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Assédio moral na contemporaneidade: tributos para uma educação preventiva / formativa de adultos em contexto organizacional

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Escola de Ciências Humanas e Sociais

ASSÉDIO MORAL NA CONTEMPORANEIDADE: Tributos para uma Educação Preventiva / Formativa de Adultos

em Contexto Organizacional

Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, Especialização em Educação de Adultos.

Elielson Martins Ferreira Filho

Orientadora: Otília Monteiro Fernandes

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Dissertação submetida à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para efeitos de conclusão do Mestrado em Ciências da Educação – Especialização em Educação de Adultos, em Junho de 2014.

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Elielson Martins Ferreira Filho

ASSÉDIO MORAL NA CONTEMPORANEIDADE: Tributos para uma Educação Preventiva / Formativa de Adultos

em Contexto Organizacional

Dissertação submetida à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para efeitos de conclusão do Mestrado em Ciências da Educação – Especialização em Educação de Adultos, em Junho de 2014.

Aprovado em 17 / 06 / 2014.

Professor Orientador: Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes.

___________________________________________________________ Banca Avaliadora: Professor Doutor Armando Paulo Ferreira Loureiro

___________________________________________________________ Banca Avaliadora: Professor Doutor Agostinho Diniz Gomes

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AGRADECIMENTOS

Um dia nasceu o Elielson. Sou muito grato a Deus por esse dom que as mães têm como mulher, de conceder a luz da vida a um novo ser. Foi ela que me gerou em seu útero por nove meses e recebi seu amor incondicional, um amor puro e respeitoso! Sim, recebo esse amor gratuito e sincero desde que estava nos primeiros segundos de existência, foram 34 anos até aqui que minha mãe Ana Cristina Alves Macedo me protegeu com “útero eterno”, me trouxe à vida e ela é, portanto, merecedora de todos os meus agradecimentos: eu te amo!

Ao escrever essa dissertação muita coisa se passou, foram dois anos, debruçado na responsabilidade de trazer uma mensagem assertiva para a sociedade e para a ciência. Durante todo esse período, senti fortemente a presença interna de minha linda avó Isaura, que partiu há alguns anos e que levou em seu coração um pedaçinho de mim: “não consegui mais restituir o pedaçinho em mim que está junto de ti”, mas sinto que aprendi muito, pois essa ausência me ensinou a resignificar a minha existência, pois pude aprender o grande desafio de promover significado diário e força interior propulsora, pois se não, como eu viveria sem ti? “Então não vivo sem ti, porque você vive em mim”: É a luz que guia meus passos, pois te sinto comigo, carinhosamente cuidando de mim, como foi em toda minha vida.

Agradeço ao meu pai Elielson Martins, à minha irmã Crisley Suellem, aos demais irmãos e também a todos vocês: minha família - porque se não fossem vocês ou por vocês, eu não conheceria o amor. Sou reflexo dessa essência, de nossa essência, de tudo que passamos juntos, unidos e confiantes. Obrigado!

Amigos que torcem por mim, amigos que choram comigo tantas coisas, amigos que vibram positivamente por minha conquista, todos vocês, são dignos de meus agradecimentos e de meu muito obrigado. Em especial não posso deixar de falar dos que me acompanharam mais de perto ao longo desse trabalho: Arcênio Filho, João Marcos, Lucas Diego, Marcelo Dantas e Maria Alana.

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O meu muito obrigado a todos os mestres que me ensinaram desde a alfabetização até o presente momento, e agora aqui, me torno também um mestre. Nada seria possível se eu não tivesse dentro de mim um pouquinho de cada um de vocês. Professores Armando e Agostinho: agradeço a significante participação em minha apresentação de defesa.

E se não me bastassem tantas flores na vida, encontrei uma perfumada flor: Otília Monteiro Fernandes – levo o teu perfume no meu coração – e levo no meu bolso o lençinho que me deu para enxugar as minhas lágrimas de emoção e felicidade do cumprimento do dever e da conquista – do nosso projeto. Você me ensinou ao longo desses anos que verdadeiramente o carinho e o amor conseguem fortemente atravessar o oceano atlântico para se encontrar: amigo Elielson x amiga Otília = para sempre. O seu saber minha bendita orientadora, me tira da sobra e me faz enxergar horizontes iluminados. Sinta-se abraçada carinhosamente, minha eterna gratidão.

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RESUMO

No momento atual as empresas buscam uma orientação mais ética e a melhoria da qualidade de vida no trabalho no ambiente organizacional. Convive-se, pois, com mudanças nas relações de trabalho, mas pouco se fala sobre as formas de relação no trabalho e seus efeitos na vida dos trabalhadores. O presente trabalho traz à luz a face sombria do poder perverso nas relações de trabalho, existente em muitas das organizações modernas: o fenômeno do assédio moral. Trata-se de relações entre adultos, dentro das organizações. Foram entrevistados profissionais de variada proveniência, objetivando a elucidação do como e por que desse malsinado fenômeno no contexto organizacional. E os principais resultados foram a constatação de relações de trabalho caracterizadas por práticas depreciativas do indivíduo trabalhador, dando ensejo ao fenômeno do assédio moral. Notadamente, constatou-se a existência de um clima inadequado no local de trabalho, presenciando ou vivenciando os trabalhadores práticas abusivas praticadas pelos gestores, abusos, maus tratos, que causam danos à saúde, e provocam a queda da qualidade de vida no trabalho, gerando danos de variada sorte. Concluímos o nosso trabalho pela indicação de algumas ações preventivas que visarão expurgar, ou pelo menos minimizar, o assédio moral do contexto organizacional, seja pela reconstrução das relações empregador-empregado (que deverão ser permeadas por aspectos humanistas, como respeito, ética e valores), seja priorizando o processo de democratização das decisões organizacionais.

Palavras-chave: qualidade de vida no trabalho; relações de trabalho; assédio moral; práticas abusivas; organizações; educação de adultos; poder.

ABSTRACT

Currently, enterprises have been searching for an ethical guidance and improvement of life quality at workplace. It is common to see changes in work relations, but little has been said about the effect of those relations on workers’ lives. This research aims to show the obscure side of power relations at work, present in a lot of modern organizations: the so-called workplace moral harassment. In order to discover why it happens, and to find out the way it generally occurs in working environment, professionals from different companies were

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interviewed. The main results identified work relations characterized by negative and contemptuous attitudes towards employees, giving rise to moral harassment. It was clearly noticed the existence of inappropriate work environment, in which leaders abused and mistreated their staff, causing severe damage to their health, and consequent fall in their life quality. The research was concluded by indicating some preventive actions intended to put an end to moral harassment or, at least minimize it at workplace, by reconstructing the relations between employees (that should be permeated by humanist aspects such as respect, values and ethics), or even giving priority to the democratization of the organizational decision-making processes.

Key words: Life quality at workplace; Work relations; Moral harassment; Abusive practices; Organizations; Adult education; Power.

LISTA DE SIGLAS

CEREST – Centro de Referência em Saúde dos Trabalhadores CFM – Conselho Federal de Medicina

CID – Código Internacional de Doenças

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis de Trabalho

CPC – Código de Processo Civil

OLP – Organização por Local de Trabalho OMS – Organização Mundial da Saúde OIT – Organização Internacional do Trabalho QVT – Qualidade de Vida no Trabalho TST – Tribunal Superior do Trabalho

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SUMÁRIO

Resumo 4 Lista de Siglas 5 INTRODUÇÃO 7 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 9 Assédio Moral 11 Assediador/Agressor 15 Assediado/Vítima 20

A Saúde do Assediado/Vítima Comprometida 21

Espaços onde ocorre a Agressão/Assédio 25

Contexto Legal 28

Provas do Assédio Moral 34

Prazo Prescricional 36

Indenização 36

Liderança 37

Qualidade de Vida no Trabalho 42

2. ESTUDO EMPÍRICO 52 Problema 52 Objetivo Geral 52 Objetivos Específicos 52 Justificativa 54 Tipo de Pesquisa 54 3. RESULTADOS 56

Caracterização dos Entrevistados 56

Análise e discussão dos dados das entrevistas 59

Ações Preventivas 66

CONCLUSÃO 69

BIBLIOGRAFIA 72

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INTRODUÇÃO

O objeto de estudo deste trabalho é o fenômeno denominado assédio moral, sua caracterização, seus sintomas, os espaços onde ocorre, as formas legais de buscar reparação. Mais antigo que o próprio trabalho, o fenômeno do assédio moral vem se mostrando mais frequente nas organizações, permeado com a negação do direito e de tratamento digno dos trabalhadores.

O vocábulo ‘assédio’ vem do latim, tem sua origem remota no século XVII, derivando do italiano assediare, que recompôs o latim adsedere. Hipoteticamente, pode ser traduzido em ‘pôr em sítio’ ou sitiar. Seu sentido literal traz como significações: perseguir, importunar, por em circo, inserir temores, molestar com pretensões repetitivas e afligir moralmente.

O fenômeno em si não é novo. Mas o tema vem ganhando notoriedade no Brasil e em muitos outros países: o assédio moral é um problema social que tem sido emergente nas discussões atuais em vários espaços. A grande dificuldade reside na intensificação, na gravidade, na amplitude e a própria banalização do fenômeno nas relações de trabalho.

Cada vez mais no mercado competitivo das organizações pode observar-se esse fenômeno e constatar os seus efeitos perversos, que vão desde a baixa auto-estima, a doenças físicas, psíquicas e até mesmo a morte.

O assédio moral nasce geralmente pelo abuso de poder de autoridade do gestor, na grande maioria como algo inofensivo, e propaga-se perfidamente. Num primeiro momento, os indivíduos que se encontram envolvidos com as práticas abusivas não querem mostrar-se ofendidos, levando na brincadeira desavenças e maus-tratos. Num segundo momento, essas práticas vão se multiplicando e o assediado/vítima é seguidamente perseguido, posto em situação de inferioridade, submetido a manobras hostis e degradantes.

Tal situação não se dá somente partindo de gestores ou autoridades, mas de qualquer outra parte: dentro de uma sala de aula o assédio moral pode partir do aluno para o professor e vice-versa, por exemplo. Percebe-se que tal prática pode ter algo a ver com a personalidade de

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8 quem assedia ou mesmo com a educação que o mesmo teve ou procurou desenvolver ao longo de sua vida.

Neste trabalho projetamos estudar o assédio moral no contexto organizacional, buscando desvendar os motivos pelos quais tais práticas comportamentais ainda persistem atualmente.

Pretendeu-se, igualmente, perspetivar a qualidade de vida no trabalho do indivíduo trabalhador como elemento fundamental nas relações de trabalho e suas dimensões, pois só com a melhoria da qualidade de vida no trabalho poderemos melhorar os resultados das empresas, mas também a satisfação, o bem-estar e a condição de vida dos indivíduos.

Diante desse cenário surge a necessidade e a motivação de abordarmos o tema nos aspectos legais da qualidade de vida no trabalho.

Principalmente, este nosso trabalho visa contribuir para o esclarecimento das causas e conseqüências do fenômeno do assédio moral, e de alguns dos aspectos mais importantes que permeiam o tema (âmbitos: social, psicológico, médico e do direito), de modo a que possa ser útil para empregadores, empregados e sociedade em geral. Mas importa, sobretudo, que cada vez mais pessoas tenham conhecimento de seus direitos e lutem por eles.

É cabível acrescentar que esta temática do assédio moral deveria ser de sumo interesse da comunidade acadêmica, na investigação dos fatores que geram o assédio moral e que podem ser minimizados ou driblados no processo de aprendizado, na formação e educação de uma população que exerça um bom papel social na condição de adultos.

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O nosso estudo iniciar-se-á com uma contextualização e definição dos principais conceitos e teorizações relativos a esta temática: Assédio Moral, Liderança e Qualidade de Vida no Trabalho.

ASSÉDIO MORAL

O assédio moral é um comportamento que se mostra muito presente, atualmente, sobretudo nas organizações, apesar de todos os avanços gerenciais, tecnológicos e de produção. As organizações continuam a repetir os maus tratos a seus empregados, aceitando que comportamentos humilhantes e degradantes ocorram no dia-a-dia das organizações, maus tratos esses denominados como assédio moral. As condições para o surgimento desse fenômeno são criadas pelas próprias organizações na busca por empregados com comportamentos ideais e controlados.

Segundo Batista (2003, p. 4) “o assédio moral configura-se como um fenômeno característico de nosso tempo”, fenômeno esse que não pode ter sua existência histórica negada, principalmente nas práticas trabalhistas.

O termo assédio moral é também designado como mobbing e bullying, embora autores como Hirigoyen (2002) façam uma diferenciação destes conceitos: o termo mobbing designaria as perseguições coletivas ou a violência ligada à organização, incluindo desvios que podem acabar em violência física; o termo bullying seria mais amplo que o termo mobbing e iria de chacotas e isolamento até condutas abusivas com conotações sexuais ou agressões físicas e refere-se mais às ofensas individuais do que à violência organizacional; e, finalmente, o termo assédio moral “diz respeito a agressões mais sutis” (Hirigoyen, 2002).

Através da definição de Aguiar (2007, p.17) podemos identificar o conceito de assédio moral em toda a sua completude,

Assédio moral são os maus tratos aplicados aos indivíduos nas organizações, derivados de uma lógica perversa na relação de poder existente nesses locais, manifestada como produto das relações autoritárias sob as mais diversas formas de

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perseguições e atritos entre chefes e subordinados, ou até entre colegas da mesma hierarquia funcional, configurando-se como um fenômeno destruidor da convivência pacífica, da coexistência harmônica e produtiva dos indivíduos no ambiente de trabalho (Aguiar, 2007, p.17)

Já segundo Barreto (2002), o assédio moral, também definido como violência moral ou tortura psicológica, compreende um conjunto de sinais que visam cercar e dominar o outro, pressupondo, perseguir sem tréguas com o objetivo de impor sujeição.

Elisabeth Grebot (Apud Zanetti, 2008, p. 111) considera que o assédio moral “são práticas repetidas visando a degradar as condições humanas, relacionais, materiais de trabalho de uma ou várias vítimas de forma a atingir seus direitos e sua dignidade, podendo alterar gravemente seu estado de saúde e podendo comprometer seu futuro profissional”.

Assediar moralmente o trabalhador no trabalho, na definição utilizada por Santos (2008, p. 2), “é, portanto, acossar, atingir por envolvimento agressor a dignidade do trabalhador, fazer-lhe críticas públicas humilhantes com o objetivo de diminuir-lhe a estima, humilhação e ridicularização; apelidos pejorativos; brincadeiras, sarcasmos e piadas envolvendo o assediado”. Complementa o autor referindo-se que “geralmente também se caracteriza na conduta de impor ao assediado tarefas abaixo ou acima de sua qualificação; tarefas inúteis, metas impossíveis e irrazoáveis, isolamento em sala distante ou local humilhante, declaração inoportuna de caráter discriminatório, controle desmedido ou inapropriado do rendimento no trabalho”, conseqüências prejudiciais para a paz de espírito do assediado/vítima trazendo-lhe depressão, sofrimento, angústia, constrangimentos e desestabilização emocional durante as relações de trabalho (Santos, 2008).

Na visão de Caixeta (2003, p. 93), o assédio moral caracteriza-se “pela exposição dos trabalhadores a situações humilhantes, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho”. O autor refere ainda que tais situações são mais comuns nas relações hierárquicas autoritárias, onde “predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida ao subordinado, de modo que desestabilize a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização”. Caixeta (2003, p. 94) entende o assédio moral como um “comportamento opressivo, malicioso, intimidatório ou insultuoso, desenvolvido de forma persistente no local de trabalho que provoca no seu interior medos ou humilhações minando a autoconfiança da pessoa e marginalizando-a na comunidade laboral”.

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11 Dentre as diversas definições pesquisadas de autores diferentes destacamos a definição da autora francesa Marie-France Hirigoyen (2002), já atrás citada, para melhor definir-se o Assédio Moral:

“Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho” (Hirigoyen, 2002, p. 65).

O assédio moral é visto como um círculo vicioso. Quanto mais se aumentam as cobranças por resultados no universo corporativo, maior o número de casos de assédio moral. Conforme pesquisa realizada pela Revista Você S.A. (2008), alguns especialistas referem que, embora não haja nenhum controle oficial sobre a questão, esse aumento deve girar em torno de 10% ao ano.

Conforme a Comissão de Defesa da Advocacia Trabalhista da Ordem dos Advogados do Brasil/SP, cerca de 50% das ações trabalhistas hoje no Brasil constatam assédio moral.

Um ato isolado de humilhação não é assédio moral. O assédio moral pressupõe as seguintes características:

1. Repetição sistemática.

2. Intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego).

3. Direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório). 4. Temporalidade (durante a jornada, por dias e meses).

5. Degradação deliberada das condições de trabalho.

Conforme complementa Barreto (2002), assediar moralmente é uma exposição prolongada e repetitiva a condições de trabalho que, deliberadamente, vão sendo degradadas. Essas condições vão surgindo em relações hierárquicas assimétricas, desumanas e sem a mínima postura ética, tendo como marca preponderante o abuso do poder e as manipulações perversas. Ainda segundo o mesmo autor são condutas e atitudes cruéis de um líder contra o subordinado ou, mais raramente, entre os colegas.

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12 Vejamos a matéria divulgada pela Revista Época – “O pesadelo do assédio moral”, datado de 22 de setembro de 2008:

As mãos da bancária carioca Viviane Barros, de 38 anos, ainda tremem quando ela fala sobre o assunto. Levanta a voz revivendo diálogos passados, alternando fúria e tristeza ao contar sobre os dois – longos – anos em que sofreu humilhações diárias no trabalho. O que começou com pressão por metas de vendas terminou em insultos e ironias que atropelaram sua auto-estima (...). A história de Viviane é um típico caso de assédio moral, ou “terror psicológico no trabalho”- a terceira hipótese entre os processos por danos morais julgados no país. Segundo escritórios de advocacia nessa área, as ações desse tipo quintuplicaram nos últimos dois anos. Um levantamento do Tribunal Superior do Trabalho (TST) mostrou que, apenas no primeiro semestre deste ano, 194 processos foram parar ali na última instância da Justiça trabalhista. O que chega ao TST é apenas uma pequena amostra do total.

E a reportagem conclui:

Para prevenir o assédio moral, algumas companhias têm investido em palestras e consultorias que falam sobre o tema com seus funcionários. Outra forma de se proteger são os seguros. Recentemente, uma seguradora multinacional lançou a primeira apólice que cobre os prejuízos decorrentes de ações indenizatórias relativas a assédio moral e sexual e discriminação no local de trabalho. O seguro não foi visto de forma positiva pelos especialistas na área trabalhista. Para Adélia Domingues, procuradora do Ministério Público do Trabalho de São Paulo, esse dinheiro deveria ser gasto em trabalho interno para prevenir casos de assédio, e não como uma forma posterior de fugir do prejuízo. ‘A prevenção ao problema deveria ser o mais importante, diz.

Para que haja a caracterização de assédio moral nas relações de trabalho, o assediador deve agir no ambiente de trabalho, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. Em geral o assediador/agressor utiliza-se de nuanças voltadas para o domínio de um indivíduo, através do abuso de poder, da inveja e da perversidade.

Outrossim, não podemos olvidar de certas interrogações que são feitas pelo Direito e pela própria sociedade entre assédio moral, assédio sexual e dano moral (Zanetti, 2008). Vejamos as mais importantes.

O assédio moral e o dano moral possuem algumas diferenças, mas em alguns casos existe um embate entre eles. O assédio moral exige que suas práticas abusivas sejam realizadas de forma repetida, com certa frequência e duração. É nesse aspecto que existe uma diferença com o dano moral, os quais não são feitas essas exigências, pois um simples fato pode caracterizar-se como dano moral.

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13 Zanetti (2008) entende que em matéria de provas, o dano moral, o fato deve ser de conhecimento de terceiros, enquanto no assédio moral não existe esta necessidade, aduzindo, ainda que, no caso do dano moral, o fato gera o dano, e no caso do assédio exige-se a prática reiterada de atos hostis, havendo, portanto, diferença com relação ao prazo para o cidadão demandar em juízo.

Nessa perspectiva, torna-se muito importante fazer essas distinções sobre o ponto de vista avaliativo do dano moral, pois o assédio moral causa uma dor e sofrimento comprovados na vítima enquanto o dano moral não tem necessidade destas provas (Zanetti, 2008). Percebe-se, então, que as indenizações dos processos julgados por assédio moral devem receber um valor maior do que muitas indenizações julgadas por dano moral.

Diferentemente do dano moral, o assédio moral no trabalho pode ser “regular, sistemático e de longa duração” (Guedes, 2003, p. 84). Os sinais do assédio moral não se apresentam em momentos de crise ou explosão dos protagonistas, eles surgem na sutileza do cotidiano, mascarados e invisíveis.

A seu turno, assédio moral e o assédio sexual não se confundem. Para o assédio moral, a regra é a existência da realização de práticas abusivas de forma repetida, enquanto o assédio sexual mostra-se por um único ato que se caracteriza por um comportamento do assediador com finalidade libidinosa, enquanto no assédio moral não. No assédio sexual, não há a existência da frequência das práticas abusivas, enquanto no assédio moral sim; no assédio sexual não há a existência da duração, podendo uma prática ou ato ser caracterizado, enquanto no assédio moral existe; o assédio sexual visa uma aproximação entre as pessoas, enquanto no assédio moral, ocorre o afastamento. Como esclarece Zanetti (2008), a diferença entre estes dois institutos jurídicos nem sempre é de fácil verificação no contexto de uma organização, havendo situações em que o assédio sexual se transmuda em assédio moral.

Salienta-se que o assédio sexual é derivado do assédio moral, tipificado penalmente no Brasil, aplicando-se a Lei n.10.224/81 e Decreto-Lei n.2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal Brasileiro).

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Se o autor do assédio é o empregador ou outro superior hierárquico, o empregado poderá postular a rescisão indireta do contrato de trabalho. Em ambas as situações, o pleito versará também sobre a indenização por dano material ou moral, dada a violação do direito à intimidade, assegurado no art. 5º, X, da Constituição Federal” (Barros, 1997, p. 182).

Cabe aqui intercalar uma pequena reflexão sobre a educação, e pensar nas motivações que levam as pessoas a assediar moralmente os colegas de trabalho, subordinados ou não, familiares, em membros da sociedade com quem não mantém o assediador nenhum vínculo jurídico. Verticalizaremos este assunto no próximo tópico.

PERFIL DO ASSEDIADOR/AGRESSOR

Para que ocorra a proliferação do assédio moral, o perfil do chefe tem um grande peso na organização.

De fato, a ação de gerenciar e administrar apresenta-se como um processo de muita complexidade e de variadas interfaces. De modo geral, fazemos isso na fase adulta, em todo tempo, pois gerenciamos/administramos nossa vida pessoal, profissional, coisas, bens e também terceiros. O tema Gestão de Pessoas, que é o ato de gerenciar pessoas, além de estar em ênfase na atualidade é de extrema importância na medida em que as pessoas que gerenciam não estão apenas dando ordens ou sendo obedecidas pelos seus subordinados, mas acima de tudo, devem exercer uma liderança eficaz. Esses líderes levam seus indivíduos e suas organizações a atingir as metas e resultados propostos, através da eficácia e do comprometimento.

O segredo da liderança revela-se na capacidade de lidar consigo mesmo e com os seus relacionamentos (Goleman, 2002), o que constitui um enorme desafio para os líderes atuais, pois demandam dessas habilidades para o exercício dessa atividade.

A presença reconfortante de outra pessoa reduz a pressão arterial e restringe a secreção de ácidos graxos que bloqueiam as artérias. Com esta afirmação de Goleman (2002), pode-se supor o nível de perturbação que os gerentes com baixa inteligência emocional provocam nos

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15 indivíduos de suas equipes, causando conseqüentemente má condição de trabalho, mudança de comportamento e de produção de suas atividades.

Práticas comumente usadas por aqueles considerados profissionalmente medíocres, com baixa auto-estima e com ganância de poder:

“Tais indivíduos só podem existir diminuindo alguém. Eles têm necessidade de rebaixar os outros para adquirir uma boa auto-estima e, com ela, obter o poder, pois são ávidos de admiração e aprovação (...) toda a pessoa em crise pode ser levada a utilizar mecanismos perversos para defender-se. Os traços narcísicos de personalidade são muito comumente encontráveis (egocentrismo, necessidade de ser admirado, intolerância à crítica). Não são por si só patológicos” (Hirigoyen, 2001, p. 11-12).

Barreto (2001, p. 3) confirma o pensamento de Hirigoyen sobre a identificação do perfil dos indivíduos que humilham nos espaços organizacionais, afirmando:

“Os agressores são homens e mulheres, mediadores das políticas e detentores de certa autoridade. Enquanto chefes, devem saber comandar, retirando de cada um a maior produtividade possível. Pressionados por uma estrutura burocrática e hierarquizada, exercem o mando de forma autoritária, revelando-se pequenos déspotas, indiferentes ao sofrimento e dificuldades alheias. Usam e abusam de práticas autoritárias. Amedrontam, intimidam, ameaçam e humilham sem piedade. Se inseguros, escondem sua fraqueza, disseminando terror, fofocas e maledicências”.

Em termos de perfil de personalidade, pensa-se que muitas vezes o assédio moral é um abuso de poder por parte de um agressor com personalidade narcísica. Segundo Quilici (2002), a personalidade narcísica caracteriza-se por um paradoxo: o agente detém senso grandioso de self1, e, ao mesmo tempo, sofre de um rebaixamento muito grande de autoestima e de amor-próprio, que é frágil e débil. Quilici apresenta quatro áreas de funcionamento patológico que caracterizam o caráter narcísico no qual o indivíduo tem um sentimento básico de inferioridade que está sob criação de fantasias de realização grandiosas; um indivíduo narcisista é incapaz de confiar nos outros e, por isso, desenvolve numerosas relações superficiais para extrair tributos de outros; e, concluindo a sua linha de pensamento, o autor refere que o indivíduo narcisista tem um sentido frágil de moralidade de forma que está sempre trocando de valores para ganhar favores e admiração.

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O termo Self, para Jung (1988), pressupõe outro tipo de consciência, que obriga ou abriga a condição mesma de um diálogo do ego com o Self. Refere-se à pessoa total do indivíduo, incluindo seu corpo e as partes do corpo, assim como sua organização psíquica e suas partes.

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16 Ainda para Quilici (ob. cit.), as defesas utilizadas pelos narcisistas estão, até certo ponto, presentes em todas as pessoas, mas possuem mais ênfase nessas personalidades. Argumenta que estas defesas são usadas para proteger o próprio sujeito de experimentar os sentimentos de “ferida narcísica”. Argumenta que o mecanismo de defesa mais penetrante é a grandiosidade, utilizada pelo narcisista quando alguém tenta (intencionalmente ou não) diminuir sua grandiosidade dizendo algo que contradiga a visão deformada que ele tem sobre si mesmo.

A desvalorização é outra defesa comum usada em situações semelhantes. O narcisista pode responder desvalorizando ou “ofendendo” a outra pessoa quando ferido ou desapontado, prática que proporciona ao narcisista um sentimento de superioridade sobre o seu ofensor. Dois outros mecanismos de defesa que os narcisistas usam freqüentemente são apresentados pelo autor como a auto-suficiência e a mania.

A auto-suficiência “é usada para manter o narcisista emocionalmente isolado de outros”, pois “ao permanecer isolado emocionalmente, a grandiosidade do narcisista pode continuar a existir sem ameaças”. Já a defesa maníaca “é utilizada quando sentimentos de inutilidade começam a aparecer”. No intuito de evitar experimentar esses sentimentos “o narcisista tentará ocupar-se com várias atividades, de forma que ele não tenha nenhum tempo disponível para sentir tais emoções”. Acrescente-se o comportamento compulsivo, como sendo também muito frequente nos narcisistas (Zanetti, 2008).

Uma pessoa narcisista não pode apaixonar-se, pois a sua história mostra uma capacidade prejudicada para os relacionamentos. Para se apaixonar é necessário confiar e os narcisistas nunca confiam em ninguém porque a certeza tem que vir de dentro e eles não conseguem obtê-la.

Sendo assim, em suma, podemos dizer que o agressor/assediador caracteriza-se por ser um indivíduo que possui um senso grandioso da própria importância; ele se absorve por fantasias de sucesso ilimitado e de poder; acredita ser especial e singular; tem uma necessidade excessiva de ser admirado; pensa que tudo lhe é devido; explora o outro nas relações interpessoais; não demonstra a menor empatia por ninguém; muitas vezes inveja o outro; dá provas de atitudes e comportamentos arrogantes.

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17 O assédio moral encontra-se também em assediadores/agressores que possuem personalidade obsessiva, que são extremamente perfeccionistas, preocupados com a ordem e que se caracterizam por apresentarem no mínimo quatro das seguintes características, apresentadas por Zanetti (2008): são pessoas que se preocupam excessivamente com detalhes; seu perfeccionismo acaba por atrapalhar a conclusão de tarefas; há um zelo excessivo no trabalho em detrimento dos lazeres e das relações entre amigos; rigidez em matéria de valores éticos e religiosos; indeciso em delegar ou a trabalhar em grupo; tendência a submeter os outros ao seu ponto de vista; mesquinhez ou com uma preocupação em economizar demais em vista de catástrofes que imagina irão ocorrer; falta de generosidade e coloca padrões, tarefas e resultados antes das pessoas.

Outro tipo de personalidade presente em assediadores/agressores é a personalidade paranóica, apresentando traços reveladores como: uma grande desconfiança de tudo e todos, considerando o outro como seu potencial rival que a qualquer momento lhe pode tirar o poder; está realmente convencido que é o dono da verdade, demonstrando uma imensa falta de consideração pelos outros; se ele se sentir ameaçado, mostra-se implacável; muito orgulhoso, é extremamente egocêntrico; impulsivo, pode explodir e se mostrar muito violento verbalmente; não suporta que qualquer pessoa dê um parecer contrário ao seu, representando para ele um sinal de ameaça ao seu poder; não possui senso de autocrítica; é autoritário e intolerante. Segundo Zanetti (2008), entre os assediadores, esse tipo de personalidade paranóica “é mais frequente que a personalidade narcisista”.

A vítima gradativamente vai perdendo, em simultâneo, sua autoconfiança e o interesse pelo trabalho, desencadeando ou agravando doenças pré-existentes.

A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e constante.

O alvo principal do assediador/agressor são os funcionários-modelo, podendo ameaçar a posição de liderança do assediador, uma vez que as suas qualidades e competências podem superar as do assediador, colocando o funcionário em ascensão e evidência perante a organização, e colocando em risco a atual posição ocupada pelo assediador.

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18 O assediador utiliza-se de manifestações que podem ser diferenciadas entre homens e mulheres. As manifestações aplicadas com o sexo feminino apresentam-se como: os controles são diversificados e visa intimidar, submeter, proibir a fala, interditar a fisiologia, controlando tempo e frequência de permanência nos banheiros, relacionar atestados médicos e faltas a suspensão de cestas básicas ou promoções. Já com o sexo masculino o assediador utiliza-se preferencialmente de manifestações que atinjam a sua virilidade.

Ao contrário do que o assediador tenta fazer crer, as vítimas não são de início pessoas que possuem qualquer tipo de patologia, ou que se mostram frágeis. Muito pelo contrário, o assédio inicia-se com mais freqüência quando o assediado/vítima reage ao autoritarismo do chefe, ou recusa-se a subjugar. O assediado/vítima resiste à autoridade, apesar das pressões, tornando-se um alvo.

Vejamos, mais em detalhe, o “perfil” dos assediados.

ASSEDIADO/VÍTIMA

A relação que se estabelece entre assediador/agressor e assediado/vítima é de grande predomínio do agressor sobre a vítima, que conforme Hirigoyen (2002, p. 24) “não se observa mais uma relação simétrica como no conflito, mas uma relação dominante-dominado, na qual aquele que comanda o jogo procura submeter o outro, até fazê-lo perder a identidade”.

Barreto (2000, p. 1) tipifica quem são os assediados moralmente, vítimas passíveis no espaço organizacional:

“Os adoecidos; os sindicalizados; aqueles em final de estabilidade pós-acidente ou pós-parto; os acima de 40 anos; os com altos salários; os criativos; os com alto senso de justiça e sensíveis ao sofrimento alheio; os questionadores das políticas de metas inatingíveis e da expropriação do tempo com a família; aqueles que fazem amizades facilmente e dominam as informações do coletivo”.

As práticas de assédio moral, como já dissemos, não ocorrem uma única vez e as várias repetições dessas práticas envolvem poder, disputa, inveja e perversidade, com um processo de etapas de humilhação desencadeado pelo agressor (Aguiar, 2007).

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19 A violência desta prática reiterada concretiza-se, segundo Barreto (2000, p. 229),

“em intimidações, ironias e menosprezo e humilhação do ‘transgressor’ diante de todos, como forma de impor controle e manter a ordem (…) para as chefias é o momento propício para o exemplo e controle do grupo: rebaixa o ‘infrator’ ao mesmo tempo em que reafirma sua autoridade, manipula o medo e aumenta a produção”.

Esse processo de humilhação é um sentimento de ser ofendido, menosprezado, rebaixado, inferiorizado pelo outro, sentindo-se o assediado como um ‘ninguém’, sem valor, inútil, magoado, revoltado, perturbado, mortificado, indignado, e com raiva (Barreto, 2000).

As humilhações são praticadas pelos detentores do poder, sejam eles gerentes, supervisores, encarregados ou chefias, e se revelam nas práticas vivenciadas pelo empregado assediado moralmente. Essas humilhações que atingem a vítima fazem senti-la ferida, pois não soube ou não pode fazer o que era necessário para frear o processo, sentindo-se culpada por não conseguir (ou não poder) reagir.

A prática do assédio torna-se possível, então, pois vem precedida de uma desvalorização da vítima pelo agressor, que é aceite e validada pelo grupo. Para Caixeta (2003, p. 2) “essa depreciação leva o ofendido a pensar que realmente merece o que está acontecendo”, e “é a repetição dos vexames, das humilhações, sem qualquer esforço no sentido de abrandá-las, que torna o fenômeno destruidor”.

O terror psicológico incitado no assediado/vítima provoca danos emocionais e doenças psicossomáticas, como alterações do sono, distúrbios alimentares, diminuição da libido, aumento da pressão arterial, desânimo, insegurança, entre outros, podendo inclusive acarretar quadros de pânico e de depressão. Nos casos mais extremos, tais casos mórbidos podem levar à morte ou ao suicídio.

São efeitos de brutalidades psicológicas terríveis, causadas porque o lado psicológico está afetado e este sendo afetado ocasiona a somatização no corpo do assediado/vítima, tendo sua saúde comprometida, como veremos a seguir.

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A SAÚDE DO ASSEDIADO/VÍTIMA COMPROMETIDA

O assédio moral traz conseqüências para a saúde do assediado/vítima e estas conseqüências, na maioria das vezes, podem ser detectadas por um médico. A prática do assédio moral tem seus efeitos próprios, os quais são comparativamente próximos ao estresse, se distinguindo do estresse, pois esse não há existência do sentimento de culpa e nem ocorrência de humilhação, como ocorre no assédio moral.

Fazendo um comparativo com o dano moral, esse não exige a necessidade de que se provem seus efeitos, presumindo-se que a vítima esteja sofrendo. Já o assédio moral exige que sejam realizadas práticas hostis de forma reiterada, com certa frequência e duração.

Nota-se que quanto mais a vítima vive situações de assédio moral, as doenças deixam de ser de caráter psicológico e passam a ser fisiológico, sendo não somente necessário o afastamento do empregado do espaço organizacional, pois deixar de conviver com a situação não extinguirá a doença fisiológica, como também, um tratamento médico, com utilização de medicamentos.

Segundo Cocco (2001), as empresas devem pensar a saúde do trabalhador numa nova perspectiva, a da promoção da saúde no trabalho, que tem reflexos na competitividade das empresas e do próprio país, além de investir na qualidade de vida no trabalho e do trabalhador. Isso ocorre devido a determinados aspectos que são importantes tanto para a empresa quanto para o país, como é o caso do custo com os dias de afastamento, a retirada precoce do trabalho por invalidez e os acidentes de trabalho. Ainda a que se considerar a relação saúde mental e trabalho, uma vez que há um grande aumento no número de pessoas acometidas, principalmente por distúrbios leves, como ansiedade, tristeza, depressão e estresse.

O médico do trabalho Mauro Moura (apud Caixeta, 2003, p. 3) faz um diagnóstico dos sintomas mais comuns nos casos que envolvem o assédio moral:

“Os primeiros sintomas são os problemas clínicos devido ao estresse. O funcionário começa a dormir mal, a ter tremores, palpitações, pressão alta, problemas de pele, aumenta ou diminui de peso abruptamente. Uma pessoa que não tem diabete pode desenvolver a doença, e quem possui pode descompensar o sintoma. Em alguns casos, distúrbios hormonais também são verificados. Nas mulheres, alterações na menstruação. Nos homens, impotência. Depois, começa a ser afetada a parte

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psicológica. A primeira reação é achar que o assediador tem razão [...]. A auto-estima da pessoa começa a entrar em declínio – e não raras vezes o sujeito pensa no suicídio como única maneira de se salvar”.

Moura (ob. cit., p. 3) afirma que “não se morre diretamente das agressões, mas se perde parte de si a cada momento. Volta-se para casa, a cada noite exausto, humilhado, deprimido. E é difícil recuperar-se”.

A saúde psíquica e/ou física do assediado/vítima fica muito abalada gerando ansiedade, desconfiança e vigilância, sendo essa atitude defensiva geradora de novas agressões. O assediado/vítima passa a perder estima de si, duvidando de sua competência.

Os sintomas do assédio moral, conforme refere Zanetti (2008, p. 102), “estão mais ligados a intensidade e a duração da agressão que à estrutura física de cada um”.

Os principais sintomas que se fazem presentes nos assediados/vítimas de assédio moral são: as crises de choro, as dores generalizadas, palpitações, tremores, sentimento de inutilidade, insônia ou sonolência excessiva, depressão, diminuição da libido, sede de vingança, aumento da pressão arterial, dores de cabeça, distúrbios digestivos, tonturas, idéia de suicídio, falta de apetite, falta de ar, passar a ingerir bebidas alcoólicas e tentativas de suicídio.

O quadro abaixo sintetiza um estudo de Barreto (2000), no qual foram realizadas entrevistas com 870 homens e mulheres vítimas de opressão no ambiente profissional, que revelaram como cada sexo reage à situação de assédio moral (em porcentagem).

QUADRO 1 - SINTOMAS

Sintomas Mulheres Homens

Crises de choro 100 -

Dores generalizadas 80 80

Palpitações, tremores 80 40

Sentimento de inutilidade 72 40 Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6

Depressão 60 70

Diminuição da libido 60 15

Sede de vingança 50 100

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22 Dor de cabeça 40 33,2 Distúrbios digestivos 40 15 Tonturas 22,3 3,2 Idéia de suicídio 16,2 100 Falta de apetite 13,6 2,1 Falta de ar 10 30 Passa a beber 5 63 Tentativa de suicídio - 18,3

Fonte: BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp, PUC, 2000.

Zanetti (2008, p. 114) afirma que nove alvos (assediados/vítimas) de dez de assédio moral “apresentam um estado de estresse pós-traumático, revivendo a situação passada, evitando, sofrimento significativo”. E como demonstrado no estudo articulado por Margarida Barreto (quadro acima), os problemas de saúde causados pelo assédio moral levam num percentual de 100% (cem por cento) dos homens entrevistados a pensarem na idéia de suicídio e 18,3% chegam a cometê-lo.

Quanto maior o número de pessoas assediadas/vítimas do assédio moral, maior será o custo do assédio, portanto “o melhor caminho para evitar custos com o assédio moral é trabalhar de forma preventiva”, afirma Zanetti (ob. cit.).

O assédio moral deixará algum tipo de seqüela, seja ela psicológica psicossomática ou fisiológica, sendo o seu tratamento de baixa eficácia, uma vez que os médicos consultados podem tratar do sintoma e podem não verificar a causa dele.

“As agressões ou as humilhações permanecem inscritas na memória e são revividas por imagens, pensamentos, emoções intensas e repetitivas, seja durante o dia, com impressões bruscas de eminência de uma situação idêntica, ou durante o sono, provocando insônias e pesadelos. As vítimas têm necessidade de falar dos acontecimentos traumatizantes, mas as evocações do passado levam, todas às vezes, a manifestações psicossomáticas equivalentes ao medo. Elas apresentam distúrbio de memória e de concentração. Por vezes perdem o apetite, ou têm, pelo contrário condutas bulímicas, que aumentam seu consumo de álcool ou de fumo” (Hirigoyen, 2001, p. 183).

Entende-se, então, o assédio moral como um fenômeno destrutivo, de forma que seu poder de destruição vai além da sua prática. Pois depois ainda do assediado/vítima ter sofrido o assédio os problemas continuam. Eles não são resolvidos pelo simples fato de não existir mais a

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23 situação, considerando que este problema já faz parte do psíquico da pessoa, podendo ela estar onde estiver que esse sintoma estará junto dela.

ESPAÇOS ONDE OCORRE A AGRESSÃO

Já referimos como a prática do assédio moral além de ocorrer nas organizações, pode ocorrer em locais que não se imaginam, tais como: nas instituições educacionais, na sociedade e também na própria família, o que para Hirigoyen (2001) é considerado como efeito desastroso, uma vez que a família pode ser considerada uma incubadora de agressores.

O assédio moral nas instituições educacionais pode ocorrer de forma verticalizada, onde o assediador/agressor e o assediado/vítima possuem níveis hierárquicos diferentes; ou de forma horizontalizada, onde o assediador/agressor possui o mesmo nível hierárquico. Podendo ser de professor para professor, de aluno para professor (ou vice-versa), de professor para funcionário (ou vice-versa), de diretor para professor (ou vice-versa), bastando se ter na relação o intuito de agredir moralmente outra pessoa, promovendo práticas de assédio moral. No contexto horizontal, tende-se a não suportar as diferenças. Em um grupo tradicionalmente reservado aos homens, não é fácil para uma mulher chegar e se fazer respeitar; ela está sujeita a piadas grosseiras, gestos obscenos, desdém a respeito do que diz e faz, recusa em ter o seu trabalho levado a sério. Parece um deboche, todo mundo ri, inclusive as demais mulheres presentes; é como se elas não tivessem escolha. Às vezes, o assédio é suscitado por um sentimento de inveja em relação a qualquer um que possua algo que os demais não têm (beleza, juventude, competência, riqueza, qualidades sociais). “É também o que ocorre no caso de jovens superqualificados e diplomados que ocupam cargos em que têm como superior hierárquico alguém sem o mesmo nível de qualificações” (Freitas, 2001, p. 10).

Já o assédio moral na família pode ocorrer tanto de forma verticalizada como horizontalizada. A agressão mais freqüente é aquela praticada pelo marido para a esposa, ou com uma incidência menor da esposa para o marido.

“A violência perversa exercida contra o cônjuge é, freqüentemente, negada ou banalizada, reduzida a uma simples relação de dominação. A simplificação psicanalítica consiste em fazer do outro um cúmplice ou

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24 mesmo o responsável pela troca perversa, negando a dimensão de dominação ou ascendência que paralisa a vítima e a impede de defender-se. Trata-se de mantê-la na dependência, frustrá-la permanentemente e impedi-la de pensar no processo a fim de tomar consciência dele; para tornar-se crível, é preciso desqualificar o outro e empurrá-lo a um comportamento repreensível. Em situações de divórcios e separações litigiosas, o assédio manifesta-se no fato de os ex-amantes ou cônjuges não deixarem em paz a sua “presa”, invadindo-a com a sua presença, esperando-a na saída do trabalho, telefonando-lhe dia e noite, com palavras ameaçadoras diretas ou indiretas” (Freitas, ob. cit. p. 10).

Não podemos deixar de assinalar a existência de famílias em cujo seio reina uma atmosfera doentia, feita de olhares equívocos, toques fortuitos, alusões sexuais.

“Nelas, a barreira das gerações não é clara, e não existem fronteiras entre o banal e o sexual. Não se trata de um incesto propriamente dito, mas de um clima incestuoso, em que sopra o vento do incesto sem que ele tenha ocorrido. É o que a autora chama de incesto ‘soft’, nada atacável do ponto de vista jurídico, mas a violência perversa está presente por meio de diversos sinais aparentes, como nas situações em que: a) a mãe conta à filha de 12 anos os fracassos sexuais do marido e compara os seus atributos com os de seus amantes; b) o pai pede à filha para regularmente lhe servir de álibi, acompanhá-lo ou esperar no carro enquanto ele está com a sua amante; c) a mãe pede à filha de 14 anos para examinar-lhe os órgãos sexuais e verificar se eles têm algum problema; d) um pai seduz as colegas da filha de 18 anos e as acaricia em sua presença” (Freitas, ob. cit., p. 11).

Assim, as crianças vivem em um ambiente doentio, sem terem o direito a ser crianças, sendo integradas como testemunhas da vida sexual dos adultos. Para Hirgoyen (2001), a família é uma incubadora de agressores, de sorte modo que as crianças que se espelham nas condutas éticas dos pais e se esta conduta não for a mais correta, então muito provavelmente esta criança poderá se tornar um agressor quando adulto.

Na sociedade, o assédio moral, embora seja difícil de perceber, também pode ocorrer tanto nos dois sentidos: vertical e horizontalmente.

De fato, quando utilizamos da comunicação e esta não é realizada corretamente e de modo satisfatório, as agressões podem surgir e ocasionar práticas de assédio moral. É considerado um fenômeno destrutivo, uma vez que seu poder de destruição vai além da sua prática, pois depois de sofrido o assédio moral, os problemas continuam considerando que o problema já faz parte do psíquico da pessoa assediada moralmente.

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25 Outrossim, para que o assédio moral ocorra no sentido verticalizado, esse pode ser apresentado de duas formas: de um superior hierarquicamente, assediado/agredido por subordinados com uma freqüência muito pequena e a outra situação muito freqüente do subordinado sendo assediado/agredido por um superior hierarquicamente.

A primeira forma que é muito rara de acontecer, fica desfavorecida, pois o nível hierárquico elevado do assediador/agressor é que vem a colaborar significativamente para o êxito da agressão, configurando-se a segunda forma de assédio moral na forma verticalizada do superior hierárquico para seu subordinado.

As estratégias utilizadas pelo assediador/agressor são sempre extremamente elaboradas, fazendo com que o assediado/vítima não tenha consciência do que é certo ou errado na situação, perdendo a noção de seus direitos, demonstrando um impedimento de reação em virtude da falta de ética que o assediador/agressor lhe pratica.

O espaço organizacional acaba se tornando uma forma de reafirmação das práticas do fenômeno do assédio moral, através de suas políticas internas, ratificando-as enquanto espaço de humilhação, que podem ocorrer com todos os trabalhadores, vale dizer, estimulando a competitividade e individualismo; discriminando por sexo, cursos de aperfeiçoamento e promoção realizados preferencialmente para os homens; a discriminação de salários segundo o sexo; passar lista na empresa para que os trabalhadores se comprometam a não procurar o Sindicato ou mesmo ameaçar os sindicalizados; impedir que as grávidas sentassem durante a jornada ou que façam consultas de pré-natal fora da empresa; fazer reunião com todas as mulheres do setor administrativo e produtivo, exigindo que não engravidem, evitando prejuízos a produção; impedir de usar o telefone em casos de urgência ou não comunicar aos trabalhadores(as) os telefonemas urgentes de seus familiares; impedir de tomar cafezinho ou reduzir horário de refeições para 15 minutos, inclusive as refeições sendo realizadas no maquinário ou bancadas; os característicos desvios de função tais como: mandar limpar banheiro, fazer cafezinho, limpar posto de trabalho, pintar casa de chefe nos finais de semana; receber advertência em conseqüência de atestado médico ou por que reclamou seus direitos.

Também há discriminação aos adoecidos e acidentados que retornam ao trabalho: ter outra pessoa no posto de trabalho ou função; colocar o trabalhador (a) em local sem nenhuma tarefa

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26 e não dar-lhe tarefa; ser colocado(a) sentado(a) olhando os outros trabalharem, separados por parede de vidro daqueles que trabalham; não fornecer ou retirar todos os seus instrumentos de trabalho; isolar os adoecidos em salas denominadas dos ’compatíveis’; estimular a discriminação entre os sadios e adoecidos, chamando-os pejorativamente de ’podres, fracos, incompetentes, incapazes’; diminuir salários quando retornam ao trabalho; demitir após a estabilidade legal; ser impedido de andar pela empresa; telefonar para a casa do funcionário e comunicar à sua família que ele ou ela não quer trabalhar; controlar as idas a médicos; questionar acerca do falado em outro espaço; impedir que procure médicos fora da empresa; desaparecer com os atestados; exigir o Código Internacional de Doenças - CID - no atestado como forma de controle; colocar guarda controlando entrada e saída e revisando as mulheres; não permitir que conversem com antigos colegas dentro da empresa; colocar um colega controlando o outro colega, disseminando a vigilância e desconfiança; dificultar a entregar de documentos necessários à concretização da perícia médica pelo INSS; omitir doenças e acidentes; demitir os adoecidos ou acidentados do trabalho.

Essas são situações apresentadas por vários espaços, principalmente no espaço organizacional como apresentado anteriormente e que intensificam a incidência do fenômeno do assédio moral. Nesse contexto cabe a responsabilização pela prática do assédio moral, onde através da legislação vigente se assegurará, constitucionalmente o direito a integridade moral e os direitos reconhecidos à pessoa humana, previstos no ordenamento jurídico.

CONTEXTO LEGAL

A configuração do assédio moral no local de trabalho está relacionada à presença de ações e de condutas “por parte do detentor do poder contra o bem estar do trabalhador”, conforme Aguiar (2007, p. 81).

Na Constituição Federal, em seu art. 5, inciso X “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”, este assegura ao empregado a indenização por dano moral pelo desrespeito ao princípio de igualdade na relação trabalhista, podendo inclusive o

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27 trabalhador pleitear, em juízo, a compensação pecuniária por sofrimentos, humilhações e maus-tratos ocorridos durante a execução do contrato de trabalho.

Quando da saída do emprego, quer seja por vontade própria do assediado/vítima ou por condução do empregador ou o representante legal, encerra-se uma etapa a do contato diário do assediado/vítima com o seu assediador/agressor e dá-se início a uma segunda etapa de seu sofrimento que é a reparação, a busca pela indenização por danos morais.

O dano moral “consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente” (Gagliano, 2004, p. 55).

Há situações passíveis de indenização por danos morais, como sejam: assédio sexual; tornar públicos costumes e vícios do contratado; vigilância ativa do empregado para apuração de opiniões e atividades políticas e sindicais; espalhar boatos sobre o empregado; tratamentos desrespeitosos como inspeções corporais à frente de todos, acompanhadas de gracejos e ameaças; acusação infundada por ato de improbidade; investigar se o empregado é homossexual, viciado ou se está doente de fato.

Para Barros (1997, p. 83), a compensação por dano moral se estabelecerá levando em consideração fatores determinantes como: “a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade e repercussão da ofensa, a intensidade do dolo ou da culpa, a situação econômica do ofensor e a extensão do prejuízo causado”.

O valor que se dá a indenização pelos danos sofridos é o valor de atenuar e não de reparar o sofrimento da vítima. Segundo Aguiar (2007, p. 33) “a reparação do dano moral não é uma indenização da dor, da humilhação, da perda da tranqüilidade ou do prazer de viver, mas uma compensação pelo dano e injustiça advindos de atos lesivos, suscetível de proporcionar uma vantagem ao ofendido”.

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28 Já para o assédio moral o mais importante efeito jurídico “é a possibilidade de gerar a reparação dos danos patrimoniais e morais pelos gravames de ordem econômica (perda do emprego, despesas com médicos, psicólogos...) e na esfera da honra, da boa fama, do auto-respeito e da saúde psíquica, da auto-estima” (Menezes, 2002, p. 83).

Ainda segundo Menezes (ob. cit.), o assédio moral “é indenizável, no plano patrimonial e moral, além de permitir a resolução do contrato (‘rescisão indireta’), o afastamento por doença de trabalho, por fim, quando relacionado à demissão ou dispensa do obreiro, a sua reintegração no emprego por nulidade absoluta do ato jurídico”.

Reforçando o pensamento exposto acima, o assediado/vítima por assédio moral, além de ter direito à rescisão indireta do contrato de trabalho e à garantia dos seus direitos trabalhistas, pode também pleitear:

“(...) a indenização por dano moral assegurada pelo inciso X do art. 5º da Lex Legum, eis que a relação de trabalho não é suserania, é de igualdade, de respeito, de intenso respeito, cabendo frisar que a igualdade prevista no art. 5º da CF não restringe a relação de trabalho à mera dependência econômica subordinada: assegura ao trabalhador o necessário respeito à dignidade humana, à cidadania, à imagem, à honradez e a auto-estima” (Salvador, 2002, p. 1)

No art.1º, incisos III e IV, da Constituição da República Federativa do Brasil, tem como fundamentos a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho; sendo seu objetivo fundamental a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art.3º, inciso IV), e rege-se nas relações internacionais pelo princípio da prevalência dos direitos humanos (art.4º, inciso II).

A Constituição Federal no seu art.5º, inciso II, determina que ninguém será submetido a tortura nem tratamento desumano ou degradante. Nos seus arts. 6º e 7º, enumera os direitos sociais dos trabalhadores, além de outros que visem à melhoria de sua condição social.

Também no art. 170, constitui a ordem econômica na valorização do trabalho humano e estabelece como finalidade daquela assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social. Por sua vez, no nível da lei infraconstitucional os artigos 11 a 21 e 186 do Código Civil brasileiro garantem que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente

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29 moral, comete ato ilícito”. Art. 187 do Código Civil brasileiro: abuso de direito, “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

São dispositivos que permitem inferir que a dignidade da pessoa humana é objeto de especial atenção do legislador constituinte. Para Caixeta (2003, p 43) “o cidadão trabalhador é frequentemente cogitado nas normas mencionadas, que se completam com os preceitos protetivos da Consolidação das Leis do Trabalho e demais diplomas legais que tutelam a atividade laboral”.

O contrato de trabalho comporta com absoluta primazia, a obrigação de respeito à dignidade da pessoa humana, uma vez que o trabalhador antes é humano e cidadão. E o empregador tem acima de tudo a obrigação de respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade absoluta de pessoa humana (Caixeta, ob. cit.). Necessariamente, o contrato de trabalho traz o direito e a obrigação de respeito aos direitos morais. E a ofensa a tais direitos permite a rescisão contratual pelo empregado e pelo empregador, além da solicitação da indenização patrimonial e moral conseqüente. O tema pode ser indiretamente extraído do art. 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que autoriza o empregado a dar por encerrado o contrato de trabalho, com direito às verbas rescisórias, quando o empregador ou seus prepostos praticarem contra ele ou pessoa de sua família, ato lesivo de sua honra e boa fama ou quando for tratado pelo patrão ou superior hierárquico com excessivo rigor (Santos, 2008).

Para Caixeta (2003), a tutela da dignidade moral do trabalhador manifesta-se em face dos atos relativos aos poderes da organização e de controle da empresa, de modo que instrumentalize a subordinação nos limites do cumprimento da prestação, desta forma impedindo que os atos empresariais possam entrar em conflito com os direitos morais e com a esfera moral do trabalhador.

O princípio da específica proteção da personalidade moral e social do empregado, bem como aos condicionamentos determinados pela empresa, ainda segundo Caixeta (2003), evitam o uso indevido do poder diretivo do empregador com alcance sobre o traballhador em seu local de trabalho ou fora dele”, com esse princípio proíbe-se ingerências na liberdade de consciência e de vontade, na intimidade, nos direitos fundamentais do empregado no trabalho.

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30 O Projeto de Lei nº 006/2000 foi criado pelo vereador do município de Iracemápolis, João Renato Alves Pereira do estado de São Paulo, de 18/02/2000, que foi o primeiro contra o assédio moral. Dispõe “sobre a aplicação de penalidades à prática de assédio moral nas dependências da Administração Pública Municipal Direta por servidores públicos municipais”. O mesmo Projeto de Lei foi promulgado em 24/04/2000, como a Primeira Lei Brasileira contra Assédio Moral nº 1163/2000, regulamentado em decreto nº 1.134/2001. No âmbito estadual, a Assembléia Legislativa do estado de São Paulo aprova o Projeto de Lei nº 422/2001, “Veda o assédio moral no âmbito da administração pública estadual direta, indireta e fundações públicas”.

Já o Projeto de Lei nº 007/2000, no município de Iracemápolis, do estado de São Paulo “Dispõe sobre o ‘Dia da Reação ao Assédio Moral’, dia 2 de maio”. No dia 10 de abril de 2000 o projeto tornou-se lei sob o nº 1159/2000.

Sob o ponto de vista estadual, o Estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a publicar uma lei contra o assédio moral, o que ocorreu através da Lei nº 3.921, de 23 de agosto de 2002, vedando a prática do assédio moral no âmbito dos órgãos, repartições e entidades estatais.

Há dois projetos de lei sobre o assédio moral tramitando no Congresso Nacional, a fim de que exista uma legislação federal, tipificando-o como crime. São os Projetos de Lei nº 5.971/2001, e o Projeto de Lei nº 4.742/2001, apresentado pelo deputado Marcos de Jesus do Pernambuco.

O primeiro projeto propõe a inclusão no Código Penal do artigo 203-A, “Coação moral no ambiente de trabalho“, com a seguinte redação:

“Coagir moralmente empregado no ambiente de trabalho, através de atos ou expressões que tenham por objetivo atingir a dignidade ou criar condições de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade conferida pela posição hierárquica.

Pena – Detenção de um a dois anos e multa.”

O segundo introduz o art. 146-A no Código Penal, tipificando o assédio moral com a seguinte redação:

“Art. 146-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação

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hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica.

Pena – Detenção de um a dois anos”.

Sob o ponto de vista administrativo, foi proposto o Projeto de Lei nº 4.591/2001, de iniciativa da deputada Rita Camata do estado do Espírito Santo, o qual estabelece a aplicação de penalidades à prática de assédio moral por parte de servidores públicos da União, das autarquias e das fundações públicas federais a seus subordinados, alterando a Lei nº 8.212, de 11 de dezembro de 1990, proibindo a prática do assédio moral no âmbito do serviço público federal e cominando pena que vai da singela advertência até a demissão, esta em caso de reincidência. Propondo o acréscimo do artigo 117-A, na seguinte forma:

“É proibido aos servidores públicos praticarem Assédio Moral contra seus subordinados, estando estes sujeitos às seguintes penalidades disciplinares:

I – advertência; II – suspensão;

III – destituição do cargo ou comissão; IV – destituição de função comissionada; V – demissão”.

Cabe ressaltar que esse artigo limita-se ao assédio moral, na esfera vertical descendente, deixando de lado o assédio moral vertical ascendente e misto.

Identificar o assédio moral nem sempre é fácil, como já dissemos, pois muitas vezes ele é formado de pequenas atitudes que vão atacando regularmente o alvo e não de uma vontade brutal, instantânea e perceptível, como acontece nos casos de tortura física.

Para o assediador a intenção é o passo que o mobiliza para a busca de seus objetivos no assédio moral sendo que o seu objetivo pode ser meramente de querer destruir psicologicamente a outra pessoa, o que lhe poderá gerar danos na saúde e também fazer com que o assediado/vítima não trabalhe mais com ele. Objetivos esses que configuram para os processos julgados do assédio moral, o que do contrário fica descaracterizado o assédio moral. Nessa perspectiva, as provas tornam-se de fundamental importância para as ações na Justiça do Trabalho, nos pedidos de indenização por assédio moral.

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PROVAS DO ASSÉDIO MORAL

O assédio moral diferencia-se do dano moral, como já vimos atrás, sendo necessário o assediado/vítima provar não somente os fatos, mas também os prejuízos psíquico e físicos, pois segundo Zanetti (2008, p. 116) “se não fosse necessária esta última prova, uma imensidão de abusos poderia ocorrer”.

Todos os fatos devem ser provados pelo assediado/vítima, não bastando somente alegar que lhe foram praticados atos hostis. É através dos fatos que o assediado/vítima provará que o empregador não cumpriu com suas obrigações na garantia de segurança e saúde do trabalhador. Pois se os fatos não forem provados, o assediado/vítima não terá direito a indenização.

As provas dos fatos trazidas pelo assediado/vítima são livres, o que difere das provas dos danos causados. Para se provar os fatos, admitem-se todos os meios de provas legais (Aguiar, 2007), tais como: emails; post-its; testemunhas, mesmo que uma só; gravações telefônicas entre as partes, não podendo ser realizada por um terceiro, pois esta prova seria considerada interceptação e nesse caso a prova seria considerada ilícita (Zanetti, 2008).

Para que se configure o assédio moral é indispensável a prova de que o assediado/vítima teve no mínimo um problema psíquico e eventualmente um problema físico, pois se entende que certas pessoas possuem resistência a práticas hostis, desta forma não sofrem nenhum transtorno psicológico e nem físico.

Na decisão dos magistrados a prova do dano psíquico já se faz suficiente e quando acrescida a adjunção ‘e’ físico, significa dizer “que os problemas psíquicos poderão ou não ser somatizados no corpo da vítima através de doenças, mas isso não quer dizer que necessariamente se somatizem, portanto, o problema psíquico já é suficiente para se provar o dano” (Zanetti, 2008, p. 180).

Em uma situação de degradação do estado de saúde de um assediado/vítima (se esta estiver morta, outras pessoas terão que provar), faz-se necessário que este prove através de seu histórico médico, constatando que até um determinado momento de sua vida não existiam tais

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FIGURA 6 – NÍVEL HIERÁRQUICO

Referências

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