• Nenhum resultado encontrado

A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS CRENÇAS RELIGIOSAS:

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS CRENÇAS RELIGIOSAS: "

Copied!
348
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação Coordenadoria de Pós-Graduação Stricto Sensu

Arnald Rodrigues de Souza

A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS CRENÇAS RELIGIOSAS:

―Um estudo musicoterápico da Influência da Música na Igreja Presbiteriana Independente Central em Presidente Prudente (2003 – 2016)‖

São Paulo

2016

(2)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS CRENÇAS RELIGIOSAS:

―Um estudo musicoterápico da Influência da Música na Igreja Presbiteriana Independente Central em Presidente Prudente (2003 – 2016)‖

Arnald Rodrigues de Souza

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Maspoli de Araújo Gomes

São Paulo

2016

(3)

S725i Souza, Arnald Rodrigues de

A influência da música nas crenças religiosas: um estudo musicoterápico da Influência da Música na Igreja Presbiteriana Independente Central em Presidente Prudente (2003-2016) / Arnald Rodrigues de Souza – 2017.

348 f. : il ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Maspoli de Araujo Gomes Bibliografia: f. 173-178

1. Música 2. Influência 3. Crença I. Título

LC BX9042.B66

(4)
(5)

DEDICATÓRIA

A minha querida e amada esposa Telma

Andrade Pereira de Souza, companheira e amiga, a

qual no momento em que eu estava decidindo

retomar os estudos em rumo à pós-graduação,

prontamente me incentivou e durante toda a lida

nesta empreita soube compreender minhas

ausências. Aos meus filhos André Felipe Pereira de

Souza e Priscila Pereira de Souza, por igual apoio,

incentivo e compreensão nos dias em que não pude

ser tão presente. Vocês são os maiores

responsáveis por esta conquista.

(6)

AGRADECIMENTOS

Menciono primeiramente Deus, aquele que tenho como Pai das luzes de toda a iluminação em minha existência. Ele tem me mostrado e me capacitado a

trilhar caminhos que sozinho eu não conseguiria.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie pela oportunidade de formação de reflexão;

Ao professor Dr. Antonio Maspoli, pela sábia orientação e solicitude;

Aos componentes da Banca de Qualificação, Dr. Antonio Máspoli, Dr. Ricardo Bitum e Dra. Jacqueline Dolghie, pelas sábias sinalizações e nortes que foram

trilhados para uma boa produção da pesquisa e da narrativa;

Ao pastor Evandro Lucchini pela solicitude e confiança.

Ao pastor Whilliam Souza e a toda a liderança pastoral e musical da IPIC;

Aos músicos e entrevistados em geral da IPIC pela colaboração;

A secretária Ellen pela prontidão em cada informação;

Ao meu pai “in memorian”, pelo constante incentivo aos estudos;

A minha mãe Vana, que sempre me apoiou e acreditou na minha vida acadêmica;

A IPB COHAB, pelo apoio diante das minhas ausências semanais para as aulas presenciais em São Paulo, pelo tempo que foi dedicado na pesquisa de

campo e narrativa da dissertação;

Aos meus colegas de sala de aula, Ezoil Paniagua, José Valter e Marcelo Tolentino, pela amizade e apoio.

Menciono ainda os meus irmãos Michael, pelo Laptop que me deu facilitando meus estudos, registros e pesquisa, e Gabriel, pelos abraços de boa viagem.

Ao Prof. e amigo Lincoln, pela revisão de texto.

Ao colega de turma e tradutor Marcelo Tolentino, pelo abstract.

Muito obrigado!

(7)

“A música livra a alma da poeira da vida cotidiana.”

(Berthold Auerbach)

(8)

SOUZA, Arnad Rodrigues. A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS CRENÇAS RELIGIOSAS ―Um estudo musicoterápico da Influência da Música na Igreja Presbiteriana Independente Central em Presidente Prudente (2003 – 2016)‖.

Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestrado em Ciências da Religião. São Paulo, 2016.

RESUMO

Este trabalho teve como foco verificar a musicalidade na Igreja Presbiteriana Independente de Presidente Prudente a partir de um duplo referencial teórico pelos vieses histórico e cientifico. Como a hipótese é que a crença religiosa da IPIC de Presidente Prudente seja influenciada pela música cantada e ouvida pelos seus adeptos, delimitou-se a pesquisa às músicas mais cantadas nas reuniões cúlticas e preferidas pelos seus sujeitos, bem como ao comportamento estético de alguns sujeitos no auditório com registros fotográficos. A questão orientadora nas ações desta pesquisa foi fundamentada na possibilidade de se desenvolver trabalhos colaborativos em equipe, entre o pesquisador e as pessoas envolvidas nas atividades musicais e administrativas da igreja referida, e de um percentual de adeptos fiéis. Os dados levantados foram resultados de extensa pesquisa de campo, no período de um ano (2015 – 2016), como observante participante nas reuniões cúlticas, realizando registros fotográficos, entrevistas, e aplicação de questionários. Tanto nas observações quanto nos questionários, entrevistas e registros fotográficos, a influência musical nos sujeitos mostrou-se factível e efetiva. Este projeto pode impulsionar a realização de outras pesquisas na Área, servindo como subsídio.

Além de beneficiar outras comunidades religiosas na execução e assimilação e manutenção de suas crenças (dogmas). Este é um trabalho significativo, haja vista a necessidade de uma obra que ao mesmo tempo contemple historicamente e cientificamente a influência da música no meio religioso.

Palavras-Chave: Música. Influência. Crença.

(9)

SOUZA, Arnald Rodrigues. THE INFLUENCE OF MUSIC IN RELIGIOUS BELIEFS. ―A musical therapy study of the influence of the music at the Igreja Presbiteriana Independente Central in Presidente Prudente (2003 – 2016)‖.

Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie Presbyterian University).

Mestrado em Ciências da Religião (Master‘s Degree in Religious Sciences).

São Paulo, 2016.

ABSTRACT

The goal of this paper is to investigate the musicality in the church having as case study the Igreja Presbiteriana Independente de Presidente Prudente (Independent Presbyterian Church in the city of Presidente Prudente), in the countryside of the State of Sao Paulo, in Brazil. The study has double theoretical referential, one is historical and the other, scientific. Since our hypothesis is that the body of beliefs of that church has been influenced by the songs that are sung by its members, we have decided to focus our attention on the most common songs rendered at the worship services, the favorite ones of the community. We also turned our attention to the aesthetic behavior during the worship services when worshippers were singing. That behavior was registered with pictures taken during the services. The results reached here are the product of a collaborative work with the church worship leaders, musicians, as well as, the church leadership and members. The research involved long participative observation and interviews that took place between the years 2015 and 2016. Certainly, this research will inspire and be an important resource to other researches in the same field. Hopefully it will benefit other religious groups as they try to understand and study the processes involved in the music and faith combination or music and body of beliefs (dogmas) combined. The relevance of this paper is the historical and scientific approach of music in a religious context.

Key-words: Music. Influence. Belief.

(10)

La influencia de la música en las creencias religiosas "Un estudio de música como terapia ―, la influencia de la música en la Iglesia Presbiteriana Independiente en Presidente Prudente (2003 - 2016)". Universidad Presbiteriana Mackenzie. Master en Estudios Religiosos. San Paulo, 2016

RESUMEN

Este trabajo tuvo como intención comprobar la importancia de la musicalidad en la Iglesia Presbiteriana Independiente de Presidente Prudente desde un doble marco teórico por los rumbos históricos y científicos. La hipótesis es que la creencia religiosa de la IPIC está influenciada por la música cantada y oída por sus practicantes. Delimitase la búsqueda a las canciones más cantadas en las reuniones y cultos, depreciadas por sus miembros, así como la conducta estética de algunos miembros en el auditorio con registros fotográficos. La cuestión guía en las acciones de esta búsqueda se basa en la posibilidad de desarrollar trabajos con la colaboración de equipos entre el investigador y las personas envueltas en las actividades musicales y administrativas de la dicha iglesia y de uno porcentaje de fieles seguidores. Los datos conseguidos resultaron de extensa búsqueda de campo a lo largo de 01 (un) año (2015 – 2016), como un observador participante en las reuniones y cultos, haciendo registros fotográficos , entrevistas y encuestas. Mismo en las observaciones, cuánto en las encuestas, entrevistas y registros fotográficos, la influencia musical en los miembros se demostró factible y efectiva. Este proyecto puede estimular la realización de otras investigaciones en el área actuando como subsidio.

Además de beneficiar otras comunidades en la aplicación, asimilación y el mantenimiento de sus creencias (dogmas), este es un trabajo significativo, dada la necesidad de una obra que, tanto histórica y científicamente, contempla la influencia de la música en el ambiente religioso.

PALABRAS CLAVE: Música. Influencia. Creencia.

(11)

LISTA DE IMAGENS

Parte III

IMAGEM 1: Ouvido externo e ouvido médio na captação e processar do som

no seu envio ao cérebro 99

(12)

LISTA DE FOTOGRAFIAS Parte III

FOTOGRAFIA 1: Templo da Igreja Presbiteriana Independente (Central) em

Presidente Prudente – SP, 2015 57

FOTOGRAFIA 2: Grupo de louvor da IPIC, 2016 64 FOTOGRAFIA 3: Reunião Cúltica no domingo à noite no Templo da IPIC,

2016 65

FOTOGRAFIA 4: Reunião Cúltica no domingo à noite no Templo da IPIC,

2016 66

FOTOGRAFIA 5: Reunião Cúltica no domingo à noite no Templo da IPIC,

2016 66

FOTOGRAFIA 6: Reunião Cúltica no domingo à noite no Templo da IPIC,

2016 67

FOTOGRAFIA 7: Reunião Cúltica, domingo, às 09h00 da manhã no Templo da

IPIC, 2016 69

FOTOGRAFIA 8: Reunião cúltica, quarta-feira às 20h00, Templo da IPIC,

2016 70

FOTOGRAFIA 9: Reunião Virada Radical: Culto de Jovens, sexta-feira, salão

de festas da IPIC, 2016 71

FOTOGRAFIA 10: Reunião Virada Radical: Culto de Jovens, sexta-feira no

salão de festas da IPIC, 2016 72

FOTOGRAFIA 11: UPGRADE - Reunião cúltica dos Adolescentes realizada no

salão de festas da IPIC, 2016 73

FOTOGRAFIA 12: UPGRADE - Reunião cúltica dos Adolescentes realizada no

salão de festas da IPIC, 2016 74

FOTOGRAFIA 13: UPGRADE - Reunião cúltica dos Adolescentes realizada no

salão de festas da IPIC, 2016 74

FOTOGRAFIA 14: UPGRADE - Reunião cúltica dos Adolescentes realizada no

salão de festas da IPIC, 2016 75

FOTOGRAFIA 15: Reunião Cúltica, Célula residencial, 2016 77

FOTOGRAFIA 16: Reunião Cúltica, Célula, 2016 78

FOTOGRAFIA 17: Reunião Cúltica, Célula, 2016 79

(13)

FOTOGRAFIA 18: Reunião Cúltica, Célula, 2016 79 FOTOGRAFIA 19: Reunião Cúltica, Célula, 2016 80 FOTOGRAFIA 20: Reunião Cúltica, Célula, 2016 82 FOTOGRAFIA 21: Reunião Cúltica, Célula, 2016 82 FOTOGRAFIA 22: Reunião Cúltica, Célula, 2016 83 FOTOGRAFIA 23: Reunião Cúltica, Célula, 2016 83 FOTOGRAFIA 24: Líder geral da IPIC, pastor Evandro Lucchini (à esquerda)

em entrevista com o autor, 2016 86

FOTOGRAFIA 25: Líder da música na IPIC(desde 2003) pastor Whilliam de Souza Ramos em (á direita) em entrevista com o autor, 2016 87 FOTOGRAFIA 26: Tratamento (protótipo) revestimento acústico para parede

do Templo da IPIC 88

FOTOGRAFIA 27: Sonoplasta na Cabine de Som do Templo da IPIC (desde 2013) - Amando Novaes Silva (à direita) em entrevista com o autor, 2016 89 FOTOGRAFIA 28: Líder de grupo musical da IPIC - Yasmim Bispo Câmara (à esquerda), em entrevista com o autor, 2016 90 FOTOGRAFIA 29: Líder de Grupo Musical (2013-2016) Rachel Moreira (à

esquerda) em entrevista com o autor, 2016 91

FOTOGRAFIA 30: Pianista (1993-2016) Ruth Cintra Damião dos Santos (à

esquerda) em entrevista com o autor, 2016 92

FOTOGRAFIA 31: Pianista e líder de música com crianças (desde1970) Érica de Campos Visentini da Luz (à esquerda) em entrevista com o autor, 2016 93 FOTOGRAFIA 32: Pianista e regente do Coral (1961-2016) - Odette Telles de Moraes (à esquerda) em entrevista com o autor, 2016 94 FOTOGRAFIA 33: Secretaria da IPIC: coleta de dados com a secretária Ellen

Teixeira Neves (à direita), 2016 95

(14)

LISTA DE TABELAS Parte III

TABELA 1: Relação das atividades por minutos na reunião cúltica que ocorre

domingo à noite 68

TABELA 2: Relação das atividades por minutos na reunião cúltica, quarta-feira

à noite. 71

TABELA 3: Relação das atividades por minutos na reunião cúltica Virada

Radica, voltada aos jovens 73

TABELA 4: Relação das atividades por minutos na reunião cúltica UPGRADE,

voltada a faixa etária adolescente 76

TABELA 5: Relação das atividades por minutos, reunião cúltica em Célula 78 TABELA 6: Relação das atividades por minutos, reunião cúltica em Célula 81 TABELA 7: Relação das atividades por minuto na reunião cúltica em Célula 84

TABELA 8: Músicos Entrevistados 97

TABELA 9: Respondentes dos Questionários 97

TABELA 10: Teologia das letras das musicas no % de qualificação 98

TABELA 11: Avaliação da Acústica (volume) do Templo em % 98

TABELA 12: ―ethos‖ sentimentos vivenciados pelos respondentes 100

TABELA 13: Músicas captadas nas reuniões cúlticas e analisadas 147

TABELA 14: Músicas captadas nos questionários e analisadas 170

(15)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

PARTE I FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA-TEOLÓGICA 26 1.1 Adoração com cânticos e hinos na Bíblia 29

1.2 A música na Bíblia (Antigo Testamento) 32 1.2.1 Sua origem e surgimento nos relatos bíblicos 32

1.2.2 Os músicos 33

1.2.3 Instrumentos musicais 33

1.2.3.1 Instrumentos de cordas 34

1.2.3.2 Instrumentos de sopro 34

1.2.3.3 Instrumentos de percussão 35

1.3 A música na Bíblia (Novo Testamento) 36

PARTE II FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICO-TEOLÓGICA 39 2.1 A música na Patrística e nos Concílios 41

2.2 O uso da música na Reforma Protestante 43 2.2.1 Estilos musicais religiosos na igreja do século XVI – XX 43

2.2.1.1 Martinho Lutero 44

2.2.1.2 João Calvino 45

2.3 O uso da música nos movimentos de avivamento 47

2.4 A música sacra europeia na igreja evangélica brasileira 48

2.4.1 O pietismo 50

2.4.2 Protestantismo peregrino 51

2.4.3 Protestantismo guerreiro 52

2.4.4 Protestantismo milenarista 52

2.5 A teologia das músicas em forma de “cânticos/corinhos” 54

(16)

2.5.1 Cântico do monopólio do Espírito 54

2.5.2 Cântico da guerra santa 55

2.5.3 Cânticos do andar de cima 55

PARTE III FUNDAMENTAÇÃO CONTEXTUAL: IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE CENTRAL EM PRESIDENTE PRUDENTE 57

3.1 A institucionalidade 58

3.2 A sua crença religiosa 60

3.3 A ênfase no valor da música 61

3.3.1 A eclesiologia musical 61

3.3.1.1 Observação nas reuniões cúlticas 63

3.3.1.2 Entrevistas com os músicos 84

3.3.1.3 Questionários aos músicos e leigos 94

3.4 Músicas captadas nas reuniões cúlticas 101 3.4.1 Análise das músicas das reuniões cúlticas 145 3.5. Músicas captadas nos questionários 148

3.5.1 Análise das músicas dos questionários 169

CONCLUSÃO 171

REFERÊNCIAS 173

ANEXOS 179

Anexo 1 Entrevistas aos músicos 179

Anexo 2 Questionário aos músicos e leigos 180

Anexo 3 Caderno de Cânticos 182

(17)

INTRODUÇÃO

A música na religiosidade em geral tem sido, em toda a sua história, elemento utilizado pelos seus adeptos no culto religioso em louvor e adoração à divindade, bem como no assimilar de suas crenças doutrinárias, redundando na vivência cotidiana de seus fiéis. A mesma vivência pode ser vista na religiosidade cristã da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

Segundo Hodge (1995, p. 258) ao fazer uso da Confissão de Fé de Westminster, o qual é adotado pela IPIC, faz o seguinte comentário:

A adoração de Deus na reunião pública consiste na leitura, pregação […] canto de hinos […]. Deus comunica-se com nossas almas e entra em aliança com elas, e nós também nos comunicamos e aliançamos com Ele.

Nesse encontro pactual entre os religiosos e a divindade pelo viés musical, acredita-se que venha ocorrendo influência na formação dogmática dos fiéis adeptos da religião. Tal pressuposto encontra-se postulado no campo das Ciências da Religião:

Enquanto os textos sagrados apontam o ideal de uma religião, documentos históricos da mesma mostram como ela realmente é:

Revelam a mudança constante de sua doutrina e prática, o afastamento gradual de suas antigas normas e a criação de novas (GRESCHAT, 2005, p.56).

No contexto da religiosidade protestante, no que tange as Igrejas

Presbiterianas no Brasil, da qual o pesquisador é adepto nos últimos 40 anos, tem-

se observado nos últimos 20 anos, ―in loco” e em literaturas da História da música na

igreja, a existência de polarizações, no qual de um lado está o passado hinológico,

arraigado a tradição histórica, que luta para preservar a sua prática cúltica; e de

outro lado, está a musicalidade dos novos movimentos religiosos que vem

influenciando os músicos e consequentemente a sua membresia.

(18)

De acordo com Bañol (1993, p. 51) ―A música tem um efeito direto nas pessoas [...]. Psicologicamente, realiza muito: pode nos relaxar, fazer recordar ou ter toda classe de sentimentos, dependendo do que projetamos sobre a mesma‖.

A própria defesa da reeducação pela música denota o quanto ela influi sobre o ser humano conforme pontuado em ―Introduction a la musicothérapie‖, na qual se afirma que: ―por meio do ritmo e do som, a música atinge a motricidade e a sensorialidade; e por meio da melodia, atinge a afetividade; inteligência e afetividade em questão‖ (Abílio & Fraga, 1990, p.59).

Durante toda história da religião, no que se refere ao protestantismo brasileiro, tem-se cuidado muito bem da pregação retórica, assim como da formação teológica de seus pastores, e enxerga-se positivamente tal atitude. Devemos discutir, porém, o acompanhamento dos líderes teologicamente preparados junto a seus músicos, bem como possibilitar um melhor preparo destes para que tenham condições de analisarem melhor as músicas que são utilizadas em suas reuniões cúlticas e de ensino, e, o devido cuidado e importância que a reunião necessita ter, devido ao seu poder de influência que opera no ser humano no momento em que se canta. Esta música, com seus elementos 1 tem influenciado grandemente o ser humano na sua religiosidade em toda a história.

A consciência de várias culturas quanto a influência da musica na formatação comportamental de um povo (LEINIG, 2009, p. 40) postula sobre a importância que é dada por algumas civilizações quanto as músicas ouvidas e cantadas por sua população:

1

Os elementos da música: ―(a) ritmo: do grego ―rhytmos‖, aquilo que flui ou se movimenta‖; onde há

matéria, onde há vibração, movimento, vida, aí está o ritmo, componente fundamental da música. (b)

A melodia, do grego ―melos‖, doce suave; e ―ode‖, canto doce, suave. Ela é o substrato da música, a

fábrica de emoções. E por fim, (c) a harmonia, invenção do homem, sofisticação do som para agradar

ao ser humano. Nasceu por volta do século IX: tem como objetivo a formação e o encadeamento dos

acordes. L.A. SACONI, mini dicionário da língua portuguesa, p. 473. ― Melodia é a sucessão de

sons musicais ascendentes e descendentes, a diferentes intervalos, cuja força vital lhe

advém não apenas de uma combinação regular de valores, mas, em especial, da

acentuação que o ritmo lhe imprime‖. Vide Clotilde, LEINIG, A música e a ciência se

encontram ―Um estudo integrado entre a Música, a Ciência e a Musicoterapia‖, 2009, 82.

(19)

Na Civilização Chinesa, os filósofos chineses preocupavam-se muito com a música de seu país. Para eles, a música transmitia verdades eternas e influía no caráter do homem para torná-lo melhor; por isso, excluíam a música vulgar e sensual pela influência imoral que exerceria sobre o ouvinte. Na Civilização Hebraica, esta, tida como o povo da Bíblia, o livro sagrado, concebe que: ―As notícias sobre a civilização hebraica derivam-se quase que exclusivamente da Bíblia e consequentemente a música‖.

O tema foi escolhido pelo fato de o pesquisador ver-se motivado e desafiado a trabalhá-lo e poder contribuir de alguma maneira com o melhor uso da música nos espaços religiosos, acreditando no transcender de tal prática em outros espaços da sociedade. Por estar familiarizado com a arte musical e também por pertencer ao meio religioso protestante e conhecer a liderança teológica e musical da IPIC, ponderou-se na viabilidade do trabalho.

Assim como para a igreja é de suma importância ter pastor com formação teológica que resultará em prédica e liturgia cúltica teocêntrica em suas atividades, assim também há grande importância na execução da música com cunho protestante reformado para que não haja paradoxalidade teológica entre prédica e música, pastor e músicos.

Segundo (FAUSTINI, 1980, p.7) ―A história da música é a história do Culto, em suas origens e em cada ponto de sua evolução‖.

Considerando o devido valor que cabe as demais artes (cinema, teatro, arquitetura, etc.), assim como a leitura, a prédica, todos esses, como agentes influenciadores e transformadores na religiosidade presbiteriana brasileira, sem cair em reducionismo pretensioso e absolutista, escolheu-se trilhar pelo viés da música para dissertar sobre tal tema, entendendo a forte ligação entre música e religião, uma vez que no campo das artes, na música também se tramita sentimentos e ideias religiosas.

A presente pesquisa tem como foco a música e a sua influência na

assimilação e na manutenção das crenças religiosas. Portanto não se trata de

trabalho teológico ou litúrgico, conquanto o trabalho se deu em ambiente cúltico.

(20)

Sendo assim, foram utilizadas as expressões ―música cúltica‖ e ―reuniões cúlticas‖

por revelarem caráter sociológico.

Com isso traça-se o objetivo principal de verificar as músicas utilizadas nas reuniões culticas da IPIC de Presidente Pudente, assim como, os grupos musicais que atuam na igreja, com seus recursos instrumentais e vocais, sonoplastia, e o ambiente onde são realizados os Cultos. Formula-se a hipótese do contexto dos músicos serem geridos, em boa parte, por líderes leigos quanto aos dogmas norteadores da igreja, e, portanto pouco aptos para a análise dogmática das letras das músicas que utilizam nas reuniões cúlticas, afetando a volição e cognição dos fiéis adeptos, resultando no assimilar de crenças diferentes da professada pela IPIC Presidente Prudente.

A acessibilidade às redes sociais e à mídia como um todo vem disponibilizando o rápido importar e cantar as músicas não autóctones do protestantismo Presbiteriano, do qual o objeto de estudo faz parte. A avidez pela novidade no meio religioso e suas implicações, salienta Camurça (2008, p. 97), que:

Há um pleno engajamento do corpo e dos sentidos na experiência religiosa, por meio do canto, dança êxtase, glossolalia. Correlato a isto, uma grande desconfiança em relação a doutrinas, teologias e intelectualização das crenças, preferindo-se as ―formas não verbais de expressão religiosa‖ contida nestes movimentos onde inexiste a ideia de pertença, a ideia de obrigação estável para com o grupo.

Entra-se e sai deles com facilidade, resultando assim no declínio geral do compromisso religioso dos indivíduos para com qualquer sorte de definição ou credo, o que leva as ligações cada vez mais passageiras, quando a religião fica reduzida a um item de consumo.

A partir da hipótese traçada, o trabalho deu-se em estudar a musica na IPIC

de Presidente Prudente. Sendo assim, demarcam-se objetivos específicos: 1)

Analisar, por meio do método histórico-social as músicas mais cantadas no que

tange as letras e tonalidade; 2) Analisar e compreender pelo viés da musicoterapia o

processo de assimilação das músicas com suas letras que trazem conceitos,

crenças.

(21)

No campo da ciência Musicoterápica 2 , encontram-se descrições do processo de conduta musical, que influencia o ser humano no uso de sons e movimentos para o desenvolvimento individual e coletivo do potencial humano via existência dos hemisférios cerebrais presentes no ser:

―Onde o hemisfério esquerdo é o melhor para o pensamento verbal, lógico, quantitativamente e analítico, enquanto o hemisfério direito é mais hábil visualmente e na percepção do espaço, sendo mais artístico, musical, emocional e criativo, elementos tão importantes na cura com a música. O ouvido trabalha como um tradutor transformando a energia mecânica de ondas sonoras em potências nervosas, que atuam sobre o tímpano‖ (BAÑOL, 1993, pp. 18- 37;181-3).

Ainda segundo Leinig (2009, p. 397) em sua abordagem sobre a importância da música enquanto arte, afirma que:

A música desempenha um grande papel na formação do caráter, que seja moral como civicamente, desenvolvendo-lhe a personalidade e o equilíbrio emocional [...] é um ótimo meio de comunicação e de agregação, com grande poder de penetração, e é nesta verdade que reside o seu imenso valor educativo e terapêutico.

Outras postulações em defesa da importância da música enquanto linguagem são compactuadas por outros autores: ―A música é uma linguagem universal que ultrapassa os limites da palavra [...] é a nossa mais antiga forma de expressão, mais antiga do que a linguagem ou a arte; começa com a voz e com a necessidade preponderante de nos dar ao outros‖ (MENUHIN e DAVIS apud PENNA, 2005, p.

19).

2

Musicoterapia é a utilização da música e\ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapêuta e pelo cliente ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e interpessoal e consequentemente uma melhor qualidade de vida.

LEINIG, C. E. A música e a ciência se encontram – Um estudo integrado entre a música, a

ciência e a musicoterapia, p. 412

(22)

Além do tramitar pelo viés histórico, escolhe-se também o postular Musicoterápico, porque tal ciência explica o ―ethos‖, poder de influência da música sobre o ser humano, mostrando a intrínseca ligação entre ambos em que melodia, harmonia e ritmo afetam diretamente o ser humano dicotômico 3 na sua integralidade cognitiva e volitiva.

Segundo Bañol (1993, p. 51): ―Psicologicamente, o ―ethos‖ enquanto poder de promover relaxamento, trazer recordações, ter toda classe de sentimentos, dependendo do que projetamos sobre a música‖. O mesmo autor (BAÑOL, 1993), quanto ao processo de influência musical através do ―ethos‖ 4 , explica da seguinte forma:

a) etho frígio - excita coragem.

b) etho eólio - desperta o altruísmo.

c) etho lídico - promove tristeza, compaixão.

d) etho dórico - leva ao recolhimento.

Segundo Nasser (1997, p. 242) na concepção grega de ―ethos‖, ele afirma que:

Os gregos acreditavam que existia uma correlação profunda entre os sons musicais e os processos naturais capazes de influenciar a conduta humana: O elo que transforma essa força em música era determinado por pequenos grupos melódicos que serviam como unidades estruturais para compor melodias mais extensas. Esses grupos eram denominados pelos gregos de nómos, plural nómoi, e

3

Dicotomia (visão reformada) é a ideia de que o homem é composto de duas partes (corpo e alma\espírito). A palavra alma é também usada em todos os sentidos em que se pode usar espírito. O homem é tido, tanto como ―corpo e alma‖, quanto como ―corpo e espírito‖.

Conforme os vários textos sagrados Bíblicos: Mateus 10.28; I Coríntios 5.5; Tiago 2.26; I Coríntios 7.34; 2 Coríntios 7.1; Romanos 8.10; Colossenses 2.5. E ―alma ou ―espírito‖

abarca todo o lado imaterial da existência humana. Vide W. GRUDEM , Teologia sistemática, p. 338-91.

4

―Ethos‖ é uma palavra com origem grega, que significa "caráter moral". É usada para descrever o conjunto de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação. O

―ethos‖ no âmbito da música é usado para se referir à influência da música nas

emoções dos ouvintes, nos seus comportamentos e até mesmo na sua conduta.

(23)

representavam toda a força dinâmica da música. Esse princípio tem sua origem, e grande significação, na música das culturas orientais, mas é somente na Grécia que atinge seu desenvolvimento máximo com a doutrina do ethos.

Tais postulações de (HODGE; GRESCHAT; BAÑOL e LEINIG, 2009) leva-nos a observar que o conceber, o fortalecer e ou enfraquecer das convicções dogmáticas pode ocorrer através das músicas ouvidas e cantadas pelos sujeitos.

Para buscar a confirmação da hipótese e alcançar os objetivos propostos, apoiou-se em discussões teóricas na área das Ciências da Religião.

Conforme Greschat (2005, p. 107) ―As Ciências Sistemáticas da Religião enxergam algumas coisas além do que outros veem; o que está por trás da religiosidade; qual o elemento subjacente‖.

Pelo fato da música e sua influência na crença religiosa ser nosso tema, as teorias de Mendonça (1995) e Leinig (2009) fundamentaram todo o trabalho.

As teorias de Mendonça pelo viés histórico trazem postulações quanto a fé explícita nas músicas em ambiente religioso, encontrando apoio em outros autores históricos, tais como Faustini (1980) em sua obra Música e Adoração, que discorre sobre a presença forte da música na Comunidade Religiosa, e a mesma enquanto meio importante de adoração a divindade. Bágio (1997), em sua obra Revolução na música gospel, abordou os polos conflitantes entre gêneros musicais e a necessidade de um equilíbrio entre cânticos e hinos. Hustad (1991), na clássica obra A Música na Igreja: Jubilat; e Shedd (1991) em sua obra Adoração Bíblica, dissertam com maiores pressupostos históricos e bíblicos teológicos, sobre a importante presença da música, e como poderá ser utilizada com maior proveito na vida da Comunidade Religiosa que se propõe a adorar a divindade.

No que tange as obras no campo da ciência musicoterápica 5 , há importantes autores, dentre eles: Leinig (1997, 2009), Bañol (1993), Fraga (1990), com uma

5

[...] no que concerne ao conhecimento da universalidade da música, a riqueza de suas

conexões com as diversas ciências e do papel importante que ela desempenha como

agente terapêutico [...] e o adentrar as fronteiras do conhecimento científico, na

individualidade de cada uma das ciências que se conectam com a música, é compartilhar da

emoção que os estudiosos experimentam na busca da auto compreensão. Vide Clotilde,

(24)

abordagem de maior foco científico musical, discorrendo sobre a forte influência da Música sobre o ser humano.

Leinig em sua obra: A Música e a Ciência Se Encontram – ―Um Estudo Integrado Entre a Música, a Ciência e a Musicoterapia‖ (2009), traz neste livro um manual completo sobre a música e todos os aspectos em que ela se insere em nossas vidas, e exatamente por isso tem-se uma obra tão extensa abordando a presença da música na vida do ser humano, e este com suas múltiplas reações diante dos efeitos causados por ela.

A partir deste duplo referencial teórico pelos vieses histórico e científico, vê-se quão importante é esta pesquisa, haja vista a necessidade de uma obra que contemple historicamente e cientificamente a música no meio religioso e sua influência nas crenças de seus adeptos, influência esta, que por sua vez poderá construir e desconstruir, ditar e alterar comportamentos. Sendo assim, na busca de alcançar os objetivos da pesquisa, escolhe-se o método histórico-social para a realização do trabalho, além da pesquisa bibliográfica, realizar uma extensa pesquisa de campo na IPIC, ora no Templo de reuniões cúlticas de maior frequência para todas as faixas etárias, ora no Salão de festas com reuniões cúlticas voltadas para faixas etárias diferentes, e ora nas residências com reuniões cúlticas para menores grupos.

Como a hipótese é que a crença religiosa da IPIC Presidente Prudente está sendo influenciada pela música cantada e ouvida pelos seus adeptos, delimita-se a pesquisa ao repertório de músicas cantadas nas reuniões observadas e preteridas pelos respondentes dos questionários; ao comportamento estético de alguns sujeitos no auditório com registros fotográficos; aos músicos, líderes musicais, ao sonoplasta, e aos pastores através de entrevistas. E por fim, a um percentual de membros de todas as faixas etárias através de questionários, e a acústica do espaço geográfico onde ocorrem as reuniões cúlticas de maior concentração de pessoas.

Vale ressaltar que o pesquisador participou de sete reuniões cúlticas e aplicou questionários em quatro delas.

LEINIG, A música e a ciência se encontram ―Um estudo integrado entre a Música, a Ciência

e a Musicoterapia‖, 2009, 27.

(25)

As fotos e falas registradas nas entrevistas e questionários foram utilizadas para a análise e a construção do texto, uma vez que todos os sujeitos participantes das mesmas ao serem questionados pelo pesquisador quanto à publicação, não houve nenhum tipo de restrição. Sendo assim, a autorização foi cem por cento dos sujeitos participantes.

Neste sentido, destacando aqui, o uso da música, bem como a sua influência

no sujeito religioso, o presente trabalho é desenvolvido em três partes com

fundamentações distintas, sendo elas, sucessivamente: Bíblica teológica, histórica

teológica e Contextual. Vale ressaltar que em todas as fundamentações houve o

postular científico da musicoterapia, o que certamente não poderia faltar.

(26)

PARTE I

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA TEOLÓGICA

Uma vez que no presente trabalho o objeto de estudo se trata de grupo religioso protestante, o qual usa como referência dogmática a Bíblia Sagrada, inicia- se esta fundamentação amparada nos pressupostos da Sociologia da Religião, segundo a afirmação de Greschat (2005, p. 48), quando aborda a valorização dos textos religiosos:

―Em nenhum outro lugar textos religiosos são tão valorizados quanto no Ocidente. Desde o invento da imprensa pelo alemão Gutemberg, a Bíblia – ―O Livro‖ – é considerada o melhor de todos os missionários [...] Autoridades comunistas não temem nenhum outro livro mais do que a Bíblia‖. Textos sagrados são também valorizados em outras religiões [!].

Segundo Paul McCommon, (1981, p. 9), dos ―66 livros que compõem a Bíblia Sagrada, 44 referem-se à música [...]. Há na Bíblia 575 referências à música e ao cântico‖.

Conforme Greschat (2005, p. 49), ―Enquanto os textos sagrados apontam o ideal de uma religião, documentos históricos da religião mostram como ela realmente é‖. O mesmo autor (2005, p. 58) faz menção a Max Muller 6 que valoriza os textos sagrados na pesquisa religiosa, a ponto de incentivar outros a tradução de diferentes textos sagrados.

Cada religião possui seus valores, crenças, tradições e costumes. Em visitas e entrevistas na Igreja Presbiteriana Independente de Presidente Prudente, objeto de estudo desta pesquisa, constata-se o uso dos textos sagrados bíblicos como premissa dogmática de práticas religiosas, cuja narrativa aborda inúmeras referências musicais. Tais constatações são abordadas em capítulos posteriores.

Sendo assim, entende-se ser relevante tal fundamentação bíblico-teológica.

6

Friedrich Max Müller (1823 – 1900) pai da Ciência da Religião.

(27)

Ainda segundo Harrington (1985, p. 5), ao postular sua definição sobre o livro Sagrado – Bíblia, diz que:

―A Bíblia Sagrada é, ao mesmo tempo, histórica e doutrinal, contendo a revelação que Deus fez aos homens [...], contando a história através dos dois Testamentos ou alianças (antigo e novo) [...]

realizada com o povo hebreu‖.

No campo cientifico da Musicoterapia destaca-se a inferência Bíblica quanto a música e seu poder de influência no ser humano, no postular de (LEINIG, 2009, p.

41) ao se referir a civilização hebraica que tem suas notícias derivadas quase que exclusivamente da Bíblia e consequentemente da música, destacando o “ethos”

presente no ato ―musicoterapêutico realizado por David que, com sua lira conseguia acalmar os ataques de fúria que acometiam o rei Saul‖.

Na Bíblia Sagrada é presente ―o relato do uso do canto e de instrumentos musicais na vida da nação judaica em sua história, relacionada intimamente ao culto ao ofertarem os holocaustos. Porém já na época de Cristo, devido à perseguição aos cristãos, o culto público de adoração coletiva passa a não ter tanta frequência quanto antes. O uso geral da música no culto quase desaparece", explica McCommon (1981, p. 11).

Conforme o Manual Presbiteriano 7 : o culto público é um ato religioso, através do qual o povo de Deus adora o Senhor [...] ocasião oportuna para a doutrinação e congraçamento dos crentes. O culto público consta ordinariamente de leitura da Palavra de Deus, pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas. Atribuem-se as expressões: povo, Deus, crentes, a figura dos religiosos envolvidos na sua crença se relacionando com a divindade, assim como a vida eclesial, a prática religiosa dos fiéis.

7

O Manual Presbiteriano trata-se da Constituição da Igreja Presbiteriana Independente, que

traz normativas bíblicas para a conduta do culto e a utilização da música em seu contexto.

(28)

Almen (1968, p. 145) traz a definição de culto, o qual trata como: ―o momento

de encontro e da unidade entre a divindade e o seu povo, os quais na liberdade e na

alegria da comunhão se dão e recebem mutuamente [...] como também, o culto é útil

à vida eclesial no plano da catequese, da vida comunitária e da cura de almas‖.

(29)

1.1 Adoração com cânticos e hinos na Bíblia

Destaca-se, neste momento, o cuidado em esclarecer em breves comentários, algumas terminologias diretamente relacionadas e interligadas à música, que são: o culto, a adoração, momentos e meios nos quais a música, através de salmos, cânticos, hinos, é expressa a divindade.

Conforme já mencionado na introdução, não há a pretensão no discorrer sobre liturgia, motivo pelo qual foi proposto discorrer sobre a música, enquanto parte do culto de adoração 8 à divindade, através de cânticos, salmos, hinos, cantados e sonorizados com instrumentos musicais.

Grudem (2012, p. 847) em seu postular de teologia sistemática diz que: ―A Adoração, enquanto ato, é requerida por Deus através de Moisés, quando o envia para intervir na libertação do povo Hebreu da escravidão do Egito". O mesmo autor (2012, p. 848), reforça sua argumentação através de dois textos bíblicos, sendo a primeira citação do livro de Colossenses 3.16, quando há o incentivo aos fiéis cristãos de Colossos que: ―Habite ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com Salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração‖, e a segunda citação na narrativa do livro de Isaías capítulo 43.7 ―a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz‖. Sendo assim, tais referências bíblicas em suas narrativas neotestamentária e veterotestamentária 9 , traz a figura de Deus, sendo este a divindade, na expectativa de ser adorado através da música pelo povo Hebreu, seus fiéis.

Ainda segundo Shedd (1991, p. 90), em sua abordagem quanto à música e a sua relação com o ser humano, em seu livro ―Adoração bíblica‖, diz que:

8

A palavra ―Adoração‖, deriva do termo grego góny, gonypetéo, em seu significado literal,

―joelho‖, ―ajoelhar‖, ―cair sobre os joelhos‖.

9

As expressões neotestamentária e veterotestamentária referem-se consecutivamente às

narrativas bíblicas pertencentes ao Novo e Antigo testamento.

(30)

A música envolve os sentidos, o corpo e a criatividade dos adoradores. Stephen Winwar falou: ―Tanto em revelação como em resposta, a adoração deve envolver toda a personalidade do homem, o corpo e os sentidos, pensamentos e palavras, movimentos e ação, como também o ouvir e o entender‖. Justamente o entusiasmo do cântico e do sacrifício de louvor e que os adoradores podem expressar ―com todo seu coração‖ (Efésios 5.19) o que sentem para o Remidor de suas almas.

Champlin (1997, p. 642) traz a definição de cânticos, como sendo hinos de louvor, com base em textos bíblicos, excetuando os salmos, entoados na liturgia da Igreja Católica Romana [...], um dos mais efetuados: Magnificat, no livro Bíblico de Lucas capítulo 1.46.

Outra definição bíblica para hino é encontrada no dicionário Mckenzie (1983, p. 421), que diz:

―A forma literária do hino é comum nos salmos e em outros livros da Bíblia. O hino é um cântico de louvor [...]. Alguns consistem inteiramente em convite ao louvor [...]. O hino é uma composição de culto [...]. Hinos eram cantados nas assembleias de culto das comunidades cristãs primitivas (Atos 16.25; Efésios 5.19), e o Novo Testamento contém exemplo de hinos (I Coríntios 1.46-55), o Magnificat (Lucas 1.46). Um clássico exemplo de hino cantado na comunidade primitiva está na narrativa bíblica do livro de Filipenses capítulo 2.5-11‖.

Segundo Champlin (1997, p. 54 - 60) o ―moderno título desse livro do Antigo Testamento, vem do grego psalmós, que indica um cântico para ser cantado com o acompanhamento de algum instrumento [...]. O verbo grego psallein, significa

―tanger‖‖. O mesmo autor (1997, p.60), defende que ―os estudiosos concordam que

os salmos eram o hinário do segundo templo de Israel [...]. A narrativa bíblica no

livro de I Crônicas capítulo 6.31, demonstra o uso de música elaborada no culto

divino nos próprios dias de Davi‖.

(31)

Portanto, o uso litúrgico dos salmos foi importante desde o começo. E isso teve prosseguimento na Igreja cristã, onde muitos salmos foram musicados e usados no culto de adoração.

Uma vez definidas as terminologias mencionadas e interligadas à música, passa-se a discorrer sobre a música e seu papel em toda a história do povo da bíblia, tida como povo de Deus, em seu desenvolvimento, tanto no período veterotestamentário 10 , quanto no período neotestamentário 11 .

10

Refere-se ao conjunto de livros bíblicos do período do Antigo Testamento.

11

Refere-se ao conjunto de livros bíblicos do período do Novo Testamento.

(32)

1.2. A música na Bíblia (Antigo Testamento)

Seguramente, o período veterotestamentário foi riquíssimo no que se refere ao uso da música em seu cotidiano de vida, tanto na utilização da música vocal, quanto na utilização da música instrumental.

A Bíblia Sagrada relata no Antigo Testamento as celebrações cúlticas ritualísticas, as festas celebradas pós-guerra para comemorar a vitória, festas das colheitas, bem como em alguns momentos de marcha do exército; todos esses atos acompanhados da música. Vê-se a presença marcante da música na vida do povo, e sua influência. Os judeus tinham músicas para todas as ocasiões.

1.2.1 Sua Origem e surgimento nos relatos bíblicos:

Champlin (1997, p.424), fala da narrativa do livro bíblico de Gênesis 4.21, quando refere-se à pessoa de Jubal, como uma espécie de protomúsico; quando é chamado de pai de todos quantos tocam a harpa e a flauta. Porém, podemos ter a certeza de que a origem da música não tem data, antecedendo o uso desses dois instrumentos musicais. O mesmo autor (1997, p. 424) discorre sobre outras narrativas bíblicas que apontam para a utilização musical na vida do povo hebreu, conforme os textos bíblicos do livro de Gênesis 31.27, no qual cita a música instrumental e vocal em ato de despedida de pessoas da mesma família; e no livro bíblico de Juízes capítulo 7.19-20, a música é utilizada em momento de marcha para guerra, quando o exército hebreu, povo da divindade, usou de trombetas para sinalizarem seus ataques e, ao mesmo tempo, amedrontar o exército inimigo com o grande volume de som produzido por tais instrumentos.

Mackenzie (p. 638-640), explica que a música é vista como uma das primeiras

artes da civilização [...]. Há numerosas alusões da música vocal e instrumental

relacionadas com momentos festivos e como arte integrante também do Culto. Davi

tocava diante da Arca (II Samuel 6).

(33)

Atribui-se ao Judaísmo e Cristianismo, como únicas religiões a desenvolverem a arte da música até atingir um grau mais proficiente, como parte integral do culto, explica McCommon (1981, p. 17).

Segundo Champlin (1997, p. 424) ―com Davi, começa a valorização da função da música sacra, dando assim, sua grande importância, o que veio a tornar-se parte permanente do Culto no templo. Na narrativa bíblica no livro de I Crônicas capítulos 15.16 e capítulos 23.5, relata uma quantidade expressiva de músicos escolhidos por Davi, e seus turnos para o canto no templo a divindade: Quatro mil (músicos) para servirem no templo. I Crônicas 26.5-7 mostra a divisão de turnos para o canto no templo entre 288 músicos‖.

1.2.2 Os músicos

Os músicos eram pessoas separadas, escolhidas e exigidas no que se refere ao compromisso de exercerem bem o seu papel. McCommon (1981, p.75-77), comenta sobre a importância que fora da execução musical pelo povo Hebreu na época; o preparo e o treinamento cuidadoso quanto aos músicos, estes, por sua vez, faziam parte integral do culto executando a música, segundo narrativa bíblica no livro de I Crônicas capítulo 9, referindo-se aos músicos, como pertencentes à classe dos levitas. Os levitas foram separados para ministrar a vida espiritual de Israel, povo Hebreu. Eles eram escolhidos, consagrados e separados para tal função musical, segundo narrativas bíblicas nos livros de Números capítulo 8.5-14 e I Crônicas capítulo 15.16-19. O mesmo autor (1981, p. 84), diz que ―o povo judeu figurava entre as nações do mundo antigo mais dado a músicas‖.

Vê-se que o cuidado e o zelo com a música eram latentes entre o povo hebreu no serviço à divindade; bem como em suas celebridades do dia a dia.

1.2.3 Instrumentos musicais

(34)

Champlin (1997, p. 425), afirma que havia uma pluralidade de instrumentos musicais, conforme os relatos bíblicos, demonstrando assim, a riqueza de sons diversos produzidos nas músicas, cânticos do povo da divindade. Muito do que se sabe a respeito dos instrumentos musicais vem da própria evidência literal da bíblia, embora também se saiba que as descobertas arqueológicas têm evidenciado e colaborado para tal afirmação. Alguns dos diversos instrumentos existentes na época do povo Hebreu; considerando suas classificações: cordas, sopros, percussão. O mesmo autor (1997, p.425-426), apresenta a pluralidade de instrumentos musicais na bíblia, dos quais:

1.2.3.1 Instrumentos de cordas

a) A Harpa (no hebraico, Kinnor). O primeiro de todos os instrumentos musicais mencionados na Bíblia, segundo narrativa em um de seus livros, o Gênesis capítulo 4.1. Algumas traduções dizem ali, lira; opinião da maioria dos eruditos (Gênesis capítulo 31.27) e no livro bíblico de I Samuel capítulo 10.5 e capítulo 16.23; I Crônicas capítulo 15.21;

b) O Saltério (no grego, psalterion), segundo o livro bíblico de I Samuel 10.5 alude ao instrumento, o que parece mostrar uma origem fenícia;

c) Saltério de dez cordas (no hebraico, ‗asor): e no livro bíblico de Salmos capítulo 33.2; capítulo 92.3; capítulo 144.9;

d) A Cítara (no hebraico, Sabbeka), segundo o livro bíblico de Daniel capítulo 3.5;

e) A Lira, também conhecida como harpa.

1.2.3.2 Instrumentos de sopro

(35)

a) Gaitas (no hebraico, chalil), ou flauta, segundo o livro bíblico de I Reis capítulo 40; Isaías capítulo 30.21; Jeremias capítulo 48.36;

b) Pífaro (no aramaico, mashroqitha), segundo o livro bíblico de Daniel capítulo 3.5,7,10;

c) Flauta (no hebraico, ugab), segundo o livro bíblico de Gênesis capítulo 4.21;

Jó capítulo 21.12; Salmos capítulo 110.4;

d) Corneta (no hebraico shophar) de chifres de boi;

e) Trombeta (no hebraico chatsotserah) de metal, segundo o livro bíblico de Números capítulo 10.2,8-10; Esdras capítulo 3.10; II Reis capítulo 11.14.

1.2.3.3 Instrumentos de percussão

a) Címbalo (no hebraico, mena án ím), segundo o livro bíblico de II Samuel capítulo 6.5; Salmos capítulo 150.5;

b) Tamborim (no hebraico, toph), segundo o livro bíblico de Êxodo capítulo

15.20; Isaías capítulo 15.12; I Samuel capítulo 18.6.

(36)

1.3 A música na Bíblia (Novo Testamento)

Um pouco diferente do período veterotestamentário, a música nos tempos neotestamentário vem desprovida de instrumentos musicais, cujo motivo para tal realidade como afirma Champlin (1997):

Foi vivenciada em menor proporção no que se refere ao uso de instrumentos musicais, fato este, iniciando-se tempos depois da destruição do templo de Jerusalém, local onde era oferecido o culto musical à divindade do povo hebreu. Prevalecendo assim com maior ênfase o canto, que continuou sendo usado nas sinagogas, onde a adoração musicalizada e cantada, tomava as formas de estudo e interpretação da torá; da leitura das sagradas escrituras (crenças dadas pela divindade); de orações devocionais, sem os atos de holocaustos e sacrifícios.

Ainda segundo McCommon (1981, p. 19), ao falar da importância da música no Novo Testamento, faz a seguinte menção:

Glória à divindade nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade, na narrativa do livro bíblico de Lucas capítulo 2.14. O retorno dos pastores, glorificando e louvando a divindade por tudo o que tinham ouvido e visto, na narrativa de Lucas 2.20.

Para McCommon (1981) mesmo não se falando muito no Novo Testamento, sobre a música, exceto no livro bíblico de Apocalípse, há várias citações neotestamentárias que relatam algo sobre a música, segundo os livros bíblicos (Mateus capítulo 6.2; 11.7; Lucas capítulo 7.23; I Coríntios capítulo 13.21;

capítulo 14.7,8).

Em lugares de grandes construções judaicas, as formas de

adoração musical dos hebreus eram aderidas por cristãos primitivos, estes, novos

adeptos que criam na divindade. O mesmo autor (1981, p.19), menciona outras

referências bíblicas com respeito ao uso do canto:

(37)

[...] podemos mencionar o trecho do livro bíblico de Mateus 26.30, o qual se refere ao uso de um hino (música) de Jesus Cristo e seus discípulos. O apóstolo Paulo em companhia de Silas, estes líderes do povo que criam e cantavam para a divindade, cantavam hinos, músicas de louvor à divindade mesmo em tempos de adversidade na prisão. As referências do livro bíblico de Efésios 5.19; bem como de Colossenses 3.16, respectivamente, relatam o cantar salmos, hinos e cânticos espirituais.

Outro fato que McCommon (1981, p. 20) aborda é o ―não há registros no Novo Testamento do uso de instrumentos musicais na adoração da Igreja cristã, como no Antigo Testamento‖. Porém, sabe-se que os cristãos primitivos seguiram a prática musical hebraica da Sinagoga, onde o mesmo autor (McCommon, p. 20) afirma que ―os cânticos se tornam parte proeminente no Culto à divindade.

Conforme relato no livro bíblico de I Coríntios 14.26, que fala da necessidade do uso da música nas reuniões cúlticas, ao dizer que uns têm salmo ou hino‖.

McCommon (1981, p. 21), ao defender a não menção a instrumentos musicais no culto em período neotestamentário, afirma que isto, ocorre:

[...] diante da dificuldade financeira das congregações em não poderem gastar muito dinheiro com instrumentos musicais caros, como se fazia no tempo veterotestamentário. E devido a maior parte das Igrejas do Novo Testamento sofrerem perseguição, e tendo que muitas vezes se mudar de um lugar para outro, dispunham de pouco tempo para desenvolver a música ou treinar seus músicos. Porém, ainda assim houve a presença da música na igreja neotestamentária, viabilizando a adoração à divindade e promoção da alegria entre o seu povo. Onde convidados e apoiados pela Bíblia vivenciaram uma adoração musical nas esferas: (a) Espiritual, sem confinamento de espaço geográfico, em detrimento ao lugar ser sacro ou não, pois a divindade Jesus Cristo quebra este paradigma com o relato no livro bíblico de João 4.23,24, em discurso final do diálogo com a mulher samaritana. Valorizando não meramente o lugar ou as formas, mas o verdadeiro adorador, com conteúdo de vida que glorifica a divindade na sua vida prática, assim, coadunando a crença do que se canta.

No livro bíblico de Filipenses capítulo 4.4, destaca-se o emprego da

palavra ―gozo‖, ―regozijo‖, como fato que ocorre nos momentos em

que se canta a divindade. No livro bíblico de Atos capítulo 16.24,25,

vê-se a prática do cântico de louvor que independe das

circunstâncias em que Paulo e Silas, lideres dos fiéis crentes daquela

igreja, após serem açoitados e presos, oravam e cantavam louvores

(38)

à divindade, mostrando que o canto de louvor e adoração é

incircunstancial.

(39)

PARTE II

FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA TEOLÓGICA

Neste tópico aborda-se breve histórico da música restrito ao campo teológico- eclesiológico.

Segundo Mondin (1926, p. 19–20) ―A Teologia dos fundadores do Protestantismo (Lutero, Calvino, Zwinglio, Melanchthon) representa para os evangélicos [...] documentos de estudos da fé cristã‖. Ainda afirma que ―quanto à forma, a teologia dos fundadores reformados tem caráter eminentemente bíblico‖. O mesmo autor (1926, p. 46) fala de teologia referendando o pensamento de Barth 12 , que diz:

―Não se pode pensar teologicamente senão tendo diante dos olhos a figura viva de Cristo [...]. A cristologia deve ocupar todo o espaço na teologia... vale dizer, em cada ramo da dogmática e da eclesiologia [...] A dogmática deve ser fundamentalmente uma cristologia e nada mais‖.

Faustini (1981, p. 7) afirma que ―somente depois do início da era cristã, quando todas as artes tiveram um desenvolvimento inigualado, estando todas, a serviço da Igreja, é que se procurou preservar para a posteridade o que se conseguiu realizar no campo musical‖. O mesmo autor (1981, p. 60) faz a seguinte ligação entre a música e a religião, sob a afirmação de que:

A religião é mãe de todas as artes (arquitetura, dança, drama, música) que procuraram expressar primeiro e, acima de tudo, sentimentos religiosos ou ideias religiosas: ―A história da música é a história do Culto em suas origens e em cada ponto de sua evolução.

12

Die Kirchliche Dogmatik, I/2, p. 135; 975.

(40)

A Comunidade Religiosa Neotestamentária cantou ―salmos e hinos‖ e cânticos, e que estes foram expressão de adoração à divindade e de ensino, comunicação ao ser humano.

Ao comentar do desenvolvimento da música na história eclesiástica (FAUSTINI,1981, p. 63-65) diz que:

Abrindo-se as cortinas da história, descobre-se o mundo da música, que esta, desenvolveu-se no período dos séculos VI e XII. Conhecida assim como o ―cantochão‖, ―canto gregoriano‖ ou ambrosiano, que derivam dos papas Ambrósio (349-397) e Gregório (540-604).

Ambrósio de Milão adota os quatro modos de escalas gregas existentes na época para uso da Comunidade Religiosa – Igreja. O verdadeiro desenvolvimento da música vem ocorrer em meados do 3º ou 4º século D.C.; ocorrendo seu maior impulso a partir do século X, com o surgimento da polifonia e do aperfeiçoamento da grafia musical, surgindo a combinação dos sons.

Segundo Hodge (1960, p. 258) ―la adoración de Dios em la reunión pública,

consiste em la lectura, predicación […] canto de himnos […]. Dios, se comunica com

nuestras almas y pactamos com él‖. Destaca-se aqui, sobre a comunicação que

ocorre no culto, que se trata do serviço religioso prestado pelos fiéis à divindade,

com a adoração expressa musicalmente. É a comunicação à divindade em louvor a

Ela, e consequentemente, comunicação aos ouvintes, participantes deste serviço

cúltico, de todo o conteúdo estilo e estética da música e da sua letra.

(41)

2.1 A música na patrística e nos concílios

Há de se pontuar ainda que de forma breve a presença e a importância da música na história eclesiástica, segundo alguns pais da igreja e na pauta de alguns Concílios:

Monteiro (1991, p. 22,23) faz menção a outros pais da igreja, referente a testemunhos e documentos do século I, como o de Plínio, o jovem, que diz que ―os cristãos costumavam encontrar-se ao amanhecer para cantar hinos a Cristo, como divindade, por turnos‖. Também Tertuliano e Euzébio, fazem referência ao uso de cânticos cristãos. O mesmo autor (1991, p. 21), fala de definição de hino segundo outro pai da igreja – Agostinho:

O que é hino? Um cântico que louvo a Deus. Se louvas a Deus e não cantas, não expressas nenhum hino. Se cantas e não louvas a Deus, também não expressas nenhum hino. Um hino contém, portanto essas três coisas: cântico (canticum), louvor (laudem) e, é dirigido para Deus (Dei). Logo o louvor a Deus em forma de cântico é chamado hino.

Segundo Hustad (1991, p.125) ao mencionar os Pais da Igreja, quando em suas obras literárias referem-se às Igrejas Sírias como aquelas que:

―Podem ter sido as primeiras a desenvolverem um sistema de hinologia cristã (Herética) para propagarem crenças religiosas falsas‖. Em (250-366), tanto os ortodoxos quanto os heterodoxos usaram hinos para sustentar os seus argumentos no conflito aos ensinos de Arius

13

. Ambrósio, arcebispo de Milão (340 d.C) também se opôs aos hinos arianos, desenvolvendo o cantochão simples, ritmo e silábico, para atingir as massas com ensino, crenças doutrinariamente puros. O Concílio de Niceia (340-420) disseminou as crenças religiosas do cristianismo entre os pagãos europeus do século IV ―principalmente cantando doces cânticos a respeito da cruz‖.

13

Arianismo (c.250-c.336), um padre de Alexandria, que negava a plena divindade do Filho preexistente de Deus que se encarnou em Jesus Cristo. Recomendo leituras de J. Daniélou e H.

Marrou, os séculos cristãos, I, cap. 18-19; JH Newman, Os arianos do século IV; RC Gregg e DE

Groh, início de arianismo;

(42)

Hustad (1991, p. 7) fala da ação de Francisco de Assis (1182-1226), ―que utilizou da música em seu movimento de reforma na Itália‖. Chega a intitular-se

―cantor de Deus‖. Portanto, é fato que música, também neste período, exerceu grande papel de propagação de conceitos religiosos, influenciando um povo.

A atuação da patrística foi ganhando espaço nos concílios posteriores.

Monteiro (1991, p. 23) discorre sobre o Concílio de Agde no ano 506, quanto ―a

ordem do canto de hinos diariamente, pela manhã e à noite (cânone 30). Em 567, o

Concílio de Tours também se posiciona a favor dos cânticos, além de recomendar o

uso dos cânticos ambrosianos‖. E o mesmo autor (1991, p. 24), destaca também o

Concílio de Toledo, em 633 (cânone 13), quando ele decreta sobre a utilização dos

Salmos e Hinos cantados publicamente na Igreja, nos serviços religiosos à

divindade, seguindo o exemplo de Cristo e seus Apóstolos [...]. ―Que ninguém no

futuro recuse os hinos compostos em louvor a Deus‖.

(43)

2.2 O uso da música na Reforma Protestante

A abordagem da música no processo da Reforma Protestante tem como objeto maior mostrar sua presença e importância no percorrer da história eclesiástica segundo algumas postulações de alguns reformadores.

Segundo Wanderley (1980, p.7), ocorreu ―no século II a supressão do cântico congregacional do serviço religioso cristão oficial, pelas ―constituições apostólicas, vindo a excluir a participação leiga no cantar das músicas no serviço cúltico, quando apenas o clero exercia o cântico em sua totalidade‖. Com o movimento da Reforma (WANDERLEY, 1980, p. 17), fala do duplo reflexo na sociedade da época, quando:

[...] ocorreu não só o retorno da música, cântico congregacional nos serviços religiosos cristãos oficiais, mas também o levar a música a ocupar espaço, lugar de grande influência a partir deste período (séc.

XVI), quando a música foi instrumento de grande influência em todo o processo da Reforma, sendo utilizada pelos seus grandes articuladores Lutero, Calvino e outros. E em seguida pelos vários movimentos (pietista na Alemanha, o avivamento wesleyano, de Finney, campanhas de Moody).

Hustad (1991, p. 126,127) diz que ―coube aos reformadores do século XVI restabelecer a participação congregacional como fundamento da adoração litúrgica oficial. Os objetivos de Lutero e Calvino eram totalmente de cunho pedagógico, em seus hinos‖.

2.2.1 Estilos Musicais Religiosos na Igreja do Século XVI

Segundo Faustini (1981, p. 11), a participação musical da congregação dos

fiéis no culto aconteceu com a reforma do século XVI. ―Momento este, em que

ganham espaço na comunidade religiosa cristã‖. O mesmo autor (1981, p. 12)

menciona alguns tipos de músicas:

Referências

Documentos relacionados

Figura 8 – Isocurvas com valores da Iluminância média para o período da manhã na fachada sudoeste, a primeira para a simulação com brise horizontal e a segunda sem brise

Caso a resposta seja SIM, complete a demonstrações afetivas observadas de acordo com a intensidade, utilizando os seguintes códigos A=abraços, PA=palavras amáveis, EP= expressões

6 Consideraremos que a narrativa de Lewis Carroll oscila ficcionalmente entre o maravilhoso e o fantástico, chegando mesmo a sugerir-se com aspectos do estranho,

Mesmo quando o fim da Era da Igreja de Laodicéia se tornou tão formal, (Qual foi o problema com os efesianos? Estavam se tornando formais, razão pela qual estavam

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

1 — Os mostos destinados à elaboração de vinhos com DO «vinho verde» devem possuir um título alcoométrico volúmico natural mínimo de 8,5 % vol., com exceção dos mostos

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação