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Rev. adm. empres. vol.45 número2

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Academic year: 2018

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ABR./ JUN.2 0 0 5 • ©RAE • 5 Não faz muito tempo, um acadêmico era alguém de quem

se exigia o domínio da oralidade. Ser um profissional da academia implicava ser capaz de ensinar, ministrando boas aulas – que eram entendidas como resultado da capacidade de expressão oral –, sustentando longas exposições com cla-reza e linguagem elegante. Sem o auxílio de PowerPoint e

shows de slides de diversas modalidades, isso exigia

recur-sos hoje quase fora de uso. Escrever era algo episódico, e quando se escrevia era porque se tinha algo a dizer. Mesmo os autores que marcaram suas épocas e a posteridade escre-veram pouco pelos padrões modernos. Nada que se aproxi-me do currículo de um acadêmico brilhante do século XX e início do XXI, que na meia-idade já ostenta orgulhosamen-te algumas dezenas de artigos publicados em periódicos de primeira linha, capítulos diversos em coletâneas e até al-guns livros. Finalmente chegamos ao mundo da eliminação da oralidade e da sua substituição pela palavra escrita. É o mundo do “publicar ou perecer”. Uma revista acadêmica ou científica é parte desse mundo de publicações compul-sórias, indispensáveis para que se viabilizem carreiras e pro-gramas de pós-graduação triunfem. As revistas científicas ex-pressam a grandeza e a miséria desse sistema. Fazer uma revista de qualidade é sempre difícil, simplesmente porque produzir conhecimento é árduo, e ocorre mais lenta e rara-mente do que uma linguagem triunfante, centrada na acu-mulação de conhecimento, quer fazer crer.

Portanto, uma revista científica exige de seus editores e leitores virtudes helenísticas, de preferência estóicas. A maioria dos textos que publicamos e lemos não chega a nos surpreender, mesmo que escritos de maneira correta e com metodologias precisas. Excepcionalmente temos um artigo que de fato marque pela inovação teórica, pelo frescor das idéias, pela inovação em metodologia e por novas intuições. O diuturno é trabalho paciente, construção lenta, uso de um mesmo referencial teórico e um lento progresso: é o gradualismo da “ciência normal”. Pode ser comparado à grande linha de montagem, em que milhares de operários repetitivamente fazem réplicas de um produto que, quando criado e desenvolvido, foi uma inovação fundamental e que pode ter sido uma ruptura. Mas as linhas de montagem con-tribuem significativamente para os PIBs e não podem ser fechadas sob alegação de que não estão a inovar.

Neste número, a RAE oferece dois trabalhos na seção

“Artigos”. O primeiro, de Betania Tanure e Vera Cançado, apresenta uma pesquisa que mostra a adoção de fusões e aquisições por empresas brasileiras num passado recente no Brasil. Fusões e aquisições apresentam promessas, quan-do propostas e realizadas, mas geram dificuldades e mesmo decepções quando implementadas. O material é uma

con-EDITORIAL

tribuição a um tema pouco estudado em nossa realidade empresarial.

O segundo artigo, de Fábio Frezatti, aborda o tema do orçamento como forma de planejamento, coordenação e controle. Todos devem pensar imediatamente no livro de Henry Mintzberg The Rise and Fall of Strategic Planning como

um libelo contra a utilidade do orçamento como instrumen-to adequado para o exercício da função de planejameninstrumen-to. Mas, se o orçamento pode ser reconhecido como insuficien-te e muitas vezes inadequado, nenhum administrador pode prescindir dele inteiramente. O pesquisador da USP nos coloca essa problemática e analisa cuidadosamente a abor-dagem beyond budgeting, que sugere uma visão revista do

orçamento e que melhor se adequaria, se não ao planejar em si, pelo menos à coordenação e ao controle.

Com o artigo “Publicações científicas em contabilidade entre 1990 e 2003”, a seção “RAE-documento” traz mais uma adição ao esforço da RAE em publicar trabalhos sobre

o estado da arte em diversas áreas de nossa produção cien-tífica em Administração.

“RAE-clássicos” nos traz dois artigos fundamentais para o entendimento do institucionalismo, referencial teórico que conquistou espaço considerável na produção científica e no ensino de organizações nos últimos anos. A introdução de Miguel P. Caldas e Roberto Fachin prepara e comenta a lei-tura dos artigos de Astley e Van de Ven, e de DiMaggio e Powell.

Julgamos oportuna uma homenagem póstuma a Celso Furtado, que tanto marcou uma geração de economistas brasileiros e foi internacionalmente reconhecido como um dos teóricos do desenvolvimento econômico. A Pensata de Luiz Carlos Bresser-Pereira mescla observações propriamen-te acadêmicas e traz a carga emotiva de um depoimento de admiração pessoal por Furtado. Na segunda Pensata, Rosa Maria Vieira nos traz um aspecto visionário mas fascinan-te da fascinan-teorização de Furtado, ou seja, a sua crença na eqüi-distância relativa de uma tecnocracia economicamente trei-nada como forma de romper o círculo vicioso do subde-senvolvimento e da pobreza.

Temos ainda duas resenhas e duas indicações bibliográ-ficas que completam este número.

Só resta desejar a todos uma proveitosa leitura!

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