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O ano da França no Brasil, um evento para selar a relação entre os dois países

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THIERRY LEANDRO JACKY BADER

O ANO DA FRANÇA NO BRASIL, UM EVENTO PARA SELAR A RELAÇÃO ENTRE OS DOIS PAÍSES

Florianópolis 2013

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O ANO DA FRANÇA NO BRASIL, UM EVENTO PARA SELAR A RELAÇÃO ENTRE OS DOIS PAÍSES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Letícia Cristina Bizarro Barbosa, Msc

Florianópolis 2013

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sempre me apoiam e iluminam meus caminhos na busca de concretizar os meus maiores sonhos.

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Aos meus pais Fátima Cândida dos Santos e Alfred Eugène Leon Bader, que me deram a oportunidade de cursar esta faculdade e de proporcionar todo o apoio necessário a minha formação acadêmica.

Aos Professores que compartilharam com seus conhecimentos nessa jornada. Em especial a minha orientadora Letícia, por disponibilizar seu tempo, seu empenho e a contribuir com seu conhecimento enriquecendo o meu estudo.

Enfim, a todos que de certa forma contribuíram para esta realização. Meus sinceros agradecimentos.

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O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo principal o desenvolvimento de uma pesquisa exploratória do Ano da França no Brasil e de suas relações internacionais, visando entender a dinâmica dos confrontos por força entre os atores do cenário internacional, levando ao entendimento de que estes atores executam ações diretas e indiretas que originam uma sequencia de efeitos entre si, o que os distingue como criadores de regimes. Conforme o quadro teórico e histórico quanto ao instrumento de política externa, o intuito é munir os instrumentos analíticos de base ao entendimento das diversas dimensões assimiladas à atividade diplomática. A cooperação e acordos internacionais entre o Brasil e a França se dão da tendência das vontades dos sujeitos internacionais, no objetivo de produzir efeitos jurídicos no plano internacional para demonstrar a importância do Ano da França no Brasil, resultando ao final do evento na consolidação da relação diplomática e comercial entre os dois países.

Palavras-chaves: Acordos Internacionais. Cooperações Internacionais. Cultura

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Le présent Travaille de Conclusion de Cours à comme objectif principal le devoloppement d'une recherche exploratoire de l’Année de la France au brésil e de cette relation internationale, visant comprendre la dynamique des confrontations par force entre les acteurs internationaux, amenant la compréhension de que ces acteurs exécutent des actions directes et indirectes qui provient une séquence d'effets en eux, ce qui les différencie comme créateurs de régimes. À partir du cadre théorique et historique des instruments de politique externe, l’intention est de munir les instruments analytiques de base à la compreensions des divers dimensions assimiler à l’activité diplomatique. La coopération et les accords internationaux entre le Brésil et la France se doit à la tendance de volonté des sujets internationaux, avec l’objectif de produire les effets juridiques sur le plan international pour démontrer l’importance de l’année de la France au Brésil, résultant au final de l’événement à la consolidation des relations diplomatiques et commerciales entre les deux pays.

Mots Clés: Accords Internationaux. Coopérations Internationales. Culture Française.

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AFAA – Association Française d’Action Artistique AFB – Ano da França no Brasil

CCFB – Association Française d’Action Artistique FMI – Fundo monetário Internacional

ICCA – International Congress & Convention Association

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MRE – Ministério das Relações Exteriores

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OEA – Organização dos Estados Americanos

ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina

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1 INTRODUÇÃO...9

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ...9

1.2 OBJETIVOS...10 1.2.1Objetivo Geral ...10 1.2.2Objetivos Específicos...11 1.3 JUSTIFICATIVA...11 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGIOS ...12 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO...13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...14 2.1 RELAÇÕES INTERNACIONAIS ...14 2.2 DIPLOMACIA...20

2.3 COOPERAÇÕES E ACORDOS INTERNACIONAIS...23

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...28

3.1 HISTÓRICO BRASIL-FRANÇA...28

3.1.1O ano do Brasil na França...31

3.2 O ANO DA FRANÇA NO BRASIL...37

3.3 ACORDOS E COOPERAÇÕES DESENVOLVIDAS PÓS ANO DA FRANÇA NO BRASIL ...45 3.3.1Balança Comercial...45 3.3.2Turismo...48 3.3.3Acordos de defesa...49 3.3.4Outras Cooperações...51 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...53 REFERÊNCIAS...56

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1 INTRODUÇÃO

A realização do evento internacional “O ano da França no Brasil” teve como intuito consolidar a relação diplomática e comercial entre as duas nações. Para isso foram realizadas ações por parte de iniciativas que surgiram a partir de entidades brasileiras, como órgãos de ambos os governos, a fim de agregar mais conhecimento cultural para os cidadãos brasileiros, no âmbito de aperfeiçoar seus conhecimentos sobre a França atual e fortalecer os laços entre as duas sociedades. Marcando assim, uma série de manifestações celebrando a amizade franco-brasileira com a intenção de demonstrar uma França disposta a dialogar e de criar junto ao Brasil uma forte parceria estratégica, aproximar suas culturas e evidenciar suas diversidades.

São abordados no primeiro capitulo os elementos do relatório de pesquisa, relatando a exposição do tema e do problema. Após, são identificados os objetivos gerais e específicos que a pesquisa a ser realizada pretende chegar. Prossegue-se com a justificativa da escolha do tema e a metodologia científica que será desenvolvida para a fundamentação do trabalho de conclusão de curso, concluindo-se com a estrutura do trabalho.

1.1EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O “Ano da França no Brasil” surgiu da iniciativa do governo dos dois países, com o objetivo de aprofundar as relações bilaterais no âmbito cultural, acadêmico e econômico, com exposições, shows, concertos, ciclos de cinema, seminários e festivais, que deram ao público brasileiro a oportunidade de acompanhar manifestações artísticas da França contemporânea e interagir com a cultura deste país.

A iniciativa se deu em março de 2008 devido a réplica do “Ano do Brasil na França” ocorrido em 2005, sendo o evento realizado entre abril e novembro de 2009. A ideia foi proporcionar à França a oportunidade de apresentar, nas diversas regiões brasileiras, as diferentes formas de sua cultura, sendo a programação dividida em três eixos de ação: “França hoje”, com a criação artística, inovação tecnológica, pesquisa científica, debate de ideias, dinamismo econômico. Foi exposta a “França diversa”, reunindo a diversidade da sociedade francesa, de

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saberes e regional. E a “França aberta”, na busca de parcerias franco-brasileiras que devem inspirar os projetos com demais países do mundo e debates sobre os grandes temas da globalização.

Tendo em vista tal relação, o Brasil é o maior parceiro comercial da França na América Latina e um parceiro estratégico na área de defesa naval. A parceria estratégica entre os países começou baseada no compromisso francês de transferir a tecnologia aeronáutica ao Brasil e permitir que o país alcance autonomia na construção e até na venda das aeronaves no mercado internacional. Focando em demonstrar que os dois governos têm o pensamento alinhado com relação à necessidade de um foro mais representativo que o G-8 para discutir temas de importância global, impactando no ingresso do Brasil no mesmo e influenciando na relação bilateral das duas nações na criação de acordos econômicos e de segurança. Comprovando que o apoio da França ao pleito brasileiro por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) é mais de um voto de confiança no Brasil, é uma demonstração do compromisso do governo francês com a ordem mundial democrática e solidária (CCFB, 2009).

Todos esses argumentos levam a reflexão o seguinte questionamento central de pesquisa, que ambiciona e tratar o desenvolvimento do trabalho: Qual a importância do evento na consolidação da relação diplomática e comercial entre os dois países?

1.2OBJETIVOS

Usando como essência o problema de pesquisa, destacam-se, a seguir, os objetivos a serem atingidos no trabalho de conclusão de curso.

1.2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem por objetivo verificar o resultado o sobre o evento internacional através os vínculos entre a sociedade francesa e brasileira, no âmbito da parceria estratégica selada entre os dois Estados firmados no “Ano da França no Brasil”.

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1.2.2 Objetivos Específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral apresenta-se alguns objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho:

 Entender o motivo da realização do “Ano da França no Brasil”.  Compreender a aliança França x Brasil.

 Analisar as condições e oportunidades que proporcionaram o evento.  Investigar quais consequências e impactos que tal evento trouxe ao Brasil e também a França.

1.3JUSTIFICATIVA

No Brasil, a necessidade de parcerias viáveis e confiáveis se faz necessário, pois na criação de alianças tais como a da França, demonstra que o governo brasileiro passou a tender optar pela formação de uma parceria e com força onde os parceiros têm a mesma importância.

A França é um país muito sofisticado tecnologicamente, porém, não possui condições para conseguir, sem parcerias, ser um dos polos de poder mundial. O Brasil, com seu mercado crescente, enorme produção agrícola, biocombustíveis, pré-sal, possui as maiores jazidas de urânio do planeta e tem a Amazônia para conservar e explorar, tornando-se para os franceses o parceiro ideal.

O Ano da França no Brasil procurou fomentar novos negócios e parcerias entre as empresas das duas nações, a partir de uma nova imagem da França, mais inovadora e com expertise em novas tecnologias (UBIFRANCE, 2009).

A parceria possui um significado estratégico para ambos, pois a França por ser uma potência nuclear visa o acesso a recursos naturais escassos no mundo, entre os quais, o urânio. Dando a certeza para o Brasil de que a transferência de tecnologia propiciará o avanço planejado na sua área nuclear e militar, na qual essas relações não são unicamente relações de produtor com consumidor. São verdadeiras parcerias industriais, que implicam em transferência de tecnologia e na vontade de produzir e consumir. Um dos eventos mais emblemáticos dessa parceria tecnológica é a realização dos grandes contratos na área da defesa, notadamente os contratos de armamentos militares que os dois países efetuaram.

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A partir daí, notamos que o governo Brasileiro buscou acertar essa parceria Brasil x França como uma estratégia de uma nova parceria, com parceiros iguais e complementares, compartilhando e usufruindo dos recursos que os dois estados podem proporcionar.

1.4PROCEDIMENTOS METODOLÓGIOS

No intuito de possibilitar o desenvolvimento do estudo, utilizar-se-á de metodologia científica de pesquisa. Para tanto, o procedimento metodológico é definido graças à tipologia de pesquisa, classificando-se quando à natureza, à abordagem do problema, aos objetivos, e ao procedimento (ANDRADE, 1998).

Quanto à natureza, o presente Trabalho de Conclusão de Curso pode se enquadrar como uma pesquisa básica. Isso porque o enfoque da mesma será compreender o tema e problema apresentado (ANDRADE, 1998).

Quanto à abordagem do problema, será utilizado o método de pesquisa qualitativa. Conforme apresentado por Oliveira (1997, p.117):

As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem facilidade de poder descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação de particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.

Nesta pesquisa, a principal finalidade para atender aos objetivos elencados é a busca e descrição do que selecionados autores já escreveram sobre o tema. Portanto, a abordagem qualitativa demonstra-se como o método mais apropriado (OLIVEIRA, 1997).

Em complemento à pesquisa qualitativa, quanto aos objetivos, aplicar-se-á pesquisa exploratória, a qual deve buscar maiores informações sobre o tema abordado e, no presente projeto, seguirá o procedimento bibliográfico e documental (ANDRADE, 1998).

A pesquisa bibliográfica busca reunir obras e artigos sobre o tema escolhido, para proporcionar, conforme Fachin (2003, p. 125): “A produção, coleção,

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armazenamento, reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para o desempenho da pesquisa”.

Para tanto, a pesquisa será realizada através de: (a) leitura e revisão de parte da bibliografia sobre mercados comuns, integração econômica, cooperação internacional e comércio exterior; (b) análise dos acordos, convenções e relatórios oficiais firmados e divulgados pelos países estudados.

Em complemento, no intuito de responder a pergunta de pesquisa, será realizado o estudo sobre a cooperação entre a França e o Brasil, conforme publicações dos principais meios de comunicação dos órgãos oficiais dos governos e organizações internacionais em que estes são membros.

O procedimento bibliográfico e documental é parte essencial para realização do estudo, conforme cronograma de atividades apresentado a seguir. 1.5ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está organizado por quatro capítulos, nos quais o primeiro capítulo apresenta a introdução ao tema de pesquisa, contextualização do tema e problemática, os objetivos, justificativa e organização deste trabalho.

O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica, que traz consigo a definição das Relações Internacionais, a definição de Eventos Internacionais e seu modelo no Brasil, e um aporte teórico das Cooperações Internacionais.

No terceiro capítulo tem-se a apresentação e a análise dos dados que começa com um breve histórico entre Brasil-França a partir da comum ligação que ligaram os dois países desde os tempos de descoberta do Brasil. Destacando os Ministérios das Relações Exteriores de ambos os países e abordando as Relações Internacionais que os mesmo tiveram tais como o evento do Brasil na França em 2005. Em seguida é abordado o evento da França no Brasil, reforçando a importância da presença e da influência francesas no país. Por fim, são destacadas as cooperações estratégicas utilizadas pelos dois governos através dos acordos e as parcerias estabelecidas.

O quarto capítulo apresenta as considerações finais e algumas sugestões e observações. Finalmente, apresentam-se as referências bibliográficas utilizadas nesta pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No presente capítulo, apresentam-se os aportes teóricos principais que enquadram o tema do trabalho. Para tanto, introduz-se o capítulo com o objetivo de conceituar as relações internacionais, a diplomacia, e por fim as cooperações e acordos internacionais no embasamento de alguns autores.

2.1RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Compreender a dinâmica dos confrontos por poder entre os atores do cenário internacional resulta o entendimento de que estes atores executam ações diretas e indiretas que originam uma sequencia de efeitos entre si, o que os diferencia como criadores de regimes internacionais.

Oliveira (2004) define as Relações Internacionais a partir de Critério Tradicional, Critério dos Atores, Critério de Internacionalidade, Critério de Fronteira ou da Localização, e por ultimo Critério de Sociedade Internacional.

A disciplina de Relações Internacionais tem sido objeto de definições portadoras de características diversificadas. Segundo observam estudiosos do assunto, esses conceitos podem ser agrupados em torno de distintos critérios (OLIVEIRA, 2004, p.60).

Segundo Oliveira (2004), O Critério Tradicional seria aquele apresentado pelo realismo político, o qual defende que as Relações Internacionais devido a sua especifica natureza de poder, estão discriminados das outras relações sociais, pois é definida pela política internacional, tratando-se de uma briga para o poder, onde a violência e a força armada exercem papeis primordiais.

O Critério dos Atores é relatado por Oliveira (2004) através dos atores implicados nesse processo, só que combinando fatores que se adéquam com a tipologia tradicional, sendo o padrão que se determina conceitualmente na esfera do Estado como unidade política de poder. Tendo na unidade estatal o ator fundamental e distinto da sociedade internacional, diferenciando a unidade interna ou doméstica da unidade internacional, visto que essa indica características próprias.

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Definido para o conjunto de fenômenos sociais que exprimam relações imediatas dos Estados entre si, o Critério de Internacionalidade influencia diretamente ou indiretamente nessas relações (OLIVEIRA, 2004).

O Critério de Fronteiras ou da localização abre campo a outros diversos tipos de relações a realidade social, passando as fronteiras, e os modos dos indivíduos que resultam de um lado de uma fronteira política nacional, os quais praticam ação sobre o comportamento de indivíduos de outro lado da fronteira (OLIVEIRA, 2004).

O ultimo é o Critério de Sociedade Internacional, que é analisado por Oliveira (2004) reunindo diversas noções, adicionando a categoria de classe social na definição de sociedade internacional, que é vista por um ângulo mundial como o conceito principal para conceituar o conhecimento de Relações Internacionais (OLIVEIRA, 2004).

Já Gonçalves (2004), define as Relações Internacionais a partir de três correntes teóricas fundamentais, que são: liberal, realista e racionalista.

O liberalismo tem suas raízes no pensamento iluminista do século XVIII, sendo um conjunto de ideias sobra à economia, a política e a sociedade que tomam o individuam como protagonista central. Demonstrando que a interdependência econômica atingiu grau muito elevado e questões como a defesa do meio ambiente, repressão ao narcotráfico, defesa dos direitos humanos, defesa das instituições democráticas, combate ao racismo, defesa dos direitos da mulher e da criança passaram a não serem mais questões apenas nacionais e viraram internacionais. A solução de questões iguais a essas estariam além da competência exigida e das possibilidades do Estado, demandando sistemática cooperação entre os países e entre estes as organizações intergovernamentais e não-governamentais. Na carência de um poder central, esse fato deve acontecer por meio da organização de regimes internacionais, ou seja, via técnicas, instituições, regras, normas e acordos jurídicos entre os estados, dependendo das necessidades específicas delas e das questões internacionais (GONÇALVES, 2004).

Os defensores do realismo a consideram como o mais velho pensamento teórico das Relações internacionais. A base da concepção dos realistas contemporâneos é formada, pelas ideias desenvolvidas por Thomas Hobbes, na qual ele argumentava que os Estados vivem em estado de natureza. O realismo como teoria cientifica surge a partir das manifestações teóricas de Edwar H. Carr e

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de Hans J. Morgenthau, onde suas grandes contribuições foram considerar que os liberais erraram em suas análises por não terem levado em conta as relações de poder nas relações internacionais (GONÇALVES, 2004).

Por fim o racionalismo é uma proposição teórica que fica a meio caminho entre as teses liberais e realistas, pois os realistas compartilham com os liberais a tese da existência de múltiplos atores nas relações internacionais, mas concordam com os realistas que os Estados são os atores destacados causadores pela decisão de fazer a guerra (GONÇALVES, 2004).

Segundo Gonçalves (2004), o que tem de efetivamente novo no sistema internacional é o acentuado debate a respeito de assuntos antes sem expressão ou simplesmente resignados à lógica da confrontação dos blocos de poder. Diante de este fato, distinguir os atores que exercem no cenário internacional representa procedimento imprescindível para a elaboração de qualquer juízo sobre as relações internacionais, sendo assim, separadas por “organizações internacionais” e “corporações internacionais”. Sendo as organizações internacionais classificadas em intergovernamentais e ONGs (Organização não Governamental) as quais pertencem a organizações tais como a ONU (Organização das Nações Unidas), o FMI (Fundo Monetário Internacional), a OEA (Organização dos Estados Americanos), a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), entre outros. As corporações internacionais também podem ser descritas através das corporações multinacionais, o Greenpeace, os Médicos Sem Fronteiras, igrejas e partidos políticos.

Sendo assim, Bath, 2005, analisa que:

Vivemos, não há dúvida, numa crescente interdependência mundial. Por outro lado, os Estados deixaram de ser os únicos atores no palco internacional – embora continuem a ser os mais importantes, precedendo as agências intergovernamentais e os organismos não-governamentais (BATH, 1989, p.51).

Gonçalves (2004) aborda que o Estado é o mais importante ator das relações internacionais, fato aderido por todas as correntes teóricas que aspiram para a análise das relações internacionais. Essa importância procede de sua universalidade e da representação do Estado como elemento especifico do direito internacional.

Além do Estado, o autor comenta sobre uma relação com os demais atores que para ele são classificados como: atores paraestatais, interestatais,

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não-estatais ilegais, e não-não-estatais legais. Podendo caracterizar os primeiros pelos Estados sem as três particularidades básicas que os conceituem: território e governo, sem população, ou atores basicamente provocadores à autoridade de um Estado (GONÇALVES, 2005).

O qual é representado conforme Bath cita abaixo:

Os Estados se fazem representar junto a eles com “Embaixadas”, análogas às que os representam junto a outros Estados. Essas Representações, ou Missões, são operadas também por diplomatas, que têm o título de

representante, representante permanente ou representante residente

(BATH, 1989, p.51).

Gonçalves, 2005, também cita os assuntos de atores não-estatais legais ou ilegais, afirmando que os atores não estatais incluem uma série de gama de atores, legais ou ilegais, com o cobiço público ou privado, com repercussão nacional ou internacional. Os atores não-estatais correspondem aos atores públicos ou privados que visam interesses públicos ou privados (GONÇALVES, 2005).

O autor define a importância e o poder derivado do conceito de nacionalidade dos atores uma vez que a atuação estatal em poder econômico, político, social, etc, colaboram para fortalecer ou enfraquecer a capacidade relativa de atuação de seus nacionais. Sendo assim, entenda-se a transnacionalidade dos atores através do alcance do seu desempenho, e nas nacionais, os atores que se completam com uma extraterritorialidade que os faz multifacetados no exterior (GONÇALVES, 2005).

Por último, a heterogeneidade é relatada devida que, para ter autoridade no sistema internacional, o ator não necessita passar fronteiras nacionais, ou ser causador por movimentos de recursos através às fronteiras, e também de serviços e fatores de produção, ou demarcar seu desempenho direto no sistema internacional. O ator vira internacional quando seu ato passa os limites do país e chega ao resto do mundo (GONÇALVES, 2005).

Uma vez entendidos os atores internacionais, suas classificações, é preciso entender o tamanho da investida da integração regional no cenário internacional avaliando com maior cuidado o fundamento de sistema internacional. Sendo assim, analisam-se ainda os dizeres de Gonçalves, 2005, que esboça o assunto de maneira a conceituar sobre o conteúdo da Economia Política Internacional.

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A estruturação e conceituação de sistema internacional são enfatizadas pelo intercâmbio de variáveis no sistema internacional, sendo explicito em um agrupamento integrado de relações, processos e estruturas. No sistema internacional, a relação é apontada por “um ato de natureza determinada” aglomerando ao menos dois atores de divergentes nacionalidades ou atores transnacionais. Assim, o processo promulga evolução, mais designadamente a “sucessão de estados ou mudanças” originadas pelas relações entre autores. A estrutura significa a “disposição e ordem das partes de um todo”, resumindo, a disposição é distribuída do conjunto de variáveis que constitui o sistema internacional (GONÇALVES, 2005,).

É necessário avaliar que o autor considera “sistema internacional” como uma série de subsistemas ou sistemas básicos, interdependentes entre si, e divididos em: político, cultural e econômico. Primeiramente, o autor aponta o espaço de relação entre atores de divergentes nacionalidades e atores transnacionais no âmbito da busca de poder. Quanto aos atores ficam sublinhados que eles têm seus comportamentos motivados por elementos objetivos iguais àqueles de intuito material, tão como devido a fatores subjetivos dos seus valores e ideais (GONÇALVES, 2005).

O autor analisa a especialidade de áreas que o campo econômico expõe é também sujeito de apuração para os outros dois subsistemas, que são divididos em político e cultural. Os dois são referenciados por ele comentando que os outros grandes assuntos das relações internacionais são de um jeito ou de outro, os três grandes sistemas básicos divididos em econômico, político e cultural, outras grandes questões são, desenvolvimento, energia, crime organizado, meios de comunicação, normas trabalhistas, proteção do meio ambiente, epidemias, fome, vulnerabilidade externa, regimes regulatórios, organismos internacionais e etc. (GONÇALVES, 2005).

Outro assunto importante tratado pelo Gonçalves (2005) é a questão da vulnerabilidade externa. Segundo ele, a oposição a movimentos e choques externos é derivada do seu poder de resistência, sendo pelo enfrentamento direto ou pelos custos ocorridos de tal método, considerando um significativo elemento de acomodação que alterna a relação entre os atores no cenário do sistema internacional.

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Gonçalves (2005) afirma que vulnerabilidade externa é a expectativa de obstinação a pressões, elementos desestabilizadores e conflitos externos, assim como o custo dessa obstinação. Quanto menor essa expectativa, maior é a instabilidade externa. A vulnerabilidade externa não se delimita a aptidão de persistência. Podemos citar também, os problemas pertencentes às opções e aos custos de se confrontar à autoridade das variáveis externas.

A vulnerabilidade externa pode ser mesclada com o conceito de poder ao que evidencie afinidade entre eles no sistema internacional, no qual o poder efetivo é contrariamente adequado à vulnerabilidade e a partir daí procede à autonomia e oposição no meio ao qual deve resistir. Quanto maior à perspectiva de um sujeito político, agente econômico ou ator social atingir a sua própria pretensão ou resistir a forças, fatores desestabilizadores e impactos externos, superior são o seu domínio efetivo no sistema internacional (GONÇALVES, 2005).

A compreensão de que se o poder é a determinação da pretensão de um ator social a outro ator social, de outro lado a preponderância é a submissão da ambição de um ator social à vontade de outro, o que é considerado muito importante segundo Gonçalves (2005).

Por fim, o autor também cita o composto de atores nacionais e transnacionais que atuam no sistema internacional, formulam estratégias, tomam decisões e realiza ações. São essas ações políticas o próprio exercício do poder, e as relações interestatais precisam do poder do Estado para que no sistema internacional, esse poder seja relacional, o qual leva a o poder de um ator a ser visto em termos absolutos, tanto como em termos relativos (GONÇALVES, 2005).

Por fim, Gonçalves (2004, p.61) traz que o projeto das Relações Internacionais como estudo foi criado da necessidade de se obter as causas da Primeira Guerra mundial, já que a História Diplomática e o Direito Internacional não conseguiam mais dar conta da complicada rede de interações que compunha a realidade das relações internacionais no século XX. Sendo reconhecida como disciplina acadêmica na década de 1960, sendo abordado pelo autor como um estudo em evolução conforme citado abaixo:

Relações internacionais é uma disciplina em construção. Assim como em todas as demais ciências sociais, seu objeto apresenta-se sempre em processo de mudança. De maneira correspondente, os estudiosos da disciplina realizam um esforço permanente para elaborar conceitos e teorias capazes de instrumentalizar análises confiáveis da realidade internacional.

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A seguir serão apresentados os fundamentos teóricos da diplomacia conforme alguns autores.

2.2DIPLOMACIA

Entender o quadro teórico e histórico da diplomacia quanto ao instrumento de política externa é fundamental para munir os instrumentos analíticos de apoio ao entrosamento das diversas dimensões assimiladas à atividade diplomática.

Sergio Bath (1989) define a diplomacia sendo um meio de facilitar a comunicação entre os líderes políticos dos Estados, sendo a diplomacia parte da política externa de um determinado país, que através dos interesses partilhados pelas divisões políticas simboliza uma sociedade internacional, que reuni informações coerentes das funções de Estados, sendo reconhecidas mundialmente pela facilidade da comunicação entre os líderes políticos.

A diversidade de funções e cenários é um traço essencial do Serviço diplomático. Um conselheiro ou ministro deve estar igualmente apto a expor o ponto de vista do seu país num foro internacional e conduzir tratativas com as autoridades de um governo estrangeiro (BATH, 1989, p.36).

O autor afirma que a diplomacia visa diminuir os atritos no relacionamento dos Estados por meio da utilização das convenções que são meios que acabam estabelecendo um vocabulário em comum entre ele e estabelecer uma linguagem comum entre todos os envolvidos (BATH, 1989).

O processo político mediante o qual as posições políticas externas de um governo são inicialmente sustentadas e logo orientadas para o objetivo de influenciar as posições políticas e a conduta de outros governos. Nesse mesmo contexto, ela engloba que o conjunto das atividades dos estados, em suas relações exteriores, independentemente de considerações geográfica ou temporal ou observada em momento histórico e relativo a uma área geográfica do mundo, conforme explica Soares (BATH, 1989).

Encontramos assim diplomatas “econômicos”, “comerciais”, “culturais”, “políticos”, “jurídicos” e os que adquiram maior experiência na lide consular ou administrativa (BATH, 1989, p.38).

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Sendo assim, é necessário ressaltar que diplomacia é diferente de política externa dos Estados, a primeira mostra os meios pelo qual o chefe de estado executa e planeja a política externa do Estado, cujo desempenho é incumbido aos agentes diplomáticos. Já a política externa é o próprio chefe de Estado que elabora e a desenvolve (BATH, 1989).

Conforme Sérgio Bath (1989) relata, a isenção da jurisdição local se fundamenta teoricamente na grande dignidade do diplomata, o qual é um representante oficial de determinado pais amigo, onde o intuito é tratar da melhor maneira possível os hospedes visitantes.

O principal objetivo é garantir a liberdade de movimentos e ação que parte do princípio da harmonia, sendo garantido devido ao fato de que todos o fazem seguindo esta prerrogativa. A regra da reciprocidade passa a funcionar assim: cada Estado tende a respeitar os privilégios diplomáticos inscritos na Convenção de Viena por interesse próprio, porque deseja assegurar igual liberdade de movimentos a seus representantes no exterior (BATH, 1989).

O deleite de tais privilégios pelos agentes diplomáticos não pertence aos mesmos, nem por eles são beneficiados, mas ao Estado que representam. Assim sendo, o agente não possui o benefício de abrir mão desses privilégios sem autorização prévia do governo pelo qual foi designado e, consequentemente, apenas desse modo poderá ser julgada no Estado por eventuais infrações a lei local, conforme Bath (1989, p.53) afirma:

O representante junto a um organismo internacional tem os mesmo privilégios dos demais diplomatas que naquela capital exercem sua função junto ao governo local. Isto é possível graças a um acordo especial entre o organismo e o país hospedeiro, que estabelece as condições necessárias para que o organismo possa funcionar adequadamente.

Kissinger (1999) aborda a diplomacia relatando seu histórico e afirmando e que o estadista moderno é capaz de se desfazer das travas morais e religiosas do período medieval, em favor do estado-nação. Mas a diplomacia, está longe de reduzir-se à dura lógica, é antes de tudo, um impressionante tratado histórico-diplomático, que abarca ainda por um lado de conservadorismo uma ambiciosa síntese, praticamente todos os conflitos e concepções da diplomacia moderna.

O autor acredita que a diplomacia é uma arte de tipos maliciosos e gestos maduros, expondo diversas vezes as doutrinas conflitantes que marcaram época.

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Enfatizando de uma maneira especial as divergências entre os estadistas, para quem a guerra era natural, e os sacerdotes, que a via como coisa de gente louca, sendo um continuo desacordo entre o real e o ideal, sem achar razões predominantemente morais ou culturais para esclarecê-las (KISSINGER, 1999).

Kissinger (2009) cita os desacertos entre americanos e europeus no século XX como exemplos, pois os europeus por força das imposições do passado defendiam o equilíbrio de poderes, no qual cada estado preparava-se, para procurar no cenário internacional estabelecer alianças que a protegesse. Já os Estados Unidos, sem se sentir ameaçados do mesmo jeito, notavam no balanceamento de poderes dos europeus, a indignação de rivalidades organizadas, constituindo um sistema ameaçador, como se fosse um monte de armas empilhadas ao seu lado e caso se desequilibrasse, terminaria de alguma forma desmoronando sobre os seus interesses. O autor acredita que se os desacordos mundiais pudessem ser juizados por uma grande assembleia, menores seriam os riscos de se repetir as desventuras e deixando os americanos continuarem pacificamente usufruir sua prosperidade.

A queda do império cristão universal demonstra o fim do cosmo medieval que girava ao redor dos imperadores. A partir de então, nasceu o contemporâneo sistema mundial dos estados-nacionais. Cada reino seria como um agente autônomo, tratando da sua própria segurança, o que resultou na insegurança dos demais. As guerras foram surgindo e as rebeldias então se sucederam em uma escala cada vez mais aterrorizante. Cada movimento revolucionário exigia uma reconstrução, sendo dessa forma, os diplomatas que reconstruíram a ordem, sem se perguntar se ela merecia sobreviver ou se correspondia a justiça (KISSINGER, 2009)

Kissinger (2009) analisa de forma critica as políticas de contenção adotada pelos Estados Unidos no pós-guerra mundial. Ao enfatizar o perigo soviético, a política diplomática do controle ao comunismo levou o mundo não só a uma imoral adulteração de tudo que foi possível, como gerou um gasto demasiado em armamentos, por pouco não provocando uma guerra termonuclear.

O autor assinala que um dos maiores defeitos da compreensão diplomática da história foi a sua grande indiferença pelos interesses industriais, comerciais, financeiros e outros diversos desinteresses que compuseram o reino da materialidade. Sendo hoje os diplomatas encarregados por tais atividades dentro do estado, fazendo com que a diplomacias seja um dos mais importantes estudos já

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publicados sobre a história mundial dos últimos séculos e irá ficar como apontador essencial para as gerações futuras. (KISSINGER, 2009)

Assim o autor finaliza com a citação abaixo:

As convicções necessárias para dominar a ordem mundial futura são mais abstratas: a visão de um futuro, que não pode ser demonstrada; e julgamentos da relação entre esperança e possibilidade, que são, na essência, conjeturas (KISSINGER, 2009, p. 917).

No próximo item serão abordados os fundamentos teóricos das cooperações e acordos internacionais com base em alguns autores.

2.3COOPERAÇÕES E ACORDOS INTERNACIONAIS

A principal função de cooperação internacional se dá por meio de acordos bilaterais, resultante em tratados internacionais derivado da tendência das vontades de mais de um sujeito de direito internacional, no objetivo de produzir efeitos jurídicos no plano internacional.

Segundo Gonçalves, 2000, a cooperação internacional é definida nos âmbitos bilateral, plurilateral e multilateral deve ser entendida como um conjugado de esforços que tendam alcançar macro-áreas da ação humana, um esforço que para cima de tudo não necessita se tornar exclusivo. Isso porque a cooperação internacional deve prever que as amplitudes de seus esforços preconizam as mais diversas consequências práticas das dimensões culturais, política, social e econômica entre nações e seus povos, assim como entre a personalidade de seus representantes legais, os Estados nacionais.

A consequência imediata desta compreensão constitui que a cooperação internacional se consagra ao estabelecimento e a natural conservação do poder disseminado conjunturalmente no sistema internacional em determinada época e com determinações alteráveis que precisam ser avaliadas de forma continua, sobretudo relacionada à segurança internacional e em acordo com os princípios da soberania e autodeterminação dos povos, sendo a cooperação política internacional e a consonância das demais, impedir que estados instituam um poder de polícia internacional, o qual uso arbitrário venha provocar o conflito (GONÇALVES, 2000).

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A paz momentânea necessita o equilíbrio de poder, a indulgência e a exigência da comunidade no mundo, de exceções crescentes ao uso arbitrário do poder militar. A desigualdade de renda e a riqueza entre as nações não pode ser usada para a hierarquização dos Estados quanto aos seus direitos políticos internacionais. A cooperação internacional necessita que as partes sejam tratadas igualmente. A autodeterminação dos povos e a soberania nacional são fundamentais para qualquer acordo de cooperação internacional. (GONÇALVES, 2000)

A cooperação internacional segundo Gonçalves, 2000, tem por intuito ainda a ampla ascensão de direitos humanos fundamentais, por meio do fortalecimento dos direitos civis e políticos, simultâneo ao reforço do conjunto de ideias que auxiliam a democracia em seus fins de participação coletiva de forma ampla e integral, sem nenhuma sanção. Assim, se cumpre a condição da conservação de ordem adaptada do teto jurídico interno vigente, evitando-se um estado jurídico anárquico. Contudo, isso dificilmente se dispersa dos temas relacionados ao modus operandi internacional senão pelo auxílio da cooperação internacional em matéria de direito internacional público. A partir daí ocasiona a cooperação internacional para fins democráticos.

A democracia representativa formal deve evoluir cada vez mais, por distintas formas de participação das sociedades civil nas disposições dos Estados. Trata-se de programar jeitos de democracia efetiva, com as pessoas atuando como sujeitos diretos de desempenho nas decisões do Estado. A cooperação carece ter como alvo central o combate à exclusão social. Trata-se de garantir o contentamento das obrigações básicas nas extensões social, política, cultural econômica e afetiva (GONÇALVES, 2000).

O autor adverte que a cooperação não deve passar pelo campo econômico de maneira a se fazer obedecer a este. Entende-se assim que mesmo imprescindível ao aprofundamento da cooperação em esferas distintas, o fim derradeiro cooperar em sua máxima eficiência traz consigo a obrigação da não submissão da cooperação em vários setores à cooperação econômica. Não se deve entender que a cooperação nos campos social, cultural e político precisa se submeter à cooperação econômica que atribua exceções ao desenvolvimento dos povos, sendo assim, a invenção de mecanismos que tornam mínimo a instabilidade econômica internacional e devendo ser primada na agenda de cooperação inter-regional e internacional (GONÇALVES, 2000).

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A ideia de cooperar por meio da integração está sempre condicionada a existência de um terceiro ator. Essa nunca é uma decisão que brota espontaneamente entre as partes interessadas (Gonçalves, 2002, p. 33)

Viana (1984) analisa que o continuo retardamento na solução de questões que urgem resposta imediata, a não-existência das negociações sobre desarmamento e a não-conclusão de novos acordos internacionais, que remontem o ordenamento econômico-financeiro feito em Bretton Woods1, pioram o relacionamento entre todas as nações mundiais.

Somente uma efetiva cooperação entre as nações do planeta poderá eliminar totalmente as disparidades econômicas, as desconfianças politicas, a instabilidade militar e as injustiças sociais. Caso a humanidade invista na concórdia, aplique no bem-estar e empregue na política de boa vizinhança seus imensos recursos político-econômicos, teremos certamente um mundo menos sofrido e mais humano (VIANA, 1984, p.49).

Já Kraychete (2012) identifica que o Sistema de Cooperação Internacional é fundamental para o desenvolvimento, que originado com a ajuda do Plano Marshall2 voltado para a reestruturação da Europa, teve continuação com os programas de assistência técnica conduzida para os países pobres. Parte das relações entre países do Norte e países do Sul, alcançou institucionalizar-se a partir da criação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico):

A concepção liberal que passa a comandar as análises das instituições da cooperação internacional considera a existência das necessidades básicas a serem prioritariamente atendidas e que tais necessidades podem ser medidas, definidas e classificadas. Daí a importância atribuída às técnicas de mensuração da pobreza que visam definir carências em itens tais como, alimentação, saúde, educação e habitação. A partir do nível de carências, serão definidas políticas orientadas para grupos específicos. Essa concepção, Organizações da Cooperação Internacional envidam esforços em detectar os pobres por meio de tecnologias que não só dêm conta do número destes, como distinga entre eles os mais pobres entre os pobres (KRAYCHETE, 2012, p.185).

1As conferências de Bretton Woods defiram o Sistema Bretton Woods de superintendente econômico internacional, estabelecendo em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo.

2Também conhecido como Programa de Recuperação Europeia, foi o principal plano dos Estados Unidos para a restauração dos países aliados da Europa nos anos após a Segunda Guerra Mundial.

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A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento tem a realização de um conjunto de conferencias, reuniões de cúpula intergovernamentais, fóruns, orientadas pelas noções de eficiência e eficácia, que procuram viabilizar a ajuda oficial para o desenvolvimento com os objetivos determinados nas metas de Desenvolvimento do Milênio (KRAYCHETE, 2012).

Nye (2009) ressalta que os estados geograficamente baseados que os realistas destacam, prosseguirão a idealizar políticas na era da informação, mas os construtivistas estão confiantes de que os processos da política mundial dentro desse núcleo estão passando por mudanças drásticas. Os estados ainda são os protagonistas mais relevantes no palco da política mundial, mas na era da informação o palco tornou-se mais completo.

Sendo assim Viana (1984, p.79) engloba a cooperação internacional conforme abaixo:

Para a cooperação, no entanto, não existem frutos negativos, nem riscos de segurança. O processo pode demorar mais do que o desejado, pode promover a frustração entre os participantes, e pode, até mesmo, gerar insatisfações com os seus resultados, mas por mínimos que sejam os resultados estes se unirão a outros no futuro para formarem ao longo do tempo necessário acordos que beneficiarão a todos os envolvidos na cooperação. Na verdadeira cooperação, o objetivo não é tirar proveito da barganha, mas sim, se chegar a um consenso, ou mais perto possível de um consenso (Viana, 1984, p.79).

Piovesan (2007) define os acordos internacionais afirmando que o Direito Internacional dos Direitos Humanos é efetivado por meio dos tratados internacionais de direitos humanos e este, é primordial para conciliação do Direito Constitucional Internacional.

O Autor relata que tratado é um ato jurídico via o qual se manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas internacionais, sendo a forma convencional de instrumentalização jurídica das relações entre os sujeitos de direito internacional público dando-se por meio dos acordos. São jeitos de demonstração de acertos e acertes de revelações de vontade, entre pessoas de direito internacional, os quais provocam direitos e obrigações para as partes oriundas, com força de lei e imposto cumprimento, segundo pact sunt servanda (PIOVESAN, 2007).

O método de concepção dos tratados internacionais foi concebido pela Convenção de Viena de 1969, podendo ser avaliada como a Lei dos Tratados.

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Entretanto, este apontador de regras restringiu-se aos tratados que são finalizados pelos Estados, apartando os outros atores de direito internacional. A Convenção esclarece que tratado constitui em um acordo internacional complementado por escrito entre os Estados e governado pelo Direito Internacional, constando de um instrumento único ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja sua qualificação específica. Com esse julgamento, podemos afirmar que esses instrumentos internacionais apenas são associados aos Estados que os rubricam e que os aprovam. Desse juízo deriva uma consequência categórica para o sistema internacional de proteção dos direitos humanos, caso tenha contravenção de norma do tratado admitido, o Estado pode ser culpado, já que refugiaram essas obrigações legais no livre âmbito da sua soberania. E segundo o art. 27 da Convenção de Viena, o Estado não pode apelar ao seu direito interno como comprovante para o não-cumprimento das acomodações dos acordos internacionais que sejam parte (PIOVESAN, 2007).

A Convenção de Viena, também relata o instrumento de reserva, o qual denota uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua composição ou designação, feita por um Estado ao assinar e admitir um tratado, com a finalidade de eliminar ou transformar o efeito jurídico de acertadas acomodações do tratado em seu aproveitamento a esse Estado (PIOVESAN, 2007).

As considerações sobre o processo de celebração dos tratados internacionais se dividem, em três passos: negociação e assinatura; análise e aprovação; e, ratificação. A primeira parte é o período em que são expostos os costumes, exibidas as conformidades e adimplidas consentimentos, o que se torna na elaboração do tratado. Com a assinatura, acontece a manifestação de que o instrumento é legítimo e permanente. Essa etapa é de domínio do Poder Executivo. O segundo passo é concretizado pelo Poder Legislativo e depois tem a ratificação, meio pelo qual o Executivo aprova formalmente que se obriga a cumprir os arranjos do acordo internacional (PIOVESAN, 2007).

Porém, esse procedimento é simbólico de cada Estado, sendo uma opção do legislador nacional. O mesmo acontece com a admissão e os naturais impactos dos tratados internacionais na composição interna dos Estados-parte (PIOVESAN, 2007).

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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, serão analisados e apresentados os dados coletados sobre o histórico Brasil-França, o Ano do Brasil na França, o Ano da França no Brasil e os acordos e cooperações desenvolvidos pós evento.

3.1HISTÓRICO BRASIL-FRANÇA

O histórico francês com o Brasil se relata antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia. Os franceses já conheciam a costa brasileira, pois antes disso tinham tentado se estabelecer na Amazônia e sabiam das riquezas que podiam ser aproveitadas explorando o pau-brasil no litoral do Nordeste (TAVARES, 1905).

Vêm desde esses tempos já muito remotos do descobrimento do Brasil os laços que foram estreitando, ao longo destes últimos cinco séculos, as relações entre o nosso povo e o povo francês (TAVARES, 1905, p. 33)

No período colonial, a França tentou remotamente colonizar o Brasil. Foram os franceses que precipitaram a determinação do rei dom João III de criar em 1534 o sistema de capitanias hereditárias3 que se consagrou pelo primeiro esforço do povoamento no Brasil (TAVARES, 1905).

O conflito entre França e Portugal pela posse do Brasil perdurou mais de dois séculos. Mas a influência francesa se fez sentir em diversos momentos da história brasileira.

As ideias liberais que moveram o povo francês para a Revolução de 1789 e ecoaram, entre nós, na Revolução Praieira de Pernambuco4, já tinham estado, antes, bem presentes no espírito da malograda Inconfidência Mineira5e em outro movimentos de ressonância menor, nos últimos tempos do período colonial, o que levou Joaquim Nabuco a conceituar que “todas as nossas revoluções (antes da Independência do Brasil) nos vieram com as ondulações começadas em Paris: o trabalho como garantia da vida para o cidadão brasileiro; o comércio varejista apenas para os cidadãos 3As capitanias hereditárias foram um jeito de administração territorial do império português pela qual a Coroa, confiou à tarefa de colonização e exploração de demarcadas áreas particular, através da doação de lotes de terra.

4A Revolução Praieira de Pernambuco foi um movimento de caráter liberal e separatista que aconteceu durante o Segundo Reinado no Brasil, entre 1848 e 1850.

5A Inconfidência Mineira foi uma tentativa de revolta de natureza separatista contra a execução da derrama e o domínio português, a qual foi abortada pela Coroa portuguesa em 1789.

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brasileiros”. Aí se pressentem, quanto a nós as reivindicações do sentimento nacionalista, ainda não plenamente confiante (TAVARES, 1905, p.123)

Ou seja, na época da corte, a influência francesa era marcante no Rio de Janeiro, mas foi no campo das ideias que os franceses mais ajudaram a transformar o Brasil. Elas estavam por trás da Inconfidência Mineira, da Revolução Pernambucana de 1817 e de inúmeros outros movimentos de rebelião (TAVARES, 1905).

O Cessado a luta pela ocupação territorial, se daria no campo das artes graças à influência francesa no Brasil, dos costumes e das ideias através as consequências que seriam profundas e duradouras onde seu marco se dê da transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte (TAVARES, 1905).

O elo entre as duas culturas se deu através da influência da cultura francesa no Brasil, que teve suas origens no século XVI, e se fazia sentir através das expedições francesas militares ou cientificas, a despeito das hostilidades portuguesas, em certas regiões do país, conforme relatado por Tavares (1905, p. 225) onde ele afirma que “O Brasil ainda não havia, até então, colocado à formação da sua cultura em termos nacionais, como ocorreria depois da independência, em 1822”.

O advento do regime republicano, instaurado no Brasil, já no fim do século XIX, foi levado, principalmente pelas elites intelectuais, políticas e militares, desde os seus movimentos iniciais contra os portugueses, em especial os de 1789 e 1817, ainda nos tempos de Brasil Colônia. E é inegável a influência exercida pela cultura e as ideias francesas ao longo da editoria do pensamento brasileiro, em todas as etapas da sua formação, sendo que a proclamação da republica aconteceu enquanto a França, capitaneada por Paris, inaugurava a fase extrema da Revolução moderna. (TAVARES, 1905)

A Partir daí a influencia da França em nossos destinos, que até então se fizera sentir apenas através de Portugal, começou a acentuar-se e a tornar-se diretamente preponderante. Não podendo corresponder às aspirações regeneradoras em que fora realizada porque não existiu a doutrina científica destinada a substituir-se ao catolicismo exausto, a insurreição parisiense só logrou pôr definitivamente o problema da reorganização sem Deus nem rei pelo ascendente da fraternidade universal. (TAVARES, 1905, p. 248)

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Na guerra de 1914-1918, a qual terminou com a vitória dos Aliados, demonstrou que mais uma vez a participação do Brasil ao lado da França foi de suma importância, sendo assim, marcado com o Armistício de 11 de novembro de 1918, o qual consagrou o prestígio militar da França. Onde o governo brasileiro enviou uma importante missão médica militar, que ficou subordinada ao comando único dos exércitos Aliados marcando até os dias atuais a relação entre ambos os países. (TAVARES, 1905).

São fatos do presente que já permitem identificar o auspicioso reencontro entre a França e o Brasil, depois do hiato da Segunda Grande Guerra, neste novo mundo bipolarizado que dela resultou, diante de cujos problemas tudo concorre para unir cada vez mais as duas grandes nações latinas, amigas tradicionais de cinco séculos de historia comum (TAVARES, 1905, p. 314).

Outro grande marco do histórico Brasil-França se dá no século XX, quando a França se fez presente através a crise diplomática entre os dois estados conhecida como a "Guerra da Lagosta" relatada no início da década de 1960, quando navios pesqueiros franceses passaram a pescar no estado de Pernambuco. Ao constatar que as embarcações estavam pescando lagostas em grande escala, a Marinha do Brasil cancelou a licença que lhe eras dado. Em novembro de 1961, a França voltou à pesca, desta vez pedindo autorização para atuar fora das águas territoriais brasileiras, na região da plataforma continental. A autorização foi concedida, mas em janeiro de 1962 começaram os problemas. Diversos pesqueiros franceses foram flagrados capturando lagostas e foi apreendido por uma corveta brasileira. Este incidente abriu uma curiosa discussão diplomática a respeito da natureza do animal em questão (ALMEIDA, 2012).

A partir dai uma política de influencia francesa foi evidenciada através a definição que Boniface (2009) classificou da seguinte maneira:

Contemporaneamente, a presença da França é reduzida na América Latina; após haver tido um grande prestigio e influência, particularmente nas elites governamentais e intelectuais, após os anos a segunda metade do século XX teve sua influência diminuída face ao avanço da influência norte-americana em todos os campos.

Entre março e dezembro de 2005 os governos franceses e brasileiros realizaram o evento “O ano do Brasil na França”, marcando um ciclo de eventos organizados no âmbito do programa de temporadas culturais estrangeiras,

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desenvolvido pelos franceses desde 1985. O ciclo teve impacto ampliado por uma notável percussão na imprensa, considerando a maior iniciativa de difusão cultural jamais organizada pelo Brasil num país estrangeiro, o que lhe rendeu grande envergadura e demonstrou amadurecimento por parte do governo brasileiro, selando em replica o “Ano da França no Brasil” no ano de 2009, o qual será relatado mais a diante.

3.1.1 O ano do Brasil na França

Há mais de duas décadas, a França homenageia diferentes países. São as denominadas “Saisons Culturelles Étrangères en France”, a qual significa “Temporadas Culturais Estrangeiras na França” (AMARAL, 2008).

Ano após ano, a França invita um país a mostrar sua cultura nas principais metrópoles francesas, sendo o Ano do Brasil na França, organizado pelos Comissariados Gerais, Ministérios da Cultura e Ministérios das Relações Exteriores de ambos os países (AMARAL, 2008).

Decidiu-se, desde o inicio, que as duas partes teriam veto recíproco – são se produziria nada que não tivesse a aprovação brasileira e o Brasil não insistiria em nada que encontrasse a resistência francesa. Acordou-se, igualmente, que seria tomado como base para os trabalhos, o documento da AFAA6 intitulado Princípios gerais das temporadas estrangeiras na França (AMARAL, 2008, p. 55)

O evento estava prometido desde 2001, mas foi validado em 2003 e confirmado em Paris em janeiro de 2005. O intuito era acabar com as imagens errôneas e expor que o Brasil não é apenas um país de carnaval e futebol. Demonstrando um Brasil popular, com sua cultura de antecedentes africanos, mas ao mesmo tempo com a música clássica e a barroca. Também foi ilustrado que o governo brasileiro estimulava reuniões universitárias na defesa do meio ambiente e da alteração social pela qual o Brasil passava (AMARAL, 2008).

6A “Association Française d’Action Artistique” (AFAA) significa a “Associação Francesa de Ação Artística”, a qual é encarregada da política de difusão e de intercâmbio cultural internacional da França.

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Foi do Itamaraty7a iniciativa de propor ao Governo francês, por intermédio de carta de 19 de dezembro de 2000, do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, a seu homólogo Francês, Hubert Védrine, a realização de uma temporada cultural do Brasil na França, que teria por núcleo central a Mostra do Redescobrimento: Brasil +

500 (AMARAL, 2008, p. 52).

Os assuntos fundamentais abordados sobre o Brasil foram: as cidades, as personalidades, a arte, os contrastes e os problemas sociais do Brasil. No qual os turistas, que vinham de todos os países e continentes para visitar as cidades francesas, puderam ver em território francês, uma imagem variada do Brasil daquela que provavelmente tinham (AMARAL, 2008).

Com o tema Brésil, Brésils, do singular ao plural, buscou-se divulgar a diversidade e a modernidade do Brasil, em todas as suas facetas: cultural, naturalmente, mas também econômica, social e turística. Tratava-se de levar a imagem de um Brasil moderno e dinâmico, que se orgulha de seu passado e suas várias raízes culturais, aos mais de 60 milhões de franceses, ao mundo da francofonia e aos 75 milhões de turistas que visitam anualmente o país, tirando proveito, ao mesmo tempo, do poder de ressonância de Paris e da França (AMARAL, 2008, p.52)

Sendo o Ano do Brasil na França, até então, o maior evento cultural já feito pelo Brasil, no exterior. As expectativas eram diversas em vários setores: social, cultural e principalmente econômico (AMARAL, 2008).

O evento mexeu com mais de 15 milhões de pessoas, com diversas atrações, realizadas em toda a França, que acarretaram impactos diretos, não somente para o intercâmbio cultural, mas da mesma forma, para as trocas comerciais entre ambos os países. O número de empresas francesas fixadas no Brasil era mais de 400, empregando aproximadamente 250 mil pessoas (AMARAL, 2008).

Montou-se uma comissão mista e especializada, com integrantes do Brasil e da França, para analisar e indicar as manifestações artísticas que seriam partes da programação do Ano do Brasil na França. Os projetos escolhidos compuseram o calendário oficial, mas nem todos foram financiados pelos governos brasileiros ou franceses. Os projetos não selecionados fizeram parte de um evento paralelo, com foco também no Brasil, mas sem sua colocação no calendário ou meios de comunicação formais do evento. Oficialmente, os projetos envolveram uma

7O Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) também é conhecido por Itamaraty, sendo um órgão do Poder Executivo, responsável pelo assessoramento do Presidente da República nas relações internacionais com os demais países.

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dupla de parceiros: um francês, que costumava ser um local – museu, teatro, centro de arte contemporânea, entre outros - que ficava responsável pela comunicação e composição da apresentação, e um artista ou operador de empresa do Brasil, que dividiam os gastos da instalação. Assim, o governo do Brasil, por meio do Ministério da Cultura ou o de Relações Exteriores ofereceu recursos para a realização dos eventos, bem como algumas empresas brasileiras, como a Petrobras (AMARAL, 2008).

A dedicação que foi dada aos brasileiros em 2005 coloca a apresentação da criatividade, multiplicidade e modernidade cultural do país, que por sua convivência em paz e respeito diante da variedade de culturas, é visto pelo mundo como exemplo de paz, embora todos seus problemas internos de segurança. O ponto central na cultura foi o jeito encontrado por ambos os países para aguçar o interesse de franceses e visitantes que estivessem fazendo turismo à França pelo Brasil. Para o Brasil, especificamente, foi uma maneira de se mostrar como uma sociedade completa: econômica, política, industrial, turística, comercial, social, etc (AMARAL, 2008).

Exibições como batucadas e capoeira foram apresentadas junto com a música clássica e barroca. Os laços culturais derivados de nações africanas e europeias dividiram espaço com artistas atuais. Além disso, também foram colocadas em foco questões sobre economia, tecnologia, ciências, proteção ambiental e transformação social que o Brasil encara na atualidade. As mais de quatrocentas apresentações foram realizadas em três fases diferentes e com temas bem determinados: Raízes do Brasil, Verdade Tropical e Galáxias (BRASIL, 2005).

Raízes do Brasil, a primeira fase, fez homenagem ao historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda (1902–1982), cuja obra, Raízes do Brasil, mostra uma macro- interpretação do processo de idealização da sociedade brasileira, destacando, ainda mais, a principal herança cultural da colonização portuguesa do Brasil, assim como as influências indígenas e africanas. O Ano do Brasil na França foi aberto por essa fase em março de 2005 em espaços marcantes de Paris, tais como no Grand Palais, edifício consagrado que, frequentemente, recebe exposições em suas galerias. Houve a mostra “Le Brésil Indien”, no Dapper Musée, que é especializado nas culturas africanas e caribenhas. Aconteceu a exposição “Brésil, Héritage Africain” sobre os legados africanos na cultura brasileira. E na Cité de la Musique, que é um museu da música, aconteceram exposições e

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concertos que originou uma investigação musical das raízes brasileiras, baseada na música popular brasileira (BRASIL, 2005).

De forma grandiosa, “Le Brésil Indien” marcou a abertura oficial do Ano do Brasil na França com a presença de chefes do governo francês, do então ministro brasileiro Gilberto Gil, toda a imprensa de brasileira e francesa, o filósofo e antropólogo Claude Lévi-Strauss, o ex-ministro Jack Lang, a ministra da Espanha Carmen Calvo, Manoel Francisco Pires da Costa da Fundação Bienal de São Paulo, várias figuras da área cultural, além de muitos visitantes. Essa exposição falou dos fortes contatos indígenas na cultura do Brasil ao longo dos anos, desde antes da descoberta do país até os dias contemporâneos. Através de objetos como máscaras, ornamentos, cerâmicas, plantas, penas e plumas, fotografias, ambientes com sonorização, vídeos e documentos de etnias foi mostrado em um grande panorama da cultura indígena brasileira (BRASIL, 2005).

A exposição “Brésil, Héritage Africain” deu o enfoque das raízes africanas na cultura brasileira, dado pelo trabalho do grupo que teve tanto colaborações brasileiras quanto francesas. A meta da mostra foi de fazer clara a relação entre as artes africanas e as produções brasileiras, sem depreciar a influência do cristianismo nelas. A exposição juntou desde a cultura africana até a cultura afro-brasileira, incluindo protestos religiosos como candomblé, obras de arte sacra, figura de santos negros e estátuas de Nossa Senhora do Rosário, protetora dos escravos. Fora isso, foram exibidas obras de artistas atuais que agregam diferentes graus temáticos e símbolos do mundo africano (BRASIL, 2005).

A riqueza da música popular brasileira foi evidenciada pelos eventos musicais que ocorreram na Cité de La Musique. A exposição MPB “Musique Populaire Brésilienne” apresentou a ligação entre som e imagem, personificando a MPB e objetivando suas três bases mais marcantes: baião, samba e choro. A exposição deu principal destaque a duas épocas características da história brasileira, o governo do presidente Juscelino Kubitschek e a ditadura militar, mostrando como a música é capaz de ser um impulso social, se tornando porta-voz de uma comunidade. A exposição também mostrou a atualidade, o que os novos músicos têm produzido para valorizar e voltar a história da música brasileira. Esses músicos contemporâneos foram uma das atrações de apresentações que também ocorreram na Cité de la Musique no contexto de Raízes do Brasil (BRASIL, 2005).

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Verdade Tropical, a segunda fase do Ano do Brasil na França, teve como aspiração livro homônimo, autobiográfico, do cantor brasileiro Caetano Veloso. Esse livro foi à diretriz para a reunião de algumas apresentações culturais brasileiras, principalmente aquelas com raízes ao tropicalismo, aos festivais de canção dos anos de 1960 e 1970 e à ditadura militar. Essa fase do Ano do Brasil na França, no qual era verão francês, salientaram a diversidade de manifestações culturais brasileiras, principalmente as apresentações de rua. Os eventos programados acontecem, em sua grande parte, nas ruas das cidades francesas, exatamente para aproveitar as temperaturas amenas e os conceitos das manifestações em foco. Valorizaram-se as plataformas essenciais móveis da cultura brasileira, tais como carnavais, trios elétricos e concertos ao ar livre, assim como os que ocorrem com assiduidade nos litorais do Brasil. “Samba Parade” foi um desses eventos que aconteceu em cinco regiões distintas da França, passando por cidades como Paris e Toulouse, demonstrando, além de mais de mil músicos e dançarinos, exposições, oficinas, atividades esportivas, cursos para inicio na gastronomia e cursos de percussão brasileira. Em Cannes, em julho, aconteceu desfiles dos melhores trios elétricos de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, que agruparam milhares de pessoas que tiveram a chance de conhecer um pouco mais do carnaval de rua do Brasil (BRASIL, 2005).

Verdade Tropical apresentou além dos eventos ao ar livre, a primeira exposição individual de Tarsila do Amaral na França desde 1926, corroborando o caráter tropicalista, e assim modernista, da segunda fase. A exposição Tarsila do Amaral, “o nascimento do modernismo no Brasil” alcançou mais de quarenta obras, entre pinturas, desenhos e documentos, vindos tanto de coleções particulares quanto de órgãos públicos. Essa exposição quis mostrar os traços do modernismo brasileiro através das obras de uma das artistas mais importantes do país. A influência da artista foi tão impactante que a exposição mostrou também obras de artistas franceses que conviveram com Tarsila nos anos 1920 (BRASIL, 2005).

Galáxias foi a terceira fase do ano de homenagens, em referência ao livro do poeta e tradutor brasileiro Haroldo de Campos. O tema central dessa terceira fase foi à expansão de desenvolvimento no Brasil nos últimos anos, colocando o país em vista no cenário mundial, tanto cultural quanto na economia. Essa explosão foi ilustrada em cenas de dança contemporânea, teatro e artes visuais (BRASIL, 2005).

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