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Propriedades químicas do solo inundado periodicamente pelo Riozinho, Pantanal da Nhecolândia 1

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Academic year: 2021

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Propriedades químicas do solo inundado periodicamente pelo Riozinho, Pantanal da Nhecolândia1

Evaldo Luis Cardoso2; Sandra Mara Araújo Crispim2; Sandra Aparecida Santos2; Geraldo da Silva e Souza3

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Parcialmente financiado pela Fundect 2

Embrapa Pantanal, Rua 21 de setembro, 1880, C. P. 109, Corumbá, MS. E-mail: evaldo@cpap.embrapa.br; scrispim@cpap.embrapa.br, sasantos@cpap.embrapa.br 3

Embrapa Sede, Secretaria de Administração Estratégica, Brasília, DF. E-mail: geraldo.souza@embrapa.br

Resumo

O regime de inundações periódicas é uma característica marcante do Pantanal e constitui um importante fator no funcionamento de seus ecossistemas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do regime de cheias sobre as propriedades químicas do solo. A área de estudo foi uma vazante periodicamente inundada pelas águas do Riozinho, localizada na sub-região da Nhecolândia, que por sua vez, recebe influência das águas do Rio Taquari. Os solos foram amostrados em março e setembro/2004, antes e após a cheia, respectivamente, nas profundidades 0-5; 5-10; 10-20; 20-30 e 30-40 cm. A cheia proporcionou redução na fertilidade do solo, expressa principalmente pela diminuição nos valores de soma de bases trocáveis, capacidade de troca de cátions efetiva e teores de fósforo. Os teores de matéria orgânica não foram influenciados pela cheia, somente pela profundidade do solo.

Termos para indexação: acidez, fertilidade, matéria orgânica, nutrientes. Abstract

One of the striking characteristics of the Pantanal is its flooding pulse regimen, which is an important factor related to ecosystem function. The objective of this work was to evaluate the effects of flooding regimen in the chemical soil properties. The area of study was a periodically flooded area by Riozinho River, located in the sub-region of Nhecolândia. Besides, this sub-region is influenced by the Taquari River. Soils were sampled before and after flooding, at the following depths: 0-5;5-10; 10-20; 20-30 and 30-40 cm in March/2004 and September/2004, respectively. According to the results, there was a reduction of soil fertility, expressed as low values of sum of changeable bases, effective cation exchange capacity and P content. Organic matter content was not affected by flooding, only by soil depth.

Index terms : acidity, fertility, organic matter, nutrients. Introdução

O Pantanal constitui uma extensa e particularíssima superfície deprimida, com declives regionais insignificantes, que condiciona um regime de inundações periódicas, sem dúvida, sua característica distintiva mais marcante. Formada sobre materiais sedimentares de idade recente, esta região apresenta características bastante peculiares, expressas pelo mosaico de unidades de paisagens que a compõem. Existem variações de

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solo, flora, fauna e uso pecuário de acordo com a origem dos sedimentos e o tipo de inundação (POTT et al., 2000).

No Pantanal distingue-se uma heterogeneidade interna que determinou a delimitação de diversos “pantanais” (sub-regiões) com características próprias, ecológicas e florísticamente diferenciáveis (SILVA e ABDON, 1998). As inundações não se manifestam com a mesma intensidade nos diversos “pantanais”, existindo diferenças no tocante ao grau, altura e duração das enchentes. A região apresenta ainda, uma variabilidade interanual e plurianual, isto é, alternância de ciclos de anos muitos chuvosos ou relativamente secos (ADÁMOLI, 2000).

Segundo POTT (1988) distinguem-se dois tipos de inundação, conforme sua origem, fluvial e pluvial. Na fluvial os leitos rasos e indefinidos dos rios descarregam água como vertedouro e através de defluentes (”corixos” e “corixões”), a distribuem nos campos; a pluvial , chamada de “enchente de chuva”, ocorre em áreas não diretamente afetadas pelos rios, são resultantes da elevação do lençol freático, causada pela falta de gradiente hidráulico e pelas chuvas concentradas.

O ciclo anual de cheia e seca constitui o fenômeno ecológico mais importante da planície de inundação de um rio, pois controla sua estrutura e funcionamento, desempenhando papel preponderante na ciclagem de nutrientes e disponibilidade de água (ALHO et al.,1988; BAYLEY, 1989) citados por CALHEIROS e FERREIRA (1996). Para esses autores, o pulso de inundação é, portanto, um dos fatores que rege a biodiversidade do Pantanal, uma vez que ora favorece as espécies animais e vegetais relacionadas à fase de seca, ora favorece aquelas relacionadas á fase de cheia.

Diversos relatos na literatura, embora empíricos, ressaltam a importância da alternância de seca e cheia na renovação das pastagens nativas. Segundo POTT (1988), a intrincada rede flúvio-lacustre do Pantanal, ramificada e anastomosada, por sua dinâmica de cheias (estacional e plurianual), influi decisivamente sobre as melhores pastagens nativas, de forma direta e negativamente sobre a utilização destas, mas de forma indireta e positiva sobre a fertilidade do solo e qualidade das forrageiras. Segundo ALLEM e VALLS (1996), a inundação fluvial sempre foi bem suportada pelos pantaneiros, sendo inclusive atribuída à mesma os efeitos benéficos sobre as terras circunvizinhas, pela fertilização de seus solos através dos resíduos transportados no bojo das águas.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do regime de cheias sobre as propriedades químicas do solo de uma vazante periodicamente inundada pelas águas do Riozinho, sub-região da Nhecolândia.

Material e Métodos

O presente trabalho foi conduzido em área de vazante localizada na sub-região da Nhecolândia (lat. 180 56’ 38’’ S, long. 560 42’ 25’’ W), cujo solo classificado como Neossolo Quartzarênico Hidromórfico típico. A vazante é periodicamente inundada pelas águas do Riozinho, que por sua vez, recebe influência das águas do Rio Taquari.

Em março/2004, antes do início da cheia, e em setembro/2004, logo após o período de cheia, foram coletadas amostras de solo em três diferentes locais da vazante. Em cada local foram abertas cinco micro-trincheiras, para formação das amostras compostas, e realizadas amostragens de solos nas profundidades 0-5; 5-10; 10-20; 20-30 e 30-40 cm.

As amostras foram analisadas para as seguintes propriedades químicas: pH em água; Ca, Mg e Al trocáveis; P e K assimilável (Mehlich-1) segundo EMBRAPA (1997)

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e matéria orgânica (YEOMANS e BREMNER, 1988). Com os resultados, foram calculados a capacidade de troca de cátions efetiva (t) e a soma de bases trocáveis (S).

As análises estatísticas foram realizadas pelo procedimento GLM do SAS (2002), cujo modelo de análise de variância levou em consideração os efeitos da cheia, profundidades do solo e respectivas interações. A comparação dos contrastes entre médias, foi realizada pelo teste “t”.

Resultados e Discussão

Para os atributos químicos que denotam a acidez do solo (pH, H+Al e Al3+) constatou-se que a cheia apresentou efeito significativo somente sobre o pH, enquanto a profundidade do solo teve influência nos valores de H+Al e Al3+. A acidez ativa, expressa pelo valor médio de pH, foi menor após a cheia, independentemente da profundidade do solo, sendo constatado os valores de 4,87 e 5,36, antes e após a cheia, respectivamente. A acidez trocável, expressa pelos teores de Al3+, e a acidez potencial, expressa pelos teores de H+Al, independentemente da cheia, apresentaram decréscimos lineares à medida que aumentava-se a profundidade do solo, os resultados são apresentados na Figura. 1. O alumínio é um componente de destaque na acidez dos solos, sua ocorrência causa acidez expressiva em certos solos, pois, ao ser deslocado dos sítios de adsorção para a solução, ele hidrolisa produzindo íons de H+ (FURTINI NETO et. al., 2001). Em solos de mata nativa e cultivada, THEODORO et al. (2003) relacionaram valores médios de Al3+(5,1 mmolc dm-3) e valores altos de H+Al (50,1 mmolc dm-3) com a dissociação do H+ de grupos fenólicos e carboxílicos da matéria orgânica, principais fornecedores de prótons ao solo, principalmente em ecossistemas naturais.

Figura 1. Teores de H+Al e Al em diferentes profundidades do solo antes e após a

cheia do Riozinho, sub-região da Nhecolândia.

Com relação aos teores de matéria orgânica, independentemente da cheia, os valores variaram somente em função da profundidade do solo, cujos resultados são apresentados na Figura 2. Constatou-se os maiores teores de matéria orgânica na profundidade de 0-5 cm, tanto para antes como depois da cheia, e decréscimos lineares à medida que aumentava-se a profundidade do solo. É possível que a não constatação do efeito da cheia sobre os teores de matéria orgânica tenha sido decorrente da amostragem imediatamente após o término da inundação, não havendo tempo suficiente para início

0 5 10 15 20 25 30 35 40 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) H+Al (mmolc/dm3) Pré Cheia Pós Cheia 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) Al (mmolc/dm3) Pré Cheia Pós Cheia

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da decomposição dos restos vegetais depositados pela inundação. Tais resultados ressaltam a importância da avaliação do tempo de decomposição e composição química desses resíduos vegetais, pois o teor de matéria orgânica no solo é resultado do balanço entre a deposição de resíduos orgânicos no solo e a decomposição dos mesmos (FURTINI NETO et al., 2001).

Para a soma de bases trocáveis (S) e a capacidade de troca de cátions efetiva (t) constatou-se interação significativa entre a cheia e profundidade do solo. Observou-se que após a cheia, na profundidade de 0-5 cm, houve redução tanto do valor de S como de t, sendo que para as demais profundidades os valores médios não diferiram pelo teste de médias (Figura 3). Possivelmente, essa redução observada após a cheia possa ser decorrente da lixiviação das bases trocáveis através da percolação da água no solo. Segundo MORAES e DYNIA (1992), a grande quantidade dos íons NH4+, Fe2+ e Mn2+ liberada pela inundação de solos de várzeas pode deslocar consideráveis quantidades de Ca2+, Mg2+ e K+ dos sítios de troca para a solução do solo, tornando-os mais suscetíveis à lixiviação, principalmente nos solos arenosos.

Figura 2. Teores de matéria orgânica em diferentes profundidades do solo antes e após

a cheia do Riozinho, sub-região da Nhecolândia.

Figura 3. Valores de soma de bases trocáveis (S) e capacidade de troca de cátions

efetiva (t) em diferentes profundidades do solo antes e após a cheia do Riozinho, sub-região da Nhecolândia.

0 2 4 6 8 10 12 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) S (mmolc/dm3) Pré Cheia Pós Cheia 0 2 4 6 8 10 12 14 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) t (mmolc/dm3) Pré Cheia Pós Cheia 0 5 10 15 20 25 30 35 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) MO (g/kg) Pré Cheia Pós Cheia

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Os teores de P no solo foram significativamente influenciados pela interação entre o efeito da cheia e da profundidade. Embora o P seja um elemento pouco móvel no solo e não sujeito à perdas por lixiviação, observou-se que após a cheia, nas profundidades de 0-5 cm e 5-10 cm, os teores de P foram significativamente menores que aqueles antes da cheia, sendo que para as demais profundidades não diferiram pelo teste de médias (Figura 4). Todavia, a diminuição na solubilidade de P em solos sob inundação após a drenagem é amplamente ressaltada na literatura. Segundo WILLETT (1979), o decréscimo na disponibilidade de P, com a drenagem de solos inundados, está associado ao aumento da reatividade dos óxidos de ferro em adsorver o P. Além das formas inorgânicas de P, as formas orgânicas podem sofrer transformações com os ciclos de umedecimento e secagem do solo (FERNANDES et al, 2002).

Figura 4. Teores de P em diferentes profundidades do solo antes e após a cheia do

Riozinho, sub-região da Nhecolândia.

Conclusões

A área de vazante, sujeita à inundação periódica pelo Riozinho, apresenta decréscimo da fertilidade do solo após o regime de cheia, expressa principalmente pela redução nos valores de soma de bases trocáveis, capacidade de troca de cátions efetiva e teores de fósforo. A cheia não influencia os teores de matéria orgânica.

Referências Bibliográficas

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0 5 10 15 20 25 30 0-5 5-10 10-20 20-30 30-40 Profundidade (cm) P (mg/kg) Pré Cheia Pós Cheia

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