R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 1 (1 ): 37, J a n - M a r , 1 9 8 8 .
C A R T A S A O E D I T O R
Sr. E ditor,
A ID A D E C O M O C A U S A D E E R R O E M IN Q U É R IT O S P O P U L A C IO N A IS . O A tributo ida de e sua distribuição têm grande im portância na clí nica m édica e, de m odo m uito particular, n a epidemio- logia. O s exem plos d a associação dos agravos à saúde com a idade são bem conhecidos (M acm ahon & Pugh, 19701).
N ã o obstante essa im portância, sua coleta em m uitos inquéritos de várias naturezas tem pouco rigor. E m 1985 fizem os o exam e clínico d a população de C a- tolândia, p eq u en a cidade do oeste do E stad o d a B ahia e área hiperendêm ica d a esquistossom ose m ansoni. N a q u e la época, d a ficha clínica constava a d ata de nascim ento (d ia/m ês/an o ), que era coletada antes do exam e, segundo inform ações do paciente e quando criança, de um responsável. U m ano após, em outra investigação (Tavares-N eto, 19872), com visitas dom i ciliares, o nom e com pleto e a d a ta de nascim ento dos m esm os pacientes eram extraídos d a certidão de nascim ento, título de eleitor ou carteira de identidade. P osteriorm ente, com parando os resultados dos dois levantam entos de 963 pacientes, vistos em am bas as ocasiões, 3 1 8 (3 3 % ) tinham datas de nascim ento dife rentes entre u m a e outra. A s diferenças aconteceram com a seguinte distribuição (n): d ia (72); m ês (24); ano (91); dia e m ês (64); d ia e ano (26); m ês e ano (8) e dia, m ês e ano (33). O bviam ente, exceto em estudos com crianças, principalm ente lactentes, o tipo de variação, que pode levar a erros d a avaliação, seria o do ano de nascim ento, correspondendo a 2 6 ,4 % dos casos (n = 158). E lian e A zevedo (1 9 8 6 , inform ação pessoal) ve rificou u m a situação sem elhante em nordestinos, n a H o sp ed aria de Im igrantes de São P aulo, no início d a
d écad a de 60, com tendência n ão aleatória p a ra refe rir os anos com núm ero final em zero ou cinco. E n tre os 158 indivíduos de C ato lân d ia que desconheciam o ano de nascim ento, a distribuição do núm ero final foi, com o respectivo n: zero-21; um -22; dois-23; três-15; quatro-12; cinco-9; seis-9; sete-17; oito-13 en o v e-1 7 .
C onsiderando que em c a d a classe o núm ero es perado seria 15,8, a diferença não alcançou significân- cia estatística (X § = 14,91 p > 0 ,0 5 ) . N ão obstante, existe evidência d a e s c o l h a m aior, não aleatória, dos anos term inados em zero, um e dois em detrim ento dos dem ais, especialm ente os de final cinco ou seis. A va riação entre a idade referida e a real, p a ra m ais ou m e nos, em núm ero de anos, teve a seguinte distribuição; um -98 (6 2 ,0 % ); dois-28 (1 7 ,7 % ); três-7 (4,4% ); quatro-5 (3 ,2 % ); cinco-4 (2 ,5 % ) e seis ou m ais-16 (1 0 ,2 % ). P o r o utro lado, n a população estudada, 4 9 4 indivíduos tinham < 1 2 anos de idade. N esse grupo, os responsáveis não sabiam o ano correto do nascim ento de 56 (11,3% ) indivíduos. E nquanto, 102 (21,8% ) dos de > 13 anos de idade n ão sabiam o seu ano de nascim ento.
A idade, p o rtanto, em estudos epidem iológicos m ais refinados, deve sofrer análise criteriosa, quando se tom a inform ação do paciente. C aso contrário, Sr. E d ito r, p oder-se-á te r erros de avaliação, m ais ou m e nos grosseiros, em relação à idade.
J. T av ares N eto
F acu ld ad e de M edicina do T riângulo M ineiro
Á luízio P ra ta U niversidade de B rasília
1. M acm ahon, B & Pugg, T H E pidem iology: principles and M ethods. Little Brow n C o., 1970
2. T avares-N eto, J. R ecorrência familial e a com posição racial n a esquistossom ose m ansoni. T ese de M estrado. U niversidade de B rasília, B rasília, 1987.
R ecebido p a ra publicação em 9 /1 1 /8 7