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Desafios da educação profissional e tecnológica : a experiência do curso superior de tecnologia em gestão de turismo do IFS

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. CRISTIANE SANTOS PICANÇO. DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO DO IFS. São Cristóvão, Sergipe 2011.

(2) CRISTIANE SANTOS PICANÇO. DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO DO IFS. Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da Profª Drª. Ana Maria Freitas Teixeira, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do Título de Mestre em Educação. .. São Cristóvão, Sergipe 2011.

(3) III. FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. P585d. Picanço, Cristiane Santos Desafios da educação profissional e tecnológica : a experiência do curso superior de tecnologia em gestão de turismo do IFS / Cristiane Santos Picanço. – São Cristóvão, 2011. 259f.: il. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de PósGraduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2008. Orientador: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Freitas Teixeira. 1. Trabalho e Educação. 2. Educação profissional e tecnológica 3. Cursos tecnológicos. I. Título. CDU 378:338.48.

(4) IV.

(5) V. Aos meus pais Antonio e Josélia, Pela valiosa educação que me proporcionaram, baseada em seus valores morais e em suas atitudes positivas diante da vida. Pela forte presença física e espiritual em toda a minha história. Por todo o amor que dedicaram à nossa família. Exemplos de sabedoria e generosidade..

(6) VI. AGRADECIMENTOS Agradecer é algo divino, pois nos permite refletir sobre a nossa trajetória de vida. É no agradecimento que se percebe quantas pessoas te querem bem e o quanto isso se transforma em felicidade. Meus sinceros agradecimentos a todas essas pessoas queridas citadas nesse texto, que sem a pretensão, distribuíram generosidade. À minha orientadora Dra. Ana Maria Freitas Teixeira, por ter acreditado em minha capacidade de assumir um trabalho tão complexo quanto é a discussão sobre a relação entre o trabalho e a educação. Por todo o incentivo que me forneceu e pelo compromisso e dedicação com essa pesquisa, tendo sempre tolerância com as minhas limitações. Um exemplo de humildade na academia. À Ana Karina, que me trouxe para o mundo científico, se tornando a principal responsável pelo meu ingresso no mestrado em educação, acompanhando todas as fases desse processo. Pelas leituras dos textos, correções, apoio emocional e pela sincera amizade. Ao Dr. Wellington Vilar, pelas longas horas de leituras críticas do texto. Por me empurrar sempre para frente, aumentando a minha autoestima e me fazendo acreditar em minha capacidade intelectual. Por todo apoio emocional, intelectual e moral. Pelo bom humor, elemento fundamental nesse processo de construção de ideias. À Profa. Lúcia Aranha, pelas valiosas contribuições na disciplina Trabalho e Educação com aulas sempre descontraídas e ricas em conteúdo. À Profa. Veleida, por ter me apontado um caminho de pesquisa. À Viviane e Vinicius, dois amigos do mestrado em Educação, que dedicaram muitos dos seus dias na finalização da minha pesquisa. Dois anjos que se dispuseram em ficar ao meu lado para terminar esse trabalho. Sem eles essa tarefa seria impossível. Sempre atentos, criteriosos, carinhosos, pacientes e tolerantes. Pessoas do bem! E à minha turma do mestrado, ímpar em descontração e companheirismo, da qual algumas pessoas se tornaram muito próximas, compartilhando alegrias, angústias e esperanças: Ana Paula, Josilene, Josineide, Inácia e Kátia. À Luca, meu amigo irmão, sempre pronto a ajudar, resolvendo as coisas mais impossíveis para mim. Cheio de paciência e bom humor diante de tantas adversidades. À Tainah, por contribuir na organização de tantas entrevistas. Um desafio quase sem fim..

(7) VII. À Marize, um exemplo de sapiência. Em todos os momentos à disposição para tirar minhas dúvidas acerca da relação trabalho e educação com uma visão crítica dessa educação no IFS. Aos meus ex-alunos e amigos Kleber , Fagner, Josevânia e Raquel. O primeiro pela disposição em resolver tantas coisas da minha vida pessoal. O segundo pelas contribuições durante o mestrado, principalmente com as normas da ABNT. E Josevânia e Raquel por tantos favores prestados na logística de vários materiais para a pesquisa. À Silvana, Vaneide, Tampa, Sueli, Enock, Dênio, Márcio e Iara. Cada um com a sua habilidade para viver, porém com a mesma motivação: de generosidade. Aos professores do IFS a quem recorri para tirar dúvidas e organizar as idéias: Carlos, Claudio, Amâncio e Antonio Wilson. Aos professores do IFS, Nara, Mary, Célia e Ártemis pelos diálogos descontraídos nesses dois anos de pesquisa. E também a Christian, Ilka e Beijanine, ex-professores da instituição, e parceiros neste percurso. Ao Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo pela organização das minhas atividades docentes durante o período do mestrado, sempre com compreensão e prestatividade. Aos sujeitos da pesquisa: meus ex-alunos, que foram muito solícitos; os Gestores do IFS, sempre disponíveis; os Gestores das empresas privadas de Turismo em Aracaju por terem gentilmente participado das entrevistas; Docentes do Curso de Turismo, pela valiosa participação na pesquisa. Aos proprietários do Café do Palácio do Museu Olímpio Campos de Aracaju, que me cederam o espaço para a realização de vários encontros na fase das entrevistas e não me deixaram faltar um delicioso café e um amável sorriso. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe, representado pelo Reitor Ailton Ribeiro de Oliveira, que me permitiu realizar a pesquisa no interior da instituição, tendo acesso a documentos importantes do Curso de Turismo. À minha família de Aracaju, meu marido Cortazio e meu filho Alexandre, pelos mimos, lanches na madrugada e paciência com o meu humor instável. Às minhas famílias de Salvador e do Rio, pais, irmão(a), sobrinhos, tios(as), primos(as), cunhados(as), pela compreensão com a minha ausência em tantos momentos de confraternização em família e pelo apoio para que eu pudesse estudar com tranqüilidade. À Deus, por ter fortalecido a minha fé, me fazendo crer que seria possível..

(8) VIII. "O Tecnólogo estuda, pesquisa, analisa, desenvolve, avalia e aperfeiçoa. Ele também é inteligência, um produtor de sentidos, de significados e de história". (Lucília Machado, 2008, p.20).

(9) IX. RESUMO Esta pesquisa tem como objeto o Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – IFS, por meio do qual se objetivou analisar a sua proposta e a relação desta com o mundo do trabalho. Para subsidiar este objetivo, outros foram eleitos, tais como: contextualizar os elementos históricos que norteiam a educação profissional e tecnológica no Brasil e suas influências nas concepções dos cursos tecnológicos; identificar o perfil do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do IFS; Entender as percepções sobre a educação profissional e tecnológica e as competências desenvolvidas no Curso; Analisar as concepções sobre a formação e a efetividade da proposta do Curso em estudo. Os principais autores utilizados foram Enquita (1989; 1993), Frigotto (1995; 1998; 2005); Harvey (2003), Kuenzer (1999; 2000; 2010), Machado (1991; 2009; 2010), Mello (2007), Saviani (1994; 2004; 2008), Deluiz (2009), Ramos (2001), Brandão (2009; 2010), Bastos (2010), Lima Filho ( 2010), Ciavatta ( 2005; 2010). O campo empírico desta pesquisa se compôs pelo IFS, e pelo Mercado de Trabalho de Turismo em Aracaju, este último representado por hotéis, agências de turismo e restaurantes. A pesquisa foi realizada em Aracaju, Sergipe, no período de março de 2009 a março de 2011, através da participação de cinquenta sujeitos, sendo estes: Docentes, Discentes, Egressos, Gestores do IFS e Gestores do Mercado de Trabalho. Trata-se de uma investigação com abordagem metodológica de natureza qualitativa, com breve análise de dados quantitativa. Inspira-se nos princípios da dialética que se vincula à corrente filosófica do materialismohistórico. Caracteriza-se como um Estudo de Caso, pautado em uma pesquisa exploratória, na qual foram utilizados como instrumentos de coleta de informações a entrevista estruturada e a análise documental. Os resultados alcançados apontam a dificuldade de reconhecimento do Curso Tecnológico de Turismo tanto na esfera do IFS quanto no mercado de trabalho. No primeiro caso foi revelado que existe certa resistência da instituição pela natureza do Curso, já que este se distancia da sua cultura de ensino no âmbito das Engenharias e Ciências Exatas. Além disso, faltam debates sobre a densidade tecnológica no Curso e também sobre a relação dialética entre trabalho e educação, bem como a falta de investimentos na formação de professores para a docência na educação profissional. No segundo caso foi constatado o desconhecimento acerca da graduação tecnológica, a falta de políticas públicas de Turismo para a valorização da profissão, além da profissão na área de Turismo não ser muito valorizada pelos Gestores do mercado de trabalho em Aracaju. Palavras-chave: Trabalho e Educação; Educação Profissional e Tecnológica; Cursos Tecnológicos..

(10) X. ABSTRACT This research studies the Technological Undergraduate Course of Tourism Management from the Federal Institute of Education, Science and Technology of Sergipe – IFS, analyzing its proposal and the relation between this and the job world. In order to accomplish this objective, others were chosen, such as: contextualize the historical elements which guide the professional and technological education in Brazil and their influences in the conceptions of the technological courses; identify the profile of the Technological Undergraduate Course of Tourism Management at IFS; understand the perceptions of professional and technological education present in the course, as well as the competences developed throughout the course; analyze the idea of formation and the effectiveness of the course’s proposal. The main authors who gave support to the study were: Enquita (1989; 1993), Frigotto (1995; 1998; 2005); Harvey (2003), Kuenzer (1999; 2000; 2010), Machado (1991; 2009; 2010), Mello (2007), Saviani (1994; 2004; 2008), Deluiz (2009), Ramos (2001), Brandão (2009; 2010), Bastos (2010), Lima Filho ( 2010), Ciavatta ( 2005; 2010). The empirical field of this study involved IFS and the Tourism Job Market, this last one being represented by hotels, tour agencies and restaurants. The research was conducted in Aracaju, Sergipe, from March 2009 to March 2011, having fifty participants: teachers, students, former students, IFS managers and job market managers. It is a qualitative investigation, with a brief quantitative analysis. It is inspired in the principles of dialectics, which is connected to the philosophical brand of the historical materialism. It is a case study, conducted as an exploratory research, in which structured interview and documental analysis were used as data collection procedures. The results point to the difficulty in recognizing the Technological Course of Tourism as such both by IFS and by the job market. In the first case, it was noted that there is a certain resistance on the part of the institution due to the nature of the course, since this one differs from the teaching culture of the Engineering and Exact Sciences courses. Besides, there is a lack of debate on the technological depth in the Course as well as on the dialect relation between job and education, not to mention the lack of investment in the teachers’ education concerning the teaching in professional education. In the second case, it was noticed the lack of knowledge concerning the technological under graduate courses, the lack of public policies of Tourism for the value of the tourism profession, besides the fact of the occupation in the area of Tourism not being valued enough by the managers of the job market in Aracaju. Keywords: Job and Education; Professional and Technological Education; Technological Courses..

(11) XI. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Documentos legais a respeito dos cursos de engenharia de operação nas décadas de 1960 e 1970. ...................................................................................... 104 QUADRO 2 - Indicadores legais sobre a duração, denominação e perfil profissiográfico dos cursos tecnológicos no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. .................................. 109 QUADRO 3 - Principais documentos legais acerca dos cursos superiores de tecnologia do final da década de 1990 e início do ano 2000. ....................................................... 118 QUADRO 4 - Modificações do catálogo nacional de cursos superiores de tecnologia apresentadas na versão de 2010. .......................................................................... 136 QUADRO 5 - Panorama dos cursos superiores de tecnologia no ano de 2009 em Aracaju. ........ 145 QUADRO 6 - Relação de egressos do curso superior de tecnologia em gestão de turismo do IFS por suas respectivas turmas. ............................................................................ 153 QUADRO 7 - Siglas para identificação dos gestores pesquisados no mercado de trabalho de turismo em Aracaju. ............................................................................................... 154 QUADRO 8 - Finalidades, objetivos e perfil profissional de conclusão do curso superior de tecnólogo em ecoturismo. ...................................................................................... 170 QUADRO 9 - Organização curricular do curso superior de tecnólogo em ecoturismo. ............... 172 QUADRO 10 - Disposição dos componentes curriculares de parte do módulo I do curso superior de tecnólogo em ecoturismo. ................................................................. 174 QUADRO 11 - Práticas pedagógicas previstas para o curso superior de tecnólogo em ecoturismo. ........................................................................................................ 175 QUADRO 12 - Distribuição das disciplinas por módulo no curso de graduação tecnológica em ecoturismo. ..................................................................................................... 182 QUADRO 13 - Itinerário formativo do curso superior de tecnologia em gestão de turismo do CEFET-SE, 2008. ................................................................................................ 187 QUADRO 14 - Esboço do perfil do tecnólogo em gestão de turismo........................................... 190 QUADRO 15 - Perfil dos docentes do IFS .................................................................................... 192 QUADRO 16 - Perfil dos egressos do IFS .................................................................................... 194 QUADRO 17 - Perfil dos discentes do IFS ................................................................................... 196.

(12) XII. LISTA DE SIGLAS. APO – Administração por Objetivos ANT – Associação Nacional dos Tecnólogos BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento CCQs – Círculos de Controle de Qualidade CEB – Câmara de Educação Básica CEFETs – Centros Federais de Educação Tecnológica CENTEC – Centro de Educação Tecnológica CES – Câmara de Educação Superior CFE – Conselho Federal de Educação CNE – Conselho Nacional de Educação CNJ – Conselho Nacional da Juventude CODEFAT – Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador CPs – Centros de Educação Profissional CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação DAU – Departamento de Assuntos Universitários DEI – Diretoria do Ensino Industrial DEM – Departamento de Ensino Médio EAFs – Escolas Agrotécnicas Federais EJA – Educação de Jovens e Adultos ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes EPT – Educação Profissional e Tecnológica ET – Escolas Técnicas ETFs – Escolas Técnicas Federais FANESE – Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe FASE – Faculdade de Sergipe FASER – Faculdade Sergipana FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador FEI – Faculdade de Engenharia Industrial FHC – Fernando Henrique Cardoso FME – Fórum Mundial de Educação.

(13) XIII. FMEPT – Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação GT – Grupo de Trabalho IES – Instituições de Ensino Superior IFS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ITS – Instituto de Tecnologia Social LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação MTE – Ministério do Trabalho e Emprego PARCs – Parcerias Nacionais e Regionais P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional PDT – Partido Democrático Trabalhista PEA – População Economicamente Ativa PEQs – Planos Estaduais de Qualificação PIB – Produto Interno Bruto PL – Projeto de Lei PLANFOR – Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador PlanSeQs – Planos Setoriais de Qualificação PlanTeQs – Planos Territoriais de Qualificação PNE – Plano Nacional de Educação PNPE – Plano Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego PNQ – Plano Nacional de Qualificação PPA – Planos Plurianuais PRODEM – Programa de Ensino Médio e Superior de Curta Duração PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos PROEP – Programa de Expansão de Educação Profissional ProEsQs – Projetos Especiais de Qualificação e Certificação Profissional PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens PUC – Pontifícia Universidade Católica QSP – Qualificação Social e Profissional.

(14) XIV. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas SEMTEC – Secretaria de Educação Média e Tecnológica SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes SENETE – Secretaria Nacional de Educação Tecnológica SESC – Serviço Social do Comércio SESCOOP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SESI – Serviço Social da Indústria SEST – Serviço Social de Transportes SESU – Secretaria de Educação Superior SETEC – Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica SINDES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINDITECNO – Sindicato dos Tecnólogos do Estado da Bahia SINE – Sistema Nacional de Emprego SINTESP – Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo UFS – Universidade Federal de Sergipe UNIT – Universidade Tiradentes UTFPR – Universidade Tecnológica do Paraná USAID – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional.

(15) XV. SUMÁRIO. LISTA DE QUADROS LISTA DE SIGLAS INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16 CAPÍTULO I - TRABALHO E EDUCAÇÃO .................................................................... 21 1.1 Breve Retomada do Debate ............................................................................................ 22 1.2 Os Signos da Nova Ordem no Mundo do Trabalho e no Mundo da Educação .............. 42 CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL ..... 61 2.1 As Principais Reformas: Panorama a partir da Década de 1990 .................................... 61 2.2 Impactos das Reformas sobre a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica ........................................................................................................................ 86 CAPÍTULO III - O NÍVEL SUPERIOR DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: OS CURSOS TECNOLÓGICOS ................................................................................................ 95 3.1 Contexto Histórico e Base Legal .................................................................................... 95 3.2 Os Cursos Superiores de Tecnologia em Aracaju – Sergipe ........................................ 139 CAPÍTULO IV - PERCURSO METODOLÓGICO......................................................... 148 4.1 Natureza, Paradigma e Método da Pesquisa ................................................................. 148 4.2 Campo Empírico ........................................................................................................... 150 4.3. Os Sujeitos Participantes ............................................................................................. 151 4.4. Principais Instrumentos de Coleta de Informações ..................................................... 155 4.5 O Tratamento das Informações ..................................................................................... 158 CAPÍTULO V - A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA PARA O TURISMO: A EXPERIÊNCIA DO IFS ............................................................................. 160 5.1 A Proposta Inicial: O Curso de Tecnólogo em Ecoturismo ......................................... 161 5.2 De Ecoturismo para Gestão de Turismo ....................................................................... 184 5.3 O Perfil Sócio-demográfico dos Sujeitos do IFS .......................................................... 191 5.3.1 O Perfil dos Docentes ............................................................................................. 191 5.3.2 O Perfil dos Egressos ............................................................................................. 193 5.3.3 O Perfil dos Discentes ............................................................................................ 196 5.4 Concepção da Educação Profissional e Tecnológica e as Competências Desenvolvidas no Curso de Gestão de Turismo ................................................................. 197 5.5 Concepção da Formação no Curso de Gestão de Turismo e a Efetividade de sua Proposta no Mercado de Trabalho ...................................................................................... 214 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 240 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 245 APÊNDICES ......................................................................................................................... 260.

(16) 16. INTRODUÇÃO Esta pesquisa toma como ponto de partida o cenário dos cursos superiores de tecnologia no Brasil, oriundos da década de 1960, devido a uma abertura na Lei nº 4.024/61 que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, permitindo a organização de cursos e escolas experimentais. Tais cursos se caracterizaram desde o seu surgimento como ofertas de natureza profissional, portanto imbricadas na educação profissional e tecnológica, sendo-lhes atribuído um caráter de treinamento para a produção, resultado de uma mentalidade preconceituosa que qualificou a educação profissional apenas como a responsável por “ensinar a fazer”, supondo que esta seria destituída de visão crítica dos processos sociopolíticos e culturais que circundam a ação educativa. Em toda a sua trajetória os cursos tecnológicos encontraram nas Escolas Técnicas Federais e Centros Federais de Educação Profissional, hoje pertencentes à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e denominados de IFs, um ambiente oportuno para o seu desenvolvimento, já que é sabido, estes estabelecimentos são precursores do “ensino profissionalizante” no país. Do mesmo modo, tais cursos também foram responsáveis pela transformação da história e das diretrizes dessas escolas, e, portanto, partícipes do mesmo movimento de construção e de mudança de paradigmas da educação profissional e tecnológica, em uma esfera que contempla a ciência, a tecnologia e o trabalho. O percurso histórico desses cursos demonstra o quanto eles já foram alvos de políticas de governo, que se apoiaram em um discurso persuasivo da garantia de uma formação de nível superior “mais rápida” e mais “adequada” às necessidades do mercado produtivo, levando muitos estudantes a optarem por essa oferta, acreditando unicamente nessas orientações e na certeza da empregabilidade. No entanto, o aporte legal para a garantia dos direitos aos egressos dos cursos tecnológicos não se estabeleceu concomitante à sua concepção, levando décadas para que os tecnólogos viessem a ter a sua formação organizada com base em princípios norteadores e objetivos definidos, o que, mesmo assim, não eliminou o olhar discriminador do mundo do trabalho a respeito dessa formação. Diante dessas considerações e da profusão de elementos sócio-históricos e políticos sobre os referidos cursos, que ainda incitam e requerem novas reflexões, surgiu a aspiração de se desenvolver um estudo acerca de uma oferta específica de curso tecnológico, constituindo-se, tal proposta, na análise do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo, oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – IFS, caracterizado como uma oferta.

(17) 17. diferenciada nesta instituição, que tem como vocação as ofertas de cursos técnicos e tecnológicos nas grandes áreas das Ciências Exatas e Engenharias. Não por acaso, a escolha para a pesquisa deste Curso foi norteada por motivações muito particulares à vida acadêmica e profissional desta pesquisadora, que é Tecnóloga em Administração Hoteleira, formada no antigo Centro de Educação Tecnológica da Bahia – CENTEC, e foi profissional da sua área de formação durante 15 anos, além de atualmente ser professora do Curso ora analisado, e ter sido coordenadora do mesmo no período compreendido entre 2006 a 2008. Ademais, a si impôs o compromisso de contribuir com as discussões que permeiam o Curso, e que certamente perpassam pelas reflexões de outros docentes comprometidos com a educação profissional e tecnológica, como: a singularidade do Curso, a identidade do tecnólogo, a densidade tecnológica, a empregabilidade, a relevância do Curso para o IFS e para o mercado de trabalho de Turismo, apenas para citar algumas. Logo, com a realização dessa pesquisa, almeja-se ter um diagnóstico dos desafios que circundam a efetivação da proposta do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo e as possíveis soluções para os problemas desvendados. Nessa perspectiva, para proceder ao desenvolvimento desta pesquisa houve a necessidade de se debruçar sobre alguns conceitos fundamentais, tais como: trabalho; educação profissional e tecnológica; tecnologia e cursos tecnológicos. A categoria trabalho surgiu como a primeira discussão da pesquisa, sendo desenvolvida em conjunto com a educação, na tentativa de explicar a simbiose entre ambos. Desse modo, tornou-se fundamental as contribuições de Saviani (2007) com o esclarecimento sobre o trabalho enquanto categoria ontológica, estruturante do ser social e histórica, produzida e desenvolvida ao longo do tempo pelos próprios homens. O conceito de educação profissional e tecnológica foi fundamental para a interpretação dos pressupostos que orientam os cursos superiores de tecnologia, sendo crucial o entendimento da concepção dessa educação promovida pelo Ministério da Educação e exposta no Documento Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica (2004), que a explicita como responsável pelos estágios formativos construídos nos processos básicos dos valores inerentes ao ser humano, que privilegiam as vertentes da tecnologia e acolhem o trabalho como categoria de saber e de produção, que ao se organizarem de maneira inovadora, provocam mudanças socioeconômicas. A compreensão sobre o conceito de tecnologia forneceu o embasamento teórico para uma análise crítica a respeito dos cursos de tecnologia, que por essência devem ter maior.

(18) 18. nível de conhecimento tecnológico. Assim, inspirou-se no conceito de tecnologia apreciado por Machado (2008), como a ciência da atividade humana. Ao mesmo tempo, o conceito de curso tecnológico mereceu especial atenção para que fossem contemplados os recortes teóricos da pesquisa, bem como a construção dos dados empíricos, de tal forma que se vislumbrou os cursos superiores de tecnologia como cursos de graduação tecnológica, regulares de educação superior e com Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, que por sua vez contempla o foco, a finalidade, os objetivos e os princípios dessa graduação. Considerando-se, portanto, o contexto apresentado, algumas questões chaves foram levantadas para subsidiar a investigação e atender aos propósitos do objeto estudado, sendo estas: Quais são os elementos históricos que norteiam a educação profissional e tecnológica no Brasil? Qual o perfil do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do IFS? Quais são as concepções sobre a educação profissional e tecnológica e as competências desenvolvidas no Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo IFS? Quais são as concepções sobre a formação e a efetividade da proposta do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do IFS? Nessa direção, configurou-se como objetivo geral da pesquisa, analisar a proposta do Curso Superior de Tecnologia e Gestão de Turismo do IFS e sua relação com o mundo do trabalho. Para esse fim, foram eleitos os seguintes objetivos específicos: contextualizar os elementos históricos que norteiam a educação profissional e tecnológica no Brasil e suas principais influências nas concepções dos cursos tecnológicos; identificar o perfil do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do IFS; entender as concepções sobre a educação profissional e tecnológica e as competências desenvolvidas no referido Curso; analisar as concepções sobre a formação e a efetividade da proposta do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do IFS. O estudo foi realizado na região metropolitana de Aracaju – Sergipe, no período de março de 2009 a março de 2011, através da análise dos documentos do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo, além de uma pesquisa empírica com a participação de 50 sujeitos: 38 oriundos do IFS e 12 do Mercado de Trabalho de Turismo de Aracaju. Compuseram os grupos de entrevistados: 09 Docentes efetivos do IFS e lotados na Coordenadoria de Hospitalidade e Lazer; 16 Egressos do Curso, das turmas que ingressaram nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007; 10 Discentes/Concludentes do Curso no ano de 2010/01, além de 03 Gestores responsáveis pela Gestão do Ensino. Já no Mercado de Trabalho, os sujeitos se constituíram de 04 Gestores de Agência de Turismo; 04 Gestores de.

(19) 19. Hotéis e 04 Gestores de Restaurantes, empresas da iniciativa privada e que representam o deslocamento, a hospedagem e a alimentação, considerados o tripé do Turismo. A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma abordagem metodológica de natureza qualitativa com breve análise de dados quantitativos. Foi inspirada nos paradigmas da dialética e configura-se em um estudo de caso, de caráter exploratório, consoante com a pesquisa de campo. Os principais instrumentos de coleta de informações foram a entrevista estruturada e utilização de documentos relacionados ao curso. Assim, como resultado deste estudo, apresenta-se a presente dissertação dividida em 06 partes interligadas. A primeira delas é a Introdução, que ora se expõe, na qual são anunciadas as motivações e inquietações que induziram a pesquisa, além dos principais conceitos relacionados ao objeto de estudo, as questões de pesquisa, os objetivos e os procedimentos metodológicos que constituíram todo o trabalho desenvolvido. A segunda parte é dedicada à fundamentação teórica da pesquisa. É composta pelo capítulo I, intitulado de “Trabalho e Educação”. Neste texto são analisadas e desenvolvidas as principais categorias conceituais relacionadas ao trabalho e à educação, através de uma revisão dos principais autores numa abordagem histórica e crítica. Duas seções de escrita constituem esta parte do trabalho, quais sejam: Breve Retomada do Debate; Os Signos da Nova Ordem no Mundo do Trabalho e, no Mundo da Educação. A terceira parte privilegia a contextualização do objeto de estudo, sendo formada pelos capítulos II e III. No capítulo II, denominado de “Educação Profissional e Tecnológica no Brasil”, a discussão se desenvolve tomando como fio condutor o percurso da educação profissional no país num período que se estende de 1990 a 2009, situando as reformas da educação que marcaram esse espaço de tempo e que têm por base a legislação produzida ao longo dessas duas décadas. Nesse texto são apresentadas 02 seções de escrita, são elas: As Principais Reformas: Panorama a partir da Década de 1990; Impactos das Reformas sobre a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. No capítulo III, cujo título é “O Nível Superior da Educação Profissional: Os Cursos Tecnológicos”, expõe-se a trajetória histórica que deu início à proposta de educação profissional, contextualizando os avanços, retrocessos e os marcos legais que nortearam a implantação dos cursos tecnológicos no Brasil e no Estado de Sergipe. São, também, apresentadas, 02 seções de escrita: Contexto Histórico e Base Legal; Os Cursos Superiores de Tecnologia em Aracaju – Sergipe. A quarta parte, destinada às questões pertinentes à metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, é composta pelo capítulo IV, denominado de “Percurso.

(20) 20. Metodológico”. Neste capítulo 05 seções de escrita são redigidas: Natureza, Paradigma e Método da Pesquisa; Campo Empírico; Os Sujeitos Participantes; Principais Instrumentos de Coleta de Informações; O Tratamento das Informações. A quinta parte, designada para divulgar os resultados pesquisados, fundamenta-se nas análises dos documentos examinados, que nortearam a concepção e efetividade do Curso de Gestão de Turismo, bem como na pesquisa empírica, desenvolvida através da análise das respostas dos sujeitos entrevistados. É composta pelo capítulo V, que tem o título de “A Educação Profissional e Tecnológica para o Turismo: a Experiência do IFS”. O capítulo apresenta 05 seções de escrita, sendo estas: A Proposta Inicial: O Curso de Tecnólogo em Ecoturismo; De Ecoturismo para Gestão de Turismo; O Perfil Sócio-demográfico dos Sujeitos do IFS (o qual se desmembra em 03 subseções intituladas, respectivamente, de O Perfil dos Docentes, O Perfil dos Egressos e o Perfil dos Discentes); Concepção da Educação Profissional e Tecnológica e as Competências Desenvolvidas no Curso de Gestão de Turismo; Concepção da Formação no Curso de Gestão de Turismo e a Efetividade de sua Proposta no Mercado de Trabalho. Por fim, a sexta parte deste trabalho é dedicada à exposição das reflexões sobre o objeto de estudo analisado. Nesta etapa, denominada de Capítulo IV “Considerações Finais”, desenvolve-se uma síntese dos principais desafios encontrados pelo Curso de Gestão de Turismo, tanto no âmbito do IFS quanto no âmbito do mercado de trabalho, e indicam-se alguns caminhos para o equacionamento de tais desafios..

(21) 21. CAPÍTULO I TRABALHO E EDUCAÇÃO É lugar comum nos estudos voltados às relações entre Educação e Trabalho, a concepção de que o trabalho humano permite ao homem criar e transformar o seu meio e a sua própria existência. Desde a sua forma mais primitiva, o trabalho exige que o homem se debruce sobre a sua ação e reflita sobre o ato de produzir, o que torna esse processo uma forma de aprendizagem individual e social, repleta de significado para a sua emancipação. Esse conhecimento socializado e absorvido coletivamente, desencadeia uma ação educativa vista como espontânea, empírica, desenvolvida entre os homens apenas com o interesse de facilitar o seu cotidiano. Vê-se, nessa breve explanação, que há uma simbiose entre essas duas categorias, o trabalho e a educação. Isso, no entanto, não significa dizer que se estabelece, invariavelmente, uma relação harmoniosa entre ambos. Em verdade, os rumos trilhados pela sociedade, sobretudo entre os séculos XVIII e XIX, lançaram as bases do capitalismo, modo de organização da vida social pautado na divisão de classes: aqueles que trabalham (proletariado) e aqueles que se apropriam do trabalho alheio (burguesia). Articulado a essa divisão de classes e à sua própria manutenção, dois modelos distintos de educação foram instituídos: aquele cujo objetivo está em educar uma classe social para fazer, executar tarefas diretamente vinculadas à produção dos bens, e aquele voltado a educar uma classe social para pensar, para formular e organizar as tarefas a serem executadas por outros homens. Assim, fica explícito que no universo do Trabalho e da Educação existe um espaço rico em contradições e de interesses diversos nos campos: social, econômico, político e cultural, exigindo uma observação histórica e crítica dos contextos em que se inserem essas categorias. Deste modo, a finalidade do presente capítulo é situar o debate a propósito do trabalho e da educação, suas congruências, divergências, os seus pontos de equilíbrio e a influência desse movimento na educação profissional e tecnológica no Brasil. Com esse intuito, apresenta-se nos textos que seguem, respectivamente, um panorama dessas duas categorias, tomando-se como norte as transformações produtivas decorrentes das Revoluções Industriais, assim como o exame de alguns dos conceitos mais utilizados nos anos de 1990 e que traduzem o debate mais atual em torno das relações entre Trabalho e Educação..

(22) 22. 1.1 Breve Retomada do Debate Os caminhos que levam ao conhecimento da cúmplice relação entre Trabalho e Educação e a sua influência na vida do homem em sociedade evidenciam que a mesma é composta, simultaneamente, por contradições e consensos, indicando que tanto o trabalho quanto a educação se configuram como dois objetos de estudo complexos e que não se esgotam nos limites das pesquisas e teorias. Os sentidos atribuídos ao Trabalho, à Educação e à sua inter-relação diferem conforme a historiografia, o campo de pesquisa e a corrente epistemológica que se utiliza para sua análise. Destarte, existe uma vasta literatura que elege a concepção marxista como imprescindível para o exame das questões que envolvem o trabalho e que também discutem a sua relação com a educação, ao que corrobora Lombardi (2005, p.3), quando afirma que “o marxismo continua sendo uma concepção viva o suficiente, ainda na contemporaneidade, para análise crítica da sociedade capitalista, além de ser um referencial revolucionário e transformador da ordem existente”. Nessa perspectiva, a construção desse texto se fundamenta no referencial teórico advindo do pensamento marxista a partir das contribuições de autores contemporâneos que, ao se vincularem a essa corrente teórica elaboram uma contextualização acerca da relação entre o trabalho e a educação, por meio de uma trajetória histórica e crítica do homem em sociedade, elencando aspectos que expressam a magnitude dessa relação nos distintos períodos da história. Partindo das observações de Saviani (2007a), reconhece-se que o trabalho e a educação são atividades especificamente humanas, pois apenas o ser humano trabalha e educa. Ao contrário dos animais, que se adaptam à natureza, os homens buscam adaptar a natureza a si, transformando-a e ajustando-a às suas necessidades. Nesse sentido, é o homem quem garante a sua própria existência e por meio do seu aprendizado ele a produz. Portanto, ratifica o autor, “a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide, então, com a origem do mesmo” (SAVIANI, 2007a, p.154). Nas comunidades primitivas, o homem, ao lidar com a natureza, experimentava formas de manipulá-la e validava os conhecimentos que eram eficazes a este fim, transmitindo-os e socializando-os, garantindo a continuidade da espécie. Os meios de produção da existência eram assimilados de modo coletivo; prevalecia o modo de produção comunal e não havia a divisão de classes, pois tudo era feito em comum. A educação, nessas circunstâncias, identificava-se com a vida. Nas palavras de Saviani (2007a, p.154), “Na.

(23) 23. unidade aglutinadora da tribo dava-se a apropriação coletiva da terra, constituindo a propriedade tribal na qual os homens produziam sua existência em comum e se educavam nesse mesmo processo”. Na Antiguidade, o homem, ao se fixar na terra passa a reconhecê-la como sua propriedade privada, e, em consequência desse advento, resulta a divisão dos homens em classes, ou melhor, a divisão da sociedade em classes. Surgem duas classes sociais fundamentais: a classe dos proprietários e a dos não-proprietários dos meios de produção, ficando esta última com a obrigação, a partir do seu trabalho, de manter-se a si mesma e ao dono da terra, convertido em seu senhor. Na Antiguidade, tanto grega quanto romana, a aristocracia detinha a propriedade privada da terra e aqueles que a serviam eram seus escravos, configurando o modo de produção antigo como modo de produção escravista (Idem). Segundo Tassigny, No modo de produção escravista, o que contava era o produto do trabalho e não o produtor, pouco importava quem produzia. O trabalho humano além de ser considerado como castigo, era concebido em função de sua utilidade prática, portanto o que interessava era seu valor de uso e não o seu valor de troca. Nessa perspectiva, o objeto produzido permanecia numa relação de exterioridade com o sujeito que produzia e o produto do trabalho era visto somente na relação ao que seria útil para o outro e não em uma valorização de quem produzia (TASSIGNY, 2002, pp. 104-105).. A educação nesse novo contexto de classes sociais, ao contrário do que caracterizava as comunidades primitivas, passou a ser desenvolvida de acordo com a situação de cada classe, constituindo-se na educação para os homens livres e educação para os escravos e serviçais. Para estes últimos, a educação se delineava como uma instrução profissional nas casas às quais serviam. Cardoso (2001) salienta que em Roma há inferências do costume dos patrões treinarem os escravos em determinadas profissões. A educação destinada à classe proprietária dos meios de produção, que tinha o tempo livre para o ócio, era revestida de um caráter humanista, intelectual, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. Daí a origem da palavra escola, derivada do grego, que significa, etimologicamente, o lugar do ócio, do tempo livre. Fica caracterizado, a partir desse momento, “o processo de institucionalização da educação, correlato do processo de surgimento da sociedade de classes, que por sua vez, tem a ver com o processo de aprofundamento da divisão do trabalho” (SAVIANI, 2007a, p.155). Enguita (1993a) corrobora com o debate ao expor que a origem de educação, na Grécia, fundava-se com uma sociedade que excluía e desprezava o trabalho manual..

(24) 24. O trabalho manual é assunto de escravos, e o escravo não pertence à sociedade, nem sequer é um homem: é como mais tarde em Roma, um instrumentum vocale, uma ferramenta que fala, à diferença do instrumentum semimutum – o animal – e do instrumentum mutum – a ferramenta pura (ENGUITA, 1993a, p. 19).. Já na Idade Média o modo de produção feudal se consolida, tendo a terra como o principal meio de produção e a agricultura como forma economicamente dominante. Os homens viviam no meio rural e da atividade agrícola; e quanto ao trabalho servil, este se sobrepunha ao trabalho escravo (SAVIANI, 1994b). Retomando a exposição de Enguita (1993a), observa-se que o panorama na Idade Média e nos alvores da Idade Moderna retrata uma dinâmica de aprendizado no próprio local de trabalho, onde senhores, camponeses e artesãos medievais aprendem a guerrear, lutando; a cultivar a terra, arando-a; e a exercer o ofício, praticando-o. A igreja, responsável pelas escolas de mosteiros, abadias, catedrais, etc., estava mais interessada na inculcação das ideias religiosas e em recordar aos camponeses que deveriam temer a Deus nos céus e aos senhores na terra. Na análise de Enguita, É um equívoco pensar que as escolas de mosteiros, abadias, catedrais etc., mantidas pela igreja, representem um aparato escolar de vulto. A Igreja mantém tais “escolas” sobretudo porque está impedida de reproduzir-se por via biológica e, deve buscar seus continuadores externamente [...] Quanto às Universidades, que são o verdadeiro aparato escolar na Idade Média, sua projeção, com exceção dos estudos de Medicina, aponta invariavelmente para a Igreja ou a burocracia civil (ENGUITA, 1993a, p. 20).. No curso da história, já na Idade Moderna, o comércio prosperou em toda a Europa e beneficiou, diretamente, a burguesia, que desenvolvia as atividades comerciais, dotando-a de um maior poder econômico e rompendo, assim, com a antiga ordem feudal. Esse processo de ascensão da burguesia está associado à prosperidade da atividade mercantil que, mais tarde, vai dar origem ao capital. Saviani (1994b) explica que a ampliação das atividades artesanais, fortalecendo as corporações de ofício, aliada ao grau de acumulação que a economia feudal pôde alargar, possibilitou o crescimento de uma atividade mercantil que, inicialmente, foi se concentrando nas cidades, por meio de grandes mercados e feiras de trocas de caráter esporádico, que, ao se fixarem, deram origem a algumas cidades. A palavra burguesia deriva-se de burgo, pequenas cidades protegidas por muros, daí a denominação de burgueses. Os burgueses trabalhavam com o dinheiro e não eram bem vistos pelos integrantes da nobreza, os principais detentores da riqueza, na época, que se sentiam ameaçados por aquele.

(25) 25. novo grupo social que começava a movimentar a economia com certa independência. É importante observar que ao tempo em que a burguesia, na Europa, se consolidava, formavamse, também, a essa época, os Estados Nacionais Monárquicos que, segundo historiadores, foi de grande importância para os burgueses, pois a monarquia ao objetivar uma maior arrecadação de impostos e com isso a garantia do pleno poder do estado absolutista, incentivava a atividade comercial, que era o recurso indutor para o fortalecimento da burguesia. A relação da burguesia com a monarquia era satisfatória para ambos, mas também apontava grandes conflitos de interesses, pois a mesma além de questionar o poder monárquico sobre a economia, indagava a interferência do rei sobre o povo. Tais conflitos geraram as revoluções burguesas e seus principais personagens, os burgueses, passaram a deter, cada vez mais, poder, sem, no entanto, beneficiar as outras classes formadas por trabalhadores urbanos, pequenos comerciantes e camponeses. Os burgueses, conforme acrescenta Saviani (1994b), foram acumulando capital através do comércio, e, posteriormente, passaram a investir na própria produção originando, assim, a indústria. Estes processos de transformação conduziram ao deslocamento do eixo do processo produtivo, do campo para a cidade, da agricultura para a indústria. Temos então, a partir deste processo, a constituição de um novo modo de produção que é o capitalista ou burguês, ou modo de produção moderno (SAVIANI, 1994b, p. 154).. A burguesia se consolida na Idade Moderna e no conjunto das transformações dessa nova época se associa às mudanças que elevam o seu patamar de crescimento e poder. Nesse universo, destaca-se o século XVIII como o “Século das Luzes” e da Revolução Industrial, ou seja, mudanças acentuadas no mundo das ideias e da produção. Denominou-se Século das Luzes em virtude dos ideais iluministas da época, fundados em um movimento baseado em novas ideias filosóficas e econômicas que defendiam a liberdade de pensamento e a igualdade de todos os homens perante as leis. De acordo os filósofos iluministas, a razão guiaria o homem para a sabedoria, sendo a fonte de todo o conhecimento. Rompia-se com o poder da Igreja e com a inculcação da ideia de que Deus poderia interferir nos assuntos humanos. Na economia Adam Smith propõe o liberalismo, fundamentado no livre comércio entre as nações e no livre cambismo alfandegário. Segundo os iluministas, os homens poderiam prosperar economicamente através do seu trabalho. O movimento ilustrado, como também ficou conhecido o Iluminismo, deixou alguns traços no espaço educativo. Arroyo (1995) evidencia que o século das luzes acrescentou ao campo educativo a vinculação escola-vida, educação-progresso. As instituições educativas.

(26) 26. precisavam estar a serviço da produção e do homem produtivo, do trabalhador da nova ordem, dotado de uma nova ética econômica que as escolas socrática, monacal, paroquial e palaciana não mais atendiam. As ideias iluministas e o contínuo crescimento da burguesia influenciaram, sobremaneira, a Revolução Industrial, pois os representantes desses movimentos ao depreciarem a política econômica mercantilista, incentivavam diretamente o livre comércio e a concorrência, molas propulsoras para o incremento da produção e maior oferta de bens de consumo, resultando no investimento em novas e maiores indústrias. A Revolução Industrial é considerada, por diversos pesquisadores, como a mais importante de todas as revoluções do século XVIII, pois provocou mudanças de ordem econômica em todos os setores da economia dos países que se tornaram capitalistas e também dos países que mantinham relações comerciais com aqueles países. Mudanças na tecnologia face aos avanços tecnológicos aplicados à produção, pela utilização do ferro como matéria prima, pela substituição da energia humana para a energia a vapor, intensificando a produção e possibilitando o atendimento a um mercado em permanente expansão. E, acima de tudo, provocou mudanças sociais, decorrentes das novas relações de trabalho e a sedimentação de duas classes sociais antagônicas: a burguesia capitalista, que detinha o poder financeiro, o capital, e o proletariado. Para Segnini (1994), tal transformação identifica a Revolução Industrial, no século XVIII como, essencialmente, uma revolução social, quando se registra a passagem de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial e o desenvolvimento das relações assalariadas, possibilitando uma nova forma de exploração do homem pelo homem. Nesse estado de mudanças de paradigmas, no qual o trabalho se torna o principal componente de transição e junto a ele as novas relações sociais que se fundam decorrentes do modo de produção, Enguita (1989b) traz um novo elemento à apreciação ao assinalar a dificuldade de adaptação dos camponeses às novas condições de trabalho na fábrica, já que eram acostumados ao trabalho ao ar livre, à sazonalidade e ao seu próprio ritmo, em vez de imposições como calendário, horário e velocidade de trabalho, resultando, muitas vezes, no abandono em massa de suas funções, mesmo em momentos já avançados da industrialização. Nessa ordem dos acontecimentos, torna-se pertinente destacar a origem do capitalismo. O surgimento e o funcionamento do capitalismo tiveram como precedente a produção mercantil simples que se destinava à troca, denominada, assim, segundo Machado (1991a, p.37), porque “está baseada na produção de mercadorias pelos pequenos produtores independentes, proprietários de seus próprios meios de produção e que não exploram trabalho.

(27) 27. alheio”, como por exemplo, a produção artesanal e a camponesa, em oposição à produção natural voltada para a subsistência. A respeito do capitalismo, a autora acrescenta: Com a expropriação dos pequenos produtores independestes e o desenvolvimento da produção capitalista, a burguesia industrial requer para a sua sobrevivência, enquanto classe hegemônica, o alastramento das relações capitalistas de produção e, conseqüentemente, a transformação das instituições sociais. Uma parte dos pequeno-burgueses, vítimas da concorrência capitalista, transforma-se em proletários; outra parte continua as suas atividades originais, enfrentando, cada vez mais, maiores dificuldades (MACHADO, 1991a, p. 38).. Na sociedade capitalista ou burguesa, a mudança do eixo produtivo converte o saber de potência intelectual em potência material. Assim, o domínio de uma cultura intelectual impõe-se como exigência comum a todos os membros da sociedade, e a escola, vista como instrumento para esse fim, é erigida como forma principal, dominante e generalizada de educação. Esse processo, conforme argumenta Saviani (2007a, p. 158), “assume contornos mais nítidos com a consolidação da nova ordem social propiciada pela indústria moderna no contexto da Revolução Industrial”. Nessa direção, o fluxo das ideias iluministas e a nova ordem econômica capitalista fazem eclodir a proposta burguesa de educação. Segundo Machado (1991a), no século XIX há a consolidação dos sistemas nacionais de educação, influenciados pelo sentimento nacional, para o qual um dos ingredientes era o estímulo à unidade espiritual em torno de uma mesma vontade. Era evidente a disputa entre a Igreja e o Estado em torno do controle sobre a educação escolarizada, sendo, este último, o vitorioso. A burguesia, que se confrontava com uma economia em plena expansão, acabou tendo que se render gradativamente à concessão de várias reivindicações liberais e nacionais, frutos de muitas lutas e conflitos. A organização de um sistema escolar unificado fora uma dessas exigências: Esta reivindicação foi entendida pela burguesia como uma necessidade, pois a educação, ao lado do Estado e do serviço militar, poderia contribuir enormemente para a consolidação da unidade nacional, necessária aos seus objetivos de hegemonia. Ela compreendeu, combatendo as resistências da aristocracia, que um sistema escolar unificado poderia reforçar a uniformidade cultural e ideológica, cuja referência era a sua própria ideologia. O proletariado via na unificação uma medida de democratização e foi falando em nome dela que a burguesia também a reivindicou. Mas, durante a luta ficaram claras as diferenças de conceitos de unificação escolar (MACHADO, 1991a, p. 53)..

(28) 28. Com a proposta da escola única, a burguesia tentou desarticular o pensamento educacional socialista que ao longo dos anos já vinha se formando e que com Marx1 adquiriu mais precisão, ao passo que se confrontou com a escola aristocrática, à qual ela se contrapunha. Nas palavras de Machado (1991a, p.53), “é, pois, uma proposta que desarticula ao mesmo tempo em que articula”. Esse pensamento se fortalece em Enguita: Os pensadores da burguesia em ascensão recitaram durante um longo tempo a ladainha da educação para o povo. Por um lado, necessitavam recorrer a ela para preparar ou garantir seu poder, para reduzir o da igreja e, em geral, para conseguir a aceitação da nova ordem. Por outro, entretanto, temiam as conseqüências de ilustrar demasiadamente aqueles que, ao fim e ao cabo, iam continuar ocupando os níveis mais baixos da sociedade, pois isto poderia alimentar neles ambições indesejáveis (ENGUITA, 1989b, p.110).. Num olhar panorâmico, observa-se que o cenário desta época foi formado por dois movimentos de sentidos opostos, conforme elucida Machado (1991a), pois ao tempo em que ocorria a consolidação econômica e política da burguesia, com a sua visão de mundo e interesses próprios, crescia e tomava consistência o proletariado, mediante a constatação da exploração capitalista e privação dos direitos políticos e que, portanto, tinham ideais distintos daqueles defendidos pela burguesia. A partir de experiências práticas, os operários entenderam a importância da vinculação entre a luta econômica e a conquista do Estado. A riqueza do período, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista político, possibilitou a Marx o desenvolvimento da concepção materialista e dialética da história que veio fortalecer, teórica e praticamente, a luta do proletariado. Para o movimento de ordem socialista a concepção da proposta de educação e unificação escolar, denominada escola unitária do trabalho, tinha como objetivo o desenvolvimento multilateral do indivíduo. “Se propõe como escola única, porque, sob a hegemonia do proletariado, o socialismo pretende realizar a emancipação geral; e do trabalho, porque é ele que lhe dá o conteúdo da unificação educacional” (MACHADO, 1991a, p.11). A discussão sobre as nomenclaturas dadas às propostas burguesa e socialista da educação, é assim analisada pela referida autora: Inicialmente, os liberais intitulam sua concepção, de escola única, referindose, especificamente, a um dos seus objetivos, ou seja, à consolidação da unidade nacional por um único sistema de ensino e o fortalecimento das similitudes e sentimentos pátrios. Com o tempo, surgiram associações do termo às reivindicações de supressão das diferenciações de ensino, e isto. 1. Refere-se à obra de Karl Marx (1818-1883) contemplada no quadro teórico dessa pesquisa por meio da análise de diversos autores..

(29) 29. criou-lhes problemas, pois não era exatamente isto o que propunham. Passaram a denominá-la escola unificada ou escola única diferenciada. A ultima expressão é mais elucidativa, pois mesmo revelando certa ambigüidade, ao tentar escamotear a contradição, ela também a manifesta (MACHADO, 1991a, p. 12).. Cabe salientar, com base no pensamento da supracitada autora, que a proposta burguesa de educação, denominada inicialmente de escola única, difere, em sua natureza, da escola única do trabalho na perspectiva socialista da emancipação geral e da realização da unificação escolar de fato. O movimento liberal destacava que os motivos que levassem a separação dos alunos nas escolas deveriam ser suprimidos, pois todos os cidadãos deveriam ser educados juntos, independente de religião, raça, sexo ou da sua posição econômica ou política, ocupando, se possível, os mesmos bancos escolares. Contudo, ao se defrontar com a questão do trabalho e sua relação com a educação, os liberais apontavam que essa relação poderia resultar como um recurso didático, pelo valor moral do trabalho, ou tendo em vista um ingresso imediato no mercado ocupacional. De acordo com Saviani (1994b), para a sociedade burguesa a educação escolar básica deveria ser generalizada porque isto correspondia ao caráter da burguesia revolucionária que expressava seus ideais em termos universais. Porém, no discurso da economia política clássica, a burguesia via a questão da escola com maior pragmatismo, chegando a afirmar que a instrução escolar era tempo roubado à produção. Todavia, para os teóricos da economia que vislumbravam, de forma mais objetiva, o processo da sociedade burguesa, como fora Adam Smith, era perceptível a ligação da instrução escolar a uma tendência modernizadora, a uma tendência de desenvolvimento própria de uma sociedade mais avançada. Assim, a assertiva era a de que a instrução para os trabalhadores era importante, pois “à medida que os trabalhadores dispusessem de educação básica, se tornavam mais aptos para viver em sociedade e se inserir no processo produtivo, se tornavam mais flexíveis, com pensamento mais ágil e mais adequado à necessidade da vida moderna” (SAVIANI, 1994b, p. 160). A nova proposta que a burguesia empreendeu para a educação, conforme elucida Arroyo (1995), foi aquela em que a educação do homem comum se dava para o trabalho e pelo trabalho. Já não era compatível que a educação escolar desprezasse o trabalho produtivo. Era necessário remexer no campo educativo construído durante séculos. Nesse campo deveria caber o trabalhador, sua produção, instrução e educação, para tirá-lo da ignorância alimentadora dos velhos preconceitos da velha ordem e para reeducá-lo nos novos hábitos de disciplina, a disciplina.

(30) 30. não tanto moral do controle dos vícios, mas a disciplina do tempo, do trabalho, da economia, do esforço (ARROYO, 1995, p. 87).. Na perspectiva de Machado (1991a), o movimento socialista e o movimento burguês, de inspiração liberal, postularam alguns aspectos para a educação que são de base comum a ambos, no que diz respeito à universalidade, laicidade, gratuidade e modificações de currículo com a inserção de novas disciplinas científicas. No entanto, é na discussão acerca da relação da educação com o trabalho que a escola única socialista assumiu outro significado, pois trouxe a condição de união da instrução e do trabalho e a perspectiva do homem completo. Outra contribuição da concepção marxista de educação é dada por Lombardi (2005), ao analisar a produção de Manacorda, o qual enfatiza que Marx e Engels não rejeitaram, mas assumiram as conquistas teóricas e práticas da burguesia no campo da educação, e acrescentaram que por meio do trabalho produtivo a educação deveria possibilitar o acesso aos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, em seus aspectos filosófico, científico, literário, intelectual, moral, físico, industrial e cívico. O marxismo introduziu uma concepção mais orgânica da união instrução/trabalho, na perspectiva de uma formação total de todos os homens. Enfatiza o autor: Em linhas gerais, a concepção marxista de educação foi gradativamente se configurando e assumindo os seguintes princípios: eliminação do trabalho das crianças na fábrica; associação entre educação e produção material; educação politécnica que leva à formação do homem omnilateral, abrangendo três aspectos: mental, físico e técnico, adequados à idade das crianças, jovens e adultos, inseparabilidade da educação e da política; e articulação entre o tempo livre e o tempo de trabalho, isto é, o trabalho, o estudo e o lazer (LOMBARDI, 2005, pp. 11-12).. O caráter da educação para o proletariado, definido por Marx, tinha como pressuposto a tendência histórica da ampliação da base técnica e científica da indústria moderna, pois dela brotaria o germe da educação do futuro já que o desenvolvimento fabril colocaria a necessidade da negação da particularização do trabalho. Não havia sentido reclamar por uma recuperação da universalidade do trabalho artesanal, pois a história não tem retorno, e era possível conjeturar que a universalidade que seria alcançada com o desenvolvimento técnico e científico atingiria uma dimensão jamais alcançada pelo gênero humano (MACHADO, 1991a). Nessa mesma direção, Nogueira (1993) contribui com a análise, ao apontar que o raciocínio de Marx se fundamentou, de modo geral, na ideia de que a fábrica poderia ser a portadora de um ensino ligado à aquisição do saber técnico referente ao processo produtivo em seu conjunto, pois que – uma vez rompida a especialização graças a outro modo de uso do.

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