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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE PSICOLOGIA LUCAS MAGNO DOS SANTOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA

UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE PSICOLOGIA

LUCAS MAGNO DOS SANTOS

AS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

PALMEIRA DOS ÍNDIOS 2020

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LUCAS MAGNO DOS SANTOS

AS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Unidade Educacional de Palmeira dos Índios do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas – UFAL para a obtenção do título de Formação em Psicologia.

Orientador: Profº. Dr. Mayk Andreele do Nascimento.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS 2020

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Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Unidade Palmeira dos Índios

Divisão de Tratamento Técnico

Bibliotecária Responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza (CRB-4: 1844)

S237n Santos, Lucas Magno dos

As novas tecnologias digitais e suas implicações na sociedade contemporânea/ Lucas Magno dos Santos, 2020.

63 f.

Orientador: Mayk Andreele do Nascimento.

Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal de Alagoas. Campus Arapiraca. Unidade Educacional de Palmeira dos Índios. Palmeira dos Índios, 2019.

Bibliografia: f. 57 – 63

1. Psicologia. 2. Tecnologia da informação. 3. Comunicação na tecnologia. I. Nascimento, Mayk Andreele do. III. Título.

CDU: 159.9

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LUCAS MAGNO DOS SANTOS

AS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Unidade Educacional de Palmeira dos Índios do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas – UFAL para a obtenção do título de Formação em Psicologia.

Data da aprovação: 05/02/2020

Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Luis Pereira e Maria Aparecida, e também aos meus

irmãos, Laryssa e Luan, por todo apoio que me deram durante este percurso de formação.

As minhas avós, Natália e Sebastiana, e, in memoriam, aos meus avôs, Domingos e Pedro, por todo o cuidado durante minha infância.

À minha companheira, Aldiranny, maior incentivadora e pessoa mais dedicada e carinhosa que conheço. Obrigado por tudo.

Aos professores, por transmitirem não só conteúdos, mas também experiência e desejo de ensinar.

Aos colegas, com os quais compartilhei tantos momentos especiais durante esta caminhada.

Por fim, agradeço a meu orientador, Mayk Andreele, por sua disponibilidade e paciência durante a construção desse trabalho e por ter me ajudado na elaboração do mesmo.

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“Desconfie das convenções sociais; o novo não é necessariamente bom. Apoie apenas aquilo que tem sentido de justiça, humanidade, bondade etc.” (Epicteto)

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RESUMO

Tendo em vista que o acesso ao que podemos chamar de “ciberespaço” ocupa atualmente praticamente todos os aspectos da vida humana, o presente trabalho faz um convite a discussão acerca das implicações sociais advindas dessa nova configuração a fim de refletir sobre as transformações ocorridas no cenário mundial referentes aos fatores sociais, econômicos e subjetivos, ressaltando os elementos que afetam diretamente o modo como as pessoas vivem. Para tanto, inicialmente, é apresentado o processo histórico referente às origens das Tecnologias de Informação e Comunicação, em seguida, evidencia-se algumas mutações no campo da economia e do trabalho e, por fim, é feita uma discussão sobre como isso repercute na sociedade e no processo de subjetivação dos sujeitos contemporâneos. Realiza-se, então, uma pesquisa de objetivo exploratório a partir de revisão bibliográfica. Diante disso, verifica-se que estamos vivenciando uma nova configuração sociocultural e econômica, estruturada sob a lógica do capitalismo, hiperconectada e em constante transformação, o que impõe a constatação de que as novas tecnologias digitais estão mudando radicalmente a maneira como estamos nos organizado enquanto sociedade, impactando diretamente na maneira como nos relacionamos e percebemos o mundo, além de causar efeitos significativos em nossa subjetividade.

Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação. Ciberespaço.

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ABSTRACT

The access of what we might call “cyberspace” occupies virtually every aspect of human life nowdays, this paper invites to discuss the social implications that comes with it. This new configuration reflects on the world's scenario transformations regarding social, economic and subjective factors, highlighting the elements that directly affect the way people are they live. To do so, initially was presented the historical process of Information and Communication Technologies, then were evidenced some mutations in economy field and labor, and finally, it was discussed how this affects society and subjectivation process of contemporary subjects. We then conducted an exploratory research based on a literature review. Given this, we find that we are experiencing a new socio-cultural and economic configuration, structured under the logic of capitalism, hyperconnected and constantly changing, which requires the realization that new digital technologies are radically changing the way we are organized as a society, directly impacting the way we relate and perceive the world, and have significant effects on our subjectivity.

Keywords: Information and Communication Technologies. Cyberspace. Contemporary Society. Subjectivity.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

2 PERCURSO HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO 13

2.1 Criação e Desenvolvimento da Computação 13

2.2 As Origens da Internet 18

2.3 Dispositivos Móveis: A Era dos Smartphones 21

3 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: O INÍCIO DE UMA NOVA ESTRUTURA

SOCIOECONÔMICA 25

3.1 Indústria 4.0 25

3.2 Novos Paradigmas Econômicos 29

3.3 Substituição do Trabalho 32

3.4 Transformação nas Relações de Trabalho 37

4 TECNOLOGIAS E SUBJETIVIDADE 41

4.1 Inovações Tecnológicas e suas Implicações Subjetivas 41

4.2 A Espetacularização da Intimidade 45

4.3 Olhar Panóptico das Tecnologias Digitais 49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história, o advento das inovações tecnológicas implicaram em grandes revoluções socioculturais para a espécie humana como, por exemplo, as ferramentas desenvolvidas para auxiliar o homem no processo da caça de animais, na agricultura para o plantio e colheita, na escrita com a produção do papel, com o motor a vapor, entre outros. Atualmente são as tecnologias digitais — aparelhos eletrônicos, computadores e as redes de comunicação — que vêm modificando o modo de vida das pessoas e a própria organização social.

O acesso ao que podemos chamar de “ciberespaço” ocupa atualmente praticamente todos os aspectos da vida humana e permeia nosso cotidiano de maneira tão naturalizada que se torna quase impossível uma separação entre as experiências on e off-line. De acordo com Nicolau (2009), o termo ciberespaço ficou conhecido em 1984 a partir do livro Neuromance, escrito por Wiliam Gibson. No contexto da história de ficção, foi utilizado para designar um ambiente artificial onde trafegava dados e relações sociais de forma indiscriminada.

O filosofo Pierre Lévy (1999), define o ciberespaço como o espaço de comunicação formado pela interconexão mundial dos computadores e das suas memórias. Segundo o autor, “o termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999. p. 17).

Esse espaço, definido por Lévy como espaço de comunicação, possui o aspecto da codificação digital, pois condiciona "[...] o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação" (1999, p. 92). Este último — o virtual — é definido pelo autor como sendo a característica essencial do ciberespaço.

Esse novo contexto de interação virtual é fruto de uma série de avanços tecnológicos que teve início com a criação dos primeiros computadores. Depois disso, houve o desenvolvimento de muitas outras invenções e aos computadores foram incorporadas cada vez mais funcionalidades e aplicações.

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No entanto, o que seriam os computadores se não fosse a internet? Um complexo aparelho de calcular e armazenar dados? Nunca saberemos. O fato é que outra brilhante ideia “vingou” e, diante das incríveis transformações advindas dessas tecnologias em nossa sociedade, nos atrevemos a dizer que o encontro entre o Computador e a Internet formaram o “casamento” mais revolucionário entre tecnologias que a humanidade já viu. Desde então, essas tecnologias vêm penetrando cada vez mais no cotidiano das pessoas e provocando significativas transformações no nosso modo viver e pensar a realidade.

Desse modo, a fim de evidenciar a amplitude da disseminação dessas tecnologias, vamos aos dados: segundo os resultados do Digital in 20191, divulgados

pelos serviços online Hootsuite e We Are Social, já são 5,11 bilhões de usuários de dispositivos móveis (computadores de bolso) no mundo e cerca 4,39 bilhões de usuários de internet em 2019. Ou seja, mais da metade, quase 56%, da população mundial já tem acesso à internet e/ou possui pelo menos um dispositivo que pode dar acesso a ela (DATA REPORTAL, 2019). Esses resultados são impressionantes, pois nunca outras tecnologias se disseminaram tão rapidamente como está sendo o caso dessas.

Frente a constatação de que atualmente vivemos em uma sociedade onde seus dispositivos tecnológicos influenciam diretamente a construção da cultura, das práticas sociais e as questões econômicas, este trabalho teve como objetivo geral investigar as transformações ocorridas no cenário mundial referentes aos fatores sociais, econômicos e subjetivos, ressaltando os elementos que afetam diretamente o modo como as pessoas vivem.

Diante disso, buscamos responder às seguintes questões: quais são as principais modificações ocorridas em nossa sociedade após o advento e disseminação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)? Como essas tecnologias impactam nas relações sociais e no cotidiano dos indivíduos? E como estamos lidando com tais transformações?

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Parte-se da hipótese de que estas tecnologias estão modificando radicalmente o modo de nos organizarmos enquanto sociedade (nos âmbitos da economia, produção, trabalho, lazer, consumo etc.), e que isso repercute diretamente na forma de nos relacionarmos e percebermos o mundo.

Para tentar refletir sobre essas questões, neste trabalho realizamos uma pesquisa com objetivo exploratório a partir de pesquisa bibliográfica. De acordo com Prodanov e De Freitas (2013, p.27), a escolha de método de pesquisa depende de muitos fatores: “da natureza do objeto que pretendemos pesquisar, dos recursos materiais disponíveis, do nível de abrangência do estudo e, sobretudo, da inspiração filosófica do pesquisador”.

Direcionados por essa perspectiva, empreendemos uma pesquisa exploratória a fim de nos familiarizarmos e expormos algumas problemáticas, delimitar pontos relevantes e formular hipóteses. Assim, através de materiais bibliográficos, buscamos encontrar materiais que nos ajudassem a compreender essa nova configuração.

Conforme Lakatos e Marconi (2010, p. 166):

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação oral: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão.

Os processos de busca foram realizados nas bases de dados Google Acadêmico e Google Brasil onde foram utilizados os descritores “Tecnologias de Informação e Comunicação E Implicações Sociais”; “Sociedade Contemporânea E Tecnologias Digitais”; “Cibercultura”. Com isso, selecionamos nove obras de oito autores — Debord (1997); Lévy (1999), Castells (1999a); Castells (2003); Bauman (2008); Schwab (2016); Sibilia (2016); Han (2018) e Antunes (2018) — e mais outros textos e artigos acadêmicos por considera-los pertinentes para a construção deste trabalho. Estes textos foram selecionados após a leituras dos seus resumos e verificação de que tratavam diretamente da correlação entre as novas tecnologias digitais e sociedade.

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Visto que se constitui como intenção dessa pesquisa investigar as implicações sociais advindas dessas novas tecnologias no cenário mundial referentes aos fatores social, econômico e subjetivos, achamos interessante estrutura-la em três capítulos.

No primeiro capítulo, apresentamos os aspectos históricos sobre o desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, desde as origens da computação, passando pela criação da internet e seus avanços, até o surgimento e disseminação das redes wireless e dos smartphones.

No segundo, realiza-se uma discussão acerca do início de uma nova revolução industrial, onde discutimos sobre as transformações na economia mundial e, por fim, fez-se uma análise das implicações dessa nova configuração sob a natureza do trabalho e acerca de como isso repercute na vida das pessoas.

No terceiro capítulo, busca-se compreender o processo de constituição subjetiva dos sujeitos contemporâneos, identificando características específicas desse novo sujeito e é realizada uma discussão acerca dos rompimentos das barreiras entre o público e o privado e também sobre como nossas informações pessoais viraram um capital muito valioso para algumas empresas.

`Por fim, conclui-se com a apresentação das considerações finais, onde é feita uma síntese das informações e interpretações discutidas nessa pesquisa.

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2 PERCURSO HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

Mediante a pretensão de analisarmos as implicações sociais decorrentes da utilização das tecnologias digitais, devemos entender de início o que são essas ferramentas e também como se deu seu percurso evolutivo até chegarem ao que conhecemos atualmente. Para isso, o presente capítulo abordará, brevemente, aspectos e marcos que consideramos relevantes para uma melhor compreensão do que trataremos nos capítulos subsequentes dessa pesquisa.

2.1 Criação e Desenvolvimento da Computação

O percurso histórico da criação e desenvolvimento das ferramentas tecnológicas que compõe o que recentemente denominamos como ciberespaço, tem como marco o ano de 1945, com a criação dos primeiros computadores, produzidos na Inglaterra e nos Estados Unidos inicialmente com o objetivo de realizar cálculos científicos. No entanto, a história do desenvolvimento destas primeiras máquinas começa um pouco antes, durante a Segunda Guerra Mundial. Ao que se sabe, os alemães, sabendo da importância de esconder sua estratégia de guerra, adquiriram uma tecnologia de comunicação (Máquina Enigma) que transformava as mensagens em códigos muito complexos e, além disso, eram modificados diariamente. Isso tornava o deciframento das mensagens, sem intermédio do código base, muito demorado e difícil (FONSECA FILHO, 2007).

Segundo informações fornecidas pelo HMSO (Serviço Britânico de Informações na Segunda Guerra Mundial) encontradas no texto de Fonseca Filho (2007):

Por volta de 1937 ficou estabelecido que, ao contrário dos japoneses e italianos, o exército alemão, sua marinha e provavelmente a sua força aérea, junto com organizações estatais, como as das ferrovias e a SS, usavam para tudo, exceto nas comunicações táticas, diferentes versões do mesmo sistema cifrado. A máquina Enigma tinha sido colocada no mercado na década de 1920, mas os alemães a tinham tornado mais segura através de modificações progressivas. Em 1937, a Escola de Cifras e Códigos do Governo tinha quebrado o código do modelo menos modificado e seguro dessa máquina,

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que estava sendo usado pelos alemães, italianos e pelas forças nacionalistas espanholas. Mas, fora isto, a Enigma ainda resistia ao ataque e parecia que ia continuar assim (HMSO apud FONSECA FILHO, 2007, p. 200).

Diante disso, o governo Inglês convocou o Alan Mathison Turing (1912-1954) para liderar uma equipe compostas por matemáticos e tinham como objetivo quebrar esses códigos mais rapidamente. Para tanto, construíram máquinas similares a dos alemães, agregando ideias abstratas de Turing, anteriores à guerra. Dessa forma, assim que uma mensagem era interceptada, esses engenhos simulavam várias combinações simultaneamente no intuito de decifrá-las. Contudo, isso não foi suficiente e coube a Turing e sua equipe integrar a capacidade das máquinas as suas habilidades dedutivas até chegaram em um método que enfim possibilitou o deciframento funcional das mensagens. Como afirma Fonseca Filho:

A força do código alemão da Enigma consistia em que a mensagem passava por vários níveis de codificação a uma velocidade muito alta. O desafio para o decifrador do código era pegar uma mensagem interceptada e quebrar o código quanto o conteúdo da mensagem ainda fosse relevante. [...] no 1° dia de fevereiro de 1942 os alemães acrescentaram uma quarta roda às máquinas Enigma usadas para enviar mensagens particularmente importantes. Esta foi a maior escalada no nível de codificação durante a guerra, mas finalmente a equipe de Turing respondeu aumentando a eficiência das bombas2. Graças à Escola de Códigos, os aliados sabiam mais sobre seu inimigo do que os alemães poderiam suspeitar (FONSECA FILHO, 2007, p. 200-201).

Desse modo, fica evidente a importância dessas ferramentas e como essas máquinas tornaram-se mais eficientes quando suas capacidades mecânicas passaram a funcionar a partir de um sistema mais complexo baseado em uma lógica matemática. Estas, foram fundamentais para a vitória do grupo dos países Aliados. Mesmo tendo, a princípio, apenas a aplicação de decifrar códigos, serviram de base

2 (Bombe em inglês) era uma máquina eletromecânica, com vários conjuntos de rotores, idênticos aos da máquina geradora de códigos secretos alemã chamada Enigma. Ao contrário da Enigma, os rotores da Bombe rodavam automaticamente para percorrer todas as configurações possíveis. Quando encontrasse uma configuração que tornasse compatível a palavra adivinhada e o texto cifrado, a máquina parava e o criptoanalista iria testar aquela configuração com o resto do texto cifrado numa Enigma; se o resultado não fosse correto, reinicializava a Bombe para continuar a procura (FONSECA FILHO, 2007, p. 201).

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para outras tecnologias de aplicações mais elaboradas que revolucionaram e continuam revolucionando a história da humanidade.

Dando continuidade, em 1943 começou a ser desenvolvido o ENIAC (Eletronic

Numerical Integrator and Calculator), o primeiro computador digital eletrônico, que só

entrou em funcionamento em 1946. Essa gigantesca máquina pesava cerca de 30 toneladas, construída sobre estruturas metálicas, media 2,75 metros de altura, possuía 70 mil resistores e 18 mil válvulas a vácuo, ocupando a área de um ginásio esportivo. A intenção era que, com essa máquina, fosse possível fazer cálculos mais difíceis, com grandes quantidades de variáveis, como por exemplo, lançamento de mísseis a longas distâncias. Todavia, a acabaram tendo várias outras funções (MUSARDO, 2019).

De acordo com Lévy (1999, p. 29), até o final da década de 1960 esses computadores ainda eram “grandes máquinas de calcular, frágeis, isoladas em salas refrigeradas, que cientistas em uniformes brancos alimentavam com cartões perfurados e que de tempos em tempos cuspiam listagens ilegíveis”. Em um primeiro momento, esses computadores eram de uso bastante exclusivo, restrito aos militares, e, um pouco mais tarde, passou a ter funcionalidade também para o uso civil a fim realizarem cálculos científicos complexos, estatísticas para os Estados e grandes empresas e tarefas mais pesadas de gerenciamento (folhas de pagamento etc.).

A virada fundamental ocorreu nos anos 1970, com desenvolvimento e a comercialização dos primeiros microprocessadores (unidade de cálculo aritmético e lógico localizada em um pequeno chip eletrônico) que possibilitaram a redução do tamanho e preços dos computadores e também uma nova configuração na automação da produção industrial. Em decorrência desse avanço tecnológico novas possibilidades tornaram-se viáveis e uma série de setores foram contemplados (LÉVY, 1999).

Eles abriram uma nova fase na automação da produção industrial: robótica, linhas de produção flexíveis, máquinas industriais com controles digitais etc. Presenciaram também o princípio da automação de alguns setores do terciário (bancos, seguradoras). Desde então, a busca sistemática de ganhos de produtividade por meio de várias formas de uso de aparelhos eletrônicos, computadores e redes de comunicação de dados aos poucos foi tomando conta do conjunto das atividades econômicas (LÉVY, 1999, p.29).

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A partir desse marco, as tecnologias com capacidade de processamento de dados começaram a penetrar nos ambientes de trabalhos e lares das pessoas comuns. Daí em diante, esses dispositivos foram adquirindo cada vez mais sofisticação e progressivamente tornaram-se onipresentes nas práticas cotidianas.

Essas invenções foram a base da revolução da tecnologia da informação no século XX. A partir do advento dessas tecnologias, uma nova conjuntura de produção tecnológica começou a se intensificar promovendo um grande movimento de mais inovações. Ao logo da década de 1970 essas novas tecnologias difundiram-se possibilitando assim seu desenvolvimento, elevando seu status a outro patamar (CASTELLS, 1999a).

Conforme Gasparetto (2008), em 1974, Ed Roberts, um engenheiro que liderava a Micro Instrumentation and Telemetry Systems (MITS), uma pequena companhia de componentes eletrônicos de Albuquerque, Novo México, criou junto com sua equipe o Altair 8800. O Altair foi primeiro computador pessoal disponível em grande escala. Mesmo sendo bastante limitado, seu baixo custo e caráter inovador fez grande sucesso entre os entusiastas da tecnologia, atraindo interessados e deflagrando um grande movimento para desenvolver e melhorar ainda mais essa tecnologia.

Após a introdução do Altair, a indústria dos microcomputadores emergiu e um grande número de companhias, percebendo a oportunidade que se apresentava, passaram a desenvolver projetos nesse sentido. Conforme Raimundo G. (2001), O ano de 1977 assistiu a explosão de interesse pelos computadores pessoais e à introdução de uma longa sucessão de máquinas - Commodore PET, Radio Shack TRS-80 e - a mais importante de todas - a Apple II, de Steve Wozniak e Steve Jobs. Sucessivos modelos foram lançados com o propósito de produzir uma versão revolucionaria que unisse potência, preço, desempenho e recursos.

Castells (1999a) também considera que, mesmo com suas limitações, o Altair 8800 foi de grande importância e diz que sua estrutura serviu de base para o desenvolvimento do design do Apple I e, posteriormente, do Apple II.

Em pouco tempo o mercado dos microcomputadores cresceu muito e a IBM, empresa que já dominava a produção de computadores de grande porte, percebeu que havia um grande potencial nesse mercado. Nessas condições, enfim direcionou

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recursos para o desenvolvimento de sua própria versão e em 1981 lançou o IBM PC. Esse aparelho criado pela IBM fez sucesso imediato, superando as expectativas até mesmo da própria fabricante. Além disso, essa versão determinou um novo padrão de desempenho e fez com que a denominação Personal Computer (PC), em português Computador Pessoal, passasse a ser utilizada como sinônimo genérico para os microcomputadores (RAIMUNDO, 2001).

Por optar por uma estrutura aberta, composta por tecnologia tanto da IBM como também de engenharia encomendada a terceiros, o IBM PC ficou bastante vulnerável a clonagem. Para empresa isso acabou não sendo tão interessante, pois gerou prejuízos, mas para o processo de aprimoramento dessa tecnologia foi excelente. Além disso, “[...] difundiu o uso dos clones da IBM ao redor do mundo, disseminando um padrão comum”, facilitando posteriormente o processo de conexão via internet entre estes (CASTELLS, 1999a, p.80).

Em 1984, três anos após o IBM PC, foi lançado o Macintosh que, produzido pela Apple, inovou ao introduzir uma tecnologia diferenciada baseada em ícones e interfaces com o usuário, tecnologia criada originalmente pelo centro de pesquisa de outra companhia, à Xerox. Com isso o Macintosh deu início a um novo padrão de computadores de fácil utilização (CASTELLS,1999a).

Em decorrência dos avanços nas tecnologias de software (parte lógica, operacional) e hardware (conjunto de aparatos eletrônicos, equipamentos e peças) dos computadores pessoais, as máquinas, até então grandes e de difícil manuseio, foram modificadas ao ponto de enfim tornarem-se aparelhos versáteis em utilização.

Sobre os últimos anos do século XX, Castells afirma que:

No início dos anos 90, computadores de um só chip tinham a capacidade de processamento de um computador IBM de cinco anos antes. Além disso, desde meados da década de 1980, os microcomputadores não podem ser concebidos isoladamente: eles atuam em rede, com mobilidade cada vez maior, com base em computadores portáteis. Essa versatilidade extraordinária e possibilidade de aumentar a memória e os recursos de processamento, ao compartilhar a capacidade computacional de uma rede eletrônica, mudaram decisivamente a era dos computadores nos anos 90, ao transformar o processamento e armazenamento de dados centralizados em um sistema compartilhado e interativo de computadores em rede (CASTELLS, 1999a, p. 80).

É importante salientarmos que essa capacidade de desenvolver redes só se tornou possível graças avanços ocorridos, a partir de 1971, em outros campos da

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tecnologia. Os grandes avanços nas áreas da computação, telecomunicações e microeletrônica foram acontecendo quase que simultaneamente. Isso evidencia a inter-relação, ou melhor, relação sinérgica existente entre o desenvolvimento e melhorias de tecnologias que possuem setores próprios, mas, que em colaboração, possibilitaram a revolução da tecnologia da informação (CASTELLS, 1999a).

Por sua vez, avanços disruptivos no campo das telecomunicações foram fruto das combinações das tecnologias de “nós” (roteadores e computadores eletrônicos) e de novas conexões (tecnologias de transmissão).

Como podemos perceber, uma verdadeira avalanche de avanços tecnológicos ocorreu e ainda vem ocorrendo nas últimas décadas. Um movimento que começou de forma tímida, foi tornando-se cada vez mais denso e modificou drasticamente a conjuntura social. Logicamente, tudo isso não poderia ter sido obra do acaso, uma série de fatores como grandes investimentos, avanços tecnológicos simultâneos, pessoas muito inteligentes empenhadas em um mesmo propósito e toda uma cultura (e contracultura) corroboraram para que tudo isso se fizesse possível.

Até aqui, percorremos uma boa parte da história da criação e evolução de alguns dos campos das tecnologias da informação. No próximo tópico, continuaremos nessa empreitada a fim de evidenciar como ocorreram alguns outros avanços tecnológicos também muitos significativos relativos a criação da Rede Mundial de Computadores.

2.2 As Origens da Internet

Conforme Castells (2003), os primórdios da internet nos remetem a algumas iniciativas promovidas pela Advanced Research Projects Agency (ARPA), uma agência formada em 1958, vinculada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Sua missão era mobilizar recursos de pesquisa de modo a alcançar

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superioridade tecnológica militar em relação à União Soviética em um contexto de Guerra Fria3.

Uma dessas iniciativas foi o financiamento de “um pequeno programa que surgiu de um dos departamentos da ARPA, o Information Processing Techniques Office (IPTO), fundado em 1962 com base numa unidade preexistente”, que tinha como objetivo fomentar o estudo em computação interativa. Como fruto desse esforço, em 1969, foi enviada a primeira mensagem via e-mail pela Arpanet. Esta, foi a primeira rede de computadores cujo o objetivo era permitir aos centros de computadores e grupos de pesquisa que trabalhavam para agência uma forma segura de compartilhar dados (CASTELLS, 2003, p.16, grifo do autor).

No intuito de conseguir tal proeza, o IPTO apropriou-se de uma tecnologia revolucionária de transmissão de dados, a comutação por pacotes. Essa tecnologia tinha como base a troca de pacotes, onde as mensagens, ao serem enviadas, seriam fragmentadas em pacotes e tomariam rotas distintas ao longo da rede, dificultando assim sua interceptação, sendo remontada a fim de retornar a ter sentido coerente em qualquer ponto da rede. Com isso, seria possível um sistema de comunicação descentralizado e flexível tornando o processo de transmissão livre de centros de controle e comando. Como descrito por Briggs e Burke apud Abrel (2009, p.2), “um elemento essencial de sua razão de ser era que a rede pudesse sobreviver à retirada ou destruição de qualquer computador ligado a ela, na realidade, até a destruição nuclear de toda a infraestrutura de comunicações. [...] essa era a visão do Pentágono”.

Conforme Castells (1999a), a primeira rede de computadores, a já mencionada Arpanet, iniciou sua atividade em 1° de setembro de 1969, com seus primeiros quatro nós instalados na Universidade da Califórnia em Los Angeles, no Stanford Research

Institute, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e na Universidade de

Defesa dos EUA. O autor conta que os cientistas passaram a usar a rede para suas próprias comunicações, chegando até a fundarem uma rede de mensagens composta por admiradores de ficção científica.

3 Período em que Estados Unidos e União Soviética disputavam influência política mundial por meio de avanços tecnológicos e científicos, datado entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991).

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O ano de 1969 também foi marcado por outro acontecimento marcante para o mundo, a chegada do homem à lua. Nessa ocasião, o astronauta americano Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na lua, ao aterrissar na superfície lunar, declamou sua célebre frase que ressoa até hoje: “Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para humanidade”. Ao que parece, essa frase ilustra muito bem o cenário que se apresentava naquele momento e a série de transformações que estaria por vir.

Retornando ao percurso histórico da internet, depois de muitas melhorias e já havendo outras redes menores em funcionamento pelo mundo, em 1990, a Arpanet foi retirada de operação. Diante disso, estando à principal rede liberada de um controle militar, sua administração foi cedida à National Science Foundation (NSF) pelo governo norte-americano.

Por sua vez, segundo Castells (2003, p.17-18), “[...] com a tecnologia de redes de computadores no domínio público, e as telecomunicações plenamente desreguladas, a NSF tratou logo de encaminhar a privatização da Internet”. Todavia, só a partir de 1995 que o caminho para a privatização se tornou aberto.

Como podemos perceber, o governo dos Estados Unidos teve papel muito importante no processo desenvolvimento e disseminação dessa tecnologia. Além de patrocinar o processo de criação da rede, contribuiu implementado programas de financiamento para fabricantes de computadores no intuito de incluir o TCP/IP4 em

seus protocolos. Essas iniciativas fizeram com que, em 1990, a maioria dos computadores dos EUA tivessem a capacidade de acessar a rede. Ou seja, o fato de já compartilharem uma mesma linguagem de sistema, facilitou ainda mais a possibilidade de se comunicarem por uma mesma rede online (CASTELLS, 1999a).

Nesse contexto, uma grande quantidade de provedores de internet independentes foram surgindo no início da década de 1990. Mediante uma variada quantidade de fatores, a internet avançou rapidamente e tornou-se uma grande rede,

4 Segundo o site Wikipédia (2019a), “TCP/IP é um conjunto de protocolos de comunicação entre computadores em rede. Seu nome vem de dois protocolos: o TCP (Transmission Control Protocol - Protocolo de Controle de Transmissão) e o IP (Internet Protocol - Protocolo de Internet, ou ainda, protocolo de interconexão)”.

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integrando outras redes menores, até transformar-se de fato em uma rede de alcance mundial (CASTELLS, 2003).

Já consolidada como uma grande rede global, a internet, com sua vasta funcionalidade, possibilitou uma série de novas experiências a espécie humana. Segundo o último relatório do Digital in 2019, estima-se que mais da metade da população mundial conta com acesso à internet, cerca de 4,39 bilhões de pessoas (DATA REPORTAL, 2019).

Outro dado relevante citado pelo mesmo relatório é acerca dos pontos de acesso. Segundo o que foi apurado, os usuários estão se utilizando cada vez mais dos dispositivos móveis5 (smartphones, tablets e outros) para acessar à internet.

Chega a 56% da penetração total no mundo. Visto isso, no próximo tópico falaremos sobre as tecnologias mobile que, mesmo sendo muito recentes, causaram outra revolução no modo como os sujeitos se relacionam entre si, interagem com as coisas e percebem o mundo.

2.3 Dispositivos Móveis: A Era dos Smartphones

Como já vimos no final da sessão anterior, um grande número de pessoas já possui acesso à internet em todo mundo. Deste total de internautas, a grande maioria acessa através de dispositivos mobile: uma tecnologia inovadora, mais acessível e prática de usar do que os outros meios tradicionais de computação (desktop, laptop) e que além disso agrega várias funcionalidades.

Dispositivos como os smartphones têm sido os grandes responsáveis pela rápida penetração da computação e, consequentemente, da internet pelo mundo. Há cerca de 5,11 bilhões de dispositivos móveis no mundo, 100 milhões a mais do que o ano anterior. Algumas regiões de países subdesenvolvidos, até então sem acesso a meios de comunicação já bem estabelecidos pelo restante do mundo (correios,

5 Computadores portáteis pequenos, com múltiplas funcionalidades, geralmente equipado com um método de entrada e uma tela de exibição (tela sensível ao toque ou um miniteclado).

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telefonia, televisão etc.), passaram direto para essa tecnologia (DATA REPORTAL, 2019).

No Brasil, por exemplo, conforme a Revista Época (2019), já são mais

smartphones em uso do que a população total, 230 milhões aparelhos. E a última

pesquisa que avalia o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no país, revelou que já são 70%, cerca de 126,9 milhões de pessoas, que usaram internet regularmente em 2018, inclusive em regiões rurais e nas classes mais pobres. Esse estudo feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), apontou como destaque que foi a primeira vez que pelo menos metade da população das zonas rurais assim como das classes “D” e “E” estão conectadas à internet.

Como vimos, o acesso ao que podemos chamar de ciberespaço tem aumentado na maioria dos países. Direta ou indiretamente, isso já causa várias implicações a sociedade atual. E esse fenômeno se intensificou ainda mais nos últimos anos após disseminação das tecnologias que possibilitaram mobilidade no acesso à internet.

Conforme Lemos (2005), o começo do século XXI inaugura uma nova fase para a sociedade da informação, a fase da mobilidade. Ele afirma que isso começou com a popularização da internet e foi radicalizado com o advento e disseminação das novas tecnologias mobile: computadores portáteis, smartphones e redes de acesso à internet sem fio (wi-fi, 3G etc.). Podemos definir tecnologia mobile como sendo toda tecnologia digital que possibilita mobilidade por parte do usuário durante sua utilização. A mobilidade refere-se ao “movimento do corpo entre espaços, entre localidades, entre espaços privados e públicos” (LEMOS, 2005, p.3). Logo, ao portarmos um dispositivo desse tipo, dispomos de ferramentas com diversas funcionalidades e que, de certa forma, transformam-se numa extensão do nosso corpo.

Por tratar-se de uma tecnologia capaz de facilitar tarefas e otimizar o nosso tempo, penetrou em nossa sociedade rapidamente e provocou uma nova revolução. Ao portar um smartphone com acesso à internet por exemplo, podemos realizar uma vasta quantidade de atividades de forma simples, rápida e em lugar.

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É importante salientar que a possibilidade de portar dispositivos tão sofisticados só foi possível mediante os avanços ocorridos nas tecnologias de telecomunicação. Os cientistas, após muito estudo e experiências, acharam uma forma de transmitir dados entre pontos distintos sem cabos intermediando a comunicação. A esse sistema de comunicação sem fio deu-se o nome de sistema wireless, uma nova infraestrutura baseada na transmissão de dados e informação via rádio frequência. Alguns exemplos de tecnologias bem conhecidos que fazem parte do grupo de comunicação sem fio são: infravermelho, bluetooth, wi-fi e comunicação via satélite (RIBEIRO, 2012).

No bojo dessas inovações, ocorreram mudanças nas práticas sociais e na forma como consumimos e produzimos informações. Nesse novo contexto, “não somos mais ON ou OFF — somos ON e OFF ao mesmo tempo” (GABRIEL, 2012,

on-line). Em outras palavras, a interação humana com o ciberespaço se intensificou ao

nível de transformar significativamente nosso modo de ser, estar e perceber o mundo como em nenhum outro momento. Com isso, teorias bastante otimistas e outras bem apocalípticas vão surgindo a ponto de virarem assunto recorrente nos discursos científicos e populares.

As artes também costumam alimentar o imaginário em suas tentativas de representar o futuro de forma trágica. Algumas obras clássicas da literatura como

Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley (1982), Fahrenheit 451 de Ray Bradbury

(2009) e 1984 do autor George Orwell (2015) e, mais recentemente, a série Black Mirror (2011), criada por Charles Brooker, nos contam como seriam sociedades com

desfechos trágicos. Em comum, além de uma perspectiva pessimista, têm uma visão bastante negativa sobre os avanços tecnológicos, regimes políticos e transformações socioculturais.

Saindo do campo das artes, sem deixar de salientar sua devida importância, quantas vezes já ouvimos por aí discursos polarizados que vão desde “as máquinas vão dominar o mundo” ou mesmo “as tecnologias estão alienando ainda mais as pessoas” aos mais otimistas que percebem as novas tecnologias como a tão esperada panaceia capaz de acabar com todas mazelas de nossa sociedade. Ao que se percebe, a coisa não é tão trágica nem tão milagrosa assim. As inovações

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tecnológicas sempre possibilitaram coisas boas e ruins, assim como fizeram emergir discursos entusiasmados e resistentes.

Nesse mesmo sentido, Umberto Eco (1964), elaborou dois conceitos genéricos pelos quais distinguia dois tipos de análises comuns sobre as mídias de massa em sua época: as análises apocalípticas e as integradas. Basicamente, as pertencentes ao primeiro grupo seriam aquelas que denunciavam os meios de comunicação de massa como sendo agentes produtores de degradação e alienação humana. Enquanto as do segundo grupo, seriam as com viés mais positivo que defendiam e apoiavam a indústria cultural como sendo algo bom que servia, entre outras coisas, para democratizar a cultura.

De forma análoga as discussões feitas acerca da indústria cultural, podemos observar o mesmo fenômeno ocorrendo sobre as implicações das novas Tecnologias na sociedade contemporânea. Contudo, como defendem Lévy (1999) e Castells (1999a), os cientistas sociais não devem partir de visões utópicas ou distópicas. Ao fazer isso tornam-se muito reducionistas, se distanciam da realidade e acabam por confundir mais do que por esclarecer qualquer coisa.

É possível afirmar que não há dúvidas quanto a potente influência das TICs em nossa sociedade, que têm estado cada vez mais incorporadas as nossas experiências diárias. Sendo assim, analisaremos tecnologias não como uma determinante, mas como um fator de uma matriz complexa capaz de mediar a interação entre estruturas, atores sociais e suas ferramentas socialmente desenvolvidas.

Partindo desse pressuposto, no próximo capítulo começaremos a discussão sobre algumas recentes transformações ocorridas em nossa sociedade que têm como matriz principal o advento das novas tecnologias digitais.

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3 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: O INÍCIO DE UMA NOVA ESTRUTURA

SOCIOECONÔMICA

Neste capítulo, nos deteremos em apresentar algumas transformações resultantes dos avanços das novas tecnologias digitais na economia, no trabalho e em como isso afeta as pessoas. Para tanto, analisaremos os estudos de alguns autores — Como Castells (1999b); Schwab (2016); Lee et al. (2018) e outros —, buscando evidenciar o que tem sido discutido sobre as possíveis consequências dessa nova configuração.

3.1 Indústria 4.0

Conforme Schwab (2016), “a palavra ‘revolução’ denota mudança abrupta e radical” (p.15). Partindo dessa definição, diversos autores dividem a história da humanidade em períodos dos quais foram constatadas grandes transformações sociais. Muitas destas foram atribuídas ao desenvolvimento de novas técnicas que, por sua vez, tornaram-se tecnologias e potencializaram e/ou ampliaram o campo de possibilidade dos seres humanos.

Em Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, o professor de história e escritor Yuval Noah Harari, descreve uma série de acontecimentos com a pretensão de nos contar, a sua maneira, uma breve história sobre o gênero humano. Nesse livro, ele diz que na história da humanidade, desde nossa origem até os tempos atuais, além de evoluções orgânicas, passamos por três grandes revoluções: Revolução Cognitiva, Revolução Agrícola e a Revolução Científica.

Segundo Harari, a Revolução Cognitiva tem como principal característica o advento da linguagem ficcional (função cognitiva da imaginação) e que isso ocorreu no mesmo período em que os sapiensse espalharam pelo mundo a partir da África, há cerca de 70 mil anos. Estima-se que a segunda revolução (Revolução Agrícola) tenha começado 62 mil anos depois desta primeira, quando algumas tribos deixaram gradativamente de viver da caça e coleta de alimentos e passaram a se organizarem em locais fixos; domesticando plantas e animais para sua subsistência. A terceira grande revolução (Revolução Cientifica) ocorreu há apenas 500 anos, momento em

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que os europeus começam a viajar pelos oceanos e encontrar “novas” terras. Nesse mesmo período iniciou-se a valorização da ciência positivista, onde eram formuladas teorias a partir de indícios verificáveis e também época onde iniciou-se a ascensão do sistema capitalista (HARARI, 2015).

O autor acrescenta, como derivação da terceira grande revolução, as Revoluções Industriais. Estas têm como característica a consolidação do sistema capitalista, a criação do modelo de produção industrial; grandes avanços tecnológicos cada vez mais frequentes e a intensa exploração de recursos naturais.

Desde a implantação do sistema capitalista, nossa sociedade vem tornando-se cada vez mais globalizada e integrada. Ou seja, os países passaram a estar mais interconectados em questões econômicas, políticas e sociais. Esse fenômeno tem se intensificado ainda mais nos últimos anos graças aos avanços tecnológicos e ao modelo econômico e político neoliberal.

Conforme Harari (2015), a atual sociedade pensa nosso planeta como sendo uma grande unidade, mas na maior parte do tempo o que existiam eram “mundos” distintos. Ou seja, por milhares de anos coexistiram uma vasta quantidade de sociedades, espalhadas pelo planeta, que viviam isoladas em seus “mundos” sem saber da existência umas das outras. Portanto, só muito recentemente, a partir da Era das Grandes Navegações, isso veio a mudar. Atualmente, diz ele,

quase todos os humanos partilham do mesmo sistema geopolítico (o planeta inteiro está dividido em Estados reconhecidos internacionalmente), do mesmo sistema econômico (as forças do mercado capitalista moldam até mesmo os rincões mais remotos do globo); do mesmo sistema jurídico (as leis internacionais e os direitos humanos são válidos em todos os lugares, pelo menos em teoria); e do mesmo sistema científico (especialistas no Irã, em Israel, na Austrália e na Argentina partilham dos mesmíssimos conceitos quanto à estrutura dos átomos ou ao tratamento da tuberculose) (HARARI, 2015, p.177).

Como se percebe, um mesmo sistema geopolítico juntamente com as inovações tecnológicas, para o mal ou para o bem, acabaram nos conectando em uma grande sociedade. Com isso, mesmo que muitas especificidades culturais se mantenham, passamos a partilhar uma conjuntura macro muito influente. Logo, a interação com outras sociedades possibilitou um intercâmbio cultural sem precedentes históricos.

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Tratando-se das transformações mais recentes, Klaus Schwab (2016), fundador e presidente executivo do World Economic Forum6, defende que vivenciamos o início de uma nova Revolução Industrial. Segundo ele, “em sua escala, escopo e complexidade, a quarta revolução industrial é algo diferente de tudo aquilo que já foi experimentado pela humanidade” (p.11).

Muito antes desse autor fazer suas declarações acerca dessa temática, alguns

pensadores já sinalizavam que mudanças radicais estariam por vir em consequência dos avanços das tecnologias digitais. Há 20 anos o sociólogo espanhol Manuel Castells afirmava que:

Esse novo paradigma tecnológico surgiu como uma característica sistêmica na década de 1970, expandida ao longo da década de 1980 para os domínios do poder militar, transações financeiras e fabricação de alta tecnologia, difundida no final da década de 1980 em locais de trabalho de todos os tipos e em lares e culturas profundamente penetrados. Nos anos 90, com a difusão explosiva da Internet e da multimídia, as novas tecnologias da informação se difundiram muito mais rapidamente do que as inovações revolucionárias das duas revoluções industriais. E, no entanto, países, culturas e grupos sociais são extremamente diferentes em seu grau de absorção e utilização de novas tecnologias. Mas todos os países e todas as pessoas estão direta ou indiretamente expostos à transformação estrutural mediada por essa revolução tecnológica (CASTELLS, 1999b, p.1, tradução nossa).

Para pensar sobre o contexto atual da economia mundial, Lee et al. (2018), nos apresenta os resultados de um processo de brainstorming7, mediado por 11

pesquisadores de diversos países, que se reuniram para debater sobre questões relacionadas a Quarta Revolução anunciada por Schwab (2016) no Fórum Econômico Mundial em Davos. Conforme estes cientistas, a primeira coisa a se saber é que nos últimos anos houveram acaloradas discussões a esse respeito. Muitos acadêmicos não concordaram com a premissa de uma nova revolução, pois acreditavam que o que ocorre agora é apenas o desdobramento da última revolução. Deste modo,

6 “Fórum Econômico Mundial ou FEM é uma organização sem fins lucrativos em Genebra, e é mais conhecido por suas reuniões anuais em Davos, Suíça nas quais reúne os principais líderes

empresariais e políticos, assim como intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente, incluindo saúde e meio-ambiente” (WIKIPÉDIA, 2019b). 7 Técnica muito utilizada no meio corporativo, onde se estimula o livre compartilhamento de ideias sobre um determinado assunto ou objetivo.

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questionam se isso estaria mesmo ocorrendo ou se seria meramente mais uma jogada de marketing elaborado por empresas de consultoria.

Todavia, para Lee et al. (2018), independentemente de uma nomenclatura específica, é inegável que experimentamos uma série de transformações. Segundo esse grupo de pesquisadores, suas diferenciações se dão, tecnologicamente, pela utilização de fatores de produção diferentes e mais aprimorados do que nas anteriores como: Internet das coisas (IoT), big data, Inteligência Artificial (IA) e cadeias de blocos. Dessa forma, afirmam que:

Pode ser definido como uma revolução inteligente da indústria caracterizada por inovação contínua de curto prazo, com níveis variáveis de velocidade, escopo, profundidade e confiança. Em outras palavras, se a Primeira e a Segunda Revolução Industrial modernizaram o espaço físico, e a Terceira Revolução Industrial revolucionou a modernização no ciberespaço, a Quarta Revolução Industrial provocou uma fusão de espaço físico e ciberespaço. Em particular, as características da sociedade da Quarta Revolução Industrial, chamada sociedade hiperconectada, são um tanto diferentes da sociedade conectada da Terceira Revolução Industrial baseada em TI (LEE et al., 2018, p.6, tradução nossa).

Segundo Schwab (2016), esse novo paradigma que se apresenta para a economia mundial possui três características principais:

Velocidade: ao contrário das revoluções industriais anteriores, esta evolui em um ritmo exponencial e não linear. Esse é o resultado do mundo multifacetado e profundamente interconectado em que vivemos; além disso, as novas tecnologias geram outras mais novas e cada vez mais qualificadas. Amplitude e profundidade: ela tem a revolução digital como base e combina várias tecnologias, levando a mudanças de paradigma sem precedentes da economia, dos negócios, da sociedade e dos indivíduos. A revolução não está modificando apenas o “o que” e o “como” fazemos as coisas, mas também “quem” somos. Impacto sistêmico: ela envolve a transformação de sistemas inteiros entre países e dentro deles, em empresas, indústrias e em toda sociedade (SCHWAB, 2016, p. 1, grifo do autor).

O autor percebe os efeitos dessa nova configuração como sendo mais positivos do que negativos. Além disso, acrescenta que só agora estamos começando a sentir os seus primeiros impactos. Segundo ele, seu otimismo se fundamenta em três fontes principais:

Em primeiro lugar, a quarta revolução industrial oferece a oportunidade de integrar à economia global as necessidades não satisfeitas de 2 bilhões de pessoas, criando demandas adicionais para serviços e produtos existentes

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ao capacitar e conectar, umas com as outras, as pessoas e comunidades de todo o mundo. Em segundo lugar, a quarta revolução industrial permitirá aumentar significativamente nossa capacidade para resolver as externalidades negativas, e durante esse processo, aumentar o potencial de crescimento econômico. Tomemos como exemplo as emissões de carbono, uma grande externalidade negativa. Até recentemente, o investimento verde só era atraente quando fortemente subsidiado pelos governos. Esse é cada vez menos o caso. Os rápidos avanços tecnológicos em energias renováveis, eficiência dos combustíveis e do armazenamento de energia fazem que os investimentos nestes domínios se tornem cada vez mais rentáveis, impulsionando o crescimento do PIB e, além disso, também contribuem para mitigar as mudanças climáticas, um dos principais desafios globais da atualidade. Em terceiro lugar, [...] todas as empresas, os governos e os líderes da sociedade civil com quem me relaciono me dizem que estão se esforçando para transformar suas organizações para que elas possam cumprir plenamente as eficiências oferecidas pelos recursos digitais (SCHWAB, 2016, p. 28-29).

Diante da complexidade e amplitude desse novo contexto, percebe-se a necessidade de pensar sobre as suas implicações na sociedade. Para tanto, iremos analisar a seguir quais são os novos paradigmas econômicos e como isso transforma as relações de mercado e de trabalho.

3.2 Novos Paradigmas Econômicos

Como vimos até aqui, várias transformações sociais vêm ocorrendo nos últimos anos graças ao desenvolvimento das tecnologias digitais. No bojo desses avanços, a economia, o mercado, o trabalho e as relações empregatícias acompanham essas modificações. Tudo isso repercute diretamente na forma de nos organizarmos enquanto sociedade. Desse modo, mostra-se importante compreendermos algumas nuances desse processo.

O primeiro ponto a saber é que as sociedades, em todo planeta, estão sendo fundamentalmente alteradas pelo advento de um novo paradigma tecnológico baseado em TICs. Essa infraestrutura técnica tem como seu insumo principal a informação e, diferentemente de outras épocas, as tecnologias estão sendo aprimoradas a fim de converter essas informações em serviços e produtos. Ou seja, a diferença está em como fazemos uso dos dados e informações produzidas pela própria sociedade.

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Segundo Castells (1999b), “as tecnologias da informação têm sido ferramentas decisivas no surgimento de uma nova economia nas últimas duas décadas do século XX” (p.2, tradução nossa). Como podemos perceber, isso se intensificou nesses primeiros anos do século XXI.

Consoante a isso, Werthein (2000), defende que essa transição em direção a uma nova sociedade estruturada sob a égide da tecnologia da informação produzirá uma nova configuração econômica, científica e social bastante diferente se compararmos às outras já experimentadas. Dessa forma, ele elenca algumas das características consideradas fundamentais para entendermos esse novo paradigma:

A informação é sua matéria-prima: as tecnologias se desenvolvem para permitir o homem atuar sobre a informação propriamente dita, ao contrário do passado quando o objetivo dominante era utilizar informação para agir sobre as tecnologias, criando implementos novos ou adaptando-os a novos usos. Os efeitos das novas tecnologias têm alta penetrabilidade porque a informação é parte integrante de toda atividade humana, individual ou coletiva e, portanto, todas essas atividades tendem a serem afetadas diretamente pela nova tecnologia. Predomínio da lógica de redes: esta lógica, característica de todo tipo de relação complexa, pode ser, graças às novas tecnologias, materialmente implementada em qualquer tipo de processo. Flexibilidade: a tecnologia favorece processos reversíveis, permite modificação por reorganização de componentes e tem alta capacidade de reconfiguração. Crescente convergência de tecnologias, principalmente a microeletrônica, telecomunicações, optoeletrônica, computadores, mas também e crescentemente, a biologia. O ponto central aqui é que trajetórias de desenvolvimento tecnológico em diversas áreas do saber tornam-se interligadas e transformam-se as categorias segundo as quais pensamos todos os processos (WERTHEIN, 2000, p. 2, grifos nossos).

Além dessas características, passamos a conviver cotidianamente com uma série de tecnologias inteligentes que não só processam informações, como também se comunicam entre si e são responsivas ao meio que habitam. Coroama et al. (2004), exemplifica isso trazendo diversos exemplos das recentes aplicações dessas tecnologias em nosso cotidiano8. Conforme esses autores, essa tendência não

8 Os sistemas de navegação tornaram-se padrão para veículos de médio a alto nível. Os clientes de serviços de encomendas podem rastrear o paradeiro de suas remessas em tempo real com seus smartphones. Os viajantes a negócios mantêm contato e trocam dados com seus clientes em muitos aeroportos em todo o mundo e desde recentemente também durante o voo. Mochileiros verificam seus e-mails nos Internet Cafés da Mongólia ou nas cabanas alpinas da Suíça (COROAMA et al., 2004, p.

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apenas torna os negócios atuais mais eficientes e convenientes para cliente, como também estimula a transformação dos processos empresariais existentes e o advento de modelos de negócios inteiramente novos.

Uma das transições apontadas por Coroama et al. (2004) diz respeito a forma de estabelecer preços nos serviços e produtos oferecidos aos clientes. Com mais infraestrutura de computação sendo incorporada as mercadorias, os fornecedores irão possuir cada vez mais informações em tempo real sobre seus produtos, até mesmo depois de vendidos. Com isso, poderão alterar os preços a fim de otimizar tanto as vendas como os lucros sob suas mercadorias. Se pensarmos em termos de mercadorias muito baratas, talvez ainda leve um tempo para que isso torne-se viável, mas em serviços como de seguros e planos de saúde logo se tornará acessível e revolucionará esse mercado. De acordo com os autores, esse modelo pay-per-use — onde os clientes pagam por aquilo que consomem — e os preços flexíveis podem até não garantir a oferta de preços mais justos, contudo, possibilitará serviços cada vez mais precisos e personalizados.

Conforme Schwab (2016), os impactos na economia global serão tantos e tão vastos e multifacetados que ficará difícil distingui-los em suas origens. No entanto, espera-se que todas as grandes macrovariáveis imagináveis — PIB, investimento, consumo, emprego, comércio, inflação e assim por diante — sejam afetadas. O autor adverte que o impacto dessa nova conjuntura é um assunto que divide opiniões entre os economistas:

Um dos lados, o dos tecnopessimistas, argumenta que as contribuições cruciais da revolução digital já foram realizadas e que seu impacto sobre a produtividade está quase acabando. Já o lado oposto, o dos tecno-otimistas, afirma que tecnologia e inovação estão em um ponto de inflexão e, em breve, irão desencadear um aumento na produtividade e maior crescimento econômico. (SCHWAB, 2016, p.24-25).

De acordo com este autor, a transição para uma sociedade cada vez mais em rede, digital e interativa tem o potencial para aumentar o crescimento econômico e para aliviar um pouco alguns dos maiores desafios mundiais que enfrentamos de forma coletiva. Contudo, também salienta que precisamos, o mais rápido possível, “reconhecer e gerir os impactos negativos que ela pode trazer em relação à desigualdade, ao emprego e ao mercado de trabalho” (SCHWAB, 2016, p. 29).

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Nesse sentido, Antunes (2018, p. 25), salienta que “em pleno século XXI, mais do que nunca, bilhões de homens e mulheres dependem de forma exclusiva do trabalho para sobreviver e encontram, cada vez mais, situações instáveis, precárias, ou vivenciam diretamente o flagelo do desemprego”. Segundo o autor, ao passo que se multiplica o número de trabalhadores e trabalhadoras no mundo, percebe-se uma grande redução dos empregos e corrosão dos direitos sociais.

Diante disso, no próximo tópico falaremos sobre o processo de automação e substituição dos postos trabalhos.

3.3 Substituição do Trabalho

A sofisticação das recentes tecnologias e suas capacidades de realização de tarefas cada vez mais complexas e precisas, alimenta a ideia de que as máquinas irão substituir o trabalho humano. Realmente várias profissões estão sendo substituídas em parte ou integralmente pelas novas ferramentas e isso nunca aconteceu de forma tão ampla e veloz, mas será que corremos mesmo o risco de uma substituição total do trabalho humano por máquinas?

A fim de contextualizarmos esse fenômeno, devemos entender que desde a primeira revolução industrial uma série de transformações sociais, culturais e econômicas estão ocorrendo em consequência do desenvolvimento das tecnologias que potencializaram a produção no setor industrial. Durante esse processo, “a mão de obra humana vem sendo substituída pelas máquinas, seja para aumentar a produtividade, baixar os custos ou melhorar a qualidade da produção” (LYRA, 2018). Portanto, a substituição do trabalho humano por máquinas não é algo novo.

Sendo assim, o que diferencia o processo de automação atual? Para Lee et al. (2018), as tecnologias estão se disseminado em um ritmo muito acelerado, penetrando por todos os setores e podem provocar uma série de novas problemáticas das quais, talvez, ainda não estejamos preparados. Desse modo, é mister compreender em que níveis isso está ocorrendo a fim de desenvolvermos uma nova lógica para lidarmos com as emergentes questões sociais relacionadas ao trabalho, a produtividade e a qualidade de vida das pessoas. Nesse contexto, Lee et al. (2018), esclarece que as novas tecnologias podem desempenhar os seguintes papéis:

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(a) substituta – a tecnologia pode substituir totalmente às pessoas, realizando suas atividades de maneira mais eficiente e produtiva, sem comprometer a qualidade ou as características dos resultados das atividades; (b) integradora - no qual a tecnologia faz parte das atividades de trabalho das pessoas, ampliando capacidade e aprimorando a precisão e a qualidade da ação humana, mas sem substituir a presença; (c) mediadora - em que a tecnologia é plataforma para mediar a vida humana, de questões pessoais a relações sociais, ou seja, é o meio através do qual as pessoas interagem com outras pessoas ou com máquinas e objetos físicos (LEE et al., 2018, p.14, tradução nossa).

De acordo Castells (1999b), a tecnologia por si só não pode ser culpabilizada pela geração de desemprego em massa. Para ele, a maioria das evidências empíricas apontam para a conclusão de que o impacto da tecnologia no emprego depende principalmente das estratégias por parte das instituições e do Estado.

Estudos como os de Freeman e Soete (1994) e Martin Carnoy (1999) citados por Castells (1999b), demonstram que durante a fase de maior expansão da informação e revolução tecnológica, as duas economias com os sistemas tecnológicos mais avançados, tanto na produção quanto na difusão de tecnologias, EUA e Japão, obtiveram de longe a menor taxa de desemprego na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre 1975 e 1997, juntos, esses dois países, criaram cerca de 53 milhões de novos empregos enquanto a criação de empregos na União Europeia (12 países) era limitada a 8 milhões, e a maioria desses empregos eram do setor público. A partir disso, Castells afirma que certamente existem problemas de desemprego em várias regiões do planeta, principalmente em países em crise econômica, mas é empiricamente demonstrado que as tecnologias não são por si indutoras de desemprego.

Munido com estudos mais recentes, Schwab (2016), não concorda totalmente com as conclusões acima apresentadas. Segundo o ele, a substituição é sim algo bastante sério a ser analisado. Dado que as novas tecnologias estão substituindo um grande contingente de trabalhadores em nome de mais produtividade. Portanto, o temor de ser substituído por uma máquina, segundo esse autor, é bastante plausível. A fim de esclarecer essa afirmação, devemos compreender dois efeitos concorrentes em que as tecnologias exercem influência sobre os empregos. Primeiro, há um efeito destrutivo e acontece quando as tecnologias e a automação substituem

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o trabalho humano, forçando os empregados a realocar suas habilidades em outros lugares ou ficarem desempregados. Depois, o efeito capitalizador, onde após o efeito destrutivo há a tendência de surgir novas demandas por bens e serviços e isso provoca à criação de novos empregos, empresas e até a novos segmentos de mercado (SCHWAB, 2016).

Para Werther (2000), os impactos negativos como o desemprego e a desqualificação do trabalho, advindos da implantação de novas tecnologias, tendem a ser contrabalançados pelo próprio processo de transformações do mercado. Sendo assim, ao passo que vai ocorrendo o processo de substituição, também vão emergindo novas necessidades, e isso compensa as baixas e promove a requalificação dos trabalhadores.

Todavia, autores como Bauman (2008); Schwab (2016) e Antunes (2018), defendem uma perspectiva diferente, pois, após analisar esse fenômeno em escala global, o que se percebe em várias partes do mundo é que na verdade o desemprego, o subemprego e a precarização do trabalho só vêm aumento cada vez mais.

Conforme Schwab, tomando a situação norte-americana como referência, até o momento, as evidências são as seguintes:

A quarta revolução industrial parece estar criando menos postos de trabalho nas novas indústrias do que as revoluções anteriores. De acordo com uma estimativa do Oxford Martin Programme on Technology, apenas 0,5% da força de trabalho dos EUA está empregada em indústrias que não existiam na virada do século, uma porcentagem muito menor do que os aproximadamente 8% novos postos de trabalho criados em novas indústrias durante a década de 1980 e os 4,5% de novos postos de trabalho criados durante a década de 1990. O fato é corroborado por um recente censo econômico dos EUA, que esclarece uma interessante relação entre tecnologia e desemprego. Ele mostra que as inovações em tecnologias da informação e em outras tecnologias descontinuadas tendem a elevar a produtividade por meio da substituição dos trabalhadores existentes; mas não por intermédio da criação de novos produtos que necessitam de mais trabalho para serem produzidos (SCHWAB, 2016, p. 32, grifo do autor).

Em resumo, conforme este autor, os primeiros indícios sinalizam que experimentaremos uma onda de inovações que substituirão o trabalho de uma grande quantidade de setores e cargos, ainda nas próximas décadas.

Dois pesquisadores da Oxford Martin School, o expert em aprendizagem automática Michael A. Osborne e o economista Carl Benedikt Frey (2013), ao realizarem um estudo sobre a questão da substituição do trabalho humano,

Referências

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