumento de direitos humanos aplicável aos Estados-membros. A única ressalva é que o pedido de opinião consultiva não pode recair em matéria sob apreciação da Comissão (que, obviamente, pode redundar em uma ação perante o mecanismo contencioso).

A Carta Africana juntamente com seus protocolos, estabeleceu mecanismos e procedimentos específicos de proteção, sendo possível a ocorrência de demandas interestatais, demandas não-estatais, relatórios estatais e medidas provisionais, as quais não serão aprofundadas neste trabalho, uma vez que este tem seu foco voltado ao Sistema Regional Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos.

2.1 Sistema interamericano de proteção aos direitos humanos

Este sistema tem como seu aparato jurídico principal a Convenção Americana de Direitos Humanos firmada em São José da Costa Rica no ano de 1969, no entanto só entrou em vigor em 1978, após atingir o número mínimo de 11 ratificações necessárias. Neste sentido se manifesta Piovesan (2004, p. 219) quando diz:

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