REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS
Avaliação dos Planos Diretores
Nome do pesquisador: Rosane Biasotto
E-mail e telefone de contato: rosane.biasotto@ibam.org.br ; res. 21 - 2527 2765; trab. 21- 2536 9786.
Município: Macaé/RJ
Número da lei: LEI COMPLEMENTAR Nº 076/2006 Data da aprovação do Plano Diretor: 2006
Estado: Rio de Janeiro
A. Informações gerais do município.
1. Caracterização socio-demográfica e econômica do município. Para essa caracterização podem ser utilizadas fontes secundárias (dados IBGE) e o próprio diagnóstico utilizado no Plano Diretor. Além disso, se possível, buscar situar o contexto sócio-político no qual o Plano Diretor foi elaborado.
a) população urbana e rural (Contagem 2007 – IBGE) e sua evolução nos últimos 20 anos.
Ano População Urbana População Rural População Total
1980 59.397
1991 89.336 11.559 93.657
2000 126.007 6.454 132.461
2007 165.001 4.512 169.513
Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1980, 1991, 2000; PNAD 2007
b) evolução da PEA por setor nos últimos 10 anos.
1991
Pessoas com 10 anos ou mais
2000
Pessoas com 10 anos ou mais
(pessoas) (percentual)
Total de Pessoas com 10 anos ou
mais
(percentual)
Total 79.156 100,00 107.951 100,00
Economicamente
Ativa 43.290 54,69 63.152 58,50
Não Economicamente
Ativa
35.866 45,31 44.799 41,50
Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1991, 2000
d) déficit habitacional e déficit de acesso aos serviços de saneamento ambiental.
Déficit Habitacional Básico
Absoluto % do Total de Domicílios
Total Urbana Rural Total Urbana Rural
2.932 2.748 184 7,72 7,61 10,03
(1) Déficit habitacional básico: soma da coabitação familiar, dos domicílios improvisados e dos rústicos.
(2) Para municípios o déficit habitacional básico não inclui as estimativas de domicílios rústicos inferiores a 50 unidades.
Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI), Déficit Habitacional no Brasil – Municípios Selecionados e Microrregiões Geográficas.
Inadequação Fundiária (1)
Adensamento Excessivo (1)
Domicílio Sem Banheiro (1)
Carência de Infra- estrutura (2)
Absoluto
%
domicílios urbanos
Absoluto
%
domicílios urbanos
Absoluto
%
domicílios urbanos
Absoluto
%
domicílios urbanos
1.106 3,06 3.455 9,56 682 1,89 6.188 17,13
(1) Apenas casas e apartamentos urbanos.
(2) Casas e apartamentos urbanos que não possuem um ou mais dos serviços de infra-estrutura: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica, e coleta de lixo.
Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI), Déficit Habitacional no Brasil – Municípios Selecionados e Microrregiões Geográficas.
(i) Conteúdo: O Plano apresenta uma estratégia econômica/sócio-territorial para o desenvolvimento do município? Quais são os elementos centrais desta estratégia? Caso não apresente uma estratégia de desenvolvimento econômico/sócio/territorial, qual é o sentido do plano?
O plano é amplo e abrangente. Estabelece uma série de diretrizes para os diversos setores da administração municipal.
As diretrizes que tratam do desenvolvimento econômico pretendem integrar e harmonizar objetivos que vão desde a afirmação do Município com pólo nacional de produção energética, até outros objetivos específicos que associam arranjos produtivos locais, proteção ambiental;
atividades rurais, atividades turísticas, articulação com municípios vizinhos, economia solidária e etc. São muitas orientações que se sobrepõem sem deixar claro qual seriam as prioridades para o desenvolvimento urbano nos próximos 10 anos.
Sobre a Política Urbana do Município, de acordo com o artigo 8º - “É objetivo da Política Urbana ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e o uso socialmente justo e ecologicamente equilibrado e diversificado de seu território, de forma a assegurar o bem-estar equânime de seus habitantes mediante ações que visem” entre uma série de aspectos extremamente abrangente:
“VII - promover a ordenação e controle do uso do solo, de forma a combater e evitar:
a) a proximidade ou conflitos entre usos incompatíveis ou inconvenientes;
b) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivo ou inadequado em relação à infra- estrutura urbana;
c) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente;
d) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulta na sua subutilização ou não-utilização;
e) a deterioração das áreas urbanizadas e os conflitos entre usos e a função das vias que lhes dão acesso;
f) a poluição e a degradação ambiental;
g) a excessiva ou inadequada impermeabilização do solo;
h) o uso inadequado dos espaços públicos;
i) a invasão e ocupação de forma irregular de áreas públicas e ou de preservação permanente.”
A reprodução do trecho acima pretende demonstrar o quanto o plano é abrangente e difícil de ser avaliado em relação a sua estratégia de desenvolvimento, absorvendo um conjunto infinito de orientações. Entretanto, o plano não determina nenhum parâmetro objetivo e remete muitas definições necessárias à aplicação de instrumentos de ordenamento e controle do uso do solo para leis municipais específicas a serem elaboradas no prazo de 1 (um) ano.
(ii) Linguagem: Verificar se o plano traz um glossário ou um documento explicativo.
Verificar se a linguagem predominante no plano, é excessivamente técnica, dificultando sua compreensão pela população, ou se procura uma linguagem mais acessível.
O texto é auto-explicativo. A dificuldade na apreensão do conteúdo geral refere-se mais as repetições e redundâncias que se somam a cada capítulo e seção. São muitas repetições de frases e expressões em contextos diferentes. Parece contemplar os diferentes agentes sociais, absorvendo diferentes interesses.
(iii) Relação do Plano Diretor com o Orçamento Municipal. Verificar se o plano define prioridades de investimentos, relacionando-as ao ciclo de elaboração orçamentária subseqüente.
Repete várias vezes, nos capítulos que orientam políticas setoriais, inclusive de saúde e educação, a necessidade de integrar os orçamentos setoriais e futuros planos plurianuais às diretrizes do plano diretor. Nas disposições transitórias, artigo 243, que estabelece prioridades e prazos, determina, no inciso II, a seguinte obrigação para o poder municipal, dentre outras apresentadas neste relatório:
“b) criar Lei municipal, dentro dos limites de suas atribuições constitucionais, que disciplinará o fundo municipal dos royalties, em consonância com as diretrizes gerais previstas no artigo 31 deste Plano Diretor, que será constituído obrigatoriamente de duas partes: a primeira parcela, permanente, que não pode ser gasta, a não ser com a autorização da maioria absoluta dos votos do Poder Legislativo municipal; a segunda parcela, que será formada pela renda auferida através de investimentos da parte principal, e de reinvestimentos dos lucros obtidos, dentro do prazo de 1 (um) ano contado do início da vigência desta Lei.”
Destaca-se, entretanto, segundo artigo 219, que o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento Anual do Município incorporarão e observarão as diretrizes e prioridades estabelecidas no Plano Diretor, devendo seu conteúdo ser analisado em audiência pública especialmente convocada em ocasião anterior à sua votação pelo Poder Legislativo Municipal.
(iv) Relação entre o Plano Diretor e o PAC ou outros grandes investimentos. Caso o município seja atingido por algum investimento importante em infraestrutura de logística/energia, avaliar se o Plano diretor leva em consideração estes investimentos e seus impactos.
Assunto não tratado diretamente no plano.
B. Acesso à terra urbanizada
Os objetivos da avaliação estarão centrados nos seguintes aspectos:
a) detectar que diretrizes do Estatuto da Cidade foram reproduzidas nos textos do PD
As diretrizes do EC foram reproduzidas, textualmente, porém não na mesma ordem e posição em
que aparecem no EC. São incorporadas em vários capítulos, seções e itens, especialmente no TÍTULO I - DA CONCEITUAÇÃO, FINALIDADE, ABRANGÊNCIA, PRAZOS E OBJETIVOS GERAIS DO PLANO DIRETOR.
Observa-se que as diretrizes do EC são reescritas e reeditadas em diferentes partes do texto do plano, sobretudo quando são descritos os princípios, objetivos e diretrizes. As diretrizes do EC são também articuladas na própria definição e conceituação geral do plano como instrumento global e estratégico da política municipal.
“Art. 2º - O Plano Diretor é instrumento global e estratégico da política municipal de desenvolvimento social, urbano, econômico, ambiental e dos serviços de utilidade pública do Município de Macaé, determinante para todos os agentes públicos e privados que atuam no Município, tendo como objetivo fundamental definir o conteúdo das políticas públicas, da função social da cidade e da propriedade urbana, de forma a garantir o acesso à terra urbanizada e regularizada, o direito à moradia, ao saneamento básico, aos serviços urbanos públicos, ao transporte, ao trabalho, à educação, às culturas, à saúde, ao lazer, ao meio ambiente para as presentes e futuras gerações, voltado para implementar uma gestão democrática e participativa, com vistas a reduzir as desigualdades sociais e promover a elevação da qualidade de vida.”
b) apontar diretrizes que, embora não reproduzam o texto do Estatuto, se refiram como objetivos ou diretrizes do plano aos seguintes temas:
Garantia do direito à terra urbana e moradia.
O tema da moradia é abordado de maneira bastante ampliada e está contemplado tanto nos princípios, objetivos e diretrizes, como no macrozoneamento, na orientação da regulamentação dos instrumentos da política urbana e na definição de uma política setorial específica
1.
O artigo 6º, do capítulo II que estabelece os princípios e objetivos gerais do plano, contempla dezoito incisos e a moradia é mencionada, explicitamente, em dois. No inciso III que estabelece o
“direito à cidade para todos, compreendendo o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer”, e no inciso “VI - direito universal à moradia digna”.
No artigo 7º, são dezenove incisos que integram os objetivos gerais decorrentes dos princípios elencados e, no inciso XI, um dos objetivos gerais é “democratizar o acesso à terra e à habitação, estimulando os mercados acessíveis às faixas de baixa renda.”
Observa-se ainda no CAPÍTULO III - Da Política Urbana do Município a definição de outro leque de objetivos e de diretrizes que, em grande parte, contemplam os princípios gerais enunciados, além de indicar no artigo 8° logo no primeiro inciso, repete um trecho do artigo 2°, que conceitua o plano como instrumento global do planejamento municipal é repetido literalmente: “I - garantir o direito à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e serviços públicos, ao trabalho e ao lazer; (...).”
- Gestão democrática por meio da participação popular
1 O artigo 87 que apresenta os objetivos das políticas públicas para a Urbanização e Uso do Solo, no CAPITULO IV - Do Desenvolvimento Urbano, assim como os artigos e incisos das Seções I - Das Políticas de Desenvolvimento Urbano e II - Da Urbanização e Uso do Solo serão abordados no item deste roteiro que trata especificamente da política habitacional.
A gestão democrática e participativa perpassa todo o texto da lei do plano. São mencionados 15 conselhos municipais e fundos correspondentes, além de conferências relacionadas às políticas setoriais.
Conselhos Municipais citados no Plano Diretor 1 Conselho Municipal de Assistência Social 2 Conselho Municipal da Cultura
3 Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente 4 Conselho Municipal dos Desportos
5 Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
6 Conselho Municipal dos Direitos de Pessoas com Deficiência 7 Conselho Diretor de Políticas Públicas de Macaé
8 Conselho Municipal de Educação 9 Conselho Municipal do Idoso
10 Conselho Municipal de Meio Ambiente 11 Conselho Municipal de Mobilidade 12 Conselho Municipal da Pesca 13 Conselho Municipal de Saúde 14 Conselho Municipal do Trabalho 15 Conselho Municipal de Turismo