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CAPÍTULO V A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA PARA O

5.1 A Proposta Inicial: O Curso de Tecnólogo em Ecoturismo

O Curso de “Gestão de Turismo” ou simplesmente “Curso de Turismo”, como é conhecido por seus estudantes e pela instituição que o abriga – o Instituto Federal de Sergipe– IFS –, foi concebido inicialmente como “Tecnólogo em Ecoturismo”, no ano de 2004, pelo então Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe–CEFET-SE, precursor do IFS. Daquele ano até o atual, 2011, muitas mudanças se efetivaram no Curso, sendo uma delas já apresentada nessas primeiras linhas, sucedidas de tantas outras que ganharam forma na medida da sua evolução.

Desenvolve-se, portanto, esse estudo de caso sobre o Curso de Turismo, resgatando o seu processo de formação, buscando-se, através de documentos que o constituíram formalmente, as motivações para a sua oferta, seus objetivos, premissas, além do aporte legal para o seu funcionamento. Do mesmo modo, resgatam-se, à luz das reformas da educação profissional e sob a influência de determinantes políticos e econômicos, os direcionamentos para a concepção do curso em referência.

Assim, destaca-se que a primeira condição para o início do processo de elaboração do novo Curso foi o atendimento à Portaria Ministerial nº 1.647, de 1999, um dos inúmeros documentos oficiais para organização e regularização dos cursos tecnológicos no Brasil, que dispunha sobre o credenciamento de centros de educação tecnológica e a autorização de cursos de nível tecnológico da educação profissional. Em meio a outras orientações da Portaria, aquelas que versam no item IV – Do projeto para cada curso proposto –, são as que mais interessam nessa discussão, pois deram um norte para a elaboração do projeto do Curso em estudo, conforme se transcreve a seguir:

a) concepção, finalidade e objetivos; b) plano de curso e currículo pleno proposto, com descrição dos módulos ou disciplinas; c) indicação do responsável pela implantação do curso com a respectiva qualificação profissional e acadêmica; d) perfil dos profissionais que pretende formar; e) perfil pretendido do corpo docente, quanto ao número, a qualificação, experiência profissional docente e não docente; f) previsão do regime de trabalho, do plano de carreira e de remuneração do corpo docente; g) regime escolar, vagas anuais, turnos de funcionamento e dimensão das turmas; h) período mínimo e máximo de integralização dos cursos; i) estudo de tendências econômicas e tecnológicas que justifiquem a implantação do curso e currículo proposto; j) descrição dos seguintes itens: i) biblioteca, sua organização, acervo de livros, periódicos especializados, assinaturas correntes, recursos e meios informatizados, área física, plano de expansão, formas de utilização; ii) edificações e instalações a serem utilizadas para o funcionamento do curso proposto, destacando conjunto de plantas, plano de expansão física e descrição das serventias; iii) laboratórios, oficinas e demais equipamentos a serem utilizados no curso proposto destacando o número de

computadores à disposição do curso e as formas de acesso a redes de informação (MEC, 1999, pp. 3-4). (Grifos nossos).

Os grifos no trecho acima são para chamar a atenção sobre algumas das exigências instituídas por esse instrumento legal para atender à política de educação profissional dos anos de 1990, voltada para a criação de cursos modulares e de atendimento às demandas econômicas, ao que Ramos (2001) distingue como uma incoerência, pois ao tempo em que se defendia uma sólida, completa e ampla formação do trabalhador em face das reestruturações econômicas e produtivas, adotava-se um modelo fragmentado para essa formação, expressa pela organização modular. Da mesma forma, Ciavatta (2006b) critica a educação para a formação do cidadão produtivo, no sentido de colocar a educação profissional a serviço do mercado.

Retomando a discussão sobre o caminho da construção do Curso de Turismo, recorre- se ao seu Projeto de Curso, documento de maior importância para a implantação do mesmo, e, por isso, sua permanente memória. Assim sendo observa-se, no documento citado, intitulado Projeto de Curso Superior de Tecnólogo em Ecoturismo (2004), os dados analisados a seguir.

No item 4.5 do referido Projeto, denominado de Histórico da mantenedora e da

instituição mantida, bem como no item 4.6, das Atividades principais da instituição mantida,

vislumbra-se que o CEFET-SE já tinha uma experiência anterior na área de Turismo, porém não no nível superior. Tratava-se de dois cursos técnicos denominados, respectivamente, de Técnico em Turismo e Hospitalidade, com Habilitação em Serviços Hoteleiros (iniciado no ano 2000); e Técnico em Turismo e Hospitalidade, com habilitação em Agenciamento e Guiamento de Viagens e Operações Turísticas (iniciado em 2003).

No item 4.6 há referência também a outro curso tecnológico na instituição, sendo numa outra área, de Meio Ambiente, sob a terminologia de Curso Superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental, cuja oferta se dava desde 2003. Logo, o Curso de Turismo viria a ser a segunda experiência em cursos tecnológicos do CEFET-SE. A respeito da implantação desses novos cursos, enfatiza-se a condição subjacente ao Decreto nº 2.406/9730, que indiretamente relacionava a ascensão de Escola Técnica Federal para CEFET, com a implantação da oferta de cursos tecnológicos. Assim, questiona-se até que ponto os cursos

30 O Decreto nº 2.406/97 regulamentou a Lei nº 8.948/1994 e determinou, dentre outras atribuições, que os

Centros Federais de Educação Tecnológica seriam implantados com as finalidades, as características e os objetivos estabelecidos nos arts. 2º, 3º e 4º daquele Decreto, que em meio a outras definições indicavam a atuação dos CEFETs como prioritária na área tecnológica nos diversos setores da economia e oferta de ensino superior tecnológico diferenciado das demais formas de ensino superior (BRASIL, 1997).

citados foram criados para responder às necessidades de um mercado de trabalho em expansão, ou para elevar a antiga Escola Técnica à categoria de Centro Tecnológico.

Porém, mesmo que a intenção inicial tenha se dado pelo vislumbre de oportunidade de melhoria dos serviços e elevação do status da instituição, não significa que a oferta dos cursos tecnológicos tenha servido apenas a esse intuito, sugerindo-se aqui uma responsabilidade direta dos autores do processo, que dão voz à instituição e buscam adaptar as determinações legais às práticas éticas e responsáveis, até porque, nas palavras de Lima Filho (1999b), as Escolas Técnicas Federais, e, posteriormente, os CEFETs, destacaram-se em um contexto histórico como instituições públicas qualificadas, no qual a,

Atuação dos profissionais da educação e a pressão da sociedade fizeram com que os currículos escolares destas instituições evoluíssem de uma concepção originariamente tecnicista, para uma concepção mais ampla, que buscava aliar cultura geral, ciência e tecnologia e tentava aproximar teoria e prática, passando a representar, apesar de suas limitações, a experiência mais significativa em nosso país daquilo que muitos educadores consideravam como uma aproximação à proposta de uma educação unitária (LIMA FILHO, 1999b, pp. 3-4).

No item 4.11 do Projeto de Curso em Ecoturismo, intitulado de Mecanismo institucionalizado permanente de articulação com segmentos produtivos a que estão vinculados os cursos para definição da oferta de cursos, vagas e para atualização curricular, destaca-se o trecho a seguir:

O Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe possui um mecanismo permanente de articulação com os segmentos produtivos que é o Conselho Técnico Profissional, órgão consultivo e de avaliação do desenvolvimento às características e aos objetivos da Instituição. Este Conselho é composto por 04 representantes dos empresários dos setores produtivos das áreas de atuação da Instituição. As reuniões ocorrem normalmente duas vezes por ano. Nelas são apresentadas as propostas de cursos, número de vagas a serem ofertadas, atualização curricular, resumo de reuniões das áreas profissionais e contam com a participação de representantes do setor produtivo, convidados especialmente pata discutir temas ligados a área. As reuniões estão registradas em ata (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p. 26). Feita a análise do trecho acima, pressupôs-se que havia um mecanismo de controle para a oferta de cursos a fim de não lançar projetos distantes da realidade do mercado, e, acredita-se, também, para não atender demandas voláteis, comprometendo a inserção e permanência dos futuros profissionais técnicos e tecnólogos no mundo do trabalho. No entanto, não há indícios da existência do mencionado Conselho Técnico, segundo os documentos pesquisados no atual IFS.

Na sequência do documento estudado, o Projeto de Curso, o item 4.13.4, no qual é apresentado o Regime de matrícula, lê-se que esta seria semestral e por módulo. No item 4.13.5, do Total de vagas anuais, registra-se que seriam 35 vagas por turma, sendo 02 turmas, contabilizando 70 vagas anuais, ou seja, seriam abertos processos seletivos semestrais. No item 4.13.6, sobre Carga horária, aponta-se para a carga horária total do Curso de 21.100 (acredita-se que foi erro de digitação, pois mais à frente do documento aparece o total de 2.130 horas), para integralização no limite mínimo de 6 semestres, e máximo de 9.

Os itens do Projeto de Curso Superior de Tecnólogo em Ecoturismo (2004) referenciados até aqui traçam um perfil do Curso de Ecoturismo com seus contornos iniciais, comuns a outros cursos tecnológicos. Nos tópicos seguintes o Projeto delineia as especificidades do Curso, as quais são discutidas ao longo desse texto. Nesse sentido, é salutar a interpretação do item 4.14.1, da Justificativa da oferta do curso, no qual se desenvolvem algumas reflexões. O referido item registra que “o ecoturismo, no setor de serviços de turismo e viagens, é o segmento que apresenta maior crescimento, resultando no incremento de ofertas e demandas por destinos ecoturísticos” (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p. 35). Porém, nos parágrafos posteriores, lê-se acerca das dificuldades para a consolidação deste segmento, que se manifestam no âmbito governamental e iniciativa privada, apesar das discussões e tentativas de ordenamento a esse respeito. Ainda de acordo com o texto do citado Projeto, outros pontos frágeis recaíam sobre este segmento, quais sejam: falta de consenso sobre a sua conceituação, ausência de critérios, de regulamentações e de incentivos que conduzissem às boas práticas do mesmo. Este último ponto, “as boas práticas”, é explicitado como a utilização dos recursos naturais e culturais pelo Turismo, promovendo, ao mesmo tempo, a sua conservação. Ainda nessa perspectiva, o texto ressalta que:

O ecoturismo praticado no Brasil é uma atividade ainda desordenada, impulsionada, quase que exclusivamente, pela oportunidade mercadológica, deixando, a rigor, de gerar os benefícios socioeconômicos e ambientais esperados e comprometendo, não raro, o conceito e a imagem do produto ecoturístico brasileiro interno e externo (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p. 35).

Ponderando-se o contexto descrito no texto da justificativa da oferta do Curso, percebe-se a sinalização de uma demanda real para o consumo do ecoturismo. No entanto, observa-se também que essa atividade não possuía uma base sólida de organização, não se configurando como um segmento econômico sedimentado. Levando-se em conta essas considerações, cabe questionar qual seria a justificativa para a criação de um curso específico

para um segmento que ainda não tinha um campo definido de atuação no setor produtivo, visto que, conforme as orientações do Decreto nº 2.208/97, essas seriam as premissas para as ofertas dos cursos tecnológicos, também reafirmadas, em outros termos, no Parecer CNE/CP nº 29 (2002, p. 22) no qual consta que o “tecnólogo tem uma identidade própria e específica em cada área de atividade econômica e está sendo cada vez mais requerido pelo mercado de trabalho em permanente ebulição e evolução”. Destarte, reserva-se essa reflexão para o final da análise do texto, da justificativa do Curso, quando novos dados se somam ao debate.

Seguindo nessa direção, lê-se também no item 4.14.1, da Justificativa da oferta do

curso que um evento em especial – A Oficina Latino-Americana de Turismo Comunitário no

Brasil (em 2003), na Prainha do Canto Verde, em Fortaleza–CE – motivou a proposta de criação do Curso, pois na ocasião do evento evidenciou-se a possibilidade de um novo tipo de Turismo que se transpunha do modelo convencional para o modelo de Turismo de inclusão social, no qual as principais premissas seriam a valorização da comunidade receptora da atividade turística.

É possível observar a influência das discussões do referido evento na concepção de algumas diretrizes do Curso de Ecoturismo, conforme indica o trecho a seguir:

Esses resultados contemplam na organização do Projeto Pedagógico, os seguintes aspectos: o turista deve saber as histórias e saborear a gastronomia local, participando do quotidiano familiar; a comunidade como protagonista; a capacidade de carga deve ser limitada; o turista se integra na luta da comunidade, informação ao turista; a comunidade atenta ao cultural e social, a fim de minimizar os efeitos negativos da prostituição e drogas e conseqüentemente os benefícios serão compartilhados com a comunidade

(PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM

ECOTURISMO, 2004, p. 36).

No mesmo item do Projeto de Curso que trata da justificativa, o parágrafo posterior enfatiza que,

convém a criação de um curso que possibilite aos profissionais de ecoturismo no Estado de Sergipe discutir e refletir sobre o que se faz, o que ser quer ou do que é realmente necessário, na perspectiva de contribuir para o fortalecimento das comunidades receptoras tanto na organização social, quanto no respeito e luta do seu espaço (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p. 36).

Logo em seguida explica-se que a proposta do Curso teria como Projeto Integrador o Litoral Norte de Sergipe31 (a explicação do que seria o Projeto Integrador foi localizada em

31

Este módulo deverá ser desenvolvido através de um projeto integrador onde os alunos e professores devem eleger uma área, já anunciada no início deste texto, como referência, para num trabalho em conjunto com a comunidade, conhecer as questões e os problemas ambientais ali existentes e discutir soluções. Assim, pretende-

outro momento do texto, quando se esclarece o desenvolvimento de um dos Módulos), por “compreender que é uma área de interesse não apenas do Governo do Estado, mas também dos pesquisadores no que tange a preservação e conservação dos recursos naturais” (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p. 36). Apontam-se, também, quatro municípios da região citada, a saber: Barra dos Coqueiros, Pirambu, Pacatuba e Brejo Grande. Especificamente sobre o Município de Barra dos Coqueiros o texto analisado enuncia algumas dificuldades: descaso público, a não existência de vida própria comercial, o fato de viver às custas do comércio de Aracaju (o município limítrofe) e ser considerada uma cidade dormitório. Sobre os demais municípios não há observações. Deduz-se, pelo exposto, que a intenção da proposta do Curso de Ecoturismo seria direcionar o profissional tecnólogo para atuação na área delimitada do Litoral Norte de Sergipe para contribuir com o desenvolvimento da localidade, principalmente nos municípios citados, segundo a justificativa exposta anteriormente, de “fortalecimento das comunidades receptoras tanto na organização social, quanto no respeito e luta do seu espaço, por meio do ecoturismo”.

Retomando-se a reflexão suscitada anteriormente sobre a razão da criação do Curso de Ecoturismo pode-se deduzir, com o auxílio dos dados citados, que os condicionantes para a criação desta oferta demonstravam uma relação incipiente com a empregabilidade dos futuros tecnólogos, visto que não havia um mercado consolidado no segmento do Curso que estava sendo proposto. Além disso, o campo para a atuação do profissional se mostrava muito abstrato e auspicioso, recomendando-se, inclusive, que este seria capaz de interferir em dinâmicas sociais complexas por meio do Turismo.

A ideia da formação do tecnólogo estar associada a uma inserção mais rápida no mercado de trabalho foi bastante difundida na reforma da educação dos anos de 1990, como se fosse possível, por meio da educação profissional “garantir”, ao futuro trabalhador, a sua colocação no mercado de trabalho. Ainda pela ótica da empregabilidade, transferia-se para o cidadão a condição de ser “empregável”. No entanto, não se deve negligenciar a importância de um curso tecnológico, ou qualquer outra graduação, em proporcionar condições para a empregabilidade, não no sentido proposto pela reforma, mas por uma outra direção, a de oferecer uma formação integrada capaz de proporcionar ao futuro profissional condições de se articular no mundo do trabalho, fazer as suas escolhas profissionais por meio de uma leitura se construir uma formação crítica possibilitando introduzir aspectos gerais do curso e suas perspectivas (PROJETO DE CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO EM ECOTURISMO, 2004, p.94).

crítica desse mundo, que à luz do pensamento de Ciavatta (2006b, p. 923) “trata-se de ir além da preparação para o trabalho reduzida ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social”.

Outro elemento que deve ser destacado refere-se à ausência de dados concretos no corpo do texto do Projeto de Curso sobre a necessidade da formação de um tecnólogo em Ecoturismo, prevalecendo, ao invés disso, um referencial teórico com uma abordagem superficial sobre a importância de um profissional para atender a esse novo segmento do Turismo. Pode-se inferir que a proposta investiu em um perfil profissional de difícil absorção no mercado, visto que a maior parte das instituições privadas que geram emprego e dão suporte ao funcionamento da atividade turística (as instituições públicas são em minoria nessa área) e compõem o conhecido tripé do turismo – deslocamento, hospedagem e alimentação, são guiadas por princípios já consolidados de um modelo de Turismo convencional, em que a organização da atividade turística parte do núcleo emissor através do qual se definem os critérios e parcerias para a “exploração” de determinadas localidades e seus atrativos, sem maiores consultas e/ou participação das comunidades locais prevalecendo, geralmente, as orientações dos grandes grupos de Operadores do Turismo. Devido a esse histórico, por certo essas empresas seriam resistentes à absorção de um profissional que fosse de encontro a essa visão32. Somando-se a isso, a falta de clareza sobre o segmento do ecoturismo também corrobora para essa reflexão.

Por outro lado, pode-se então perguntar se não seria o momento de tentar mudar essa realidade, formando profissionais capazes de interceder na ordem desse movimento, e, com isso, proporcionar para as localidades utilizadas como espaço turístico (as comunidades

32 Há um movimento de mudanças nesse sentido, já inserido nas políticas públicas de Turismo no Brasil,

preconizadas pelo Ministério do Turismo, a fim de que as populações locais não sejam apenas espectadores da atividade turística em sua localidade, devendo participar das decisões acerca da atividade, preparando-se para os seus possíveis benefícios e malefícios. No entanto, essa é uma política recente (teve início no ano 2000 com a implantação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo-PNMT) que caminha a passos lentos e ainda há um longo percurso para que os resultados efetivos cheguem às comunidades receptoras. O Ecoturismo poderia vir a ser um dos caminhos nessa mudança de paradigmas do Turismo, pois busca a preservação e desenvolvimento por meio do Turismo, não apenas dos recursos naturais como também dos culturais e sociais. A esse respeito acrescenta-se o pensamento de Margarita Barreto ao salientar que o planejamento do turismo tem estado, historicamente, balizado por teorias e práticas da área administrativa e por técnicas publicitárias e de

marketing; as primeiras desenvolvendo projeções futuras com base nas tendências de mercado, e as segundas

criando hábitos de consumo. Se, de um lado, esse planejamento trouxe muito dinheiro para os participantes nos negócios turísticos, os resultados, para as comunidades envolvidas, não estão muito claros [...] Na atualidade, um dos paradigmas do planejamento do turismo é a base local. Mas para planejar o turismo com base na comunidade local devemos, primeiramente, ter claro o conceito de comunidade, e, para isso, precisamos das ciências sociais (BARRETO, 2003. pp. 22-23).

receptoras), um benefício maior para os seus moradores. Sem dúvida essa seria a solução ideal, porém, levantam-se aqui duas questões, que se supõe, devam também nortear a abertura de novos cursos: É o profissional que deve suscitar a necessidade da sua formação no mercado de trabalho? Ou, o mercado é que deve requerer esse profissional?

Assim, apesar da lógica da mudança de paradigmas do Turismo considerado “predatório”, de “exploração de pequenas comunidades” para o “Turismo sustentável”, ou, segundo a sugestão do Projeto de Curso, o “Ecoturismo”, pode-se entender, respondendo à pergunta anterior, que esse recorte para a sustentabilidade poderia estar inserido em outro