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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Edinéia Ramos Fernandes

O Envelhecimento do Doente Mental

Crônico Institucionalizado

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Edinéia Ramos Fernandes

O Envelhecimento do Doente Mental

Crônico Institucionalizado

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Univer- sidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia,

sob orientação do Prof. Dr. Paulo

Renato Canineu.

(3)

Banca Examinadora

____________________________________

____________________________________

(4)

Dedicatória

Dedico este trabalho à memória do

doutor Abel Francisco Vieira Job,

e a todos os portadores de transtornos

mentais crônicos do Instituto de Reabilitação

(5)

Agradecimentos

Manifesto a minha gratidão a todas as pessoas que de forma

direta ou indireta colaboraram para realização deste trabalho e em

particular:

Aos meus pais, Aparecido e Maria a quem devo meu existir.

Ao meu querido esposo Márcio, pela compreensão nos momentos

de minha ausência.

Ao meu amigo Alex, que esteve sempre presente, me

incentivando nos momentos de dificuldade.

Ao prof. dr. Paulo Renato Canineu, pela orientação e apoio na

elaboração deste estudo.

À minha família e em especial às minhas irmãs Zenaide, Simone

e Deneise, pelo incentivo.

A todas as professoras do Programa de Estudos Pós-Graduados

em Gerontologia, pelas valiosas contribuições.

À profa. dra. Beltrina que mudou meu paradigma de ciência.

À Albertina (Tina), pela disponibilidade e dedicação.

À Eliana, administradora do Instituto, e ao doutor Paulo de Tarso

Ubinha, por acreditarem neste trabalho e autorizarem minha

entrada na instituição.

À Marleide e a todos os funcionários do Instituto, por contribuirem

direta ou indiretamente.

À Fernanda Bravo, à Léia, à enfermeira Fátima Maia e à dra.

(6)

Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é, o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é conhecida, assim, como não se sabe, quando desembarca, de que terra vem. Sua única verdade e sua única pátria são essa extensão estéril entre duas terras que não lhe podem pertencer.

(7)

RESUMO

FERNANDES, E.F. (2008). O Envelhecimento do Doente Mental Crônico

Institucionalizado. Dissertação (mestrado em Gerontologia) – Pontíficia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

Este trabalho é resultado de pesquisa realizada no Instituto de Reabilitação e

Prevenção em Saúde Indaiá, na cidade de Indaiatuba, interior do Estado de São

Paulo, com 13 sujeitos, idosos, doentes mentais crônicos, moradores dessa

instituição. O estudo teve como objetivo traçar o perfil sociodemográfico do

indivíduo que envelhece em uma instituição psiquiátrica, identificando o motivo de

permanecer institucionalizado após movimento da reforma psiquiátrica, e verificar

como o doente mental percebe seu processo de envelhecimento e como

compreende o vínculo familiar. O estudo seguiu a abordagem qualitativa, e a linha

geral que caracterizou o estudo foi a pesquisa descritiva. Para o delineamento do

perfil sociodemográfico utilizou-se procedimento técnico de pesquisa bibliográfica

de coleta de dados. Os demais dados foram coletados por meio de entrevista com

um roteiro semi-estruturado, gravadas, com consentimento do diretor clínico da

Instituição e transcritas para análise. Os dados foram agrupados em categorias,

compostas a partir dos objetivos traçados. Constatou-se idade média de 62,3

anos, a maioria na faixa de 60-69 anos; 69,2% do sexo feminino, tendo a

confirmação da feminização na velhice; verificou-se que 84,61% dos sujeitos

foram institucionalizados antes dos 60 anos; a esquizofrenia e a psicose orgânica

foram às doenças psiquiátricas de maior prevalência, com grave

comprometimento cognitivo entre os sujeitos. Na análise qualitativa percebeu-se a

ruptura das biografias pela falta de vínculo familiar e contato com o mundo

exterior, um diálogo não seqüencial, com falas breves. Muitas instituições

psiquiátricas que permaneceram em funcionamento ainda abrigam doentes

mentais crônicos (são os moradores), por causa da falta de amparo político, social

e familiar para essas pessoas.

(8)

ABSTRACT

FERNANDES, E,F (2008). The aging of hospitalized individuals who suffer from

chronic mental disease. (Master in Gerontology) – Pontíficia Universidade Católica

de São Paulo, São Paulo.

This work is the result of a study among thirteen old individuals with chronic

mental disease who are residents at the Institution of Rehabilitation and

Prevention in Health Indaia – located in Indaiatuba city, São Paulo state. The

objective of this study was to delineate the social and demographic profiles of

patients who get old as interns in Psychiatric Clinics, identifying the reasons for

being hospitalized and checking if they are able to understand their aging process

and the family itself. The study followed the qualitative approach and its main line

was the descriptive research. A bibliographical research to gather information

about the patients and delineate them into their social and demographic profiles

was done. Additional information was got from structured interviews made with

them. These interviews were all recorded and transcribed for further analysis. The

information was grouped into categories according to the delineated objectives

which led us to some conclusions. The patients were between 60 to 69 years old

but the average was between 62 to 63 years old. Most of them were women,

making 69,2% of them. About 84,01% of them turned residents before the age of

sixty. The schizophrenia and the organic psychoses were the psychiatric disease

that predominated among them.

In the qualitative analysis we noticed a rupture in their bibliographies because of

being living far from their families and being far from the real life, so It was noticed

short dialogues with no meanings and brief speeches. Nowadays many

Psychiatric Institutions maintain people with chronic mental disease as residents,

because themdon´t have politica, social an familiar support.

(9)

LISTA DE FIGURAS e TABELAS

Figuras

Figura 1 – Distribuição por sexo na idade em que foram institucionalizados ... 54

Figura 2 – Distribuição das doenças psiquiátricas ... 55

Figura 3 – Distribuição por sexo das comorbidades ... 56

Figura 4 – Distribuição dos escores totais dos idosos no MEEM ... 57

Figura 5 – Pontuação da Escala de Katz ... 58

Tabelas Tabela 1 – Caracterização Sociodemográfica ... 53

(10)

SUMÁRIO

I - Introdução ... 1

II - Abordagens Conceituais: a Reforma Psiquiátrica e o Doente Mental Crônico Institucionalizado ... 9

1. Desospitalização ... 9

2. Saúde, saúde mental e doença mental ... 14

3. O doente mental crônico ... 17

4. Envelhecimento ... 20

5. As principais doenças em idosos de hospitais psiquiátricos ... 23

5.1. Esquizofrenia ... 24

5.2. Transtornos mentais orgânicos ... 25

5.3. Transtornos mentais e comportamentais por causa do uso de substância psicoativa ... 27

5.4. Epilepsia ... 28

III – Objetivos ... 30

IV – Metodologia ... 31

1. A realização da pesquisa de campo e os procedimentos metodológicos ... 31

2. O Instituto ... 33

3. Coleta de dados ... 35

V – Resultados, Discussão e Análise dos Depoimentos dos Entrevistados ... 39

1. A identificação dos sujeitos ... 40

2. Caracterização sociodemográfica ... 53

(11)

4. Distribuição das doenças psiquiátricas ... 55

5. Distribuição das comorbidades ... 56

6. Resultado da avaliação pelo mini-exame do Estado Mental de Folstein (Folstein et al., 1975), modificado segundo critérios de Brucki (2003) . 57 7. Resultado da avaliação da capacidade funcional dos idosos por intermédio da Escala de Capacidade Funcional de Katz ... 58

8. Relação tempo de institucionalização e o recebimento ou não de visitas ... 59

9. Análise dos depoimentos dos entrevistados ... 60

9.1. Definir velho, velhice e envelhecimento ... 60

9.2. A percepção que o doente mental tem sobre seu processo de envelhecimento ... 63

9.3. O que considera família, e se sente falta de família ... 65

9.4. Percebe os demais internos como alguém da família? ... 68

10. Qual a razão para os indivíduos com transtorno mental crônico não serem acolhidos por seus familiares? ... 70

VI – Considerações Finais ... 72

VII – Fontes Bibliográficas ... 77

(12)

I – INTRODUÇÃO

“... Toda minha vida se tornou uma viagem e começo a sentir que meu único lar, o único lugar familiar para onde sempre retorno, é minha doença” (YALOM, 2005:76).

Quando iniciei o mestrado em Gerontologia meu objetivo era pesquisar

sobre o idoso acometido pela doença de Parkinson. Porém, havia grande

frustração por não conseguir desenvolver o mestrado na área da saúde mental,

com a qual sempre tive muita afinidade, e por questões diversas não fora possível

concretizar. No segundo semestre, ao cursar a disciplina “Aspectos Médicos do

Envelhecimento”, cujo enfoque proposto era oferecer informações a respeito das

doenças que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento, com suas

repercussões no indivíduo, na família e na sociedade, compreendemos melhor a

problemática das demências e discutimos sobre saúde mental e reabilitação. Foi

então que me senti motivada a direcionar o tema de pesquisa para outra

abordagem. Considerei importante, partindo dessas ponderações, pensar como

envelhece o doente mental crônico, institucionalizado.

A escolha também se apoiou na minha inquietação, surgida anteriormente

ao mestrado, quando, ao trabalhar em uma instituição psiquiátrica, no município

de Indaiatuba, observei um número relevante de idosos institucionalizados e sem

vínculo familiar. A reflexão sobre a questão do envelhecimento, em uma

instituição psiquiátrica, e a perda do vínculo familiar, instigaram a formulação de

(13)

De acordo com Turato (2003:119):

“... Um tema problema eleito para um projeto de investigação científica atende a indagações pessoais do investigador, que parte de motivadores próprios, interesse e/ou experiências anteriores no campo abordado; mas também deve ser de relevância para a sociedade, de forma mais ou menos ampla, e para o conhecimento científico específico sobre o tema, podendo ainda contribuir com a estruturação de conceitos mais abrangentes no campo da ciência.”

O crescimento da população idosa é fenômeno mundial, especialmente nos

países em desenvolvimento. O crescimento explosivo do número da população

idosa provoca aumento de pessoas com risco de doenças neurológicas e

psiquiátricas. O envelhecimento pode resultar na presença de múltiplos prejuízos

e incapacidade, com conseqüente deterioração da saúde dos idosos (MAIA,

2004).

O envelhecimento não leva inevitavelmente à doença e à incapacidade.

Muitas pessoas idosas permanecem funcionalmente independentes apesar da

crescente prevalência da doença crônica. Entretanto, a doença mental aumenta a

vulnerabilidade do idoso ao declínio funcional (POTTER & PERRY, 2005).

Nos dias de hoje, muitos problemas que afetam a saúde mental dos idosos

devem-se a fatores de ordem social, porém, mais especificamente, ordem

econômica. Os problemas de infra-estrutura socioeconômica, pessoal e familiar,

implicam e predispõem, muitas vezes, os idosos a processos patológicos.

Destaca-se cada vez mais o impacto desses fatores nas manifestações da

doença mental, impacto que, provavelmente, se potencializa no envelhecimento,

(14)

diminuição das funções físicas e intelectuais, perda da beleza do corpo, queda no

prestígio social, dependência econômica dos familiares, são vivenciadas com

sentimento de pesar (FIGUEIREDO et al., 2002). As alterações estruturais e

funcionais produzidas pelo envelhecimento estabelecem modificações fisiológicas

importantes nos sistemas orgânicos, que têm como resultado uma cascata de

efeitos indesejáveis aos aparelhos e órgãos nobres. As condições neuropsíquicas

também podem sofrer alterações: orientação, humor, concentração, alteração da

memória. As enfermidades psíquicas possuem base biológica, porém, o fato de

serem vivenciadas em contextos sociais e culturais diferentes torna os sintomas e

sua evolução específicos. As respostas individuais às agressões sofridas ao longo

da existência são fatores que determinam a velocidade com que o

envelhecimento acontece. A influência de condições desfavoráveis de vida

aumenta a probabilidade de desencadeamento de distúrbios psiquiátricos.

Aspectos multidimensionais do envelhecimento são fatores que concorrem para a

inquietação psicossocial do indivíduo idoso.

Cabe destacar que, dentro dos diversos níveis de intervenção em saúde

mental, se constata o surgimento de uma nova cultura de cuidados, que cada vez

mais vem ocupando espaço. Ainda assim, se observa que os vários avanços, em

especial os tecnológicos e, entre esses, os ocorridos na área médica (vacinas,

medicações), não são observados na área da saúde mental. Há o aumento de

casos de depressão, esquizofrenia, demência, outras formas de doenças mentais

crônicas, além de alcoolismo, abuso de drogas e suicídio, assim como a violência

(15)

No fim da década de 1980, inicia-se no Brasil o movimento da Reforma

Psiquiátrica, a partir das transformações sociais e políticas que vinham

acontecendo, no campo da psiquiatria, em países da Europa e nos Estados

Unidos (BRASIL, 2001). O Brasil tem, hoje, movimento de desinstitucionalização

significativo inserido na reforma psiquiátrica brasileira.

A doença mental passa a ser reconhecida como fruto também do processo

de marginalização e exclusão social, e a luta da Reforma Psiquiátrica

fundamenta-se na construção da cidadania dos indivíduos em sofrimento psíquico

e na promoção da saúde mental.

A luta antimanicomial se refere a processo de transformação dos serviços

psiquiátricos. Nos últimos anos o problema da instituição psiquiátrica tem sido

discutido por diversos setores da sociedade brasileira. Tendo se iniciado com um

posicionamento dos trabalhadores de saúde mental, em 1987 nasce o Movimento

Nacional da Luta Antimanicomial, negar o manicômio como forma de tratamento

e propor novas alternativas terapêuticas ao indivíduo portador de transtornos

psíquicos.

O processo de redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de

desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação passa a

tornar-se política pública no Brasil a partir dos anos 90, e ganha grande impulso

em 2002, com uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que instituem

mecanismos claros, eficazes e seguros para a redução de leitos psiquiátricos a

partir dos macro-hospitais (BRASIL, 2005).

Assim, o mecanismo para redução de leitos no país ocorre por meio de

(16)

de Volta para Casa, expansão de serviços como os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPs) e as Residências Terapêuticas.

Nossa sociedade não está preparada para o desafio de acolher e cuidar

das pessoas que adoecem mentalmente com gravidade. Segundo Melman

(2006), ainda predomina visão preconceituosa em relação ao fenômeno da

doença mental, o que acaba resultando na marginalização afetiva e social de

grande número de pessoas que necessitam de atenção psiquiátrica.

A sociedade, ao longo de sua história, sempre isolou os doentes mentais.

Em conseqüência, têm ficado fora do alcance dos olhos, ou seja, distante da

convivência com os “sadios”. O isolamento, que se caracteriza como forma de

tratamento por meio de longas internações, acarreta a quebra do vínculo familiar

(WAIDMAN, 2001).

Sociologicamente, a família é definida como um sistema social, dentro do

qual podem ser encontrados subsistemas, dependendo do seu tamanho e da

definição de papéis. Por meio das relações familiares os acontecimentos da vida

recebem seu diagnóstico e, a partir dele, são entregues à experiência individual

(OSINAGA, 2004).

A família é construção sociocultural na qual o vínculo biológico é apenas

um dos elementos. A concepção de família varia no tempo e de acordo com as

culturas, assim como mudam suas características. No Brasil, as famílias são

nucleares, mas o modelo de família extensa ainda continua: é bilateral (conta-se

pelos dois lados: paterno e materno), engloba parentes ditos “consangüíneos” e

(17)

O adoecimento de um membro da família representa, em geral, um forte

abalo. Para a maioria das pessoas a enfermidade significa grande ruptura na

trajetória existencial. A enfermidade mental desafia o poder familiar, gera muita

tensão, estimula sentimentos de impotência e vitimização, alimenta amarguras.

Naqueles casos em que a gravidade do quadro é maior e a duração dos sintomas

se prolonga por muito tempo, os repetidos fracassos sociais dos pacientes, as

dificuldades de comunicação e interação, e os freqüentes insucessos nos

tratamentos produzem mais frustração e desespero, são convite a um progressivo

isolamento da vida comunitária. A própria vida fica esvaziada, muito aquém das

possibilidades existenciais. A institucionalização desse membro doente mental se

torna alternativa viável e cômoda, muitas vezes porque os familiares dele não

podem ou não querem cuidar (MELMAN, 2006).

Na introdução de seu livro clássico, Manicômios, prisões e conventos,

Goffman (2007) descreve os dispositivos comuns às diversas instituições totais:

as atividades cotidianas se desenvolvem em contato com grande número de

pessoas, tratadas do mesmo modo e obrigadas a fazer as mesmas coisas; todas

as dimensões da vida acontecem no mesmo lugar e são reguladas por uma única

autoridade; as diversas fases das atividades do dia-a-dia são rigorosamente

organizadas segundo ritmo preestabelecido e de acordo com um plano racional,

cuja finalidade é precisamente cumprir a função social da instituição. O aspecto

central das instituições totais pode ser descrito com a ruptura das barreiras que

comumente separam as esferas da vida.

No hospital psiquiátrico, o desejo de normatização é explícito,

(18)

regulamento, a ruptura dos laços familiares e de vizinhança, o controle rígido do

tempo, as relações de poder, tudo está a serviço da reprogramação completa da

existência, em virtude das exigências da ordem e da disciplina (FOUCAULT, 1991).

O isolamento do sujeito doente é a peça-chave do dispositivo institucional

que, além de neutralizar o recluso, estabelecendo relação pedagógica e

disciplinadora, circunscreve-o em uma espécie de laboratório social e sanitário.

Lugar zero de trocas sociais, deserto humano, ético e material (MELMAN, 2006).

Goffman (2007) ressalta que entre os internados de muitas instituições

totais existe o intenso sentimento de que o tempo passado no estabelecimento é

perdido, destruído ou “tirado” da vida; é tempo que precisa ser “apagado”; é algo

que precisa ser “cumprido”, “preenchido” ou “arrastado” de alguma forma. Nas

prisões e nos hospitais para doentes mentais uma afirmação geral quanto à

adaptação da pessoa à instituição pode ser apresentada por meio da maneira de

“passar o tempo”: se é algo penoso ou leve.

Na atual política de saúde mental, que visa a desinstitucionalizar o doente

mental, os profissionais têm tentado envolver a família no tratamento, pois vários

autores, como Bandeira (1994), Koga (1997), Waidman (1998), apud Osinaga

(2004), enfatizam que somente assim será possível manter o doente

desinstitucionalizado, pois, sem preparo e acompanhamento, a família não tem a

infra-estrutura necessária para manter o doente mental no domicílio.

Dois dos principais desafios para o processo de consolidação da Reforma

Psiquiátrica brasileira são a formação de recursos humanos capazes de superar o

paradigma da tutela do “louco e da loucura”, e o resgate do vínculo familiar, que

(19)

A formação de recursos humanos implica interesses e incursões

financeiras do Estado, por meio de incentivo ao aprimoramento profissional,

campanhas de conscientização da população etc. A recuperação do vínculo

familiar é questão que escapa às decisões governamentais e implica

multiplicidade de fenômenos (desde a existência de uma família ao afastamento

da mesma por causa do tempo de institucionalização).

Inúmeros problemas o país enfrenta. E para eles há de serem encontradas

soluções. Entre eles, as repercussões sociais e de saúde do envelhecimento

populacional. A compreensão da interface dos aspectos biopsicossociais do

envelhecimento, com vistas ao atendimento da saúde mental e do adoecer

psíquico das pessoas idosas, ainda se apresenta como grande desafio para o

(20)

II – ABORDAGENS CONCEITUAIS: A REFORMA PSIQUIÁTRICA

E O DOENTE MENTAL CRÔNICO INSTITUCIONALIZADO

1. Desospitalização

“...Loucura é um nome popular carregado de discriminação e de falsos medos. O nome científico é psicose. Há vários tipos de psicoses que se apresentam com vários graus de intensidade e, conseqüentemente, com vários níveis de superação.” (CURY, 2005:51).

A luta antimanicomial começou no Brasil há 20 anos, quando ganhou corpo

na esquerda mundial o debate sobre o fim dos hospícios e o tratamento dos

pacientes fora dos hospitais. A inspiração foi o modelo definido pelo italiano

Franco Basaglia que, em 1961, assumiu a direção do Hospital Psiquiátrico de

Gorizia e transformou o manicômio em comunidade terapêutica, com princípios

humanistas.

A desinstitucionalização italiana tem, em seus fundamentos jurídicos,

medidas efetivas que viabilizam a execução, tendo como pontos cardeais:

• A proibição de construir novos hospitais psiquiátricos e internar novos

pacientes nos já existentes;

• O estabelecimento de serviços territoriais responsáveis pelo

atendimento de saúde mental em áreas geográficas determinadas,

dotados das estruturas necessárias para prestar assistência

(21)

estruturas mencionam-se especificamente os hospitais gerais, nos

quais haverá o máximo de 15 leitos destinados ao atendimento de

pacientes psiquiátricos;

• A abolição das tutelas jurídicas e do “status” de periculosidade social do

doente mental, que passa a ser reconhecido como cidadão em plena

posse de direitos civis e sociais.

Traço fundamental que distingue a Reforma Italiana e a diferencia das

demais reformas psiquiátricas é não oferecer solução institucional acabada ou um

quadro normativo. Processo dinâmico, em que os conflitos e transformações

mantêm aberto um espaço de incertezas, no qual continuam sendo relevantes as

ações concretas, a experimentação e a aprendizagem (OPS, 1990).

A luta antimanicomial, histórica, ganhou força a partir dos anos 70, quando

a sociedade começou a questionar o tratamento dado aos pacientes com

problemas mentais. Há 19 anos, o então deputado Paulo Delgado (PT-MG)

apresentou projeto de lei propondo o fechamento dos hospícios (o projeto foi

rejeitado).

O movimento antimanicomial, também conhecido como Luta

Antimanicomial, se refere a um processo mais ou menos organizado de

transformação dos serviços psiquiátricos, derivado de uma série de eventos

políticos nacionais e internacionais. Na sua origem, esse movimento está ligado à

Reforma Sanitária Brasileira, da qual resultou a criação do Sistema Único de

Saúde (SUS).

O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo à

(22)

e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, eqüidade na oferta dos

serviços e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos

processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. A nova política de

saúde foi oficialmente estabelecida em 1988, com a Constituição Federal, que

originou a lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, instituindo a Reforma do Modelo de

Assistência em Saúde Mental no Brasil, conhecida como “reforma psiquiátrica”,

que prevê a redução do número de leitos para internação e a criação de Centros

de Atenção Psicossocial (CAPs), que promoveriam tratamento sem internação

(BRASIL, 2004).

Pesquisa realizada pelo Ibope, e encomendada pela Associação Brasileira

de Psiquiatria (ABP), relata que cerca de 1,3 milhões dos brasileiros sofrem

transtornos mentais graves (BEOLCHI, 2008). Segundo dados da Organização

Mundial de Saúde (OMS), mais de 30% da população, independentemente de

classe social, credo ou raça, necessitam de algum atendimento psiquiátrico. Ainda

conforme o Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (2006), o

Ministério da Saúde, sem política adequada ao atendimento ao doente mental,

vem praticando uma “reforma psiquiátrica”, editando portarias sem levar em conta

as reais necessidades da população. Um quarto dos leitos psiquiátricos do país

foi fechado, sem que fossem criados serviços substitutos suficientes.

A política antimanicomial só se estabeleceu legalmente em 2001. Seis

anos depois o país vive uma encruzilhada: fechou parte dos desumanos

manicômios, mas não criou atendimento suficiente para os doentes saídos dos

hospitais. O Brasil tem 16,5 milhões de doentes mentais que precisam de

(23)

de leitos psiquiátricos caiu de 51.393 para 38.842. O governo se comprometeu a

criar leitos em hospitais gerais e uma rede de atendimento comunitário, além de

residências terapêuticas para pacientes. Mas até hoje só foram instalados 2.400

leitos em hospitais gerais. No lugar de 12.551 leitos fechados, foi montada uma

rede com 1.123 CAPs (LARANJEIRA, 2008).

Logo no seu início, portanto, as ações de desinstitucionalização no Brasil

depararam-se com uma questão: o que fazer com pessoas que poderiam sair dos

hospitais psiquiátricos, mas que não contavam com suporte familiar ou de

qualquer outra natureza (BRASIL, 2004).

Após estudo realizado no Brasil, em 2002, estimou-se que um terço dos

pacientes internados nos hospitais psiquiátricos é crônico, e residentes nesses

locais, pois perderam completamente o vínculo familiar (BRESSAN, 2002).

Muitos leitos em hospitais psiquiátricos são ocupados, ainda hoje, por

pacientes de longa permanência. O quadro psiquiátrico não justifica a internação,

apesar de apresentarem prognósticos sombrios. A condição social em que se

encontram é, em sua maioria, de miséria e ausência das condições mínimas de

bem-estar. O tempo e o “tratamento” a que foram submetidos em instituições,

psiquiátricas ou não, são determinantes para os considerarmos pacientes

institucionalizados (RANGEL, 2006).

Sério problema enfrentado por instituições psiquiátricas é o processo de

desospitalização de indivíduos portadores de transtorno mental crônico, que

passaram muitos anos institucionalizados. Por causa do longo tempo de

institucionalização, ambiente pouco estimulante e excesso de medicação podem

(24)

Embora o processo de desinstitucionalização tenha trazido resultados

positivos e oportunidade de recuperação e ressocialização aos pacientes

psiquiátricos, uma parcela não se beneficiou desse processo, em virtude de

dificuldades e equívocos na implantação e no desenvolvimento de centros

comunitários, que acabaram priorizando o tratamento de pacientes menos graves

e mais jovens. Muitos pacientes retornaram para as instituições psiquiátricas e

permaneceram internados cronicamente, e outros nem chegaram a sair de lá.

Constituem os chamados “crônicos” ou “moradores”: lá envelheceram e hoje se

encontram em situação diferente daquela que apresentavam quando internados

anos atrás. Muitos foram perdendo os vínculos com o mundo exterior, pelas

rupturas familiares e abandono (CANINEU, 2001).

Existe ainda outro paradoxo. Os usuários de instituições psiquiátricas são

encaminhados, em grande parte dos casos, pela própria equipe da rede pública

de atendimento social e de saúde, ou pelos hospitais conveniados com o Sistema

Único de Saúde. Encontram nessas instituições a solução, no que se refere à

moradia e proteção, para as pessoas incapazes de ter vida autônoma, sem

vínculos familiares ou que, mesmo os tendo, “não se adaptam ao convívio

doméstico” (MEDEIROS, 2006).

O Brasil dispõe, hoje, de arcabouço legal que assegura ao portador de

transtorno mental a garantia do acesso ao melhor tratamento do sistema de

saúde. Porém, essas prescrições e determinações legais são, ainda, uma utopia

para grande parte da população portadora de transtorno mental (MEDEIROS,

(25)

2. Saúde, saúde mental e doença mental

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003), saúde é um

estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de

distúrbios ou doenças. É estado de equilíbrio humano entre o organismo e o seu

ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo

dentro dos limites normais, de forma particular, e dentro do seu ciclo vital.

Há dois tipos de perspectivas em relação à saúde: analítica e holística. Na

visão analítica de saúde, existe doença se a função de um órgão se desvia, de

maneira anormal, da função típica da espécie. A pessoa está doente se tem órgão

que funciona subnormalmente. Na visão holística, a saúde é definida como a

habilidade da pessoa em alcançar seus objetivos vitais. Portanto, se algum objeto

vital o individuo não pode alcançar, então está carecendo de saúde, em algum

nível (OSINAGA, 2004).

Segundo Birman apud OSINAGA (2004), a saúde está na ordem do

simbólico e da significação. O simbólico mostra-se tão concreto quanto os

distúrbios do corpo. Pelo fato de o homem ser um ente simbólico, desenhará em

sua mente significados e sentidos de acordo com os códigos culturais e relações

sociais. Isso poderá alterar o funcionamento biológico, psicológico, emocional e

afetivo.

Saúde mental, segundo a OMS, é o estado relativamente persistente, no

qual um indivíduo logra integrar as suas tendências instintivas de maneira

(26)

sensação de auto-realização, como também de adaptação ao ambiente social, e

na satisfação de relações interpessoais e realizações.

A definição de doença mental deriva do que se acredita serem os seus

fatores causais. É difícil definir um conceito universal de doença mental, por

causa dos fatores culturais que influenciam a definição. Na DSM–IV1 (American

Psychiatric Association [APA], 1994), a APA , apud Townsend (2002:15), define

doença mental ou um distúrbio mental como:

“...uma síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente significativo que ocorre em uma pessoa e se associa no presente a sofrimento (um sintoma doloroso) ou incapacidade (distúrbio numa ou mais áreas importantes do funcionamento), um aumento significativo no risco de vir a apresentar morte, dor, incapacidade ou uma perda de liberdade importante... e não simplesmente uma resposta esperada a um evento específico.”

O processo de adoecer envolve algumas fases, iniciando-se por tensão

emocional, com repercussões psicológicas, afetivas e sociais (OSINAGA, 2004).

As representações sociais da doença são construídas da experiência com

a enfermidade, que se traduz em expressões diretas do sofrimento. Essas

expressões necessitam ser organizadas em uma totalidade dotada de sentido,

dando a ela significados.

Escrever sobre transtornos mentais é tarefa aflitiva. Tentar descrever aquilo

que, em última análise, é indescritível.

A publicação do DSM-III, em 1980, introduziu na psiquiatria o termo mental

disorder como nomenclatura mais adequada do que mental illness, em

1

(27)

concordância com sua abordagem descritiva e a tentativa de neutralidade quanto

às teorias etiológicas. No Brasil, segundo Mari apud Osinaga (2004), essa

orientação determinou a substituição gradual do uso do termo doença por

distúrbio, transtorno ou desordem.

A publicação do CID 102 propôs o uso do termo transtorno em toda a

classificação, numa tentativa de padronização da nomenclatura, visando dessa

maneira evitar “problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos, tais como

doença ou enfermidade”.

Afinal, doença mental e adaptação-inadaptação são conceitos distintos.

Cada uma existe em um contínuo separado. O contínuo saúde-doença deriva de

uma visão do mundo do ponto de vista médico. O contínuo

adaptação-inadaptação origina-se de visão de mundo do ponto de vista da enfermagem.

Assim, uma pessoa considerada doente do ponto de vista médico – físico ou

psiquiátrico -, pode estar bem adaptada a esse modelo. Em contrapartida, a

pessoa que não tem doença clinicamente diagnosticada pode apresentar muitas

respostas de inadequação. Esses dois contínuos refletem como os modelos da

prática de enfermagem e da prática médica se complementam. (SOUSA, 2006).

2

(28)

3. O doente mental crônico

A desinstitucionalização do doente mental crônico se iniciou na década de

1970, e começou a acontecer rapidamente e sem planejamento suficiente para as

necessidades dessas pessoas, conforme retornavam à sua comunidade. Aquelas

que eram felizes o bastante por ter sistemas de apoio para lhes proporcionar

ajuda com as adaptações de vida, em sua maioria receberam tratamento como

paciente externo, conforme precisavam. Todavia, as sem apoio adequado tinham

que gerenciar a sobrevivência em uma existência pobre, ou forçadas a se juntar a

grupos de desabrigados. Alguns terminariam em asilos destinados à prestação de

cuidados para pessoas com incapacidade física (TOWNSEND, 2005).

A complexidade e a seriedade das doenças mentais requerem, em seu

atendimento, prevenção e reabilitação, a cooperação sistemática dos quatro tipos

de protagonistas que intervêm no processo: o indivíduo, a família, a rede ou

conjunto de serviços de saúde mental e a comunidade, todos em cooperação com

os órgãos públicos de saúde.

Grandes parcelas de nossa população, com problemas de doença mental

crônica, são deixadas sem tratamento: idosos, o trabalhador pobre e o

desabrigado. Essas circunstâncias provocaram no doente mental crônico maior

número de crises, sendo obrigados a se dirigir às consultas no serviço de

emergência e admissões hospitalares, além de repetidas confrontações com a

polícia.

O estigma social ainda existe, a despeito das atitudes em relação à doença

(29)

socialmente, comparado a ter um transtorno mental. Essas pessoas sentem-se

em permanente estado de confusão, como se não tivessem identidade própria,

suficientemente constituída, que as sustente. Há uma constante instabilidade

emocional, espécie de montanha-russa. Vivem constantemente nos extremos,

passando da euforia à depressão, da ingênua credulidade à desconfiança

paranóide, do amor ao ódio. Conforme Goffman (2007), os doentes mentais são

pessoas que, no mundo externo, provocaram o tipo de perturbação que fez com

que as pessoas próximas a elas as obrigassem, física, se não socialmente, à

ação psiquiátrica. Muitas vezes essa perturbação estava ligada ao fato de o

“pré-paciente” ter praticado impropriedades situacionais de algum tipo e apresentado

conduta fora de lugar no ambiente. Essa “má conduta” traduz a rejeição moral das

comunidades.

A política de saúde ignora os aspectos biopsicossociais da doença. O

corpo e a mente não podem ser separados, ainda que o sistema não seja

adequadamente preparado para atender ao cuidado geral de saúde necessário

em um nível holístico.

Uma série de pesquisas foi realizada, basicamente em grandes áreas

urbanas, abordando os tipos mais comuns de doença mental identificados entre

os desabrigados: a esquizofrenia foi descrita como diagnóstico mais comum,

seguida do uso de substâncias psicoativas3 (drogas e álcool), distúrbios mentais

orgânicos e depressão (TORREY apud TOWNSEND, 2005). Muitos apresentam

sintomas psicóticos, e outros foram residentes formais de instituições de cuidado

de longo prazo para doença mental.

3

(30)

A desinstitucionalização está freqüentemente implicada como fator para o

desabrigo do doente mental. A desinstitucionalização começou com uma

preocupação expressa, por profissionais de saúde mental e outros, que

descreveram as “condições deploráveis” nas quais as pessoas com transtorno

mental estavam abrigadas. Na realidade, porém, a desinstitucionalização não

fracassou por completo. Em torno de 50% da população doente mental – aqueles

com compreensão sobre sua doença e a necessidade de medicamento – têm

estado razoavelmente bem, desde que deixaram o hospital. Todavia, existem

outros fatores que influenciam a adaptação do indivíduo fora da instituição: a

pobreza; o mercado de trabalho é vetado para as pessoas cujo comportamento

mostra-se incompreensível ou mesmo ameaçador; e o estigma e a discriminação

associados à doença mental podem diminuir lentamente, porém são altamente

visíveis para aqueles que sofrem seus efeitos. Outro fator é a escassez de

residências terapêuticas (TOWNSEND, 2002).

Muitas instituições psiquiátricas que permaneceram em funcionamento

ainda abrigam doentes mentais crônicos. São os moradores. Não lhes é oferecido

(31)

4. Envelhecimento

“Envelhecimento é um processo seqüencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte”.

(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE – OPAS, 1994:54).

O envelhecimento da população mundial, motivado pelo aumento da

expectativa de vida, revela, por um lado, uma conquista da humanidade. Por

outro, representa um de seus grandes desafios, haja vista a necessidade de se

envidarem esforços sociais e econômicos para possibilitar, a essa população,

uma longevidade saudável, do ponto de vista fisiológico, psicológico e social

(CARVALHO et al., 2007).

Define-se como idosa a pessoa que tem 60 anos ou mais, nos países em

desenvolvimento, e em países desenvolvidos acima dos 65 anos (OMS, 2003). A

população brasileira de idosos representa um contingente de quase 18 milhões de

pessoas, com 60 anos ou mais, quase 10% da população (IBGE, 2006). Segundo

projeções do IBGE (2000), nos próximos 20 anos a população idosa no Brasil

poderá ultrapassar 30 milhões de pessoas, e deverá representar 13% da

população ao final deste período, o sexto país com maior número de idosos.

Mesmo com o aumento dessa população, a sociedade não tem demonstrado

significativo interesse pelo idoso. No Brasil, só muito recentemente surgiram

políticas sociais dirigidas a essa população4.

4

(32)

O envelhecimento humano é fenômeno complexo, com dimensões

objetivas e subjetivas, construídas cultural e historicamente. O bem-estar da

pessoa na velhice depende de mais fatores sociais e ambientais do que

determinações genéticas (CRAVEN, 2002).

Tendo em vista o crescimento populacional de pessoas idosas e as

alterações externas de ordem física, química e biológica que sofrem no cotidiano,

nas atividades pessoais e profissionais, é essencial o conhecimento em relação

às mudanças fisiológicas, fisiopatológicas e psicológicas do processo de

envelhecimento dessa parcela de população, bem como a compreensão das

especificidades e vulnerabilidades do idoso. Os profissionais de saúde podem e

devem atuar de maneira humanizada, sistematizada e individualizada,

valorizando-o e assistindo-o melhor, no contexto social e no contexto

institucionalizado, preparando as pessoas para envelhecer de modo mais

equilibrado, consciente, e com melhor qualidade de vida.

O estudo sobre o envelhecimento como processo que faz parte do ser vivo

de forma satisfatória contribui para o reconhecimento do idoso sob sua ótica e na

ótica de outras pessoas (CRAVEN, 2002).

Segundo o oitavo estágio de vida de Erik Erikson, apud Craven (2002:194):

(33)

A forma como as pessoas constroem sua história é singular, assim como a

experiência e a vivência, influenciando o modo de perceber e viver o presente e o

futuro. A vivência do hoje depende de como o idoso elaborou e/ou elabora a

percepção do mundo, do “eu” e do outro (CRAVEN, 2002).

Pode-se perceber na literatura uma revolução demográfica. Os brasileiros

estão vivendo mais, e dia a dia tem aumentado o número de idosos que não

podem mais caminhar sozinhos em sua trajetória de vida. Nesse momento de

angústia e transformação no cotidiano familiar, desponta o impasse: quem cuidará

(34)

5. As principais doenças em idosos de hospitais psiquiátricos

A presença de idosos em instituições psiquiátricas é uma realidade: há os

que foram internados jovens e, por diversas razões, lá envelheceram. Há os que

passaram por várias unidades psiquiátricas e para lá retornaram por não mais se

adaptarem a viver em sociedade. E há os que foram internados já idosos (em

proporção menor).

O envelhecimento é processo natural e não sinônimo de doença. O idoso

tem maior vulnerabilidade às agressões do ambiente e às doenças clínicas e

psiquiátricas. Conforme Canineu (2001), essa vulnerabilidade pode ser

compensada parcialmente por meio da retaguarda familiar e rede de amigos.

Quando o idoso encontra-se institucionalizado, isso desaparece totalmente, e ele

tende a ficar mais isolado e sujeito a relações mais superficiais e transitórias,

estabelecidas com os outros internos e com a equipe terapêutica.

De maneira geral, os indivíduos internados em unidade psiquiátrica não

recebem tratamento diferenciado e orientado segundo a faixa etária, visando de

alguma forma compensar o aumento da fragilidade ocasionada pelo

envelhecimento.

Entre os diagnósticos psiquiátricos mais freqüentes encontrados em

pacientes idosos residentes em hospitais psiquiátricos tem-se esquizofrenia,

transtornos mentais orgânicos, transtornos mentais e comportamentais em

decorrência do uso de substância psicoativa e epilepsia. Vê-se, pois, que a

maioria desses internos é de esquizofrênicos, cujo quadro em idade avançada

(35)

esquizofrênicos mais jovens. Muitos deles, bem como portadores de outras

doenças psiquiátricas que permaneceram longo tempo internados, evoluem para

deterioração cognitiva grave e progressiva, juntamente com distúrbios de

comportamento (CANINEU, 2001).

5.1. Esquizofrenia

A esquizofrenia é transtorno mental grave e persistente que resulta em

comportamentos psicóticos, pensamento concreto e dificuldades no

processamento das informações, relacionamentos interpessoais e resolução de

problemas.

A esquizofrenia, pela grande variedade de sintomas, é psicose5 de difícil

diagnóstico, podendo ser reconhecida apenas por apresentar característica

comum: a dissociação da personalidade, característica que originou o nome

(psicose de dissociação = esquizofrenia).

Para Bion (1988:48), no paciente esquizofrênico:

“...o contato com a realidade é mascarado pelo predomínio, na mente e na conduta do paciente, de uma fantasia onipotente que visa destruir não só a realidade, mas a consciência da mesma e, assim, atingir um estado que não é vida, nem tampouco morte”.

A esquizofrenia é distúrbio da personalidade que leva, repentina ou

lentamente, à perda de contato com o mundo normal, até então familiar, e à

irrupção num mundo psicótico e estranho.

5

(36)

De acordo com Townsend (2002), conforme os sintomas predominantes, a

esquizofrenia subdivide-se em catatonia (sintomas motores); desorganizada

(comportamento extravagante); esquizofrenia paranóide (idéias delirantes,

alucinações) e esquizofrenia residual (embotamento afetivo, isolamento social);

esquizofrenia indiferenciada (apresenta sintomas esquizofrênicos que não

preenchem critérios diagnósticos para nenhum dos subtipos).

O paciente, quando está na fase aguda, se sente perseguido e arrebatado

pelas alucinações6, idéias delirantes7 repentinas, interceptações e aceleração do

pensamento. Na fase crônica, os sintomas esquizofrênicos perdem o caráter

agudo, estabelecendo-se a tranqüilidade e nova estabilização da personalidade.

A esquizofrenia é também a doença que causa maior medo e repulsa nas

pessoas, por causa da desorganização e alterações importantes de

comportamento. Outro aspecto significativo é o rompimento das amarras da

concordância cultural: o indivíduo menospreza a razão e perde a liberdade de

escapar às suas fantasias.

5.2. Transtornos mentais orgânicos

Aparecem com enorme gama de sintomas, inclusive idênticos a outros

transtornos, mas sua causa é comprovadamente orgânica, seja por doença

degenerativa, seja por lesão ou doença sistêmica que levam a uma disfunção

cerebral (SOUSA, 2006).

6

Alucinação é percepção sensorial falsa na ausência de estímulo externo real. Entre as alucinações mais comuns encontram-se as auditivas, visuais, olfativas e táteis.

7

(37)

Para Stuarte e Laraia (2002), as respostas cognitivas são, em geral, o

resultado de ruptura biológica no funcionamento do sistema nervoso central

(SNC). Os fatores que predispõem o indivíduo a desenvolver os distúrbios

cognitivos compreendem:

• Interferência com o aporte de oxigênio, glicose e outros nutrientes

básicos essenciais para o cérebro;

• Degeneração associada ao envelhecimento;

• Coleção de substâncias tóxicas no tecido cerebral;

• Doença de Alzheimer;

• Vírus da imunodeficiência humana (HIV);

• Hepatopatia crônica;

• Nefropatia crônica;

• Deficiência de vitaminas (principalmente tiamina);

• Desnutrição;

• Anormalidades genéticas.

As condições de distúrbio cognitivo afetam todas as faixas etárias, mas são

mais comuns em pessoas em idade avançada.

Fatores psicossociais podem afetar a gravidade dos sintomas associados

às condições de distúrbio cognitivo, e incluem perdas sofridas por pessoas

idosas, associadas a sintomas depressivos; retraimento e isolamento social;

pobreza e má nutrição; uso incorreto, abuso e dependência de drogas.

O estado confusional é distúrbio cognitivo agudo de inicio rápido; e

(38)

Entre os quadros mentais orgânicos, os demenciais merecem atenção

especial, por causa da sua freqüência. De acordo com o CID-10, a demência é

caracterizada como conjunto de sinais e sintomas, isto é, síndrome causada por

alguma doença cerebral, em que há perturbações de vários aspectos do

funcionamento mental - da memória, pensamento, compreensão, cálculos,

capacidade de aprendizagem, orientação, linguagem e do julgamento.

Observa-se também diminuição progressiva de comportamento de adaptação, como

controle de esfíncteres, os hábitos de higiene e de alimentação, e do próprio

controle emocional, o que leva a maioria das pessoas a dizer que a pessoa está

“voltando a ser criança”.

5.3. Transtornos mentais e comportamentais por causa do uso de substância psicoativa

Há séculos as pessoas têm usado álcool e outras substâncias psicoativas8

– aquelas que afetam o SNC – para induzir alterações na percepção, humor,

cognição ou comportamentos. Essas substâncias produzem um estado de

consciência que o usuário considera agradável, positivo ou eufórico.

Poucas pessoas tomariam voluntariamente uma droga na expectativa de

ter experiência desagradável. No entanto, substâncias psicoativas

freqüentemente produzem resultados negativos, comportamentos não adaptativos

e até mesmo psicoses prolongadas (WILKINS & WILLIAMS, 2005).

8

(39)

O abuso9 dessas substâncias envolve complicadas causas e

conseqüências em nível físico, social e emocional. É possível que uma pessoa

desenvolva outro transtorno mental mais grave a partir do seu uso. Com os níveis

de substâncias alteradas no organismo, ocorrem intoxicação aguda – causada

pela embriaguez - coma alcoólico e convulsões.

Quando o uso contínuo de alguma substância está causando algum dano à

saúde física ou mental do indivíduo é considerado nocivo. O indivíduo pode

apresentar quadro com alterações de comportamento semelhante ao de outros

transtornos psicóticos, induzidos pelo uso de substâncias psicoativas.

5.4. Epilepsia

A epilepsia, doença neurológica crônica, também é encontrada em

instituições psiquiátricas. No entanto, crises convulsivas ocorrem mesmo em

pacientes não-portadores, desencadeados por outros fatores, como falência

orgânica, desequilíbrio eletrolítico, medicamentos, abstinência10 de drogas e

encefalopatia hipertensiva (CANINEU, 2001). O problema básico é considerado

distúrbio elétrico (disritmia) nas células nervosas em uma seção do cérebro,

levando-as a emitir descargas elétricas anormais, recorrentes e incontroláveis. A

convulsão epiléptica é manifestação dessa descarga neuronal excessiva.

As epilepsias são um complexo de sintomas de diversos distúrbios da

função cerebral, caracterizados pela recorrência de convulsões. Estão associadas

à perda de consciência, excesso de movimentos ou perda do tônus muscular, ou

a movimentos e distúrbios comportamentais, do humor, sensibilidade e

9

Uso abusivo de substância refere-se ao uso continuado mesmo depois da ocorrência de problemas.

10

(40)

percepção. Portanto, a epilepsia não é doença, mas sintoma. Dependendo da

localização da descarga neuronal, as convulsões variam de simples fixação do

olhar a movimentos convulsivos prolongados, com perda da consciência.

Segundo as variações, as convulsões foram classificadas internacionalmente de

acordo com a área do cérebro envolvida, identificadas como parciais,

generalizadas e sem classificação. As convulsões parciais11 têm origem focal e

afetam somente parte do cérebro; as convulsões generalizadas12 são de origem

inespecíficas e afetam todo o cérebro simultaneamente; as convulsões sem

classificação são assim denominadas porque os dados são incompletos

(BRUNNER & SUDDARTH, 2004).

Distintas razões colocaram sempre, e em qualquer parte do mundo, o

paciente epiléptico em condição de isolamento psicológico e social de sua

comunidade.

Saraceno (1997) enfatiza que o medo ante a “crise” por parte da população

e a falta de medidas terapêuticas até poucos anos são a base desse rechaço. Os

aspectos psicopatológicos que às vezes caracterizam a conduta não dependem

tanto de sua enfermidade “neurológica”, mas do destino de isolado, rejeitado e

temido. A debilidade da capacidade intelectual desse tipo de paciente não

depende de sua enfermidade, mas do fato pelo qual tenha sido excluído da

grande parte das possibilidades de crescimento e capacitação.

A tarefa dos serviços de saúde mental e da atenção primária é sensibilizar

a população e o próprio paciente a fim de que cesse essa absurda rejeição.

11

Convulsões parciais são simples ou complexas. Simples: sintomas elementares, sem comprometimento da consciência. Complexas: sintomas complexos, com comprometimento da consciência.

12

(41)

III – OBJETIVOS

• Este estudo teve como objetivo traçar o perfil sociodemográfico do

indivíduo que envelhece em uma instituição psiquiátrica.

• Identificar o motivo de permanecerem institucionalizados, mesmo

após movimento da reforma psiquiátrica, que visa à desospitalização.

• Verificar, por meio de entrevistas semi-estruturadas, qual percepção

tem o doente mental sobre o envelhecimento, e como vivencia o seu

processo de envelhecimento.

• Compreender o processo de perda do vínculo familiar.

• Avaliar o estado atual da saúde mental e capacidade funcional para

Atividades da Vida Diária (AVDs) dos sujeitos, a partir da aplicação

de uma escala de avaliação cognitiva, Miniexame do Estado Mental

(MEEM), e avaliação funcional de atividades, por meio da escala de

(42)

IV – METODOLOGIA

1. A realização da pesquisa de campo e os procedimentos metodológicos

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa porque se pauta em

entrevistas semi-estruturadas, utilizando o método descritivo.

O método descritivo analisa mediante descrição e aplicação de escalas e

parâmetros.

“... de modo geral, só é possível decidir se convém usar uma abordagem qualitativa depois de definir claramente qual (ais) a(s) pergunta(s) de pesquisa e os objetivos do estudo. As pesquisas qualitativas têm caráter exploratório, abordam os fenômenos de maneira holística e procuram compreendê-los em profundidade. São mais afeitas a descrever processos do que resultados. Uma vez que buscam perceber o significado das decisões e ações dos indivíduos envolvidos, essas abordagens são mais interativas, e entendem os sujeitos como participantes do processo de pesquisa. Portanto, sempre que a(s) pergunta(s) e os objetivos de uma pesquisa se traduzem nos “Por quês?” “Como?” “Sob quais condições?” em relação aos comportamentos e ações das pessoas, existe uma forte indicação de que uma abordagem qualitativa é adequada” (OSIS, 2005:122).

A pesquisa de campo foi realizada no Instituto de Reabilitação e Prevenção

em Saúde Indaiá, no município de Indaiatuba – SP. A população foi composta por

13 indivíduos, moradores dessa instituição, com 60 anos ou mais, portadores de

(43)

condições física e psíquica, por causa do grau de dependência, de irem para uma

residência terapêutica.

A expressão “pesquisa de campo” pode lembrar algo ligado à terra, talvez

até soar, em sentido figurado, como algo um tanto grosseiro. Mas é o modo como

a maioria dos pesquisadores, qualitativos ou não, coleta dados. Os cientistas

humanistas vão aonde estão as pessoas a serem estudadas, e despendem tempo

(44)

2. O Instituto

O Instituto de Reabilitação e Prevenção em Saúde Indaiá, antiga Clínica de

Repouso Indaiá, foi fundado em 1972. Localiza-se no município de Indaiatuba,

interior do Estado de São Paulo. É conhecido no município e na região como

“Telhadão” ou ainda “Teiadão”. Recebeu os apelidos quando o bairro ainda não era

muito habitado, e o prédio era convento da irmandade “Sagrado Coração de Jesus”.

Servia como ponto de referência para o bairro seu grande telhado, daí “Telhadão”.

Na década de 1980 foi ampliado o número de leitos, em decorrência do

fechamento de várias instituições psiquiátricas da região.

Na década de 1990, a partir do movimento da reforma psiquiátrica, as

vagas começaram a ser centralizadas a partir de uma central de vagas. O Instituto

tem capacidade para 234 leitos.

Em 2005 houve redução de 34 leitos. Atualmente foram desativados mais

40 leitos. Hoje, sua capacidade é de 160 leitos.

O Instituto enfrentou o processo da reforma psiquiátrica com sérias

dificuldades, até a formação de uma ONG, em 2005. A partir dessa ONG recebe

auxílio, além da iniciativa privada, maçonaria e Rotary Clube.

Está em construção uma nova concepção de espaço de tratamento, não a

do espaço de exclusão e reclusão. Foram criadas duas casas (residências

terapêuticas), que atendem a 16 usuários. As casas são alugadas pela Instituição

em bairros residenciais. Tem-se consolidado nesses espaços a experiência da

desospitalização de indivíduos que perderam o vínculo familiar e social, depois de

(45)

Em sua estrutura técnica, a equipe do hospital compõe-se de médicos,

enfermeiros, assistente social, psicóloga, terapeuta ocupacional, nutricionista,

farmacêutica, técnicos e auxiliares de enfermagem, monitores e artista plástica.

O hospital oferece um núcleo de oficinas terapêuticas, com atividades de

marcenaria, argila, pintura, artesanatos e oficina de arte culinária.

Como estímulos para socialização existem atividades externas, como

passeios na comunidade, feira livre, shopping center, visita a pesqueiro, passeio

turístico pela cidade de trenzinho. Mensalmente é realizada a festa dos

aniversariantes.

Existe ainda a preocupação com o meio ambiente. Os usuários são

envolvidos na atividade de separação do lixo reciclável. Faz-se a coleta seletiva

do lixo, vendido para uma empresa. O dinheiro arrecadado é convertido em

material para as oficinas terapêuticas.

O Instituto tem, ainda, serviço de apoio: lavanderia, setor de limpeza e

(46)

3. Coleta de dados

Superado a difícil fase, que foi o processo burocrático ao qual me submeti

para conseguir autorização da Instituição para esta pesquisa. Após concordância

do diretor clínico do Instituto e ciência a respeito da pesquisa a partir da

assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), iniciei a coleta

de dados.

Conforme Turato (2003), quando a escolha recai sobre hospital autônomo,

alguns problemas são comuns à entrada em campo. O pesquisador costuma se

defrontar com uma série de dificuldades, que vão de problemas de ordem

institucional (burocráticos) a questões de ordem psicológica (relacionamentos).

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário (ver apêndice 01) para

a caracterização do morador do Instituto. Compunha-se de questões objetivas

para o levantamento dos dados sociodemográficos, idade, sexo, raça, grau de

escolaridade, religião, tempo de institucionalização e há quanto tempo não

recebia visitas. Os dados foram coletados a partir da análise dos prontuários pela

pesquisadora, e posteriormente tabulados.

Após traçar o perfil sociodemográfico, os sujeitos foram entrevistados, com

perguntas abertas, para compreender como percebem o processo de

envelhecimento e o que consideram vínculo familiar (ver apêndice 02).

As entrevistas foram gravadas, e as falas transcritas na íntegra.

Posteriormente, analisadas qualitativamente pela pesquisadora.

Em relação ao vínculo familiar, além da investigação com os sujeitos,

(47)

clareza da pesquisa. Abordou-se o que ocorre nas relações familiares com os

portadores de transtornos mentais.

A condição cognitiva dos sujeitos da pesquisa foi obtida pela aplicação do

teste cognitivo padronizado, o “Miniexame do Estado Mental” – MEEM –

(Mini-Mental State Examination – MMSE) de Fostein, traduzido e adaptado para a língua

portuguesa por Bertulucci et al., 1994, e validado por Brucki et al. (2003). É

provavelmente o mais breve teste usado em gerontologia, e serve para rastreamento

inicial do estado mental, e já foi validado para a população brasileira.

O MEEM fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos,

contendo questões agrupadas em sete categorias, cada uma delas planejada com

o objetivo de avaliar “funções” cognitivas específicas, como a orientação temporal

(5 pontos), orientação espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos),

atenção e cálculo (5 pontos), recordação das três palavras (3 pontos), linguagem

(8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore do MEEM pode

variar de um mínimo de zero pontos, que indica o maior grau de

comprometimento cognitivo dos indivíduos, até o total máximo de 30 pontos, o

qual corresponde à melhor capacidade cognitiva.

O MEEM inclui 11 itens, dividido em duas seções. A primeira exige

respostas verbais à questão de orientação, memória e atenção; a segunda, leitura

e escrita, e cobre habilidades de nomeação, seguir comandos verbais e escritos,

escrever frase e copiar desenho (polígono). Todas as questões obedecem a uma

ordem, e podem receber escore imediato, sendo somados os pontos atribuídos a

cada tarefa completada com sucesso. O escore máximo são 30 pontos. Detalhes

(48)

“Não respostas”, em conseqüência de analfabetismo ou cegueira, têm sido

consideradas “erros”, ou cria-se escore geral diferente, retirando os itens do

sistema de escore. Folstein comentou que costumava administrar os itens sem

considerar a causa da falha (surdez etc.), e então, após o escore, comentava as

possíveis causas das falhas. O ponto de corte mais freqüentemente utilizado para

indicar comprometimento cognitivo que merece investigação posterior é 24.

Conforme validação de Brucki (2003), o ponto de corte ajustado para o

nível educacional menor que quatro anos é 17 pontos.

Pontos de corte do MEEM:

<10 = comprometimento grave;

10 – 15 = comprometimento moderado;

17 = comprometimento cognitivo leve, se a escolaridade for < 4 anos;

24 = comprometimento leve, se a escolaridade for > 4 anos.

É importante observar que o MEEM avalia presença de déficits cognitivos e

não de demência, cuja avaliação depende de outros testes e exames (VIEIRA e

KOENIG, 2002:924-925).

Também houve avaliação funcional das atividades básicas.

Atividades básicas são aquelas que se referem ao autocuidado, ou seja, as

atividades fundamentais para a manutenção da independência, como capacidade

para alimentar-se, ter continência, locomover-se, tomar banho, vestir-se e usar o

banheiro. Essas atividades foram denominadas atividades básicas de vida diária,

ou simplesmente atividades de vida diária (AVDs) (FREITAS, MIRANDA e NERY,

(49)

Para a avaliação funcional das atividades básicas de vida diária foi utilizada

a Escala de Atividades Básicas de Vida Diária de Katz.

A escala de Katz está incluída na maioria das avaliações

multidimensionais, e tem mostrado sua validade nos quase 40 anos em que vem

sendo utilizada. Para ser modificada foram acrescentadas outras atividades,

como, por exemplo, andar nos arredores da casa, arrumar-se, subir ou descer

escadas, cortar as unhas dos pés etc.

Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (ver apêndice 06). Esse

instrumento foi aplicado e preenchido pela equipe de enfermagem do Instituto. A

equipe de enfermagem foi orientada pela pesquisadora para o preenchimento do

mesmo, e respondeu às perguntas com base nas atividades profissionais

(50)

V – RESULTADOS, DISCUSSÃO E ANÁLISE

(51)

1. A identificação dos sujeitos

PACIENTE 01 – BG

Características demográficas: 73 anos, masculino, solteiro, branco, ensino fundamental completo, católico, jogou futebol pelo Juventude. Foi

institucionalizado aos 59 anos.

Tempo de institucionalização: desde 1994 (14 anos).

Visitas: recebe visita de um irmão a cada dois meses, aproximadamente.

Resultado do Mini-Exame Mental:

OT (orientação temporal): 05

OE (orientação espacial): 05

ME (memória recente e de evocação): 10

ET (escore total): 20

Diagnósticos:

1. Principal: demência não especificada; transtorno orgânico de personalidade

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Medicação atualmente utilizada: captopril 25 mg; digoxina 0,25 mg; cardivelol 3,125 mg; furosemida 40 mg; melleril 25 mg; akineton 2 mg; AAS 100 mg;

(52)

PACIENTE 02 – LC

Características demográficas: 76 anos, masculino, solteiro, branco, ensino fundamental incompleto, católico, nunca trabalhou, veio transferido do Hospital de

Mococa/SP. Estava lá desde 1978, e no Instituto desde 2001. Foi

institucionalizado aos 47 anos.

Tempo de institucionalização: 30 anos

Visitas: nunca recebeu visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental:

OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: demência não especificada

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): parcialmente dependente (4)

(53)

PACIENTE 03 – LDM

Características demográficas: 60 anos, masculino, solteiro, branco, analfabeto, católico, recebe benefício de prestação continuada, veio transferido do Hospital

Psiquiátrico Pilar do Sul, está no Instituto desde 1979. Foi institucionalizado aos

31 anos.

Tempo de institucionalização: 29 anos.

Visitas: nunca recebeu visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental:

OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: demência em outras doenças não especificadas.

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Imagem

Tabela 1. Caracterização Sociodemográfica
Figura 1. Distribuição por sexo na idade em que foram institucionalizados
Figura 2. Distribuição das doenças psiquiátricas
Figura 3. Distribuição por sexo das comorbidades
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Referências

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