R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 1 ( 2 ) : 4 5 -4 6 , A b r - J u n , 1 9 8 8 .
E D IT O R IA L
O P A P E L D A C O N S A N G Ü IN ID A D E
N A E S Q U IS T O S S O M O S E
H E P A T O S P L Ê N C IA E M
C E R T A S Á R E A S E N D Ê M IC A S
A s formas graves da esquistossomose mansoni no Brasil ocorrem com mais freqüência em certas localidades. N a Bahia conduzimos estudos evolutivos clínicos e epidemiológicos sobre a doença em C aatin ga do M oura, Taquarendi, Á gua Q uente, Brejo do Espírito Santo, Cafundó dos Crioulos e Catolandia. Em todas estas localidades, quando iniciamos nossas pesquisas, era elevada a prevalência de formas hepa- tosplênicas e os habitantes mantinham permanente contato com águas contam inadas com cercárias. Em geral, a população se estabeleceu ao lado da estreita faixa de terra irrigada de poucas dezenas de m etros ao redor de pequeno regato que desaparece após percurso de poucos quilômetros, em área seca. Com o a água é escassa, a população é pequena. M as, como o regato é perene e propicia várias colheitas ao ano os minifún dios em suas m argens são valorizados e a população é estável.
Pensava-se que as formas graves nestas áreas decorreriam somente da alta carga parasitária, cuja aquisição seria facilitada pela irrigação. N o entanto, há concentração de hepatosplênicos em algumas fa mílias em contraposição a ausência em outras, em bo ra, aparentem ente expostas ao mesm o risco de infec ção. Além disto, alguns hepatosplênicos não apresen tam a esperada alta carga parasitária.
Os pretos ainda que tivessem a m esm a carga parasitária que os brancos, contudo, não desenvolviam formas graves5. Isto dem onstra que além do parasita há um fator relacionado ao indivíduo na gênese das formas graves, da doença. E que a concentração de hepatosplênicos em uma família, como assinalou Kloetzel3, não tem distribuição casual1. Estudos têm m ostrado a im portância do componente genético na fibrose hepática esquistossom ótica2. Tavares e P rata (J. Tavares-N eto e A. P rata Coeficiente de endocru- zam ento em portadores de esquistossomose m an- sônica. Revista, da Sociedade Brasileira de M edicina Tropical, em publicação) m ostraram que o coeficiente de endocruzam ento é m aior entre os hepatosplênicos. A ssim , nas localidades acim a assinaladas a freqüência de formas graves da esquistossom ose não depende so mente das altas cargas parasitárias relacionadas ao
estreito contato com as águas contam inadas por cercárias. O s que possuem as terras de irrigação apresentam altos coeficientes de endocruzam ento e são principalm ente os da raça branca. E sta circuns tância certam ente facilita a concentração de genes que
T H E IM P O R T A N C E O F
C O N S A N G U I N I T Y IN
H E P A T O S P L E N IC
S C H IS T O S O M IA S IS
IN S O M E E N D E M I C A R E A S
Severe forms of hum an S c h isto so m a m a n s o n i
infection in Brazil occur m ore frequently in certain localities. In Bahia we have epidem iological and clinical evolution data on this disease from communi ties resident in C aatinga do M oura, Taquarendi, Á gua Quente, Brejo do Espírito Santo, Cafundó dos Criolos and Catolandia. W hen we initiated our studies in all these areas there was a high prevalence o f hepatos- plenic disease and the inhabitants were in permanent contact with cercarial contam inated water. In general, the population established itself along a straight piece of land irrigated for a few hundred m etres by a feeder stream which disappear in the dry land after a few kilometres. A s w ater is scarce there is no expansion of the irrigated land and the population remains small. Because the stream is effective and allows various crops a year the farms along its margin are valuable and the population stable.
W e thought that the severe forms of the disease in such areas occur only because o f high parasite loads acquired as a result of irrigation. H ow ever there is a concentration of hepatosplenic disease in some fami lies as opposed to its absence in others who are apparently exposed to the same risk o f infection. A lso some hepatosplenics do not have evidence of a high parasite load.
Those negroes who have a sim ilar parasite load to the whites do not develop severe forms of the disease with the same frequency5. This shows that as well as parasite load there is a host factor that plays a role in the developm ent of severe disease. The concentration of hepatosplenics in a family as suggested by K loetzel3 does not have a random distribution1. Studies have shown the im portance of a genetic com ponent in schistosomal hepatic fibosis2. T avares and P rata (J. Tavares e A . Prata. Crossing coefficient in hepatos plenic schistosomiasis. Revista da Sociedade B rasi leira de M edicina Tropical to be published) show that the endogenous crossing coefficient is greater in hepa tosplenics. Thus, in localities such as those mentioned above, the frequency of severe forms o f schistosom ia sis does not depend solely on high parasite loads related to frequent contact with w ater contam inated by cercariae. Those who possess irrigated land and have high coefficients o f endogenous crossing are princi pally o f the white race. This circum stance certainly
E d ito r ia l. P r a ta A . O p a p e l d a c o n s a n g ü in id a d e n a e s q u is to s s o m o s e h e p a to s p lê n ic a . R e v is t a d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d i c i n a T r o p ic a l 2 1 ( 2 ) : 4 5 -4 6 , A b r -J u n , 1 9 8 8 .
concorreriam para o estabelecim ento das lesões fibró- ticas, conseqüentes às deposições de colágeno em tor no dos ram os da veia porta.
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
1. C o n c eiçã o M J , C o u ra JR . O c o rrên c ia fam iliar de esple- n om egalia e sq u isto sso m ó tica em u m a á re a ru ral d e M in a s G e rais. R e v ista d a S o ciedade B ra sile ira de M e d icin a T ro p ical 13: 17-20, 1980.
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facilitates the concentration o f genes which occurs to establish fibrotic lesions with consequent collagen deposition around radicals o f the portal vein.
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A lu izio P ra ta
N ú c leo de M e d icin a T ro p ic al e N u triç á o U niv ersid ad e de B rasília