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sheila prado saraiva

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Academic year: 2021

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(1)SHEILA PRADO SARAIVA. ORGANIZAÇÕES EM REDE: Novas formas de Comunicação no Terceiro Setor. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas São Paulo, 2006.

(2) 2.

(3) SHEILA PRADO SARAIVA. ORGANIZAÇÕES EM REDE: Novas formas de Comunicação no Terceiro Setor. Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, para obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, sob orientação da Profa. Dra. Maria Aparecida Ferrari.. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes São Paulo, 2006. 3.

(4) Orientador. Examinador 1. Examinador 2. 4.

(5) Dedicatória. Dedico este trabalho aos meus pais, Aluizio e Iraci, ao Carlos Eduardo (Du), aos queridos familiares e amigos que me incentivaram na realização deste projeto.. 5.

(6) Agradecimentos. Fazer um trabalho sobre redes só foi possível pela existência de uma outra rede de relacionamentos, pessoal, formada por amigos, familiares, profissionais do Terceiro Setor e de comunicação, professores e organizações sociais que se dispôs a colaborar com a realização deste projeto. Gostaria de agradecer a cada um desses “nodos”, em especial: Bruno Ayres (Portal do Voluntário), Daniel Chang (ABDL), Denise Viola e Silvana Lemos (CEMINA), Emilio Pompeu (Greenpeace), Patrícia Saito (Instituto Ethos), Renata Consegliere, Didier Peláez e Thais Saraiva, profissionais que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do trabalho. Profa. Maria Aparecida Ferrari, pela intensa dedicação, conselhos, revisões e pelas boas conversas ao longo da orientação. Aos meus familiares e amigos, em especial ao Carlos Eduardo (Du), pelo carinho, pela paciência e por ter vivenciado comigo cada etapa desta experiência.. 6.

(7) Resumo O presente trabalho investiga a ação e o alcance das “redes” na sociedade em transformação, especialmente a partir do relacionamento a adoção deste modelo de trabalho por diversas organizações do Terceiro Setor. Assim, os principais objetivos deste trabalho são os seguintes: analisar os aspectos comunicacionais e de construção dos relacionamentos das redes, partindo de um contexto macro (sociedade em transformação); compreender as razões que estimulam o indivíduo a agrupar-se; entender o papel das redes como processos de comunicação e como estratégia de comunicação em organizações sociais, em especial no Terceiro Setor. Duas partes constituem o trabalho: um levantamento teórico sobre os conceitos relacionados ao tema e uma análise qualitativa, feita a partir do estudo de organizações do Terceiro Setor que adotam a rede como ferramenta de trabalho, da coleta de documentos organizacionais e de relatos obtidos através de métodos de observação, entrevistas e estudos. De maneira geral, vimos, neste trabalho, que há grande afinidade entre redes e as organizações sociais. Trata-se de uma estratégia de comunicação que, se realizada com o devido cuidado, traz resultados positivos para todos os envolvidos.. Palavras-Chave: comunicação, comunicação organizacional, redes, terceiro setor, trabalho em rede.. 7.

(8) Abstract. This work investigates the impacts of “networks” in our society, especially when they become an important tool for the Third Sector organizations. Therefore, our main objectives are: examining the relationship and communication aspects on the creation and construction of networks; understanding the reasons for individuals to come together in groups (networks); understanding the network's role as communications' processes and strategies for the Third Sector organizations. There are two major parts that composes this study: a theoric analysis on the central theme and a qualitative analysis on the Third Sector organizations which use networks as a relationship model for their projects. The qualitative analysis contains interviews with organizations' members, researches on the theme and documents. Networks and organizations (most of them from the Third Sector) have a continuous relationship, which aims to become a communication strategy.. Key Words: communication; organizational communication; networks; Third Sector, network working groups.. 8.

(9) Resumen. El presente estudio investiga el impacto de las redes en la sociedad en transformación, en especial en el uso de esas formas de relación por las organizaciones del Tercer Sector. Los principales objetivos del trabajo son: analizar los aspectos comunicacionales y de construcción de relaciones de las redes, a partir de un contexto macro (sociedad en transformación); comprender las razones que estimulan el individuo a unirse en red; comprender el rol de las redes como procesos de comunicación y como estrategia de comunicación en organizaciones sociales del Tercer Sector. El trabajo contiene dos partes principales: una recopilación teórica acerca de los conceptos relacionados al tema y un análisis cualitativo desarrollado a partir del estudio de organizaciones sociales que adoptan la red como herramienta de trabajo, documentos organizacionales y relatos obtenidos a través de métodos de observación y entrevistas. De modo general, hemos visto, en ese estudio que las redes y las organizaciones sociales interactúan continuamente. Las redes son una estrategia de comunicación que, se bien desarrolladas tienen impacto positivo a todos los involucrados.. Palabras-llave: comunicación, comunicación organizacional, redes, tercer setor, trabajo en red.. 9.

(10) Sumário Considerações Iniciais. 11. Capítulo 1 – Aspectos de uma sociedade em transformação: uso da tecnologia e construção de relações 1.1 Tecnologias 1.1.2 Construção de relações 1.2 Organizações sociais na sociedade em rede 1.2.1 Origens 1.2.2 Possibilidades de articulação e transformação. 17. Capítulo 2 – O desenvolvimento das redes 2.1 Origem das redes tecnológicas 2.2 A organização de indivíduos e de grupos em redes 2.3 Processo comunicativo 2.4 A internet como fator de inclusão e exclusão. 24 24 26 28 30. Capítulo 3 – Comunicação organizacional e o trabalho em rede 3.1 Comunicação organizacional: novas perspectivas 3.2 Relações Públicas e a promoção do diálogo 3.3 Comunicação no Terceiro Setor 3.4 Processos comunicativos para a formação das redes 3.5 Planejamento estratégico da comunicação organizacional. 33 33 34 37 39 42. Capítulo 4 – Estudo de Observação 4.1 Metodologia aplicada 4.2 Perfil das organizações pesquisadas 4.2.1 CEMINA 4.2.1.1 Rede Cyberela 4.2.2 Greenpeace 4.2.2.1 Programa de Voluntários do Greenpeace – Brasil 4.2.3 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social 4.2.3.1 Rede Ethos de Jornalistas 4.4 Análise das observações e entrevistas 4.4.1 Síntese das principais características das redes estudadas 4.4.2 Modelo de relacionamento 4.4.3 Multiplicação da causa 4.4.4 Atividades presenciais 4.4.5 Ferramentas de comunicação utilizadas 4.4.6 Processos de avaliação das redes 4.4.7 Principais desafios do trabalho em rede 4.4.8 Principais benefícios do trabalho em rede 4.5 Análise de entrevista com especialista 4.5.1 Modelo de Relacionamento 4.5.2 Multiplicação da causa 4.5.3 Atividades presenciais 4.5.4 Processos de avaliação das redes 4.5.5 Principais desafios e benefícios do trabalho em rede Considerações finais Bibliografia Anexos. 45 45 46 46 47 48 48 49 50 50 50 54 55 56 57 58 59 61 61 62 64 65 65 66 68 72 76. 17 18 20 20 21. 10.

(11) Considerações Iniciais. A organização de pessoas ou instituições em rede, para fins diversos, mas com objetivos, valores ou interesses comuns, é uma característica evidente da época em que vivemos. Como completa CASTELLS (1999, p. 565), “como tendência histórica, as funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes”. E acrescenta: “redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados produtivos e de experiência, poder e cultura” (idem, p. 565). E o que são essas redes? A palavra rede vem do latim retis e, a partir de significados diversos, pode ser definida como um “entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido” (SILVA, 2001, n.p.). Normalmente são definidas como um conjunto de pontos interligados, em associação ao desenho de uma teia ou trama de fios. Porém, para CAPRA (apud COSTA, MARTINHO e FECURI, 2003, p.24), que as analisa sob a ótica dos sistemas vivos, essas estruturas interligadas possuem propriedades e dinâmicas específicas que a caracterizam como rede, como a não-linearidade, laços de retroalimentação, autoorganização e capacidade de operar de forma não hierárquica. Segundo o autor, são essas características que determinam a condição de rede sob a qual a vida se organiza: “onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes do organismos ou comunidade de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados à maneira de rede” CAPRA (apud COSTA, MARTINHO e FECURI, 2003, p.12). As redes, portanto, não são nova forma de estrutura em nossa sociedade, nem do ponto de vista biológico nem da construção de relacionamentos. O que talvez seja recente é a aplicação das redes em um novo contexto, baseado no uso tecnologia e, em alguns casos, para fins específicos e organizacionais. Segundo LIPNACK & STAMPS (1992), somente nas últimas décadas é que o conceito de redes foi adotado como “ferramenta organizacional” para dar nome a uma nova forma de trabalho colaborativo entre partes (pessoas, instituições em geral, empresas etc.) muito facilitada pelas inovações tecnológicas da Era da Informação. 11.

(12) Esta nova ferramenta ou forma de trabalho permite, através das possibilidades de interconexão, alterar e recriar paradigmas geográficos, pois coloca em contato, em tempo real, pontos de diversas partes do globo, modifica a noção de distância e cria novos espaços, como os “territórios” virtuais para “comunidades” que não convivem fisicamente. Modifica também o paradigma clássico da comunicação e a relação emissor-receptor, pois coloca muitos pontos em contato sem que necessariamente se tornem massa. Possui inúmeros emissores e receptores ao mesmo tempo, e as trocas de mensagens são feitas em todas as direções. Além disso, a rede altera a percepção do receptor e confere a este um papel ativo na busca e na seleção da informação (e também de seu interlocutor) dentro de um universo de dados. Diferentes grupos se utilizam de vários recursos para desenvolver trabalhos em parceria, nos quais a rede é um instrumento que torna a troca possível: redes de pesquisadores que estudam um mesmo assunto, redes de correspondentes internacionais para a mídia, redes de organizações preocupadas com questões sociais e meio ambiente, redes de voluntários, redes de empresas (ou redes de trabalho dentro de uma empresa), entre outros. A localização de cada um desses pontos torna-se irrelevante do ponto de vista geográfico, se houver capacidade de conexão que viabilize o diálogo. Há uma série de estudos que abordam, com profundidade, os diversos olhares sobre a sociedade em rede, e que buscam compreender a aplicação desse modelo nos contexto atual: das questões antropológicas às tecnológicas, das análises teóricas aos aspectos práticos. Em geral, são estudos multidisciplinares que iluminam determinados ângulos de uma realidade bastante complexa, construída em tempo real. No presente trabalho, partiremos de algumas evidências observadas no processo de reorganização social e utilizaremos como argumentos, a partir do referencial teórico estudado, alguns “porquês” encontrados como delineadores desta tendência. Assim como CAPRA (apud COSTA, MARTINHO e FECURI, 2003) aponta a existência de redes em todos os sistemas vivos, LIPNACK & STAMPS (1992) e CASTELLS (1999) colocam, do ponto de vista sociológico, que a organização da sociedade em rede é tão antiga 12.

(13) quanto a humanidade, tendo existido em outros tempos e espaços, em formatos adequados às realidades e contextos da época. Por essa razão, os autores entendem que não há como compreender esta forma de organização social, no momento atual, sem tocar em questões fundamentais do processo de transformação da nossa sociedade, como “(...) a construção de identidade, movimentos sociais, transformação do processo político [e econômico] e crise do Estado na era da informação” (CASTELLS, 1999, p. 565). Além das questões acima apontadas, identificamos a inovação gerada pelas tecnologias da informação como o principal estímulo e recurso para que as redes, no sentido atual, sejam constituídas. CASTELLS (1999) aponta que a tecnologia da informação é justamente aquilo que oferece a base material que permite à sociedade adotar, em escala, essa forma de organização social. Sobre o significado atual das redes, LIPNACK & STAMPS (1992, p. 3) definem que “o trabalho em rede de conexões significa pessoas conectando-se com pessoas, unindo idéias e recursos”. Para GUARNIERI (2004, p. 1), “quando falamos em rede [...] estamos falando de um novo jeito de se organizar, de atuar, de formar parcerias e alianças”; Em “Megatrends”1, a palavra networking é traduzida como “comunicação lateral intensiva”2, termo que reúne em si a forma de relacionamentos existentes em redes (hierarquia substituída pela lateralidade), o objetivo desta integração (a troca) e o meio, premissa básica para a existência da rede (a comunicação, que permite estabelecer elos entre os pontos da rede). O trabalho em rede pressupõe colaboração e troca constante entre seus pontos. AYRES (2003) destaca os fluxos de informação e de conhecimento e o aprendizado decorrente das interações e cooperações – que permitem a sobrevivência em grupos sociais – como questões centrais para pautar o trabalho em rede. Cabe ressaltar que a circulação de informações de forma não-linear CAPRA (apud COSTA, MARTINHO e FECURI, 2003) é a essência deste modelo, independente da existência de um objetivo ou projeto comum entre os pontos – embora, considerando a aplicação do modelo em organizações, o estabelecimento de um projeto comum possa ser adequado e pertinente. 1. NAISBITT, John. Megatrends: Ten new directions transform. London: Warner Books, 1984. O termo é apresentando em nota de rodapé do livro “Networks: Redes de Conexões”, de Jessica Lipnack e Jeffrey Stamps, como sendo a tradução para o português da palavra networking, utilizada no livro “Megatrends”, de John Naisbitt. 2. 13.

(14) Por sua natureza, e também pelas transformações sociais vividas em nossos dias, observamos que as redes têm sido bastante disseminadas no Terceiro Setor, dentro do qual tais formas de organização das relações ampliam tanto as possibilidades de articulação entre os atores sociais como o impacto de suas ações. Como um argumento a mais, identificamos que a participação voluntária, o trabalho colaborativo, inclusivo e baseado em valores comuns que permeiam as redes também está em sintonia com as finalidades do Terceiro Setor. Como aponta SILVA (s.d, p.1): O terceiro setor se caracteriza por iniciativas, cujos profissionais envolvidos percebem a colaboração participativa como um meio eficaz de realizar transformações sociais. As instituições do terceiro setor têm procurado desenvolver ações conjuntas, operando nos níveis local, regional, nacional e internacional, contribuindo para uma sociedade mais justa e democrática. Para tanto, e a partir de diversas causas, a sociedade civil se organiza em redes para a troca de informações, a articulação institucional e política e para a implementação de projetos comuns. (s.d, p.1). Nesse sentido, entendemos que o estabelecimento de parcerias e trabalho colaborativo no Terceiro Setor não é apenas uma oportunidade de potencializar as ações. Mais do que isso, é uma maneira de relacionar-se. Em qualquer segmento ou setor social, as redes são, acima de tudo, espaços de comunicação e relacionamento entre pessoas (ligação entre nodos). Por isso, poderíamos dizer que as redes são em si processos comunicativos, já que é a troca estabelecida entre os nodos a razão de ser de uma rede. Qualquer que seja seu objetivo principal, sua causa, bandeira, ou valores, sua razão de existência está na interação entre dois ou mais pontos, constituindo um sistema aberto que, através da troca de informações, estabelece um processo comunicativo. Por isso mesmo, embora seja central a questão tecnológica quando falamos de rede, não é menos relevante a questão do relacionamento entre as partes. LIPNACK & STAMPS (1992, p. 10) dizem que “a essência do trabalho em rede reside no relacionamento pessoa-pessoa; são pessoas que escrevem cartas [...] que conversam em grupos, [...], propõem idéias, compilam recursos e fecham negócios. São pessoas que têm e transmitem valores”. FACHINELLI, MARCON & MOINET (2001) seguem esta mesma idéia, afirmando que:. 14.

(15) Evidenciar as relações entre atores não é suficiente para enunciar a existência de uma verdadeira rede. Uma agenda de endereços, não mais que um anuário de diplomados, não constitui rede, mas sim uma matéria-prima relacional. Para que a rede ganhe corpo, é necessário que um projeto concreto, coletivo, voluntário, proporcione uma dinâmica específica às relações pré-existentes.. Com base na perspectiva de que redes são espaços de comunicação e relacionamento característicos da sociedade atual, buscaremos compreender suas formas e suas potencialidades para organizações do Terceiro Setor. Em especial, investigaremos a possibilidade de fomentar o trabalho em rede, neste contexto, através de um olhar da comunicação organizacional.. Objetivo do estudo O objetivo geral deste estudo é analisar os aspectos comunicacionais e de construção dos relacionamentos das redes, partindo de um contexto macro, que é a sociedade em transformação – na qual as redes constituem uma nova forma de organização social. Buscaremos, também, compreender as razões que estimulam o indivíduo a agrupar-se. O objetivo específico é entender o papel das redes como processos de comunicação e como estratégia de comunicação organizacional em organizações sociais, levando em consideração que este tem sido um modelo bastante adotado no Terceiro Setor e em sintonia com a sociedade da informação3.. 3. O termo Era da Informação é utilizado por Castells para caraterizar tanto os avanços tecnológicos nas áreas de Computação e Telecomunicações (que ocorreram no século XX e que ocorrem, ainda, neste início de século XXI), como as mudanças trazidas a partir de tais avanços. Estes, combinados a uma circulação cada vez maior de informações pelo planeta, passaram a remodelar de forma profunda a organização da sociedade. Assim é que as chamadas "Tecnologias da Informação" tornaram-se ferramentas geradoras de riqueza, com participação indispensável no exercício do poder e na criação de novos códigos culturais. Além disso, as Tecnologias de Informação fortalecem a existência das redes – estas se tornam, cada vez mais, o modelo mais utilizado na organização das atividades humanas na Era da Informação.. 15.

(16) Metodologia de trabalho. O presente trabalho é constituído de duas partes: um levantamento teórico sobre os conceitos pertinentes ao tema em questão e uma análise qualitativa, feita a partir do estudo de organizações do Terceiro Setor que adotam esse modelo de trabalho. Segundo DENCKER e DAVIÁ (2001), a pesquisa qualitativa está baseada em um processo de intensa observação por parte do pesquisador, e os dados coletados resultantes deste trabalho são predominantemente descritivos. Por sua vez, a análise será construída com o auxílio de um quadro referencial teórico, a partir da experiência de rede de cada organização, da coleta de documentos organizacionais, e de relatos e informações obtidos através de métodos de observação. Segundo LOPES (2003), o estudo dos fenômenos comunicacionais estão necessariamente apoiados nos estudos das Ciências Sociais e, devido a sua complexidade, demanda um entendimento multidisciplinar que contemple os diversos aspectos que envolvem estes fenômenos. Estudá-los sob a ótica de uma única ciência ou disciplina seria limitante, e não permitiria compreender os processos comunicacionais em sua totalidade, como fenômenos sociais que são. Levando em conta a necessidade de compreender a comunicação de forma ampla e, por outro lado, entendendo que esgotar toda a complexidade do assunto deste estudo é inviável, buscaremos desenvolver um olhar multidisciplinar atento aos principais temas correlacionados.. 16.

(17) CAPÍTULO 1 – Aspectos de uma sociedade em transformação: uso da tecnologia e construção de relações. 1.1.. Tecnologias Com o desenvolvimento das tecnologias e estruturas de informação e da utilização da. comunicação, em especial da Internet, o processo de transmissão de informações foi drasticamente modificado nas últimas décadas. A virtualidade, velocidade de transmissão e a possibilidade de interconexão entre quaisquer pontos do planeta – desde que dotados de uma tecnologia mínima necessária permitiram a informação instantânea, tornando obsoletos diversos canais de comunicação e colocando em xeque a tradicional configuração de tempo e espaço. Hoje é possível acompanhar o que acontece em diversos lugares do mundo em tempo real, e interagir, enviando e recebendo informação. Os fluxos de capital, o conhecimento, a informação, assim como sons, imagens, ideologias, pessoas (virtualmente) etc., passaram a circular através de um mesmo canal. Certamente, o impacto do desenvolvimento tecnológico foi um propulsor significativo e o principal suporte para a construção de uma sociedade em rede, uma vez que é justamente a partir das possibilidades geradas pelos novos canais que se dão as interações tratadas neste trabalho. HOLGONSI (2002, n.p.), citando CASTELLS, destaca que a “geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se fontes fundamentais de poder”, numa sociedade na qual a informação é “o produto do processo produtivo”. A afirmação acima traz à reflexão outros pontos importantes da sociedade em rede: o poder da informação, existente em diversos contextos ao longo da história e, hoje, visceralmente ligado ao mundo tecnológico, e o próprio acesso às tecnologias, um fator de exclusão social na medida em que apenas parte da população (em geral a parte mais rica e pertencente,. 17.

(18) prioritariamente, aos países desenvolvidos) está de fato “globalizada” e em condições de vivenciar a experiência das redes. Segundo HOLGONSI (2002, n.p.), as oportunidades, hoje, estão diretamente relacionadas ao lugar que se ocupa no “modo de informação”, em oposição ao modo de produção fordista. Sobre essa questão CASTELLS (apud HOLGONSI, 2002, n.p) sentencia: “Quem está e o que está conectado e desconectado ao longo do tempo constitui característica fundamental de nossas sociedades”. Isso nos coloca um importante desafio de inclusão, pois significa dizer que estar ou não conectado pode ampliar ou limitar a inserção social do indivíduo, seja com relação à capacitação para o mundo do trabalho, acesso à informação e ao conhecimento ou mesmo na possibilidade de vivenciar o “estar junto” virtual.. 1.1.2.. Construção de relações. Vivenciamos uma experiência inédita de transformações aceleradas, entramos numa realidade nova e complexa para a qual não fomos totalmente preparados. Vivemos o desafio da transição da modernidade para a pós-modernidade (SOUSA, 2001)4, que exige de nós o rompimento com os padrões característicos de uma época e a resignificação do que é ser, estar e se relacionar com o mundo. Como atores e espectadores ao mesmo tempo, temos nossa percepção de realidade alterada, assim como nosso papel social – já que as mudanças vão além dos aspectos tecnológicos e modificam, com muito impacto, as interações sociais, a construção da identidade e a cultura. Sob diferentes perspectivas, vários autores trazem reflexões sobre as formas de relacionamento dentro deste novo contexto. MARTÍN-BARBERO (2003, p. 63) destaca as 4. No livro “Novas Linguagens”, Mauro Wilton de Sousa discute o processo de transição entre modernidade e pósmodernidade que vivenciamos, trazendo reflexões sobre a velocidade e profundidade dessas mudanças e os desafios diante dos modelos, dos valores e das instituições. Aponta também o papel da mídia nesta nova realidade e a importância de reeducar-se para compreender o novo mundo.. 18.

(19) mudanças nos “modos de estar junto”, na idéia de “tecer laços sociais”, no papel do comunicador como mediador de relações e na construção da cultura. STUART HALL (2005) fala da “fragmentação das identidades culturais modernas” e aponta a identidade como aquilo que costura o sujeito à estrutura social. A partir disso, ressalta a necessidade do indivíduo de buscar o pertencimento e identificação diante da fragmentação daquilo que tradicionalmente o caracterizava e diante da globalização da cultura. GIDDENS (apud HALL, 2005, p. 15) menciona as mudanças na relação tempo e espaço, que colocam as diferentes partes do mundo em contato e proporcionam, entre elas, uma interação de forma independente da questão geográfica e da presença física – o que permite a influência sociocultural mesmo sem a contigüidade espacial. CASTELLS (2003), um dos principais estudiosos da sociedade em rede, traz diversas reflexões sobre as relações via web. Um ponto interessante e bastante pertinente discutido pelo autor é a questão da sociabilidade na Internet. Em um artigo que trata do assunto, CASTELLS (2003) coloca que a Internet não muda o comportamento dos indivíduos, mas, ao contrário, são os comportamentos moldados por uma nova realidade que são reproduzidos na rede. Destaca também que, embora a Internet gere sociabilidade, as relações via web são diferentes das interações físicas: segundo pesquisa mencionada pelo autor, as primeiras estariam pautadas em geral por interesses individuais, ou seja, possibilitariam a formação de redes de afinidades; por outro lado, essas mesmas relações seriam bem menos profundas do que aquelas “presenciais”. Essas considerações são importantes porque permitem inferir sobre a relevância do encontro de afinidades, aliado ao estímulo do relacionamento humano (contato físico), para o estabelecimento de uma rede de trabalho que não seja fria e superficial. São também controversas, pois para outros autores os aspectos presenciais variam de rede para rede e podem não ser definitivos, especialmente num contexto de transformações aceleradas na qual as novas gerações criam e se adaptam rapidamente aos novos modelos de relacionamento.. 19.

(20) COSTA, MARTINHO e FECURI (2003, p.129) nos mostram um outro face interessante sobre a construção das rede ao apontarem “a gratuidade e o desejo como dois dos fluxos psicossociais que deflagram a participação voluntária nas redes”. Para os autores, a sustentação das redes - e aqui destacamos ainda mais aquelas relacionadas aos movimentos sociais – está baseada na participação voluntária ativada por um exercício de “paixões humanas solidárias”, ou seja, a ação espontânea fomenta por um desejo característico dos vínculos sociais afetivos. Ressaltam, porém, justamente pela característica de vínculo afetivo, que este desejo precisa ser alimentado e renovado continuamente para não esmorecer e desaparecer, como acontece em outras formas de relacionamento humano. Por último, cabe destacar que os desafios da construção das relações sociais via rede e a compreensão desta “nova realidade” exigem de nós um processo de reeducação social, baseado na necessidade de compreensão do outro, valorização da diversidade, capacidade de diálogo, entendimento multidisciplinar e de culturas de tolerância e respeito.. 1.2. Organizações sociais na sociedade em rede. 1.2.1. Origens Para falar sobre as organizações sociais que enfocaremos neste trabalho, temos que situálas em contextos e conceitos maiores. Adotaremos aqui o termo “organizações sociais” não como uma definição, mas como uma denominação que abarca os diversos modelos de organizações que se enquadram no Terceiro Setor. Segundo a Wikipédia5, Terceiro Setor “é uma terminologia sociológica que dá significado a todas as iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil”. É usada para definir as diversas organizações não governamentais, sem fins lucrativos e sem vínculos diretos com o Estado e com o Mercado.. 5. Wikipédia é uma enciclopédia virtual, livre e gratuita, construída de forma interativa. Está baseada no modelo wiki, que permite que uma rede de páginas seja modificada pelos usuários, ou seja, cada leitor é um potencial colaborador. Optamos pela definição de terceiro setor encontrada neste veículo pois o formato proposto pela Wikipédia, trabalho colaborativo através da rede, vai ao encontro dos propóstitos deste trabalho: www.wikipedia.org. 20.

(21) A origem do Terceiro Setor é controversa, assim como o uso do termo. No âmbito internacional, FERREIRA (2005, p. 42) aponta a Europa pós Segunda Guerra Mundial como o provável local de origem dos primeiros movimentos de cooperação, surgidos a partir da experiência de ocupação vivida por países europeus. Sensibilizados, alguns desses países tomaram iniciativas de cooperação com antigas colônias. Posteriormente, essas iniciativas governamentais originariam organizações sociais independentes. FERREIRA (2005, p. 42) menciona também o fortalecimento dos movimentos sociais no Leste europeu, ocorridos no final da década de 1980, como reação à opressão do Estado aos direitos individuais e liberdade de agrupamento. Fala-se ainda no crescimento e legitimação dos movimentos ambientais na década de 1970 – que ganharam força a partir do agravamento e da divulgação dos problemas ambientais no período – como um importante fator de estímulo ao surgimento de organizações sociais para outras causas. No Brasil, embora também falte consenso acerca da origem do Terceiro Setor, vários autores mencionam o período de Redemocratização (a partir do final dos anos 70 e durante a década de 1980) como o momento de resgate da cidadania e dos direitos sociais coletivos (MELO NETO & FRÓES, 1999, p. 18). FERREIRA (2005, p. 44) cita a movimentação da sociedade civil na década de 1960, quando houve a expansão não apenas das manifestações culturais, mas também das Comunidades Eclesiais de Base, das associações de pequenos produtores e de cooperativas rurais. Tanto no Brasil como em outros países, muitas das instituições religiosas transformam-se, a partir de suas iniciativas, em importantes núcleos de ação social. Tão antigas quanto a própria filosofia da instituição, as ações de caráter filantrópico e assistencialista desses núcleos, sem fins lucrativos e não governamentais, têm como princípio a solidariedade ao próximo, e foram seguidas por movimentos posteriores.. 1.2.2. Possibilidades de articulação e transformação Como vimos até aqui, a sociedade globalizada tem compartilhado informação, produtos, serviços, capital, tecnologia e cultura. O acesso à comunicação instantânea permite espalhar ou 21.

(22) recolher “conteúdos” – em sentido amplo – em larga escala e rapidamente. Permite encontrar os “iguais” por afinidade e, através da mediação da comunicação, “homogeneizar” identidades e estabelecer vínculos com aquilo que nem nos é familiar. Estamos falando, obviamente, de apenas uma parcela da sociedade em rede, a parcela que de fato está em rede e conectada – os “incluídos”. Do outro lado, está o grupo dos excluídos que são milhares de pessoas que estão à margem do processo e sofrem com problemas estruturais bem mais urgentes. Sabemos que a lógica do capital predominante em nossa sociedade é em si excludente. Porém, se há exclusão, há também um grande potencial de transformação nas mãos dos que fazem parte do referido processo. Se a informação dá a volta ao mundo em segundos, é possível espalhar as mazelas que assolam o mundo em apenas um toque. Ao circular, é possível que a informação encontre eco em outros pontos da rede, em pessoas ou organizações que se identificam com o tema e que possam ampliar o potencial de solução. É interesse notar que assim como o capital e a cultura se disseminam ao redor do mundo, os movimentos socioambientais estão seguindo o mesmo caminho. As fronteiras geográficas não limitam mais a atuação social – ao contrário, através da rede é possível, inclusive, buscar apoio do outro lado do globo. KEANE (apud MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 61) afirma que “existe uma esfera pública internacional que mobiliza formas de cidadania mundial, como mostram as organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e as ONGs que, a partir de cada país, fazem a mediação entre transnacional e local”. Isso significa dizer que da mesma forma que é possível compartilhar cultura, por exemplo, há espaço para compartilhar questões referentes ao desenvolvimento socioeconômico e ambiental do planeta. Nesta linha, um exemplo interessante é o Fórum Social Mundial, um evento que mobiliza milhares de pessoas ao redor no mundo para debater, trocar experiências e construir propostas sobre questões tão diversas quanto a pluralidade ali representada. Num curto espaço de tempo, cerca de 5 dias, são realizadas conferências, debates, centenas de oficinas propostas pelas organizações sociais inscritas, atividade culturais, que reúnem uma grande diversidade de pessoas para discutir questões de interesse comum. É um espaço aberto à troca de idéias, onde os 22.

(23) temas em pauta e a vontade de compartilhar e construir tornam-se maiores do que a geografia que separa fisicamente, em seguida, cada um dos participantes. Segundo o site do Fórum Social Mundial, a iniciativa tem como proposta ser um espaço de “articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo”. Nota-se também que as articulações entre as pessoas e organizações, pré e pós-evento, acontecem predominantemente de forma virtual e em rede, de modo que o trabalho e as relações iniciadas no evento (ou antes dele) se desenvolvem continuamente. Os desdobramentos acontecem não só no âmbito de cada organização, mas inclusive na forma de mobilização e realização do próprio Fórum, que inicialmente era um único evento anual e hoje dividiu-se em Fóruns Sociais Mundiais Policêntricos, realizados simultaneamente em regiões diferentes (descentralização) e Fóruns Sociais Regionais e Temáticos (redes regionais ou temáticas), além de uma ampla agenda de eventos de mobilização. Talvez, a grande reunião presencial que tem acontecido desde 2001 seja, mais do que um espaço global e democrático para o debate de idéias, um combustível de motivação e de ferramentas que darão suporte ao trabalho cotidiano das organizações. E, sem dúvida, uma articulação com essas dimensões só é possível em função dos benefícios de um mundo globalizado, com acesso às tecnologias, à informação e possibilidades de comunicação, que colocam em contato toda esta aldeia global. Em resumo, entendemos que o contexto da sociedade em rede, de pessoas e organizações conectadas e com capacidade de interagir, oferece inúmeras oportunidades de transformação social e ampliam o potencial de atuação das organizações, inclusive no que diz respeito aos que permanecem excluídos desta sociedade.. 23.

(24) CAPÍTULO 2 – O desenvolvimento das redes. 2.1. Origem das redes tecnológicas. A palavra rede tem origem no termo retis, que em latim era usado para designar um artefato de malha usado para caça, segundo o Dicionário Houaiss (2001). Esta obra traz mais de uma dezena de significados para tal palavra que, apesar da diversidade de usos e sentidos, nos transmitem a idéia de objetos ou estruturas compostas de pontos interligados, e nos remetem a desenhos de ramificações, teias, sistemas de nós e elos conectados – ou até mesmo os incontáveis galhos de uma árvore. A rede sobre a qual nos referimos neste estudo é também representada pelas idéias e desenhos mencionados acima, e tem como suporte a rede mundial de computadores, conhecida como Internet. Esta tecnologia revolucionou as formas de comunicação, transmissão e acesso à informação. Dentro de um mar de informações, a Internet viabilizou o encontro virtual e o intercâmbio entre pontos de todas as partes do mundo em torno de temas de interesse comum e, consequentemente, estimulou a formação de comunidades. A expansão dessas comunidades, ou redes, é ilimitada e acontece rapidamente, a partir do estabelecimento de novos pontos (pessoas que aderem à comunidade) e de suas ramificações (ou seja, das conexões que é capaz de estabelecer com outros pontos). De acordo com CASTELLS (2003), a criação da Internet deu-se ao longo das últimas três décadas do século XX e consolidou-se a partir dos anos 90, quando passou a ser amplamente difundida e utilizada fora das comunidades científicas. Surgiu através da interação entre ciência e pesquisa militar, áreas que desenvolviam paralelamente tecnologias para viabilizar a troca de informações entre computadores, e foi impulsionada por grupos libertários comunitários que criavam formas de aplicação dessas tecnologias. Num retrospecto dos principais momentos da história da Internet, Lima (2004) aponta a criação da ARPANET, em 1967, como o primeiro esboço da rede mundial de computadores. Naquele ano, Lawrence G. Roberts, pesquisador do Massachusetts Institute of Technology 24.

(25) (MIT), apresentou em uma conferência o modelo de conexão entre computadores que havia criado e descobriu outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas semelhantes. Um desses pesquisadores, Paul Baran, desenvolveu seu modelo com base em estudos sobre as redes neurais do cérebro, o chamado Modelo Distribuído de Baran (BARAN, apud LIMA, 2004). O aspecto mais interessante deste modelo de comunicação entre computadores, utilizado também para a ARPANET, é justamente o desenho em rede, que possibilita manter todo o grupo conectado e em funcionamento, mesmo que uma das células (nodos) se desligue – diferentemente dos modelos nos quais diversos nós estão interligados em um único ponto. Neste caso, o desligamento da célula principal causaria a interrupção do fluxo para as demais células, que ficariam desconectadas. LIMA (2004) destaca ainda a criação do sistema de correio eletrônico e a troca de arquivos, aplicações criadas inicialmente para a ARPANET e que foram bastante utilizadas pela comunidade científica para troca de informações sobre pesquisas acadêmicas. Hoje, correio eletrônico e envio de arquivos são ferramentas totalmente incorporadas ao dia-a-dia dos usuários da Internet. Os mecanismos de comunicação entre computadores permaneceram restritos até os anos 90. No início da década, quando surgiu o primeiro provedor comercial e a World Wide Web, programa de brownser que permite a navegação na rede, desenvolvido por Tim Berners Lee, a Internet desenvolveu-se, expandiu-se e popularizou-se rapidamente, tomando a forma que conhecemos hoje. Desde então, a rede mundial de computadores tem sido utilizada para os mais diversos fins, sem restrições e aberta à diversidade da cultura global. Duas de suas principais características, que também fazem parte da história e foram fundamentais para o desenvolvimento da Internet, corroboram para o formato livre da Internet: a primeira é sua arquitetura aberta e de livre acesso, que confere à rede um caráter democrático ao permitir que qualquer pessoa possa entrar e, literalmente, construí-la. A segunda característica é o continuo desenvolvimento da Internet pautado por seus usuários, que criam formas de utilização das tecnologias disponíveis e inovam ao também. 25.

(26) produzirem tecnologia, o que significa dizer que a tecnologia é apenas o ponto de partida e que a Internet está em constante transformação (CASTELLS, 2003). Contudo, apesar da revolução vivenciada com a Internet, sabemos que uma sociedade em rede, de fato, não depende apenas de uma tecnologia de livre acesso. Hoje, a permeabilidade da Internet na sociedade, em sentido amplo e irrestrito, é baixa, pois a capacidade de acesso está atrelada a fatores socioeconômicos que mantêm grande parte da população mundial à margem deste processo, como veremos no item 2.4.. 2.2. A organização de indivíduos e de grupos em redes. A vida em sociedade pressupõe a interação constante entre indivíduos, a construção de relacionamentos e a organização em grupos sociais. A partir dos elos que estabelecemos, participamos das dinâmicas sociais e iniciamos a criação das comunidades da qual faremos parte: o núcleo familiar, grupo de amigos, contatos profissionais, grupos de estudos, trabalhos voluntários, acadêmicos etc. Segundo SILVA (2001, p. 7), “as comunidades são redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação, um sentimento de pertença e uma identidade social”. Ou seja, as diversas comunidades das quais fazemos parte - cabe notar que este é justamente o termo usado na Internet para denominar grupos por temas de interesse – constituem redes com as quais estabelecemos vínculos por afinidade ou interesse. Partindo deste olhar, entendemos que as redes são uma forma de interação social comum e tão antiga quanto a própria história da humanidade. No entanto, com a incorporação de tecnologias ao cotidiano, do telefone à Internet, surgiram novos contextos em que esta dinâmica de aproximação acontece. Neste sentido, CASTELLS (2003), BARBERO (2003) e SILVA (2001) entendem que o uso da Internet não alterou de forma significativa a vida cotidiana e as relações sociais, mas acrescentou a estas a possibilidade da interação virtual – opinião que não é compartilhada. 26.

(27) por alguns estudiosos do tema. Assim, aquilo que já acontecia em contextos presenciais passou a ser reproduzido também através da Internet, que se tornou um novo espaço de sociabilidade. No entanto, as redes de conexões – ou networks –, estudadas por LIPNACK e STAMPS (1992) e tomadas como referência para o presente trabalho, constituem um modelo específico de rede. São grupos de trabalho formados por participantes autônomos, com propósitos comuns, que são capazes de unir idéias e recursos através das conexões estabelecidas com outros elos (LIPNACK & STAMPS, 1992, p. 3). Mais que uma comunidade de indivíduos com interesses comuns, o modelo de redes de conexões desenvolvido por LIPNACK e STAMPS pode ser entendido e utilizado como uma ferramenta organizacional que, ao interligar células, soma e otimiza os recursos vindos de cada uma delas, potencializando a capacidade e atuação do organismo. O bom funcionamento de cada um das células, ou a participação delas no processo, fortaleceria o organismo como um todo. No entanto, a exclusão de uma delas não afetaria o organismo porque, assim como a rede neural de nosso cérebro, as demais unidades criariam novas conexões no espaço antes ocupado pela célula excluída. De acordo com os autores, os estudos das redes de conexões iniciaram-se na década de 1970, quando os antropólogos GERLACH e HINE realizaram um trabalho de campo sobre o Movimento Pentecostal e o Movimento do Poder Negro (Black Power). Apesar das diferenças ideológicas, GERLACH e HINE (apud LIPNACK & STAMPS, 1992) descobriram que a estrutura e a forma de organização dos dois movimentos era bastante semelhante – como também afirmam LIPNACK & STAMPS (1992, p. 7) – a um network: “descentralizado, segmentado e reticulado” . Com base neste estudo, HINE desenvolveu o conceito de SPIN: “Segmentado – Policéfalo – Ideológico – Network”, e o definiu como “um padrão adaptável para a sociedade global do futuro” (LIPNACK & STAMPS, 1992, p. 7), contando com as seguintes características: as networks são segmentos autônomos, compostos por diversas lideranças (policéfalo) e compostas por indivíduos ou grupos que se conectam horizontalmente e compartilham uma “idéia unificadora” (ideologia, valores, interesses).. 27.

(28) LIPNACK e STAMPS (1992, p. 11) reforçam que os valores compartilhados (o “I” do conceito de SPIN) são justamente o diferencial de conexão entre as partes, “um aglutinador invisível, imensurável e intangível”. Esta afirmação vai ao encontro do conceito exposto por SILVA (2001, p. 7), de que as pessoas esperam, ao buscar seus pares em comunidades, sentir-se parte de algo e encontrar uma identidade social. As afirmações acima nos permitem inferir que as pessoas não se tornam parte de uma rede virtual simplesmente porque têm acesso a uma tecnologia, mas utilizam-se dos recursos tecnológicos para buscar ou reforçar vínculos que poderiam ser estabelecidos dentro ou fora da Internet. Obviamente, há muitos aspectos que precisam ser levados em conta para entender a razão que leva um indivíduo a buscar uma determinada comunidade virtual ou uma presencial, mas uma não anula a outra, já que ambas têm como alicerce não a forma (rede) e sim o conteúdo (valores).. 2.3. Processo comunicativo. O processo comunicativo é uma das funções básicas que possibilitam ao ser humano a vida em sociedade6. Por meio da palavra, e também da comunicação não verbal, cada indivíduo elabora ou reproduz mensagens, é receptor de informação e interage com os demais. Transmite valores, cultura e expressa suas necessidades e desejos – ou seja, é ator do processo de comunicação. O caráter fundamental do processo comunicativo está menos na capacidade de transmitir uma informação pontual do que na possibilidade de criação de vínculos, relacionamentos, entendimento e estabelecimento de “parcerias” que esta troca permite. Afinal, é através da comunicação, em suas formas variadas, que se constrói o tecido social, as instituições, as regras de convívio. E nesses espaços, sejam eles organizacionais ou familiares, mediadas pela comunicação, as relações são moldadas e, a partir dela, surgem a cultura e identidade de grupos.. 6. PRETI (1994) apresenta o caráter social da língua e sua utilização para constituição das mensagens, que são transmitidas através de possibilidades comunicativas e que possibilitam a “manifestação da vida em sociedade”. PRETI, Dino. Sociolingüística: os níveis da fala. EDUSP, 1994.. 28.

(29) RESTREPO (2004, p. 81), através de uma seqüência de questionamentos, nos dá a dimensão e a complexidade da comunicação no que se refere à interação sócio-cultural e compreensão da realidade: ¿No es precisamente en la comunicación donde mejor se manifiesta la multiplicidad, la diversidad las enormes diferencias entre los hombres y sus formas de pensa y de hacer? ¿No es la comunicación un modelo ejemplar de movimiento, de transformación, de opción por lo indefinido, por lo que está en permanente construcción? ¿No es en la comunicación en donde se pueden reconocer otras lógicas, otros órdenes que atraviesan la linealidad? ¿No es la comunicación, por gramática y por sentido, siempre femenina, entendida como esas formas de ser y de hacer no exclusivas de las mujeres que nos colocan ante lo sensible, lo difuso, lo posible? (RESTREPO, 2004, p. 8). A reflexão de RESTREPO (2004) nos coloca diante de uma comunicação que não se limita aos meios, técnicas ou transmissão da informação. Trata-se de uma comunicação transversal, tão ampla quanto o sentido de cultura, que permeia todos os espaços da vida social. Por isso mesmo, revela-se mediadora dos processos de construção de relações e de leitura da sociedade da qual fazemos parte. Compreender a complexidade e abrangência da comunicação, bem como sua interface mediadora no diálogo, é primordial para compreender o papel que esta terá num mundo globalizado. Uma sociedade global, interligada, traz consigo a pluralidade de culturas e está exposta, constantemente, à diversidade de opiniões, de crenças, de identidades (SIQUEIRA, 2001) e à desigualdade social, o que pode ser gerar aprendizado coletivo ou aumentar a intolerância e os conflitos. Com isso, uma sociedade global demanda também, ao invés da homogeneização e padronização cultural, uma comunicação capaz de promover o diálogo, a valorização da diversidade, a redução de conflitos, a cultura de tolerância e de reconhecimento e aprendizado com o outro (MARTÍN-BARBERO, 2003). Neste sentido, MARTÍN-BARBERO (2003, p. 69) aponta para a necessidade de reconfiguração do comunicador, processo através do qual este passa de intermediário para mediador de relações – ou seja, o comunicador deve sair do papel de quem “se instala na divisa social e, em vez de trabalhar para abolir barreiras, [reforça] a exclusão”, e assumir um papel ativo, no qual expõe a diversidade de culturas e as desigualdades “e a partir daí [trabalha] para fazer possível uma comunicação que diminua o espaço das exclusões”. Continua afirmando que, 29.

(30) Nessa perspectiva, a comunicação da cultura depende menos da quantidade de informação circulante do que da capacidade de apropriação que ela mobiliza, isto é, da ativação da competência cultural das comunidades. Comunicação significará então colocação em comum da experiência criativa, reconhecimento das diferenças e abertura para o outro. (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 69).. As colocações do referido autor sobre a comunicação reforçam o entendimento de que, no contexto de uma sociedade em rede, o diálogo é o principal instrumento para a construção de relações, e não as técnicas de reprodução da comunicação ou o fluxo de informações isoladamente. Certamente, as relações são também inevitavelmente mediadas pelas técnicas de comunicação, já que estas são um novo componente formado da linguagem e, portanto, da cultura (SOUSA, 2001, p. 10). No entanto, conduzindo os meios e as técnicas, existe a presença de um comunicador com um novo desafio de compreender as necessidades e as possibilidades de um novo contexto, romper com um paradigma funcionalista e mudar seu o foco de produtos de comunicação para processos comunicativos.. 2.4. Internet como fator de inclusão e exclusão 7. Quando falamos que as redes de conexões, estabelecidas a partir da Internet ou alimentadas através dela, são um novo espaço de sociabilidade e de encontro para a criação de novas comunidades; que através da rede mundial de computadores é possível a circulação de informações, capital, conhecimento, sons e imagens; que transitam por essas vias ideologias, valores e causas, estamos falando de uma revolução nos modos de ser e estar no mundo (MARTÍN-BARBERO, 2003). 7. De acordo com a OCDE (2001), a exclusão digital refere-se à distância entre indivíduos, famílias, empresas e regiões geográficas em diferentes níveis sócio-econômicos com respeito, simultaneamente, às suas oportunidades de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TCI’s) e o uso da internet para uma ampla variedade de ações e atividades. Para o termo “inclusão”, tomamos como referência justamente o acesso a essas tecnologias, por meios próprios ou através de programas sociais que facilitem este acesso. (fonte: http://integracao.fgvsp.br/ano5/20/administrando.htm. Acesso em 06/01/2006).. 30.

(31) Em pouco mais de uma década, desde a disseminação da Internet para além das fronteiras acadêmicas e militares, a tecnologia foi incorporada de tal maneira ao cotidiano que criou um “mundo paralelo”, repleto de facilidades, no qual é possível fazer muitas atividades - que antes exigiam deslocamento - sem sair do lugar: ir ao banco, realizar pesquisas, ler o jornal diário, comunicar-se com a família e amigos, fazer compras, fazer um curso ou até mesmo acender velas para o santo de devoção. Muito do que acontecia necessariamente no espaço físico, passou a ser feito de um modo completamente novo, de forma virtual. Certamente, esse “mundo fantástico” é bastante sedutor. No entanto, o mérito da Internet está não apenas nos benefícios cotidianos que oferece, mas especialmente naquilo que é sua principal função: conectar o mundo e abrir as portas para que tudo circule por ele, de forma livre e interativa. É precisamente neste sentido, mediante seu caráter libertário e regime de autogestão (CASTELLS, 2003), que a Internet revela um potencial para a inclusão. Sendo um livre canal de comunicação e fluxos, interativo e aberto ao mundo, é um espaço onde todos podem estar, podem ter voz e participar. Portanto, é o espaço de uma sociedade em contato contínuo: é a chamada “sociedade em rede”. Porém, quem são de fato os membros desta sociedade em rede? São os 6 bilhões de habitantes do globo que, independente da participação efetiva, direta ou indiretamente, são tocados pelo que acontece através da rede? São todos de alguma forma afetados ou há grupos completamente isolados que não sofrem qualquer impacto relacionado à rede? Ou são integrantes da sociedade em rede somente aqueles com alguma capacidade de conexão, seja ela por meios próprios ou não? Embora tenha havido um crescimento acelerado, em todo o mundo, da capacidade de conexão, da pesquisa por tecnologia mais barata (que permite ampliar o acesso), e de movimentos de inclusão digital, sabemos que mesmo em países desenvolvidos há uma parcela da população que não faz parte da sociedade em rede. As duas principais barreiras para a inclusão,. 31.

(32) segundo estudo da Fundação para o Consumidor dos EUA (FCE), são a falta de recursos financeiros e a falta de instrução8. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD)9 de 2003, computador foi o bem durável cujo acesso mais cresceu entre 2001 e 2003, bem como o acesso à Internet, que aumentou 23,5% entre 2001 e 2002 e 14,X % entre 2002 e 2003. Porém, apesar do crescimento, a PNAD revela que apenas 15,3% das moradias possuem computador e o acesso à Internet restringe-se a 11,4%. Há, portanto, um desafio enorme para chamada sociedade em rede ou sociedade da informação: integrar ao mundo conectado bilhões de pessoas que hoje estão à margem do processo. E esta discussão vai muito além da inclusão pelo acesso à tecnologia, trata-se de um debate sobre direitos. De acordo com WALTHER LICHEM (apud ADULIS 2005) em artigo sobre direitos humanos e internet, o desenvolvimento socioeconômico e os processos de transformação em nossa sociedade só são possíveis a partir do momento em que os indivíduos tenham condições de exercer sua liberdade e autodeterminação. O acesso à informação, aos meios de comunicação e às tecnologias, assim como a educação para utilizá-los, são alguns dos fatores que permitem participar ativamente e dialogar na sociedade da informação e, portanto, é um direito que deve ser assegurado. Segundo ADULIS (2005), este é um dos desafios que se colocam para a Cúpula Mundial da Informação, e que vem sendo discutido pelas organizações que dela participam. Garantir que o ser humano seja o centro dos debates sobre esta sociedade e garantir também seus direitos humanos e à informação são premissas básicas para o desenvolvimento da sociedade em rede.. 8. Dados obtidos na Folha On line: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/sonosso/gd231000.htm. Acesso em 11/11/2006. 9 Dados pesquisados no site: www.ibge.gov.br: PNAD 2003 aponta redução de desigualdades, queda no rendimento, aumento na desocupação e mais empregados com carteira assinada (www.ibge.gov.br) Acesso em 10/01/1006.. 32.

(33) CAPÍTULO 3 - Comunicação organizacional e o trabalho em rede 3. 1 Comunicação organizacional: novas perspectivas. Como vimos nos capítulos anteriores, os efeitos da globalização e da revolução tecnológica que vivemos atingem todas as dimensões do cotidiano: o plano político, econômico, social e cultural. A comunicação está no centro de cada um desses aspectos como um processo comunicativo que viabiliza a vida em sociedade, é isto que confere sentido à história e evolução das técnicas de comunicação e não o contrário (WOLTON apud SILVA, 2001, p. 8). SILVA (2001), ao analisar a comunicação na sociedade atual e sobre as redes de informação, a partir de um olhar baseado nas teorias de Max Weber10, aponta algumas características desta sociedade, como o racionalismo excessivo, o individualismo típico do capitalismo e a progressiva burocratização como aspectos que tendem a nos levar ao enfraquecimento da comunicação normativa (pautada por valores) e ao fortalecimento da comunicação funcional (pautada por interesses). O estudo acima é bastante interessante e discute mais a fundo cada um desses aspectos, o que não é nosso objetivo aqui. Contudo, em sua reflexão final, SILVA (2001, p. 11) recorre aos valores, aos direitos e ao respeito ao ser humano como condição para uma comunicação menos comercial e somente baseada em interesses políticos e econômicos. O autor coloca que a comunicação na sociedade atual tem sido regida por essa dinâmica de interesses. Com isso, torna-se apartada dos direitos do cidadão, da liberdade de expressão, dos valores éticos e do direito básico de ter acesso a uma boa comunicação e acesso à informação. A reflexão acima é pertinente e necessária quando questionamos quais são as novas perspectivas para comunicação, em todas as suas dimensões, inclusive a comunicação organizacional, e qual papel terá o profissional no desenvolvimento deste processo. Queremos uma comunicação transformadora, mais humana, ou nos contentaremos em reproduzir técnicas de acordo com interesses unilaterais do Mercado?. 10. O artigo mencionado, Perspectivas Weberianas da Sociedade em Rede, pode ser lido na íntegra no site: http://www.bocc.ubi.pt/_esp/autor.php?codautor=73.. 33.

(34) De acordo com KUNSCH (2003), as funções de relações públicas são pautadas pelo caráter social, o que confere ao profissional da área o papel de “contribuir para que as organizações norteiem sua dinâmica pela temática humana” (KUNSCH, 2003, p. 147). No entanto, mais do que basear-se na temática humana, faz-se necessário basear-se em valores humanos e levar ao universo organizacional novas formas de comunicação.. 3. 2 Relações Públicas e a promoção do diálogo. Debater o conceito e determinar as funções do profissional das relações públicas, por si só, constituiria uma tese e demandaria uma análise aprofundada do que já foi dito e escrito pelos teóricos da área. Por serem muitas as definições, nos concentraremos naquelas nos ajudem a compreender o papel das relações públicas no Terceiro Setor e, mais especificamente, na promoção do diálogo junto aos públicos de uma organização. Tomamos como primeira referência um dos modelos de Relações Públicas desenvolvidos por GRUNIG e HUNT (apud FERRARI, 2000, p. 62), o modelo “simétrico de duas mãos”: O objetivo do modelo simétrico de duas mãos é a compreensão e não a persuasão. Esse modelo proporciona um espaço para o diálogo e discussão e o resultado deve ser um processo ético em que as partes implicadas consigam obter suas metas. O objetivo desse modelo é a busca do equilíbrio, que promova a compreensão, além de administrar o conflito entre a organização e os públicos pela mudança de comportamento de ambas as partes. (FERRARI, 2000, p. 62). O modelo acima nos apresenta um processo de comunicação que não está baseado na estratégia de convencimento do outro, ou seja, não pretende ser unilateral e atender a apenas um dos lados. Ao contrário, prevê como uma ação das relações públicas a criação de um espaço para promoção o diálogo entre organização e públicos, na qual tenham voz todas as partes envolvidas. É interessante notar que o modelo simétrico de duas mãos proposto por GRUNIG e HUNT (apud FERRARI, 2000) tem como objetivo buscar a compreensão mútua, administração de conflitos e mudança de comportamento, propósitos encontrados com freqüência na literatura 34.

(35) sobre a função das relações públicas. No entanto, ao propor um espaço para o diálogo, discussão e resultados, este modelo coloca em evidência o debate como processo de construção da solução e não a busca simplesmente pelo consenso. Embora pareça uma análise óbvia, já que estes são princípios intrínsecos ao trabalho de Relações Públicas e, ao falar em diálogo, entendemos que este pressupõe a participação dos atores envolvidos, sabemos que na prática a aproximação pode acontecer por uma demanda unilateral em que uma das partes tem um interesse pré-estabalecido, que normalmente visa convencer os demais sobre uma dada situação ou minimizar um problema já instalado, ou seja, não há espaço para discutir o tema abertamente. Promover o diálogo real, no qual haja participação e troca entre as partes envolvidas, significa criar um espaço de comunicação transparente pautado pelo senso de igualdade, respeito e confiança e, acima de tudo, onde os envolvidos estejam comprometidos com a necessidade de troca, desejem reconhecer o outro e aprender com as diferenças. Significa que os dois (ou mais lados) precisam estar abertos a ouvir e aptos a negociar. Segundo GRUNIG e GRUNIG (apud FERRARI, 2000) as relações públicas, para que reflitam um processo ético, devem seguir os princípios propostos no modelo simétricos de duas mãos. A promoção do diálogo com os públicos da organização é, dentro de um novo contexto social e econômico, uma questão estratégica, especialmente do ponto de vista da comunicação, que em geral é a área que realiza a interface com os diversos públicos. Com o processo de redemocratização e o fortalecimento da sociedade civil, entre outras razões, há maior participação e demanda por diálogo aberto. Para as empresas, isto significa atuar dentro e um novo paradigma. Para o Terceiro Setor a promoção do diálogo é primordial, pois aufere a credibilidade necessária para o trabalho das organizações que o compõem e garante a construção das reflexões que pautam o projeto transformação social. As considerações apresentadas por PERUZZO (1993) para a atuação das relações públicas junto aos movimentos sociais e ações comunitárias são muito bem-vindas neste caso, pois demandam para este papel um profissional comprometido com a transformação e a igualdade social, que acredite na construção de uma sociedade livre e justa, capaz de 35.

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