Salvaguardar uma vida mais saudável
Consulta Médica para os estrangeiros
Ultimamente, nas nossas cidades, encontramos com frequência, a muitos estrangeiros. Eles não são turistas. Atualmente são mais de 2 milhões de estrangeiros que residem no Japão. Na Igreja Católica também não é exceção. Nas missas dominicais, em algumas Igrejas, tem mais estrangeiros do que próprios japoneses.
Porém, estará garatida a segurança de uma vida mais saudável? Como está a assistência à saúde dos estrangeiros ? Desta vez, ouviremos o testemunho do senhor Hirotaka Nishizawa (pseudônimo) organizador de um grupo que dá assistência médica aos trabalhadores estrangeiros, na Região de Norte de Kanto.
Há 10 anos, o Sr. Nishizawa organiza um dia de Consulta Médica para os estrangeiros, com um grupo de voluntários, médicos, enfermeiros, tradutores, e outros profissionais.
Sabemos que a doença desiquilíbra a vida de qualquer pessoa; descontrola o ritmo de alimentação, descanso e trabalho. Essa situação, todavia se torna mais angustiante quando a pessoa não possue o amparo legal no País, ou seja não tem o Visto de Permanência.
"Por que seguir com a Consulta Médica para os estrangeiros, apesar de tantas dificuldades? " se pergunta, às vezes. Entretanto, " Se ninguém o faz, alguém terá de fazê-lo", conclui, de bom humor, o Sr. Nishizawa. Deste modo, também neste ano 2008, preocupando-se com a saúde dos que estão obrigados a viver numa situação de muita dificuldade, organizou-se um dia de Consulta Médica para os estrangeiros.
Ambulatório de exame de prevenção contra câncer uterino.
"É possível fazer o exame de prevenção contra o câncer uterino, apenas por ¥500 " anuncia om satisfação, o sr Nishizawa. Conta que a partir do ano passado conseguiu a ambulância e reduzir o preço do exame, que em geral é de ¥ 3,700 por pessoa; com o trabalho gratuito dos médicos reduziu ¥2000, mais o trabalho do grupo de voluntários, outros ¥1200. Assim, a pessoa paga apenas ¥ 500.
Neste ano, 16 pessoas fizeram o exame. E o resultado do exame apontou um índice, muito alto, de probabilidade de câncer. Três senhoras de 30 a 40 anos, que fizeram o exame, necessitam fazer novos exames mais detalhados. " Imagino que, mesmo sentindo mal estar, tiveram receio de ir ao Hospital e procuraram este Serviço de Consulta Médica , comenta, o sr. Nishizawa.
Há 10 anos, quando se realizou a primeira Consulta Médica para os estrangeiros, compareceram umas 150 pessoas. Nos anos sucessivos, o câmbio na situação econômica do país, as circunstâncias de trabalho em cada região e também o receio de comparecer em lugares públicos por falta de documentação, foram causas de diminuição do número de pessoas que procuram a Consulta Médica. Anualmente se realizam duas consultas desse tipo, e a participação tem sido de uma média de 30 pessoas, cada vez.
Dispõem de questionários em 10 idiomas. Após preencher as fichas de dados pessoais, realizam-se os exames de pêso e de estatura, pressão arterial, de urina e de sangue, radiografia de pulmões, e com a ajuda de tradutores voluntários se faz a consulta médica. Após 3 semanas, entregam-se os resultados de exames. Com muita frequência aparecem casos em que se necessitam fazer novos exames com os especialistas. E há encaminhamento médico, com cartas de apresentação para iniciar o tratamento de sua doença em hospitais. Mesmo no caso de pessoas que já foram consultadas em outros hospitais, este tipo de serviço está sendo uma oportunidade para tirar dúvidas, com a ajuda dos intérpretes que as acompanham e isso possibilita fazer um diagnóstico mais acertado.
Uma das coisas que preocupa o Sr. Nishizawa é a saúde das pessoas que não tem ligação com a Igreja. As pessoas que vieram de Filipinas, Vietnã, ou de países da América Latina, países predominantemente católicos, são de alguma forma ligadas à Igreja, e tem acesso direta ou indiretamente às informações acerca desta Consulta Médica. Porém, aos que vieram de Tailândia, Camboja e Mianmar é difícil de oferecer tais informações, porque são de outras Religiões. Atualmenete há uma iniciativa de tomar contato com a embaixada destes países e com os voluntários tailanêses estão buscando os meios para circular as informações. É bom lembrar que há casos de mulheres tailanêsas submetidas à prostituição e mercado de sexo, bastante ativo no Japão. Não só as tailanêsas, mas as mulheres que vem ao Japão para o trabalho de <entretenimento>, vivem na insegurança de serem contaminadas pelo vírus de HIV e de doenças sexualmente transmissíveis. A realidade é que elas não sabem onde e com quem falar e expressar suas dúvidas e inseguranças diante destas doenças e serem ajudadas para solucionar seus problemas.
Os indocumentados são trabalhadores pobres
Há muitos tipos de trabalhadores estrangeiros no Japão. Na década de 70 chegaram ao Japão os refugiados de Indochina; estes e os nikkeis que vieram na década de 90, com a emenda constitucional da Imigração, conseguiram trabalhar nos mercados oficialmente reconhecidos. Somente eles são reconhecidos pelo governo como trabalhadores estrangeiros. Portanto, possuem Seguro de Saúde e outros benefícios que
garantem a segurança e seus direitos fundamentais.
A administração do governo age ignorando a existência de estrangeiros que perderam seus vistos de permanência e continuam vivendo no País. São chamados de <over stay> ou ilegais.
Esses trabalhadores, mesmo sendo ilegais, se trabalham nas filiais de uma megaempresa, tem possibilidade de fazer o exame médico com certa periodicidade. Porém, aqueles que trabalham em média ou pequena empresas não possuem os meios para garantir o tratamento de sua saúde. Não podem fazer consultas ou exames médicos e nem sequer possuem o seguro de saúde. Trabalham de segunda a sábado , em pesadas jornadas, ganhando 2 milhões de yens por ano. E desse salário se descontam os impostos. Apesar de pagar seus impostos, não recebem nenhum benefício do governo, vivem sem nenhuma segurança O Serviço de Consulta Médica para estrangeiros organizado por Sr. Nishizawa oferece e lhes garante um mínimo de segurança, sendo de grande valía para pessoas que vivem nessas circunstâncias.
É preocupante o futuro das crianças
O Sr. Nishizawa que acompanha há tantos anos, a assistência médica para os estrangeiros, hoje se preocupa pelo futuro das crianças, que não vieram por sua escolha ou são de segunda e terceira geração, aqui no Japão. Em relação às crianças de duas ou mais culturas, podemos imaginá-las com muita esperança e um futuro feliz. No entanto, a realidade dessas crianças é bastante conturbada; não entendem bem o Japonês, nem o Português; ficam pela metade. Apresentam um grande número de evasão escolar. Aquelas que conseguem aprender o idioma japonês conseguem até entrar numa Faculdade, porém aquelas que tem dificldade, abandonam os estudos ao terminar o Ensino Fundamental e começam a trabalhar. Mesmo que se esforcem no trabalho, os que não tem o grau de escolaridade, principalmente a partir dos 20 anos de idade, serão discriminados na remuneração. Além do mais, pode-se imaginar a insegurança em que vivem essas crianças, à mercê de quando os pais decidem voltar ao País de origem.
Também é certo que os jovens da segunda geração iniciam vida a dois, prematuramente. Sem um sonho, um ideal na vida, em meio a suas incertezas, não será que buscam um refúgio no sexo e na droga? pensa Sr. Nishizawa.
Além da assistência à saúde, não será também um trabalho da Igreja, ensinar às crianças a Língua Japonesa? questiona. E como para ele próprio não há mais possibilidade para isso, só resta rezar, pedindo a Deus que suscite a vontade em outras pessoas para esse serviço, apela Sr. Nishizawa, demonstrando quão grande é a sua valorização e amor às crianças.
O espírito de Justiça, se cultivado nas bases, se comunica ao mundo todo
O senhor Nishizawa, além de fazer o Serviço de assistência à saúde, como voluntário junto aos estrangeiros, é um membro ativo na Comissão Justiça e Paz, da Igreja Católica. Assim, o encontramos nas reuniões e manifestações do Movimento - <Cumpramos o artigo 9 da Constituição>, referente a não mais guerra no Japão. Não apenas o Sr Nishizawa, mas encontramos muitas pessoas comprometidas na área da justiça social, fazendo parte do movimento chamado <Grupo do artigo 9>.
Há quem diga que seus problemas pessoais não se ligam com as questões mundiais, porém viver trancado em si mesmo, não contribuirá em nada a uma transformação social mundial. Pensa o Sr. Nishizaka.
<Abram os olhos para a realidade! Vejam o sofrimento que há!> Não será também um aspecto da missão a mim confiada, o gritar essa verdade para o mundo? Prossegue o Sr. Nishizawa.
Ele entende que a segurança e a garantia das necessidades básicas de cada migrante – ação local, e o acordo internacional que garanta a paz mundial, de não solucionar os problemas mediante o uso de armas – pensamento global, se baseiam no mesmo espírito básico de justiça. <Think globally, act locally – Pensar globalmente e agir localmente> lema do movimento ecológico de proteção ambiental, é igualmente válido na luta pela justiça. É preciso levantar nossas vozes para denunciar as injustiças que existem na sociedade e no mundo, conclui com força, Sr. Nishizawa.
O estilo de vida do senhor Nishizawa que vai somando ações locais em favor de uma vida com menos sofrimento, parece ser possível imitar, já, agora a cada um de nós .
- O que posso fazer, aqui, agora ? O exemplo do Sr. Nishizawa é uma oportunidade para refletir e fazer acontecer em nossa vida concreta.