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NECESSIDADE DE ESTUDOS DE IMPACTOS NA INSTALAÇÃO DE UNIDADES PRISIONAIS. Renata Soares Bonavides

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XXV ENCONTRO NACIONAL DO

CONPEDI - BRASÍLIA/DF

DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO

III

JOSÉ FERNANDO VIDAL DE SOUZA

NORMA SUELI PADILHA

(2)

Copyright © 2016 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

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D598

Direito ambiental e socioambientalismo III [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UnB/UCB/IDP/UDF; Coordenadores: José Fernando Vidal De Souza, Leonardo Estrela Borges, Norma Sueli Padilha –

Florianópolis: CONPEDI, 2016.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-154-8

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: DIREITO E DESIGUALDADES: Diagnósticos e Perspectivas para um Brasil Justo.

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Direito Ambiental. 3. Socioambientalismo. I. Encontro Nacional do CONPEDI (25. : 2016 : Brasília, DF).

CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________

Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br

(3)

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF

DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO III

Apresentação

Na atualidade, as questões ambientais congregam as grandes discussões planetária, que

envolvem desde a maximização do PIB de um país, até a possibilidade de inviabilidade de

crescimento de outros.

Neste contexto, os temas ambientais interessam tanto à sociedade, como à ciência. No âmbito

jurídico, o papel do Direito Ambiental tem sido marcado, de forma expressiva, pela tentativa

de conciliar a relação homem e natureza, pela via da preservação da natureza, do

desenvolvimento socioeconômico e da proteção da dignidade da vida humana. Desta

maneira, cada vez mais nos deparamos com situações que exigem uma resposta imediata do

Direito, seja regulamentando novos temas que possuem consequências no mundo prático,

seja criando instrumentos efetivos de proteção e prevenção de danos ecológicos.

A diversidade dos desafios ambientais atuais reflete-se na heterogeneidade dos temas e

trabalhos apresentados no XXV Encontro Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e

Pós-Graduação em Direito (CONPEDI) realizado em Brasília-DF, no período de 6 a 9 de julho de

2016. De fato, no Grupo de Trabalho – Direito Ambiental e Sócioambientalismo III -, que

tivemos a honra de coordenar, os artigos analisam desde temas axiológicos e com forte

fundamentação epistemológica até temas extremamente específicos da prática ambiental.

Ressalta-se, desse modo, a importância do CONPEDI como fomentador da produção de

conhecimento jurídico visando ao desenvolvimento de uma doutrina sólida e coesa do direito

ambiental no país.

Nesse sentido, os artigos apresentados podem ser divididos em blocos. O primeiro, tendo

como pano de fundo a ética e a educação ambiental, com o objetivo de analisar os vínculos

do homem com a natureza, temos o artigo de Ana Christina de Barros Ruschi Campbell

Penna e Lorena Machado Rogedo Bastianetto que discorrem sobre A NOVA ÉTICA

AMBIENTAL CONTEMPLANDO UM OLHAR PARA O “OUTRO”. Por sua vez, Augusto

Antônio Fontanive Leal apresenta artigo sobre A POSSIBILIDADE DA ALFABETIZAÇÃO

AMBIENTAL DA COLETIVIDADE PARA A EFETIVAÇÃO DO DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO.

Destacam-se, também nesta temática, os artigos SOCIOBIODIVERSIDADE E

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de Micheli Capuano Irigaray e Evilhane Jum Martins, e VIDA BOA, IGUALDADE E

SOLIDARIEDADE EM UM MUNDO GLOBALIZADO. REPERCUSSÕES NO DIREITO

AMBIENTAL, de Yuri Nathan da Costa Lannes e José Fernando Vidal De Souza.

Na sequência, encontramos discussão ainda que recorrentes sobre os princípios ambientais

que foram objeto de estudo em quatro artigos: PRINCÍPIOS AMBIENTAIS E O

JUDICIÁRIO BRASILEIRO. PRECAVIDO OU PREVENIDO, de Beatriz Rolim Cartaxo;

PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E O DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FRENTE AO PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA, de Luciana Ferreira Lima e Cláudia

Maria Moreira Kloper Mendonça; e TEORIA DA EQUIDADE INTERGERACIONAL.

REFLEXÕES JURÍDICAS, de Marcelo Antonio Theodoro e Keit Diogo Gomes.

O viés axiológico, ainda se reflete nos artigos que analisam a estreita relação entre meio

ambiente e economia, propondo uma reestruturação dos padrões de produção e consumo com

o objetivo de propiciar o desenvolvimento sustentável em âmbito nacional e internacional.

Nesse sentido, destacamos os artigos A NECESSIDADE DE NOVOS PADRÕES E AÇÕES

PARA CONSUMO E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEIS ATRAVÉS DO PROCESSO DE

MARRAKECH, de Rosana Pereira Passarelli e Frederico da Costa Carvalho Neto e A

JURISDICIONALIZAÇÃO TRANSCONSTITUCIONAL DA PROTEÇÃO

SOCIOAMBIENTAL NO CONTEXTO CAPITALISTA. O DIREITO PLANETÁRIO E A

RELAÇÃO ENTRE O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O MEIO AMBIENTE, de

Caroline Vargas Barbosa e Carolina Soares Hissa.

A discussão e apontamentos para a solução de conflitos ambientais também foi objeto de

algumas apresentações no Grupo de Trabalho. Desta forma, tendo como pano de fundo os

problemas de escassez de água, Rogerio Borba, em seu artigo MUITA SEDE PARA POUCA

ÁGUA. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCASSEZ DA ÁGUA E A

MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS, que analisa

o papel da mediação como meio de solucionar conflitos decorrentes deste grave problema

ambiental e social. No âmbito civil, Tatiana Fernandes Dias da Silva, em seu artigo O

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMO FORMA ALTERNATIVA A

JURISDICIONALIZAÇÃO NA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS, analisa

importante instrumento extrajudicial utilizado para a reparação de danos ambientais. Por fim,

Carolina Medeiros Bahia propõe uma nova perspectiva de abordagem da teoria civilista de

responsabilização para fazer face aos desafios de reparação ambiental, em seu artigo A

UTILIDADE DA INCORPORAÇÃO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE

COLETIVA PARA O SISTEMA BRASILEIRO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR

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Em outro bloco de discussões, o problema da proteção efetiva a determinados grupos sociais

foi objeto de análise dos trabalhos apresentados. Com efeito, os povos indígenas foram objeto

de estudo do artigo O TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DOS ÍNDIOS

ÀS TERRAS NO BRASIL. O PAPEL DA UNIÃO NA TUTELA DOS INTERESSES

INDÍGENAS, de Elaine Freitas Fernandes Ferreira. A tutela jurídica das comunidades

tradicionais recebeu a atenção de Juliana Soares Viga e Cristine Cavalcanti Gomes em A

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA SALVAGUARDA DAS COMUNIDADES

TRADICIONAIS. Já Luana Nunes Bandeira Alves e Girolamo Domenico Treccani voltaram

sua atenção para os problemas fundiários enfrentados pelos quilombolas, em

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E COMUNIDADES REMANESCENTES DE

QUILOMBO. A CRIAÇÃO DE TERRAS QUILOMBOLAS EM ÁREAS PERIURBANAS.

O conhecimento destas comunidades tradicionais foi igualmente objeto de estudo,

inicialmente por João Paulo Rocha de Miranda, em O MARCO LEGAL DA

BIODIVERSIDADE E O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE, e por Romina

Ysabel Bazán Barba e Nivaldo dos Santos, em PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO A

PARTIR DOS SABERES TRADICIONAIS E SABERES CIENTÍFICOS - ATUAL

PROTEÇÃO NO PROTOCOLO DE NAGOYA.

De outro lado, a biodiversidade brasileira, em especial a amazônica mereceu expressivo

destaque de artigos apresentados tendo como objeto a sua proteção. Três artigos tratam

especificamente de instrumentos voltados à proteção deste ecossistema, considerado pela

Constituição Federal como patrimônio nacional: PROTEÇÃO AMBIENTAL COMO VIA

INDIRETA PARA PROTECIONISMO DE MERCADO. ANÁLISE DO SETOR

PRODUTIVO FLORESTAL AMAZÔNICO, de Stephanie Ann Pantoja Nunes;

PROGRAMA BOLSA FLORESTA. CONSTRUINDO UMA AMAZÔNIA

SUSTENTÁVEL, de Artur Amaral Gomes; e SOCIOAMBIENTALISMO NA AMAZÔNIA.

POLÍTICAS PÚBLICAS, IGUALDADE E CARBONO SOCIAL, de Cyro Alexander de

Azevedo Martiniano e André Lima de Lima. Por sua vez, Idelcleide Rodrigues Lima

Cordeiro e Paulo Fernando de Britto Feitoza, em seu artigo UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO. RELEVÂNCIA DA CRIAÇÃO E EFETIVAÇÃO DE TAIS ESPAÇOS

PROTEGIDOS PARA A PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, abordam

especificamente um dos instrumentos criados para a preservação da biodiversidade e

conservação dos recursos ambientais: o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Além disso, o acesso à água, especificamente no que se refere ao saneamento básico no país,

foi o tema do trabalho O DIREITO FUNDAMENTAL À ÁGUA E AS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE SUSTENTABILIDADE LOCAL, de Cleide Calgaro e Paulo Roberto

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Por fim, três artigos versam sobre dois dos principais instrumentos administrativos da

Política Nacional do Meio Ambiente, o estudo de impacto ambiental e o licenciamento. Em

seu trabalho QUESTÃO CONTROVERSA DA COMPETÊNCIA PARA O

LICENCIAMENTO AMBIENTAL, Tereza Cristina Mota dos Santos Pinto demonstra o

clima de insegurança jurídica e a falta de eficácia do licenciamento ambiental decorrente dos

conflitos de competência envolvendo órgãos ambientais das três esferas da federação. No

trabalho O PAPEL DA AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL PARA ADOÇÃO DE

MEDIDAS COMPENSATÓRIAS, Lívia Cristina Pinheiro Lopes e José Claudio Junqueira

Ribeiro analisam como as medidas compensatórias são utilizadas pelos órgãos públicos

durante o processo de licenciamento de determinadas atividades. Por fim, Renata Soares

Bonavides, em seu artigo NECESSIDADE DE ESTUDOS DE IMPACTOS NA

INSTALAÇÃO DE UNIDADES PRISIONAIS, analisa como os estabelecimentos prisionais

devem respeitar, além das normas do direito penal, todas as exigências do direito ambiental a

fim de mitigar os prejuízos e assegurar medidas compensatórias diante dos efeitos danosos

resultantes da edificação desses estabelecimentos.

Diante da diversidade dos artigos apresentados desejamos que todos possam ter uma

agradável leitura dos trabalhos ora apresentados.

Prof. Dr. José Fernando Vidal de Souza – UNINOVE

Profa. Dra. Norma Sueli Padilha - UNISANTOS / UFMS

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NECESSIDADE DE ESTUDOS DE IMPACTOS NA INSTALAÇÃO DE UNIDADES PRISIONAIS.

STUDY OF IMPACTS ON PRISION´S BUILDINGS.

Renata Soares Bonavides

Resumo

É inegável a complexidade em se eleger uma cidade para se erigir estabelecimento prisional.

É certo que nenhuma delas quer receber estabelecimento do estilo. O Estado é quem indica,

por decisão unilateral. Uma vez escolhido, se não existente, o Município deve elaborar plano

diretor, por força do artigo 41, V, da Lei 10257, de 2001. Há também exigência de Estudos

de Impacto Ambiental (EIA). Este trabalho analisará ainda a imprescindibilidade de criação

de lei relativa aos estudos de impacto de vizinhança (EIV) para se avaliar na área econômica

e social local o nível dos impactos e buscar sua possível mitigação.

Palavras-chave: Estudos de impacto, Município, Prisões

Abstract/Resumen/Résumé

There is no doubt the complexity of electing a city to build a prison. It is true that none of

them want to receive this public building. The federated state must decide unilaterally. Once

chosen, if not available, the municipality shall draw up the master plan, under Article 41 V of

Law 10257, 2001. There is also needed the Environmental Impact Analysis (EIA). This paper

will also examine the indispensability of creating law on neighborhood impact studies (EIV)

to evaluate the local economic and social sectors the level of impacts and seek their possible

mitigation.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Impact studies, Cities, Prision

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Introdução

Atualmente as municipalidades no Brasil contam com fórmulas legalmente criadas para a

preservação de interesses socioeconômicos, urbanísticos e ambientais. A sustentabilidade local,

que deve ter por base planejamento urbanístico, é geralmente gerenciada por grupos formados

por agentes públicos e privados atentos às particularidades locais, sobretudo preservação

daquele bioma e de suas características geográficas, históricas e paisagísticas. Nesse sentido,

tanto o caput do art. 182 da Constituição Federal, como também o art. 2º caput da Lei nº 10.257,

de 2001.

Não se pode conceber reformulações no ambiente municipal sem que haja um planejamento

prévio que viabilize alterações arquitetônicas e urbanísticas racionais. Pode-se buscar a

reordenação de determinado espaço urbano ou ainda introduzir obras públicas ou privadas que

possam impactar o ambiente local. Isto quer dizer que cada cidade possui peculiaridades próprias que não poderiam ser apagadas ou mesmo desconsideradas por interesses “superiores” ainda que provenientes de outras esferas federativas demovidas por obras muito necessárias à

coletividade.

É inequívoco o impacto ambiental gerado com a construção de estabelecimentos prisionais nas

cidades e a consequente insegurança pública gerada na população que vive próximo a estes

estabelecimentos. Certamente essa comunidade ficará refém de eventuais fugas, rebeliões,

crimes entre outros tantos problemas.

Parece claro que o artigo 41, V, da Lei 10.257, de 2001, o Estatuto da Cidade, contemple a

obrigatoriedade de plano diretor em cidades eleitas como área adequada à instalação de

estabelecimentos prisionais, sobretudo por essas obras produzirem significativo impacto

ambiental de âmbito regional ou nacional. Além disso, não somente os estudos de impacto

ambiental (EIA) são reputados obrigatórios, mas a lei municipal local deveria exigir os

respectivos estudos de impacto ambiental (EIV) para tais instalações. Isto deveria ser

obrigatório em todas as cidades e não somente em algumas. O Plano Diretor, como instrumento

básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, parte integrante do processo de

planejamento municipal, foi objeto de destaque nesta reflexão.

A pretensão do presente artigo é alertar acerca da importância da criação de uma legislação

urbanística municipal adequada que contemple a obrigatoriedade de Estudos de Impacto de

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Vizinhança (EIV) além do imprescindível plano diretor para cidades “eleitas” como aptas à

construção de estabelecimentos penais, sejam penitenciárias, cadeias públicas, centros de

detenção provisória, hospitais psiquiátricos ou casa do albergado, em razão do impacto

socioambiental causados por estes. A Resolução 237 do CONAMA obriga a elaboração de EIA – Estudos de Impacto Ambiental. Contudo, imprescindível também deveria ser a elaboração de EIV – Estudo de Impacto de Vizinhança para assegurar o atendimento das necessidades dos

cidadãos quanto à sadia qualidade de vida, notadamente à questão da segurança pública ou, ao

menos, medidas compensatórias a estes indivíduos que terão sua segurança ameaçada em face

desse serviço público.

Este estudo pretende sublinhar que os três instrumentos - plano diretor, EIA e EIV - são

fundamentais para se ter um panorama completo dos impactos socioambientais que pode gerar

a construção de estabelecimentos penais em determinada região. Pelo que se verá a área de

influência vai mais além de área rural instalada e, frequentemente, atinge regiões que, antes

distantes, já se tornaram integrantes da expansão urbana, o que gera reflexos indesejáveis a toda

circunscrição citadina. Por este motivo o EIV deveria tornar-se fundamental para resguardar o

futuro da municipalidade e da função social das propriedades situadas no entorno daquela

cidade.

1 – Plano diretor e zoneamento

As propriedades privadas ou públicas atualmente estão legalmente impostas a cumprir regras

superiores que devem ser objeto de observação por parte das edificações, bem como

implantação de atividades de interesse público ou privado: as normas urbanísticas. Estas

existem como necessárias à boa qualidade de vida e atendimento de outras tantas necessidades

humanas para que seja realmente atendido o princípio da função social da propriedade. Não

basta existirem regras relacionadas às dimensões das edificações. É necessário que exista

pertinência do tipo. Ademais, importante o salientado por Letícia Marques Osório e Jacqueline

Menegassi (2002) no sentido de que a sustentabilidade de uma cidade é também determinada

pela qualidade de sua governança. Somente um processo de governança urbana poderia aliar:

desenvolvimento sustentável, justiça social e manutenção de espaços verdes naturais.

Esta manutenção reflete necessariamente custos e também conscientização. Certamente

redundam em benefícios em médio e longo prazo. Porém, nem todos possuem a exata dimensão

do que significa a manutenção adequada de determinados ambientes. Necessariamente esse

(10)

resultado só será alcançado por meio de restrições impostas pelo ente federativo responsável

por tais imposições: os municípios ou, se integrados a regiões metropolitanas nos termos do “plano de desenvolvimento urbano integrado”, previsto no art. 9º, I, do Estatuto da Metrópole (Lei nº 13.089, de 2015), que estabeleceu regras mais completas para a condução de Regiões

Metropolitanas e Aglomerações Urbanas, pelo órgão a cargo da governança interfederativa

daquela entidade.

A intervenção municipal nos espaços urbanos, como ensina Carvalho Pinto (2011, p. 97) é

tradicionalmente estabelecida pelas leis municipais que tratam do zoneamento, alinhamento,

loteamento e código municipal de obras. O zoneamento tem a missão de dividir o território

citadino em zonas e se indica o uso e índices urbanísticos admissíveis em cada uma delas.

Também pelo zoneamento se estabelece os parâmetros construtivos para cada espécie de

edificação, com o objetivo de se alcançar segurança e salubridade. Ao lado dessa norma há

legislação de loteamentos e o código de obras, que indicam as regras construtivas

correspondentes aos usos previstos no próprio zoneamento.

Essas normas atualmente são estabelecidas ou criadas após um plano fundamental de ordenação

do território. Nas palavras de Fernandes de Oliveira (p.30) “a lei mais forte que deve ter o

Município, ao lado da Lei Orgânica, é a lei que institui o plano diretor [...]”

Essa designação é apontada no art. 182 da Constituição Federal que estabeleceu a

obrigatoriedade de todos os municípios acima de vinte mil habitantes (§ 1º), bem como aqueles

que queiram empregar os institutos fixados no (§4º). Ademais, o art. 41 da Lei nº 10.257, de

2001, estendeu a obrigatoriedades a outros municípios.1

Seja por parte do governo municipal ou ainda daquele a cargo da governança interfederativa da

região metropolitana, deve-se estabelecer processo minucioso, contendo todas as peculiaridades

locais, a fim de melhor esquadrinhar a região para que se proceda a um zoneamento adequado

com as respectivas indicações distribuídas no contexto local. Equipe de especialistas podem

1 Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades: I com mais de vinte mil habitantes; II integrantes de

regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal; IV integrantes de áreas de especial interesse

turístico; V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos.

(11)

definir a distribuição das funções essenciais de cada cidade para que não haja qualquer distorção

entre as propriedades existentes e o zoneamento que se impôs a determinada região.

Relativamente a essa particularidade, na prática, o plano diretor participativo, considerando a

necessidade de participação popular nos processos de aprovação na criação e mudança de

planos, pode indicar a capacidade para estabelecer os conteúdos em prol da definição do direito

de propriedade nas diversas áreas territoriais dos municípios.

Nesse sentido, o plano diretor deixou de ser apenas uma peça técnica. Passou a ser norma

construída a partir de opiniões populares que devem interferir nesse processo de construção da

legislação local. Isso porque frequentemente esses grupos eram alijados desses processos

populares a fim de se indicar as reais necessidades locais, sobretudo relacionadas à construção

de moradias populares, entre outras obras de infraestrutura necessárias à habitualidade local.

Esse plano é fundamental para o desenvolvimento das cidades. Além das obrigatoriedades

constantes no §1º do art. 182 da Constituição Federal e do artigo 41 do Estatuto da Cidade,

existem outras normas que contemplam sua confecção, a exemplo da Constituição do Estado

de São Paulo e normas do Estado do Paraná que concedem benefícios financeiros para os

municípios que elaborem esse plano fundamental.

A partir do Plano Diretor as normas urbanísticas que fixam a função social da propriedade

devem corresponder ao zoneamento em que se situam e o município tem melhores condições

para edificar sua sustentabilidade socioeconômica. Contudo, a ausência desses planos não

inviabiliza a implementação de regras urbanísticas com base no poder de polícia. É possível

que se estabeleçam normas impondo limitações ao uso da propriedade. Sem essas restrições

haveria apenas a limitação prevista no Código Civil, de que o proprietário não poderia dar ao

seu imóvel uso nocivo, prevista entre os direitos de vizinhança.

Outro importante fator a ser considerado é que tanto o plano diretor como as leis urbanísticas

oriundas das discussões e aprovações populares devem, necessariamente, ser aprovados pelo

Legislativo local. É imperioso que se atenda a essa obrigatoriedade estabelecida no parágrafo

primeiro do art. 182 da Constituição Federal. Nesse sentido, atende-se ao princípio da

legalidade que exige comando legal para que se imponha restrições de fazer ou não fazer.

Característica fundamental dessas limitações é igualmente o fato de não se indenizar.

(12)

Considerando seu aspecto geral, não se impõe ao Poder Público a obrigação de indenizar pela

restrição consignada em zoneamento.

Nesse diapasão, a construção de Plano Diretor a partir de todas as particularidades existentes

na municipalidade é fundamental para um processo decisório pleno a incorporar todas as

necessidades citadinas. Essa peça, a ser aprovada por lei municipal, deve conter a aprovação

popular. A população também deverá acompanhar seu exato cumprimento pelas autoridades da

municipalidade. Nesse sentido, alerta MUKAI (2008, p. 71) que a promoção de audiências

públicas e debates com a população e entidades representativas de diversos segmentos da

sociedade são fundamentais no processo de elaboração e fiscalização do plano diretor.

2. Espaços Prisionais: características

Os espaços prisionais são inegavelmente obras que demandam uma atenção especial das

diversas administrações envolvidas. Certamente haverá decisões de índole estadual que

deveriam se ajustar às municipais a fim de se permitir a ereção de estabelecimentos prisionais.

Essas obras trazem considerável impacto ao ambiente urbano. Isso pelo elevado número de

pessoas que ali estão recolhidas. Ademais, são inúmeros os resultados negativos decorrentes de

fugas ou rebeliões e também resultantes da superlotação das celas. Indubitavelmente, o entorno

é altamente impactado e gera consequências indesejáveis à paz e tranquilidade locais, sobretudo

à ordem pública.

Visando o entendimento da função da segurança pública, é necessária a interpretação correta da expressão “ordem pública”. Segundo FURTADO (1977, p. 132), é um conceito jurídico definido como “a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam [...]”. A ordem pública é a certeza de

tranquilidade social. Não goza de tranquilidade social quem tem construído próximo ao seu

meio ambiente, seja residencial ou no local de trabalho, um estabelecimento penal.

O artigo 41, V, da Lei nº 10.258, de 2001, impõe a necessidade de elaboração de plano diretor

quando na área de influência de determina região houver empreendimentos ou atividades com

significativo impacto ambiental. Se o município estiver em área região metropolitana, deve

também obedecer aos parâmetros da governança interfederativa previstos no Estatuto da

Metrópole.

(13)

Por outro lado, o Conselho de Política Criminal, em âmbito nacional ou estadual, nos termos

do artigo 64, VI, da Lei nº 7.210, de 1984, estabelece que esse órgão deve opinar acerca das

regras mais adequadas a serem aplicadas sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos

penais e casas de albergados.

Esses diplomas legais indicam termos básicos a serem observados por ocasião da necessidade

de implantação dessas edificações em determinados estados da Federação. A experiência

histórica demonstra que em determinadas localidades os estabelecimentos prisionais

situavam-se em localidades situadas distantes dos centros urbanos. Porém, a expansão urbana provocou

uma aproximação gradativa.

O exemplo dado por ROSA DE ALMEIDA (p. 106, 2014) esclarece que o espaço escolhido,

por exemplo, como penitenciária em Mato Grosso, em 1974, época de sua concepção

arquitetônica, estava distante do fluxo de pessoas, espaços comerciais, ou seja, da região central e do perímetro urbano local. Certamente, a partir dessas decisões se teria “em tese” melhor garantia da segurança. O autor ainda afirma que o Centro Político Administrativo do Estado de

Mato Grosso, na Cidade de Cuiabá, que concentra as edificações de órgãos diretivos estaduais,

está na mesma direção do presídio estadual.

O autor segue ainda em sua pesquisa afirmando que a unidade prisional, antes distante do centro

urbano, está cercada de bairros residenciais de baixa renda e que os eixos de expansão municipal

estão se estendendo. Afirma que o Presidio de Carumbé (atualmente CRC) situava-se em zona

rural. Atualmente o local acolha residências como qualquer outra zona urbana. Existem além

de moradias familiares, também edificações públicas. As escolhas no passado eram baseadas

em lógicas excludentes, ou seja, em regiões distantes e pouco valorizadas.

Na Comarca de Santos, como outro exemplo, há dois estabelecimentos penais construídos: a

Cadeia Pública Feminina, anexa a um dos distritos policiais da Comarca, atualmente desativada

e a Cadeia Pública Masculina, anexa ao 5º Distrito Policial, situada na Zona Noroeste da

Cidade. Os dois estabelecimentos penais foram construídos em perímetro urbano, em bairros

com muitas residências e comércios. Ambos já foram palcos de rebeliões e horror que

repercutiram severamente naquela Cidade.

A cadeia pública masculina, no Município de Santos, também contempla toda forma de

degradação humana. Não se trata de abrigo adequado a um ser humano, razão pela qual, não

(14)

raras vezes, ocorrem fugas e tentativas de fugas. Quem ao redor reside, não descansa e

tampouco possui qualidade de vida condigna. Vivem em estado de constante insegurança e

receio do que pode ocorrer diante do descaso das autoridades competentes.

A Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210, de 1984, consignou adequadamente que as

penitenciárias masculinas, em seu artigo 90, estabeleceu: verbis: “[...] a penitenciária de

homens será construída em local afastado do centro urbano a distância que não restrinja a

visitação.

Outro dispositivo merece atenção, oposto ao referido no parágrafo anterior, que trata das

cadeias públicas. Nessa norma encontra-se a seguinte disposição, verbis: “[...] o

estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximo de centro urbano,

observando-se na construção as exigências mínimas referidas no art. 88 e seu parágrafo único

desta Lei.”

Na cidade de São Vicente foram construídas duas penitenciárias masculinas, um centro de

detenção provisória, uma cadeia pública feminina e uma cadeia pública masculina. As

penitenciárias citadas e o centro de detenção provisória estão situados próximo a residências e

comércios locais. As condições prisionais são desastrosas, o que não deixa dúvidas quanto à

insegurança que causam à população moradora das imediações.

A cadeia pública feminina de São Vicente está localizada bem ao lado de uma empresa de

grande porte e inúmeras residências. Superlotada, com presas provisórias e condenadas, é palco

de degradação humana e ambiental. É possível notar odores fétidos muito próximos ao

estabelecimento. A violação aos requisitos básicos da unidade celular exigidos por lei (artigo

88, parágrafo único, da Lei 7.210/84) é flagrante. Não há salubridade pela concorrência dos

fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana e

tampouco área mínima legalmente exigida.

A cadeia pública masculina de São Vicente, anexa ao 1º Distrito Policial, em pleno centro de

São Vicente, felizmente foi desativada. Fugas, rebeliões, muitas mortes e massacres já

ocorreram no passado até que houve a desativação do estabelecimento.

Observe-se a ereção de abrigos e construções prisionais, por serem altamente impactantes,

enquadram-se na hipótese prevista na Resolução nº 237 do CONAMA2, a qual indica, em seu

art. 2º, que não somente a localização, mas também a construção, instalação, ampliação,

2 CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.

(15)

modificação e operação de empreendimentos e atividades que possam impactar o meio

ambiente por serem efetiva ou potencialmente poluidoras devem ser objeto de licenciamento.

Os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental,

dependerão de licenciamento prévio do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras

licenças legalmente exigíveis.

Nesse diapasão, o Estado da Federação que necessite construir estabelecimentos prisionais deve

elaborar não somente os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) como também o Relatório de

Impactos Ambientais (RIMA), de maneira a identificar as consequências que possam ser

geradas a partir de sua implementação. Essa análise minuciosa indicará as medidas mitigatórias

e possivelmente as compensatórias, nas fases estabelecidas na resolução, de implantação e

operação do que se quer edificar. Portanto, a princípio existe já regulação acerca dos impactos

ao ambiente, não importando se a obra se situará em região urbana ou rural. Os Estudos de

Impacto Ambiental (EIA), com seu respectivo relatório devem obedecer ao trâmite normal,

inclusive com participação popular na aprovação de sua localização.

Assim como é obrigatória a efetivação de licenciamento para a construção. É também

necessário que se mantenham as condições que motivaram sua concessão. Mesmo que a

autorização tenha sido obtida antes da Resolução 237 do CONAMA e das normas ambientais

vigentes, o plano diretor deveria contemplar fórmulas capazes de se viabilizar a salubridade do

entorno da penitenciária e buscar medidas compensatórias devidas pela geração de seus

respectivos impactos.

3. Estudos de Impacto Ambiental.

A obrigatoriedade de Estudo de Impacto Ambiental é expressamente previsto na Resolução

237 do CONAMA. É inegável que os estabelecimentos prisionais geram, por inúmeras razões,

impactos significativos ao ambiente. Assim, há impactos de ordem ambiental que podem ser

observados por meio de simples análise que demonstre gerar externalidades negativas na regiao.

Tanto os Estudos de Impacto Ambiental como o Relatório de Impacto Ambiental têm conteúdo

mínimo que devem ser observados, como “piso de conteúdo”. Nas palavras de Edis Milaré

(2013: 765) esse conteúdo mínimo é previamente fixado pelo legislador e, basicamente, devem

relevar alguns elementos fundamentais: diagnóstico ambiental da área de influência do projeto,

(16)

análise dos impactos ambientais, definição das medidas mitigadoras e programa de

acompanhamento e monitoramento de impactos ambientais.

A princípio deve-se buscar meios para captação de informações relevantes relacionadas ao local

em que se quer estabelecer a obra. Portanto, efetiva-se uma exposição com as interações de

diversos fatores físicos, biológicos e socioeconômicos. Nesse sentido, é imperioso que os dados

captados sejam realmente relevantes e reflitam as condições locais, inclusive acerca dos

recursos naturais que podem sofrer perdas com a edificação e suas eventuais recomposições.

Em um segundo momento de análise, os fatores ambientais são enfocados com melhor

acuidade. Assim, observa-se e identifica-se o tipo de impacto a ser gerado a partir das diversas

fases de implementação do projeto até sua final operação. Certamente aspectos temporais

também serão considerados, inclusive com um aumento, por exemplo, da população carcerária,

que gerará, certamente, consequências indeléveis.

Como terceira medida, após a investigação de possíveis consequências que o projeto e sua

operação possam causar, é realizada uma definição de medidas mitigadoras. Estas devem ser

apresentadas na medida que os impactos são descritos na análise anterior. Portanto, a mitigação

será apresentada de forma preventiva ou corretiva em face dos impactos a serem produzidos

com a edificação e funcionamento do estabelecimento. Indica-se, da mesma forma, qual fator

ambiental que se destina: físico, biológico ou socioeconômico. Outro fator relevante nesta fase

é o elemento temporal. Deve-se indicar período em que as medidas corretivas, indicadas nos

estudos, sejam tomadas para a minimização de impactos.

Finalmente, igualmente necessária é que se fixe fórmula para acompanhar e monitorar as

medidas implementadas e que meça o nível de impacto gerado pelo funcionamento do

estabelecimento prisional. É possível que haja necessidades diversas e que os impactos tenham

aumentado exponencialmente. Novas medidas devem ser propostas pelo próprio órgão

ambiental emissor da licença final.

Fator fundamental é o termo de referência que o Poder Público deve emitir diante das

características do empreendimento. Nele se consignarão todas as consequências que a atividade

deve gerar, inclusive de cunho socioambiental, inclusive com a possível reabsorção do detento

pela comunidade local.

(17)

No Estado de Minas Gerais (TR- EIA), por exemplo, há um termo de referência padrão de

EIA/RIMA referente a estabelecimentos prisionais e complexos penitenciários. Entre as

exigências desse instrumento é que seja elaborado por equipe técnica habilitada, com ART

(Anotação de Responsabilidade Técnica) de cada profissional. Na parte relacionada ao

diagnóstico ambiental existe a exigência de se fazer descrição e analise dos fatores bióticos e

socioeconômicos e suas respectivas interações, de modo a indicar a qualidade da área de

influência que receba o empreendimento e sua capacidade de suporte antes da implementação

de empreendimentos. Nesse mesmo instrumento há os planos de monitoramento.

É também imprescindível a participação popular, nos termos do art. 225, §1º, IV, da

Constituição Federal. Nesses casos não há que se aventar em “segurança do estado e da sociedade” a fim de se manter sigilo (art. 5º, XXXIII, in fine). A publicidade deve ser dada a todos os que direta e indiretamente sejam afetados com o empreendimento. A audiência pública

é a fórmula mais adequada para se viabilizar a participação da sociedade, a partir da exposição

dos elementos existentes no EIA e suas respectivas particularidades, que nem sempre são

favoráveis à construção dessas instalações. As populações em geral, com base nos estudos

realizados naquela localidade, encontrarão diversos motivos para manifestar a contrariedade

naquela edificação, sobretudo na consideração de aspectos socioambientais. Ainda que diversos

problemas sejam relacionados a essa fase de licenciamento, sem esse requisito essencial formal,

a licença não poderá ser emitida.

Relativamente à aprovação ou não do empreendimento Frota et Somlanyi (2015: 65) ensinam

que o processo de licenciamento é etapa crucial para prevenção da violação de direitos. Por esse

motivo deve basear-se nos princípios de equidade social e sustentabilidade local, das funções

sociais da cidade e da propriedade. Além disso, não pode descurar da observância de outros

princípios decorrentes da urbanização e da gestão democrática. A condução de sua aprovação

ou não deveria incorporar de forma inequívoca os anseios da sociedade e das comunidades

afetadas, inclusive admitindo-se a hipótese de não realização das obras em decorrência de

impactos sociais e ambientais indesejáveis.

Destarte, não há como desconsiderar as etapas previstas em lei para a aprovação de projetos

relacionados à edificação de estabelecimentos prisionais. Ainda que existam fórmulas de

mitigação de impactos ambientais, os sociais são relevantes, na maioria dos casos. Nessas

hipóteses, existindo a negativa da sociedade envolvida, o Poder Público deveria buscar fórmulas

para compensar ou mesmo considerar a opinião popular. Na inexistência de outro local, as

(18)

inúmeras expectativas locais poderiam ser compensadas de diversas formas, como abaixo será

indicado.

4. Fórmulas mitigadoras de impactos

O plano diretor participativo indica em seus diversos estudos, submetidos à apreciação popular

em tempo hábil, as possíveis áreas de expansão. O natural é que toda cidade cresça. Diante do

aumento populacional o plano ou outros indicativos locais, caso aquele não seja obrigatório.

Deve-se indicar locais adequados para expansão urbana. Essa tendência é possível ser

verificada por meio dos equipamentos urbanísticos indutores da expansão urbana, a exemplo

de abertura de vias, construção de escolas, postos de saúde, hospitais, centros desportivos, entre

outros tantos.

Observou-se anteriormente que o plano diretor é imprescindível para obras que possam ser

considerados estabelecimentos penais. Contudo, não somente este é imperioso como também a

elaboração dos Estudos de Impacto Ambiental e de Impacto de Vizinhança. Neles será possível

levantar todos os problemas potenciais e reais que o equipamento prisional causará e se

indicarão fórmulas mitigatórias e compensatórias, caso a deliberação popular ou mesmo a

opção do responsável pela obra em não oferecer outra opção para que se construa a instalação.

Outra possibilidade de se enquadrar o estabelecimento prisional é que sua construção ocorra

em áreas consideradas de interesse urbanístico especial e classificar a ereção das edificações

como execução pública de grande porte com alto impacto. Neste tema particular recorre-se ao

ensinamento de Afonso da Silva (2012: 351) que fornece o conceito de áreas de interesse

urbanístico especial. Estas são classificadas em: renovação urbana, operação urbana e consórcio

imobiliário, urbanificação prioritária, formação de núcleo industrial, formação de núcleo

residencial de recreio, execução pública de obras de grande porte, formação de áreas

não-edificáveis e constituição de áreas de lazer.

As áreas de interesse urbanístico especial, segundo o autor, devem ser delimitadas por lei. Sua

ordenação eficaz depende, necessariamente, da elaboração de planos urbanísticos especiais, de

onde exsurge outro problema: a correlação deste com os eventuais planos municipais já

existentes, sobretudo o plano diretor. Nestes dois planos pode existir certo conflito. Porém, o

certo é que a municipalidade tem a competência para a regulação do território local, nos termos

do art. 30, VIII da Constituição Federal. Entretanto, não se pode desconsiderar que o Estado

(19)

pode estabelecer regramento específico para instalação de estabelecimentos prisionais.

Entretanto, a norma não pode desprezar outras que indiquem a necessidade de estudos prévios

de impacto além dos municipais que podem existir para aquela área.

O plano diretor, se existente, deve ser considerado todas as vezes que esses estabelecimentos

prisionais forem contemplados por lei. Esta deve observar os perímetros e as peculiaridades

existentes e não poderia dispensar os EIA para a autorização de funcionamento. Além disso,

considerando que o plano diretor não se restringe ao âmbito urbano, é possível que a

municipalidade indique obrigatoriedade em sua lei de EIV para todo e qualquer

empreendimento que seja efetivado em seu território.

Os eventuais impactos negativos, que se constituem na formulação de hipóteses sobre

modificações ambientais direta ou indiretamente produzidas pelo projeto que se quer

concretizar pode ser obtido pelo EIA e pelo EIV e são conhecidos como “impactos negativos”.

A mitigação ou minimização deles é propiciada pelo oferecimento de um conjunto de medidas

consideradas adequadas para tanto. Essas medidas não se constituem apenas aquelas que

atenuam impactos diversos, mas também podem se revelar em alterações substanciais no

projeto original que possam viabilizar a necessária mitigação. Se a mitigação é inviável os

integrantes da equipe investigativa e opinativa dos instrumentos deve suscitar em medidas

compensatórias.

Importante mencionar que ambos os estudos contemplam área maior do que a considerada de

influência do projeto. São examinados não somente os elementos bióticos mas também os

abióticos e o impacto que devem sofrer em decorrência da atividade. Devem também incidir no

patrimônio histórico-cultural, se existente, ou mesmo em setores paisagísticos possivelmente

presentes na área de influência. O grupo designado impõe metas a atingir e setores a analisar

nos níveis físico, biótico e antrópico.

Contudo, para que esses estudos sejam devidos, inegável a necessidade de previsão legislativa,

tal como já existe em matéria ambiental. Há necessidade de EIA em empreendimentos de

grande impacto. Da mesma forma deveria se impor a confecção do EIV. Há autores que

entendem ser o primeiro mais abrangente que o segundo e que a confecção do primeiro tornaria

o outro dispensável. Cabe sublinhar que há equipes diversas para os dois instrumentos. Um

analisa os aspectos relacionados ao ambiente e a outra equipe estaria mais apta a desvendar

(20)

outros tipos de impacto que redundariam pela expansão urbana ou pela proximidade de

determinado bairro em crescimento.

Importante salientar que o EIA é identificado mais pela tríade investigativa (físico, biótico e

antrópico). O EIV propicia análise que foge desses elementos, analisando aspectos relacionados

à expansão urbana, circulação de pessoas, veículos, cargas entre outros tantos aspectos

relevantes para o crescimento socioeconômico daquela cidade.

Na prática, se observam práticas contrárias a esse posicionamento, tal como ocorreu no

Município de Blumenau, como noticiado no Jornal de Santa Catarina (2014). A prefeitura de

Blumenau exigia em suas normas urbanísticas o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para

grandes obras, a exemplo da construção de unidades prisionais. Ainda que essa legislação

existisse, após demandas de autoridades estaduais, criou-se projeto de lei à Câmara atenuando

a exigência. O Executivo local com isso flexibilizou a exigência para que o Estado iniciasse, o

quanto antes, a construção do novo complexo penitenciário. Essa proposta legislativa, portanto,

permitiu que o governo estadual somente fosse obrigado a entregar o EIV após a emissão do

alvará de construção. Essa ordem deveria ser inversa.

Nesse sentido, todos os elementos que se possam se tornar exigíveis para a manutenção da

sustentabilidade local são imperiosos. Além disso, a decisão em se construir ou não a unidade

prisional, caso isso seja aventado, deve contar com ampla participação dos representantes e da

população. O município deve munir-se de estudos capazes de indicar os impactos futuros e

viabilizar sua mitigação ou compensação, de maneira a assegurar futuro sustentável para sua

população. É constitucionalmente assegurada a participação popular e também sua informação

das consequências que a instalação da unidade pode gerar em termos presentes e futuros.

Conclusões

As municipalidades atualmente contam com planos que podem resguardar a circunscrição que

ocupam de atividades que não sejam de seu interesse, de maneira a preservar interesses

socioeconômicos e ambientais. A população deve ser consultada e sua opinião deveria ser

acatada por autoridades públicas que queiram inserir localmente atividades que possam ser

desinteressantes para seu crescimento ou mesmo de segurança local.

(21)

Os estabelecimentos prisionais devem ser instalados necessariamente no território nacional.

Certamente não são considerados interessantes para a localidade. Os impactos são inúmeros e

as repercussões, via de regra, são negativas.

A necessidade de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) é imposto por meio de norma fixada

pelo CONAMA. É clara a exigência de plano diretor para a criação dessas unidades prisionais,

nos termos do art. 41, V, da Lei 10.257, de 2001, para cidades que tenham “(...)

empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental, de âmbito regional ou

nacional.” Contudo, devem também prever em sua legislação local a aprovação prévia dos

Estudos de Impacto de Vizinhança (EIV), com manifestação da população local. A

obrigatoriedade por meio de legislação municipal é fundamental para que esses estudos com

seus respectivos relatórios sejam efetivamente realizados. A necessidade de maior

regulamentação é fundamental para que, mesmo que imposta por lei estadual, haja

compensação diante dos aspectos relacionados nos estudos efetivados por equipe profissional

devidamente qualificada.

O município deve aprovar lei que contenha os requisitos mínimos estabelecidos no art. 37 do

Estatuto da Cidade. A utilidade do EIV é absolutamente relevante. O estudo verificará grande

número de aspectos que possam estar sobrecarregados com a instalação do serviço. Indicará

possíveis soluções para mitigação. As medidas compensatórias que considerar convenientes

podem ser exigíveis. Se a obra gerar sobrecarga no sistema de distribuição de saneamento ou

outro, deverá o município estudar a contrapartida. Essas ações são absolutamente necessárias

para garantir a sustentabilidade local.

Os impactos dos estabelecimentos prisionais fogem de consequências de ordem ambiental ou

urbanística, que são produzidos em face do expressivo número de internos ou detentos. Os

impactos socioeconômicos são ainda maiores. Por esses motivos, o plano diretor deve incluir

em seus dispositivos fórmulas mitigadoras de impactos, tal como uma medida compensatória

do Estado oferecida pelo acolhimento da instalação. A opinião popular também deve ser

considerada fundamental nessas ocasiões. Desta maneira haveria a plena conjugação de

interesses. Além dos instrumentos obrigatórios, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) pode

ser muito proveitoso a fim de aquilatar os prejuízos e assegurar medidas compensatórias diante

dos efeitos resultantes da edificação desses estabelecimentos.

(22)

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