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A Economia é uma ciência social que estuda a atividade produtiva, a alocação eficiente dos recursos naturais escassos necessários ao setor produtivo de bens e serviços utilizados para satisfazer as ilimitadas necessidades humanas, suas combinações na alocação dos fatores de produção (terra, capital, trabalho, capacidade empresarial e tecnologia). Estuda a unidade de produção que são as empresas, as unidades de consumo que são as famílias e atividade econômica de toda a sociedade.

Em suma, é a ciência que estuda a escassez dos recursos na produção de bens alternativos. É uma das áreas do conhecimento humano que mais tem se voltado para o estudo acerca das questões relativas de como subsidiar os processos de tomada de decisão dos agentes econômicos, que condicionam as suas escolhas a um comparativo da relação entre custos e benefícios de uma determinada opção, isto é, efetua escolhas consistentes com a maximização de valor e dentro de certos limites.

A escassez de recursos ou fatores de produção vinculada às necessidades ilimitadas do ser humano, dá origem aos problemas econômicos fundamentais, que são o que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir. Denota-se, portanto, que o problema da escassez de recursos e a sua alocação e distribuição de maneira eficiente e ótima são a principais questões de estudo da economia e há muito já preocupa os pensadores no que diz respeito ao futuro da vida humana no planeta, que se vinculam de forma direta aos recursos naturais ofertados e que são finitos, tais como, o ar, a água, o sol, a terra, os minerais, as plantas e os animais.

À medida que a população aumenta novas necessidades surgem demandando por mais recursos naturais e, dado aos recursos escassos, existe a necessidade de alocadar entre usos que competem entre si, os preços, portanto, se constituem em sinalizadores que guiam a alocação desses recursos escassos de forma a atingir o seu maior valor de uso. O preço além de ser uma proxy do valor que possui determinado bem ou serviço, funciona como mecanismo de

racionamento entre os compradores. Percebe-se assim que a eficiência econômica vincula-se a determinação dos preços dos bens e serviços na economia.

Em uma economia de mercado – que aloca os recursos por meio de decisões descentralizadas de diversas empresas e famílias quando interagem nos mercados de bens e serviços - os preços são considerados como indicadores de escassez relativa de determinado bem ou serviço e orientam as decisões econômicas. Sustenta-se referida idéia na descentralização da tomada de decisão, onde cada agente econômico movido pelo interesse particular, ao buscar opções para maximizar o seu bem-estar, estaria de forma automática promovendo o bem-estar econômico da sociedade. Os consumidores procuram maximizar a sua satisfação (utilidade) e os produtores buscam maximizar os seus resultados (lucro). Trata-se, portanto, de uma aproximação do conceito da “mão invisível” do mercado de Adam Smith, trazida à lume em 9 de março de 1776, por meio da publicação da obra a Riqueza das Nações.

Entretanto, existem situações em que o mercado não consegue produzir uma alocação eficiente dos recursos, ou seja, situações em que ocorrem falhas de mercado. Há bens e serviços disponibilizados na economia, em específico pelo ambiente natural (bens ambientais como água, ar, espécies migratórias, florestas, ecossistemas), com características de não-exclusão de direitos de uso ou de propriedade e não-rivalidade de uso que não podem ser alocadas de forma eficiente pelo mecanismo de mercado, isto é, são bens públicos, cujos direitos de propriedade não estão completamente definidos e, portanto, impedem a realização de transações com outros bens de forma eficiente no mercado. Desta forma, o sistema de preços não consegue valorá-los adequadamente.

Segundo Pindyck e Rubinfeld (1999), um bem ou serviço “é denominado não- rival quando, para qualquer nível específico de produção, o custo marginal da sua produção é zero para um consumidor adicional” - embora o custo de produção de uma unidade adicional possa ser maior do que zero - e não-exclusivo “quando as pessoas não podem ser excluídas do seu consumo”. Normalmente, o livre acesso das pessoas a um bem público se constitui em um tipo de direito de propriedade associado com esta categoria de bens e serviços. Para conceituar bens públicos, Wolfelsperger (1975) apud Ribeiro (1998, p.3) apresentou três distintas definições:

i) Teoria das Trocas: bens públicos são aqueles cuja utilização não se pode individualizar porque estão colocados, simultaneamente, à disposição de todos indivíduos; ii) Teoria Organista do Estado: bens públicos são aqueles que satisfazem necessidades coletivas e que, colocados à disposição pelo Estado, proporcionam bem-estar aos indivíduos; iii) Teoria Institucional: bens públicos são aqueles que estão sendo atualmente supridos pelo Estado ou estão sob sua influência direta, qualquer que seja sua essência direta ou natureza sócio-política.

Segundo Ribeiro (1998), em sua pesquisa sobre o rio Meia Ponte, localizado no Estado de Goiás, a mesma afirma que:

O rio Meia Ponte é um bem de consumo coletivo, um bem público que tem valor para a sociedade, embora não haja mercados onde tal valor possa ser expresso. A sociedade, para decidir dado recurso, precisa estimar o seu valor, sendo esse a base para as tomadas de decisões racionais. (RIBEIRO, 1998).

Para Pindyck e Rubinfeld (1999), a despoluição de um rio o torna um bem não-exclusivo (qualquer um pode utilizá-lo) e não-rival (a utilização por um indivíduo não impede o uso por outro), caracterizando-o desta forma como um bem público.

De acordo com Varian (2006), o mecanismo de mercado, base da teoria econômica neoclássica, não é hábil na alocação eficiente dos bens públicos.

Os bens públicos são um exemplo típico de externalidade de consumo: todo indivíduo é obrigado a consumir a mesma quantidade do bem. Eles são um tipo especialmente perturbador de externalidade. As soluções de mercado que os economistas gostam não funcionam bem na alocação de bens públicos. As pessoas não podem comprar quantidades diferentes de defesa pública, têm de decidir, de alguma forma, por uma quantidade comum.(VARIAN, 2006, p. 720).

Pode-se conceituar externalidade como o impacto não compensado das ações de uma pessoa ou unidade produtiva sobre o bem-estar de outro indivíduo ou unidades produtivas. Se o efeito sobre outro indivíduo ou unidade produtiva for adverso, dizemos que há uma externalidade negativa. Caso contrário, se o efeito sobre outro indivíduo ou unidade produtiva for benéfico, dizemos que há uma externalidade positiva.

De maneira sintética, a externalidade ocorre “quando uma transação entre um comprador e um vendedor afeta diretamente uma terceira parte, o efeito é chamado de externalidade”.(MANKIW, 2006, p. 210)

Segundo Motta (1998, p.204), “externalidade existe quando o bem-estar de um indivíduo é afetado, não só pelas suas atividades de consumo como também pelas atividades de outros indivíduos”. Motta ainda estende o conceito de

externalidade afirmando: “Estão presentes sempre que terceiros ganham sem pagar por seus benefícios marginais ou percam sem ser compensados por suportarem o malefício adicional”.

Para Baumol e Oates (1988) na obra clássica “The Theory of Environmental Policy”: Ocorre uma externalidade sempre que as funções de utilidade ou produção de um indivíduo (qualquer agente econômico),“A”, incluam variáveis reais (não monetárias) cujos valores são escolhidos por outros (pessoas, empresas ou governos), sem ter em conta os efeitos sobre o bem-estar de “A”.

Todas as soluções para as externalidades têm por objetivo conduzir a alocação dos recursos para o mais próximo do ótimo social. Entre as soluções privadas citam-se a ação dos códigos morais e das sanções sociais das ONGs e das Instituições Filantrópicas, bem como, o estabelecimento de negociação entre as partes interessadas por meio de contratos (teorema de Coase). Como solução pública cita-se a regulamentação (exemplo de política de comando e controle), os impostos e subsídios corretivos (pigouvianos) e as Licenças negociáveis (Política baseada no mercado).

A ocorrência de externalidade sinaliza determinada situação em que o mercado não atua como instrumento de alocação ótima dos recursos. Assim sendo ocorrem interações entre os agentes econômicos que o sistema de preços competitivos não consegue refletir. O equilíbrio não é atingido e desta forma não é maximizado o benefício total para a sociedade, o que implica que o benefício social marginal não seja igual ao custo social marginal, constituindo, portanto, em falha de mercado conforme considerado por Motta (1998),

Observa-se que o uso dos recursos ambientais gera custos e benefícios que não são captados no sistema de mercado. Embora, estes recursos tenham valor econômico, não lhe são atribuídos preços adequados. Assim, o custo ou benefício privado deste recurso não se refletem o seu custo ou benefício econômico (ou social). (MOTTA, 1998, p. 202-203).

São grandes as deficiências apresentadas pelo mercado para monetarização (determinação de preços de mercado) dos recursos naturais explorados direta ou indiretamente pelos agentes da economia. Entretanto, grandes partes dos processos econômicos produtivos dos recursos (bens e serviços) transacionados na economia não consideram na sua formação de preços os custos de extração e do consumo de recursos renováveis.

A capacidade de recuperação e renovação, ou seja, os custos derivados dos danos ambientais e do consumo de recursos naturais não têm sido computados aos processos produtivos. Como o preço de considerável parcela dos recursos naturais não varia em razão da escassez, se houver redução dos custos de extração, provavelmente haverá aumento da exploração deste recurso e normalmente, além da capacidade de regeneração do recurso ambiental e da assimilação dos resíduos e emissões geradas.

Estes custos de sobreexploração dos recursos naturais são danos ambientais promovidos pelos agentes econômicos que não serão incluídos no sistema de preços caso não sejam incorporados aos preços dos produtos e serviços, como forma de internalizar os prejuízos causados ao ambiente.

De acordo com Motta (1995, p. 21) “como a preocupação fundamental está centrada na produção, a degradação/exaustão dos recursos naturais só é considerada como ganho à economia: nenhuma perda é imputada”. Os indivíduos provavelmente adotarão comportamentos que privilegiam os ganhos imediatos, ainda que referidos comportamentos signifiquem elevação dos custos sociais para as gerações futuras.

Merico (2002) fala da necessidade de reconhecer as externalidades ambientais do processo produtivo e na inclusão econômica desses efeitos no custo de produção, uma vez que custo da degradação ambiental e do consumo de recursos naturais não tem sido computado no processo produtivo.Na tentativa de solucionar o problema referente à determinação do preço de ativos ambientais, uma vez que este não possuem mercados específicos por serem bens públicos, além da não incorporação dos custos da degradação ambiental e do consumo dos recursos naturais nos processos da atividade econômica, os economistas tem procurado desenvolver diversos métodos de valoração dos referidos ativos, buscando a monetarização desses bens e serviços propiciados pelo ambiente natural, com vistas a quantificar a variação do bem-estar originado pelo uso de forma sustentável dos ativos ambientais ou o valor de sua degradação.

A relevância da valoração ambiental não está direcionada tão somente a internalização dos impactos ambientais no processo econômico de produção, mas também concorre para a observação dos limites de irreversibilidade dos recursos naturais. Desta forma, além de evidenciar os custos e benefícios decorrentes da

expansão da atividade humana, possibilita adoção de ações para evitar a completa depleção dos recursos naturais. No esforço de tentar estimar preços para os recursos ambientais e, dessa forma, fornecer subsídios técnicos para sua exploração racional, insere-se os métodos (ou técnicas) de valoração econômica ambiental fundamentada na teoria neoclássica do bem-estar (NOGUEIRA; MEDEIROS; ARRUDA, 2000).