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A atuação sócioambiental do Banco do Brasil na concessão de crédito agrícola aos produtores de soja no cerrado brasileiro

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Academic year: 2017

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(1)

Universidade

Católica de

Brasília

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

STRICTO

SENSU

EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

Mestrado

A ATUAÇÃO SÓCIOAMBIENTAL DO BANCO DO BRASIL NA

CONCESSÃO DE CRÉDITO AGRÍCOLA AOS PRODUTORES

DE SOJA NO CERRADO BRASILEIRO

Autor: Gmson Gonçalves Silva

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando M. Bessa

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GMSON GONÇALVES SILVA

A ATUAÇÃO SÓCIOAMBIENTAL DO BANCO DO BRASIL NA CONCESSÃO DE CRÉDITO AGRÍCOLA AOS PRODUTORES DE SOJA NO CERRADO BRASILEIRO

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu da Universidade Católica de Brasília, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Linha de Pesquisa: Planejamento e Gestão Ambiental

Orientador: Professor Dr. Luiz Fernando Macedo Bessa

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Senhor Deus

“Obrigado por sua benção e por não me deixar desanimar e enfraquecer diante dos diversos obstáculos encontrados na busca dos meus objetivos. Que em todos os instantes eu esteja direcionado aos Teus Princípios, base do verdadeiro conhecimento. Ajude-me a ser capaz de utilizar tudo que aprendi com sabedoria, equilíbrio e responsabilidade em prol da humanidade, contribuindo com a harmonia entre as pessoas e a preservação do meio ambiente”.

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus, a quem tantas vezes pedi força e iluminação para a realização deste trabalho.

A minha família, em especial o meu pai Onildo de Lima Silva e minha mãe Mírian Gonçalves Silva, pelo incentivo e tolerância incondicional.

Ao meu orientador, Professor Luiz Fernando Macedo Bessa, por todo apoio concedido.

Aos colegas e demais professores da Universidade Católica de Brasília, pela amizade e companheirismo durante o período de convivência.

A todos os envolvidos e colaboradores em pesquisas, visitas de campo, orientações e demais contribuições para a realização deste trabalho.

(5)

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a atuação do Banco do Brasil no que se refere à responsabilidade socioambiental na concessão de crédito para a produção de soja no cerrado brasileiro. Para isto, são identificados: iniciativas e critérios de avaliação da responsabilidade socioambiental, bem como medidas de sustentabilidade neste setor. São também analisados procedimentos de concessão de crédito do Banco do Brasil na concessão de crédito para a produção de soja à luz das medidas e critérios propostos. Na fase de pesquisa foram consultadas bibliografias na literatura existente sobre o tema que trata sobre desenvolvimento sustentável, risco ambiental, responsabilidade socioambiental empresarial, além de relatórios, diretrizes e diagnósticos de sustentabilidade. Foi também realizada pesquisa de campo por meio de contatos com instituições bancárias para a coleta de informações e fundamentos socioambientais sobre as condições de concessão de crédito para a produção de soja; aplicadas entrevistas junto ao Banco do Brasil, comerciante, agrônomo e produtor de soja no município de Vicentinópolis (Goiás); bem como, realizadas visitas a fazendas produtoras e adquiridas informações diretamente no Sistema Interno do Banco do Brasil (SISBB), na condição de então funcionário desta instituição. Como resultado, foi detectado que as ações do Banco do Brasil no que se refere à Responsabilidade Socioambiental estão em sua maioria, mais formuladas, porém pouco praticadas. Há avanços importantes do ponto de vista da normatização relativa ao meio ambiente, mas em alguns casos foram desenvolvidas, de forma geral e superficial, sendo incapazes de contribuir efetivamente para a preservação e sustentabilidade dos recursos naturais utilizados na produção de soja no cerrado brasileiro, deixando subentendido que foram desenvolvidas com o principal objetivo de atender os trâmites legais e em defesa da imagem. A análise aponta que para o alcance de credibilidade na Responsabilidade Socioambiental do Banco do Brasil e participação no desenvolvimento das localidades em que atua, tendo em vista a complexidade na organização territorial, na distribuição e investimento dos recursos gerados na agricultura em grande escala, bem como, dos sinais da falta de incentivo em alguns casos por parte do governo, se faz necessário a atuação direta e efetiva nas questões sociais, culturais e ambientais, estabelecendo proximidade com a população. Tal processo tem como ponto facilitador os documentos elaborados pelo Banco do Brasil, mencionados na presente pesquisa.

(6)

ABSTRACT

The present work has the purpose to assess the performance of the “Banco do Brasil” in regard to social environmental responsibility in providing loans for the production of soybean in the Brazilian “cerrado”. For this, it was identified: initiatives and criteria for assessing social environmental responsibility, as well as measures and sustainability in this part. We also analyzed procedures for granting credit from the “Banco do Brasil” credit for the production of soybeans according to the measures and criteria proposed. In the research phase bibliographies were consulted in the existing literature about the subject that deals with sustainable development, environmental risk, corporate environmental responsibility, beyond reports, and guidelines diagnostic of sustainability. It was also made a field research by means of contacts in bank institutions to collect information on social environmental grounds and the conditions for granting credit for the production of soybeans; interviews were applied in the “Banco do Brasil”, dealer, agronomist and soybean producer in the municipality of Vicentinópolis (Goiás), as well as, visiting producing farms and acquired information directly in the Internal System of “Banco do Brasil” (SISBB), as an official in this institution. As a result, it was detected that the actions of the “Banco do Brasil” in the Social Environmental Responsibility are mostly, better formulated, but they are not practiced. There are important advances from the point of view of norms related to the environment, but in some cases they have been developed in general and superficial way, and it’s unable to contribute effectively to the conservation and sustainability in natural resources used in the soybean production in Brazilian “cerrado”, it was understood that they were developed with the main objective to attend the legal proceedings and in defense of the image. The assessment shows that to achieve the credibility in the Social Environmental Responsibility of the “Banco do Brasil” and the participation in the development of the localities in which it operates, in view of the complexity of the territorial organization, in the distribution and investment of generated incomes in the large-scale agriculture ,as well as, the signs of lack the of incentives in some cases by the government, it is necessary to direct and effective role in the social, cultural and environmental matters, establishing proximity with the population. Such process having as a support the documents elaborated by the “Banco do Brasil”, mentioned in this present research.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cobertura do solo no período entre os cultivos de inverno e verão...58

Figura 2 – Pós - colheita no sistema plantio direto...59

Figura 3 – Responsabilidade Socioambiental no Banco do Brasil...83

LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Principais usos da terra no cerrado...17

Quadro 2 – Liberação de recursos do BNDES para o setor da soja (R$)...22

Quadro 3 - Acontecimentos importantes ligados ao desenvolvimento sustentável, ocorridos no Brasil até 2002...31

Quadro 4 – Argumentos a respeito do envolvimento das empresas com as comunidades...38

Quadro 5 – Princípios Gerais do Desenvolvimento Sustentável...76

Quadro 6 – Os dez Princípios do Pacto Global...77

Quadro 7 – Instrumentos de acompanhamento da estratégia corporativa do BB...81

Quadro 8 – Princípios de Responsabilidade Socioambiental do Banco do Brasil...84

Quadro 9 – Princípios Socioambientais e Direcionadores...86

Quadro 10– Dimensões estratégicas da agenda 21 do BB, objetivos e ações...88

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADCE Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas Agapan Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural

ATB Acordo de Trabalho

BB Banco do Brasil

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BSC Balanced Scorecard

BSI British Standards Institution

CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem

CERES Coalizão por Economias Ambientalmente Responsáveis

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPDS Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Brasileira

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CPR Cédula de Produto Rural

DIRES Diretoria de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental

DJSI Dow Jones Sustainability Index

DRS Desenvolvimento Regional Sustentável

EBA Environmental Bankers Association

EGF Empréstimos do Governo Federal

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EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FCO Programa de financiamento para a Região Centro-Oeste FIDES Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social FINAME Financiamento Nacional de máquinas e equipamentos

FIPEC Fundo de Incentivo à Pesquisa FISET Fundo de Investimento Setorial

FLACSO Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais

FMI Fundo Monetário Internacional

FUNDEC Fundo de Desenvolvimento Comunitário GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

GRI Global Reporting Iniciative

GRS Gerenciador de recursos sociais

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IFC International Finance Corporation

IFF Instituições Financeiras Federais

IISD International Institute for Sustainable Development MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MIPEM Programa de Apoio à Micro e Pequenas Empresas MIT Massachusetts Institute of Tecnology

MMA Ministério do Meio Ambiente

OEA Organização dos Estados Americanos OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG Organização não-governamental

ONU Organização das Nações Unidas

Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PGPM Política de Garantia de Preços Mínimos

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

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POLOCENTRO Plano Nacional de Desenvolvimento

Procap-Agro Programa de Capitalização das Cooperativas de Produção Agropecuária

PROCEDER Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado

Produsa Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável Proger Programa de Geração de Emprego e Renda

Pronaf Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PV Protocolo Verde

RIMA Relatório de Impacto ao Meio Ambiente

RSA Responsabilidade Socioambiental

SDS Secretaria de Desenvolvimento Sustentável SISBB Sistema Interno do Banco do Brasil

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SRI Socially Responsible Investments UNEP United Nations Environmento Program

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...13

1.1 Objetivos...24

1.1.1 Objetivo Geral...24

1.1.2 Objetivos Específicos...24

1.2 Procedimentos Metodológicos...24

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...27

2.1 O Desenvolvimento Sustentável...27

2.2 A Responsabilidade Socioambiental ...33

3 DESENVOLVIMENTO...39

3.1 Iniciativas e critérios de avaliação de desempenho da responsabilidade socioambiental...39

3.1.1 Instituto Ethos de Responsabilidade Socioambiental...39

3.1.1.1 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial...40

3.1.2 Norma BS 8900 2006 - Gestão do Desenvolvimento Sustentável...42

3.1.3 Global Reporting Iniciative (GRI)...44

3.1.4 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE)...47

3.1.5 Agenda 21 Global, Brasileira e Local....48

3.2 Critérios de Sustentabilidade agrícola e o Sistema financeiro...51

3.2.1 Agricultura sustentável...51

3.2.1.1 Principais problemas e soluções na questão ambiental, com a produção de soja no cerrado brasileiro...56

3.2.1.3 A Agenda 21 e a Agricultura Sustentável...60

3.2.2 Instituições financeiras, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental...62

3.2.2.1 Os Princípios do Equador...72

(12)

3.2.2.3 Protocolo Verde...75

3.2.2.4 Pacto Global...77

3.2.2.5 Fundamentos essenciais de Responsabilidade Socioambiental em instituições financeiras...78

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...81

4.1A incorporação da responsabilidade socioambiental pelo Banco do Brasil...81

4.1.1 Protocolo verde e a Agenda 21 no Banco do Brasil...88

4.1.2 Estratégia Negocial de Desenvolvimento Regional Sustentável do BB (DRS)...89

4.2Os procedimentos do Banco do Brasil na concessão de crédito para a produção de soja...93

5 CONCLUSÃO...108

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...114

APÊNDICE A - Entrevista sobre a Responsabilidade Socioambiental do Banco do Brasil no processo de concessão de crédito agrícola na cultura de soja...120

APÊNDICE B - Entrevista sobre o processo de concessão de crédito agrícola na cultura de soja no município de Vicentinópolis/Goiás...122

APÊNDICE C - Entrevista sobre a cultura de soja no município de Vicentinópolis/Goiás...127

(13)

1 INTRODUÇÃO

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, concentrando cerca de 1/3 da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundial (BEZERRA E VEIGA, 2000). Tal característica o enquadra como a savana mais rica do planeta, possuindo diversos ecossistemas, mais de 10.000 espécies de plantas com 4.400 espécies endêmicas e uma fauna com 837 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos, 150 espécies de anfíbios e 120 de répteis. (KLINK et al, 1995).

Detêm uma formação savânica tropical que ocupa aproximadamente 2 mihões de km² e corresponde a 23,1% do território brasileiro. Situa-se no Planalto Central brasileiro, com pequena inclusão no Paraguai e na Bolívia, estendendo-se pelos Estados de Goiás, Tocantins, Distrito Federal e parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Pará e Rondônia.

A água acumulada dos lençóis freáticos do Cerrado abastece nascentes que dão origem a seis das oito maiores bacias hidrográficas brasileiras, exceção apenas para as bacias do rio Uruguai e do Atlântico sudeste. Essa abundância hídrica é importante para a vegetação, pois permite o intercâmbio de sementes, pólen e a dispersão da fauna através das matas de galeria que acompanham córregos e rios, possibilitando que indivíduos do cerrado se acasalem com representantes da Amazônia, da Mata Atlântica, e da Caatinga, o que contribui para aumentar a variabilidade genética das espécies (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000).

(14)

A precipitação anual no cerrado brasileiro varia de 800 a 2000 mm, num clima sazonal caracterizado por chuvas e um período seco que se estende por quatro e sete meses, dependendo da região. Essa concentração das chuvas, sucedida por uma prolongada seca, determina a estratégia adaptativa das plantas de buscar água a 10m de profundidade, com isso, a vegetação e a vida animal no cerrado sejam mais importantes sob o solo do que acima de sua superfície. “Além disso, a vegetação de cerrado apresenta outras estratégias de adaptação aos períodos de seca, como germinação de sementes na época das chuvas e crescimento radicular1 pronunciado nos primeiros estágios de desenvolvimento de plantas”. As plantas da soja necessitam de mais água do que as vegetações naturais do cerrado, isso significa que a substituição por áreas mais extensas de lavouras de soja, compromete a disponibilidade de água, bem como, os recursos hídricos são regulados e armazenados por imensa malha hídrica que já se ressente dos efeitos destrutivos das práticas dominantes de especialização agrícola. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000).

De acordo com estudos do Ministério do Meio Ambiente (2000), a continuidade da produção de soja no cerrado encontra-se seriamente ameaçada pelo esgotamento dos recursos naturais em que se apóiam as práticas mais difundidas até aqui. Nem sempre isso se traduz em queda no rendimento das culturas, o fato é que a dependência crescente de insumos químicos e de irrigação constitui ameaça não só ao ecossistema como um todo, mas também ao prosseguimento das lavouras futuras. Voltar-se para a ocupação de novas áreas sem antes ter racionalizado o uso das atuais, como é praticado, coloca este setor vulnerável para se manter a oferta de alimentos às próximas gerações.

A partir da década de 1960, com a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária, o ecossistema2 cerrado tem dado lugar à pecuária e à agricultura extensiva, em especial a da soja. Tais mudanças se apoiaram, sobretudo, na implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas, bem como na descoberta de recentes vocações desses solos regionais, permitindo novas atividades agrárias rentáveis, em detrimento de uma biodiversidade até então pouco alterada, desconhecida e insuficientemente pesquisada. (ARRUDA, 2001).

1 Radicular: embrião da raiz (EMBRAPA, 2003).

(15)

Durante os anos 80, período de recorrente crise na economia brasileira, enquanto o processo de transformação industrial, fortemente concentrado na região sudeste do país, manteve-se estagnado devido à falta de financiamento do manteve-setor público e ao esgotamento do processo de entrada de capitais externos associados à não-solução da dívida externa, a agropecuária apresentou um forte dinamismo, representado principalmente pelo avanço da produção de grãos na região Centro-Oeste. (CARLEIAL, 1996).

O primeiro registro de cultivo da soja no Brasil data de 1914, no município de Santa Rosa – RS. A partir da década de 60, a soja se expandiu para o norte do Paraná e se estabeleceu como cultura economicamente importante no país, sendo 98% da produção nacional de soja nesse período originários da região Sul (SALOMÃO, 2007). Nas décadas de 80 e 90, expandiu-se rapidamente para áreas de cerrado no Brasil Central. Em 1980, o Centro-Oeste era responsável por 20% da produção nacional, em 1990, esse percentual era superior a 40% e nos últimos anos gira em torno de 50%. (PASQUIS, 2004).

O rápido deslocamento da fronteira agrícola, principalmente nas décadas de 1970 e 1980 com a intensificação de desmatamentos3, queimadas, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, resultou em 67% de áreas do Cerrado “altamente modificadas”, com voçorocas4, assoreamento5, e envenenamento dos ecossistemas, restando cerca de 20% de área em estado conservado. (ARRUDA, 2001).

Os avanços tecnológicos proporcionados pela pesquisa agropecuária, dentro da lógica da internacionalização da Revolução Verde6, a implantação de políticas e programas governamentais concebidos e implementados na década de 70 e 80; o artifício do crédito agrícola subsidiado e a demanda crescente de uma agricultura comercial voltada ao mercado externo fizeram com que essa imensa fronteira agrícola fosse incorporada à agricultura brasileira respondendo hoje por considerável parcela da produção agropecuária, especialmente a soja. (ARRUDA, 2001).

3 Desmatamento é entendido como a operação de supressão total da vegetação nativa de determinada área para o uso alternativo do solo. Considera-se nativa toda vegetação original, remanescente ou regenerada, caracterizada pelas florestas, capoeiras, cerradões, cerrados, campos, campos limpos e vegetações rasteiras (EMBRAPA, 2009).

4 Voçorocas: Desmoronamento resultante de erosão produzida por águas subterrâneas ou águas pluviais (EMBRAPA, 2009).

5 Assoreamento: Obstrução da barra de um rio ou de um porto, provocada pela amontoação de areias ou de terras, causada por enchentes (EMBRAPA, 2009).

(16)

A soja proporcionou o lançamento do Brasil no mercado internacional de commodities7 e mantém-se até os dias atuais, como um dos principais produtos da pauta de exportação. Dados de 2005 mostram que o Brasil é o segundo maior produtor de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Comparando a produção interna de grãos no país, a soja corresponde a 45% do total produzido, seguida do milho, com 36,8%. (CONAB, 2009).

Esse avanço no setor da soja se dá por diversos programas de governo e pela crescente demanda internacional. Destacam-se na década de 70 as ações incluídas no II Plano Nacional de Desenvolvimento – POLOCENTRO que procuraram implementar um processo de ocupação produtiva através de investimento em infra-estrutura de transportes, eletricidade, armazéns, exploração de calcário e florestamento incentivados pelo fundo governamental específico, o Fundo de Investimento Setorial – FISET.

Na década de 80, destaca-se o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado – PROCEDER, cujo objetivo foi a implantação de projetos de colonização para a produção de grãos, dentro de uma estratégia de interesses voltados para o suprimento de commodities agrícolas no mercado internacional, tendo a soja como seu produto principal.

Este programa, conforme afirma Medeiros (2001), propiciou a difusão de um modelo de produção baseado nas tecnologias da Revolução Verde, consideradas como adaptadas às condições de cerrado. O referido autor concluiu que os principais fatores que contribuíram para a viabilização do citado modelo foram:

• adaptação de variedades de soja para as baixas latitudes da região;

• possibilidade de mecanização em larga escala;

• disponibilidade de jazidas de calcário e fósforo;

• baixo preço das terras;

• o tamanho das propriedades e facilidades de mecanização favorecendo a introdução de tecnologias de grande escala (terras baratas e facilmente mecanizáveis, compensavam os gastos com insumos químicos).

(17)

Segundo Kitamura (1994), vários países, inclusive o Brasil, se engajaram na chamada

Revolução Verde. A referida revolução era orientada para o atendimento de um cenário de crise mundial no mercado de grãos, decorrente de um rápido crescimento demográfico, fundamentando os mecanismos para atendimento desta demanda do uso intensivo de insumos químicos, desenvolvimento e cultivo de variedades de alto rendimento, técnicas de irrigação e na mecanização da atividade agrícola.

Apesar do sucesso obtido nas décadas de 60, 70, e 80, conforme mencionado nos parágrafos anteriores reconhece-se, atualmente, que a Revolução Verde trouxe sérios problemas de equidade social e especialmente de sustentabilidade da produção agrícola. Tais problemas forma decorrentes de diversos fatores, tais como, a forte migração populacional do campo para as grandes cidades em função da substituição da mão-de-obra pela mecanização, inadaptação dos produtores tradicionais ao novo modo de produção e às novas tecnologias, elevando o nível de exclusão social; e a intensificação do processo de degradação ambiental provocada pelo uso intensivo e predatório dos recursos naturais e do uso exagerado e/ou inadequado de máquinas agrícolas pesadas e de produtos químicos. (KITAMURA, 1994).

De acordo com Bezerra e Veiga (2000), dos 200 milhões de hectares que compõem a região de cerrado, cerca de 35 milhões foram ocupados com pastagens cultivadas, 10 milhões com culturas anuais e cerca de 2 milhões com culturas perenes (café e fruteiras) e florestas. Além de seu uso para a agropecuária, o cerrado através de seu imenso potencial lenheiro, favoreceu a destruição da vegetação nativa para produção de carvão vegetal, induzindo sempre na forma de redução de custos, a abertura de novas áreas.

Klink et. al. (2005) destacam os principais usos da terra no cerrado; os quais são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 – Principais usos da terra no cerrado

USO DA TERRA ÁREA (ha) (%) ÁREA CENTRAL DO BIOMA

Áreas nativas 70.581.162 44,53 Pastagens plantadas 65.874.145 41,56 Agricultura 17.984.719 11,35 Florestas plantadas 116.760 0,07 Áreas urbanas 3.006.830 1,90

Outros 930.304 0,59

TOTAL 158.493.920 100

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O potencial agrícola existente no Cerrado, decorrente de características de clima, recursos hídricos, relevo e solo, bem como, sua grande dimensão em termos de área, é confrontado com a grande vulnerabilidade aos efeitos degradantes da atividade agropecuária em grande escala, comprometendo seriamente a continuidade desta atividade, devido ao esgotamento dos seus recursos naturais, desequilíbrios provocados e consequentes danos gerados ao meio ambiente. (RIBEIRO, 2003).

Na visão de WWF-BRASIL (2000), os principais tipos de pressão sobre a fauna e a flora do Cerrado referem-se à conversão de áreas naturais em agroecossistemas; ampliação da área de influência urbana; a erosão8 e o assoreamento de cursos d’água; a construção de usinas

hidrelétricas e mineração e a caça e a pesca comercial.

Para Ribeiro (2003), os danos provocados ao meio ambiente decorrentes de práticas agrícolas inadequadas são:

• erosão dos solos;

• assoreamento dos mananciais (rios, córregos, lagos e outros);

• substituição indiscriminada da cobertura vegetal nativa;

• redução do habitat silvestre;

• diminuição da biodiversidade;

• contaminação do solo e da água com produtos químicos;

• envenenamento de pessoas e animais por contato ou ingestão de produtos contaminados;

• proliferação indesejada de insetos e plantas;

• alterações climáticas, dentre outras;

Os danos que podem ser gerados das práticas agrícolas inadequadas, conforme citados neste trabalho, tem chamado a atenção dos ambientalistas que vem atribuindo a determinadas culturas, como um dos principais causadores dos problemas ambientais do cerrado. (RIBEIRO, 2003).

Baseado em Andrade (1996) as principais características e peculiaridades do setor da soja:

• dependência do clima;

• perecibilidade da produção;

• dependência de condições biológicas;

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• terra como fator de produção;

• trabalho disperso ao ar livre;

• incidência elevada de riscos;

• maior complexibilidade no processo de comercialização e na formação do preço do produto.

Salomão (2007) cita que a cadeia da soja é formada por uma série de atores, cada um deles com um papel específico e relevante dentro do contexto global. Entre eles destacam-se:

• produtores de soja;

• fornecedores de insumos e de meios de produção (agrotóxicos, sementes, fertilizantes e máquinas);

• revendas ou canais de distribuição;

• transportadores;

• armazéns;

• indústrias;

• poder público;

• universidades, institutos de pesquisa;

• agentes financeiros;

• associações de indústrias e do comércio;

• sindicatos dos trabalhadores e dos produtores;

• cooperativas;

• organizações não-governamentais;

• instituto nacional de processamento de embalagens vazias;

• empresas de consultorias.

O agronegócio da soja enfrenta, por um lado, oscilações constantes nos preços das

commodities nos mercados internacionais; problemas com burocracia; infra-estrutura de transportes; segurança; saúde e educação, bem como, pressões inadequadas de alguns ambientalistas, variações na cotação do dólar e alterações climáticas imprevisíveis. (SALOMÃO, 2007).

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um debate entre os formuladores de políticas, produtores de soja e ambientalistas. De um lado, críticas ambientalistas alegam que os produtores desmatam imensas áreas do cerrado nativo, sem respeitar áreas de reserva legal de cada propriedade; contaminam os recursos hídricos pelo uso de agrotóxicos; além de promoverem a devastação das áreas e a expulsão dos pequenos produtores de suas terras.

Por outro lado, ainda baseado em Salomão (2007), os produtores argumentam que proporcionam o aumento da oferta dos produtos agrícolas tanto para uso doméstico como para a exportação; diversificação das economias locais e aumento da renda dos municípios, além de melhorias sociais em várias localidades.

Na observação do Ministério do Meio Ambiente (2000), não obstante sua importância para o crescimento do setor de agronegócios e a contribuição para o balanço de pagamentos, a expansão acelerada da soja no bioma do cerrado representa uma ameaça concreta à manutenção da sua biodiversidade e tem provocado uma gama de impactos socioambientais alarmantes, conforme mencionado anteriormente.

Em decorrência deste avanço o solo sofre consequências muitas vezes irreparáveis. Antes da exploração, a maior parte do terreno está ainda ocupada por vegetação natural, à medida que a lavoura se expande, a área de cobertura natural remanescente pode não ser suficiente para a manutenção de um fluxo satisfatório dos serviços ambientais.

O considerável nível de degradação ambiental, decorrente desta expansão agrícola no Cerrado tem estimulado o desenvolvimento de pesquisas para analisar o processo de integração do avanço da soja à necessidade de se atingir a “agricultura sustentável e práticas de responsabilidade socioambiental” por parte das instituições envolvidas no setor. O foco da presente dissertação insere-se no âmbito dessa discussão.

Conforme Veiga (2003), “agricultura sustentável” é aquela que transmite a visão de um futuro padrão produtivo de alimentos, fibras e matérias-primas energéticas que garanta:

• manutenção no longo prazo, dos recursos naturais e da produtividade agropecuária;

• retornos adequados aos produtores;

• otimização da produção com um mínimo de insumos externos;

• satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda;

(21)

O Instituto Ethos (2009), considera que a “responsabilidade socioambiental corporativa”, é a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente solidária com todos os públicos que se relacionam, e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, ou setor de atuação, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando as diversidades e promovendo a redução das desigualdades sociais. “Para o alcance da gestão ambiental sustentável, necessita de políticas públicas baseada nas tendências e responsabilidades em função do mercado”.

Baseado nas características peculiares do cerrado, acima citadas, e no alto índice de destruição dos recursos naturais, decorrente da produção de soja, a presente pesquisa tem como foco analisar um dos principais atores da cadeia produtiva da soja: os agentes financeiros.

O objetivo é identificar a visão socioambiental do Banco do Brasil na concessão de crédito agrícola aos produtores deste cultivar no cerrado brasileiro; qual a contribuição desta instituição para a redução e mitigação dos gargalos do setor que colaboram para a degradação dos recursos naturais, bem como para a manutenção de um bom nível de produção juntamente com à sustentabilidade dos recursos naturais utilizados, tendo em vista que a produção de soja é de fundamental importância para a economia do país.

Considera-se que o Banco do Brasil, enquanto agente financeiro da cadeia produtiva da soja, pode se apresentar como uma importante instituição capaz de aplicar um instrumento de política ambiental na medida em que pode exigir critérios de sustentabilidade no processo de concessão de crédito aos produtores de soja no cerrado brasileiro.

Baseado no que foi exposto e tendo como parâmetro o processo de concessão de crédito agrícola aos produtores de soja adotados pelo Banco do Brasil, esta pesquisa terá como desafio, identificar de que maneira esta instituição contribui ou poderá contribuir para o alcance da agricultura sustentável, bem como a responsabilização socioambiental e o desenvolvimento de critérios rigorosos para, a partir da concessão de crédito, alcançar métodos de produção que possam colaborar para o avanço do setor de forma racional, do ponto de vista da utilização dos recursos naturais.

(22)

a produção, causando avanço nas fronteiras agrícolas, sem claramente estabelecerem prioridades aos danos causados aos recursos ambientais. Além disso, cabe ressaltar que não existem informações sobre a sistematização dos dados referentes à necessidade dos agentes financeiros desenvolverem procedimentos de concessão de crédito aos produtores de soja no cerrado brasileiro, levando-se em consideração a questão ambiental. Identificar o nível de preocupação do Banco do Brasil com a questão ambiental e sua contribuição para a redução do alto índice de degradação dos recursos naturais no setor é o principal objetivo da presente pesquisa.

Baseado em dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a escolha do Banco do Brasil justifica-se por ser um dos principais correspondentes do governo no setor de financiamento da produção de soja no Brasil. O Quadro 2 demonstra a participação na concessão de crédito do Banco do Brasil em relação às demais instituições financeiras no setor da soja:

Quadro 2 – Liberação de recursos do BNDES para o setor da soja (R$)

Modalidade Operacional Agente Financeiro 2007 Percentual (%)

Indireta Banco do Brasil S/A 71.633.936 17,43

Indireta Outros Agentes 339.400.224 82,57

Total 411.034.160 100

Fonte: BNDES, 2009.

Os resultados da presente dissertação poderão ser utilizados para que possamos identificar o funcionamento do processo de concessão de crédito agrícola aos produtores de soja no cerrado brasileiro, bem como, para análise dos métodos adotados e para medir se estes são capazes de contribuir para a redução do impacto aos recursos naturais utilizados.

Apoiadas na teoria econômica tradicional que parece considerar os recursos naturais como inesgotáveis e “presentes da natureza”, não lhe atribuindo valor ou preço, as políticas agrícolas seguidas pelo governo, objetivando o desenvolvimento deste importante setor da economia, induziram a utilização do meio ambiente e de seus recursos de forma equivocada, considerando sua existência como bem gratuito e disponível. (MARTINS, 2002).

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dentro das ciências agrárias, envolvendo o ensino, a pesquisa, a extensão e a administração rural como área especializada de gestão da propriedade rural. (RIBEIRO, 2003).

Informações sobre a aptidão agrícola baseada nas características de solos e clima, junto a dados econômicos, sociais e de exploração agrícola, compõem o chamado zoneamento

agropedoclimático, instrumento definido como necessário e indispensável à orientação e a tomada de decisão sobre as ações de desenvolvimento rural, ordenamento territorial e atividade de manejo que envolve os recursos naturais. Além disso, a tomada de decisão com base nas informações disponibilizadas por este instrumento permite não só a economia de recursos, em decorrência do uso correto dos diversos fatores de produção agrícola, como o uso dos ecossistemas, considerando sua capacidade de suporte e sua real potencialidade, evitando frustrações de safras e degradação ambiental. (EMBRAPA, 2003).

Mesquita et al. (2000) apresentam a síntese de algumas atividades agropecuárias, em especial o setor da soja, com suas características e principais impactos gerados ao meio ambiente, tais como, a importância do uso de indicadores como forma de medir e monitorar os possíveis impactos gerados pelo setor, verificando como as tecnologias empregadas na propriedade, em diferentes sistemas de produção, estão afetando negativa ou positivamente a sustentabilidade dos agroecossistemas.

Neste contexto, fica claro que o processo decisório do produtor rural é conduzido para a obtenção de maior volume de produção ao menor custo, tendo como principal objetivo o lucro, ficando as questões ambientais resumidas a simples utilização de algumas práticas e procedimentos. (RIBEIRO 2003).

A evolução da importância da soja para a economia nacional é indiscutível, porém, essa evolução resulta em impactos socioambientais cuja realidade vem sendo aceita sem contestação como sendo inerente à atividade de modo geral, sobretudo, com a responsabilidade de todos os participantes da cadeia produtiva. O trabalho em questão partirá do princípio de que a utilização correta dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente é essencialmente um problema de gestão.

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aplicações dos critérios exigidos pelo Banco do Brasil, no decorrer do processo produtivo por parte dos produtores.

Baseado nos autores mencionados, que tratam do tema em questão, se torna necessária, a participação do governo e diversos setores organizados da sociedade em debater como conservar o que resta do Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias apropriadas, embasadas no uso adequado dos recursos hídricos, no plantio direto, na extração de produtos vegetais nativos, nos criadouros de animais silvestres, no ecoturismo e outras iniciativas que possibilitem um modelo de desenvolvimento sustentável e justo.

1.1Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

• Analisar a atuação do Banco do Brasil no que se refere à responsabilidade socioambiental, na concessão de crédito para a produção de soja no cerrado brasileiro.

1.1.2 Objetivos Específicos

• Identificar iniciativas e critérios de avaliação da responsabilidade socioambiental;

• Identificar medidas e critérios de sustentabilidade para a produção de soja no cerrado brasileiro;

• Analisar os critérios e procedimentos de concessão de crédito do Banco do Brasil para a produção da soja no cerrado brasileiro à luz das medidas e critérios propostos.

1.2Procedimentos Metodológicos

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instituições bancárias para a coleta de informações e fundamentos socioambientais sobre as condições de concessão de crédito para a produção de soja;

Com o objetivo de identificar as iniciativas e modelos de avaliação da responsabilidade socioambiental, foram analisados o relatório da Global Reporting Iniciative9 - GRI; as propostas do Instituto Ethos de Responsabilidade Socioambiental10; do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas); da Norma BS 8900 e Agenda 21.

Complementarmente, foram aplicadas entrevistas junto ao Banco do Brasil, bem como a comerciante, engenheiro agrônomo e produtor de soja no município de Vicentinópolis (Goiás); foram realizadas visitas a fazendas produtoras e encontradas informações sobre a atuação do BB no que se refere à Responsabilidade Socioambiental, diretamente no Sistema Interno do Banco do Brasil (SISBB), na condição de então funcionário desta instituição. Porém, foram encontradas dificuldades para a realização das entrevistas e visitas às agências bancárias e fazendas, tendo em vista que se trata de propriedades particulares e os entrevistados não demonstravam interesse em colaborar com a questão tratada durante os questionamentos e disponibilização de dados planejados para o desenvolvimento do trabalho. Foi alegado por representante da Diretoria de Agronegócio do Banco do Brasil que determinados dados foram proibidos para o acesso ao público, mesmo se tratando de pesquisa acadêmica.

Baseado em Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Está englobada nesta modalidade de pesquisa, boa parte dos estudos exploratórios, documentais, históricos, pesquisas sobre ideologias, bem como, aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema. Tais características são aproximadas às utilizadas no trabalho em questão.

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside em permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

9 A Global Reporting Initiative (GRI) é uma ONG internacional com sede em Amsterdã, na Holanda, cuja missão é desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade utilizados voluntariamente por empresas do mundo todo.

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diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. (GIL, 2002).

Para Gil (2002), a pesquisa de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer, ou voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geralmente conjugados com a análise de documentos, filmagens e fotografias.

Buscou-se com os procedimentos metodológicos adotados, a interação pessoal do pesquisador e sua permanência o maior tempo possível na comunidade de trabalho e situação de estudo. Pois, na visão de Gil (2002) somente com essa imersão na realidade é que se podem entender as regras, os costumes e as convenções que regem o grupo estudado.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão de literatura, conforme exposta abaixo, baseia-se na consolidação do “estado da arte” da literatura já publicada sobre o tema. Os conceitos revisados neste capítulo foram escolhidos por tratar de temasbaseados nas manifestações e eventos sobre a questão ambiental a partir da década de 1960.

Tendo em vista a interdisciplinaridade do tema, as fontes de pesquisas são de diversas áreas do conhecimento, com base em consultas desde pesquisadores e ambientalistas isolados a instituições organizadas, focando a importância de se pensar, planejar e agir na situação de degradação ambiental em que se caminha. Nesse contexto, apresentam-se os conceitos de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade socioambiental, definindo-os para fins do presente trabalho.

2.1O Desenvolvimento Sustentável

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trabalho e, portanto, a prosperidade começou a dar sinais de imperfeição por meio de vários desastres ambientais que ocorreram no período que se iniciou ao final da década de 50 e se estendeu até os anos 80.

Staub (2008) descreve o cenário que se apresentava:

Ainda não havia Políticas Ambientais (legislação, licenciamento e outros). Para instalar-se uma indústria, buscavam-instalar-se lugares próximos aos rios: ali instalar-seriam despejados instalar-seus resíduos. Os rios eram vistos como lixeiras. Dessa forma, grandes rios do mundo apodreceram. O rio Mississipi nos Estados Unidos, de tão poluído, pegou fogo durante cinco dias. O rio Tâmisa que atravessa Londres, o Rio Danúbio Azul que banha diversos países europeus, estavam mortos, encobertos por espumas venenosas. O Rio Sena, em Paris, ficou recoberto de peixes mortos.

Sintonizada a esse movimento, com enfoque na questão agrícola, a publicação em 1962, do livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson, serviu de alerta para o uso dos pesticidas organoclorados que interferem na cadeia alimentar. Foi uma obra que gerou indignação dada a ênfase com que denunciava impactos do tratamento agrícola baseado no abuso da adubação química e no excesso de pesticidas sobre o meio ambiente. (STAUB, 2008).

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Na mesma década (1968) a ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) agendou para 1972, a 1ª Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano. O evento, não por acaso, ocorreu em Estocolmo, na Suécia. O país estava fortemente sensibilizado para a problemática ambiental uma vez que tinha sido afetado por sérios danos em milhares de seus lagos, em consequência de chuvas ácidas resultantes da forte poluição atmosférica na Europa Ocidental. A Conferência de Estocolmo foi considerada a primeira grande discussão da comunidade mundial no enfrentamento dos problemas ambientais. Reuniu 113 nações e 19 agências governamentais que representaram países ricos e países em desenvolvimento. Foram discutidos pela primeira vez, em caráter oficial e intergovernamental os problemas políticos, sociais e econômicos do meio ambiente terrestre. (STAUB, 2008).

Staub (2008) citando a ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) menciona que por recomendação da Conferência, foi criado ainda em 1972 no âmbito da ONU, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/UNEP) com a missão de “prover liderança e encorajar parcerias no cuidado com o ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a aumentar sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações”. Nesse período, o Brasil, vivia o seu apogeu de desenvolvimentismo industrial preconizado pelo governo militar e por isso foi um dos países que se posicionou contrariamente ao reconhecimento da importância dos problemas causados ao meio ambiente.

O grande marco político que deu início à história das lutas ambientais no Brasil foi o caso Borregaard11, ocorrido em Porto Alegre (RS) na década de 1970, primeira vitória de organizações da sociedade contra as agressões ambientais. Naquele período (1971), com a participação de José Lutzenberger12 foi criada a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). A instituição surgiu na vanguarda do movimento ambientalista do Brasil,

11 Borregaard - Indústria norueguesa de celulose que despejava no ar mais de 08 toneladas diárias de poluentes, com destaque para o gás sulfídrico que, devido ao enxofre na sua composição, apresenta cheiro insuportável e irrita os olhos. Uma CPI do estado do Rio grande do Sul determinou a suspensão das atividades da empresa para aperfeiçoamento dos mecanismos de controle da poluição e, em 1975, o controle acionário da empresa foi nacionalizado (STAUB, 2008).

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sempre lutou pela preservação do meio ambiente e atua com destaque no movimento ambientalista do Rio Grande do Sul. Em agosto do mesmo ano, realizou-se em Brasília (DF) o I Simpósio sobre Poluição Ambiental, promovido pela Comissão Especial sobre Poluição Ambiental da Câmara dos Deputados. (BURSZTYN, 2001; ALMEIDA, 2002; AGAPAN, 2007; IBAMA, 2007 apud STAUB, 2008).

A década de 80 foi marcada pelo surgimento de legislações, em boa parte dos países, regulamentando a atividade industrial, em função da intensificação dos efeitos da poluição. Em 1983, no âmbito da Organização das Nações Unidas, foi formada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD). Presidida pela ex-Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, essa Comissão tinha por objetivo examinar as relações entre o meio ambiente e o desenvolvimento e apresentar propostas para o encaminhamento de soluções sobre os problemas advindos dessa relação.

Em 1987 foi publicado o “Relatório Brundtland”, intitulado “Nosso Futuro Comum”, que apontava para a desigualdade existente entre os países assim como para a pobreza como uma das principais causas dos problemas ambientais, contribuindo para disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável, que surge formalmente no seu bojo, introduzindo definitivamente a idéia de que o desenvolvimento econômico de hoje deve se realizar sem comprometer as necessidades das futuras gerações (SEIFFERT, 2007).

Os anos 90 representaram um grande avanço em relação à conscientização ambiental na maioria dos países. Conforme salienta SEIFFERT, durante essa década “muitas empresas passaram a se preocupar com a racionalização do uso da energia e de matérias-primas (madeiras para fabricação de papel, água, combustíveis e outros, além de maior empenho e estímulos à reciclagem e reutilização, evitando desperdícios”). (SEIFFERT, 2007, p.15).

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• Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento;

• Agenda 21 e seus meios de implementação;

• Convenção - Quadro sobre mudanças climáticas ;

• Convenção sobre Diversidade Biológica;

• Declaração das Florestas.

Para Leff, o termo sustentabilidade está relacionado a aspectos ecológicos e econômicos e incorpora dois sentidos: um que envolve a interiorização das condições ecológicas para apoiar o processo econômico, e outro que adiciona a durabilidade do sistema econômico. Neste sentido, “a sustentabilidade ecológica é uma condição para a sustentabilidade do processo econômico”. (LEFF, 2001, p.20).

A partir destes eventos, baseado em Staub (2008), as discussões da necessidade de atenção às questões ambientais estavam consolidadas no mundo, surgindo novos acontecimentos importantes, conforme relacionados a seguir:

1993: Tratado de Maastricht - incluiu a sustentabilidade como objetivo da União Européia;

1997: Tratado de Amsterdã - definiu que a Organização dos Estados Americanos (OEA) tem por missão promover o Desenvolvimento Sustentável em todo o seu espaço;

1997: Rio+5 - Realizado no Rio de Janeiro, teve como objetivo avaliar a implementação do Programa Agenda 21;

1997: Protocolo de Kyoto - assinado no Japão, na terceira Conferência das Partes da Convenção13. A Conferência culminou na decisão por consenso de adotar-se um Protocolo, segundo o qual os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. O Protocolo de Kyoto foi aberto para assinatura em 16 de março de 1998 e entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005;

2002: Rio + 10 - Realizada pela ONU em Johannesburgo - África do Sul, a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável teve o objetivo de avaliar os avanços dos principais compromissos assumidos na Eco-92:

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- Convenção sobre Mudanças Climáticas; - Convenção sobre Diversidade Biológica;

- Elaboração e implantação das Agendas 21 dos países signatários.

Embora a Rio + 10 visasse avançar nas propostas da Rio-92, foi considerado um fracasso, pois além de não ocorrer evolução na temática, ficou nítido o desinteresse dos países ricos em assumir responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente bem como de se comprometer pela redução dos impactos ambientais. A Declaração de Johannesburgo registra a continuidade de diversos problemas ambientais de caráter global e destaca pela primeira vez os problemas relacionados à globalização ao demonstrar que os benefícios a ela associados estão distribuídos desigualmente. Apesar disso, a Cúpula buscou formular um plano de ação factível com as proposições de aumentar a proteção da biodiversidade e o acesso à água potável, ao saneamento, ao abrigo, à energia, à saúde e à segurança alimentar. (STAUB, 2008).

Este movimento no Brasil também teve momentos emblemáticos, dentre os quais destacamos no Quadro 3.

Quadro 3 - Acontecimentos importantes ligados ao desenvolvimento sustentável, ocorridos no Brasil até 2002

DATA ACONTECIMENTO

1975 Protesto contra o acordo nuclear firmado entre Brasil e Alemanha

1982 Eleição dos primeiros parlamentares brasileiros “verdes”, vereadores e deputados estaduais

1986 Frente Nacional de Ação Ecológica na Constituinte – art.225, CF/88

1992 Eco-92, no Rio de Janeiro

1997 RIO+ 5, no Rio de Janeiro

2001 Primeiro Fórum Social Mundial14, em Porto Alegre

2002 Cúpula do Petróleo15, no Rio de Janeiro

Fonte: SFIEC, 2007.

Tendo em vista a realidade social e ambiental que é complexa e dinâmica, tornou-se comum, para operacionalizar a noção de sustentabilidade, desagregá-la em diferentes dimensões: por meio da integração entre elas poder-se-á chegar ao ponto de maior relevância da sustentabilidade. (SACHS, 1993, p.24).

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Sachs (1993) apresenta sete dimensões da sustentabilidade:

Social: Entendida como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em outro tipo de crescimento e orientado para uma visão do que é a boa sociedade. O foco nessa dimensão é a problemática social resultante do modelo de desenvolvimento, que se caracteriza pela exclusão da maioria da população dos benefícios gerados e que, ao mesmo tempo, lhe é imposto o ônus de degradação do meio ambiente, gerada nesse processo.

Econômica: Possibilitada por uma alocação e gestão mais eficiente dos recursos e por um fluxo regular do investimento público e privado. A eficiência econômica deve ser avaliada mais em termos macrossociais do que apenas por meio de critérios de lucratividade microempresarial.

Ecológica: Refere aos recursos naturais, a base física do processo de crescimento e tem por objetivo a manutenção de estoque de capital natural incorporado às atividades produtivas.

Espacial: Está relacionada diretamente com o espaço e tempo e tipo de civilização que se apropria do meio ambiente. O espaço é importante porque é o lugar da organização e concentração da atividade produtiva; onde estão dispostos os recursos de que precisam para se desenvolver. A dimensão espacial é norteada pelo alcance da maior eqüidade nas relações inter-regionais e, no caso de infra-estrutura, pelo conceito de universalização do acesso equânime às oportunidades no espaço nacional e internacional.

Cultural: Significa que as intervenções devem respeitar a cultura local, os saberes, conhecimentos e os valores das populações. Refere-se ainda à necessidade de se manter a diversidade das culturas, valores e práticas existentes no planeta, no país e/ou região, que integram , ao mesmo tempo as identidades dos povos.

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promoção econômica, preservação ambiental e participação social. Perseguia com especial atenção, meios de superar a marginalização e a dependência política, cultural e tecnológica das populações envolvidas nos processos de mudança social. É, portanto, marcante em seus trabalhos o compromisso com os direitos e desigualdades sociais e com a autonomia dos povos e países menos favorecidos na ordem internacional.

Todo este contexto contribuiu para a reflexão e a tomada de consciência quanto à finitude dos recursos naturais, tais como, solo, recursos hídricos, fauna e flora, e a conseqüente necessidade de reavaliação do modelo de desenvolvimento galgado até então, sobretudo no Brasil. Por possuir Vantagens Comparativas16 no setor agrícola, através das extensas fronteiras agricultáveis, recursos hídricos, clima e outros, intensificou sua matriz produtiva e a pauta de exportação neste setor, em especial, na produção de soja no cerrado brasileiro, causando forte pressão sobre esses recursos naturais utilizados. Esta questão, bem como, outras tratadas na introdução do presente trabalho, contribuiu para o interesse em desenvolver a pesquisa.

2.2 A Responsabilidade Socioambiental

Dentre as opções para a construção de uma proposta comum do que seja, de fato, responsabilidade socioambiental, resulta em fatores envolvidos nessa nova forma das empresas conduzirem seus negócios. Existem registros que remetem as primeiras preocupações com as questões sociais, ao final do século XVIII e a partir da segunda metade do século XX, um movimento de âmbito mundial provocou uma inflexão progressiva no pensamento do meio empresarial ao exigir a ampliação do foco meramente econômico para uma visão sistêmica integrada às dimensões social e ambiental. (STAUB, 2008).

Baseado em Staub (2008) citando diversos autores, esse período exigiu das empresas uma postura permanentemente evolutiva: do início do século, quando o mercado era caracterizado por uma demanda de expansão e pouco competitivo, até o seu término, quando a integração dos mercados e as quedas das barreiras comerciais levaram as empresas a enfrentar os inúmeros desafios de uma competição em escala planetária. O movimento que esboçou um entendimento da noção de responsabilidade socioambiental empresarial foi complexo, afetado por diversos

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fatores. Representa a dimensão múltipla da questão e pode ser analisada de diversos ângulos, conforme citados a seguir:

• O desempenho econômico ainda é considerado a principal responsabilidade da empresa e indispensável à sua sobrevivência, mas não constitui seu único objetivo (DRUCKER, 1996 apud STAUB, 2008);

• As empresas privadas, assim como as entidades públicas de prestação de serviços, são órgãos da sociedade. Não existem para si mesmas, e sim para atender uma finalidade social específica da sociedade, da comunidade ou da pessoa (DRUCKER, 2006 apud STAUB, 2008);

• Na nova economia globalizada, as empresas viram-se compelidas a mudar radicalmente suas estratégias de negócio e padrões gerenciais para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades decorrentes da ampliação de seus mercados potenciais, do surgimento de novos concorrentes e novas demandas da sociedade (BANCO DO BRASIL, 2007 apud STAUB, 2008);

• A finalidade da empresa não é simplesmente a produção de benefícios, mas principalmente a própria existência da empresa como comunidade de pessoas que, de diversas maneiras, buscam a satisfação de suas necessidades fundamentais e constituem um grupo particular a serviço da sociedade inteira (NADAS, 2003 apud STAUB, 2008);

• As indagações que questionam o poder e responsabilidade das empresas, diante do contexto em que estão inseridas, começaram a ficar mais contundentes a partir da emergência de teorias como a do ecodesenvolvimento, que apresentam as dimensões da sustentabilidade e os caminhos da transição para chegar até ela (SACHS, 1986; 1993 apud STAUB, 2008);

• No que tange à possibilidade de transformar em práticas a concepção do ecodesenvolvimento nas afirmações de Sachs (1993 apud STAUB (2008) ao formular os seus princípios, a transição para a sustentabilidade precisa de uma parceria com a sociedade no sentido mais completo: a sociedade civil organizada, as autoridades públicas de todos os níveis, a economia social e a iniciativa privada - “o mundo das empresas” (DALLABRIDA, 2006 apud STAUB, 2008);

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como o emprego de trabalho infantil e manutenção de locais com péssimas condições de trabalho (TIMBERLAKE, 2007 apud STAUB, 2008);

• A responsabilidade socioambiental corporativa é uma vantagem competitiva num mercado sem fronteiras (TACHIZAWA, 2002; GUEDES, 2004 apud STAUB, 2008);

• Paralelamente aos grandes eventos em torno da discussão sobre a sustentabilidade a partir da década de 1970, o conceito da responsabilidade socioambiental empresarial começa a transpor a ideia de obrigação e passa a incorporar a questão da ética na atuação empresarial (DALLABRIDA, 2006 apud STAUB, 2008);

• O que adianta a empresa ser a primeira no ranking do seu negócio, deter as melhores máquinas e tecnologia, e não poder contar com uma sociedade que compartilhe das mesmas expectativas? Tanto o seu sucesso quanto o seu fracasso estão intrinsecamente ligados ao desempenho das pessoas, tornando a empresa corresponsável e agente de transformação social (DUARTE, 2005; TORRES, 2005 apud STAUB, 2008);

• A sociedade cobra das empresas uma atuação responsável e o consumidor tem consciência da efetividade de seus direitos. Portanto, exige-se das empresas uma postura que explique sua preocupação com questões socioambientais (responsabilidade socioambiental) e com a ética (FORMENTINI, 2007; OLIVEIRA, 2007 apud STAUB, 2008);

• Tão importante quanto à alta produtividade e a capacidade de inovação tecnológica das empresas é também sua capacidade de estabelecer uma comunicação aberta, eficaz, ética e transparente com seus stakeholders17 (DUARTE, 2005; TORRES, 2005 apud STAUB, 2008);

• Mesmo que o cérebro empresarial continue esperando que os desafios ambientais e sociais desapareçam, eles estão cada vez mais profundos e fortes (ELKINGTON, 2001 apud STAUB, 2008);

Segundo Silva (2001 apud STAUB, 2008), uma das interpretações que engloba boa parte dessas múltiplas demandas e dimensões foi lançada em 1998 no Congresso Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, uma proposta para o conceito de responsabilidade socioambiental empresarial:

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Responsabilidade socioambiental corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando simultaneamente a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.

Do estudo de Duarte e Torres (2005 apud STAUB, 2008), sobre esta temática concluem-se que:

A responsabilidade socioambiental surge como resgate da função social da empresa, cujo objetivo no novo contexto econômico, deve ser promover o desenvolvimento humano sustentável, que transcende o aspecto ambiental e se estende por outras áreas (social, cultural, econômica, política); e tentar superar a distância entre o social e o econômico, obrigando as empresas a repensar seu papel e a forma de conduzir seus negócios. No cenário atual, impera a concepção de que a responsabilidade empresarial está muito além de manter o lucro de seus acionistas e dirigentes. Ela passou a ser responsável pelo desenvolvimento da sociedade onde está inserida, adotando ações que influenciem o bem-estar comum.

No Brasil, as primeiras discussões sobre o tema responsabilidade socioambiental empresarial remontam aos meados da década de 1960. O protagonismo foi da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE/ Brasil) fundada em São Paulo. A ADCE-Brasil tinha como objetivo estudar as atividades econômicas e sociais do meio empresarial a partir de ensinamentos cristãos. A dinâmica da responsabilidade socioambiental passou a ser pauta de diversos seminários, congressos e palestras e originou no país, um movimento mais consistente, na busca de uma ampliação da consciência do empresariado em relação a suas responsabilidades sociais. (STAUB, 2008).

Nessa perspectiva, nas décadas seguintes, o movimento de valorização da responsabilidade socioambiental empresarial no Brasil ganhou um forte impulso. Foram criadas entidades como a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), que estimula iniciativas de responsabilidade corporativa e empreendedorismo social e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), responsável pela difusão do Balanço Social como instrumento de gerenciamento da atividade social das organizações.

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Responsabilidade Social, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE)18, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE)19, mostram bem a evolução ocorrida no Brasil desde as primeiras manifestações nos anos 60. (ASHLEY et al, 2005; BORBA, 2005 apud STAUB, 2008).

No ambiente empresarial brasileiro, a situação conjuntural, em que programas governamentais ligados à área social são instrumentalizados, ocorre o favorecimento da atuação socialmente responsável das empresas. Em decorrência, diversas empresas têm mudado estrategicamente suas formas de gestão. Segundo Aligleri et al (2003 apud STAUB, 2008), as empresas cada vez mais, percebem que há necessidade de um comportamento administrativo que associe a viabilidade dos empreendimentos com a sustentabilidade. A necessidade que persiste é a de aprimorar permanentemente esse processo com o objetivo de equilibrar o agir econômico em busca do lucro ao da sustentabilidade socioambiental.

A legitimidade do movimento de responsabilidade socioambiental empresarial é questionada. Não é razoável imaginar que as empresas sejam capazes de atender as demandas socioambientais e, ainda assim, manter níveis suficientes de sucesso em um ambiente de negócios cada vez mais hostil. Outros argumentos contrários apresentam sérios óbices à viabilidade de ações empresariais que não visem ao lucro, sob o risco de paralisar os negócios e aumentar proibitivamente os preços. (ANSOFF, 1981; GRAY, 2004 apud STAUB, 2008).

Friedman (1988 apud STAUB, 2008), economista ganhador do prêmio Nobel da Economia, afirma que “há poucas coisas capazes de minar tão profundamente as bases de nossa sociedade livre do que a aceitação por parte dos dirigentes das empresas de uma responsabilidade social que não a de fazer tanto dinheiro possível para seus acionistas”. A visão do autor deixa

18 Criado em 1995, o GIFE tem como missão aperfeiçoar e difundir conceitos e práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum. Tem como objetivos, contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável do Brasil, por meio do fortalecimento político-institucional e do apoio à atuação estratégica de institutos e fundações de origem empresarial e de outras entidades privadas que realizam investimento social voluntário e sistemático, voltado para o interesse público. O GIFE é fruto do processo de redemocratização do país, do fortalecimento da sociedade civil e, especialmente, da crescente conscientização do empresariado brasileiro de sua responsabilidade na minimização das desigualdades sociais existentes no país (STAUB, 2008).

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clara a ótica neoliberal acerca da responsabilidade social, a qual promoveria o aumento do poder das empresas, gerando efeitos políticos e socialmente imprevisíveis e indesejáveis.

A função institucional das empresas, quanto à responsabilidade de operacionalizar práticas de responsabilidade socioambiental empresarial, é questionada por Jones (1996 apud STAUB, 2008), ao argumentar que os administradores privados não compreendem e tomam decisões acerca das demandas sociais, cujas ações deveriam ser desempenhadas pelo governo, a igreja, as entidades de classe e as organizações sem fins lucrativos.

Grayson e Hodges (2003 apud STAUB, 2008) na publicação “Compromisso Social e Gestão Empresarial” apresentam alguns dos principais argumentos pró e contra o envolvimento das empresas com as comunidades onde estão inseridas, conforme o Quadro apresentado 4.

Quadro 4 – Argumentos a respeito do envolvimento das empresas com as comunidades Argumentos contrários Argumentos a favor

A solução dos problemas da comunidade não cabe às empresas: o negócio das empresas são os lucros, não o bem-estar social.

É normal nos negócios enfrentar os problemas da comunidade que restringem o potencial da empresa. Ignorar o problema pode ser uma ameaça à estabilidade da comunidade e aumentar o custo do negócio.

Fazer as empresas se envolverem com a comunidade é o mesmo que deixar Drácula cuidando do banco de sangue. Seguindo os críticos, a empresa é fonte de muitos males sociais que ela tenta curar. E, mesmo que não seja, não é democrático dar tal função a

homens de negócios não eleitos.

O apoio das empresas para enfrentar os problemas da comunidade deveria complementar a dotação do governo, e não suplementá-la. O apoio deveria ser transparente e estar sujeito a exames e balanços. Em países em desenvolvimento, o engajamento da empresa com a comunidade pode significar uma base para a instituição do sistema democrático. Seria bom que as empresas tivessem papel

importante na melhora de vida da comunidade, mas seu envolvimento é em grande parte pró-forma e interesseiro. Em geral se dá por publicidade ou, na melhor das hipóteses, é bem intencionado, mas insignificante.

As empresas têm muito a aprender a respeito das boas iniciativas ao trabalhar com comunidades e abordar suas necessidades. O desafio é identificar onde ocorrem boas práticas, compartilhá-las e montar programas.

Fonte: Staub, 2008.

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públicos mais conscientes conquistaram o papel de influir sobre as atividades das empresas e condicionar a atividade destas à sua satisfação. Nesse sentido, os diversos públicos, tais como o consumidor, o investidor, o líder de opinião, a mídia, as ONGs, o governo, têm condições de afetar o mundo de forma significativa e positiva ao mudar os atributos de sucesso que exigem das empresas. (BELIZÁRIO, 2005 apud STAUB, 2008).

Baseado na importância da atuação corporativa no desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental tratados neste capítulo, a seguir, serão apresentadas ferramentas que norteiam a gestão ambiental empresarial, através das iniciativas e modelos de avaliação de desempenho do Instituto Ethos de Responsabilidade Socioambiental; a Norma BS 8900; o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE); a Agenda 21 e as diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade definidas pelo Global Reporting Initiative (GRI), tendo em vista a referência dos trabalhos desenvolvidos por estas instituições no tema em questão, objetivo deste trabalho.

Será apresentada ainda, a análise da incorporação do aspecto sustentabilidade à gestão empresarial das instituições financeiras, através de propostas do Ministério do Meio Ambiente; Princípios do Equador; Declaração de Collevecchio e Protocolo Verde. Bem como, a efetiva incorporação do risco ambiental nos processos de concessão de crédito agrícola.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1Iniciativas e critérios de avaliação de desempenho da responsabilidade socioambiental

3.1.1 Instituto Ethos de Responsabilidade Socioambiental

Imagem

Figura 1 – Cobertura do solo no período entre os cultivos de inverno e verão
Figura 2 – Pós - colheita no sistema plantio direto
Figura 3 - Responsabilidade Socioam

Referências

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