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O processo de valoração econômica dos recursos naturais vem se constituindo em importante e vasto campo de pesquisas teóricas e empíricas, cujo objetivo é captar o valor de uso de não uso dos benefícios gerados pelo meio ambiente. Por se tratar de um ramo da ciência econômica que abrange o comportamento humano, a valoração ambiental vem sendo objeto de intensa discussão.

Atualmente, identificam-se a economia do meio ambiente e a ecológica, como as áreas de investigação do conhecimento científico que mais avançaram nos estudos teóricos e empíricos acerca de como valorar economicamente o meio ambiente. Esta pesquisa estará restrita à corrente neoclássica.

A economia do meio ambiente e dos recursos naturais que se sustentam na teoria neoclássica, fundamenta-se na compreensão dos recursos naturais como um bem público e do impacto sobre estes recursos – externalidades – originados pela dinâmica do funcionamento da atividade econômica.

A monetarização dos bens e serviços gerados pelos recursos naturais e dos impactos decorrentes da atividade econômica, não captados pelo sistema de preços de mercado, podem ser estimados na medida em que se possa mensurar a disposição a pagar dos indivíduos e da sociedade pela preservação, conservação ou usufruto dos recursos e serviços ambientais.Reflete-se assim, as preferências individuais das pessoas no consumo dos bens e serviços ambientais.

Uma propriedade característica de muitos bens ambientais, incluindo aí os espaços naturais, é a grande quantidade de benefícios que proporcionam. Alguns destes benefícios estão relacionados com o uso direto ou indireto do bem ambiental,

enquanto que outros cuja quantificação é mais difícil, ou seja, diz respeito ao valor de não uso do bem ambiental.

De acordo com Boyle e Bishop (1985) podem-se distinguir quatro tipos de valor. Em primeiro lugar, aquele cujo uso implica em consumo direto como é o caso da pesca ou da caça. Em segundo lugar, aqueles cujo uso não implica em consumo, como pode ser a satisfação obtida por observar o pôr do sol às margens de um lago. Em terceiro lugar, aqueles que proporcionam serviços mediante um uso indireto, como pode ser a visualização por meio de um programa de televisão de cenas apresentando as baleias do Ártico. Por último, pode-se pensar que as pessoas obtêm satisfação pela simples fato de conhecer que certa espécie de animal vive em um determinado habitat, ainda quando esta espécie não seja contemplada de forma direta ou indireta.

Para Pearce (1993), os métodos para a monetarização dos bens e serviços ambientais são utilizados para estimar os valores que as pessoas atribuem aos recursos naturais a partir de suas preferências individuais. Observa que o valor econômico dos bens ambientais está ligado aos seus atributos, onde esses podem, ou não, estar associados diretamente a um uso. Isto é, o consumo de um bem ambiental se realiza via uso e não uso (MOTTA, 1998).

De acordo com Pearce e Turner (1990) o valor econômico do meio ambiente pode ser compartimentado, agregando diversos enfoques em um único valor. Assim, o Valor Econômico Total - VET divide-se inicialmente em valor de uso –(VU) e o valor de não uso –(VNU), também denominado de valor de existência –(VEX). Por sua vez, o valor de uso subdivide-se em valor de uso direto –(VUD), valor de uso indireto –(VUI) e valor de opção –(VO).

Em suma, o consumo de um bem ambiental concretiza-se via uso e não uso (BOYLE; BISHOP,1985; MUNASINGHE, 1993; MARQUES; COMUNE, 1996; FARIA; NOGUEIRA,1998;NOGUEIRA; MEDEIROS, 1998; MOTTA, 1998;NOGUEIRA; MEDEIROS; ARRUDA, 2000; MAIA, 2002; MERICO, 2002; ORTIZ, 2003; NOGUEIRA, MOTA, 2006).

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Então: VET = VU + VNU

O valor de uso (VU) refere-se ao benefício diretamente obtido a partir da utilização efetiva do meio ambiente, como por exemplo, a pesca, extração vegetal, caça etc. Para a economia de um modo geral este valor é visto como o montante que determinado sujeito econômico atribui ao bem, pôr ser útil para a satisfação de uma necessidade. Está relacionado com a noção de utilidade marginal que pode também ser entendida como sendo o valor, para o consumidor, representado por uma unidade adicional de alguma mercadoria.

A fim de facilitar a compreensão pode-se citar a madeira e lenha retiradas de uma floresta, a água obtida a partir de uma nascente e as receitas turísticas obtidas a partir de uma paisagem especialmente bonita. Para Tietenberg (2003) o valor de uso é facilmente afetado pela poluição e pela degradação da paisagem, entre uma grande série de atividades humanas e causas naturais. A poluição causada pelos derrames petrolíferos provoca uma quebra nas pescas e no turismo, reduzindo diretamente o rendimento de muitas famílias. A construção de uma auto-estrada ao longo de uma bela paisagem afastará os visitantes que antes a procuravam.

Em relação aos valores de uso, estes se desagregam em três valores: o valor de uso direto –(VUD); valor de uso indireto –(VUI) e o valor de opção.

O valor de uso direto (VUD) dos recursos ambientais corresponde a utilização pelos indivíduos dos recursos derivados naturais de forma direta, tais como, atividades de recreação, visitação a um parque ambiental, lazer, colheita de recursos naturais, caça, pesca, educação, etc. É determinado então, pela contribuição direta de um recurso para o processo produtivo e de consumo, sendo calculado a partir da em função do fluxo de bens atualmente utilizados e potencialmente exploráveis do ecossistema.

O valor de uso indireto (VUI) que são oriundos dos usos indiretos, abrangendo, de forma ampla, as funções ecológicas da biodiversidade como proteção de bacias hidrográficas, preservação de habitat para espécies migratórias, estabilização climática, seqüestro de carbono. Relaciona-se, portanto, à função ecológica do ativo ambiental, incluindo os benefícios dos serviços proporcionados pelo ambiente para suportar os processos de produção e consumo, como por exemplo, as funções da biodiversidade. Corresponde ao valor dos fluxos das funções ecológicas do ecossistema.

De outra forma, o valor de opção (VO) consiste mais propriamente dito no valor que a sociedade está disposta a pagar pela opção de preservar um bem ambiental para utilização de forma direta ou indireta no futuro. Relaciona-se com o valor de uso num tempo futuro.

Para Krutilla (1967) e Norton (1997) o valor de opção representa a disponibilidade a pagar pela oportunidade de se poder escolher entre usos alternativos e competitivos de um bem ambiental. É o que acontece com muitos terrenos, que embora na atualidade não estejam associados ao rendimento de alguém, podem vir a ser explorados (de preferência de uma forma sustentável) e a ter um valor de uso. Outro exemplo são os benefícios oriundos de fármacos desenvolvidos com base em propriedades medicinais de plantas de florestas tropicais ainda não descobertas.

Já o valor de não-uso (VNU) ou de existência, refere-se à vontade da sociedade em preservar o ambiente pelo seu valor intrínseco, independente do uso atual ou futuro. A atribuição de um valor de existência aos recursos naturais encontra-se vinculado às questões morais, culturais, éticas, altruístas em relação ao direito de existência das espécies não-humanas, ou a preservação de outros recursos naturais, responsabilidade e atitude das pessoas em relação à preservação da biodiversidade, mesmo que estas não representem uso corrente ou potencial. O valor de existência está dissociado de qualquer uso do bem ou serviço ambiental, seja no presente ou no futuro.

É considerado dotado de valor simplesmente por existir (KRUTILLA, 1967; PEARCE; TURNER, 1990; BISHOP; WELSH, 1992; MARQUES; COMUNE, 1996;NOGUEIRA; MEDEIROS, 1997; NORTON, 1997;RANDALL, 1997; MOTTA, 1998;ORTIZ, 2003; MOTA, 2006).

Na Figura 1 encontra-se uma síntese da classificação dada aos valores dos recursos naturais.

Figura 1: Categorias de valores econômicos atribuídos ao patrimônio ambiental.

Fonte: Munasinghe (1992)

Uma vez verificados os usos e não-usos dos recursos naturais, ato contínuo, pode-se buscar realizar a sua valoração, cujos métodos são apresentados a seguir.