FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE:
UM ESTUDO A PARTIR DA CONCEPÇÃO DE
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Carolina Arantes Pereira
Maria Cristina Marcelino Bento
Carolina Arantes Pereira
Maria Cristina Marcelino Bento
Graduada em Fonoaudiologia pela Fatea. Mestre em Fonoaudiologia pela PUC-SP. Doutoranda em Educação: Currículo pela PUC-SP. Professora da Fatea.
Graduada em Pedagogia. Mestre em Educação pela UMESP. Professora da Fatea.
59 janus, lorena, v. 5, n. 7, p. jan./jun., 2008
RESUMO
PALAvRAS-ChAvE
A Filosofia na Educação normalmente era concebida pela vida e obra de filósofos e suas idéias. Muitos professores dos anos iniciais do En-sino Fundamental foram formados de acordo com a tradição que não estimulava o pensar criticamente. O conceito de Filosofia hoje norteia as reflexões a cerca da realidade e do cotidiano, e precisa ser praticada entre professores e alunos, visando contribuir para a melhoria da socie-dade. O presente trabalho objetiva verificar se a Filosofia da Educação está presente no trabalho de um grupo de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Foi realizada uma entrevista com questionário previamente elaborado pelos pesquisadores envolvidos, cujo mesmo foi aplicado pelas alunas do 2º ano do Curso de Pedagogia da FATEA de Lorena/SP com um grupo de professores atuantes nas escolas onde as alunas realizam estágio curricular. Os dados foram analisados de maneira quantitativa e qualitativa para o alcance do objetivo do estudo.
Filosofia da Educação; Prática docente; Reflexão; Anos iniciais.
ABSTRACT
KEywORDS
Philosophy in Education was usually designed for life and work of philo-sophers and their ideas. Many teachers of the early years of Elementary School were formed according to the tradition which did not encourage to think critically. The concept of philosophy today guides the discussions about reality and everyday life, and must be practiced among teachers and students to contribute to the improvement of society. This work aims to verify whether the philosophy of education is present in the work of a group of teachers of the early years of Elementary School. An interview was conducted with a questionnaire previously developed by the researchers involved. The questionnaire has been applied by the students of 2nd year of the Pedagogy of Fatea Lorena / SP to a group of teachers working in schools where students perform traineeship. The data were analyzed quantitatively and qualitatively to reach the goal of the study.
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INTRODUÇÃO
Compreende-se neste estudo a Filosofia da Educação como reflexão da práxis educacional. O trabalho do professor necessita ser pensado, refle-tido com o objetivo de compreender melhor, de re-elaborar o fazer na/ para Educação. Assume-se aqui a idéia de reflexão como Saviani (1985), radical, rigorosa e de conjunto. Radical porque desce às raízes daquilo que se reflete, rigorosa porque deve ser feita com sistematicidade e método, e de conjunto porque não isola o problema do contexto e não corta as relações percebidas entre o problema e os inúmeros outros objetos pos-síveis de interesse, assim explica o autor. Assim, a Filosofia da Educação seria a reflexão filosófica dos problemas educacionais.
A Filosofia, por sua vez, nos cursos de formação de professores normal-mente era concebida pela vida e obra de filósofos e suas idéias. Freire (1982) explica que muitos professores foram formados pela educação bancária, ou seja, não foram estimulados a pensar criticamente. Muitos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental foram formados sem a prática da crítica cotidiana e educativa. Freire (1996) ensina que a prática docente crítica envolve o movimento dinâmico, dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer.
Neste estudo há a ciência de que a Filosofia da Educação precisa fazer parte da formação de professores da prática docente com o intuito de contribuir para a melhoria da sociedade.
Santos Neto (2004) afirma a possibilidade de se pensar a Filosofia como fundamento da prática – filosofia preocupada com o agir, com o decidir, com o intervir. E durante as aulas de Filosofia da Educação, no 2º ano de Pedagogia da FATEA de Lorena-SP, neste ano, surgiu a indagação se a Filosofia da Educação estava presente no trabalho de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para responder a tal indagação foi realizada uma pesquisa, que objetiva verificar se a Filosofia da Educação está presente no trabalho de um grupo de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
MATERIAL E MéTODO
Foi realizada uma entrevista com 40 professoras atuantes no Ensino Fun-damental da Rede Pública e Particular de Lorena, Estado de São Paulo, e
utilizado um questionário aplicado pelas alunas do 2º ano do Curso de Pedagogia da FATEA de Lorena/SP.
O questionário foi dividido entre dados pessoais (gênero, formação escolar, tempo de serviço e série em que o professor leciona) e reflexões sobre as seguintes questões: 1) Se havia as disciplinas de Filosofia e/ou Filosofia da Educação no curso de formação de professor. 2) Quantas aulas de Filosofia da Educação eram ministradas por semana. 3) Qual era a formação do professor de Filosofia. 4) Como eram suas aulas de Filosofia e/ou Filosofia da Educação durante seu curso de formação. 5) Se as aulas de Filosofia eram interessantes para a formação de professor. 6) Qual disciplina cursada na formação que mais utiliza na prática 7) Se costuma fazer reflexões críticas sobre sua atuação docente. A seguir os resultados da pesquisa são apresentados, bem como a discussão dos dados de pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSõES
Das professoras entrevistadas, 21 possuem graduação e 18 são pós-graduadas, enquanto apenas 6 possuem Ensino Médio e 1 não respon-deu. Em relação ao tempo de serviço encontrou-se que 13 professoras atuam de 10 a 20 anos; 11 professoras de 5 a 10 anos; 7 professoras têm mais de 20 anos e somente 9 professoras possuem menos de 5 anos de trabalho.
Quando indagadas sobre as disciplinas Filosofia e/ou Filosofia da Educa-ção do seu curso de formaEduca-ção de professor percebeu-se que a maioria cursou Filosofia e Filosofia da Educação, sendo que 10 professoras ci-taram a Filosofia e 20 a Filosofia e Filosofia da Educação, 8 a Filosofia da Educação e somente 2 professoras não lembraram se cursaram estas disciplinas ou não.
A questão a ser respondida pelo professor tem como objetivo verificar o número de aulas de Filosofia da Educação que o mesmo teve durante seu curso de formação, como mostra a Tabela 1:
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Tabela 1: Aulas Semanais de Filosofia da Educação
Número de aulas respostas
2 22
1 8
Não lembra 6
Não respondeu 4
Percebe-se que a maioria das professoras entrevistadas tiveram 2 aulas por semana de Filosofia da Educação.
A intenção pretendida com a próxima questão era verificar se as profes-soras conheciam a formação do seu professor de Filosofia ou Filosofia de Educação, como mostra a Tabela 2:
Tabela 2: Formação do Professor de Filosofia
Formação do professor respostas
Graduado em Filosofia 16
Graduado em Pedagogia 03
Outros 05
NS 16
Averiguou-se que, menos da metade das professoras entrevistadas es-tudaram com professores graduados em Filosofia, enquanto o mesmo número de professoras não se lembra da formação do professor. Na Tabela 3 apresenta-se o perfil das aulas de Filosofia e/ou Filosofia da Educação, como contam as professoras entrevistadas.
Tabela 3: Característica das aulas de Filosofia e/ou Filosofia da Educação durante o curso de formação de professor
Perfil das aulas resposta Vida e obra de filósofos. 10 Momentos de reflexão sobre os
problemas da Educação. 11 Vida e obra e reflexão sobre os
problemas da Educação. 17
NR 2
Sobre o perfil das aulas dos professores entrevistados, percebeu-se que 47% das entrevistadas conheceram vida e obra de filósofos e refletiram sobre os problemas da educação. O que nos leva a perceber uma mu-dança no perfil da formação profissional.
A pergunta seguinte é referente à importância dada à Filosofia da Edu-cação durante o curso de formação, e 34 professoras concordaram e justificaram o sim com as seguintes respostas: “Para pensar a atuação profissional”; “Pensar a prática em sala de aula”; “Pensar as etapas da vida pessoal e profissional”; “Ser professor reflexivo”; “Refletir sobre a educação”; “É preciso estudar para educar”; “Entender a essência huma-na”. Seis negaram a importância desta disciplina e justificaram: “Estudar sobre filósofos não acrescentou nada no meu trabalho”; “As aulas de filosofia na faculdade, na minha época, eram muito maçantes”, “Saber sobre vida dos filósofos não acrescenta nada na vida de uma criança”. A próxima questão solicitava entender se das disciplinas cursadas durante sua formação inicial de professor existia uma que era possível utilizar mais na prática docente. E as respostas seguem na Tabela 4:
Tabela 4: Disciplina cursada na formação mais utilizada na prática do-cente
Disciplinas mais utilizadas
Nº de
professores Por quê?
Didática 14
“Aulas mais práticas e trabalham com a realidade”; “Disciplina essencial para a vida do profes-sor”; “Todo professor precisa ter didática para ensinar”; “Dis-ciplina que ajuda a entender o verdadeiro significado da
profis-65 janus, lorena, v. 5, n. 7, p. jan./jun., 2008
Psicologia 12
“Ajuda a entender a ação e rea-ção dos alunos”; “Compreender o comportamento dos alunos”.
Filosofia 4
“É a maneira de examinar as coisas e de tomar atitudes na vida, consciência do que quer e acredita”; “Me ajuda a crescer junto com meus alunos”.
Sociologia 1
“Trabalhamos com pessoas e precisamos analisar e ponderar nossos atos”.
Alfabetização 1 “Hoje trabalho diretamente com alfabetização”.
Matemática 1 “É a base da sociedade”.
Pedagogia 2 “Assim tratamos da Educação e do ensino”.
Língua
Portu-guesa 1 “É a base da sociedade”.
Não, todas são
importantes 4
“Faço um mix de todas”; “Todas são importantes e contribuem para o fazer pedagógico”; “Todas as disciplinas são importantes para a minha prática docen-te”; “Acredito que aprendemos praticando. O que aprendi foi importante para a minha atu-ação hoje, mas a prática supera qualquer conteúdo teórico”.
Estes dados nos remetem a novos questionamentos, pois se 34% da população entrevistada afirma ser a didática a disciplina mais utilizada, resta-nos saber como ela é aplicada no trabalho docente. Será que a disciplina didática enfatiza o pensar criticamente ou formas de elaborar práticas sem reflexão?
A última questão era se o professor costuma fazer uma reflexão crítica da sua atuação docente, e nesta a resposta positiva foi unânime, por isso agrupou-se as justificativas de acordo com as respostas apresentadas no Quadro 1:
Quadro 1: Reflexão crítica sobre atuação docente. Grupo de respostas
Sociedade em transformação, novos rumos novas diretrizes. Avaliando se os objetivos propostos foram alcançados, revendo o planejamento.
Rever erros na atuação docente, analisar para consertar os erros, melhorar para consertar os erros.
Autocrítica, auto-avaliação, reflexão sobre a aula dada. Pede opinião dos colegas para saber se esta fazendo certo. Avaliar para melhorar a atuação docente, melhorar e aperfeiçoar o trabalho.
Percebe-se que a reflexão crítica está presente na atuação docente do grupo de professores entrevistados, que por sua vez atuam nos anos
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mico e contínuo, o que indica a necessidade de outro estudo.
CONCLUSÃO
O estudo realizado aponta para um perfil das aulas de Filosofia da Edu-cação que já não são somente sobre vida e obra de filósofos, conforme a hipótese original do trabalho. Ao mesmo tempo, percebeu-se que para o grupo de professores entrevistados há a importância da reflexão da prática docente. Esta constatação nos conduz a novos questionamentos, ou seja, conhecer como a Filosofia da Educação está presente, concre-tamente, no fazer pedagógico.
REFERêNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
______. Pedagogia da automonia: saberes necessários à prática edu-cativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SANTOS NETO, Elydio. Filosofia e prática docente: fundamentos para a construção da concepção pedagógica do professor e do projeto político pedagógico na escola. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E EDUCAçãO, 2., Rio de Janeiro, 2004. Anais... , Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1985.