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A dinâmica do novo mundo rural e o seu reflexo na RMS

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Academic year: 2021

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(1)ELISSANDRA ALVES DE BRITTO. A DINÂMICA DO NOVO MUNDO RURAL E O SEU REFLEXO NA RMS. SALVADOR 2004.

(2) 2. ELISSANDRA ALVES DE BRITTO. A DINÂMICA DO NOVO MUNDO RURAL E O SEU REFLEXO NA RMS. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Economia da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de mestre em Economia. Orientador: Professor Dr. Vitor de Athayde Couto. Salvador 2004.

(3) 3. Dedico este trabalho a toda a minha família, em especial a minha mãe Joanita, as minhas irmãs Elba, e a minha gêmea Elisângela, e ao meu esposo Roberto que sempre estiveram ao meu lado, apoiando-me nos momentos mais difíceis e a minha filha Laís que apesar de ainda não ter vindo ao mundo, mas já presente em minha vida, proporcionou-me coragem para não desanimar..

(4) 4. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e a todas as pessoas que de uma forma direta ou indireta me auxiliaram na elaboração da Dissertação, em especial a meu orientador Vitor de Athayde Couto que além de me presentear com a sua sabedoria, mostrou-se um amigo incondicional, dando-me força para concluir o trabalho, e, dando-me confiança para acreditar na possibilidade de vencer mais esse obstáculo da vida acadêmica. A todo corpo de professores e funcionários, em especial a Lurdinha que esteve sempre disposta a atender as solicitações dos alunos. Aos meus colegas e amigos, em especial a Eduardo Garcez, Ana Virgínia, Mírtes Aquino, Eva Borges, Eneida, Meirejane, Caroline, Alex Bruno, Osvaldo e Jubdervan Viana que foram, mesmo sob pressão, companheiros e solidários durante todo o curso. A minha prima Isnara Souza pela sua dedicação em atender aos meus pedidos. A Alynson Rocha pelas suas dicas que foram bastante úteis ao trabalho, a Joseanie Mendonça que, apesar do pouco tempo de convivência, demonstrou-me uma amizade sincera, incentivando-me e colocando-se sempre solicita à atender as minhas necessidades. A Ana Mônica Hughes por me fornecer trabalhos e por me prestar informações bastante úteis à elaboração da Dissertação. E ao meu esposo Roberto Correia que além de ter paciência para suportar os meus momentos de nervosismo e angústia, deu-me, com a sua demonstração de amor e carinho, força para não desistir. A todos muito obrigada..

(5) 5. “A urbanização prematura, excessiva e desnecessária, que se deu numa sociedade, (...) profundamente desigual, configurou um padrão de crescimento metropolitano marcado pelo contraste gritante entre o luxo ostensivo dos bairros nobres e a proliferação das favelas, (...). Que as grandes cidades brasileiras funcionem no dia-a-dia (...) constitui um tributo à engenhosidade, à santa paciência e ao esforço dos seus habitantes. Mas em que pese a sua modernidade aparente, elas se encontram em crise, cuja intensidade se mede pela violência urbana presente na maioria das grandes e médias cidades brasileiras” (SACHS, 2002)..

(6) 6. RESUMO “A dinâmica do novo mundo rural e o seu reflexo na RMS” (Região Metropolitana de Salvador) é um trabalho que tem como propósito analisar o papel da agricultura familiar e a contribuição da reforma agrária para o processo de desenvolvimento rural sustentável no mundo rural baiano. Essas abordagens são elucidadas na perspectiva de que os centros urbanos baianos possam se tornar vítimas do processo de esvaziamento da zona rural. Nesse aspecto, ao longo do trabalho é dado enfoque sobre os impactos sociais decorrentes do desemprego da mão-de-obra agrícola baiana e do conseqüente êxodo rural. O objetivo ao elaborá-lo foi verificar se o desenvolvimento rural incentiva as pessoas a permanecerem no campo, possibilitando a redução do fluxo de migrantes que muitas vezes vão habitar as periferias e as favelas. Observa-se nas pesquisas realizadas por Machado, Schmitz e Paula que as ocupações não-agrícolas têm-se tornado cada vez mais presentes na zona rural. Ao mostrar por meio de estudos reais que a composição da renda rural vem mudando consideravelmente, busca-se ressaltar a importância dessas atividades para a redução do fluxo migratório que vêem para as grandes cidades. Esse processo dá fôlego aos centros urbanos para que resolvam ou pelo menos amenizem o problema do subemprego acumulado. Para tanto, tem-se como objeto de estudo a estrutura e a formação de renda de famílias pluriativas, afim de revelar os principais tipos de atividades que empregam e/ ou ocupam as diversas unidades de trabalho familiar (UTf), bem como suas respectivas rendas. De posse dessas informações, utiliza-se a metodologia análise-diagnóstico de sistemas agrários, que vem sendo adotada desde 1995 pelo Projeto de Cooperação Técnica firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Ela consiste num instrumento de apoio dos profissionais que atuam na elaboração de diagnósticos para diferentes microrregiões de um país. Através destes, identificam-se os principais problemas que as famílias rurais enfrentam, e se estabelecem diretrizes para o desenvolvimento rural local mais coerentes com a necessidade de cada região. PALAVRAS-CHAVE: Novo Mundo Rural; Agricultura Familiar; Famílias Pluriativas; Reforma Agrária; Desenvolvimento Rural Sustentável..

(7) 7. ABSTRACT “A dinâmica do novo mundo rural e o seu reflexo na RMS” is a work that has as objective to analyze the issue of the family farming and the contribution of the agrarian reform to the process of sustainable development in Bahia’s rural world. Those approaches are elucidated in the perspective that the urban centers of Bahia could become victims of the emptying process of the rural areas. In this context, this work focuses on the current social impacts of the rural labor unemployment and the consequent rural exodus. The objective when elaborating was to present that the rural development motivates the people to remain on the land, making possible the reduction of the migrant’s flow that, many times, goes to inhabit the peripheries and the slums of the cities. It was observed in the researches realized by Machado, Schmitz and Paula where the non-farming occupations are, each times more, present in the rural areas, When presenting this work, through real case studies, that the rural incomes composition is changing considerably, it seeks to emphasize the importance of those activities to the reduction of the migratory flow to the large cities. That process gives breath to the urban centers to solve or, at least, to decrease the accumulated underemployment problem. For so much, it has as study object the structure and the composition of the pluriativas families incomes, in order to reveal the main types used and/or occupied by the several family labor units (UTf), as well as its respective incomes. With this information, the Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários methodology, which has been adopted by the Projeto de Cooperação Técnica between the Instituto Nacional de Colonização Agrícola and the United Nations’ Food and Agricultural Organization since 1995, is being used. It consists in a support instrument for the technicians that act in the diagnoses elaboration for different regions of the country. Through them, the main problem faced by the rural families are identified, and the local rural development guidelines are set up, more coherent with the needs of each area. KEY-WORDS: new rural world; family agriculture; pluriativas families; agrarian reform; sustainable rural development..

(8) 8. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................8. 2 2.1 2.1.1 2.1.2 2.1.3. TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO MEIO RURAL ................................10 CARACTERIZAÇÃO E DESESTRUTURAÇÃO DO CAMPO BAIANO..........17 A modernização da agricultura ...........................................................................23 Estrutura fundiária ...............................................................................................26 Especulação fundiária...........................................................................................31. 3. A RELAÇÃO CAMPO-CIDADE NA DISCUSSÃO DA VIOLÊNCIA URBANA........................................................................................33 ÊXODO RURAL, DESEMPREGO E VIOLÊNCIA URBANA ............................38 CENÁRIO ...............................................................................................................46. 3.1 3.2 4 4.1 4.1.1 4.2 4.2.1. O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL PARA A RMS ....................................................................................................................49 O DEBATE EM TORNO DA REFORMA AGRÁRIA .........................................57 O papel da reforma agrária na absorção da mão-de-obra rural......................60 CONFIGURAÇÕES DO CAMPO BAIANO: O NOVO MUNDO RURAL ...................................................................................................................62 Agricultura familiar e o novo perfil das atividades rurais baianas....................................................................................................................69. 5 5.1 5.2. ENSAIOS DE SISTEMAS AGRÁRIOS .............................................................72 EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE LAPÃO NA BAHIA.................................78 RESULTADOS DE ESTUDOS NA BAHIA .........................................................92. 6 6.1 6.1.1. PERSPECTIVAS ..................................................................................................109 POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO RURAL .................................................110 Estrutura, Ações e limites do PRONAF na Bahia..............................................114. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................116 REFERÊNCIAS ....................................................................................................118.

(9) 9. 1 INTRODUÇÃO O estudo contemporâneo sobre a estrutura do campo brasileiro revela que a desestruturação rural tem uma forte relação com a violência urbana. Através do processo de modernização da agricultura, da concentração, e especulação fundiária na desocupação da mão-de-obra agrícola, o êxodo rural foi intensificado. Este movimento agrava o problema da exclusão social na medida em que eleva o número de pessoas desempregadas nos grandes centros urbanos, refletindo numa crescente “onda” de violência. Na perspectiva de que os centros urbanos baianos possam se tornar vítimas do processo de esvaziamento da zona rural faz-se uma abordagem das alternativas possíveis para fortalecer a capacidade de fixação das famílias no agrobaiano. Com a criação de medidas que atuem sobre os fatores de expulsão da população do campo, espera-se que a zona urbana baiana possa se reestruturar e absorver a mão-de-obra excedente. Assim, este trabalho tem como proposta analisar o papel da agricultura familiar, bem como a contribuição da reforma agrária para o processo de desenvolvimento rural sustentável. O desafio presente está em investigar em que medida o desenvolvimento rural, ao reduzir o êxodo do campo para as cidades, pode favorecer a Região Metropolitana de Salvador. Para tanto, têm-se como objeto de estudo a estrutura e a formação de renda de famílias rurais pluriativas. Esta escolha se justifica por se acreditar que a partir da composição da renda familiar venham a ser revelados os principais tipos de atividades que empregam e/ou ocupam as diversas unidades de trabalho familiar (UTf), bem como as suas respectivas rendas. Assim, apresentam-se proposições acerca da reestruturação agrária e do fortalecimento da agricultura familiar, a fim de que os campos baianos se tornem mais atrativos, possibilitando a redução dos habitantes da periferia e das favelas das grandes cidades, bem como dando fôlego aos centros urbanos para que resolvam o problema do subemprego acumulado. Este trabalho focaliza o novo papel da Reforma Agrária após as transformações estruturais e conjunturais que levaram à destruição de postos de trabalho no país e o fortalecimento da agricultura familiar para o desenvolvimento rural sustentável da Bahia, estado do Nordeste que apresenta maior evasão populacional. Para tanto, utiliza-se a metodologia análisediagnóstico de sistemas agrários, que vem sendo adotada desde 1995 pelo Projeto de Cooperação Técnica firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e a.

(10) 10. Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação. Ela consiste num instrumento de apoio dos profissionais que atuam na elaboração de diagnósticos para diferentes microrregiões de um país. Através destes, identificam-se os principais problemas que os agricultores enfrentam, passando a estabelecer diretrizes para o desenvolvimento rural local mais coerentes com a necessidade de cada região. No que diz respeito à agricultura familiar, a análise é feita sobre o segmento dos agricultores familiares em processo de decadência. Para fundamentar o trabalho são realizados estudos no âmbito do projeto “Rurbano”, coordenado por Silva, professor da Unicamp. Através deste, mensura-se o número de agricultores familiares que se tornam trabalhadores pluriativos. De acordo com os dados dessa pesquisa há uma tendência de crescimento da pluriatividade, baseado no trabalho desenvolvido em tempo parcial, e, também, no aumento da ocupação em atividades não-agrícolas. Nesse aspecto, propõe-se estudar o papel do desenvolvimento rural sustentável na geração de empregos e outras formas de ocupação da mão-de-obra, como turismo, gestão do meio ambiente, comércio e serviços que não estão diretamente vinculados à agricultura, mas poderão contribuir para manter a população na zona rural, permitindo aos centros urbanos da Bahia criarem medidas sociais mais eficazes no combate à fonte de alimentação da violência urbana. Portanto, não somente as atividades agrícolas, como também as não-agrícolas são alvo de uma investigação minuciosa, a fim de que possa ser revelada a sua importância para valorização dos campos baianos, ao amenizar o êxodo rural descontrolado. Este trabalho divide-se em 5 partes, além da introdução e conclusão. Na primeira, contextualiza-se o problema, através da explanação das causas que levam à desestruturação do campo e conseqüentemente ao êxodo rural. Na segunda, relata-se o problema do desemprego, enfatizando-se o seu agravamento como reflexo da desarticulação da zona rural. Na terceira, procura-se traçar as alternativas viáveis para revalorização do campo, para tanto se focaliza a relevância do desenvolvimento rural sustentável para a RMS. Na quarta, descreve-se a metodologia análise-diagnóstico de sistemas agrários, utilizada para identificar os principais problemas que os agricultores enfrentam e, a título de experiência, relata-se o caso do município de Lapão na Bahia. Além disso, para dar embasamento às questões levantadas nos capítulos anteriores é analisado o estudo de caso de três trabalhos apresentados na UFBA. A última parte é reservada para apresentar as medidas de cunho político criadas com a finalidade.

(11) 11. de promover o desenvolvimento rural sustentável. Neste capítulo são discutidos os principais potenciais, ações e limites do PRONAF enquanto uma política de desenvolvimento local. Dessa forma, espera-se que ao fim do trabalho seja confirmada a hipótese de que o desenvolvimento rural pode favorecer a economia baiana, ao promover a reestruturação agrária e fortalecer a agricultura familiar..

(12) 12. 2 TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO MEIO RURAL O capitalismo que se desenvolveu na agricultura brasileira desde o pós-guerra causou mudanças significativas na distribuição populacional. As taxas de migração no sentido campo-cidade foram elevadas e a estrutura de produção agropecuária passou a desempenhar importante papel para a expansão do setor externo, além de se concentrar internamente no fornecimento de matérias-primas para o setor urbano-industrial (MATTEI, 1995, p.35). No pós-guerra, a indústria passa a ter maior destaque no cenário nacional, transformando-se em pólo dominante da economia. Nesse período, a agricultura, cumpriu um papel vital para o processo de industrialização, pois além de fornecer os contingentes da força de trabalho, de atuar como fornecedora de alimentos e de matérias-primas, de servir como mecanismo de transferência de capital e de gerar divisas constituiu-se num importante mercado consumidor dos produtos gerados no setor industrial. Segundo Oliveira (1981, p.20), a agricultura tem uma nova e importante função, não tão importante por nova, mas por ser qualitativamente distinta. Entretanto, alguns autores ligados à linha do pensamento estruturalista da inflação, compreendiam a agricultura como um entrave ao processo de crescimento econômico do país. Segundo esta concepção, o atraso neste setor impedia que o crescimento da oferta de produtos agrícolas acompanhasse a demanda urbana, provocando choques constantes de oferta, que conduziam à elevação dos preços. A ausência de uma reforma agrária levava, com a existência de grandes latifúndios, a uma profunda concentração de renda, impedindo assim, a criação de um mercado consumidor mais amplo para a indústria.1 Apesar dessa concepção estruturalista sobre o desempenho do setor agrícola, a visão que prevaleceu após o movimento militar de 1964, foi a de que à agricultura cumpriu o seu papel no processo de expansão do modo de produção capitalista. Dessa forma, ao longo da segunda metade dos anos 60 e por toda a década de 70 foram se formando as bases para a implantação do atual modelo agroindustrial. Neste contexto, as políticas nacionais de desenvolvimento implantadas pelo regime militar foram bastante relevantes para a consolidação deste modelo.. 1. Ver a respeito Vasconcellos et al. (1996)..

(13) 13. O processo de modernização agrícola foi alavancado através de mecanismos como o EGF – Empréstimo do Governo Federal – que permite, sendo uma linha especial de crédito, a estocagem do produto pelo agricultor para ser comercializado posteriormente e o AGF – Aquisição do Governo Federal – que caracteriza uma compra feita pelo governo de produtos com preços prefixados. Esses dois instrumentos deram início a um novo arcabouço para a política agrícola do país, configurado na criação do Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR - que tinha a finalidade de propiciar linhas de crédito baratas aos agricultores e nas políticas de garantias de preços mínimos - PGPM - que visam garantir um preço de venda mínimo aos produtores. Até o final dos anos 70, a política agrícola foi assentada no sistema de crédito rural subsidiado e nos incentivos fiscais. A combinação desses elementos provocou profundas alterações na base técnico-produtiva, propiciando uma utilização massiva dos insumos modernos. Porém, essa política não beneficiou de maneira uniforme todas as regiões do país, todos os extratos de produtores e todos os tipos de produtos, vindo a evidenciar três características marcantes do desenvolvimento agrícola brasileiro: os desequilíbrios regionais, as desigualdades sociais no campo e os desequilíbrios inter-setoriais (ibidem, p.36). Os desequilíbrios regionais se verificam na medida em que algumas regiões se tornaram pólo atrativo de investimentos governamentais. A região Sul-Sudeste se enquadra nesse contexto mais expressivamente no auge do processo de industrialização. Enquanto que as demais regiões como o Norte-Nordeste carecem de recursos governamentais no tocante a economia regional para que se possa vislumbrar participações mais efetivas dessas regiões no produto nacional. Para as desigualdades sociais, constatou-se com base nos dados do Censo Agropecuário (1985), que menos de 1% do total dos estabelecimentos, com tamanho de área acima de 1000 hectares, possuíam 43,8% do total das terras agrícolas. Como conseqüência deste processo de concentração fundiária ocorreu, por um lado, um enorme êxodo do campo e, por outro, o surgimento de uma nova categoria de trabalhadores rurais: os Sem Terra (ibidem, p.37). No que se refere aos desequilíbrios inter-setoriais, tem-se que as relações de trocas se estabeleceram em prol dos setores industriais para a agricultura e da agricultura constituídos.

(14) 14. oligopólios em detrimento dos produtores rurais descapitalizados.2 Estes foram intensamente atingidos pela queda dos preços recebidos (COUTO, 1984, p.12). Com a ineficiência da política agrícola e o aumento dos custos de produção, registrou-se uma perda de renda dos agricultores. Esse quadro, aliado a uma política de abertura comercial e a um intenso processo de reestruturação produtiva contribui para que o país viva atualmente sob o tormento de uma profunda crise de desemprego. A situação se agravou em face a implantação do Plano Real. Neste, à agricultura assumiu o papel de ancorar a redução das taxas de inflação. Essas medidas associadas ao processo de urbanização descontrolado desencadearam uma fase a qual Couto (1984, p.13) em seu livro Cinco anos de políticas agrícolas, chamou de transformação da pax agrária na violenta urbana contemporânea. Portanto, nesse contexto, para que haja um melhor entendimento sobre a correlação existente entre o êxodo rural e o crescimento da violência nos grandes centros urbanos, faz-se necessário compreender a natureza do desenvolvimento do capitalismo na agricultura. Ao se estudar o desenvolvimento do capitalismo no campo, depara-se, historicamente, com dois caminhos bastante distintos: a “via democrática” e a “via prussiana”. Enquanto a primeira promoveu o desenvolvimento do capitalismo na agricultura através da pequena propriedade, que ao longo do tempo foi se modernizando, a segunda, se caracterizou pela manutenção dos grandes latifúndios, que foram tecnificados e modernizados, transformados em grandes propriedades e explorações capitalistas (FILGUEIRAS, 1992, p.1). A ocorrência destes distintos caminhos tem sido atribuída, segundo Filgueiras, por um lado, “a existência de diferentes formações históricas com estruturas econômicas e sociais précapitalistas muito distintas e por outro, à forma e ao modo como a burguesia impôs politicamente a sua hegemonia ao conjunto da sociedade: ora aliando-se à classe dos proprietários latifundiários, do antigo modo de produção em decadência, contra o campesinato, o operariado e outras camadas sociais, ora, aliando-se a estas últimas para derrotar política e economicamente a antiga classe dominante” (ibidem).. 2. A distinção feita entre indústria para a agricultura e da agricultura diz respeito à forma como a agricultura se vincula à indústria. A primeira refere-se a indústria de bens de capital e intermediários e a segunda a indústria processadora de matérias-primas agrícolas (Cf MULLER apud COUTO, 1984)..

(15) 15. No Brasil, o capitalismo se tornou, com o início da industrialização, o modo de produção hegemônico, redefinindo as relações sociais de produção de acordo com a lógica da acumulação. O seu desenvolvimento na agricultura fez-se de forma similar a “via prussiana”, o que explica a ausência de uma política que viabilizasse a realização da reforma agrária.3 Com a inserção do capitalismo no campo, a estrutura fundiária tornou-se ainda mais concentrada. A agricultura passou a exercer, além das funções tradicionais, como a de fornecer matérias-primas a diversas indústrias, a tarefa de absorver os produtos industriais. A expansão capitalista ao desencadear um intenso processo de especulação fundiária molda a agricultura brasileira de acordo com as exigências do capital. A terra perde o seu valor intrínseco, possuindo um preço na medida em que leve a apropriação da mais-valia (SILVA, 1995, p.66). De acordo com Silva (1995, p.67): A importância da posse da terra decresce na medida em que o capitalismo se desenvolve no conjunto da economia e, em particular, no campo, eliminando econômica e socialmente a agricultura de subsistência e as formas primitivas de produção agrícola destinada ao mercado, nas quais o produtor assegura ele mesmo a produção dos bens – ou de grande parte dos bens – necessários à sua subsistência.. Essa situação foi reforçada quando o Estado empreendeu, ao assumir o papel de criar as bases para que a acumulação capitalista industrial pudesse se reproduzir, políticas econômicas de grande importância para o desencadeamento do processo que se convencionou chamar de “modernização conservadora”. Enquanto modernizavam-se a organização, as técnicas e as relações de produção, houve uma consolidação, ao longo dos diversos governos, dos interesses econômicos, políticos e sociais articulados em torno da grande propriedade fundiária. A política cambial desenvolvida, até a primeira metade da década de 60, ao promover a transferência de recursos advindos da “taxação” sobre as exportações, para a indústria, fomentou o processo de “industrialização por substituição de importações”.. 3. Ver a respeito Filgueiras (1991).

(16) 16. A partir de 1965, com a internalização no país da indústria de bens de capital para a agricultura, a política de crédito rural subsidiado uniu, juntamente com a proibição de importações de máquinas e equipamentos agrícolas, os interesses do novo ramo industrial, com necessidade de se acelerar e aprofundar a transformação do processo de produção na agricultura (FILGUEIRAS, 1992, p.21).. Nos anos 80, o Estado foi levado, em face à crise do balanço de pagamentos e aceleração da inflação, a redefinir a importância do crédito agrícola subsidiado e a colocar em posição de destaque a política de preços para os produtos agrícolas. Com esse instrumento, passou-se a interferir nos conflitos de interesses internalizados nos “complexos” – “protagonizados, por um lado, pelo pequeno e médio capital de natureza estritamente agrária e, por outro, pelo grande capital "integrado" de caráter multisetorial” (ibidem). Segundo Couto (1984, p.15) a política econômica adotada foi de caráter global e tinha como finalidade tornar a agropecuária um setor gerador de divisas em decorrência da dependência tecnológica e financeira. Tratava-se de criar condições para superar a crise econômica sem agravar problemas considerados crônicos: a exclusão social e a inflação. A primeira evidencia-se pelo êxodo rural decorrente da concentração fundiária motivada pela modernização conservadora e a segunda pela insuficiente oferta de alimentos. Esse quadro ao estar associado às mudanças estruturais e conjunturais que vem se processando no plano internacional, entre outras circunstâncias, as inovações ocorridas na base científico-tecnológica da produção, nos principais países desenvolvidos, e as modificações na relação Estado-Mercado deram início ao processo de globalização (PRESSER et al, 1996, p.14). A globalização é um fenômeno que suscita controvérsias em torno de seus efeitos, pois apesar de alguns autores defenderem que ela promove a transferência do capital para qualquer país que ofereça as oportunidades mais produtivas de investimento, outros, numa visão mais pessimista, prevêem que a crescente competição dos países em desenvolvimento com baixos salários destruirá empregos, forçando a redução dos salários nas economias hoje ricas, além de impulsionar um desgaste na capacidade dos governos em fixar suas próprias políticas econômicas..

(17) 17. No plano nacional, observa-se a promoção de políticas que provocaram mudanças na estrutura produtiva nacional e um encolhimento na geração de postos de trabalho. Na década de 80, a política desenvolvida forçou a obtenção de um superávit comercial destinado ao pagamento do serviço da dívida externa. Porém, como os estímulos à exportação não alcançaram o êxito desejado foram adotadas medidas de restrições ao ritmo de atividades econômicas (MATTOSO; BALTAR, 1996, p.8). O saldo comercial foi obtido com a estagnação econômica, elevada inflação e deteorização das finanças públicas. As condições do mercado de trabalho foram agravadas com o lento crescimento do emprego formal e um aumento da proporção dos trabalhadores por conta própria e dos assalariados sem contrato de trabalho formalizado. A partir dos anos 90, com as políticas que passaram a ser empreendidas no país, essa situação agravou-se ainda mais (ibidem). O processo de gradual abertura iniciado pelo Governo Sarney e acelerado a partir dos anos 90, pela política econômica implementada no Governo Collor, contribuiu para que a reestruturação produtiva fosse intensificada, sendo acompanhada por um desemprego tecnológico crescente. Entende-se esse fenômeno, iniciado no cenário mundial nos anos 70, como uma resposta do capital à queda da produtividade provocada pela crise do fordismo, o qual se caracteriza pela grande especialização do trabalho e pela produção em série. Em muitos casos, a implantação desse processo levou a desestruturação e até mesmo a desativação de unidades industriais. No Governo FHC, a política de estabilização exigiu das empresas transformações em ritmo acelerado e associações com capitais estrangeiros, para poderem sobreviver (FILGUEIRAS, 1997, p.8). Essa política provocou, consubstanciada no Plano Real, na subvalorização do dólar frente ao real e numa grande facilidade para importar, flutuações conjunturais nas taxas de desemprego, que acompanham de perto as flutuações do nível de atividade econômica. Desde o período de implantação do Plano Real, até os dias atuais, podem-se verificar cinco fases na flutuação do nível de atividades. A primeira, expansiva, se caracterizou pela queda abrupta da inflação e ritmo acelerado de crescimento das atividades produtivas e vai de julho de 1994 a março de 1995; a segunda, recessiva, teve na elevação das taxas de juros o principal fator da desaceleração da economia e começa em abril de 95 e termina em set/95, a terceira,.

(18) 18. estagnacionista, que vai de out/95 até out/97; a quarta, recessiva, caracterizada por adoção de medidas contracionistas em decorrência da crise na Ásia, a qual instaurou um clima de insegurança e instabilidade no mercado financeiro internacional, esta vai de nov/97 até out/98 e a quinta, caracterizada pela estagflação, que associa um elevado nível de desemprego ao processo inflacionário, esta vai de nov/98 até o presente momento. Assim, ao analisar fatores conjunturais e estruturais, percebe-se que a desregulação, a privatização e a estabilização, potencializaram ainda mais os efeitos decorrentes da terceira Revolução Industrial (CANO, 1996, p.16). As conseqüências das mudanças na forma como o sistema capitalista resolve os seus problemas quanto à produção, distribuição e consumo de seu produto global, não podem ser atribuídas apenas a existência de fatores estruturais, mas também a políticas econômicas desenvolvidas pelo governo nacional. A participação do Estado, especificamente, na nova dinâmica da agricultura, transformou o meio rural, tanto no aspecto da reorganização do processo de trabalho, quanto na questão da base técnica. Trata-se de uma mudança irreversível, que se cria um verdadeiro proletariado rural, dificultando a reprodução de formas em que o trabalhador detém todo o controle da atividade.. 2.1 CARACTERIZAÇÃO E DESESTRUTURAÇÃO DO CAMPO BAIANO A idéia central expressa neste item é a inserção da agricultura baiana no novo padrão de acumulação, tendo como reflexo o agravamento da crise agrária que remete a uma desestabilização da zona urbana. Para entender esta dinâmica é preciso analisar o contexto em que a natureza passa estar subordinada ao capital. Este ao promover a industrialização da agricultura, modifica as relações sociais no campo, produzindo proletariados rurais que serão responsáveis pelo fornecimento da força de trabalho no campo.. A análise do processo que levou a agricultura perder a sua autonomia, passando a estar subjugada ao capital financeiro, é feita a luz dos conceitos defendidos por Kageyama e Silva sobre a existência de vários Complexos Agroindustriais, denominados “micro” Complexos Agroindustriais que resultam da passagem dos complexos rurais aos complexos agroindustriais..

(19) 19. Parte-se do princípio de que as relações intersetoriais verificadas entre a agricultura-indústria estão inseridas na perspectiva da absorção de inovações tecnológicas na agricultura. As articulações entre a indústria para a agricultura, conhecido como o setor a montante, a agricultura propriamente dita e a indústria da agricultura, denominado de setor a jusante, caracterizam o novo padrão agrícola. O primeiro setor é responsável por fornecer bens de capital e insumos para a agricultura e o último atua como processador de matéria-prima agrícola, classificado como agroindústria. Para Marafon (2003) essas relações além de influenciarem a transformação da agricultura como setor autônomo, também impactaram na capacidade de decisão dos grupos sociais rurais. Esta concepção já era percebida por Kautsky (1980) que em seu livro A Questão Agrária, analisa, no final do século passado, o início da união da agricultura com a indústria, conforme pode ser observado na citação abaixo: O camponês deixa de ser, pois, o senhor na sua exploração agrícola. Esta se torna um apêndice da exploração industrial por cujas conveniências deve orientar-se (...). Freqüentemente, também cai sob a dependência técnica da exploração industrial (...). Como nos demais setores da sociedade capitalista, a indústria acaba por vencer a agricultura (...). A indústria constitui a mola não apenas de sua evolução mas ainda da evolução agrícola. Vimos que foi a manufatura urbana que dissociou, no campo, a indústria e a agricultura, que fez do rural um lavrador puro, um produtor dependente dos caprichos do mercado, que criou a possibilidade de sua proletarização (...). Foram criadas assim as condições técnicas e científicas da agricultura racional e moderna, a qual surgiu com o emprego de máquinas e deu-lhe, pois, superioridade da grande exploração capitalista sobre a pequena exploração camponesa (KAUTSKY 1980, p.281-318).. O trecho descreve o momento em que o trabalhador rural é despojado dos meios de produção, tornando-se agente passivo ante a transformação do meio rural. O processo de modernização que resultou na industrialização, ao se aliar às mudanças nas relações de trabalho favoreceu a constituição do Complexo Agroindustrial. Para compreender a passagem do “complexo rural” para uma dinâmica comandada pelos “complexos agroindustriais”, faz-se necessário apontar as principais características pertinentes a cada período, de forma a esclarecer as implicações do novo padrão de acumulação para a relação campo-cidade. O período compreendido entre 1850 e 1945 é conhecido como a fase de decomposição do complexo rural. Este era caracterizado por uma incipiente divisão do trabalho, onde na própria fazenda havia a produção de todos os bens intermediários e também dos meios de produção.

(20) 20. utilizados na colheita dos produtos. Geralmente havia apenas um produto de valor comercial e este era voltado para atender o mercado externo. A mão-de-obra utilizada na produção era escrava. Este aspecto foi fundamental para desencadear a crise deste complexo, pois a partir de 1850 há uma imposição dos capitais internacionais, através da proibição efetiva do tráfico negreiro, para implantação do trabalho livre. Ainda nesse período, verificou-se a formação do mercado interno, o processo de substituição de importações e a emergência do novo complexo cafeeiro paulista. Para Kageyama et al (1990) este foi um longo processo iniciado com a lei de terras e a proibição do tráfico e consolidado na década de 50 do século XX, com a internalização das indústrias produtoras de bens de capital. De acordo com Silva (1998a, p.18), a transição no pós-guerra para uma agricultura modernizada se deu lentamente, através da incorporação de algumas transformações. Do lado da produção, de 1930 a 1950, verificou-se a diversificação de produtos e, especificamente, a passagem da ênfase do mercado externo para o mercado interno; do lado da circulação, houve, com o desenvolvimento da rede de transportes, a integração do mercado nacional; quanto à forma de produzir, ocorreu uma transformação, na década de 60, mais efetiva no momento em que a oferta interna de máquinas e equipamentos torna-se mais expressiva. A partir deste período, a agricultura inicia um processo de modernização de sua base técnica. Esse processo, além de contribuir para mercantilização intra-setorial da agricultura, promoveu a substituição de elementos tradicionais utilizados nos complexos rurais por máquinas e insumos adquiridos fora do setor, estimulando, assim, a implantação internamente, de indústrias de bens de capital e insumos para a agricultura. Com a internalização do departamento produtor de bens de capital para a agricultura, denominado D1, as bases para se promover a insdustrialização da agricultura e, conseqüentemente, a implantação do novo padrão agrícola foram lançadas. A partir de meados da década de 60, a dinâmica da agricultura passa a ser determinada pelo padrão. de. acumulação. industrial,. centrado. no. desenvolvimento. dos. complexos. agroindustriais. Para Muller (apud SILVA, 1998a, p.24) este período é caracterizado como um marco do novo padrão agrícola, face à constituição do complexo agroindustrial (CAI) brasileiro em negação ao predomínio do complexo agro-comercial vigente. A constituição.

(21) 21. deste complexo surge como produto da modernização, que tem na diversificação das explorações, industriais e agroindustriais, e na substituição localizada de importações de matérias-primas estratégicas, como petróleo, os principais atores para a expansão da estrutura produtiva do CAI brasileiro. Para Silva (1998a, p.25-26), essa estrutura representa a nova dinâmica da agricultura brasileira conformada na relação conjunta da indústria para a agricultura - agricultura agroindústria. Como forma de viabilizar estas relações foi constituído o Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR, que juntamente com a política de crédito impulsionaram a modernização agrícola, modificando a posição ocupada pela agricultura no padrão geral de acumulação do país. A política de crédito rural, além de estimular a modernização agrícola, favoreceu a integração de capitais, resultando no estímulo ao processo de concentração e centralização de capitais e da terra. Nesse contexto, é importante assinalar a necessidade da participação cada vez maior do Estado, imposta durante o processo de desarticulação do complexo rural e constituição dos CAIs, com a finalidade de restabelecer uma regulação geral, em que são definidos os principais parâmetros para a rentabilidade dos capitais empregados nos distintos ramos e como fiscalizador das contradições internalizadas nos complexos. Entretanto, salienta-se que essa participação ao mesmo tempo em que promoveu um “projeto dominante” não criou mecanismos compensatórios sobre seus efeitos sociais na estrutura agrária, nos recursos naturais, nos desequilíbrios do abastecimento alimentar, na concentração da renda, nas disparidades regionais e no êxodo rural (SILVA, 1998a, p.35). Em relação às disparidades regionais, tem-se que aspectos considerados fundamentais para a modernização agrícola, como a transição para o trabalho livre, não ocorreram de maneira uniforme para todas as regiões do país. No caso do Nordeste, como explica Cano (apud SILVA, 1998a, p.7) a obediência a essa norma era quase formal, uma vez que os antigos escravos permaneciam nas propriedades como “moradores de condição”. A existência ainda precária das relações capitalistas de produção nessa região é importante para se entender o seu atraso histórico em relação ao pólo dinâmico, representado por São Paulo. Isso significa que o novo padrão de acumulação foi alcançado de maneira tardia no.

(22) 22. Nordeste, o que remete à preocupação deste trabalho, em buscar alternativas viáveis para promover o desenvolvimento do meio rural baiano, de forma a preservar a sua zona urbana da rapidez e intensidade alarmante, com que a violência urbana se expande. Além do mais, o Estado da Bahia, por ocupar uma certa posição periférica no contexto nacional, reage tardiamente ao processo de mudanças no ciclo econômico do país. No momento em que as regiões mais desenvolvidas apresentam uma desaceleração no ritmo de crescimento da população urbana, este Estado registra um crescimento populacional concentrado nessas áreas, superior a média do país. Chama-se atenção para o fato de que a Bahia apresentou uma redução no ritmo de crescimento populacional, mas não foi nas mesmas proporções do conjunto do país. Enquanto na década de 80 o ritmo de urbanização do país sofreu uma desaceleração, em conseqüência da queda de fecundidade e dos efeitos da recessão sobre os movimentos migratórios, a Bahia apresentava a 4ª taxa de crescimento urbano do Nordeste. Este comportamento pode ser, em parte, explicado pelo desempenho do PIB baiano que, ao contrário do Centro-Sul, apresentou um crescimento expressivo no período, com início do funcionamento do Pólo Petroquímico de Camaçari (BORGES, 1993, p.58-59). A implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari no Estado promoveu uma redistribuição espacial da população, na medida em que atuou como uma alternativa de absorção da mão-deobra expulsa nos grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste do país. A inexistência de novas áreas de atração contribuiu para que os migrantes se concentrassem no seu próprio estado. Apesar do dinamismo de sua economia na década passada, a Bahia ainda se apresenta com um grau de urbanização inferior ao da maioria dos estados brasileiros.4 Esta questão pode ser explicada pelo fato de 43,9% da população baiana viver no campo, o que leva o Estado a ser considerado como o que possui a maior população rural, em termos absolutos. Acredita-se que esse fenômeno seja devido, em parte, à forte capacidade de fixação do agrobaiano e à reduzida atração exercida pela maioria das cidades desse Estado.. 4. Grau de urbanização é a razão entre a população urbana e a população total do município ou região..

(23) 23. Para entender esse comportamento é necessário analisar algumas peculiaridades do Estado na estrutura de posse, uso da terra e nas atividades econômicas. No que diz respeito à área dos estabelecimentos e à condição do produtor com relação à posse da terra, têm-se que são características que contribuem para manter o elevado percentual da população na zona rural, na medida em que o tamanho dos minifúndios proporcionam maior liberdade de ação aos pequenos produtores, e a condição de proprietário da terra garante a fixação da família do pequeno produtor (ibidem, p.63). De acordo com Borges (1993, p.66), o processo de modernização agrícola, aqui implantado, não se verificou nos moldes das outras regiões do país. Em virtude desta “ocorrer, principalmente, em áreas escassamente povoadas do Oeste, impediu que esse processo tivesse, aqui, as mesmas conseqüências demográficas observadas, por exemplo, no Sul/Sudeste do país”. Um outro importante fator a ser ressaltado é que na região Nordeste do Estado houve a expansão de culturas tradicionais a exemplo da mandioca, milho e feijão que são intensivas em mão-de-obra. A estes fatores, pode-se ainda agregar, embora em menor magnitude, as características geográficas da região, pois permitiram que os habitantes da zona rural desenvolvesse atividades como a pesca, não tão importantes como potencial econômico, mas significativa para a subsistência. Na década de 90, com os processos de ajuste verificados na economia nacional, essas características se modificaram. As estratégias de saída, por um período, de alguns membros da família do pequeno produtor, utilizadas pelos migrantes foram abandonadas em virtude da redução no nível do emprego nos principais centros urbanos do país. Com o agravamento do nível de emprego houve mudança no perfil da mão-de-obra requisitada pelas empresas. Passou-se a exigir trabalhadores com maior nível de qualificação e de escolaridade, o que dificultou a incorporação dos migrantes nos mercados das regiões mais desenvolvidas do país. Dessa forma, o aumento do desemprego nestas regiões ao reverter o fenômeno migratório para fora da RMS promoveu uma intensificação do processo de urbanização na Bahia..

(24) 24. Diante da aceleração do processo de urbanização, faz-se necessária a criação de medidas que atuem sobre os fatores de expulsão da população do campo, a fim de que a zona urbana possa se reestruturar e assim absorver a mão-de-obra excedente. Assim sendo, os próximos itens foram reservados para aprofundar os aspectos da modernização da agricultura e caracterizar a estrutura e especulação fundiária na Bahia. Acredita-se que de posse destas informações, poder-se-á dimensionar até que medida a Região Metropolitana de Salvador poderá ser alvo de um processo de urbanização descontrolada.. 2.1.1 A modernização da agricultura. No que se refere ao processo de modernização da agricultura, faz-se, aqui, alusão às principais transformações da base técnica que acarretaram essa modernização. De acordo com Kageyama et al (1990, p.113), “existem três conceitos que muitas vezes são usados como sinônimos e na verdade não o são: modernização da agricultura, industrialização da agricultura e formação dos complexos agroindustriais”. O primeiro refere-se à mudança na base técnica da produção agrícola. O segundo, à transformação da agricultura num ramo de produção semelhante a uma indústria e o terceiro, à agricultura industrializada que está conectada com outros ramos da produção. As transformações básicas que diferenciam a modernização da agricultura desse processo de “industrialização” ocorreram em três momentos: no primeiro há mudanças nas relações de trabalho, no segundo, as atividades passam a ser mecanizadas não mais em função da substituição da força física, mas substituindo a habilidade manual, e no terceiro, o processo de modernização da agricultura brasileira sofre transformações que o muda qualitativamente, através da internalização dos departamentos produtores de insumos, máquinas e equipamentos (ibidem, p.115-116). Na década de 60, com a constituição do complexo agroindustrial brasileiro se evidencia que a nova dinâmica agrícola não pode mais ser apreendida apenas a partir dos mecanismos internos da própria atividade e nem da segmentação do mercado interno versus externo (SILVA, 1998a, p.26). Nos complexos, o capital assume a função de unir as diversas atividades, dandoas caráter de unidade..

(25) 25. O período de constituição dos “complexos agroindustriais” é caracterizado pela inserção do capital na atividade agrícola. Sabe-se que, a partir do seu estabelecimento, o desenvolvimento da agricultura passa a depender da dinâmica da indústria. Segundo Kageyama et al (1990, p.125), tem-se três resultados gerais mais concretos: a) do ângulo do CAI, tem-se um crescente movimento de subordinação da agricultura à dinâmica industrial; b) do ângulo da industrialização da agricultura, a mudança da base técnica, torna-se irreversível, tanto do ponto de vista da reorganização do processo de trabalho, como do ponto de vista da base técnica. É esse caráter social e irreversível da industrialização da agricultura que permitiu a criação de um verdadeiro proletariado rural e estreitou a possibilidade de reprodução de formas independentes da pequena produção ou de formas em que o trabalhador mantém o controle do processo de trabalho; c) do ângulo da integração de capitais, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) veio a formar o elo do capital financeiro com a agricultura. O processo, que alterou a base técnica agrícola, desenvolvendo a indústria de insumos para a agricultura e ampliando a indústria processadora de alimentos e matéria-prima, teve como principal instrumento o crédito rural subsidiado. No que diz respeito a esse tipo de instrumento de política agrícola, Martine (1990, p.6) afirma que, como conseqüência de sua aplicação, houve aumento da concentração da propriedade e redução do espaço de arrendatários, parceiros, posseiros e outros pequenos produtores, o que provocou um forte êxodo rural. O crédito agrícola embora não tenha atingido homogeneamente os diversos produtores, se constituiu no principal instrumento utilizado para promover a industrialização do campo. Para Delgado (apud SILVA, 1998a, p.26) a ruptura do antigo padrão de desenvolvimento e a implantação de um novo se dá a partir da conjugação de alguns fatores como a consolidação integrada com o complexo agroindustrial e as mudanças na base técnica de produção agrícola, a intensa urbanização e o rápido crescimento do emprego não-agrícola, a organização do SNCR e a política de crédito rural. O novo padrão agrícola foi consolidado com a integração de capitais intersetoriais sob o comando do capital financeiro, em meados da década de 70 e início dos anos 80. Após a concretização do processo de modernização da agricultura, observa-se que as mudanças implementadas neste setor são irreversíveis e que a agricultura jamais retornará aos padrões vigentes no modelo anterior. Do ponto de vista da utilização da mão-de-obra ocupada no.

(26) 26. campo, a mudança mais significativa foi a formação de uma mão-de-obra de assalariados rurais. As conseqüências imediatas desse processo dizem respeito à perda da “estabilidade” e da “segurança” do trabalhador rural. Estes, ao serem destituídos dos meios de produção, migraram para a cidade, passando a fazer parte do exército industrial de reserva destinado a abastecer as indústrias. Segundo Silva (1998a, p.34) É o caráter social e irreversível da industrialização da agricultura que permite a criação de um verdadeiro proletariado rural, estreitando-se a possibilidade de reprodução de formas independentes da pequena produção ou de formas em que o trabalhador mantém o controle do processo de trabalho.. A modernização da agricultura brasileira do ponto de vista social, significou um processo desigual em todos os sentidos: foram beneficiados alguns produtos, alguns produtores e algumas regiões em detrimento dos demais. Em outros termos, os subsetores, que abrange a agricultura de subsistência, por não possuírem força política e econômica foram desprezados no processo, levando à composição/manutenção de complexos mais fracos e, até mesmo, de formas artesanais de produção, com baixíssimo nível de organização por parte dos produtores (COUTO FILHO, 1997a, p.9). As novas técnicas de cultivo e a mecanização poupadora de mão-de-obra modificaram a rotina no campo. A terceirização de tarefas, alterações no plantio, tratos culturais e colheita, a criação de animais e o beneficiamento de produtos promoveram uma diminuição da mão-deobra empregada em atividades agrícolas e um crescimento das ocupações em atividades nãoagrícolas, que são realizadas em tempo integral ou parcial. Em algumas regiões da Bahia, principalmente nas localidades mais desenvolvidas, já se verifica pessoas ocupadas em atividades, exclusivamente, não-agrícolas e também pluriativas, embora continue como uma região onde o trabalho agrícola se mantém expressivo. Trata-se de um Estado em que a agricultura moderna convive ao lado de uma agricultura atrasada, com muitos problemas econômicos e sociais. Esta heterogeneidade, peculiar a região, onde se têm da agricultura capitalista altamente mecanizada à agricultura familiar de subsistência, dificulta a cararacterização do campo baiano, na perspectiva do que se convencionou chamar de Novo Mundo Rural..

(27) 27. A instabilidade econômica da atividade agrícola, em decorrência da queda nos preços das principais commodities e das terras, associada às transformações e diversificações internas do próprio setor criou um novo cenário no meio rural baiano. Nas áreas em que houve a modernização agrícola, há uma nova divisão social do trabalho rural, na qual o trabalhador torna-se pluriativo, na medida em que dedica parte do seu tempo de trabalho na execução da atividade agrícola e em outra parte do tempo disponibiliza sua força de trabalho para outras atividades. Quanto às mudanças tecnológicas ocorridas no setor primário observa-se uma elevação no uso de diversas modalidades de tecnologias. A utilização de tratores, máquinas e arados por área é intensificada, as lavouras passam a fazer uso da irrigação e os insumos destinados a combater pragas e doenças tem suas demandas elevadas. Em decorrência da modernização agrícola, o pessoal ocupado é expulso do campo.. 2.1.2 Estrutura fundiária. Ao se analisar a estrutura agrária brasileira, verifica-se um padrão de distribuição de terras altamente concentrada. Segundo a classificação do INCRA em 1992, menos de 2% do universo dos imóveis cadastrados, representado pelo segmento dos grandes imóveis, detinham mais de 50% da área cadastrada. Essa tendência à concentração da propriedade da terra também pode ser observada nos dados do Censo Agrícola. De acordo com este, 3,1 milhões de pequenos agricultores tem acesso a apenas 10 milhões de hectares, enquanto no extremo oposto, os 50 mil latifúndios, com áreas superiores a 1000 ha, detêm, contudo, 165 milhões de hectares. No que se refere ao estado da Bahia, têm-se que a estrutura agrária baiana se caracteriza por apresentar uma dimensão impressionante para o grau de concentração da propriedade, posse e uso da terra, conforme pode ser observado na tabela 1. Com base nesta, verifica-se, para o período 70/96, que, de um lado, os menores estratos de área são responsáveis por um maior número de estabelecimentos, correspondendo a uma parcela menor da área total. De outro.

(28) 28. lado, os estratos de área superiores possuem um pequeno número de estabelecimentos ocupando uma maior parcela da área total.. Tabela 1 - Número e Total da Área dos Estabelecimentos Agropecuários, segundo Estratos de Área Total para os anos de 1970, 1980 e 1995-96. Bahia Estratos de. 1970. Área Total. 1980. Estab.. (Há). N.A. Área %. N.A. Estab. %. Área. N.A. 4,68 347.311. 1996. %. N.A. 54,5. 1.243.191. Estab. %. N.A. Área %. N.A. 4,14 401.734. 57,46. 1.373.887. 29,83. 4.621.549 15,49. até 10. 297.035 54,85. 1.042.466. 10 a 50. 162.902 30,08. 3.752.337 16,86 195.284 30,65. 4.400.489 14,65 208.542. %. 50 a 100. 39.734. 7,34. 2.722.649 12,23. 45.120. 7,08. 3.055.200 10,17. 43.210. 6,18. 100 a 1000. 39.687. 7,33. 9.570.984 42,99. 46.050. 7,23 11.403.771 37,97. 41.874. 5,99 10.627.611 35,61. 2.155. 0,4. 4.329.986 19,45. 3.159. 0,5. 10000 e mais. 44. 0,01. 842.405. 3,78. 136. 0,02. 3.213.526. Não declarado. 9. 0. ---. ---. 165. 0,03. ---. 1000 a 10000. TOTAL. 541.566. 100 22.260.827. 100 637.225. 6.716.413 22,36. 100 30.032.590. 2.912.703. 4,6. 3.407. 0,49. 7.297.229 24,45. 10,7. 156. 0,02. 3.009.922 10,09. ---. 203. 0,03. ----. ----. 100 29.842.901. 100. 100 699.126. Fonte: Censo Agropecuário 1996 – IBGE. A Sigla N. A significa o número absoluto dos estabelecimentos e da área. Apesar dos dados contidos na tabela 1 não refletirem, exatamente, a realidade que se quer estudar, em decorrência de alguns fatores como o registro das áreas de terras que estão nas mãos dos arrendatários e posseiros como estabelecimento levarem a subestimação do grau de concentração, pode-se observar que a estrutura fundiária baiana ainda é bastante concentrada. Os grandes proprietários contribuem para esse quadro, na medida em que, visando fugir do Imposto Territorial (ITR), omitem, nas declarações cadastrais, as reais extensões das suas propriedades. Na observação da tabela 1, verifica-se que, em 1970, período de grande especialização da produção agrícola, os estabelecimentos agropecuários com áreas inferiores a 100 hectares representavam em torno de 92% do número total em todo o Estado da Bahia e um pouco mais de 33% do total da área dos mesmos (FILGUEIRAS, 1984, p.30). Vinte e seis anos depois, o total da área, para a mesma faixa de produtores, representa um pouco mais de 29% das terras de todos os estabelecimentos, embora a sua participação relativa, em termos de número de estabelecimentos permanecesse quase inalterada.. 9,76.

(29) 29. Em contraste, a faixa dos estabelecimentos de mais de 1000 ha, que representava em 1970 um pouco mais de 0,4% dos estabelecimentos e detinha 23% da área total, passou a ocupar em 1996, aproximadamente, 34,6% dessa área, com um pouco mais de 0,5% do número de estabelecimentos. Esse comportamento indica que houve no período analisado um pequeno crescimento e uma concentração significativa da terra em poucas unidades de decisão. O grupo que compreende os estabelecimentos entre 100 e menos de 1000 ha reduziu a quantidade e a área controlada de 7% para 6% e 43% para 35,6% respectivamente. A compreensão desse processo de concentração fundiária remete para a análise do período de implantação do modelo agroindustrial e das políticas nacionais de desenvolvimento que lhe deram sustentação, retratadas anteriormente. Nessa época, a política agrícola promoveu, além de conduzir para as desigualdades sociais no campo, alterações na base técnico-produtiva, através da introdução na agricultura de modernas tecnologias poupadoras de mão-de-obra, levando a necessidade de se qualificar o trabalhador rural. Os interesses dos grandes latifundiários foram preservados, na medida em que essa política contribuiu para a redução do espaço de arrendatários, parceiros, posseiros e outros pequenos produtores. Nos anos de 1980-1996 há um movimento oposto, verificando-se uma reduzida desconcentração de terras. Para o ano de 1980, tem-se que os estabelecimentos com menos de 100 hectares possuíam exatamente 92,23% do número total no estado e 28,96% da área dos mesmos. Enquanto para os estratos de área superiores a 100 hectares o percentual era de 7,78% e 71,03% respectivamente. No que diz respeito ao período de 96, têm-se para os mesmos estratos de áreas um percentual de 93,47% dos estabelecimentos para uma área total de 29,85% e 6,53% dos estabelecimentos para uma área de 70,15%. Enquanto os estratos de área inferiores a 100 hectares tiveram o número de estabelecimentos e de áreas ampliados, nos estratos superiores estes foram reduzidos. A análise dessa oscilação confirma que houve nesse período um processo de desconcentração fundiária. Uma resposta para esse comportamento pode ser encontrada na tese de Graziano da Silva, “O que é questão agrária” (SILVA apud LIMA, 1992). De acordo com este, em épocas de crescimento das atividades econômicas, os grandes latifúndios tendem a expandir as suas propriedades através da absorção das pequenas. Nos momentos de recessão, o processo se inverte, os grandes proprietários procurando reduzir os.

(30) 30. custos variáveis, repassam parte da responsabilidade da produção para a pequena propriedade (LIMA, 1992, p.39). Essa teoria está em conformidade com o momento de crise ocorrido no país durante o período mencionado. Na década de 80, a crise do balanço de pagamento e aceleração da inflação leva o Estado a redefinir a importância do crédito agrícola subsidiado e a colocar em posição de destaque a política de preços para os produtos agrícolas. Em 96, o país vive uma fase estagnacionista, onde a grande disparidade entre os preços pagos e os preços recebidos pelos agricultores levou a redução da área plantada, com reflexos sobre os índices de preços e sobre a geração de empregos. As mudanças, que se verificam, atingem o setor agropecuário de forma a promover uma redistribuição espacial. Muitos proprietários, em decorrência de medidas contracionistas adotadas pelas autoridades governamentais, como taxa de juros escorchante e arrocho no crédito rural, são levados a se associarem a outros proprietários. Conforme os dados contidos na tabela 2, que distribui o número e o total da área do conjunto dos estabelecimentos agropecuários, segundo a condição do responsável, entre 1970 e 1996, houve um crescimento no percentual dos estabelecimentos controlados pelos proprietários, passando de 78,44% para 83,32% e uma redução da área controlada pelos mesmos de 68,27% para 63,73%. Enquanto os estabelecimentos explorados sob as formas de arrendamento tiveram uma diminuição no número e na área dos mesmos, bem como os estabelecimentos cujos produtores são posseiros. A análise do SNCR é um importante instrumental analítico no entendimento acerca da concentração e centralização de capitais e da terra. No aspecto da integração de capitais, aos poucos o padrão de expansão horizontal, através da ocupação de fronteira nos moldes tradicionais foi substituído. Este tipo de expansão adquire um novo caráter ao se ocorrer conjuntamente com a expansão vertical, passando a integrar-se com a disseminação dos complexos agroindustriais. A política de crédito favoreceu os grandes proprietários em detrimento dos produtores descapitalizados, na medida em que estes por falta de incentivo foram levados a abandonar a terra, da onde retiravam seu sustento..

(31) 31. No que se refere ao número de estabelecimentos controlados pelos administradores não houve alteração, embora a sua área tenha variado de 26,74% para 34,33%. Essa categoria teve a sua área ampliada devida à expansão da silvicultura e as atividades empresariais de soja e milho desenvolvidas no Oeste baiano (MACHADO, 1998, p.32). Tabela 2 – Número e Total da Área dos Estabelecimentos, segundo a Condição do Responsável para os anos de 1970, 1980 e 1995 – 96. Bahia Condição. 1970. Do. 1980. Estab.. Responsável. N.A. Área %. N.A. Estab. %. N.A. 1996 Área. %. N.A. Estab. %. N.A. Área %. N.A. %. Proprietário 424.831 78,44 15.286.146 68,67 529.029 83,02 20.715.559 68,98 582.476 83,32 19.017.263 63,73 Arrendatário 24.686 4,56 240.071 1,08 15.949 2,5 120.075 0,4 13.807 1,98 133.718 0,45 Ocupante 61.773 11,41 782.472 3,52 65.340 10,25 656.816 2,19 63.748 9,12 441.582 1,48 Administrador 30.276 5,59 5.952.138 26,74 26.907 4,22 8.540.146 28,44 39.047 5,59 10.243.904 34,33 Não declarado --48 0 6.432 0,02 -----TOTAL. 541.566. 100 22.260.827. 100 637.225. 100 30.032.590. 100 699.126. 100 29.842.899. Fonte: Censo Agropecuário 1996 – IBGE. A Sigla N. A significa o número absoluto dos estabelecimentos e da área. Esses dados indicam que houve no período estudado um processo de destruição da pequena produção. A redução absoluta no número e na área dos estabelecimentos, onde os produtores são arrendatários ou ocupantes e utilizam essencialmente força de trabalho familiar, não se verificou, em termos de número dos estabelecimentos, para os produtores na condição de proprietário. Embora os produtores na condição de proprietários tenham ampliado o número de estabelecimentos, muito provavelmente tiveram as áreas reduzidas em decorrência dos produtores classificados como administradores ampliarem as suas áreas. Além disso, alguns produtores no ano de 1996 passaram a não declarar a condição do responsável pelo imóvel. Dessa maneira, verifica-se uma transferência das áreas não somente dos proprietários, assim como as dos arrendatários e ocupantes para os estabelecimentos controlados pelos administradores. Nesse sentido, tem-se que o alto grau de concentração fundiária na Bahia é um dos fatores que mais atrasam a modernização econômica desse Estado, uma vez que a redução no número da população rural, através do êxodo rural, contribui para agravar, ainda mais, as tensões sociais na cidade. Portanto, faz-se necessário uma melhor distribuição da propriedade fundiária a fim. 100.

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