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Sociedades Comerciais - Casos Práticos

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Academic year: 2021

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 1

INICIAÇÃO À DISCIPLINA DE SOCIEDADES COMERCIAIS Que tipo de empresas se podem constituir como sociedades comerciais?

Quando às empresas agrícolas é necessário atender ao art. 230º primeiro paragrafo do C.Com e ao art. 1º CSC.

Quanto às empresas civis, não existe a obrigatoriedade de se constituirem como sociedade comercial, ao contrário do que sucede nas sociedades comerciais em que vigora o Princípio da Tipicidade: têm de adoptar um dos tipos previstos no art. 1º/2 CSC (para as sociedades civis esta constituição é facultativa). Nos termos do art. 1º/2 CSC vigora um numerus clausus: só podem ser adoptados um destes tipos.

Quem é titular de uma sociedade civil e a constitui sobre a forma comercial é comerciante?

A lei permite que as partes optem por uma determinada forma jurídica, para beneficiarem deste tratamento, mas isso não quer dizer que seja assim substancialmente.

ELEMENTOS A CONSTAR DO CONTRATO DE SOCIEDADE – ART. 9º

1. DEVE SER ADOPTADA UMA FIRMA – art. 9º/1 al. c)

Nas SQ é necessário atender ao art. 200º que consagra que nestas sociedades tem de constar a abreviatura ‘’Lda. ou limitada’’.

Nas SA é necessário atender ao art. 275º que consagra que nestas sociedades deve constar a abreviatura SA.

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Qual a importância das abreviaturas que devem constar nas SA e SQ?

Para apurar a responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade. Quanto aos tipos de responsabilidade é possível distinguir entre:

 RESPONSABILIDADE LIMITADA: os sócios só respondem até ao limite das suas entradas;

 RESPONSABILIDADE ILIMITADA: responde o património da sociedade e, solidariamente e ilimitadamente, o património dos sócios. Enquanto nas SQ há registo do valor de cada acção e de quem é o seu titular (isto nos estatutos), mas não se sabe se são sócios fundadores, só o sabendo através do registo comercial, nas SA nem nos estatutos nem no registo comercial se sabe quem são os sócios.

2. SEDE – art. 9º/1 al. e)

A sede é onde a sociedade tem a sua direcção efectiva. É importante para efeitos de comunicação, para efeitos fiscais, para saber qual a nacionalidade da pessoa colectiva (art. 3º).

No art. 12º/2 consagra-se a deslocação da sede. Quanto a filiais, sucursais, etc se não estiver previsto nos estatutos existe o art. 13º.

Pretendendo mudar a sede para outro país é necessário atender ao art. 3º/5. Nos termos do art. 4º, uma sociedade estrangeira poderá, a qualquer tempo, estabelecer em Portugal uma agência, mas se quiser exercer aqui actividade por mais de um ano tem de instituir representação permanente sob pena de se verificar a consequência prevista no nº2.

NOTA: O contrato social possui (1) uma vertente de constituição de uma

sociedade; e (2) um conteúdo normativo: estatutos (na prática encontra-se separado do contrato de constituição). Existem elementos obrigatórios e elementos facultativos.

3. OBJECTO CONTRATUAL – art. 9º/1 al. d)

O objecto contratual assenta no conjunto de actividades que a sociedade pode vir a desenvolver. É diferente do objecto efectivo constante no art. 11º/3 que consagra que os sócios é que vão deliberar quais é que são as actividades que o sócio virá, efectivamente, a desenvolver.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 3 A lei não admite que a sociedade desenvolva uma actividade que não esteja compreendida no seu objecto contratual: isto é um problema de capacidade. O objecto serve para delimitar a capacidade da sociedade. Se o acto praticado não se encontrar compreendido no objecto social, a sociedade está a agir para além dos poderes que tem (mas há quem questione este entendimento e siga a teoria do fim).

Uma sociedade só poderá adquirir participações sociais noutras sociedades se tiver um objecto idêntico ao da sociedade adquirente e tem de ser uma sociedade de responsabilidade limitada. Se assim não for é necessária uma autorização no contrato: não faria sentido que, sem autorização, a gerência comprasse uma sociedade com responsabilidade ilimitada e a sociedade se responsabilizasse por esta.

4. CAPITAL SOCIAL – art. 9º/1 al. f)

O capital social é necessário para a sociedade se poder desenvolver; é o resultado da soma do valor nominal das participações de cada sócio; é uma cifra numérica, sendo necessário analisar o valor de cada entrada. É diferente do património social.

Subscrição é diferente de realização. Entende-se por subscrição o valor da participação de cada sócio na sociedade. Mas é preciso saber se for realizado: se entregou em dinheiro ou bens com valor à sociedade (espécie). Pode acontecer que se subscreva uma quota de 25 mil euros, mas só se entregue 20 mil euroos: neste caso ocorreu um diferimento no valor de 5 mil euros da entrada na constituição: subscrição a crédito.

A regra é que as entradas têm de ser realizadas no momento da constituição da sociedade, mas admite-se que assim não o seja. Tal coloca o problema se não se chegar a entregar o montante da entrada diferida e de se pode ocorrer um diferimento total.

Diferente das entradas em dinheiro são as entradas em espécie em que para se garantir que o valor do bem entregue corresponde ao valor nominal da entrada é necessário um relatório realizado por um revisor oficial de contas independente nos termos do art. 28º. O valor do bem pode superar o valor nominal, mas nunca poderá ser inferior, sob pena de se ter de pagar o difencial em dinheiro.

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5. MODELO ORGÂNICO

Nas SQ existe uma gerência e uma assembleia geral (dentro desta um órgão de fiscalização, sendo que este poderá ser facultativo). Quem faz a fiscalização da sociedade é o ROC (realizada a revisão de contas), sendo diferente do TOC (orgão contablistico).

A gerência, nas SQ, pode ter um só gerente ou vários, nos termos do art. 252º, sendo estes ou designados no contrato social ou designados por deliberação dos sócios. Os gerentes não têm de ser sócios. Se o contrato nada disser ou os sócios nada deliberarem, nos termos do art. 253º, todos os sócios são gerentes. A razão de ser de tal assenta no facto de as SQ serem sociedades fechadas (‘’as pessoas contam’’) existindo um caracter pessoal, ao contrário do que sucede nas SA em que o capital sobrepõe-se ao elemento pessoal.

Nas Sociedades de Pessoas, o elemento que prevalece são os sócios, o que levaria a que estes respondessem solidaria e ilimitadamente (SNC). Nas Sociedades de Capital o elemento que prevalece é o capital, não respondendo os sócios (SA). As SQ são um misto.

Nos termos do art. 261º consagra-se a gerência plural nas SA: por exemplo, existindo 5 gerentes, a sociedade só se vincula com a assinatura de 3.

Nos termos do art. 262º/6, a sociedade só poderá constituir mandatários para actos pontuais, sem necessidade de tal constar no contrato social.

NOTA: amortizar a quota é igual a extinção da quota.

Quanto um sócio morre é necessário atender ao art. 225º que consagra a proibição dos pactos sucessórios, sendo necessário atender à existencia de clausulas absolutas ou relativas de instransmissibilidade.

MODO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA SOCIEDADE

i. MÉTODO CLÁSSICO

PASSO 1 - PEDIDO DE CERTIFICADO DE ADMISSIBILIDADE DE FIRMA: é preciso identificar o objecto, ou seja, qual a actividade a prosseguir. Se o pedido for deferido é concedido o certificado e os constituintes têm 90 dias para constituir a sociedade, antes de caducar – art. 45º do Registo Nacional de Pessoas Colectivas. Ser-lhes-á atribuido um número provisório de identificação de pessoa colectiva – art. 15º RNPC.

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PRINCÍPIOS QUANTO À ADMISSIBILIDADE DE FIRMAS E

DEMONOMINAÇÕES:

 PRINCÍPIO DA VERDADE (art. 32º RNPC): não pode induzir em erro quanto à sua actividade, dimensão desta e dos seus titulares;

 PRINCÍPIO DA NOVIDADE (art. 33º RNPC): a lei nãi quer que duas firmas que se dediquem à mesma actividade num mesmo ambito geográfico sejam confundidas. É preciso ver em concreto. Se o âmbito geográfico for diferente, podem ter o mesmo nome, porque não existirá confusão. Se o ambito geográfico for diferente mas entretanto começarem a disputar o mesmo mercado (tendo nomes iguais) estamos face a um acto de concorrência desleal.

 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

PASSO 2 – ELABORAR O PROJECTO DE CONTRATO DE SOCIEDADE: incluir as menções obrigatórias (art. 9º CSC, acrescido das menções obrigatórias de cada tipo societário).

Nas SQ já não existe capital social (leia-se valor nominal do valor das acções subscritas por cada sócio) minimo obrigatório. Já só há capital social minimo obrigatório nas SA (50 mil euros). Nos termos do art. 202º/4 consagram-se as entradas de capital social.

Tem de existir um documento com reconhecimento presencial de assinaturas de todos os sócios fundadores nos termos do art. 7º se forem entradas em dinheiro. Se a entrada for em espécie, sendo um bem imóvel é necessária escritura pública ou documento particular autenticado. Este último caso, nos termos do art. 28º, é necessário um relatório de avaliação do bem por um ROC independente. Se for uma SA, quanto ao capital social enquanto menção obrigatória, ou se declara que o dinheiro já deu entrada na sociedade ou que dará até ao fim do primeiro exercício social. Nestas sociedades há um comprovativo de depósito do capital social e uma declaração dos sócios conforme este está depositado numa numa instituição de crédito (com o contrato de constituição da sociedade, esta ainda não se encontra constituída). Têm-se de se encontrar mencionados os órgãos sociais.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 6 PASSO 3 – REGISTO (art. 3º CSC): Poderá ser em qualquer conservatória comercial, uma vez que já não existe o princípio da teritorialidade.

Não sendo feito o registo, a sociedade pode começar a trabalhar?

Sim, se houver uma cláusula estatutária que preveja tal: a sociedade assume todos os negócios que efectuar nesse período de tempo, são assumidos ipso iure. Se não constar tal cláusula dos estatutos, só a Administração pode assumir, um a um, cada negócio celebrado pela sociedade nesse período de tempo. E, neste segundo caso, existe responsabilidade ilimitada daqueles que agem em representação da sociedade – art. 19º RNPC. Só com o registo é que a sociedade adquire personalidade jurídica (o registo é constitutivo!).

PASSO 4 – DEFERIMENTO DO REGISTO: o conservador vai mandar publicar cópia e vai registar. Irá ainda comunicar tal ao RNPC e ao Fisco.

ii. EMPRESA DE CONSTITUIÇÃO ONLINE

De um conjunto de firmas já cerificadas e minutas já pré estabelecidas pode-se escolher. Depois submete-se o pedido a verificação online. Indicam os sócios fundadores. É constituída em 24 horas, sendo disponibilizado o código de acesso à certidão online. Quando haja entradas em imóveis não pode ser, porque tal exige maiores formalidades.

iii. EMPRESA NA HORA

Online, loja do cidadão, RNPC. Existe liberdade quanto ao objecto e quanto à firma. Se não quiserem nenhuma das firmas pré formatadas terão de seguir o modelo clássico. É necessário apresentar uma declaração quanto às entradas para o capital social (se forem em espécie têm de apresentar o relatório do ROC). As entradas têm de ser realizadas até 5 dias depois disto. Vão receber um código de acesso à certidão permanente. Para saber qual a situação de uma sociedade é necessário recorrer à certidão do registo comercial (pede-se no Registo Comercial). A certidão do registo comercial é um documento cópia do que consta de livros públicos passada por uma autoridade com fé pública, tendo a mesma força que o documento verdadeiro. Com o Simplex, as certidões do registo comercial, passaram a estar disponíveis online, mas no entanto é preciso possuir um códifo de acesso. Quer o número de segurança social, quer as declarações para o fisco, são entregues na hora.

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RESOLUÇÃO DE HIPÓTESES PRÁTICAS HIPÓTESE PRÁTICA I

António, Bernardo e Carlos, tendo decidido abrir um ginásio fitness, sob a formajurídica de uma sociedade comercial com um capital social de € 60 000,00, pretendemsaber:

a) Quais os requisitos e formalidades que têm de respeitar no processo de constituição da sociedade? Qual a forma mais rápida para poderem iniciar aactividade social?

Em primeiro lugar é necessário pedirem um ceritificado de admissibilidade de firma. Nos estatutos da sociedade devem constar as menções obrigatórias (art. 9º) e menções facultativas (se o quiserem). Para iniciarem a sua actividade mais rápido, teriam de estabelecer uma cláusula nos estatutos que dissesse que determinados actos eram possíveis de praticar antes do registo. A sociedade assume ipse iure a responsabilidade desses actos.

b) Terão que realizar algum capital mínimo, admitindo que as entradas serão todasem dinheiro?

No presente caso estamos face a uma SQ, uma vez que se fosse uma SA, nos termos do art. 273º, seriam necessários pelo menos 5 sócios, salvo as excepções previstas na lei (art. 273º/3 e art. 488º).

Nos termos do art. 201º consagra-se o capital social quanto às SQ: o capital social, no que respeita às entradas terá de ser realizado ou no momento da constituição ou até ao fim do primeiro exercício; quanto às quotas, nos termos do art. 199º al. b) o valor mínimo será igual ao valor das quotas.

As entradas podem ser realizadas no momento da celebração da constituição da sociedade (podem ser realizadas até ao fim do primeiro exercício) ou podem ser diferidas (nos termos do art. 203º, sendo o regime diferente).

Porque é que actualmente as SQ podem ser constituídas por 1euro e antes existia a obrigatoriedade do capital social ser 5 mil euros?

O balanço representa o património da sociedade, e é isto que interessa aos credores (depositadas na conservatória do registo comercial). Se não apresentarem dentro de 9 meses existe um indicio de insolvencia. Aproveita à sociedade aprovar as contas a tempo e depositá-las. O exercício coincide com o ano civil, portanto após aprovação das contas devem ser depositadas até Março.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 8 A exigência de um capital social mínimo era um entrave à constituição de sociedades. Agora pode ser livremente definido, de acordo com o que a sociedade necessitará para desenvolver a sua actividade. Se estabelecerem um valor muito baixo, os credores ficariam muito desconfiados e não lhes concederiam crédito. As SQ são o tipo societário mais frequente em Portugal.

c) A que regime de responsabilidade estarão sujeitos pelo capital não realizado epelas dívidas sociais?

Tendo em consideração o disposto no art. 197º é necessário distinguir duas realidades diferentes:

DÍVIDAS DA SOCIEDADE: a REGRA é que só responde, perante terceiros, o património social (art. 197º/3). A EXCEPÇÃO assenta no facto de a lei admitir que no contrato de sociedade os sócios estipulem que os sócios respondem pelas dívidas sociais. Podem estipular como é que isto ocorrerá. Mas não se trata de uma responsabilidade ilimitada. É obrigatório que seja estipulado um plafond, sendo que só assim haverá responsabilidade. Caso o plafond não seja delimitado, não haverá responsabilidade.

 DÍVIDAS DO SÓCIO PARA COM A SOCIEDADE: as entradas podem ser realizadas no momento do contrato de sociedade ou ser diferidas. Neste último caso, os demais sócios podem ser chmados a responder pela entrada em falta de um sócio.

Como funciona a responsabilidade nas SA?

Nas SA só aprecem os sócios fundadores na celebração do contrato de sociedade, pelo que havendo transmissão deixa de existir tal menção.

Nos termos do art. 271º o sócio limita a sua responsabilidade ao valor das acções que subscreveu. Não se responsabiliza nem pelas dívidas sociais nem pelas entradas dos outros sócios.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 9 HIPÓTESE PRÁTICA II

José Firmino pretende constituir a sociedade “Joaquim Firmino- Agricultura biológica,Unipessoal, Limitada”. Para este efeito, elaborou uma minuta de documentoconstitutivo, contendo as seguintes estipulações:

Cláusula Primeira O capital social é de €500.000

CAPITAL SOCIAL: nos termos do art. 9ª/1 al. f) o capital social constitui uma menção obrigatória do contrato de sociedade, consistindo na cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expresso em euros, correspondente ao património de constituição da sociedade, isto é, à soma de todas as participações sociais dos sócios (art. 14º).

Nos termos do art. 202º/1, nas SQ não admitidas participações de indústria (indústria enquanto qualquer serviço, de caracter económico, só podendo tais constituir objecto de entrada nas SNC (art. 178º), estando excluidas nas SQ (art. 202º/1) e nas SA (art. 277º/1).

Nas SQ, o capital social forma-se exclusivamente com as entradas dos sócios sendo representado unicamente por quotas nos termos do art. 197º/1. Nos termos do art. 201º a lei estabelece relativamente às SQ um capital puramente simbólico, de apenas 1 euro/sócio.

Nos termos do art. 199º, no contrato de SQ constará sempre o montante das quotas e a identificação dos respectivos titulares. O contrato tem de especificar o montante das entradas efectivadas com a celebração do contrato e das entradas diferidas. As entradas deverão concretizar-se em dinheiro ou em espécie.

Nos termos do art. 270º - A e ss estamos face a uma sociedade unipessoal por quotas, pelo que atendendo ao art. 270º - G remete para o regime das sociedades por quotas, salvo as que pressupõem a pluralidade dos sócios, mais concretamente para o art. 199º.

Cláusula Segunda

A entrada do sócio é constituída pelo montante de €100.000 em dinheiro e por umprédio rústico descrito na Conservatória do Registo Predial de Portalegre

sob o nº 1234e inscrito na respectiva matriz predial sob o nº 5678.

Tendo em consideração já o disposto nas cláusulas seguintes, o sócio fez uma entrada de 50 mil euros e diferiu os restantes 50 mil euros, além de uma entrada em espécie (prédio rústico) no valor de 400 mil euros.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 10 Coloca-se a questão de saber se pode um sócio fazer uma entrada em dinheiro e em espécie e ficar com uma só quota – art. 219º/1. Ora, as entradas em espécie têm mesmo de ser realizadas no momento da constituição da sociedade. Nos termos do art. 25º/1 a entrada ou corresponde ao valor em dinheiro ou ao valor atribuído aos bens no relatório do ROC. Não pode haver uma quota mista. Tem de ter duas quotas mas, posteriormente, poderá unificá-las. Além disso, o momento da entrada é diferente para dinheiro e em espécie nos termos do art. 26º. Deste modo seria impossível saber quando é que a entrada foi feita.

Cláusula Terceira

O sócio declara, sob sua responsabilidade, ter depositado já o montante de €50.000,00em conta aberta em nome da sociedade na Caixa de Crédito Agricola

de Portalegre,comprometendo-se a completar a sua entrada assim que a sociedade necessitar.

Nas SQ ou se realiza a entrada no momento da constituição da sociedade ou se estipula quando é que se o fará: art. 202º. Quanto às últimas, nos termos do art. 203º, tem de ficar claro a data ou um facto determinado que tem de se verificar para que o sócio realize a entrada. Tem até 5 anos para isso acontecer, se isto não acontecer é lhe exigida. Actualmente pode ocorrer o diferimento de todo o montante. Já não existe montante mínimo. No caso, o facto (‘’assim que a

sociedade necessitar’’) não é certo, pelo que a cláusula seria nula. Cláusula Quarta

O prédio rústico referido supra tem o valor de €400.000 e será transferido para asociedade no prazo de 30 dias a contar da presente data.

Nos termos do art. 202º/4 e do art. 26º as entradas em espécie têm de ser realizadas no momento da constituição da sociedade, não podendo ser diferidas. Não pode sequer ser até ao fim do primeiro exercício social.

Quanto aos bens que podem ser dados como entradas em espécie, têm de ser bens susceptíveis de penhora nos termos do art. 20º. Mas só estes? Se um sócio quiser fazer de entrada um mero gozo de um prédio? Este é penhorável? Em rigor, o art. 20º devia estipular bens avaliáveis em dinheiro. O gozo de um prédio é avaliavel em dinheiro, mas a propriedade continua a ser do proprietario do prédio. E se lhe vir a ser impedido o gozo do prédio (por exemplo, atraves de uma acção de reinvindicação do bem intentada por terceiro)? Nos termos do art. 25º/4 consagra-se a consequência de tal. Assim, parece que pode haver uma entrada em espécie como esta do gozo de uma coisa. O sócio irá repor o dinheiro, se a sociedade ficar privada deste, portanto, isto não afecta a sociedade.

No acto de constituição, o bem tinha de integrar o património da sociedade. Assim, o contrato de sociedade tinha de ser feito atraves de formalidade especial: escritura pública ou documento particular autenticado.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 11

Cláusula Quinta A cessão de quotas é livre.

Nos termos do art. 229º/2 permite-se que, no contrato de constituição da sociedade, se afaste o regime (supletivo) do art. 228º. Deste modo, os sócios podem estipular que a cessão de quotas é livre.

Cláusula Sexta

A sociedade dissolve-se no prazo de dez anos a contar da presente data. Nos termos do art. 141º al. a) e do art. 15º, a sociedade pode ser temporária, ou seja no contrato de sociedade as partes podem indicar uma duração para a sociedade e, findo o prazo, a sociedade dissolve-se.

a) Aprecie a pretensão de José Firmino, designadamente a procedência de umdocumento exclusivamente com este conteúdo.

No presente caso estamos face a uma sociedade unipessoal por quotas, nos termos do art. 270º- B, podendo ser constituída, nos termos do art. 270º-A nº1 por um sócio único, podendo este ser uma pessoa singular ou colectiva, caso em que estamos face a uma constituição originária, ou nos termos do nº2 quando ocorra a concentração na titularidade de um único sócio das quotas de uma sociedade por quotas, caso em que estamos face a uma constituição superveniente.

No presente caso, estamos face a uma constituição originária da sociedade, sendo que para tal se constituir é suficiente um documento particular escrito, com reconhecimento presencial de assinaturas do seu subscritor, se a obrigação de entrada não for realizada em bens que só sejam transmissíveis por escritura pública, caso em que o contrato deve revestir essa forma (art. 7º/1).

A análise das cláusulas foi realizada anteriomente, pelo que se remete para lá. Em conclusão, com base no que foi exposto e na análise das cláusulas, o conservador deveria recusar o registo.

b) José Firmino contraiu, em nome pessoal, uma dívida no valor de €5000,00, quenão pagou na data do vencimento. Poderá ele oferecer produtos biológicoscomo pagamento da dívida?

Nos termos do art. 270º- F, os negócios celebrados entre o sócio único e a sociedade devem servir a prossecução do objecto da sociedade. Quanto aos requisitos formais devem ser, pelo menos e a não que a maior formalidade seja exigida, celebrado por escrito. Se este e outros requisitos forem violados, o negócio é nulo.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 12 Ou seja, o art. 270º- F relaciona-se com a auto contratação, na medida em que salvaguarda a base patrimonial da sociedade unipessoal por quotas, impondo uma certa transparência nas relações contratuais entre o sócio único e a sociedade, a fim de os terceiros melhor podem fazer valer eventuais direitos contra aquela.

Os negócios jurídicos entre o sócio e a sociedade unipessoal por quotas são possíveis uma vez que esta, tratando-se de uma pessoa jurídica distinta e em princípio autónoma, não se confunde com o sócio único, devendo obeceder a certos requisitos.

Os Requisitos são de três tipos:

 DE CARACTER MATERIAL: compatibilidade com a prossecução do objecto da sociedade;

 DE CARACTER FORMAL: imposição de forma escrita, se outra forma mais solene não for prescrita por lei para o contrato em causa;

 DE CARACTER PUBLICITÁRIO: apresentação conjunta dos documentos de que consta o contrato com o relatório de gestão e dos documentos de prestação de contas para consulta, a todo o tempo, por qualquer interessado, na sede da sociedade.

Na hipotese há prossecução do objecto social? Ora a dívida é contraída em nome pessoal. A sociedade não pode pagar dividas contraidas em nome individual dos sócios, nos termos do art. 197º/3. O Princípio da Autonomia do Património Social leva a que o património social só responda por dívidas sociais e que o património individual dos sócios não responda por dívidas sociais. Se assim não fosse, estariamos a violar o Princípio da Personalidade das Pessoas Colectivas. Admite-se uma excepção a isto nas Sociedades Unipessoais, porque se admite uma maior confusão entre estas entidades (sociedade e sócio), mas, apenas, se for para prosseguir o objecto da sociedade.

Note-se que quando às sociedades unipessoais por quotas, o legislador criou um regime especial de apertado controlo e transparência que visa permitir aos credores sociais a verificação do respeito pelo Princípio da Separação de Patrimónios, visando precaver possíveis abusos ou favorecimento do sócio único em detrimento da sociedade, sancionando a sua violação com a responsabilidade ilimitada do sócio.

O risco que se pretende acautelar é o da confusão do património pessoal do sócio com o património da sociedade, uma função de protecção das sociedades unipessoais por quotas e dos seus credores relativamente a possíveis actos prevaricadores do sócio único.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 13 Promove-se a separação de patrimónios entre a sociedade e o sócio e garante-se a cognoscibilidade desses actos por terceiros, que poderão aceder a elementos de informação sobre a situação patrimonial da sociedade.

HIPÓTESE PRÁTICA III

Aníbal, Bruno, Carlos, Dionísio e Ernesto pretendem constituir a sociedadedenominada “Velocidade, SA” que se dedica à comercialização de veículos automóveis,com um capital social de 15.000,00, constituído por três mil acções, cada uma comvalor nominal de 5€, sendo Aníbal e Bruno titulares de 1.000 acções, cada, Carlos de500 acções e Dionísio de 500 acções. A entrada de Ernesto será constituída pelo seutrabalho como vendedor. Por não terem disponibilidade imediata, foi diferida arealização de €12.000 do valor nominal das entradas em dinheiro, sendo, todavia, ocapital totalmente realizado no prazo máximo de cinco anos. De todo o modo, ficoudeterminado que Aníbal e Bruno responderiam pelas obrigações sociaissubsidiariamente em relação à sociedade. Acordaram ainda que a sociedade seriaorganizada com um conselho de administraçao e um conselho geral.

a) Perante estas estipulações, como deve proceder o conservador do registocomercial?

No presente caso estamos face a uma SA, nos termos do art. 271º e ss, mais concretamente do art. 275º/1. A atribuição das acções aos sócios é feita através da subscrição de cada um.

Nos termos do art. 277º/1 consagra-se que - tal como sucede nas SQ (art. 202º/1) e ao contrário do que sucede nas SNC (art. 178º) – não são admitidas contribuições de indústria, apenas se admitindo entradas em dinheiro ou em esécie.

RAZÃO DA EXCLUSÃO DE CONTRIBUIÇÕES DE INDÚSTRIA ENQUANTO FORMA DE ENTRADA NAS SA: seria muito dificil aferir o seu valor patrimonial. Para além disso, estas entradas de indústria não contam para a formação do capital social, porque sendo as SA de cariz capitalista e anónimas, a lei resolveu abolir por completo as entradas de indústria. É uma razãos mais prática do que dogmática. É claro que um dos sócios poderá realizar funções de trabalhador ou administrador na sociedade, mas não contam como entradas. Nas SA permite-se um diferimento (desde que haja acordo de todos os sócios) de até 70% do valor das entradas.

QUERELA: Cada sócio tem de realizar 30% da sua entrada ou é do global que se pode diferir 70%? E se o sócio que diferiu não fizer, depois, a entrada? Nas SA não há responsabilidade solidária..

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 14 Não existindo uma disposição legal igual ao art. 277º, é necessário saber se é possível haver um diferimento de apenas uma entrada na sua totalidade e os outros sócios realizam as suas entradas ou se quando se difere uma entrada também têm de se diferir todas? O diferimento da entrada de um dos sócios não pode ser imposta aos outros sócios, tem que ser uma solução acordada entre eles.

O valor dos 70% calcula-se sobre o valor total do capital social ou calcula-se sobre cada participação social subscritra por cada accionista? A lei não é clara: os credores, em certa medida, estão salvaguardados, na medida em que a sociedade tem ou dinheiro ou outro tipo de activos. O que a lei exige é que só pode servir de entrada para a sociedade algo que seja penhorável, mas sendo este diferimento um crédito da sociedade, os credores estão assegurados. Aquilo que o legislador quis foi conferir alguma agilidade e liberdade aos sócios, porque a lei apenas diz 70% do valor nominal das acções, mas fora isso não há qualquer limitação.

PROF. FRANCISCO BARONA: acha que não faz sentido que um sócio não faça nenhuma entrada. Se desse para o torto, ele não teria nenhum incentivo para fazer a entrada. Acha que se deve entender que os 70% previstos no 277º devem ser face a cada sócio.

O diferimento das entradas nas SA pode ser feito em que circunstâncias?

A única limitação é a de ter de ser feito dentro de um prazo de 5anos (art. 285º/1), ao contrário do que acontece com as SQ, onde o diferimento tem de ficar dependente de um acontecimento certo ou data certa.

A tutela dos credores é levada tão longe que no art. 20º admite-se que os credores se possam subrogar à sociedade na exigência dos créditos ainda não realizados.

Quanto ao tema da responsabilidade, para as SQ, há um regime especial no art. 198º (norma excepcional, portanto, não se pode fazer aplicação analógica) que estabelece a possibilidade de, nas SQ, o património pessoal dos sócios poder responder até um certo plafond pelas dívidas da sociedade. Nas SA não há um art. igual ao 198º e, por isso, não é possível responder solidariamente pelas dívidas da sociedade - –rt. 271º - e não podiam acordar o contrário. Pelas dívidas sociais só responde o património social.

A SA tem uma estrutura taxativa (modelos imperativos mínimos) – art. 278º e art. 272º al. g). Não é admitida a combinação de modelos. Mas, tendo os sócios adoptado um destes modelos, podem, nos estatutos, criar mais órgãos que não tenham previsão legal (ex: órgãos consultivos), mas que não possam colidir com os outros. Na vida da sociedade, os sócios podem alterar o modelo, mas só de entre os modelos previstos – art. 278º/6.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 15

Uma SA constituída com o capital social mínimo (50 mil euros) pode ter as suas entradas diferidas?

Nas SQ previa-se 5 mil euros como capital social minimo e dizia-se que se permitia o diferimento de entradas, desde que estivesse cumprido o capital social minimo obrigatório. Havia quem entendesse que devia aplicar-se analogicamente o disposto para as SQ às SA. Mas isto desapareceu e, assim sendo, já não há muito apoio na lei para continuar a defender isto.

b) Imagine que depois de formalizarem esta sociedade e antes do respectivoregisto, Aníbal comprou, em nome da sociedade, 3 veículos automóveis aErnesto, devendo o preço ser pago em cinco prestações de €500.000 cada.Entretanto foi constituída e registada a sociedade; esta responde pelo preçoperante Ernesto? Se a compra tivesse dio feita antes da celebração do contratode sociedade a sua resposta seria a mesma?

A hipótese em análise versa sobre o problema das sociedades irregulares. As sociedades irregulares não têm personalidade jurídica, mas constituem património autónomo. A questão é saber se este património pode assumir as obrigações anterior à sua própria personificação. As sociedades irregulares estão sujeitas a um regime muito especial, porque podem ser liquidadas.

A lei trata as sociedades que não existem e as sociedades irregulares de forma distinta. Quanto às sociedades irregulares, os actos não são imputáveis à sociedade, porque esta não vai existir? Então a quem se imputam?

Sob a designação genérica de sociedade irregular abarcam-se realidades muito distintas, podendo existir as seguintes situações:

 Em que os sócios não quiseram constituir sociedade nenhuma e quiseram começar a actividade comercial;

 Os sócios que já celebraram o contrato, mas não fizeram o registo e já começaram a dar alguns passos para a actividade comercial;

 Os sócios já acordaram na constituição da sociedade, já pediram o certificado de admissibilidade de firma, mas ainda não fizeram o contrato de constituição de sociedade, mas já iniciaram a actividade. Os casos de sociedades irregulares estão sujeitos ao art. 970º e ss CC. Uma sociedade irregular está sujeita a liquidação, porque não foi observada a forma legal. O que é que se faz a essas obrigações que vão sendo criadas quando ainda não há, pelo menos, o contrato de sociedade celebrado?Nos termos do art. 36º/2 consagra-se a situação em que já existe acordo dos sócios quanto à constituição da sociedade e já existe acordo para iniciarem a actividade.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 16 A sociedade já tem certificado de admissibilidade de firma e número provisório de pessoa colectiva. Esta norma imputa os negócios aos sócios. No art. 36º/2 a lei manda aplicar as regras das sociedades civis: os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelos actos praticados pela sociedade – todos os negócios, não distinguindo a lei aqui, entre os que representam a sociedade e os que não. Contudo, podem opor ao credor o beneficio de excussão prévia, ou seja, só respondem os seus bens depois de responderem os bens da sociedade. Este artigo é diferente do art. 172º que manda liquidar a sociedade. Pode suceder que os sócios já tenham dado mais um passo em frente e já tenham celebrado o contrato mas ainda não tenham feito o resto: mesmo tendo existindo inicio de actividade, a sociedade só se constitui verdadeiramente com o registo, pelo que ainda não há sociedade e, nesse caso, rege o art. 40º.

Verdadeiramente só temos uma sociedade irregular nos casos do art. 172º, nos outros casos temos uma sociedade preliminar (art. 36º) e no outro, uma sociedade em formação (art. 40º).

As sociedades irregulares podem surgir ou porque desenvolvem uma actividade em comum que devia, de acordo com o Princípio da Tipicidade, revetir a forma de uma actividade comercial ou porque não cumpriu a obrigação de adoptar um dos tipos de sociedades comerciais. A consequência é a de entrada em liquidação, nos outros casos temos uma situação materialmente diferente, porque os sócios querem, de facto, constituir a sociedade e, por isso, temos de saber como é que esses contratos de sociedade, celebrados antes do contrato ou do registo, vão ser regulados.

Pode até acontecer que os sócios querem, de facto, constituir a sociedade e inciiam logo a actividade, mas iniciam-na e vêem que vai dar mau resultado e não chegam sequer a celebrar o contrato de sociedade e abandonam o projecto de constituição da sociedade ou nem registam: a quem se vão imputar os negócios celebrados a uma sociedade que nunca existiu? A resposta não é simples, mas a lei prevê no art. 19º a forma de imputar os negócios que vão sendo praticados ao longo do processo se formulação da sociedade à mesma. Ou seja, imputam-se à sociedade.

No caso, temos um contrato de sociedade que foi celebrado entre o contrato e o registo. O Anibal comprou ao Ernesto, em nome da sociedade; o Ernesto sabe que a sociedade não existe, porque não está registada e não pode constituir direitos e obrigações sem mais. O legislador equilibra estas duas posições.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 17 Nos termos do art. 19º consagram-se duas formas de assumpção:

 ASSUMPÇÃO AUTOMÁTICA (art. 19º/1 al. c)): imputa-se à sociedade, com o registo dos negócios do contrato de sociedade. Se no contrato de sociedade estivesse previsto uma autorização aos administradores para celebrar aquele negócio, a sociedade quando fosse registada iria assumir automaticamente e liberava os responsáveis, nos termos do art. 40º.

 ASSUMPÇÃO VOLUNTÁRIA: se não for feita a assumpção automática, a sociedade tem a alternativa de fazer uma assumpção voluntária, através de deliberação da Administração para assumir o negócio nos 90 dias seguintes. Nos termos do art. 40º respondem pessoal, solidária e ilimitadamente. No fundo, o legislador diz que alguém tem de responder por isto.

Os negócios celebrados antes do contrato de sociedade só podem ser assumidos automaticamente com o registo se se verificarem o que está previsto na al. c) do art. 19º/1. Nao tendo sido feito, coloca-se o problema de saber se pode haver assumpção voluntária. Se olharmos para o art. 19º/3 o problema está aqui, porque o registo tem dois efeitos, ou seja, o efeito assumptivo e tem ainda uma eficácia liberatória, no sentido que exonera de responsabilidade as pessoas do art. 40º. Mas as pessoas do art. 40º são precisamente as que agiram depois da celebração do contrato por isso não poderia abranger os negócios antes do contrato de sociedade, porque a responsabilida das pessoas antes da celebração do contrato de sociedade é regida pelo art. 36º e não pelo art. 40º. O art. 19º/3 só libera as pessoas do art. 40º e não as do art. 36º, no entando há uma dificuldade dogmática porque a lei diz que a assumpção dos negócios tem efeitos retroactivos.

A sociedade pode, voluntariamente, assumir um negócio que tivesse sido celebrado antes do contrato de constituição?

Nos termos do art. 19º/2, o período antes do registo abrange tal. Mas isso seria assumir negócios de quando a sociedade ainda nem administração tinha nem tinha capital social. Era como antecipar a personalidade jurídica. Não faz muito sentido. Isto, porque, este artigo confere efeito retroactivo ao registo. Neste artigo o legislador não distinguir nem parece ter querido distinguir. Parece ter deixado para que os sócios autorizassem, no momento da constituição ou que o órgão de Administração decidisse. O legislador optou por um criterio pratico: cabe aos sócios e à Administração ver o que é mais vantajoso para a sociedade.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 18 Há aqui um problema de antecipar para um momento em que neme xistia um contrato de sociedade e imputar uma personalidade. Esta norma de retroacção dos efeitos existe para proteger os credores que já estão a contar que nesse negócios vão responder não os sócios, mas sim a sociedade, por isso, tem de ser estendida a solução não só aos casos do art. 40º, mas tambem aos do art. 36º/2 (sociedade preliminar).

A lógica do art. 19º/3 é a de exonerar as pessoas, desde que a sociedade venha a assumi-las. E se se aplicar ao art. 40º não há nenhuma razão para não se aplicar ao art. 36º/2: há que fazer uma interpretação extensiva.

Nas Sociedades em Formação (art. 40º) há ou não essa responsabilidade subsidiária ou há beneficio de excussão prévia?

Há um aspecto importante, porque as sociedades civis têm responsabilidade ilimitada e sem personalidade jurídica aqui não há sociedade, há um património autónomo. Nas sociedades em formação, para haver um património, tem de haver, também, um património autónomo já formalizado e, portanto, faz sentido que se para a sociedade preliminar existe uma responsabilidade autónoma, por maioria de razão, também há para a sociedade em formação.

O contrato de sociedade é diferente da sociedade preliminar, uma vez que nesta há acordo para a sua constituição e já podem ter entrado em acordo. Casos em que a sociedade se vem a constituir, mas não foram cumpridos os requisitos do art. 19º.

PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: admite o benefício de excussão prévia ao art. 40º.

As sociedades irregulares podem existir quando:

 Os sócios acordam a sua constituição, mas mudam de ideias;

 Os sócios iniciam a sua actividade, mas mudam de ideias;

 Os sócios fazem o contrato, mas por alguma razão desistem (ex: recusa do registo).

Quando é certo que a sociedade não se irá constituir a sociedade torna-se irregular!

Aplica-se o art. 36º/2 e o art. 40º, fazendo aqui sentido dizer que, tanto no art. 36º/2 como no art. 40º, os sócios têm o benefício de excussão prévia. Nesta altura, as entradas já foram realizadas.

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SOCIEDADE PRELIMINAR art. 36º/2

SOCIEDADE EM FORMAÇÃO art. 40º

Actos praticados antes do contrato de constituição. Tanto se aplica quer não venha a haver sociedade, quer venha e haja assumpção voluntária.

Actos praticados depois do contrato de constituição e antes do registo.

c) Aníbal alienou as suas acções a Bruno e abandonou a sociedade em Outubro de2009. QuidJuris?

Anibal pode alinear as suas participações sociais? Sim. Livremente? Sim. Em qualquer momento? Se não tiver havido registo, é necessário que todos os sócios concedam a sua autorização – art. 37º/2. Se já tiver havido registo da sociedade, então, pode transmitir as suas acções livremente (nas SA vigora o Princípio da Livre Transmissibilidade, em contraposição com o que se passa nas SQ). Nos termos do art. 464º/3 (concretização da regra geral do art. 142º) quando se fala em ‘’via administrativa’’ tal cabe à Conservatória do Registo Comercial.

HIPÓTESE PRÁTICA IV

António Terras, sócio da Sociedade “Durasempre” transmitiu à sociedade, a título de

entrada, em suporte digital, os seus conhecimentos técnicos sobre silicones emateriais de impermeabilização para imóveis. No pacto social tinha ficadoestabelecido que “sempre que fosse necessário” ele faria demonstrações aostrabalhadores da empresa. Porém, quando a sociedade o instou a fazê-lo, ele nãocumpriu. Quid iuris?

No presente caso estamos face a uma entrada em espécie, ou seja não se trata de uma entrada em dinheiro, mas sim avaliável em dinheiro (≠ contribuição de indústria).

A especificidade das entradas em espécie assenta no facto de não poderem ser diferidas, terem de ser realizadas até à constituição da sociedade e terem de ser avalidas através de um relatório elaborado por um ROC independente (art. 28º/1), ou seja, quem não trabalhe na sociedade nem venha nesta a trabalhar durante dois anos (art. 28º/2).

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 20 Nos estatutos poder-se-ia consagrar esta estipulação (“sempre que fosse

necessário ele faria demonstrações aos trabalhadores da empresa’’), sendo esta

uma obrigação acessória (= negócio pluricausal) e não principal (a obrigação principal do sócio é a obrigação de entrada). As obrigações acessórias têm o conteúdo que os sócios estipularem e seguem o regime do negócio que estiver na sua base, independentemente de um regime que exista para estas. Neste caso, trata-se de uma prestação de serviços.

Coloca-se a questão de saber como é que a sociedade renumera o sócio por esta prestação. Independentemente dos lucros da sociedade, a prestação do sócio tem de ser remunerada, mas existem limites.

Quando o sócio não cumpre esta obrigação, o incuprimento pode dar a possibilidade, à sociedade, de exigir a sua prestação (via judicial), mas isso não afectará a posição do sócio na sociedade, ou seja, não será excluído da sociedade (o que acontece quando o sócio não realiza a sua obrigação de entrada).

Se o sócio emprestar dinheiro à sociedade (segue o regime dos suprimentos, apesar de ser uma obrigação acessória) o conteúdo pode seguir o regime dos suprimentos ou das obrigações suplementares. É precivo ver qual o conteúdo para ver qual o regime que seguirá.

Nas Sociedades por Quotas em cada momento sabe-se quem são os sócios da sociedade, portante, sabe-se que tem de cumprir as obrigações acessórias. Nas Sociedades Anónimas só se sabe quem são os sócios da sociedade no momento da sua constituição, pelo que nestes casos nos termos do art. 299º/2 a lei obriga a que as acções sejam nominadas quando: (1) o titular esteja obrigado a realizar prestações acessórias à sociedade; (2) quando há restrições à transmissibilidade das acções; e (3) quando as entradas são diferidas.

Note-se que as acções nominativas traduzem o facto de nelas constar o nome do sócio; na transmissão têm que existir o endosso. Para além da entrega e do endosso, tem de constar do livro de registo das acções da sociedade, sabendo-se em cada momento quem é o sócio.

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HIPÓTESE PRÁTICA V

A sociedade Infosoft- Serviços e Produtos Informáticos, S.A. contém a seguinte cláusulanos estatutos:

“Um- As acções da classe A deverão ser integralmente realizadas no prazo de três anos.

Dois- As acções da classe B deverão ser integralmente realizadas no prazo de cinco ano

Três- As entradas respeitantes às acções da classe C (acções ordinárias) deverão ser

integralmente cumpridas em sete anos, conforme as disponibilidades dos respectivos

titulares “

Admitindo que a sociedade foi constituída há cinco anos, e que os accionistas serecusam a realizar o capital subscrito, o que deverá fazer a administração e o quepoderá suceder aos accionistas que se recusarem a realizar o capital subscrito.

No presente caso estamos face a uma Sociedade Anónima nos termos do art. 271º e ss, mais concretamente do art. 275º/1.

Quanto ao regime das Sociedades Anónimas, de acordo com a lei, as entradas em dinheiro estipuladas no contrato de sociedade não podem ser diferidas por um prazo superior a 5 anos (art. 285º/1). Na cláusula 3 da hipótese em análise estipula-se que as acções em causa deverão ser cumpridas em 7 anos, pelo que como a lei preve um maximo de 5 anos, estacláusula não seria possível. Assim sendo, quando passassem 5 anos da celebração do contrato de sociedade, esta já podia exigir as entradas dos sócios.

Note-se que as categorias de acções encontram-se consagradas no art. 302º e ss: os direitos podem ser gerais ou especiais. Se só forem atribuídos direitos gerais então as acções são ordinárias; quando existam direitos diferentes é preciso formular uma categoria autónoma

Se os sócios se recusarem a realizar as suas entradas ao fim de 5 anos possui os seguintes mecanismos a fim de ver a sua pretensão satisfeita:

 MECANISMO 1: Pela via judicial, até porque, muitas vezes, é feita a entrada através de um título ou de uma livrança e, assim sendo, a sociedade já tem um título executivo para intentar a acção.

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 MECANISMO 2: nos termos do art. 285º/2, sendo regra geral tanto para as Sociedades Anónimas como para as Sociedades por Quotas (art. 204º), o sócio só entra em mora quando a sociedade o interpela para o cumprimento da obrigação. Esta interpelação tem de ser feita através de um anúncio em que a sociedade fixa um prazo entre 30 a 60 dias para o cumprimento, sendo que a partir do qual o sócio, se não tiver realizado a sua prestação, entra em mora (é diferente de não ter realizado a sua entrada em tempo devido), tendo consequências no seu estatuto na sociedade: não poderá receber os lucros da sociedade nos termos do art. 27º/4, podendo existir compensação em relação aos lucros devidos de um exercício, mas não quando o sócio tenha outro direito quanto aquela sociedade nos termos do art. 27º/5. O sócio fica privado dos direitos aos lucros (art. 21º/1 al. a)). Não tendo cumprido no prazo estipulado pela sociedade, e consequentemente, estando o sócio em mora, coloca-se a questão de saber o que poderá a sociedade fazer: nos termos do art. 285º/4 a sociedade concede ao sócio em mora um novo prazo para que este efectue o pagamento da entrada acrescida dos juros, sob pena de perder as suas acções para a sociedade (interpelação admonitória). Aqui, passa a ser considerado um sócio remisso, ou seja, ou paga ou fica sujeito a ser excluído. Note-se e relembrando os conhecimentos adquiridos em Direito das Obrigações: remissão enquanto perdão de dívida e remição enquanto resgatar. Passado o prazo sem cumprir a sociedade delibera a sua exclusão, sendo precisos os três actos referidos para que venha a ser excluido. Contudo, continuando a entrada por realizar o que é que a sociedade poderá fazer para recuperar a parte do capital social que ainda não foi realizada? Nos termos do art. 286º existe uma responsabilidade solidária daqueles sócios que antecederam aquele na titularidade das acções, pois não há responsabilidade solidária dos sócios nas Sociedades Anónimas. Prevê-se, assim, as situações em que durante os 5 anos do prazo do diferimento da entrada haja a transmissão das acções, pois não pode ser a sociedade a ficar com o prejuízo. Se os antecessores não tiverem património suficiente ou se não existirem antecessores procede-se à venda das acções o que consubstancia um mecanismo extra judicial (art. 286º/4). Atente-se ainda à hipótese consagrada no art. 286º/5

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Imagine-se agora que em vez de se tratar de uma Sociedade Anónima estavamos face a uma Sociedade por Quotas: se o sócio não cumpriu as suas entradas o que poderá a sociedade fazer?

MECANISMO 1: via judicial.

MECANISMO 2: nos termos do art. 203º/3 e 204º consagra-se uma via interjudicial, ou seja o sócio só entra em mora depois de ser interpelado pela sociedade. A sociedade exige a realização da entrada num determinado prazo que pode variar entre 30 a 60 dias. Se o sócio pagar a sua entrada nesse prazo, não existe qualquer problema. Se o sócio não realizar a sua entrada nesse prazo a sociedade faz uma nova interpelação para pagar até mais 30 dias, sob pena de ficar sujeito à exclusão e à perda total ou parcial da quota em favor da sociedade tornando-se sócio remisso.

Nos termos do art. 251º al. c) e d) o sócio remisso não poderá votar na deliberação assente na sua exclusão ou na perda total ou parcial da sua quota: encontra-se impedido de votar, uma vez que existe um conflito de interesses. Pode participar na Assembleia, mas não pode votar ou o seu voto não pode ser compatiblizado.

Sendo o sócio excluido da sociedade coloca-se então a questão de saber como é que a sociedade vê realizada aquela entrada que se encontra em falta. Para responder a esta questão será necessário analisar o art. 205º e as soluções que ele consagra quanto a este problema:

 SOLUÇÃO 1: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído em hasta pública

 Se alguém pagou o valor integral, não arremata o valor total e ainda há parcela em divida ou não aparece ninguém o que poderá a sociedade fazer? Há responsabilidade solidária dos antecessores titulares da quota. Se tal, mesmo assim, não for o suficiente demanda-se os outros sócios nos termos do art. 207º. A responsabilidade solidária dos antecessores e dos demais sócios é um meio complemantar. Sendo a responsabilidade solidária, os outros sócios podem, a seguir, ir demandar, em via de regresso, o sócio que não cumpriu a sua entrada. O que interessa é que a sociedade não saia prejudicada. Note-se que tanto o art. 206º (responsabilidade do sócio e dos anteriores titulares da quota) e o art. 207º (responsabilidade dos outros sócios) são meios complementares à venda da quota.

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 SOLUÇÃO 2: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído de outra forma que não em hasta pública, a terceiro mediante acordo do sócio remisso

 SOLUÇÃO 3: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído aos outros sócios da sociedade.

HIPÓTESE PRÁTICA VI

Asdrúbal é o accionista maioritário da sociedade “Alto Douro SA” e, por isso, oaccionista “Barcos e Companhia, Lda” propõe aos restantes accionistas que se adopteuma medida que reforce a sua união contra aquele. Para tal, sugere que David, Ema eFranscisca assumam a obrigação de se comportar no âmbito da sociedade de acordocom as suas instruções.Dispõe ele de algum mecanismo jurídico para realizar aquele objectivo?

No presente caso estamos no âmbito dos acordos parassociais (acordo celebrado entre todos ou alguns sócios; acessoriedade entre o acordo e a vida societária) Na prática, os acordos parassociais são reduzidos a escrito (formalidade as probationem) e há casos particulares em que é mesmo obrigatório (instituições financeiras e de crédito), mas fora destes últimos casos, os acordos podem ser verbais.

Os acordos parassociais são secretros?

Algumas sociedades – instituições de crédito – têm de os registar junto do Banco de Portugal.

Os acordos parassociais podem ser celebrados no momento da constituição da sociedade ou mais tarde!

DIFERENÇA ENTRE UMA CLÁUSULA MERAMENTE ESTATUTÁRIA E UMA CLÁUSULA INSERIDA NUM ACORDO PARASSOCIAL

 CLÁUSULA INSERIDA NUM ACORDO PARASSOCIAL: têm natureza meramente obrigacional e vinculam apenas os sócios que as subscrevem. Não se opõem à sociedade nem a terceiros. Podem ser celebrados antes ou depois da constituição da sociedade. Nos termos do art. 17º/1 podem ser celebrados por um ou todos os sócios e até por terceiros (‘’intervenientes’’ doutrina: os acordos parassociais podem ser celebrados por quem não é sócio, desde que exista a possibilidade de tais intervenientes virem a figurar como sócios, ainda que tal aquisição não esteja garantida!), mas só os sócios estão obrigados a não desrespeitar a lei.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 25 Os sócios podem obrigar-se, perante terceiros, a uma determinada conduta. Mas os terceiros têm de ter um real interesse na vida societária – fala-se em sócios futuros. O seu interesse é, pois, garantir a sua posição futura. Se algum dos sócios alienar a sua participação na sociedade, quem a adquirir não fica, logo, submetido a este acordo. PROBLEMA: limitação de intervenientes nos acordos parassociais

 CLÁUSULA MERAMENTE ESTATUTÁRIA: vinculam não só os sócios mas tambem os gestores que integram a sociedade naquele momento e ainda todos os que venham a integrar a sociedade.

 ≠ CLÁUSULA FORMALMENTE ESTATUTÁRIA: na forma, são estatutárias, mas o seu conteúdo é parassocial. Estas só vinculam os sujeitos que, naquele momento, integram a sociedade. Exemplo: cláusula que a lei não admite – não vale como estatutária, mas podem fazer valer como parassocial.

Nos termos do art. 17º/2 não se pode estipular sobre o exercício de funções da administração ou da fiscalização, uma vez que o legislador quis garantir que os órgãos de administração e fiscalização (art. 28º) sejam independentes face aos interesses particulares dos sócios (o legislador quis impedir que através de um acordo parassocial não se cumprissem um dos deveres fundamentais da sociedade: deve-se prosseguir o interesse da sociedade  o que é o interesse societário?). Não se bastou com a exigência de que prossigam o interesse social (art. 64º) mas declara estas clásulas nulas. E seria nula uma cláusula que estipulasse que os sócios se empenhariam (e não que garantiriam) em que os administradores, por si nomeados iriam seguir uma determinada política por si designada: isto não é uma obrigação de resultado (como seria se estivesse estipulado que se obrigavam e, nesse caso, haveria incumprimento e o sócio teria de indemnizar os outros), mas a ratio da previsão parece englobar estas cláusulas: obrigação de meios também é proibida (exemplo: ‘’sócios comprometem-se a desenvolver os seus melhores esforços para (…)’’ – obrigação de meios que é proibida)

PROF. FRANCISCO BARONA: o art. 17º/2 parece querer proibir quer as obrigações de resultado quer as obrigações de meios. Quer-se prevenir que não exista pressão assumida contratualmente pelos sócios quanto a estas matérias de modo a garantir a imparcialidade do órgão de administração e de fiscalização.

Nos acordos parassociais só se pode disciplinar sobre o direito de voto? Não, também se pode disciplinar sobre suprimentos e outras coisas!

Nos termos do art. 17º/3 al. c) as vantagens especiais não podem ser concedidas pela sociedade, mas podem ser concedidas por outros sócios.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 26 Nos termos do art. 17º/3 al. a) e b) são nulos os acordos em que os sócios se obrigam a votar de acordo com instruções da sociedade ou um dos seus órgãos (exemplo: ‘’sócio A vincula-se a votar positivamente todas as propostas feitas pela Administração ou pelo órgão de Fiscalização’’: cláusula nula). Mas se as instruções forem de outro sócio não há problema. Caso contrário, haveria uma inversão de distribuição de competência: a função das AG ficava esvaziada de conteúdo – o legislador quer evitar que seja o órgão de administração a mandar na sociedade e nos próprios sócios.

Nas SA a competência para deliberar sobre matérias de gestão é do órgão de gestão, a não ser que este órgão peça aos sócios para deliberarem, caso contrários essas decisões são inválidas. Nas SQ os sócios podem deliberar sobre qualquer matéria. A AG é soberana.

Ou seja, os sócios devem fiscalizar as decisões. Exemplo: em matéria parassocial que seria proibida em matéria estatutária. Nas SA trata-se de direitos especiais que têm de ser atribuídas às acções, mas não aos sócios. Tornavam-se as cláusulas meramente parassociais.

CONSEQUÊNCIA DA VIOLAÇÃO DE UMA CLÁUSULA PARASSOCIAL: Responsabilidade Civil por Violação do Contratual. Nos termos do art. 17º/1 parte final não é susceptivel de impugnação.

No caso, se existisse um acordo parassocial e eles chegassem à altura de votar e violassem o acordo parassocial qual era a competência? Pode haver execução específica do acordo parassocial nos termos do art. 17º/1. No entanto, no caso do voto, o que se trata é de sócios votar num sentido contrário àquilo que estava previsto e não se poder pedir a anulação da votação. Ora, na execução específica o que o tribunal vai fazer é substituir-se ao sócio que incumpre na realização da prestação devida, ou seja, o tribunal teria de considerar que o direito de voto seria exercido no sentido que estava estipulado no acordo parassocial, por isso, a execução específica só faz sentido antes da deliberação ter sido tomada ou em deliberações já tomadas, mas que ainda não produziram efeitos. Se já votou não pode ser impugnado, mesmo havendo violação do acordo parassocial. Uma declaração só é inválida se violar ou estatutos ou à lei. A execução específica, a ser possível, exige que o acto em causa não seja infungivel, o voto é fungivel, mas para que o art. 830º CC possa ter lugar só podemos pensar em deliberações que ainda não foram tomadas e não produziram os seus efeitos, fora disso já estamos numa área de impugnação de uma acto societárfio que o art. 17º/1 não permite.Quanto às declarações de não cumprimento ou que ainda não produziram efeitos existe uma divergência doutrinal:

 PROF. GRAÇA TRIGO: admite tal;

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HIPÓTESE PRÁTICA VII

Sabendo que Alfredo, titular de uma participação de 25%, havia sido designadogerente ao abrigo de um direito especial e que a maioria pretende agora substitui-lopor um director profissional, refira o que podem os maioritários fazer para lograrem oseu intento e que fundamento deverão invocar.

Estamos perante a atribuição de um direito especial: o direito à gerência, nos termos do art. 60º e 257º. O regime geral dos direitos epseciais consta do art. 24º (qualquer sócio pode ser gerente, mas têm de ser nomeados em AG, mas existem também direitos especiais consagrados no contrato).

De que forma é que outros sócios podiam substituir Alfredo na gerência?

Os direitos especiais têm de estar incluidos numa cláusula do contrato de sociedade e só podem ser suprimidos e/ou limitados com a autorização do próprio sócio. Se não houver consentimento do sócio a sua posição não pode ser atacada e por isso tal deliberação é ineficaz, nos termos do art. 55º. Ou seja, para eliminar o direito especial, além do acordo do sócio gerente é necesário que, em AG e através de uma maioria de ¾ se alterem os estatutos na parte em que se este direito se encontra previsto

Os direitos especiais podem ter natureza patrimonial e extra patrimonial. Nas SQ, os direitos especiais têm natureza patrimonial e transmitem-se com a quota; os direitos especiais extra patrimoniais podem ser também transmitidos mas autonomamente. Nas SA, os direitos especiais são atribuidos a categorias de acções.

A destituição do sócio gerente – este tipo de cargos são meramente destituídos, mas já direitos especiais no caso, portanto, não pode ser assim senão estaríamos a ir contra os estatutos – só se pode dar quando haja justa causa, tendo o sócio cumprido todos os seus deveres, a posição do sócio gerente é inatacável e os outros não podem destitui-lo.

Havendo justa causa (art. 257º/6 – enumeração exemplificativa) a sociedade não pode dleiberar, sem mais, a destituição do gerente, porque esta tem de ser judicial nos termos do nº3 do art. 257º

LEGITIMIDADE PARA REQUERER A DESTITUIÇÃO DO GERENTE – art. 257º:

 Em princípio, essa destituição tem de ser deliberada pela sociedade;

 E ser intentada contra o gerente;

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 28 Pode considerar-se que existe aqui uma alternativa? Ou seja, tanto a sociedade como o sócio sozinha têm legitimidade para intentar a acção (sendo certo que o nº3 do art. 257º funciona não só nos casos do direito especial à gerência)? A questão coloca-se com alguma pertinência quando a sociedade tem 4 sócios e 3 deles nomeiam ‘’E’’ para gerente, mas depois 1 quer destitui-lo. Se for para AG, os 3 votarão contra e só depois é que se propoe a acção (meio subsidiário), isto se for o sócio que quer a destituição do agente – tem de passar primeiro pelo crivo da sociedade ou pode passar directamente para o nº4 e intentar a acção? O nº4 consagra um meio subsdiário ou alternativo? – QUERELA DOUTRINÁRIA Segundo a JURISPRUDÊNCIA MAIORITÁRIAas faculdades do nº3 e nº4 do art. 257º são faculdades alternativas. Mas a lógica das acções dos sócios contra a sociedade é a de só se admitir que o sócio intente uma acção contra a sociedade uma vez que estejam esgotadas as vias societárias para resolver o assunto. Quando o sócio intenta a acção contra a sociedade, se o tribunal lhe der razão, isto inverte a lógica das forças de poder dentro da sociedade, porque setemos a maioria dos sócios a votar contra a destituição do gerente, também faz pouco sentido que o sócio (que detém a minoria do capital) por uma via externa vá conseguir o mesmo resultado – daí dever ser entendido como um meio subsidiário.

Se fosse um meio subsidiário, o sócio só poderia intentar a acção se a AG o decidisse intentar. Contudo, o nº4 do art. 257º não faz depender de nenhuma deliberação da AG. A ideia de ser um meio subsidiário faz sentido em situações em que não há maioria na sociedade para tomar essa resolução. Se houver maioria já não se justifica que o sócio comece, logo, a agir sozinho – lógica do sistema.

Através da letra do art. 257º/3 e 4 parecem ser alternativas. Mas é dificil que o sócio consiga apurar se já justa causa – isto será feito pelo tribunal. Se a resolução for tomada em AG, define-se logo e o sócio gerente ou impugna essa resolução (porque também é sócio) ou discute-se em tribunal.

HIPÓTESE PRÁTICA VIII

Os sócios querem conceder a Camilo, titular de uma quota correspondente a vintecinco porcento do capital social, um direito de voto duplo. Quid juris?

Nos termos do art. 250º/1, a regra geral do voto é a de que que conte um voto por cada cêntimo do calor nominal da quota. Nos termos do art. 250º/2 a lei consagra que pode ser concedido o voto duplo, ou seja, o voto vale o dobro. A participação social para votar é una: segundo o PRINCÍPIO DA UNIDADE DE VOTO é necessário votar com a participação toda.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 29 Quando, nos termos do art. 250º/2, a lei fala em ‘’não correspondam a mais de 20%

do capital’’ como é que tal deve ser interpretado?

 PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO: quando a lei estabelece o limite dos 20% podemops dizer que são 20% do valor da quota e, portanto, se ele tem uma quota de 25% a cláusula estatutária que previsso este duplo voto é nula!

 SEGUNDA INTERPRETAÇÃO: é possivel dizer que se ele tem uma quota de 25% vai-se contabiulizar o voto duplo até ao limite dos 20% e, quanto ao excedente votaria normalmente.

 TERCEIRA INTERPRETAÇÃO (na sequência da segunda): para saber se poderia haver redução era preciso saber qual teria sido a vontade das partes. É a quem seriam atribuidos oss5%.

O problema mais delicado está em saber se esse limite dos 20% diz respeito à quota ou aos votos. No limite, não se pode votar com mais de 20% do capital social.

Se se disser que os 20% é um limite à quota, significa que se ele tem 20% pode ser-lhe atribuido um voto duplo e votava com 40. Mas se se referirem aos votos não se pode dar voto duplo, porque senão estaba a dar-se-lhe muito mais.

PROF. FRANCISCO BARONA: a lógica do preceito é de que os 20% se referiram ao valor dos votos e não do capital social. Isto devido ao próprio teor da letra da lei quando diz ‘’no total’’ (no total do voto duplo) e devido à razão de ser da norma: atribuir maior direito de voto aos sócios com menor participação social (apesar de não ter mais lucro, têm mais peso nas AG – SÓ NAS SQ‼), mas não levar a uma alteração da estrutura decisória da sociedade. Nas SA o voto é político (contam-se os que estão presentes). Assim, um sócio com uma participação social pequena passa a ter um grande peso (se os que têm muito capital social não aparecerem) – art. 348º.Em suma, no caso, a cláusula estatutária que previsse tal seria nula, por violação de uma norma imperativa. Não era possível atribuir-lhe o direito especial de voto duplo, porque ele tinha mais de 20% logo não podia ser. Ele não podia votar com 45% porque não se pode dividir a participação social.

Referências

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