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3 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: O INÍCIO DE UMA NOVA ESTRUTURA

3.2 Novos Paradigmas Econômicos

Como vimos até aqui, várias transformações sociais vêm ocorrendo nos últimos anos graças ao desenvolvimento das tecnologias digitais. No bojo desses avanços, a economia, o mercado, o trabalho e as relações empregatícias acompanham essas modificações. Tudo isso repercute diretamente na forma de nos organizarmos enquanto sociedade. Desse modo, mostra-se importante compreendermos algumas nuances desse processo.

O primeiro ponto a saber é que as sociedades, em todo planeta, estão sendo fundamentalmente alteradas pelo advento de um novo paradigma tecnológico baseado em TICs. Essa infraestrutura técnica tem como seu insumo principal a informação e, diferentemente de outras épocas, as tecnologias estão sendo aprimoradas a fim de converter essas informações em serviços e produtos. Ou seja, a diferença está em como fazemos uso dos dados e informações produzidas pela própria sociedade.

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Segundo Castells (1999b), “as tecnologias da informação têm sido ferramentas decisivas no surgimento de uma nova economia nas últimas duas décadas do século XX” (p.2, tradução nossa). Como podemos perceber, isso se intensificou nesses primeiros anos do século XXI.

Consoante a isso, Werthein (2000), defende que essa transição em direção a uma nova sociedade estruturada sob a égide da tecnologia da informação produzirá uma nova configuração econômica, científica e social bastante diferente se compararmos às outras já experimentadas. Dessa forma, ele elenca algumas das características consideradas fundamentais para entendermos esse novo paradigma:

A informação é sua matéria-prima: as tecnologias se desenvolvem para permitir o homem atuar sobre a informação propriamente dita, ao contrário do passado quando o objetivo dominante era utilizar informação para agir sobre as tecnologias, criando implementos novos ou adaptando-os a novos usos. Os efeitos das novas tecnologias têm alta penetrabilidade porque a informação é parte integrante de toda atividade humana, individual ou coletiva e, portanto, todas essas atividades tendem a serem afetadas diretamente pela nova tecnologia. Predomínio da lógica de redes: esta lógica, característica de todo tipo de relação complexa, pode ser, graças às novas tecnologias, materialmente implementada em qualquer tipo de processo. Flexibilidade: a tecnologia favorece processos reversíveis, permite modificação por reorganização de componentes e tem alta capacidade de reconfiguração. Crescente convergência de tecnologias, principalmente a microeletrônica, telecomunicações, optoeletrônica, computadores, mas também e crescentemente, a biologia. O ponto central aqui é que trajetórias de desenvolvimento tecnológico em diversas áreas do saber tornam-se interligadas e transformam-se as categorias segundo as quais pensamos todos os processos (WERTHEIN, 2000, p. 2, grifos nossos).

Além dessas características, passamos a conviver cotidianamente com uma série de tecnologias inteligentes que não só processam informações, como também se comunicam entre si e são responsivas ao meio que habitam. Coroama et al. (2004), exemplifica isso trazendo diversos exemplos das recentes aplicações dessas tecnologias em nosso cotidiano8. Conforme esses autores, essa tendência não

8 Os sistemas de navegação tornaram-se padrão para veículos de médio a alto nível. Os clientes de serviços de encomendas podem rastrear o paradeiro de suas remessas em tempo real com seus smartphones. Os viajantes a negócios mantêm contato e trocam dados com seus clientes em muitos aeroportos em todo o mundo e desde recentemente também durante o voo. Mochileiros verificam seus e-mails nos Internet Cafés da Mongólia ou nas cabanas alpinas da Suíça (COROAMA et al., 2004, p.

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apenas torna os negócios atuais mais eficientes e convenientes para cliente, como também estimula a transformação dos processos empresariais existentes e o advento de modelos de negócios inteiramente novos.

Uma das transições apontadas por Coroama et al. (2004) diz respeito a forma de estabelecer preços nos serviços e produtos oferecidos aos clientes. Com mais infraestrutura de computação sendo incorporada as mercadorias, os fornecedores irão possuir cada vez mais informações em tempo real sobre seus produtos, até mesmo depois de vendidos. Com isso, poderão alterar os preços a fim de otimizar tanto as vendas como os lucros sob suas mercadorias. Se pensarmos em termos de mercadorias muito baratas, talvez ainda leve um tempo para que isso torne-se viável, mas em serviços como de seguros e planos de saúde logo se tornará acessível e revolucionará esse mercado. De acordo com os autores, esse modelo pay-per-use — onde os clientes pagam por aquilo que consomem — e os preços flexíveis podem até não garantir a oferta de preços mais justos, contudo, possibilitará serviços cada vez mais precisos e personalizados.

Conforme Schwab (2016), os impactos na economia global serão tantos e tão vastos e multifacetados que ficará difícil distingui-los em suas origens. No entanto, espera-se que todas as grandes macrovariáveis imagináveis — PIB, investimento, consumo, emprego, comércio, inflação e assim por diante — sejam afetadas. O autor adverte que o impacto dessa nova conjuntura é um assunto que divide opiniões entre os economistas:

Um dos lados, o dos tecnopessimistas, argumenta que as contribuições cruciais da revolução digital já foram realizadas e que seu impacto sobre a produtividade está quase acabando. Já o lado oposto, o dos tecno-otimistas, afirma que tecnologia e inovação estão em um ponto de inflexão e, em breve, irão desencadear um aumento na produtividade e maior crescimento econômico. (SCHWAB, 2016, p.24-25).

De acordo com este autor, a transição para uma sociedade cada vez mais em rede, digital e interativa tem o potencial para aumentar o crescimento econômico e para aliviar um pouco alguns dos maiores desafios mundiais que enfrentamos de forma coletiva. Contudo, também salienta que precisamos, o mais rápido possível, “reconhecer e gerir os impactos negativos que ela pode trazer em relação à desigualdade, ao emprego e ao mercado de trabalho” (SCHWAB, 2016, p. 29).

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Nesse sentido, Antunes (2018, p. 25), salienta que “em pleno século XXI, mais do que nunca, bilhões de homens e mulheres dependem de forma exclusiva do trabalho para sobreviver e encontram, cada vez mais, situações instáveis, precárias, ou vivenciam diretamente o flagelo do desemprego”. Segundo o autor, ao passo que se multiplica o número de trabalhadores e trabalhadoras no mundo, percebe-se uma grande redução dos empregos e corrosão dos direitos sociais.

Diante disso, no próximo tópico falaremos sobre o processo de automação e substituição dos postos trabalhos.