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Processos de Crescimento com Obstáculos Paralisantes

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CI ˆENCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEM ´ATICA

Processos de Crescimento com Obst´

aculos Paralisantes

Pedro Franklin Cardoso Silva

Orientador:

Bernardo Nunes Borges de Lima

Belo Horizonte - MG 2014

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“Sempre chegamos ao s´ıtio aonde nos esperam.” A viagem do elefante, Jos´e Saramago.

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Resumo

Considere um sistema que possui substˆancias verdes, brancas e verme-lhas. As substˆancias verdes s˜ao ativas, as vermelhas s˜ao paralisantes e as brancas s˜ao passivas. As substˆancias verdes podem crescer e se juntar a outras substˆancias verdes para formar os aglomerados verdes; as substˆ an-cias vermelhas s˜ao inativas enquanto isoladas, mas ao primeiro contato com algum aglomerado verde, a substˆancia vermelha invade esse aglomerado pa-ralisando seu crescimento e tornando em seguida todas as suas substˆancias verdes em vermelhas. As part´ıculas brancas n˜ao crescem e em contato com alguma substˆancia verde transfomam-se tamb´em em substˆancias verdes. O principal objetivo dessa disserta¸c˜ao ´e estudar esse modelo. Vamos discutir se o modelo descrito acima est´a bem definido e se podemos falar alguma coisa da distribui¸c˜ao do tamanho dos aglomerados verdes. Ser´a mostrado que se a densidade inicial das part´ıculas brancas for pequena e a das par-t´ıculas vermelhas for maior que zero, ent˜ao o modelo estar´a bem definido e a distribui¸c˜ao do tamanho dos aglomerados verdes possui decaimento ex-ponencial. Para tanto, vamos estudar o artigo Random spatial growth with paralyzing obstacles, escrito por J. van den Berg, Y. Peres, V. Sidoravicius e M. E. Vares.

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Agradecimentos

A cada um que, `a sua maneira, contribuiu para esse trabalho, deixo aqui minha gratid˜ao: aos meus pais, Teresinha e Jaime, e minha irm˜a, Mariana, muito obrigado pelo eterno apoio; aos meus amigos Kˆenia Ribeiro, Pedro Daldegan, S´avio Ribas, Henrique Barreto, Marina Muniz, Lorena Oliveira, Gabriela Oliveira, Lilian Batista, Flaviana Mara, Mariana Avelar, Henrique Meckler, Rodrigo Ribeiro, Daniel Ungaretti, Alice Scarpa, Douglas Claiton e Heider Carlos, obrigado pelo companheirismo e pelos ensinamentos; ao professor Roger William obrigado por ter acompanhado e contribu´ıdo signifi-cativamente para a elabora¸c˜ao deste texto; obrigado aos professores Bernardo Nunes e Leonardo Rolla por terem me ensinado tudo o que hoje sei sobre Probabilidade. Agrade¸co tamb´em a FAPEMIG por ter financiado meu ori-entador atrav´es do edital Programa Pesquisador Mineiro.

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Sum´

ario

Resumo v Agradecimentos vii Introdu¸c˜ao 1 1 Primeiros Passos 3 1.1 Percola¸c˜ao . . . 4

2 O Princ´ıpio do Transporte de Massa 15 2.1 Medidas invariantes e diagonalmente invariantes . . . 15

2.2 O Princ´ıpio do Transporte de Massa . . . 19

2.3 Um simples exemplo . . . 20

3 Percola¸c˜ao Invasiva 25 3.1 O Processo . . . 26

3.2 Percola¸c˜ao Invasiva em L2 . . . . 27

3.3 Percola¸c˜ao Invasiva em Grafos Transitivos . . . 33

4 Processos de Crescimento 39 4.1 Definindo o Modelo . . . 40

4.2 Teorema Principal . . . 42

4.3 Regi˜oes Autˆonomas . . . 44

4.4 O Teorema 4.2.1 para o caso pw = 0 . . . 49

4.4.1 Demonstra¸c˜ao do Teorema 4.2.1 para o caso pw = 0. . . 55

4.4.2 Comparando dois processos . . . 62 ix

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4.5 A demonstra¸c˜ao do Teorema 4.2.1 para o caso pw > 0. . . 70

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Introdu¸

ao

Seja G = (V, E) um grafo conexo e finito (ou infinito enumer´avel e local-mente finito). Suponha que cada v´ertice de G seja inicialmente, independen-temente dos outros v´ertices, verde, vermelho ou branco com probabilidades pg, pr ou pw respectivamente. Os v´ertices brancos s˜ao passivos: n˜ao crescem

e sempre que encontram um v´ertice verde deixam de ser brancos e passam a agir como v´ertices verdes. Os v´ertices verdes s˜ao ativos: podem se juntar a outros v´ertices verdes formando aglomerados verdes. Por fim, os v´ertices vermelhos s˜ao considerados paralisantes: sempre que um aglomerado verde encontra um v´ertice vermelho, seu crescimento ´e interrompido e todos os v´ertices verdes do aglomerado passam a agir como v´ertices vermelhos. Esse modelo conhecido por Processo de Crescimento com Obst´aculos Paralisan-tes e inicialmente introduzido por van den Berg, Peres, Sidoravicius e Vares em [1] ´e o principal objeto de estudo dessa disserta¸c˜ao. Esse estudo ´e feito inteiramente no Cap´ıtulo 4. Por sua vez, os trˆes primeiros cap´ıtulos desse texto fornecem as ferramentas necess´arias para o desenvolvimento do ´ultimo cap´ıtulo.

No Cap´ıtulo 1 ´e feita uma breve exposi¸c˜ao sobre percola¸c˜ao. Alguns resul-tados dessa ´area s˜ao demonstrados enquanto outros s˜ao apenas mencionados. A referˆencia fundamental para essa parte do texto ´e o livro Percolation de Grimmett ([3]). O modelo de percola¸c˜ao consistir´a a base dos Cap´ıtulos 3 e 4 e alguns dos teoremas apresentados nesse cap´ıtulo inicial ser˜ao requeridos em cap´ıtulos futuros (como o caso do teorema 1.1.6 utilizado no lema 3.1.10). O Cap´ıtulo 2 discute o princ´ıpio do transporte de massa, uma esp´ecie de lei sobre conserva¸c˜ao de energia. Al´em do mais, s˜ao apresentados dois tipos de grafos especiais: os grafos v´ertice transitivos e os grafos de Cayley.

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O primeiro tipo ´e importante para a se¸c˜ao 3.1.2, enquanto que o segundo ´e importante para o principal teorema a ser demonstrado nessa disserta¸c˜ao. O principal resultado desse cap´ıtulo se baseia no princ´ıpio do transporte de massa para grupos enumer´aveis apresentado por Lyons e Peres em [8].

O Cap´ıtulo 3 discute o processo de percola¸c˜ao invasiva, processo intro-duzido por Wilkinson e Willemsen (ver [11]) e que ser´a fundamental para a demonstra¸c˜ao do Teorema 4.2.1. A Se¸c˜ao 3.2 apresenta o processo para a rede hiperc´ubica em dimens˜ao dois e o principal resultado dessa se¸c˜ao ´e uma consequˆencia do teorema de Russo-Seymour-Welsh (ver Se¸c˜ao 11.7 em [3]). Detalhes adicionais sobre percola¸c˜ao invasiva em L2 podem ser encontrados em [2]. J´a a Se¸c˜ao 3.3 estuda o processo em grafos transitivos e tem como referˆencia um trabalho de H¨aggstr¨om, Peres e Schonmann (ver [5]).

Por fim, o cap´ıtulo 4 apresenta rigorosamente o processo de crescimento com obst´aculos paralisantes. Estaremos particularmente interessados em sa-ber se o modelo est´a bem definido e se alguma coisa pode ser dita sobre a distribui¸c˜ao do tamanho de um aglomerado verde imediatamente antes dele se tornar vermelho. O Teorema 4.2.1 lida com essas perguntas e sua de-monstra¸c˜ao ser´a feita em duas partes. A primeira parte, um caso particular, assume que o grafo G = (V, E) n˜ao possui v´ertices brancos. J´a a segunda parte utiliza da constru¸c˜ao de regi˜oes autˆonomas desenvolvidas na primeira parte da demonstra¸c˜ao para tratar dos casos em que pw > 0.

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Cap´ıtulo 1

Primeiros Passos

Livros e artigos sobre percola¸c˜ao costumam, em geral, abrir suas exposi¸c˜oes com um cl´assico exemplo: pedra porosa imersa em um recipiente cheio de ´

agua. Justifica-se. O exemplo, por ser muito did´atico, ajuda o estudante que se inicia na ´area a familiarizar-se com o assunto. Suponha que uma grande pedra seja imersa em um recipiente com ´agua. Essa pedra ´e constitu´ıda por pequenos poros e canais. Por fatores externos, por exemplo, alguns canais (ou poros) podem estar obstru´ıdos (fechados) e por isso n˜ao permitem a passagem da ´agua. J´a os canais restantes, aqueles desobstru´ıdos (abertos), permitem a passagem do fluido. Observe ent˜ao que o estado de um canal, aberto ou fechado, pode ser visto como um evento aleat´orio, ou seja, poder´ıamos dizer que cada canal, independente dos demais, est´a aberto com probabilidade p e fechado com probabilidade 1 − p. Nasce da´ı nosso interesse: qual a probabilidade do fluido atingir o centro da pedra? Equivalentemente, existe um caminho de canais abertos conectando o centro do material poroso `a sua superf´ıcie? Se a resposta for afirmativa, diremos que h´a percola¸c˜ao. Na ´unica se¸c˜ao deste cap´ıtulo, formalizaremos esses conceitos e discutiremos alguns resultados essenciais para a compreens˜ao dos pr´oximos cap´ıtulos desse texto.

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4 Cap´ıtulo 1. Primeiros Passos

1.1

Percola¸

ao

A pedra, os canais e os poros dar˜ao lugar a um grafo, elos e s´ıtios (tamb´em chamados de v´ertices) respectivamente. Um grafo G ´e um par ordenado (V, E), em que V ´e um conjunto enumer´avel de pontos, chamados s´ıtios, e E ⊂ V × V ´e um conjunto de pares n˜ao ordenados de s´ıtios, chamados elos. Se um elo e possuir como extremidade os s´ıtios x, y denotaremos e por hx, yi e diremos que os s´ıtios x e y s˜ao adjacentes. Elos que possuem um v´ertice em comum ser˜ao chamados de elos adjacentes.

Na introdu¸c˜ao desse cap´ıtulo mencionamos nosso interesse na existˆencia de determinados caminhos. Um caminho γ em um grafo G ´e um conjunto de elos {e1, e2, ..., en}, ej = hxj, xj+1i, tal que todos os s´ıtios xj, j = 1, 2, ..., n, n+

1 s˜ao distintos. Se x1 = xn+1, γ ser´a chamado um circuito. Se um caminho γ

possuir k elos, diremos que γ ´e um caminho de tamanho k (nota¸c˜ao: |γ| = k). Dois s´ıtios x, y est˜ao ligados se existir um caminho γ = {e1, e2, ..., en}, ej =

hxj, xj+1i tal que x = x1 e y = xn+1. A distˆancia d(x, y) em G entre dois

v´ertices x, y ´e definida por

d(x, y) := inf{|γ|; γ liga x a y}.

Se n˜ao existe um caminho que liga x a y, diremos que d(x, y) = ∞. Por fim, um grafo G ´e dito conexo se para quaisquer s´ıtios distintos x, y existir um caminho γ que liga x a y.

Definido nosso ambiente de trabalho, podemos introduzir o modelo de percola¸c˜ao, e por isso queremos dizer que um espa¸co amostral, uma σ-´algebra e uma medida de probabilidade ser˜ao explicitados. Inicialmente, a cada elo e do grafo G ser´a atribu´ıda, de maneira aleat´oria, a condi¸c˜ao aberto ou fechado. Essa caracteriza¸c˜ao ser´a representada pelo espa¸co Ω = {0, 1}E. Os elementos

ω ∈ Ω ser˜ao chamados de configura¸c˜oes. Assim, uma confugura¸c˜ao ω pode ser vista como um vetor com infinitas componentes que assumem valores 0 ou 1 em que cada uma dessas componentes ´e indexada por um elo e ∈ E do grafo G.

A σ-´algebra = a ser considerada ser´a aquela gerada pelos eventos cil´ın-dricos, ou seja, os eventos que dependem somente de um n´umero finito de

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1.1. Percola¸c˜ao 5 elos.

O ´ultimo passo ser´a definir uma medidade de probabilidade em {Ω, =}. Dada uma configura¸c˜ao ω ∈ Ω, o estado do elo e nessa configura¸c˜ao ser´a representado por ω(e): ω(e) = 1 indica que o elo e est´a aberto na confi-gura¸c˜ao ω e ω(e) = 0 indica que o elo e est´a fechado em ω. Em seguida, consideremos uma fam´ılia {Xe; e ∈ E} de vari´aveis aleat´orias independentes

e identicamente distribu´ıdas (i.i.d) que assumem somente os valores 0 e 1 e que possuem distribui¸c˜ao comum de Bernoulli com parˆametro p ∈ [0, 1]. Nesse contexto, Xe = 1 indica que o elo e est´a aberto e Xe = 0 indica que

o elo e est´a fechado. Observe, ent˜ao, que cada vari´avel Xe ´e justamente a

proje¸c˜ao na coordenada e, ou seja, Xe(ω) = ω(e). Por fim, o parˆametro p

indicar´a a probabilidade de um elo e qualquer estar aberto ou fechado, em outras palavras, o elo e est´a aberto com probabilidade µe(ω(e) = 1) = p e

fechado com probabilidade µe(ω(e) = 0) = 1 − p. Naturalmente, definiremos

a probabilidade Pp no espa¸co {Ω, =} como sendo a medidade produto

Pp =

Y

e∈E

µe. (1.1)

O modelo acima descrito por {ΩE, =, Pp} recebe o nome de percola¸c˜ao

de elos de Bernoulli e foi o primeiro modelo de percola¸c˜ao estudado. Nesse primeiro estudo, o modelo foi formulado considerando-se como grafo a rede hiperc´ubica de dimens˜ao d.

A rede hiperc´ubica de dimens˜ao d ´e um grafo infinito representado por Ld = (Zd, Ed), em que Zd = {x = (x1, x2, ..., xd); xj ∈ Z e j = 1, 2, ..., d} e

Ed = {(x, y) ∈ Zd× Zd; d(x, y) = 1}. A distˆancia considerada aqui ´e aquela que prov´em da norma da soma,

d(x, y) =

d

X

j=1

|xj − yj|, em que x, y ∈ Zd. (1.2)

Agora que o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli foi definido, apre-sentaremos nas pr´oximas linhas alguns dos resultados b´asicos dessa teoria. Em princ´ıpio, trabalharemos com um grafo gen´erico infinito (ficar´a claro que grafos finitos n˜ao ser˜ao de nosso interesse), mas em alguns momentos

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recor-6 Cap´ıtulo 1. Primeiros Passos reremos a rede hiperc´ubica de dimens˜ao d. Assim, a partir de agora, sempre teremos em mente um grafo infinito G = (V, E) e o espa¸co de probabilidade {ΩE, =E, Pp}, como descrito acima, associado a esse grafo.

Dada uma configura¸c˜ao ω ∈ ΩE, um caminho γ em ω ser´a dito aberto se

todos os seus elos forem abertos. Dois s´ıtios x, y ∈ V est˜ao conectados em ω se existe um caminho aberto γ que liga x e y e, nesse caso, representaremos essa situa¸c˜ao pela nota¸c˜ao x ←→ y. Assim, dados quaisquer x, y, z ∈ V e uma configura¸c˜ao ω, temos que:

1. x ←→ x;

2. se x ←→ y, ent˜ao y ←→ x;

3. se x ←→ y e y ←→ z, ent˜ao x ←→ z.

Ou seja, em cada configura¸c˜ao do espa¸co amostral a condi¸c˜ao estar co-nectado define uma rela¸c˜ao de equivalˆencia. As classes de equivalˆencia pro-venientes da rela¸c˜ao ←→ ser˜ao chamadas de aglomerados. Assim, fixada uma configura¸c˜ao ω e escolhido um s´ıtio x para representar sua classe, seu aglomerado nessa configura¸c˜ao ´e o conjunto,

Cx(ω) = {y ∈ V ; x ←→ y em ω}

Em determinados grafos, um s´ıtio poder´a ser chamado de origem e quando for esse o caso seu aglomerado ser´a simplesmente representado por C. Ob-serve agora que, fixado um s´ıtio x, o volume (n´umero de s´ıtios) dos aglome-rados definidos acima d˜ao origem `as seguintes vari´aveis aleat´orias:

|Cx| : ΩE −→ R+

ω 7−→ |Cx(ω)|

E ´e justamente aqui que nasce nosso primeiro interesse: conhecer as pro-priedadades da distribui¸c˜ao dos aglomeradoss formados e, principalmente, investigar se aglomerados infinitos podem ocorrer com probabilidade posi-tiva. Nesse contexto, diremos que h´a percola¸c˜ao em uma configura¸c˜ao ω se

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1.1. Percola¸c˜ao 7 essa configura¸c˜ao possuir um aglomerado infinito. Analogamente, diremos que um s´ıtio x percola na configura¸c˜ao ω se seu aglomerado for infinito.

Probabilistas apresentam certo fasc´ınio por leis do tipo 0−1, ou seja, aque-las leis que afirmam que um dado evento possui ou probabilidade zero ou pro-babilidade um. O primeiro resultado que discutiremos sobre o modelo de per-cola¸c˜ao de elos de Bernoulli de parˆametro p ser´a, pois, uma lei 0−1. Para isso, consideraremos o evento χ = {ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω}. Esse evento

depende unicamente das vari´aveis {Xe}e∈E i.i.d que possuem distribui¸c˜ao de

Bernoulli de parˆametro p. Por outro lado, qualquer n´umero finito dessas va-ri´aveis n˜ao influencia a ocorrˆencia do evento {ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω},

ou seja, χ ´e um evento caudal. Logo, pela Lei 0 − 1 de Kolmogorov, Pp(ω ∈

ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 0 ou Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 1.

Exemplo 1.1.1. A rede hiperc´ubica de dimens˜ao 1 n˜ao ´e interessante. Considere o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli de parˆametro p ∈ [0, 1) na rede hiperc´ubica L1 = (Z, E). Denote agora por C

+ o aglomerado da

origem que est´a inteiramente no lado positivo da reta e por C− o aglomerado

da origem que se encontra inteiramente na parte negativa da reta. Como o estado de cada elo independe do estado de qualquer outro elo da rede, |C+| e

|C−| s˜ao vari´aveis i.i.d. Segue, ent˜ao, que:

Pp(|C+| ≥ n) = ∞ X k=n Pp(|C+| = k) = ∞ X k=n pk(1 − p) = pn, e dessa forma, Pp(|C−| = ∞) = Pp(|C+| = ∞) = lim n→∞p n = 0.

Ou seja, se a probabilidade p de um elo estar aberto for tal que p ∈ [0, 1), ent˜ao a origem n˜ao percola quase certamente. Por isso, no restante do texto, Ld ser´a de nosso interesse somente para valores d ≥ 2.

De fato, perceba que o argumento acima pode ser adaptado para qualquer outro s´ıtio x de Z diferente da origem e um corol´ario do exemplo acima seria que qualquer outro s´ıtio da rede hiperc´ubica de dimens˜ao 1 n˜ao percola quase certamente. Conclui-se tamb´em que, dados dois s´ıtios x e y distintos de Z,

(18)

8 Cap´ıtulo 1. Primeiros Passos os volumes dos aglomerados |Cx| e |Cy| possuem exatamente a mesma

distri-bui¸c˜ao. Essa propriedade n˜ao ´e exclusiva do grafo L1 e pode ser extendida

para qualquer Ld. Isso acontece pela transitividade dessa classe de grafos,

como explicaremos a seguir.

Dizemos que um grafo G = (V, E) ´e transitivo se, para quaisquer s´ıtios x, y ∈ V , existe um automorfismo do grafo G (automorfismos de grafos ser˜ao considerados de forma mais cuidadosa no pr´oximo cap´ıtulo) que envia o s´ıtio x ao s´ıtio y. Informalmente, um grafo ´e transitivo se todos os seus v´ertices s˜ao semelhantes. Portanto, como Ld´e um grafo transitivo e a medida definida

em (1.1) ´e invariante por transla¸c˜oes, ent˜ao se x for um s´ıtio qualquer de Zd,

temos que |Cx| e |C| possuem a mesma distribui¸c˜ao.

Embora o exemplo acima tenha mostrado que o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli em L1 ´e trivial, o mesmo n˜ao ocorrer´a em dimens˜oes supe-riores a 1 ou para outros tipos de grafos mais gerais. Assim, para auxiliar nossa investiga¸c˜ao sobre a ocorrˆencia de aglomerados infinitos, introduzire-mos a fun¸c˜ao θ, que para cada parˆametro p ∈ [0, 1] indica a probabilidade da origem percolar. Define-se:

θ : [0, 1] −→ [0, 1]

p 7−→ θ(p) = Pp(ω ∈ ΩE; |C(ω)| = ∞)

A fun¸c˜ao θ torna-se muito interessante em grafos transitivos. Como j´a observado, nesses grafos a distribui¸c˜ao de |C| ´e a mesma de |Cx| para todo

s´ıtio x ∈ V e portanto n˜ao precisar´ıamos fixar um s´ıtio especial para consi-derarmos a fun¸c˜ao θ. Em outras palavras, em grafos transitivos vale que,

θ(p) = Pp(ω ∈ ΩE; |Cx(ω)| = ∞),

para qualquer x ∈ V . O pr´oximo resultado indica que a fun¸c˜ao θ est´a intima-mente relacionada com o evento {ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω} em grafos

transitivos.

Teorema 1.1.2. Seja G um grafo transitivo. Ent˜ao, θ(p) > 0 se, e somente se, Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 1.

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1.1. Percola¸c˜ao 9 Demonstra¸c˜ao. Suponha inicialmente que θ(p) > 0. Ent˜ao, temos que,

0 < θ(p) = Pp(ω ∈ ΩE; |C(ω)| = ∞) ≤ Pp [ x∈V (ω ∈ ΩE; |Cx(ω)| = ∞) ! = Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω).

Segue da Lei 0 − 1 de Kolmogorov mencionada nesse cap´ıtulo e da express˜ao acima que

Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 1.

Por outro lado, suponha agora que Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 1. Se

fosse θ(p) = 0, ter´ıamos que,

Pp(ω ∈ ΩE; |Cx(ω)| = ∞) = 0, ∀x ∈ V,

pois por hip´otese o grafo ´e transitivo. Portanto,

Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = Pp [ x∈V (ω ∈ ΩE; |Cx(ω)| = ∞) ! ≤X x∈V Pp(ω ∈ ΩE; |Cx(ω)| = ∞) = 0.

Enfim, se Pp(ω ∈ ΩE; h´a percola¸c˜ao em ω) = 1, ent˜ao θ(p) > 0 e o teorema

est´a provado.

O resultado acima ´e muito interessante, pois ele afirma que para sabermos se h´a percola¸c˜ao em grafos transitivos, basta olharmos para a fun¸c˜ao θ. O comportamento dessa fun¸c˜ao para o caso da rede hiperc´ubica foi no passado (e ainda continua sendo) objeto de intenso estudo e atualmente algumas perguntas ainda est˜ao sem respostas. Os pr´oximos trˆes teoremas tratar˜ao exclusivamente do grafo Ld= (Zd, Ed).

Se p = 0, todos os elos de Ld est˜ao fechados com probabilidade 1 e

portanto θ(0) = 0. Intuitivamente, se os valores de p crescerem, mais elos estar˜ao abertos e assim a probabilidade da origem percolar tamb´em crescer´a.

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10 Cap´ıtulo 1. Primeiros Passos Por fim, em p = 1 todos os elos estar˜ao abertos e por isso θ(1) = 1. Tal observa¸c˜ao nos induz a conjecturar algumas coisas sobre o comportamento da fun¸c˜ao θ: seria θ n˜ao descrescente em seu argumento p, ou ainda, ser´a que existe um valor pc entre (0, 1) em que ocorre uma transi¸c˜ao de fase, ou seja,

a existˆencia de um ponto pc tal que θ(p) = 0 se p < pc e θ(p) > 0 se p > pc?

Para a primeira pergunta, a resposta ´e afirmativa. Entretanto, com as fer-ramentas que temos em m˜aos at´e o momento n˜ao nos ´e poss´ıvel demonstrar tal resultado. Mas observe inicilmente que cada p ∈ [0, 1] fornece um espa¸co de probabilidade diferente. Por outro lado, seria interessante para estudar-mos o comportamento da fun¸c˜ao θ compararmos espa¸cos de probabilidade distintos. Para isso, introduziremos agora um elegante argumento (que ser´a usado muitas vezes no ´ultimo cap´ıtulo) conhecido como acoplamento.

Primeiramente, precisaremos considerar o seguinte espa¸co de probabili-dade: {[0, 1]Ed

, ˜=, P}, em que ˜= ´e a σ-´algebra padr˜ao gerada pelos eventos cil´ındricos e a probabilidade P = Y e∈Ed ˜ µe

´e produto ˜µe de medidas de Lebesgue em [0, 1]. Por fim, consideraremos a

fam´ılia de vari´aveis aleat´orias {ζe; e ∈ Ed} i.i.d com distribui¸c˜ao uniforme

em [0, 1], ou seja, se p for um parˆametro entre [0, 1], ent˜ao

˜ µe(ω ∈ [0, 1]E d ; ζe(ω) ≤ p) = p = 1 − ˜µe(ω ∈ [0, 1]E d ; ζe(ω) > p)

Um elo e da rede ser´a dito p-aberto em uma configura¸c˜ao ω se

ζe(ω) ≤ p

e p-fechado caso contr´ario. Esse espa¸co assim constru´ıdo, maior do que aquele considerado no in´ıcio do cap´ıtulo, cont´em, para todo p ∈ [0, 1], os espa¸cos ({0, 1}E, =, P

p), em que o modelo de percola¸c˜ao de Bernoulli de parˆametro p

em Ld pode ser obtido atrav´es desse acoplamento considerando somente os

(21)

1.1. Percola¸c˜ao 11 Teorema 1.1.3. A fun¸c˜ao θ(p) ´e n˜ao descrente em p.

Demonstra¸c˜ao. Sejam p1, p2 ∈ [0, 1] tais que p1 < p2 e ω ∈ [0, 1]E

d

uma configura¸c˜ao qualquer. Se o elo e for p1-aberto na cofigura¸c˜ao ω, ent˜ao, nessa

mesma configura¸c˜ao, o elo e tamb´em ser´a p2-aberto, pois

ζe(ω) ≤ p1 < p2. (1.3)

Portanto, considerando que Cp(ω) ´e o aglomerado da origem de elos p-abertos

em ω, segue de (1.3) que Cp1(ω) ⊂ Cp2(ω) e assim, θ(p1) = Pp1(ω ∈ {0, 1} Ed ; |C(ω)| = ∞) = P(ω ∈ [0, 1]Ed; |Cp1(ω)| = ∞) ≤ P(ω ∈ [0, 1]Ed; |C p2(ω)| = ∞) = Pp2(ω ∈ {0, 1} Ed ; |C(ω)| = ∞) = θ(p2)

Uma d´uvida que naturalmente surge nesse momento do texto ´e sobre a influˆencia da dimens˜ao d na fun¸c˜ao θ. Intuitivamente, se fixarmos um parˆametro p e aumentarmos a dimens˜ao do modelo, mais elos sair˜ao de cada s´ıtio e consequentemente espera-se que a probabilidade de cada um desses s´ıtios percolar seja maior.

Teorema 1.1.4. Fixado um parˆametro p, a fun¸c˜ao θ(p) := θ(p, d) ´e n˜ao descrente em d.

Demonstra¸c˜ao. O modelo de percola¸c˜ao de elos em Ld pode ser imerso em Ld+1 da seguinte forma: considere em Zd+1 o hiperplano Zd. Decrete fechado cada elo que tem um s´ıtio em Zd e outro s´ıtio no complementar de

Zd. Assim, denotando o aglomerado da origem no hiperplano Zd por Cd,

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12 Cap´ıtulo 1. Primeiros Passos

Figura 1.1: Esbo¸co da fun¸c˜ao θ(p) para Ld, em que d = 2 ou d ≥ 19.

θ(p, d) = Pp,d+1(ω ∈ [0, 1]E d+1 ; |Cd(ω)| = ∞) ≤ Pp,d+1(ω ∈ [0, 1]E d+1 ; |Cd+1(ω)| = ∞) = θ(p, d + 1)

Ainda n˜ao investigamos a segunda pergunta: existe um ponto pc tal que

θ(p) = 0 se p < pc e θ(p) > 0 se p > pc? O Teorema 1.1.3 nos auxilia a

responder essa pergunta e ´e bastante conveniente definirmos tal ponto cr´ıtico pc como o supremo de todos os valores p para os quais θ(p) = 0, ou seja,

pc:= sup{p ∈ [0, 1]; θ(p) = 0}.

Assim, do Exemplo 1.1.1 temos que pc = 1 em L1. Por outro lado, o

Teorema 1.1.4 afirma que para a rede hiperc´ubica o ponto cr´ıtico n˜ao cresce com o aumento da dimens˜ao.

Os intervalos [0, pc) e (pc, 1] e o ponto pc s˜ao denominados,

respectiva-mente, fase subcr´ıtica, fase supercr´ıtica e fase cr´ıtica. Sobre a transi¸c˜ao de fase em Ld, sabemos:

Teorema 1.1.5 (ver [3], Teorema 1.10). Se d ≥ 2 ent˜ao, pc∈ (0, 1).

(23)

1.1. Percola¸c˜ao 13 provado em 1957 por Broadbent e Hammersley. O resultado afirma que pc ∈ (0, 1) para d ≥ 2 mas n˜ao informa qual o valor da fun¸c˜ao θ no ponto

cr´ıtico pc. Sabe-se atualmente que para a rede hiperc´ubica θ(p) ´e uma fun¸c˜ao

cont´ınua em [0, pc) ∪ (pc, 1] e que θ(pc) = 0 para d ∈ {2, 19, 20, 21, ...}. Como

θ(p) ´e n˜ao decrescente e cont´ınua em [0, pc) ∪ (pc, 1], a ´unica possibilidade em

pc para 3 ≤ d ≤ 18 seria uma descontinuidade do tipo salto, mas isso ainda

´e um problema em aberto. Particularmente, foi provado por Kesten em 1980 (ver [6]) que pc= 12 em L2.

Por fim, repare que poder´ıamos ter aberto essa se¸c˜ao da seguinte forma: uma pedra porosa constitu´ıda de canais e poros ´e imersa em recipiente com ´

agua sendo que cada poro, e agora n˜ao mais os canais, pode estar aberto ou fechado. E, se nesse novo contexto come¸c´assemos a desenvolver nossa teoria, desaguar´ıamos no modelo de percola¸c˜ao de s´ıtios. Embora grande parte do que foi discutido at´e agora valha para os dois casos, os modelos apresentam diferen¸cas. Assim, quando quisermos enfatizar o modelo em quest˜ao, escre-veremos pcelo para a probabilidade cr´ıtica do modelo de percola¸c˜ao de elos

ou pcs´itio para a probabilidade cr´ıtica do modelo de percola¸c˜ao de s´ıtios.

O ´ultimo teorema dessa se¸c˜ao apresenta um resultado que relaciona os dois modelos. Esse resultado ser´a utilizado nos cap´ıtulos 3 e 4.

Teorema 1.1.6 (ver [3], Teorema 1.33). Seja G = (V, E) um grafo conexo infinito com uma quantidade enumer´avel de elos, origem 0 e localmente finito com grau m´aximo ∆. Ent˜ao,

0 ≤ 1

∆ − 1 ≤ pc

elo ≤ p

cs´itio ≤ 1 − (1 − pcelo)∆.

Corol´ario 1.1.7. Nas condi¸c˜oes do T eorema 1.6, tem-se que pcelo < 1 se, e

(24)
(25)

Cap´ıtulo 2

O Princ´ıpio do Transporte de

Massa

Em f´ısica, a Primeira Lei de Kirchoff para c´ırcutos el´etricos baseia-se em um princ´ıpio de conserva¸c˜ao de energia: em um n´o, a soma das correntes el´etricas que entram ´e igual a soma das correntes que saem. Um equivalente pr´oximo em probabilidade ´e o Princ´ıpio do Transporte de Massa (um circuito el´etrico, agora, ser´a um grafo, e um n´o ser´a um s´ıtio desse grafo). A primeira sess˜ao apresentar´a os conceitos necess´arios para que, na segunda se¸c˜ao, possamos nos dedicar exclusivamente ao problema do transporte de massa. No fim, um exemplo muito importante para o Cap´ıtulo 4 ser´a discutido.

2.1

Medidas invariantes e diagonalmente

in-variantes

Nessa se¸c˜ao, G = (V, E) ser´a um grafo localmente finito (ou seja, todo v´ertice de G tem grau finito) e (ΩE, =E) o espa¸co mensur´avel em que =E

´e a σ-´algebra gerada pelos conjuntos cil´ındricos de ΩE = {0, 1}E. Detalhes

adicionais sobre medidas invariantes e diagonalmente invariantes podem ser encontrados na Se¸c˜ao 4.3 de [4] e na Se¸c˜ao 8.1 de [8].

Defini¸c˜ao 2.1.1. Um automorfismo do grafo G ´e uma bije¸c˜ao ϕ : V −→ 15

(26)

16 Cap´ıtulo 2. O Princ´ıpio do Transporte de Massa V tal que para todo x, y ∈ V tem-se que hx, yi ∈ E se, e somente se, hϕ(x), ϕ(y)i ∈ E.

O conjunto de todos os automorfismos do grafo G ser´a denotado por Aut(G).

Proposi¸c˜ao 2.1.2. Aut(G) munido com a opera¸c˜ao de composi¸c˜ao de fun-¸

c˜oes ´e um grupo.

Demonstra¸c˜ao. Se ϕ e γ s˜ao dois automorfismos de G ent˜ao ϕ ◦ γ tamb´em ´e um automorfismo de G. O elemento inverso de ϕ ´e justamente sua fun¸c˜ao inversa ϕ−1, que existe, pois ϕ ´e bije¸c˜ao. A fun¸c˜ao identidade ´e o elemento neutro e a associatividade entre elementos de Aut(G) segue diretamente da composi¸c˜ao de fun¸c˜oes.

Observe agora que dado ϕ ∈ Aut(G) podemos estender naturalmente o seu dom´ınio para todo o conjunto de elos do grafo G da seguinte forma:

ϕ : E −→ E

hx, yi 7−→ hϕ(x), ϕ(y)i

Por fim, utilizando a extens˜ao acima, um automorfismo ϕ do grafo G d´a origem a um operador no conjunto ΩE, tamb´em denotado por ϕ : ΩE :−→

ΩE: se ω ´e uma confugura¸c˜ao em ΩE e hx, yi ∈ E, ent˜ao o estado do elo

hx, yi na configura¸c˜ao ϕ(ω) ´e dado justamente pelo estado do elo ϕ−1(hx, yi) na configura¸c˜ao ω, em outras palavras, ϕ(ω)(hx, yi) = ω(ϕ−1(hx, yi). A partir de agora, um automorfismo do grafo G ser´a visto como um operador que age no conjunto ΩE. Esses operadores s˜ao a chave da pr´oxima defini¸c˜ao.

Defini¸c˜ao 2.1.3. Seja Γ um subgrupo do grupo Aut(G). Dizemos que uma medida de probabilidade P em (ΩE, =E) ´e Γ-invariante se P (A) = P (ϕA)

para todo A ∈ =E e para todo ϕ ∈ Γ. Nesse contexto, a nota¸c˜ao ϕA

repre-senta o evento {ϕ(ω) ∈ ΩE : ω ∈ A}.

Exemplo 2.1.4. Considere o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli em L2 = (Z2, E2). Para cada x := (x1, x2) ∈ Z2 defina a seguinte aplica¸c˜ao,

(27)

2.1. Medidas invariantes e diagonalmente invariantes 17 ϕx : Z2 −→ Z2

v 7−→ x + v,

em que x + v = (x1+ v1, x2+ v2). ´E f´acil ver que ϕx ´e injetiva. Al´em do mais,

utilizando a distˆancia definida em (1.2), temos que se v e w s˜ao vizinhos em L2, ent˜ao

d(x + v, x + w) = |v1− w1| + |v2− w2| = d(v, w) = 1,

ou seja, ϕx(v) e ϕx(w) tamb´em s˜ao vizinhos em L2. Logo, para cada x ∈ Z2,

ϕx ∈ Aut(L2). Assim, tomando Γ = {ϕx; x ∈ Z2}, temos que Γ, com respeito

a composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, ´e um subgrupo de Aut(L2) (Γ ´e subgrupo formado

por transla¸c˜oes). Portanto, como a medida de probabilidade Pp definida no

Cap´ıtulo 1 para o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli ´e invariante por transla¸c˜oes, segue que Pp ´e Γ-invariante.

Consideremos agora, uma fun¸c˜ao F (α, β, ω) n˜ao negativa, (α, β) ∈ Γ × Γ e ω ∈ ΩE, que, fixada uma configura¸c˜ao ω, representar´a intuitivamente uma

esp´ecie de fluxo que sai de α para β. Esse conceito ficar´a mais claro na pr´oxima se¸c˜ao, em que dado um grafo G especial, v´ertices poder˜ao ser vistos como elementos do grupo Aut(G).

Defini¸c˜ao 2.1.5. Seja F : Γ × Γ × ΩE −→ [0, ∞]. Dizemos que F ´e

di-agonalmente invariante por Γ se F (α, β, ω) = F (ϕα, ϕβ, ϕ(ω)), para todo α, β, ϕ ∈ Γ e ω ∈ ΩE.

Observe que na defini¸c˜ao acima as duas primeiras entradas ϕα e ϕβ da fun¸c˜ao F s˜ao vistas no sentido de composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, a opera¸c˜ao do grupo Γ. Por sua vez, a ´ultima entrada ϕ(ω) ´e a imagem da configura¸c˜ao ω pelo operador ϕ.

Lema 2.1.6. Sejam P uma medida Γ-invariante e F : Γ×Γ×ΩE −→ [0, ∞].

Fixados α,β e ϕ em Γ, defina T (ω) = F (α, β, ϕ−1(ω)). Ent˜ao, F e T s˜ao igualmente distribu´ıdas. Em particular,

Z ΩE F (α, β, ω) dP = Z ΩE F (α, β, ϕ−1(ω)) dP

(28)

18 Cap´ıtulo 2. O Princ´ıpio do Transporte de Massa Demonstra¸c˜ao. Seja A um boreliano qualquer. Ent˜ao,

P (T ∈ A) = P (ω ∈ ΩE : F (α, β, ϕ−1(ω)) ∈ A)

= P (ϕω ∈ ΩE : F (α, β, ω) ∈ A)

= P (ϕ{ω ∈ ΩE : F (α, β, ω ∈ A}) = P (F ∈ A).

Em que a ´ultima igualdade decorre do fato de P ser uma medida Γ-invariante.

Proposi¸c˜ao 2.1.7. Defina f (α, β) = E[F (α, β, ω)]. Se P for Γ-invariante e F uma aplica¸c˜ao diagonalmente invariante por Γ, ent˜ao

f (α, β) = f (ϕα, ϕβ), (2.1)

para todo α, β, ϕ ∈ Γ.

Demonstra¸c˜ao. Seja ϕ ∈ Γ qualquer. Segue, ent˜ao, que: f (ϕα, ϕβ) = E[F (ϕα, ϕβ, ω)] =

Z

ΩE

F (ϕα, ϕβ, ω)dP. (2.2)

Como ϕ pertence ao grupo Γ, temos que seu inverso, ϕ−1, tamb´em pertence a Γ. Assim, como por hip´otese F ´e diagonalmente invariante por Γ, temos que: F (ϕα, ϕβ, ω) = F (α, β, ϕ−1(ω)). (2.3) Aplicando a rela¸c˜ao (2.3) em (2.2), f (ϕα, ϕβ) = Z ΩE F (α, β, ϕ−1(ω))dP (2.4)

Por fim, como P ´e uma medida invariante por Γ, o resultado particular do Lema 2.1.6 pode ser utilizado na rela¸c˜ao (2.4). Desse modo,

f (ϕα, ϕβ) = Z

ΩE

F (α, β, ω)dP = E[F (α, β, ω)] = f (α, β). (2.5)

Abusaremos nas pr´oximas linhas da nota¸c˜ao: diremos que uma fun¸c˜ao f satisfazendo (2.1) ´e diagonalmente invariante por Γ.

(29)

2.2. O Princ´ıpio do Transporte de Massa 19

2.2

O Princ´ıpio do Transporte de Massa

Teorema 2.2.1 (O Princ´ıpio do Transporte de Massa). Sejam f : Γ × Γ −→ [0, ∞] e φ a identidade do grupo Γ. Se f for diagonalmente invariante por Γ, ent˜ao X α∈Γ f (φ, α) = X α∈Γ f (α, φ).

Demonstra¸c˜ao. Por hip´otese, f (φ, α) = f (α−1φ, α−1α) = f (α−1, φ). Logo, temos que: X α∈Γ f (φ, α) =X α∈Γ f (α−1, φ). Considere agora a seguinte aplica¸c˜ao:

g : Γ −→ Γ α 7−→ α−1

Dessa forma, g pertence ao grupo de automorfismos de Γ e portanto, X

α∈Γ

f (α−1, φ) =X

α∈Γ

f (α, φ).

Fixar a identidade do grupo Γ no teorema acima nada tem de especial. O resultado continua v´alido para qualquer β ∈ Γ. Observe que se f for diagonalmente invariante por Γ, ent˜ao

X α∈Γ f (β, α) =X α∈Γ f (α−1β, α−1α) =X α∈Γ f (α−1β, φ). (2.6)

Por outro lado, do Teorema 2.2.1 e da invariˆancia diagonal de f por Γ, segue que: X α∈Γ f (α−1β, φ) =X α∈Γ f (φ, α−1β) =X α∈Γ f (α, β). (2.7)

(30)

20 Cap´ıtulo 2. O Princ´ıpio do Transporte de Massa Corol´ario 2.2.2. Sejam f : Γ × Γ −→ [0, ∞] e β ∈ Γ qualquer. Se f for diagonalmente invariante por Γ, ent˜ao

X

α∈Γ

f (β, α) =X

α∈Γ

f (α, β).

Uma das afirma¸c˜oes do principal teorema desse texto (que ser´a enunciado no Cap´ıtulo 4) envolve uma classe especial de grafos, os chamados grafos de Cayley. Aproveitaremos a pr´oxima se¸c˜ao para apresentarmos esses grafos e utiliz´a-los em um exemplo envolvendo o Princ´ıpio do Transporte de Massa.

2.3

Um simples exemplo

Defini¸c˜ao 2.3.1. Seja Γ um grupo gerado pelo conjunto sim´etrico

S = {g±11 , g±12 , g3±1, ...},

ou seja, todo elemento de Γ pode ser obtido como uma combina¸c˜ao finita de elementos de S. O grafo de Cayley de Γ com respeito a S ´e o grafo CG(Γ, S) := (V, E) tal que:

• V = Γ, ou seja, o conjunto dos s´ıtios de CG(Γ, S) ´e formado pelos elementos do grupo Γ;

• hx, yi ∈ E se, e somente se, x−1y ∈ S.

Um grupo Γ pode possuir mais de um grupo gerador sim´etrico. Portanto, deve ficar claro que o grafo de Cayley CG(Γ, S) depende fortemente da es-colha do conjunto gerador S. O pr´oximo exemplo elucida essa observa¸c˜ao. Exemplo 2.3.2. Considere o grupo aditivo Z5 = {0, 1, 2, 3, 4}. Da teoria

de grupos, sabemos que Z5 pode ser gerado por qualquer elemento diferente

da identidade. Dessa forma, S1 = {1, 4} ou S2 = {2, 3} geram o grupo

das classes de congruˆencia m´odulo 5. Os grafos de Cayley CG(Z5, S1) e

(31)

2.3. Um simples exemplo 21

Figura 2.1: A figura da esquerda representa o grafo de Cayley CG(Z5, S1).

a a figura da direita representa o grafo de Cayley CG(Z5, S2)

Em princ´ıpio, a escolha do s´ımbolo Γ para representar o grupo que faz parte da constru¸c˜ao de um grafo de Cayley pode parecer pregui¸cosa e at´e es-tranha. No in´ıcio do cap´ıtulo considerava-se um grafo G, definia-se o grupo Aut(G) de automorfismos de G e em seguida dirig´ıamos nossa aten¸c˜ao para um subgrupo Γ de Aut(G), ou seja, o s´ımbolo Γ, nesse texto, foi eleito para representar dois objetos matem´aticos distintos. Entretanto, ser´a mostrado agora que se CG(Γ, S) ´e um grafo de Cayley, ent˜ao Γ ´e isomorfo a um sub-grupo de Aut(CG(Γ, S))!

Defini¸c˜ao 2.3.3. Um grafo G ´e chamado v´ertice transitivo se dados quais-quer x, y ∈ V (G) existe um automorfismo ϕ de G tal que ϕ(x) = y.

Teorema 2.3.4. Se CG(Γ, S) ´e um grafo de Cayley, ent˜ao para cada ele-mento g ∈ Γ, a aplica¸c˜ao

ϕg : V −→ V

v 7−→ gv ´e um automorfismo de CG(Γ, S).

Demonstra¸c˜ao. Temos que provar que ϕg ´e uma bije¸c˜ao que preserva

ad-jacˆencia. Vejamos: 1. ϕg ´e bije¸c˜ao:

(32)

22 Cap´ıtulo 2. O Princ´ıpio do Transporte de Massa • ϕg(x) = ϕ(y) ⇐⇒ gx = gy ⇐⇒ x = y

• dado x ∈ V , temos que ϕg(g−1x) = g(g−1x) = x

2. ϕg preserva adjacˆencia:

Precisamos mostrar que se hx, yi ∈ E, ent˜ao hϕg(x), ϕg(y)i ∈ E. Mas

hx, yi ∈ E se e somente se x−1y ∈ G. Por outro lado,

(ϕg(x))−1ϕ(y) = (gx)−1(gy) = (x−1g−1)(gy) = x−1y.

Corol´ario 2.3.5. Se CG(Γ, S) for um grafo de Cayley, ent˜ao CG(Γ, S) ´e v´ertice transitivo.

Demonstra¸c˜ao. Basta considerar o automorfismo ϕyx−1 definido no

Teo-rema 2.3.4.

Corol´ario 2.3.6. Se CG(Γ, S) for um grafo de Cayley, ent˜ao a aplica¸c˜ao, H : Γ −→ Aut(CG(Γ, S))

g 7−→ ϕg

´e um homomorfismo injetivo de grupos.

Demonstra¸c˜ao. Se g,h e x s˜ao elementos de Γ, segue que:

ϕgh(x) = (gh)x = gϕh(x) = ϕg(ϕh(x)) = (ϕg◦ ϕh)(x),

ou seja, H(gh) = ϕg ◦ ϕh. A injetividade ´e imediata.

Naturalmente, segue do corol´ario acima que Γ ´e isomorfo a Im(H) = {H(g) = ϕg; g ∈ Γ}, ou seja, Γ pode e deve ser visto como um subgrupo de

Aut(CG(Γ, S)). Portanto, far´a sentido dizer no pr´oximo exemplo que uma medida ´e Γ-invariante.

(33)

2.3. Um simples exemplo 23 Exemplo 2.3.7. Considere o modelo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli de parˆametro p no grafo de Cayley CG(Γ, S) = (V, E) e defina a seguinte apli-ca¸c˜ao F : Γ × Γ × ΩE −→ [0, ∞):

F (x, y, ω) = (

1, se < x, y > for um elo aberto na configura¸c˜ao ω, 0, caso contr´ario.

Ent˜ao, F ´e diagonalmente invariante por Γ.

Demonstra¸c˜ao. Sejam x, y, g ∈ V = Γ e ω uma configura¸c˜ao qualquer. Su-ponhamos inicialmente que F (x, y, ω) = 1, ou seja, x−1y ∈ S e ω(hx, yi) = 1. Do Teorema 2.3.4 sabemos que ϕg(x) = gx ´e um automorfismo de CG(Γ, S)

e portanto hgx, gyi ∈ E. Por outro lado, o estado do elo hgx, gyi na configu-ra¸c˜ao ω ´e dado por:

(gω)(hgx, gyi) := ω(g−1(gx), g−1(gy)) = ω(hx, yi) = 1,

e nesse caso

F (x, y, ω) = 1 = F (gx, gy, gω).

O caso em que F (x, y, ω) = 0 ´e an´alogo. Portanto F ´e diagonalmente inva-riante por Γ.

Como a medida Pp do exemplo 2.3.7 ´e invariante por transla¸c˜oes, Pp

tamb´em ´e invariante pela a¸c˜ao de Γ. Defina

f (x, y) := E[F (x, y, ω)],

Assim, utilizando a Proposi¸c˜ao 2.1.7, temos que f ´e diagonalmente invariante por Γ. Logo, se x ∈ Γ, o Princ´ıpio do Transporte de Massa nos afirma que

X

y∈Γ

f (x, y) =X

y∈Γ

(34)
(35)

Cap´ıtulo 3

Percola¸

ao Invasiva

Esque¸camos agora a pedra porosa e passemos a considerar uma represa. Essa represa, vista por cima, possui como tra¸cado o grafo L2. Sobre cada elo existe uma parede de largura desprez´ıvel e cuja altura foi determinada aleatoria-mente: para cada parede sorteou-se uniformemente no intervalo [0, 1], e de forma independente das outras paredes, um n´umero que determinou sua al-tura em metros. Do centro de um dos quadrados da represa, uma fonte come¸ca a liberar ´agua em uma vaz˜ao constante. O n´ıvel da ´agua come¸ca a subir at´e atingir a altura da menor parede. A partir desse momento, o cˆomodo adjacente `a essa parede menor passa a ser invadido pela ´agua. Dessa forma, o que acontecer´a em seguida depender´a da altura de seis paredes (contra quatro no come¸co do processo). O n´ıvel da ´agua continua a subir at´e alcan¸car a altura da menor parede. Novamente, outro quadrado ser´a ocupado pelo l´ıquido e o processo continuar´a assim sucessivamente. Como resultado teremos um n´umero infinito de compartimentos invadidos pela ´agua. A essa regi˜ao damos o nome de regi˜ao invadida ou aglomerado invadido.

O modelo de percola¸c˜ao invasiva, introduzido em 1983 por Wilkinson e Willemsen (ver [11]), ser´a discutido nesse cap´ıtulo. A se¸c˜ao 3.1 definir´a rigo-rosamente o modelo. A Se¸c˜ao 3.2 trar´a um estudo sobre percola¸c˜ao invasiva em L2. O principal resultado dessa se¸c˜ao, o Teorema 3.2.5, ser´a uma

con-sequˆencia do Teorema de RSW. Por fim, o Teorema 3.2.5 ser´a generalizado para grafos mais gerais na Se¸c˜ao 3.2. Todos os resultados dessa ´ultima se¸c˜ao

(36)

26 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva foram retirados das se¸c˜oes 2 e 3 de [5].

3.1

O Processo

Seja G = (V, E) um grafo infinito, conexo e localmente finito. Atribu´ıre-mos aos elos de G vari´aveis aleat´orias {τe}e∈Ei.i.d uniformemente distribu´ıdas

em [0, 1]. O aglomerado invadido de um s´ıtio x ∈ V ´e constru´ıdo indutiva-mente atrav´es de uma sequˆencia crescente Ix

1 ⊂ I2x ⊂ I3x ⊂ ... de conjuntos

de elos da seguinte forma: seja Ix

1 o conjunto formado pelo ´unico elo e que

possui o menor valor τe dentre todos aqueles elos adjacentes com o s´ıtio x.

Se Inx est´a constru´ıdo, In+1x ser´a dado por Inx∪ {e}, em que o elo e ´e o elo que possui o menor valor τedentre todos os elos que n˜ao est˜ao em Inx mas que s˜ao

adjacentes com algum elo de Inx. O aglomerado invadido de x ´e o conjunto de elos Ix = ∞ [ n=1 Inx. .

Dois espa¸cos de probabilidade ser˜ao utilizados nos pr´oximos teoremas. O primeiro ´e aquele referente ao processo de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli de parˆametro p cuja medida ´e denotada por Pp. J´a o segundo refere-se ao

espa¸co que acopla os processos de percola¸c˜ao de elos de Bernoulli para todos os parˆametros p simultaneamente. A medida produto do segundo espa¸co ´e representada por P.

Daqui em diante, nossa principal preocupa¸c˜ao ser´a investigar sobre quais condi¸c˜oes a regi˜ao invadida Ix intercepta algum aglomerado p-aberto infinito com probabilidade P igual a 1.

Teorema 3.1.1. Se o processo de invas˜ao que come¸ca no s´ıtio x toca um aglomerado p-aberto infinito C, ent˜ao, ap´os tocar esse algomerado C, o pro-cesso de invas˜ao permanecer´a para sempre dentro de C.

Demonstra¸c˜ao. O n-´esimo elo invadido pela regi˜ao Ix

∞ ser´a denotado por

(37)

3.2. Percola¸c˜ao Invasiva em L2 27 Suponha que a regi˜ao Ix

∞ toque algum aglomerado p-aberto infinito, Cp,

pela primeira vez no (n+1)-´esimo passo de invas˜ao, ou seja, os elos e1, e2, ..., en

n˜ao encontraram v´ertices de aglomerados p-abertos infinitos e no instante em que o processo invadir o elo en+1, um v´ertice final de en+1tocar´a algum v´ertice

y de Cp. Denote agora os elos que n˜ao est˜ao em Inx mas que s˜ao adjacentes

com algum elo de Ix

n por ∂Inx. Como o elo a ser escolhido no passo (n+1) ´e

en+1, temos que

τ (n + 1) ≤ τe, para todo e ∈ ∂Inx.

Por outro lado, como en+1 ∈ C/ p, temos necessariamente que

τ (n + 1) ≥ p, e das duas rela¸c˜oes acima

τ (j) ≥ p, para todo ej ∈ ∂Inx\{en+1}

Observe agora que podemos escrever o conjunto ∂Ix

n+1 como a uni˜ao de trˆes

subconjuntos disjuntos. O primeiro subconjunto ´e formado por elos que j´a estavam em ∂Inx, o segundo ´e formado por elos que s˜ao adjacentes com o s´ıtio y e que n˜ao est˜ao em Cp e o terceiro ´e constitu´ıdo por elos adjacentes

a y e que s˜ao p-abertos. Portanto, como todo elo de Cp ´e p-aberto, I∞x

invadir´a no passo (n+2) um elo da forma hy, zi que est´a em Cp. Mas como

Cp ´e infinito e ∂In+1x \Cp possui exclusivamente elos p-fechados, I∞x passar´a a

invadir somente elos p-abertos ap´os o passo (n + 2).

3.2

Percola¸

ao Invasiva em L

2

Considere o grafo L2 e seja LR(l) o evento em que existe um cruzamento

aberto da esquerda para a direita na caixa

(38)

28 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva

Figura 3.1: O processo de invas˜ao encontra um aglomerado p-aberto infinito no (n + 1)-´esimo passo. Os elos representados por linhas cont´ınuas est˜ao no conjunto In0; os elos representados por linhas tracejadas est˜ao no conjunto ∂I0

n.

Figura 3.2: Uma representa¸c˜ao para o evento LR(3l, l).

ou seja, um caminho aberto que conecta o lado esquerdo da caixa R(l) ao seu lado direito. Seja tamb´em LR(kl, l) o evento em que existe um cruzamento aberto da esquerda para a direita na caixa R(kl, l) = [−l, (2k − 1)l] × [−l, l]. Por fim, consideraremos A(l) como o anel R(3l)\R(l) e O(l) como sendo o evento em que existe um circuito aberto no anel A(l) contendo a origem em seu interior (ver Figura 3.3). Lembrando que em L2 temos pc= 12, enunciemos

a seguinte proposi¸c˜ao.

Proposi¸c˜ao 3.2.1 ([3], se¸c˜ao 11.7). Para qualquer n´umero natural l temos que P1 2(LR(l)) ∈ [ 1 4, 3 4].

(39)

3.2. Percola¸c˜ao Invasiva em L2 29

Figura 3.3: Um circuito aberto no anel A(l) = R(3l)\R(l) e que cont´em a origem em seu interior.

h´a uma probabilidade significativa de existir um cruzamento aberto na caixa R(l), ent˜ao h´a tamb´em uma probabilidade significativa de existir um circuito aberto em volta da origem no anel A(l).

Teorema 3.2.2 (Teorema de Russo-Seymour-Welsh (RSW),em [3], Teorema 11.70). Se Pp(LR(l)) = τ , ent˜ao

Pp(O(l)) ≥ {τ (1 −

1 − τ )4}12.

.

Com os dois resultados acima em m˜aos, segue a essˆencia que fundamen-tar´a o principal teorema dessa se¸c˜ao:

Corol´ario 3.2.3. Para todo natural l, existe δ > 0 que n˜ao depende de l tal que,

P1

(40)

30 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva Portanto, como P1

2(O(l)) ´e uniformemente limitado em l por uma constante

positiva, segue do Lema de Borel-Cantelli o seguinte resultado:

Corol´ario 3.2.4. Para todo p ≥ pc(L2) = 12, a origem ´e circundada por

infinitos circuitos p-abertos com probabilidade Pp igual a 1. Particurlamente,

como θ(12) = 0, a origem ´e circundada por infinitos circuitos abertos disjuntos P1

2-q.c.

Todas as ferramentas desenvolvidas at´e aqui foram apresentadas para nos auxiliar a responder sobre quais condi¸c˜oes a regi˜ao invadida Ix

∞ intercepta

algum aglomerado p-aberto infinito. Estamos prontos para lidar com esse problema em L2.

Teorema 3.2.5. Considere a origem de L2 e sua regi˜ao invadida I0

∞. Ent˜ao,

para qualquer p > pc, I∞0 intercepta algum aglomerado p-aberto infinito quase

certamente.

Demonstra¸c˜ao. Fixe algum p > pc. Ent˜ao, existe com probabilidade Pp

igual a 1 um ´unico aglomerado Cp p-aberto infinito (ver [3], Teorema 8.1).

Por outro lado, o Corol´ario 3.2.4 afirma que existem infinitos circuitos p-abertos ao redor da origem. Logo,

P(algum circuito p-aberto ao redor da origem intercepta Cp) = 1. (3.1)

Mas se γ ´e um circuito p-aberto que intercepta Cp, ent˜ao γ ⊂ Cp. Por fim,

como I0

∞ ´e uma subgrafo conexo infinito, I∞0 intercepta qualquer circuito

p-aberto que circunda a origem, particularmente γ, ou seja, I0

∞ intercepta Cp,

ou seja, o evento {algum circuito p-aberto ao redor da origem intercepta Cp}

est´a contido no evento {I0

∞ intercepta algum aglomerado p-aberto infinito}.

Assim, da rela¸c˜ao (3.1),

P(I∞0 intercepta algum aglomerado p-aberto infinito) = 1.

O grafo L2´e transitivo e, portanto, o resultado acima n˜ao ´e v´alido somente

(41)

3.2. Percola¸c˜ao Invasiva em L2 31 Corol´ario 3.2.6. Considere o grafo L2. Sejam x ∈ Z2 e Ix

∞ a regi˜ao invadida

de x. Ent˜ao, para qualquer p > pc, I∞x intercepta o aglomerado p-aberto

infinito P-q.c.

Relembre agora que τ (n) denota o valor do n-´esimo elo invadido. O Teorema 3.1.1 e o Corol´ario 3.2.6 acima afirmam que se p > pc ent˜ao, Pp-q.c,

existe um n´umero natural n0 suficientemente grande, tal que

τ (n) ≤ p, para todo n ≥ n0, (3.2)

ou seja, o conjunto {τe; e ∈ I∞0 } ´e limitado superiormente. Na verdade, vale

algo muito mais forte do que isso.

Teorema 3.2.7. Em L2, as rela¸c˜oes abaixo s˜ao equivalentes:

(i) I0 intercepta o aglomerado p-aberto infinito quase certamente para qualquer p > pc;

(ii) lim supn→∞τ (n) = pc quase certamente.

Demonstra¸c˜ao. Primeiro vamos mostrar que (i) implica (ii). Vejamos: Dado  > 0 pequeno, temos por hip´otese e da rela¸c˜ao (3.2) que existe um n´umero natural n0() tal que,

τ (n) ≤ pc+ , para todo n ≥ n0(),

consequentemente,

lim sup

n→∞

τ (n) ≤ pc+ , (3.3)

e como a rela¸c˜ao acima ´e v´alida para todo  > 0, temos que lim sup

n→∞

τ (n) ≤ pc. (3.4)

Por outro lado, caso fosse

lim sup

n→∞

(42)

32 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva ent˜ao, para qualquer p ∈ (˜p, pc) existiria um n1 suficientemente grande tal

que,

τ (n) < p, para todo n ≥ n1,

ou seja, existiria um aglomerado p-aberto infinito com p < pc. Como isso

ocorre com probabilidade zero, lim sup

n→∞

τ (n) ≥ pc, P-q.c. (3.5)

Portanto, das rela¸c˜oes (3.4) e (3.5), temos que, quase certamente,

lim sup

n→∞

τ (n) = pc.

Agora, vamos assumir que (ii) ´e verdade para provarmos (i). Vejamos: se pc= lim supn→∞τ (n), ent˜ao dado p ∈ (pc, 1), existe n0(p) suficientemente

grande tal que,

τ (n) ≤ p, para todo n ≥ n0(p),

e portanto, a partir do n0(p)-´esimo elo invadido, I∞0 \In00(p)−1 est´a contido em

algum aglomerado p-aberto infinito. Como isso ´e v´alido para todo p > pc e

como para cada parˆametro p da fase supercr´ıtica existe e ´e ´unico o aglomerado p-aberto infinito, temos que, quase certamente, I0

∞ intercepta o aglomerado

p-aberto infinito para qualquer p > pc.

Note que os Teoremas 3.2.5 e 3.2.7 afirmam que P − q.c., lim sup

n→∞

τ (n) = pc (3.6)

Considerando ainda a regi˜ao invadida I0 , sabemos que n˜ao pode ser τ (n) < pc(repare que isso ´e mais forte do que afirmar que lim supn→∞τ (n) ≤

pc) para todo natural n, pois se fosse, a origem pertenceria a um aglomerado

pc-aberto infinito, o que ocorre com probabilidade zero. Logo, quase

(43)

3.3. Percola¸c˜ao Invasiva em Grafos Transitivos 33 rela¸c˜ao (3.6), nos diz que (q.c.) τ (n) atinge um m´aximo (e esse m´aximo ´e maior do que pc).

3.3

Percola¸

ao Invasiva em Grafos

Transiti-vos

Nessa se¸c˜ao vamos estender os resultados da se¸c˜ao anterior para grafos transitivos. Todos os resultados dessa se¸c˜ao fazem parte das se¸c˜oes 2 e 3 de [5].

Defini¸c˜ao 3.3.1. Um grafo G = (V, E) admite percola¸c˜ao uniforme no n´ıvel p se

lim

R→∞x∈Vinf Pp(ω; ∃y ∈ V, |Cy ∩ B(x, R)| 6= 0) = 1, (3.7)

em que a bola B(x, R) de raio R centrada em x ∈ V ´e o subgrafo de G formado por todos os elos de G cujos dois s´ıtios finais distam no m´aximo R de x.

Denote o evento (ω; ∃y ∈ V, |Cy∩ B(x, R)| 6= 0) por A(x). Logo, se G for

um grafo transitivo, para quaisquer x, y ∈ V , temos que

Pp(A(x)) = Pp(A(y)).

Portanto, como h´a percola¸c˜ao em G se p > pc, existe um R suficientemente

grande tal que B(x, R) intercepta algum aglomerado p-aberto infinito, ou seja, grafos transitivos admitem percola¸c˜ao uniforme em todos os n´ıveis p > pc.

Lema 3.3.2. Seja G = (V, E) um grafo infinito, localmente finito com grau m´aximo D e conexo. Ent˜ao, ∀x ∈ V , ∀R ∈ N,

P(I∞x cont´em uma bola de raio R) = 1.

(44)

34 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva

Figura 3.4: O processo de invas˜ao que come¸ca em x dista menos do que R de algum v´ertice y ∈ V \B(x, Ln) pela primeira vez no rn-´esimo passo de

invas˜ao. No caso, y = yn.

rn:= min{k; Ikx dista menos do que R de algum y ∈ V \B(x, Ln)}.

Assim, como a regi˜ao Ix

∞ ´e infinita, rn deve ser finito para todo natural n.

Para cada n, seja yn o v´ertice de V \B(x, Ln) que est´a mais pr´oximo de Irxn

(ver Figura).

Considere agora os seguintes eventos

An= {τe < pc para todo e ∈ B(yn, R)}.

Condicionemos o processo de invas˜ao ao evento An. Dessa forma, ap´os

o rn-´esimo passo de invas˜ao, o ´ultimo elo ern acrescentado a regi˜ao I

x rn

pos-sui um v´ertice em comum com algum elo da caixa B(yn, R), ou seja, ern

´e adjacente com algum elo e que possui tempo de abertura menor do que pc. Assim, caso esse elo e nunca seja invadido, I∞x conter´a um aglomerado

p-aberto infinito em que p < pc. Mas quase certamente n˜ao existem

(45)

3.3. Percola¸c˜ao Invasiva em Grafos Transitivos 35 Por outro lado, como todos os elos da caixa B(yn, R) possuem tempos de

abertura inferiores a pc, todos esses elos ser˜ao invadidos. Portanto,

condici-onado a An, a regi˜ao invadida I∞x cont´em quase certamente a bola B(yn, R).

Consequentemente, o lema estar´a provado se conseguirmos demonstrar que

P(

\

i=1

Aci) = 0. Como j´a observamos no par´agrafo anterior, Ix

rn e B(yn, R) se tocam em

um v´ertice mas n˜ao possuem elos em comum. Portanto, at´e o rn-´esimo passo

da invas˜ao n˜ao possu´ımos informa¸c˜oes sobre os elos da bola B(yn, R), ou seja,

P(An|Ac1, A c 2, ..., A c n1) = P (An) = p vol(B(yn,R)) c ,

em que vol(B(yn, R)), volume de B(yn, R), representa o n´umero de elos da

bola B(yn, R). Por outro lado, como os graus dos v´ertices de G s˜ao

unifor-memente limitados por D, temos que

vol(B(yn, R)) ≤ D+D(D−1)+D(D−1)2+...+D(D−1)R−1 = (D−1)R−1 ≤ DR.

Logo,

pDcR ≤ P(An|A1c, Ac2, ..., Acn1).

e consequentemente pelo Teorema da Multiplica¸c˜ao P(

\

i=1

Aci) ≤ (1 − pDcR)n. (3.8)

Por fim, sabemos do Teorema 1.1.6 que

0 < 1

D − 1 ≤ pc,

e por essa rela¸c˜ao o lado direito de (3.8) tende a zero quando n → ∞.

Relembrando que todo grafo transitivo, infinito, conexo e localmente fi-nito possui percola¸c˜ao uniforme em todos os n´ıveis p > pc, o cap´ıtulo ser´a

(46)

36 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva encerrado com o seguinte resultado.

Teorema 3.3.3. Seja G = (V, E) um grafo infinito, conexo e localmente finito com grau m´aximo D. Se G admite percola¸c˜ao uniforme no n´ıvel p∗,

ent˜ao para qualquer p > p∗ e para qualquer x ∈ V , a regi˜ao invadida I∞x

intercepta algum aglomerado p-aberto infinito P-q.c.

Demonstra¸c˜ao. Fixe x ∈ V , p e p∗ como no teorema. Seja ξpx a vari´avel

aleat´oria que conta o n´umero de elos que possuem um v´ertice final na regi˜ao Ix

∞e o outro v´ertice final em algum aglomerado p∗-aberto infinito. A

demons-tra¸c˜ao do teorema se dividir´a em duas etapas. Inicialmente, provaremos que

P(ξpx∗ = ∞) = 1. (3.9)

Em seguida, mostraremos que para p > p∗,

P(I∞x intercepta algum aglomerado p-aberto infinito | ξpx∗ = ∞) = 1. (3.10)

Com o resultado acima em m˜aos, nosso trabalho est´a feito. Tomando uma sequˆencia enumer´avel {pn}n∈Ntal que pn↓ p∗ o teorema ser´a uma consequˆ

en-cia do Teorema da Continuidade de Probabilidade.

Da hip´otese sobre percola¸c˜ao uniforme, dado qualquer ε > 0 existe um R suficientemente grande tal que

inf

y∈V P(algum aglomerado p∗-aberto infinito intercepa B(y, R)) ≥ 1 − ε.

(3.11) Denote por r o menor inteiro positivo k tal que Ix

k cont´em uma bola de raio

R. Pelo Lema 3.1.10, r ´e finito quase certamente.

Para qualquer subconjunto E0de E considere o seguinte conjunto de s´ıtios

V (E0) = {y ∈ V ; y ´e um s´ıtio final de algum e0 ∈ E0}.

Vamos escolher um conjunto E0 de forma conveniente para mostrarmos

que P(ξx

p∗ = 0) = 0. Em seguida, estenderemos esse resultado e provaremos

que P(ξx

(47)

3.3. Percola¸c˜ao Invasiva em Grafos Transitivos 37 Suponha que E0 seja um conjunto finito contendo alguma bola de raio

R. Nesse caso, pela rela¸c˜ao (3.11), temos com probabilidade de no m´ınimo 1 − ε que existe um caminho infinito p∗-aberto que come¸ca em algum v´ertice

de V (E0)c que est´a a uma distˆancia 1 de V (E0) e que utiliza apenas v´ertices

de V (E0)c. Observe agora que at´e o passo r o processo de invas˜ao n˜ao nos

fornece informa¸c˜oes sobre elos que n˜ao s˜ao adjacentes `a regi˜ao Ix

r. Por isso,

podemos tomar E0 = Irx e concluirmos que com probabilidade de no m´ınimo

1−ε existe algum aglomerado p∗-aberto infinito a uma distˆancia de no m´ınimo

1 de Irx. Logo, P(ξpx = 0) ≤ ε, e como ε foi tomado arbitrariamente, segue que

P(ξpx∗ = 0) = 0. (3.12)

Por outro lado, suponha que ξx

p∗ = n para algum natural n e consideremos o

seguinte conjunto {e = hv, yi ∈ E; v ∈ Ix

∞e y pertence a algum aglomerado p∗-aberto infinito}.

(3.13) Assim, como G ´e localmente finito e ξpx 6= 0, existe uma quantidade finita de elos que est˜ao no aglomerado p∗-aberto infinito que s˜ao adjacentes a elos que

est˜ao no conjunto definido em (3.13). Portanto, se alterarmos o status de cada elo do aglomerado p∗-aberto infinito que ´e adjacente a algum elo de I∞x

para p∗-fechado, a vari´avel ξpx∗que antes assumia valor diferente de zero, passa

agora a valer zero. Em resumo, o evento {ξx

p∗ = n} pode ser transformado

no evento {ξx

p∗ = 0} alterando apenas o status de uma quantidade finita de

elos. Logo, se fosse P(ξx

p∗ = n) > 0, ent˜ao tamb´em seria P(ξ

x

p∗ = 0) > 0. Mas

isso, contrariaria (3.12). Logo, mostramos que

P(ξpx∗ = n) = 0,

para todo natural n. Com isso, obtemos (3.9).

Vamos agora provar (3.10). Pinte de azul os elos que est˜ao em algum aglomerado p∗-aberto infinito. Pinte de vermelho os elos que n˜ao s˜ao azuis

mas que s˜ao adjacentes a elos azuis e comece o processo de invas˜ao a partir do s´ıtio x. Dessa forma, para que o evento {ξx

(48)

38 Cap´ıtulo 3. Percola¸c˜ao Invasiva acontece P-q.c por (3.9)), a regi˜ao invadida Ix

∞ deve encontrar (no sentido

de ser adjacente a elos) uma quantidade infinita de elos coloridos. Se o processo de invas˜ao encontra um v´ertice final de algum elo azul pela primeira vez somente na k-´esima etapa de invas˜ao, ent˜ao no (k + 1)-´esimo passo de invas˜ao o aglomerado p∗-aberto infinito ser´a invadido e da´ı em diante somente

elos p∗-abertos ser˜ao invadidos. De fato, se ek−1 foi o (k − 1)-´esimo elo

invadido, ent˜ao ek−1 e todos os elos da fronteira de Ik−1x possuem tempos de

abertura superiores a p∗, enquanto o elo azul encontrado possui tempo de

abertura inferior a p∗. Portanto, se o processo de invas˜ao encontra qualquer

elo azul, I∞x intercepta algum aglomerado p-aberto infinito. Consideremos

ent˜ao a outra op¸c˜ao, ou seja, o processo de invas˜ao encontra uma quantidade infinita de elos vermelhos. Suponha que um determinado elo e vermelho seja encontrado pela primeira vez. Assim, a distribui¸c˜ao condicional do tempo de abertura τe de e (dada todas as informa¸c˜oes at´e sua invas˜ao) ´e uniforme

no intervalo (p∗, 1] (um elo vermelho ´e necessariamente p∗-fechado). Dessa

forma, o evento {τe < p} possui probabilidade condicional

p − p∗

1 − p∗

> 0. (3.14)

Portanto, como a probabilidade condicional em (3.14) ´e a mesma para todo elo vermelho que ´e encontrado pela primeira vez pelo processo de invas˜ao, pelo Lema de Borel-Cantelli segue, P-q.c, que Ix

∞ encontra infitas vezes elos

vermelhos que possuem tempos de abertura inferiores a p. Por fim, note que se τe for menor do que p, segue do fato de e ser adjacente a um elo

p∗-aberto e de p∗ < p que ap´os a invas˜ao de e somente elos p-abertos

se-r˜ao invadidos, ou seja, o evento {τe < p} implica na ocorrˆencia do evento

{Ix

∞ intercepta algum aglomerado p-aberto infinito}. Logo, como a

probabi-lidade condicional em (3.14) ´e a mesma para toda vez que um elo vermelho ´e encontrado pela primeira vez, a rela¸c˜ao (3.10) ´e uma consequˆencia do Lema de Borel-Cantelli.

(49)

Cap´ıtulo 4

Processos de Crescimento com

Obst´

aculos Paralisantes

Suponha que em um ambiente, um organismo por exemplo, existam trˆes ti-pos de substˆancias (part´ıculas, c´elulas): verdes, vermelhas e brancas. As substˆancias verdes, chamadas de ativas, podem crescer e se juntar com ou-tras substˆancias verdes, mas nunca realizam ataques entre si. As substˆancias brancas s˜ao passivas e podem se tornar verdes ao entrarem em contato com as pr´oprias substˆancias verdes. As substˆancias vermelhas, chamadas para-lizantes, tamb´em s˜ao passivas, mas somente enquanto estiverem isoladas. Se um aglomerado de part´ıculas verdes encontra uma part´ıcula vermelha, o aglomerado verde ´e imediatamente invadido pela substˆancia paralisante, seu crescimento ´e interrompido e ele torna-se vermelho. Nesse cap´ıtulo, nosso ambiente ser´a um grafo G = (V, E) e as substˆancias ser˜ao os s´ıtios do grafo, que admitir˜ao os estados verdes, vermelhos ou brancos. Nossa preocupa¸c˜ao estar´a em saber quando esse modelo est´a bem definido e qual a distribui-¸c˜ao do tamanho de um aglomerado verde imediatamente antes de ter seu crescimento paralisado, ou seja, imediatamente antes de se tornar vermelho. Nas pr´oximas se¸c˜oes o modelo ser´a definido rigorosamente e ser´a mostrado, baseado totalmente no artigo de van de Berg, Peres, Sidoravicius e Vares [1], que se a densidade das substˆancias vermelhas for positiva e a das brancas for suficientemente pequena, ent˜ao a resposta para a primeira pergunta ´e

(50)

40 Cap´ıtulo 4. Processos de Crescimento afirmativa e a distribui¸c˜ao descrita na segunda pergunta possui decaimento exponencial. Para as demonstra¸c˜oes que se seguem, os cap´ıtulos anteriores desempenhar˜ao um papel extremamente importante.

4.1

Definindo o Modelo

Seja G = (V, E) um grafo infinito (ou finito), enumer´avel, conexo e local-mente finito. Cada s´ıtio de G receber´a, aleatoriamente e independentemente dos outros s´ıtios, uma cor, que poder´a ser branca, verde ou vermelha com probabilidades pw, pg e pr, respectivamente. Inicialmente, todos os elos de

G ser˜ao considerados fechados. Um subgrafo conexo maximal de G em que todos os v´ertices s˜ao verdes e todos os elos est˜ao abertos ser´a chamado de aglomerado verde. De maneira an´aloga podemos definir tamb´em aglomerados vermelhos. O aglomerado verde que cont´em o v´ertice v no tempo t ser´a deno-tado por Cg(v, t). Se v n˜ao for verde no tempo t, ent˜ao Cg(v, t) ´e o conjunto

vazio. Portanto, como no in´ıcio da dinˆamica todos os elos est˜ao fechados, os ´unicos aglomerados verdes observados em t = 0 s˜ao aqueles formados por s´ıtios verdes isolados. Para tempos maiores que zero, a dinˆamica do processo acontece da seguinte forma: sempre que um elo e = hw, vi estiver fechado e possuir pelo menos um de seus s´ıtios verde, digamos v, ent˜ao e come¸ca a ficar aberto (e n˜ao imediatamente) a uma taxa de 1 segundo (na verdade, a unidade temporal n˜ao ´e importante). Caso e deixe de estar fechado, o que acontecer´a logo ap´os sua abertura depender´a da cor do s´ıtio w. Se w for branco, ent˜ao w torna-se verde. Se, por outro lado, w for vermelho, ent˜ao cada um dos s´ıtios que est´a no aglomerado verde de v torna-se vermelho. Por fim, se w for verde, nenhuma mudan¸ca de cor ser´a registrada e a ´unica diferen¸ca a ser observada ´e que se os aglomerados verdes de v e w fossem sub-grafos disjuntos antes da abertura de e, ent˜ao agora eles se juntam formando um ´unico aglomerado verde. No primeiro caso, em que w ´e branco, diremos que o aglomerado verde de v cresce absorvendo w. J´a no caso em que w ´e vermelho, diremos que o aglomerado verde de v torna-se paralisado. Por fim, observe que s´ıtios verdes nunca ficam brancos, s´ıtios vermelhos nunca mudam de cor e que a partir do momento em que um elo fica aberto, ele n˜ao

(51)

4.1. Definindo o Modelo 41 voltar´a mais a ficar fechado.

Vamos come¸car nossa an´alise supondo que G ´e um grafo finito. Se G n˜ao tiver s´ıtios verdes, ent˜ao em momento algum elos poder˜ao se abrir e dessa forma nada acontecer´a, ou seja, a configura¸c˜ao a ser observada em qualquer instante t ´e exatamente a mesma configura¸c˜ao que se observou em t = 0. Por outro lado, se G n˜ao tiver s´ıtios vermelhos, ent˜ao elos ir˜ao se abrir e s´ıtios brancos passar˜ao a ser verdes. Mas como G ´e finito, a partir de um momento todos os s´ıtios observados ser˜ao verdes e a dinˆamica n˜ao mais se alterar´a. Portanto, o ´unico caso interessante seria aquele em que existe pelo menos um s´ıtio verde e pelo menos um s´ıtio vermelho. Se assim for, como pelo menos um s´ıtio ´e verde, elos come¸car˜ao a ficar abertos. Mas G ´e finito e existe pelo menos um s´ıtio vermelho, e por isso em algum momento t < ∞ qualquer aglomerado verde necessariamente tocar´a algum s´ıtio vermelho, tornando-se ent˜ao vermelho (paralisado). Portanto, a dinˆamica nesse caso, assim como nos anteriores, tamb´em ter´a um fim. O que se observar´a a partir de um momento ser´a um grafo com s´ıtio vermelhos ou brancos. Ainda nesse caso, observe que como inicialmente todos os elos eram fechados, em cada instante t, todo aglomerado vermelho C possui exatamente um ´unico s´ıtio v que era originalmente vermelho. Diremos a partir de agora que esse s´ıtio especial v ser´a respons´avel por tornar os outros s´ıtio de C vermelhos.

Para um grafo infinito G as intera¸c˜oes do processo n˜ao ser˜ao limitadas como as observadas no par´agrafo anterior e, por isso, a an´alise da dinˆamica em G ser´a muito mais complicada. Aglomerados muito grandes poder˜ao mudar de cor instantaneamente e j´a n˜ao ´e mais claro que em aglomerados vermelhos existe um ´unico s´ıtio originalmente vermelho. Assim, no resto desse texto, nos preocuparemos em estudar o processo em alguns tipos de grafos infinitos e, nesse caso, nossas principais quest˜oes ser˜ao:

1. A dinˆamica em G est´a bem definida? Isto ´e, em qualquer tempo t, cada aglomerado vermelho possui um ´unico s´ıtio originalmente vermelho? 2. Um aglomerado verde ´e finito no exato momento em que se torna

pa-ralisado? Em caso afirmativo, ´e poss´ıvel afirmar que a distribui¸c˜ao do seu tamanho possui decaimento exponencial?

(52)

42 Cap´ıtulo 4. Processos de Crescimento 3. Seja w um s´ıtio originalmente vermelho. Seria finito o conjunto dos s´ıtios originalmente verdes que se tornaram vermelhos devido ao s´ıtio w? A distribui¸c˜ao do volume desse conjunto tamb´em teria decaimento exponencial?

A pr´oxima se¸c˜ao ser´a exclusivamente reservada para enunciarmos o teo-rema que dir´a em quais casos as perguntas acima possuem resposta afirma-tiva.

4.2

Teorema Principal

Antes de apresentarmos o teorema, introduziremos as nota¸c˜oes e defini-¸c˜oes que ser˜ao necess´arias adiante.

A no¸c˜ao de distˆancia em um grafo discutida no Cap´ıtulo 1 traz consigo a no¸c˜ao de diˆametro. Se W ´e um conjunto de s´ıtios de G, ent˜ao o diˆametro de W ´e definido por

max

v,w∈W d(v, w).

Al´em disso, a fronteira de W, representada por ∂W , denotar´a o conjunto de todos os s´ıtios que n˜ao est˜ao em W mas que s˜ao adjacentes com algum s´ıtio de W .

Estamos prontos para enunciar o teorema. Seja G um grafo infinito, conexo, enumer´avel, localmente finito com grau m´aximo D e considere o modelo descrito na se¸c˜ao anterior. Para cada v ∈ G e p ∈ (0, 1), seja ξv(p) a

esperan¸ca do volume do aglomerado de v na percola¸c˜ao de s´ıtios em G com parˆametro p e defina,

ξ(p) = sup

v

ξv(p).

Teorema 4.2.1. Suponha que

(D − 1)ξ(pw) < pr. (4.1)

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