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Medidas executivas atípicas no processo executivo

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Academic year: 2021

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WILIAN BUCH

MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO EXECUTIVO.

Florianópolis 2020

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WILIAN BUCH

MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO EXECUTIVO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Henrique Barros Souto Maior Baião, Esp.

Florianópolis 2020

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WILIAN BUCH

MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO EXECUTIVO.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, (dia) de (mês) de (ano da defesa).

______________________________________________________ Professor e orientador Nome do Professor, titulação

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO EXECUTIVO.

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, dia de mês de ano.

____________________________________

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Este trabalho é dedicado à todas as pessoas que me apoiaram e me acompanharam durante toda essa trajetória acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus, que fez com que meus objetivos fossem alcançados durante todos os meus anos de estudos.

Em segundo lugar, quero agradecer aos meus pais, Liliane Smekatz e Marcelo Buch, pessoas simples, com pouco estudo, mas que sempre me motivaram a estudar e correr atrás dos meus sonhos. Além disso, me ensinaram desde pequeno a ter garra, ser honesto e nunca desistir, sempre levantar a cabeça diante dos percalços da vida.

Agradeço também ao restante dos meus familiares, os quais desprenderam esforços para me ajudar nessa trajetória e sempre me entusiasmaram, sempre acreditando no meu potencial.

Aos meus amigos, agradeço aqueles que sempre estiveram ao meu lado e me apoiaram nos momentos mais difíceis durante essa trajetória. Agradeço àqueles que conheço desde quando criança, e aos que conheci durante a trajetória acadêmica. Importante dizer que vocês, meus amigos, foram essências durante essa caminhada.

Quero agradecer também a Instituição de Ensino da Unisul, a qual me acolheu e sempre estiveram prontamente disponíveis a me auxiliar em qualquer assunto que ocorresse. Agradeço em especial meu orientador, conhecido popularmente entre os alunos como Prof. Baião, o qual tenho grande admiração e não hesito em dizer que, ele foi um dos melhores professores que já tive o prazer de assistir uma aula.

Por fim, agradeço a mim mesmo, por nunca desistir desse sonho, porque inicialmente foi realmente um sonho, algo que estava muito distante, pois sou de família humilde e de pouco estudo, o que me fez ter que abdicar de muitas coisas para conseguir concretizar esse curso.

Hoje, concluindo essa graduação no curso de Direito, me sinto extremamente feliz e realizado, pois durante toda essa trajetória vivi experiências incríveis, conheci pessoas maravilhosas que me fizeram crescer e ver o mundo de outra forma. Digo que não foi fácil essa caminhada, mas agora cheguei ao fim dela.

Dito isso, fica aqui minha eterna gratidão à todas as pessoas que participaram e viveram comigo esse sonho!

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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível” (Charles Chaplin).

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho monográfico é estudar a inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil sobre a aplicação de medidas executivas atípicas geradas em quaisquer das modalidades de execução, seja título executivo judicial ou extrajudicial. Inicialmente, o trabalho irá tratar da teoria geral do processo, estudando o conceito de processo, dando ênfase na relação do direito processual civil com o direito constitucional, e após será feito abordagem sobre os princípios constitucionais aplicados no processo civil. Por conseguinte, será estudado o processo de execução civil, verificando quem são as partes, pressupostos e princípios específicos do processo executivo. Nesta linha, o trabalho discorrerá sobre as vias executivas, seja de título judicial ou extrajudicial, discorrendo ainda sobre os meios executivos, mais especificamente sobre o arresto executivo, a penhora, avaliação e expropriação, e por fim, a satisfação do crédito. Logo, o terceiro capítulo irá tratar do papel fundamental do magistrado na obtenção da tutela executiva, sendo estudado como plano de fundo o artigo 139, IV, do Código de Processo Civil de 2015, que é o tema central deste trabalho monográfico, definindo o que são medidas coercitivas, indutivas, mandamentais e sub-rogatórias. Para tanto, será analisado o posicionamento de doutrinadores sobre a aplicação de medidas executivas atípicas, bem como será realizado uma análise de julgados que versem sobre a aplicação destas medidas, tentando evidenciar se estas medidas atípicas não acabam por ferir garantias constitucionais, como por exemplo o direito de ir e vir. Por fim, fica evidenciado que as decisões não seguem um padrão, ocorrendo divergências dentro de um mesmo Tribunal. Quanto ao procedimento, o método aplicado é o monográfico. Utilizando-se da técnica de pesquisa bibliográfica e documental, baseada em leis, doutrinas, publicações jurídicas, artigos científicos, julgados e jurisprudências.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 TEORIA GERAL DO PROCESSO E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO PROCESSO CIVIL ... 11

2.1 A TEORIA GERAL DO PROCESSO... 11

2.1.1 Conceito de Processo ... 12

2.2 O PROCESSO CIVIL ... 13

2.2.1 Processo de Conhecimento ... 14

2.2.2 Processo de Execução ... 16

2.3 O DIREITO PROCESSUAL CIVIL E O DIREITO CONSTITUCIONAL ... 16

2.4 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ... 17

2.4.1 Princípio do devido processo legal ... 18

2.4.2 Princípio da isonomia ou igualdade processual ... 18

2.4.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa ... 19

2.4.4 Princípio da fundamentação ou motivação das decisões judiciais ... 20

2.4.5 Princípio da dignidade da pessoa humana ... 21

3 PROCESSO DE EXECUÇÃO CIVIL ... 22

3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS ... 22

3.1.1 Partes ... 23

3.1.2 Pressupostos ... 24

3.1.3 Objetivo ... 25

3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO DE EXECUÇÃO ... 25

3.2.1 Princípio da lealdade processual – dos atos atentatórios à dignidade da justiça .. 25

3.2.2 Princípio do contraditório no processo de execução ... 27

3.2.3 Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana ... 27

3.2.4 Princípio da menor onerosidade ... 28

3.2.5 Princípio da patrimonialidade ... 29

3.2.6 Princípio da tipicidade e adequação dos meios executivos ... 30

3.2.7 Princípio do título executivo ... 30

3.2.7.1 Título executivo judicial ... 31

3.2.7.2 Título executivo extrajudicial ... 31

3.3 VIAS EXECUTIVAS ... 32

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3.3.2 Execução de título executivo extrajudicial ... 34 3.4 MEIOS EXECUTIVOS ... 35 3.4.1 Arresto executivo ... 35 3.4.2 Penhora ... 36 3.4.2.1 Impenhorabilidade de bens ... 37 3.4.2.2 Bens penhoráveis... 38 3.4.3 Avaliação ... 38 3.4.4 Expropriação ... 39 3.4.4.1 Adjudicação ... 39 3.4.4.2 Alienação ... 40 3.4.5 Satisfação do crédito ... 41

4 ATIPICIDADE EXECUTIVA NA APLICAÇÃO DO ART. 139, IV, DO CPC ... 42

4.1 PAPEL DO MAGISTRADO PARA A OBTENÇÃO DA TUTELA EXECUTIVA ... 42

4.2 DISPOSITIVO LEGAL ... 45

4.2.1 Medidas indutivas ... 47

4.2.2 Medidas coercitivas ... 47

4.2.3 Medidas mandamentais ... 48

4.2.4 Medidas sub-rogatórias ... 48

4.3 POSICIONAMENTO DOS DOUTRINADORES PROCESSUALISTAS ... 48

4.4 EXAME DE JULGADOS ... 52

5 CONCLUSÃO ... 56

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1 INTRODUÇÃO

O tema estudado é uma inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil, referente à aplicação de medidas atípicas em demandas executivas. Conforme o artigo 139, inciso IV, do referido diploma legal, para assegurar o cumprimento de decisão judicial é permitido ao magistrado aplicar meio executivos atípicos, como quaisquer medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias, inclusive quando se tratar de obrigação de pagar quantia certa. A inclusão deste artigo no Novo Código de Processo Civil tem gerado inúmeras discussões e opiniões divergentes no ordenamento jurídico, sob a alegação de que o referido dispositivo outorga poderes excessivos ao magistrado para o cumprimento de decisões judiciais, que vão de encontro aos direitos individuais previstos na Constituição Federal.

Para melhor elucidar a questão através de um exemplo prático, recentemente houve um caso emblemático em nosso país no que concerne a aplicação das medidas atípicas. Foi no caso do jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, que através de uma demanda judicial que tramitou no Estado do Rio Grande do Sul, teve seu passaporte suspenso como forma de compelir o devedor a quitar uma dívida. E como é de conhecimento público, o referido esportista possui um vasto patrimônio passível de penhora que satisfaça o débito perseguido naquela demanda. Todavia, diante de inúmeras escusas do atleta no que diz respeito ao adimplemento da dívida, o magistrado de primeiro grau aplicou a medida atípica como forma de conseguir efetivar a decisão judicial.

Urge esclarecer que o interesse do acadêmico em estudar o assunto surgiu em uma aula de Execução Civil, no curso de Direito, ministrada pelo professor e orientador deste trabalho monográfico, Henrique B. Souto Maior Baião, o qual abordou a possibilidade de aplicação das medidas executivas atípicas para o adimplemento de uma obrigação, e com isso, diante da grande inovação e grande debate sobre o tema, instigou o aluno a pesquisar sobre o tema e realizar este trabalho de conclusão do curso.

O escopo deste trabalho é analisar o debate acerca do referido dispositivo legal, bem como verificar quais são os parâmetros utilizados para a aplicação das medidas atípicas. Ainda, diante da possibilidade dessas medidas violarem direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal, será feita uma análise para constatar se estas medidas, por sua vez, violam direitos fundamentais do devedor como pessoa humana, tais como o direito de ir e vir, a dignidade da pessoa humana, dentre outros.

Ainda, buscou-se analisar o entendimento dos Tribunais do país, pois é evidente que a medida gera incomodo há quem está sendo compelido a cumprir com uma decisão judicial.

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Para o desenvolvimento do trabalho, será estudado inicialmente a Teoria Geral do Direito, a diferença entre processo de execução e processo de conhecimento, passando pelos princípios constitucionais aplicáveis ao processo civil.

Em seguida, será feito um estudo aprofundado sobre o processo de execução civil, os princípios específicos aplicáveis à execução, e sua vias executivas. Para então, no terceiro e último capítulo de desenvolvimento, tratar sobre a função essencial do magistrado na condução do processo civil, e verificar, através do exame de julgados e da opinião dos doutrinadores, se as aplicações dos meios executivos atípicos não acabam por se sobrepor às garantias constitucionais.

O estudo realizado será feito através de metodologia dedutiva, e com relação ao procedimento, o método aplicado é o monográfico. Será utilizado para a realização do trabalho, a pesquisa bibliográfica, baseando-se em leis, doutrinas, artigos científicos, bem como julgados e jurisprudências.

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2 TEORIA GERAL DO PROCESSO E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO PROCESSO CIVIL

Para que seja possível desenvolver e entender a temática deste trabalho, será necessário, inicialmente, compreender e estudar a Teoria Geral do Processo, o conceito de processo e, em especial, no Direito Processual Civil, estudar as noções gerais, qual o objetivo que se busca alcançar, qual sua relação com o Direito Constitucional e, o mais importante, analisar a aplicação destas medidas executivas atípicas no processo executivo sob o prisma das garantias constitucionais.

2.1 A TEORIA GERAL DO PROCESSO

Segundo Araújo (2018, p. 1) “o objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais, tornando possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem através de regras de conduta dotadas de coercibilidade, pois, não há direito sem sociedade”.

Posto isso, Rocha (2009, p. 17) na mesma linha de pensamento, aduz que o direito é um dos meios de que se serve o Estado para tutelar e manter a ordem social vigente, e o direito cumpre essa função protetora da ordem social mediante a técnica da formulação de normas, logo, essas normas visam a proteção dos interesses considerados essenciais à manutenção de uma dada ordem social, cuja aplicação é garantida pelo aparelho coativo do Estado, é o chamado “direito substancial”.

Para tanto, se observa que existe uma autonomia do direito processual civil frente ao direito material, conforme ensinamento de Humberto Theodoro Jr.:

Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações jurídicas entre as pessoas, o processual visa a regulamentar uma função pública estatal. Seus princípios todos ligados ao direito público e a que pertence, são totalmente diferentes, portanto, daqueles outros que inspiram o direito material, quase sempre de ordem privada. (THEODORO Jr., 2020, p. 5).

Deste modo, pode-se dizer que o processo tem como finalidade a resolução de conflitos, sendo utilizado como principal meio que o Estado se utiliza para exercer seu poder jurisdicional, como podemos observar em outro ensinamento de Humberto Theodoro Jr.:

Funciona o direito processual civil, então, como principal instrumento do Estado para o exercício do Poder Jurisdicional. Nele se encontram as normas e princípios básicos que subsidiam os diversos ramos do direito processual, como um todo, e sua aplicação faz-se, por exclusão, a todo e qualquer conflito não abrangido pelos demais processos,

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que podem ser considerados especiais, enquanto o civil seria o geral. (THEODORO Jr. 2020. p. 5).

Nesse contexto, Pinho (2019, p. 194) argumenta que, como é vedado a “justiça de mãos próprias” e há uma limitação na autocomposição, o Estado assume o dever de prestar uma adequada tutela jurisdicional.

Diante disso, cabe aos jurisdicionados buscar perante o Poder Judiciário a tutela do seu direito quando houver uma pretensão resistida, logo, é nesse momento em que nasce o direito de ação para os cidadãos, conforme Humberto Dalla B. de Pinho leciona:

Trata-se, portanto, de direito à jurisdição – desde que preenchidas algumas condições, como será visto logo adiante – que encontra fundamento constitucional na garantia da tutela jurisdicional efetiva (art. 5º, XXXV, da CF), uma vez que, por meio dela, o titular do direito terá acesso à proteção de seu direito material contra uma lesão ou ameaça. Vista nesse sentido, isto é, como direito à jurisdição, a ação é um direito do autor quanto do réu. (PINHO, 2019, p. 195).

A ação é usualmente definida como sendo o direito público subjetivo-abstrato,

exercido contra o Estado-juiz, visando a prestação da tutela jurisdicional. (BARROSO,

2019, p. 41, grifos do autor).

Neste diapasão, o doutrinador Elpídio Donizetti argumenta no sentido de que:

É preciso lembrar que o exercício da jurisdição, que compete aos juízes em todo o território nacional, é vinculado, isto é, está jungido aos limites das normas que compõe o devido processo legal. Em outras palavras, o sistema normativo processual – composto, repita-se, por precedentes, regras e princípios –, a par de estabelecer os ônus e faculdades das partes, limita o exercício do poder jurisdicional pelo Estado, o qual somente pode ser exercido de forma válida por meio do processo com a decida observância dos princípios e das regras que compõem o ornamento jurídico. (DONIZETTI, 2020, p. 4).

Por fim, Câmara (2014, p. 254) entende que “o processo deve alcançar o fim a que se destina, ou seja, o processo deve ser capaz de permitir ao Estado atingir os escopos da jurisdição. Deve-se, pois, lutar pela efetividade do processo. ”

2.1.1 Conceito de Processo

Segundo Pinho (2019, p. 375), “no tocante ao conceito, podemos defini-lo como o conjunto de atos, realizados sob o crivo do contraditório, que cria uma relação jurídica da qual surgem deveres, poderes, faculdades, ônus e sujeições para as partes que dela participam. ”

Logo, o processo é indispensável ao exercício da função jurisdicional. Segundo as definições de Pinho (2020, p. 365), há duas concepções, sendo uma delas a positivista, no qual

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o instrumento pelo qual a jurisdição é exercida, e a segunda, pós-positivista, onde o procedimento que atendendo aos ditames da Constituição da República, permite que o juiz exerça sua função jurisdicional.

Neste diapasão, necessário se mostra trazer a explicação do doutrinador sobre a segunda concepção, que é a pós-positivista. Veja-se:

Para esta segunda concepção, não basta que o processo resolva a demanda. Ele só terá legitimidade constitucional se estiver comprometido com a preservação dos princípios fundamentais (garantismo) e se utilizar mecanismos aptos a propiciar o máximo de efetividade ao provimento judicial. (PINHO, 2020, p. 365).

Conforme Marcus Vinicius Rios Gonçalves leciona, o processo é uma sucessão de atos pelo qual é prestada a tutela jurisdicional, e contém um aspecto objetivo, e outro subjetivo, como se verifica nas palavras do doutrinador:

O processo contém um aspecto objetivo e um subjetivo. Objetivo, pois é constituído por um conjunto de atos ordenadamente encadeados e previamente previsto em lei, que se destinam a um fim determinado: a prestação da tutela jurisdicional. Para que ela seja alcançada, há um procedimento, que pressupõe um encadeamento de atos se sucedendo no tempo: a apresentação da petição inicial, o recebimento, a citação do réu, a resposta, o saneamento ou julgamento antecipado, as provas e o julgamento. E o subjetivo: o processo estabelece uma relação entre o juiz e as partes, autor e réu, que também se prolonga no tempo, implicando deveres, ônus, faculdades e direitos de cada um. Daí dizer-se que todo processo é integrado pelas noções de procedimento, e de relação jurídica processual. (GONÇALVES, 2020, p. 185).

Portanto, o processo, como meio de prestar a tutela jurisdicional e de efetivar os direitos pela sociedade pleiteados, é uma sucessão de atos, o qual passa por um juízo de cognição sumária, com ampla dilação probatória, resultando ao fim uma sentença, considerada pela lei como sendo um título executivo judicial, o qual a parte credora poderá exigir o seu cumprimento, caso a obrigação não seja satisfeita espontaneamente pela parte devedora.

2.2 O PROCESSO CIVIL

Segundo Gonçalves (2020, p. 38, grifos do autor), o Processo Civil “é o ramo do direito que contém as regras e os princípios que tratam da jurisdição civil, isto é, da aplicação da lei aos casos concretos, para a solução dos conflitos de interesses pelo Estado-juiz. ”

No dizer de Didier Jr (2015, p. 34), o Direito Processual Civil pode ser definido como um conjunto de normas que visam disciplinar o processo jurisdicional civil, sendo visto como ato-jurídico complexo, ou até mesmo como um feixe de relações jurídicas. Ainda, compõe-se das

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normas que determinam o modo como o processo deve estruturar-se, bem como as situações jurídicas que decorrem dos fatos jurídicos processuais.

Nesta linha, é válido destacar que dentro do processo civil há dois tipos de procedimentos, os quais são chamados de Processo de Conhecimento e o Segundo de Processo de Execução, a saber que um é distinto do outro:

Por outro lado, os processos de conhecimento e execução são independentes entre si, o segundo não depende necessariamente do primeiro para existir, assim como a sentença no processo cognitivo pode, por si só, atender à demanda requerida pela parte, no caso de uma sentença declaratória, constitutiva ou mesmo pelo adimplemento voluntário da parte vencida. De igual modo, os processos de execução podem nascer de títulos executivos extrajudiciais e não demandam a necessidade de conhecer o direito à prestação pretendida. (THEODORO JÚNIOR, 2013b, p. 69).

Portanto, como o doutrinador Donizetti (2019, p. 1039) afirma, “[...] dependendo da finalidade para qual a jurisdição foi provocada, o Código estabelece particularidades procedimentais tendo em vista o objetivo da atuação do Estado-Juiz. ”

E por fim Theodoro Jr. (2018, p. 775) complementa que “para solucionar os litígios, o Estado põe à disposição das partes duas espécies de tutela jurisdicional, a cognição e a execução. O que as distingue são os diferentes provimentos judiciais [...]”.

2.2.1 Processo de Conhecimento

Conforme já fora exposto, o processo é meio indispensável para a prestação da tutela jurisdicional por parte do Estado, podendo ser classificado em processo de conhecimento e processo de execução. Logo, sobre o processo de conhecimento, Humberto Dalla B. de Pinho utiliza-se da seguinte argumentação:

Diz-se processo de conhecimento porque é o meio através do qual as partes levam suas teses ao “conhecimento” do juiz, buscam sua comprovação e, assim, uma decisão favorável. Caracteriza-se pela atividade de cognição do juiz. (DINAMARCO, 2001b, p. 28 apud PINHO, 2019, p. 376).

Também é chamado de declaratório em sentido amplo, porque o objeto é “declarar quem tem razão”, ou melhor, o objeto é a pretensão ao provimento declaratório, que é a sentença de mérito. (PINHO, 2019, p. 376).

Dito isso, entende-se que o processo de conhecimento se mostra necessário quando há uma pretensão resistida, onde haverá a necessidade de solucionar a lide com base na lei, conforme entendimento de Humberto Theodoro Jr.:

Se a lide é de pretensão contestada e há necessidade de definir a vontade concreta da lei para solucioná-la, o processo aplicável é o de conhecimento ou cognição, que deve

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culminar por uma sentença de mérito que contenha a resposta definitiva ao pedido formulado pelo autor. No acertamento contido na sentença consiste o provimento do processo de conhecimento. (THEODORO Jr., 2018, p. 775).

Por conseguinte, cumpre esclarecer que o processo de conhecimento por sua vez, segue um tipo de procedimento. Nas palavras de Donizetti (2020, p. 451) “o procedimento, por sua vez, é a maneira pela qual o processo se desenvolve, se exterioriza. ”

Logo, dependendo da espécie de processo, corresponde um ou mais procedimentos, como o doutrinador Elpídio Donizetti explica:

Ao processo de conhecimento corresponde o procedimento comum, aplicável a todas as causas reguladas pelo Código, exceto àquelas em que há previsão expressa em sentido contrário.

O CPC/1973 subdividia o processo de conhecimento em ordinário e sumário, o que não mais se vê no Código atual. Hoje temos um procedimento único para as ações de conhecimento, além dos procedimentos especiais que foram significativamente reduzidos. (DONIZETTI, 2020, p. 451).

No processo de conhecimento que tramita pelo procedimento comum, o processo é dividido em quatro fases, e são elas:

a) fase postulatória – tem início com a petição inicial, devidamente distribuída; passa pelas respostas do réu e termina com eventual réplica do autor, ou seja, cada parte coloca ao Poder Judiciário a sua versão acerca da lide;

b) fase saneadora – quando o juiz irá delimitar os pontos controvertidos da demanda, a partir do que foi externado na fase postulatória por cada parte, oportunizando e deferindo as provas que entenda necessárias;

c) fase instrutória – dedicada à produção propriamente dita das provas deferidas; d) fase decisória – é aquela em que o juiz manifestará a vontade do Estado resolvendo o conflito de interesses, pois já ouviu as partes, oportunizou e produziu provas, estando assim apto para emitir seu julgamento, por meio da sentença. (SHIMURA; PRIETO; SILVA, 2013, p. 156).

Já para Donizetti (2020, p. 452), o procedimento comum divide-se em cinco fases: a postulatória, saneadora, probatória ou instrutória, decisória e recursal. Ainda, o doutrinador assevera que as fases se comunicam uma com a outra, não sendo as fases, a rigor, estanques.

Para tanto, como o processo de conhecimento tem o escopo de dizer o direito colocando fim a lide por meio de sentença, as partes têm a prerrogativa de recorrer da decisão. Logo, como Alvim (2019, p. 803) conceitua, “os recursos podem objetivar a reforma, a invalidação, a integração ou esclarecimento da decisão impugnada, bem como a uniformização da jurisprudência. ”

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2.2.2 Processo de Execução

Haja vista que o Processo de Execução será tratado de forma aprofundada no próximo capítulo, aqui será feito um breve apanhado sobre o assunto.

Segundo Pinho (2020, p. 378), o “processo de execução é aquele cujo efeitos recaem sobre o mundo dos fatos, que sempre será utilizado para adimplir o direito que o credor tem sobre o devedor, mesmo contra a vontade do segundo”.

O processo de execução tem como resultado específico um provimento satisfatório do direito do credor. Trata-se, portanto, de uma execução forçada, por meio de atos próprios, da prestação devida. (PINHO, 2020, p. 378).

Ainda, o mesmo autor faz uma distinção entre os dois tipos de atividade executiva:

a) cumprimento de sentença: é o conjunto de atos praticados pelo magistrado com o objetivo de tornar efetiva uma decisão interlocutória ou uma sentença. O cumprimento se dá dentro do processo de conhecimento e não há a necessidade de se abrir um processo autônomo.

b) processo de execução: aqui não houve previamente uma ação cognitiva. O jurisdicionado se dirige, pela primeira vez, ao Poder Judiciário, munido de um documento denominado título de crédito. O art. 784 do CPC traz a relação dos documentos considerados título de crédito. (PINHO. 2020, 378).

Portanto, resta claro que o processo de execução age sobre o patrimônio do devedor mesmo contra sua vontade, com o escopo de adimplir o direito do credor, o qual é assegurado por um título judicial ou extrajudicial, ambos gerando efeitos no mundo dos fatos.

2.3 O DIREITO PROCESSUAL CIVIL E O DIREITO CONSTITUCIONAL

No entendimento de Humberto Theodoro Jr., existe uma estreita relação entre o direito processual civil e o direito constitucional, veja-se:

[...] o direito processual civil e o direito constitucional possuem estreita relação, pois, o processo cuida de uma função soberana do Estado, que é a resolução de conflitos por meio do processo, logo, é na Constituição Federal que será localizada as atribuições e limites para esta função”. (THEODORO Jr., 2019, p. 5).

Ainda, o mesmo doutrinador leciona que a constituição traça ditames que direcionam de certo modo, o direito processual civil:

Além disso, a Constituição traça regras sobre os direitos individuais que falam de perto ao direito processual, como a do tratamento igualitário das partes no processo (art. 5º, I); a que assegura a todos o direito de submeter toda e qualquer lesão de

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direitos à apreciação do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV); a que proclama a intangibilidade da coisa julgada (art. 5º, XXXVI); as que proíbem a prisão por dívidas (art. 5º, LXVII), os juízos de exceção (art. 5º, XXXVII) e as provas ilícitas (Art. 5º, LVI), o juiz natural (art. 5º, LIII) [...]. (THEODORO Jr. 2019, p .5).

Cumpre ressaltar que é na Constituição Federal onde também é definido os atributos do Estado, o que inclui a organização dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), bem como é na Constituição Federal que são encontrados as garantias individuais e os princípios constitucionais que regulam o processo civil. (BRASIL, 1988).

Tanto é verdade que existe uma íntima relação do processo civil com o direito constitucional, que é encontrado no art. 1º do CPC/15, que o processo seguirá os ditames da Constituição Federal, veja-se:

Artigo 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição Federal da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. (BRASIL, 2015).

Neste diapasão, Pinho (2018, p. 125) afirma que “ao dizer que o Código será disciplinado de acordo com os valores e princípios, o legislador está adotando, expressamente, a teoria do direito processual constitucional.

Seguidamente o doutrinador Pinho (2018, p. 125) constata que “grandes expoentes do direito processual já sedimentaram a teoria segundo a qual o direito constitucional é o tronco da árvore e o direito processual é um de seus ramos. ”

2.4 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Pode-se dizer que os princípios são padrões de conduta, que visam reger e orientar a vida em sociedade:

Os princípios constitucionais são o núcleo de todo sistema e orienta toda a lógica mínima do processo. Dentre os principais princípios, tradicionalmente classificados pela doutrina como “fundamentais”, encontram-se os princípios do acesso à justiça, do devido processo legal, do contraditório, da paridade de tratamento (isonomia), da ampla defesa, do juiz natural, da publicidade, da motivação das decisões, da vedação das provas ilícitas ou obtidas por meios ilícitos, da assistência jurídica integral e gratuita, da razoável duração e da efetividade do processo. (WAMBIER; TALAMINI, 2011, p. 56).

Ainda, Theodoro Jr. (2019, p. 46) aduz que, além dos princípios consagrados na doutrina processual, o novo Código de Processo Civil adquiriu em caráter de normas fundamentais, vários princípios que são consagrados como inerentes ao processo democrático, como o

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contraditório, a boa-fé objetiva, a duração razoável do processo, além de todos os que a Constituição preconiza em aplicar sobre os serviços públicos em geral.

Nesse âmbito, percebe-se que a relevância dos princípios constitucionais é tanta, que o novo Código de Processo Civil se preocupou em fazer menção a eles em seu artigo 8º:

Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (BRASIL, 2015).

Portanto, vislumbrada a importância dos princípios constitucionais perante o processo civil, discorrer-se-á, no tópico seguinte, sobre os principais princípios, que foram selecionados tendo em conta os objetivos do presente trabalho.

2.4.1 Princípio do devido processo legal

Para Theodoro Jr. (2019, p. 47), a “jurisdição e processo são dois institutos indissociáveis. O direito à jurisdição é, também, o direito ao processo como meio indispensável à realização da Justiça. ”

Deste modo, este princípio é uma garantia individual, prevista no art. 5º, inciso LIV da Constituição Federal, o qual visa assegurar para todo e qualquer cidadão o direito ao processo, veja-se:

O princípio do devido processo legal, expressamente previsto no inciso LIV do artigo 5º da Constituição Federal, estabelece as condições para o desenvolvimento de um processo. Reitera-se que o que se espera da legislação em um Estado Democrático de Direito é que seja observado um padrão na atuação do Poder Judiciário. Ao passo que não basta o acesso à justiça, busca-se que o Estado-juiz traga uma resposta ao conflito que lhe é pedido para resolver. (BUENO, 2012a, p. 143).

Portanto, como pontua Theodoro Jr. (2019, p. 129), este “é um princípio, destarte, de

conformação da atuação do Estado a um especial modelo de agir”.

2.4.2 Princípio da isonomia ou igualdade processual

O princípio da isonomia ou da igualdade processual é encontrado no caput do artigo 5º da Constituição Federal, sendo considerado um dos princípios basilares do Estado Democrático

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de Direito, pois aqui é assegurado que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. (BRASIL, 1988).

Trazendo este princípio sob o espectro do Código de Processo Civil, Humberto Theodoro Jr. esclarece o conceito desse princípio:

A isonomia ou igualdade deve ser entendida no sentido de que o Estado-juiz (o magistrado, que o representa) deve tratar de forma igualitária os litigantes. Seja dando-lhes igualdade de condições de manifestação ao longo do processo, seja criando condições para que esta igualdade seja efetivamente exercitada. (THEODORO Jr. 2019, p. 147).

Como descrito por Pinho (2020, p. 89), este princípio em âmbito processual, “significa restabelecer o equilíbrio entre as partes e possibilitar a sua livre e efetiva participação no processo, como corolário do princípio do devido processo legal. ”

Ainda, o mesmo doutrinador fala de uma forma mais pormenorizada sobre o referido princípio:

Em primeiro lugar, trata-se de igualdade perante a lei. Significa que aqueles que aplicarem a lei só poderão distinguir os destinatários na medida em que a lei permitir. Isto porque o papel de discriminar incumbe ao legislador, o qual dirá em que casos deverá haver tratamento diferenciado. (PINHO, 2020, p. 90).

Logo, este princípio deve ser visto como algo que assegura às partes tratamento isonômico perante o judiciário, onde ambas as partes iram brigar sempre em pé de igualdade e com as mesmas armas, sem distinções.

2.4.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa

Conforme o texto expresso no inciso LV, do art. 5º da Constituição Federal, o princípio do contraditório encontra-se assim positivado: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. ” (BRASIL, 1988).

Nesse contexto, o doutrinador Humberto Dalla Bernardina Pinho leciona que:

Esse princípio impõe que, ao longo do procedimento, seja observado verdadeiro diálogo, com participação das partes, que é a garantia não apenas de ter ciência de todos os atos processuais, mas de ser ouvido, possibilitando a influência na decisão. Desse modo, permite que as partes, assim como eventuais interessados, participem ativamente da formação do convencimento do juiz, influindo, por conseguinte, no resultado do processo. (PINHO, 2018, p. 99).

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Logo, a Constituição Federal assegura meios para a parte que integra a lide tenha condições de se defender e participar ativamente no processo, assim influindo na decisão do magistrado, conforme Cassio Scarpinella Bueno relata:

Não se trata de “recursos” em sentido técnico, em sentido processual, como mecanismo de revisão ou de controle de decisões judiciais, mas, bem diferentemente, de “recursos” no sentido de meios, de técnicas, para o exercício de algum direito, aqui, a ampla defesa. Estes “recursos”, são os mais variados. A previsão do sistema de assistência jurídica integral e gratuita, como se lê do art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, e a existência de uma Defensoria Pública, como impõe o art. 134 da Constituição Federal, são bons exemplos da criação, pela própria Constituição Federal, de meios suficientes para o exercício da ampla defesa em cada caso concreto. (BUENO, 2019, p. 135).

Deste modo, resta claro que o princípio do contraditório e ampla defesa visa em primeiro lugar dar o direito à parte que integra a lide de poder contrapor os fatos argumentados, podendo com isso influenciar a decisão do magistrado, logo, a ampla defesa visa assegurar sempre meios para que a parte possa se defender de maneira legítima no processo.

2.4.4 Princípio da fundamentação ou motivação das decisões judiciais

No entendimento de Pinho (2018, p. 106), este princípio “é garantida às partes, para efeito de segurança das relações jurídicas e controle da atividade jurisdicional, a possibilidade de impugnar aquelas decisões que não estejam devidamente fundamentadas. ”

Ainda, Pinho (2020, p. 98) aduz que, “consoante dispõe o art. 93, IX, da CF/88, todas as decisões do Poder Judiciário devem ser fundamentadas, sob pena de serem consideradas nula de pleno direito. Trata-se de dupla garantia: i) de existir fundamento e ii) de este ser explicitado”.

O mesmo doutrinador assevera que:

A motivação permite às partes controlar se as razões e provas por elas apresentadas foram devidamente consideradas na decisão. Seria inútil assegurar o direito de ação e o direito de defesa, se as alegações e provas trazidas as autos pelas partes não precisassem ser obrigatoriamente examinadas pelo juiz no momento da decisão. (PINHO. 2020, p. 98).

Para tanto, o princípio da fundamentação ou da motivação das decisões judiciais assegura transparência nos processos judiciais, de modo que as partes podem saber o “porque” do juiz tomar aquela determinada decisão.

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2.4.5 Princípio da dignidade da pessoa humana

Este último princípio aqui a ser estudado, é um dos mais complexos e um dos mais importantes num Estado Democrático de Direto, ainda, conforme nossa Constituição, é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III – a dignidade da pessoa humana; (BRASIL, 1988).

Segundo Nunes (2018, p. 68), é a “dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida dos direitos individuais”.

[...] aliás, é um verdadeiro supraprincípio constitucional que ilumina todos os demais princípios e normas constitucionais. E por isso não pode o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ser desconsiderado em nenhum ato de interpretação, aplicação ou criação de normas jurídicas (NUNES. 2018, p. 73-74).

Nas palavras de Didier Jr. (2016, p. 78), toda a argumentação que gira em torno da dignidade da pessoa humana, corrobora na humanização do processo civil, de modo que a dignidade da pessoa humana acaba por iluminar o devido processo legal.

Porquanto, ao encerrar este capítulo da presente pesquisa científica, percebe-se que os princípios Constitucionais têm forte influência sobre o Processo Civil, levando diretrizes para um tratamento isonômico entre as partes que integram o processo, bem como orientações para que o processo seja justo e efetivo para a resolução das lides que a se formam em meio a sociedade.

Dito isso, o próximo capítulo deste trabalho científico versará sobre o Processo de Execução Civil e suas especificidades.

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3 PROCESSO DE EXECUÇÃO CIVIL

Neste capítulo será feito um estudo compreensivo sobre o Processo de Execução Civil. Inicialmente, será estudado as disposições gerais, com um apanhado geral sobre as partes, os pressupostos e objetivos. Ademais, será estudado com base em doutrinas os princípios inerentes da execução civil, o que é um Título Executivo Judicial e um Título Executivo Extrajudicial, e os meios para sua execução.

3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS

Conforme Ribeiro (2019, p. 471) leciona, “a execução é uma atividade processual exercida pelo Estado para assegurar a satisfação concreta de um direito de crédito. Com ela, transforma-se a realidade fática, para que reflita o mesmo resultado do cumprimento voluntário da obrigação”.

Ainda, segundo Ribeiro (2019, p. 471), para bem esclarecer, o processo de execução nada mais é quando o devedor acaba por não cumprir espontaneamente o adimplemento de sua obrigação, surgindo com isso, o direito ao credor de postular em juízo perante o Estado-juiz, atos executivos sobre o patrimônio do devedor para que tenha a satisfação do seu crédito.

O processo de execução tem como objetivo a entrega de um bem ou a satisfação do crédito, procedimento que acontece por meio de um título executivo, o qual indubitavelmente tem que ter como requisitos certeza, exigibilidade e liquidez, conforme explana Laírcia Vieira:

O processo de execução tem como objetivo a satisfação de um título executivo, não há execução sem título executivo, aquele que é assim determinado por lei. Certeza, exigibilidade e liquidez são as três características do título executivo, o título que não portar essas características, será a execução extinta. A efetivação do crédito é premissa fundamental da execução. (VIEIRA, 2017).

Para tanto, nas palavras de Santos (2011, p. 274), o autor afirma que o processo de execução civil é visto como um processo autônomo frente ao processo de conhecimento, e essa autonomia se dá pelo fato de o credor realizar uma execução forçada que é baseada em título executivo extrajudicial. Porém, no processo de conhecimento que geram títulos executivos judiciais através de sentenças condenatórias, existe o sincretismo processual regulado pelo Código de Processo Civil, onde a execução é uma continuação da relação processual que já existia na fase de conhecimento.

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3.1.1 Partes

Segundo Câmara (2019, p. 316), no processo de execução, haverá um ou mais de um sujeito que ocupará a posição ativa, denominado de exequente, e de outro lado, terá um ou mais de um sujeito que ocupará a posição passiva, denominado executado.

Conforme Bueno (2019, p. 637), o “exequente é quem, afirmando-se credor, pede para si a tutela jurisdicional executiva. O executado é aquele que em face de quem se pretende a prática dos atos tendentes à prestação da tutela jurisdicional executiva [...]”.

Neste diapasão, clara é a importância de conhecer o artigo 778 do Código de Processo Civil, o qual elenca os sujeitos que podem promover a execução, ou seja, aqueles a quem a lei confere título executivo, e, ainda, no artigo 779 do mesmo código, é encontrado os executados, que nada mais é o devedor reconhecido como tal no título executivo:

Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo.

§ 1o Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário:

I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei;

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo; III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos; IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional. [...]

Art. 779. A execução pode ser promovida contra: I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo;

IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial;

V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; VI - o responsável tributário, assim definido em lei. (BRASIL, 2015).

Ainda, a legitimidade passiva pode ser dividida em devedores originários, sucessores e

apenas responsáveis, conforme explana Humberto Theodoro Jr.:

a) devedores originários, segundo a relação obrigacional de direito substancial: “devedores’ definidos pelo próprio título;

b) sucessores do devedor originário: espólio, herdeiros ou sucessores, bem como o “novo devedor”;

c) apenas responsáveis (e não obrigados pela dívida): o “fiador do débito’ e o “responsável tributário”.(THEODORO Jr. 2020, p. 69).

E por fim, com o advento do Novo Código de Processo Civil, o artigo 779 inciso V, incluiu ainda entre os sujeitos passivos da execução, “o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito”. (BRASIL. 2015). Isso quer dizer que, este artigo

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adotou o entendimento de que aquele que ofereceu bem como garantia real para assegurar o cumprimento de obrigação alheia, será incluído na ação de execução como executado (legitimidade passiva).

3.1.2 Pressupostos

Conforme Theodoro Jr. (2020, p. 111) expõe, o Novo Código de Processo Civil exige como pressuposto para qualquer tipo de ação, a legitimidade da parte e o interesse de agir, contudo, apesar de no processo de execução permanecer as mesmas condições, a sua aferição acaba se tornando mais fácil, pois a lei só aceita o processo de execução quando o credor já possui título executivo, e neste conste uma obrigação que já possa ser exigida.

Desta forma, corroborando com o entendimento do autor acima citado, o artigo 783 do Código de Processo Civil de 2015, expõe os requisitos necessários para realizar qualquer ação de execução:

Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. (BRASIL. 2015).

Logo, para bem esclarecer os requisitos encontrados no artigo 783 do Código de Processo Civil, nas palavras de Câmara (2019, p. 318), obrigação certa é aquela em que todos os elementos constitutivos (credor, devedor e objeto) estão presentes no título executivo, por conseguinte, a liquidez é a expressa e precisa quantidade devida, e, por fim, a obrigação exigível é aquela quando seu cumprimento não está sujeito a nenhum tipo de termo, condição ou qualquer outro elemento que não lhe seja essencial.

Neste diapasão, referente a liquidez, vale ressaltar que conforme o parágrafo único do artigo 786 (BRASIL, 2015), “a necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título”.

Por fim, no caput do artigo 786 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), é disciplinado que “a execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo”.

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3.1.3 Objetivo

De maneira geral, o processo tem como escopo a composição da lide, com a aplicação da norma jurídica ao fato concreto, no entanto, Humberto Theodoro Jr. explana o objetivo da execução citando Liebman, conforme segue:

Entende Liebman que não se pode falar em tal objetivo no processo de execução, porque inexistiria uma lide a ser composta pelo juiz, eis que a composição já se realizou no processo de conhecimento e não caberia, então, ao juízo executivo, qualquer novo pronunciamento de mérito. Diferentemente do processo de conhecimento, afirma o notável processualista, na espécie o pedido baseia-se no título executório, “que determina inquestionavelmente – para todos os efeitos da execução – a regra sancionadora que deve ser efetivada: não cabe mais a juiz julgar e sim simplesmente realizar as atividades decorrentes do conteúdo do título. O pedido do exequente visa provocar estas atividades [...]. (LIEBMAN, Enrico Tullio, Apud THEODORO JR. Humberto, 2020, p. 37)

Portanto, para a execução ser válida, deve esta seguir os pressupostos já apresentados, bem como seguir os princípios que são inerentes ao processo executivo, os quais serão apresentados a seguir.

3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Nas palavras de Pinho (2018, p. 123), o autor entende que “hoje os Princípios são vistos como verdadeiras garantias ínsitas ao estabelecimento válido da relação processual”.

Sá (2020, p. 1015), leciona que o processo como um todo é aclarado por princípios que guiam a aplicação do direito, logo, a execução não é diferente. Portanto, além dos princípios que são aplicados de maneira universal em todos os campos do processo, há também a aplicação de determinados princípios que derivam da própria execução.

Deste modo, a seguir serão trazidos os princípios gerais do processo com determinadas peculiaridades que abarcam no processo de execução, e também os princípios específicos da execução.

3.2.1 Princípio da lealdade processual – dos atos atentatórios à dignidade da justiça

Segundo as palavras do doutrinador Elpídio Donizetti, o conceito do princípio da lealdade processual aborda um dos aspectos específicos dos princípios da cooperação, veja-se:

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[...] refere-se especificamente à honestidade que deve permear a conduta não só das partes, mas de todos os envolvidos no processo, o qual não pode ser utilizado para obtenção de resultados escusos. É um dever generalizado zelar pela correta e justa composição do litígio, sendo lamentável que algum sujeito do processo falte com o dever da verdade, agindo de forma desleal e empregando artifícios fraudulentos [...]. (DONIZETTI, 2020, p. 44).

Para bem esclarecer o referido princípio, Cassio Scapinella Bueno ressalta que:

A fraude à execução é instituto de direito processual civil cujos efeitos operam, em primeiro lugar, no próprio plano processual e que, uma vez reconhecida, surte seus efeitos no plano material e, mesmo assim, somente na medida em que o desfalque patrimonial seja empecilho à concretização da tutela executiva. Tanto assim que o reconhecimento de fraude à execução não anula o ato de alienação (como se dá no âmbito da fraude de credores), mas, diferentemente, satisfaz-se com a sua ineficácia [...]. (BUENO, 2019, p. 313).

O princípio da lealdade processual é encontrado desde o artigo 772, inciso II, até o artigo 774 do Código de Processo Civil, mais especificamente nos artigos que aqui serão destacados, veja-se:

Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo: [...]

II - advertir o executado de que seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça;

[...]

Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que:

I - frauda a execução;

II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora;

IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus.

Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material. (BRASIL, 2015).

Conforme se extraí dos artigos mencionados, fica a critério do juiz anunciar ao executado que seu ato constitui ato atentatório à dignidade da justiça, com também é ele quem fixa a porcentagem da multa quando o executado comete uma conduta que seja contra o princípio da lealdade processual.

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3.2.2 Princípio do contraditório no processo de execução

O princípio do contraditório é encontrado no art. 5º, inciso LV da Constituição Federal de 1988, e também foi adotado pelo atual Código de Processo Civil nos artigos 7º, 9º e 10º.

Segundo Gonçalves (2020, p. 37), houve muita discussão acerca da aplicabilidade do princípio do contraditório na execução, pelo justo motivo de que não é oportunizado ao executado contestar o pedido inicial. Isso acabou influenciando parte da doutrina a negar a aplicação do referido princípio no processo executivo, pelo simples argumento de que o juiz não ouve os argumentos das partes, e acaba se limitando somente a determinar as medidas necessárias para o cumprimento do conteúdo do título executivo.

Ainda, o mesmo autor afirma que a ideia foi aceita pela doutrina e jurisprudência acerca da aplicação do contraditório no processo executivo:

Com a admissão generalizada, pela doutrina e jurisprudência, de exceções e objeções de pré-executividade nas execuções, não se pode mais sustentar a inexistência do contraditório. Nelas- que não tem natureza de ação autônoma, mas de meros incidentes – o juiz é chamado a proferir decisões. Também nas impugnações, previstas como mecanismo de defesa do executado nos cumprimentos de sentença (Art. 525 do CPC) [...]. (GONÇALVES, 2020, p. 37).

Neste diapasão, para corroborar com o entendimento de que há o contraditório no processo de execução e este é respeitado, Pinho (2019, p. 1070-1071) aduz que no cumprimento de sentença existe um contraditório característico, apesar de não ser possível debater sobre questões que já foram examinadas e decididas por uma sentença já transitada em julgado, cabe ação específica (ação rescisória) para rediscutir alguns assuntos. Como também no processo de execução pode ser discutido aspectos sobre a formação do título executivo em questão, podendo ser alegado, por exemplo, vícios de consentimento, como dolo e coação, entre outras questões processuais.

3.2.3 Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana

Este princípio é a base de um Estado-democrático de Direito, e foi visto sua importância no tópico 2.4.5, amplamente estudado, de forma que será analisado agora sua aplicação no processo de execução.

Outro ensinamento de Elpídio Donizetti, é no sentido de que o processo é meio para resguardar os direitos do cidadão, de modo que sempre deve ser observado o princípio da dignidade da pessoa humana, conforme segue:

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[...] o processo é o instrumento encarregado de salvaguardar os interesses do cidadão, oferecendo-lhe condições para que, na medida em que for atingido em qualquer dos seus direitos, recorra ao Estado-juiz. Por essa razão, o processo deve ser estruturado, interpretado e aplicado de forma suficientemente capaz de garantir os direitos fundamentais decorrentes do princípio da dignidade humana. (DONIZETTI, 2019, p. 47).

Tanto é verdade, que o atual Código de Processo Civil, em seu artigo 8º, resguarda o princípio da dignidade da pessoa humana ao aplicar o ordenamento jurídico, in verbis:

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (BRASIL, 2015).

Nesta linha, no que concerne ao processo de execução, Humberto Theodoro Júnior disciplina que:

Não pode a execução ser utilizada como instrumento para causar a ruína, a fome e o desabrigo do devedor e sua família, gerando situações incompatíveis com a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, institui o Código a impenhorabilidade de certos bens como provisões de alimentos, salários, instrumentos de trabalho, pensões, seguro de vida etc.” (THEODORO JÚNIOR, 2013a, p. 131).

Deste modo, verifica-se que apesar da força que a tutela executiva traz consigo, é necessário que seja resguardado a dignidade da pessoa humana.

3.2.4 Princípio da menor onerosidade

Este princípio disciplina que no processo de execução, o direito do credor deve ser satisfeito de modo que seja menos gravoso ao executado. Logo, este princípio se encontra consubstanciado no artigo 805 do Código de Processo:

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.

Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. (BRASIL, 2015).

De acordo com Lunardi (2019, p. 801), “o princípio da menor onerosidade deve ser compatibilizado com o princípio do resultado, ou seja, com o preceito de que o objetivo da execução é efetivamente satisfazer o direito do credor. ” Ainda, o autor faz a ressalva que por

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este motivo, quando o devedor alega que a medida executiva é mais gravosa, cabe a este indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, conforme o parágrafo único do artigo 805 do Código de Processo Civil.

3.2.5 Princípio da patrimonialidade

Este princípio é garantia de que a execução irá recair sobre o patrimônio do devedor, sobre os seus bens, não sobre sua pessoa. Assim é o que dispõe o artigo 789 do Código de Processo Civil:

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens, presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. (BRASIL, 2015).

Segundo Bueno (2019, p. 97), desde 1994 até o atual Código de Processo Civil, as reformas no referido código buscaram mitigar este princípio, de modo que começa a ser admitido a prática de atos jurisdicionais sobre a vontade do devedor, e não mais sobre seu patrimônio, buscando agir coercitivamente sobre o jurisdicionado levando-o a preferir cumprir com a determinação judicial, do que sofrer atos sub-rogatórios.

Neste diapasão, vale ressaltar o ponto mais culminante dessa nova realidade, que é a inclusão do inciso IV do artigo 139 do CPC, o tema deste trabalho, veja-se:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

[...]

IV – determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária. (BRASIL, 2015).

Ainda, nas palavras de Bueno (2019, p. 97), o artigo mencionado não busca violar o princípio da dignidade da pessoa humana, muito pelo contrário, este artigo trabalha sobre a

vontade do executado, dando-lhe a escolha de sujeitar-se voluntariamente a determinação do

magistrado, ou sujeitar-se a ela mesmo contra sua vontade, e o escopo dessa coerção é dar maior efetividade a tutela jurisdicional.

Por fim, cumpre ressaltar que o artigo 139 do Código de Processo Civil será estudado com maiores detalhes no último capítulo.

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3.2.6 Princípio da tipicidade e adequação dos meios executivos

Da doutrina de Cassio Scarpinella Bueno, é extraído o entendimento acerca do princípio da tipicidade:

De acordo com a formulação tradicional, o princípio da tipicidade dos atos executivos significa que os atos executivos a serem praticados pelo Estado-juiz são “típicos” no sentido de que eles são prévia e exaustivamente previstos pelo legislador. O magistrado oficiante no caso concreto não tem, nesta perspectiva de análise do princípio, nenhuma liberdade para alterar o padrão de atos processuais e, mais amplamente, de técnicas que lhe são reconhecidas como as únicas legítimas na lei por obra do legislador. (BUENO, 2019, p. 100).

Dito isso, o mesmo doutrinador complementa (BUENO, 2019, p. 10) no sentido de que a tipicidade dos atos executivos se justifica sob o espectro do princípio do devido processo, e busca-se com esse princípio, vedar os deveres-poderes do magistrado que acaba atuando em face do executado e do seu patrimônio.

3.2.7 Princípio do título executivo

Este princípio disciplina que a execução deve estar sempre amparada em título executivo. Nas palavras do doutrinador Lunardi (2019, p. 797), este princípio “é a manifestação da regra

nulla executio título, ou seja, não há execução sem título. Consideram-se títulos executivos

aqueles que são assim definidos em lei [...]. ”

O referido princípio é positivado no artigo 783 do Código de Processo Civil, veja-se:

Art. 783. A execução para cobrança findar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. (BRASIL, 2015).

Conforme Bueno (2019, p. 95), o doutrinador confirma que “a tutela jurisdicional executiva depende sempre de prévia definição em um “título executivo”, tenha ele origem

judicial (art. 515) ou extrajudicial (art. 784). ” Ainda, é no título executivo que será definido a

via para sua execução, isso dependerá da origem do título, se é judicial ou extrajudicial. Ademais, importante ressaltar que o Código de Processo Civil em seu artigo 803, inciso I, leciona que é nula a execução se “o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível. ” (BRASIL, 2015).

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3.2.7.1 Título executivo judicial

Segundo Gonçalves (2019, p. 28) “título judicial é, em regra, aquele que se forma em processo de conhecimento anterior (em regra, porque há títulos não precedidos de processo de conhecimento, como a sentença arbitral) [...]”.

Para tanto, os títulos executivos judiciais estão elencados no artigo 515 do Código de Processo Civil, em um rol taxativo:

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:

I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral;

VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

X - (VETADO). (BRASIL, 2015).

Portanto, o doutrinador Alvim (2019, p. 1444) conclui que, os títulos executivos judiciais são os documentos que se formam mediante processo judicial, os quais a lei confere força executiva, ou seja, não há mais discussão de mérito sobre o direito ali postulado, somente se procede à sua efetivação, porque já houve prévia discussão de mérito na fase cognitiva.

3.2.7.2 Título executivo extrajudicial

Sobre os títulos executivos extrajudiciais, vale destacar outro ensinamento do doutrinador Eduardo Arruda Alvim, o qual disciplina que:

Ao lado dos títulos executivos judiciais, têm-se os títulos executivos extrajudiciais, que são documentos públicos ou particulares aos quais a lei atribui eficácia executiva, diante do grau de confiabilidade que ostentam. Permite-se, com isso, que o credor de obrigação insculpida nesses documentos, possa ir ao Judiciário, não para obter o acertamento do seu direito, mas para pleitear, desde logo, a sua efetivação [...]. (ALVIM, 2019, p. 1509).

Deste modo, necessário trazer à baila o rol exemplificativo dos títulos executivos extrajudiciais inserido no art. 784 do Código de Processo Civil:

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Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;

V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;

VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;

XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;

XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. (BRASIL, 2015).

Urge esclarecer que, o art. 785 do Código de Processo Civil, abre a prerrogativa ao credor em optar pelo ajuizamento de ação de conhecimento, mesmo em posse de título executivo extrajudicial. (BRASIL, 2015). Isto se dá ao fato de que os títulos judiciais possuem maior força do que os títulos executivos extrajudiciais, pelo fato serem formados sob o crivo do poder jurisdicional.

3.3 VIAS EXECUTIVAS

O Código de Processo Civil de 2015 apresenta duas vias para realizar a execução de um título que contenha obrigação certa, líquida e exigível.

A primeira é a do cumprimento de sentença, fase posterior à ação de conhecimento onde é formado título executivo judicial, de modo que, caso o devedor não cumpra com sua obrigação espontaneamente, o credor dará início ao cumprimento de sentença, disciplinado no artigo 513 e seguintes. (BRASIL, 2015).

Ao passo que, a segunda via executiva, é o processo executivo baseado em títulos extrajudiciais, onde a satisfação do crédito do credor sobre o devedor se dará mediante ação autônoma, disciplinada no Livro II do Código de Processo Civil, em seu artigo 771 e seguintes. (BRASIL, 2015).

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Deste modo, percebe-se que a legislação determina qual será a via executiva conforme a natureza do título, sendo que cada uma delas carrega procedimentos e características diferentes, como será demonstrado a seguir.

3.3.1 Execução de título judicial

A execução de título judicial acontece através do procedimento chamado cumprimento de sentença. Nesta linha, o doutrinador Humberto Theodoro Jr. utiliza-se da seguinte argumentação:

A expressão cumprimento de sentença a que recorre o Código de 2015 é genérica, pois ao enumerar os títulos judiciais que o podem sustentar arrola não só as sentenças em sentido estrito, prevendo que também as decisões interlocutórias que reconheçam a exigibilidade de obrigação podem desempenhar a mesma função atribuída à sentença no plano da execução forçada. (THEODORO Jr., 2019, p. 17).

Partindo desse pressuposto, Lunardi (2019, p. 767) aduz que o cumprimento de sentença pode ser de caráter provisório ou definitivo. Em regra, o procedimento do cumprimento provisório de sentença segue o mesmo procedimento do cumprimento definitivo. Logo, o cumprimento provisório de sentença é aquele em que a decisão judicial ainda é passível de alteração, ou seja, foi ou será interposto recurso sem efeito suspensivo, onde o credor pode iniciar o “cumprimento provisório” da decisão judicial até que seja julgado o referido recurso. Nesta linha vale ressaltar que, se o exequente dar início ao cumprimento provisório de sentença, este fica responsável de forma objetiva caso o executado venha a sofrer eventuais danos se por ventura a decisão seja reformada ou anulada, conforme disposição do artigo 520, inciso I, do Código de Processo Civil. (BRASIL, 2015).

Ainda conforme Lunardi (2019, p 771) o novo CPC traz como regra o sincretismo processual, o que significa que não é necessário um processo executivo autônomo para o pagamento de quantia. O que ocorre é que o cumprimento de sentença se dá no mesmo processo onde se deu a fase de conhecimento, assim, não há necessidade de nova citação, o devedor apenas é intimado para o cumprimento da obrigação, haja vista que não há um processo novo, há somente uma fase que executa a obrigação em que ocorreu a fase de conhecimento.

Referências

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