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Análise preliminar da Disposição a Pagar pela preservação e conservação da área

Uma das propostas desta pesquisa consiste em identificar as variáveis que afetam a disposição a pagar e de que forma, bem como, estimar o valor econômico, atribuído pelos participantes, da área diretamente afetada pela construção de uma Pequena Central Hidrelétrica. Como suposição estabelece-se neste trabalho que o respondente deriva a sua função utilidade em razão da conservação e preservação de parte da área afetada pela hidrelétrica, de sua renda (y) e de outros atributos socioeconômicos (s). O tipo de questionamento leva a uma medida de excedente de compensação (medida hicksiana), estimada pela seguinte função utilidade:

U = U (j,y,s) (95)

Como j é uma variável binária, onde j=1 significa que o indivíduo aceita contribuir para a conservação e preservação da área afetada, caso contrário, j=0.

Assim, diante de uma modelagem em que a variável resposta é binária, utilizou como modelo preditivo a regressão logística. Ao longo das interações efetuadas, foram verificadas de que existiam variáveis explicativas e observações que não eram estatisticamente significativas, sendo estas, portanto, retiradas da análise da regressão. Desta forma, para a seleção e definição das variáveisque

explicam a DAP recorreu-se a estudos como o de Belluzzo (1995, 1999), Aguirre e Faria (1996), Carrera-Fernandez e Menezes (1998, 1999 e 2002), Faria (1998), Motta (1998), Ribeiro (1998, 2001e 2002), Silva (2003, 2005), Mota (2006) e Paixão (2008).

As variáveis explicativas utilizadas nos modelos econométricos para explicar a decisão da população em aceitar a pagar pela reposição e preservação ambiental da área diretamente afetada pela construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas encontram-se no Quadro 7 abaixo.

Quadro 7 - Variáveis Explicativas e Sinal Esperado que explicam a DAP

Variável Explicativa Definição Sinal esperado

Vdapa Valor do lance oferecido pela DAP Negativo

Renda_Familiar Renda média da família Positivo

Escolaridade Nível de instrução do respondente Positivo

Idade Idade do respondente Positivo

Fonte: Elaboração Própria

A questão central desta pesquisa foi captar a disposição a pagar pela manutenção e conservação dos recursos ambientais de parte uma área diretamente afetada pela construção de uma Pequena Central Hidrelétrica – PCH. Diante de um cenário hipotético apresentado, os respondentes eram questionados se estavam dispostos a pagar um valor R$ x mensalmente que seria cobrado na conta de energia e de forma permanente. Os resultados sobre a DAP apresentados na Tabela 4 são:

Tabela4- Resumo das Respostas da Disposição a Pagar, Júlio de Castilhos e Salto do

Jacuí-RS, 2009 e 2010

Valor Oferecido (R$) Júlio de Castilhos

Total

Salto do Jacuí

Total

Respostas Respostas

Não Sim Não Sim

0,50 1 27 28 2 29 31 1,00 2 25 27 2 29 31 1,50 2 24 26 2 28 30 2,00 3 23 26 4 27 31 3,00 6 22 28 4 26 30 4,00 6 22 28 5 24 29 5,00 7 21 28 8 22 30 10,00 9 19 28 7 20 27 12,00 10 18 28 13 18 31 15,00 12 16 28 15 16 31 20,00 16 13 29 17 13 30 25,00 14 12 26 22 8 30 30,00 18 10 28 22 7 29 40,00 23 5 28 24 5 29 50,00 23 4 27 26 2 28 100,00 27 0 27 28 1 29 Total 179 261 440 201 275 476

A Tabela 04 mostra a quantidade de questionários para cada valor oferecido, o número de respostas “sim” e “não” para cada valor. A partir dos dados acima, temos a ratificação da teoria econômica, pois quanto maior o valor oferecido menor é a quantidade de pessoas dispostas a pagar.

O valor do lance mais baixo (R$ 0,50) teve aceitação bem elevada em torno de 96,43% em Júlio de Castilhose de 93,55% em Salto do Jacuí. Já o lance mais elevado (R$ 100,00) teve recusa elevada, tanto em Júlio de Castilhos(100%) quanto em Salto do Jacuí (96,55%).

Outro aspecto importante na avaliação da DAP é a associação das informações de aceitação dos lances com cada faixa de renda (ver Tabela 5). Observa-se que o maior percentual de recusas para implantação do projeto ocorre nas faixas de renda mais baixa, tanto em Júlio de Castilhos quanto em Salto do Jacuí.À medida que a renda familiar alcança maiores faixas salariais, aumenta-se o percentual de aceitação a pagar.

Tabela5– Relação entre o Nível de Renda e Respostas da Disposição a Pagar, Júlio de Castilhos,

Salto do Jacuí – RS, 2009 - 2010.

Faixa Salarial (s.m) Renda Familiar (R$) Júlio de Castilhos Salto do Jacuí

Faixa Salarial Renda Familiar Não Sim Não Sim

até ½ salários 0 255 0 0 1 (100,0%) 0 (0,00%) Mais de 1/2 a 1 salário 255 510 2 (50,0%) 2 (50%) 23 (95,8%) 1 (4,2%) Mais de 1 a 2 salários 510 1020 14 (56,0%) 11(44,0%) 73 (82,0%) 16 (18,0%) Mais de 2 a 3 salários 1020 1530 44 (57,9%) 32 (42,1%) 53 (54,6%) 44 (45,4%) Mais de 3 a 5 salários 1530 2550 58 (42,3%) 79 (57,7%) 40 (25,5%) 117 (74,5%) Mais de 5 a 10 salários 2550 5100 61(34,7%) 115 (65,3%) 11 (11,1%) 88 (88,9%) Mais de 10 a 15 salários 5100 7650 0 (0,00%) 17 (100,0%) 0 (0,00%) 6 (100,0%) Mais de 15 a 20 salários 7650 10200 0 (0,00%) 5 (100,0%) 0 (0,00%) 3 (100,0%) Mais de 20 salários mais de 10200 0 0 0 0

Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com a Tabela6 abaixo, nota-se na interação entre escolaridade e disposição a contribuir, que o maior índice de recusa de pagamento ocorre com respondentes sem instrução formal e nos níveis iniciais. No entanto, à medida que aumenta o nível de escolaridade, esse percentual de recusa vai diminuindo.

Tabela6– Relação entre as Repostas da Disposição a Pagar e o Nível de Escolaridade, Salto do

Jacuí- RS 2009 - 2010.

Grau de Instrução Júlio de Castilhos Salto do Jacuí

Não Sim Não Sim

Sem Instrução 0 (0,00%) 0 (0,00%) 3 (100%) 0 (0,00%)

Primeiro grau incompleto 0 (0,00%) 1 (100%) 17 (94,4%) 1 (5,6%)

Primeiro grau completo 6 (54,5%) 5 (45,5%) 17 (70,8%) 7(29,2%)

Segundo grau incompleto 36 (52,9%) 32 (47,1%) 33 (58,9%) 23 (41,1%) Segundo grau completo 62 (43,1%) 82 (56,9%) 63 (53,4%) 55 (46,6%) Superior incompleto 37 (42,0%) 51 (58,0%) 37 (45,7%) 44 (54,3%)

Superior completo 38 (35,2%) 70 (64,8%) 27 (20,9%) 102 (79,1%)

Pós-graduado 0 (0,00%) 20 (100,0%) 4 (8,5%) 43 (91,5%)

Fontes: Dados da pesquisa.

Em relação aos principais motivos que os respondentes de Júlio de Castilhose Salto do Jacuí, respectivamente, se recusaram a pagar para a implantação do projeto, foram os seguintes (ver Tabela 7): Já paga muitos impostos (44,7%; 49,2%), é de responsabilidade do Estado (27,9%; 22,6%) e não tem condições financeiras (16,8%; 16,1%). O maior número de respostas negativas deveu-se ao fato do respondente associar a recuperação e conservação dos recursos ambientais às autoridades governamentais. Alguns dos entrevistados alegaram que era função do governo e das prefeituras o financiamento de taxas como a proposta nesta pesquisa.

Outro aspecto importante a mencionar trata-se da má especificação dos direitos de propriedade dos bens públicos. Não há uma definição de quem são os proprietários dos ativos ambientais e quem tem direito ou não sobre o uso e a poluição. Para os respondentes, as respostas dadas podem se constituir em instrumento de protesto contra os órgãos públicos e agentes poluidores.

Tabela7– Motivos da Não Disposição a Pagar pela Conservação da Área Afetada diretamente pela

Construção das Hidrelétricas, Júlio de Castilhos, Salto do Jacuí – RS – 2009 - 2010.

Motivos pela não disposição a pagar Júlio de Castilhos Salto do Jacuí

Freqüência (%) Freqüência (%)

Não tem condições financeiras 30 16,8 32 16,1

Não acredita que esse programa vá funcionar 6 3,4 6 3,0

Não se interessa pela conservação/preservação ambiental

2 0,1 0 0

É de responsabilidade do Estado 50 27,9 45 22,6

Já paga muitos impostos 80 44,7 98 49,2

É de responsabilidade da iniciativa privada 3 1,7 15 7,6

Não confia nas organizações de preservação/conservação da natureza

8 4,5 3 1,5

Total 179 100,0 199 100

Segundo Arrow et al (1993), faz-se necessário identificar os motivos pelos quais os respondentes não foram favoráveis ao projeto. Nesta pesquisa, foram considerados como votos de protesto os seguintes motivos: “não acredito que esse programa vá funcionar”, “é de responsabilidade do Estado”, “já paga muitos imposto”, “é de responsabilidade da iniciativa privada” e “não confia nas organizações de preservação/conservação da natureza”. Desta forma, foram considerados como votos de protesto em Júlio de Castilhos, o montante de 149 questionários, correspondente a 33,86% da amostra e em Salto do Jacuí, 168 questionários, perfazendo 35,3% da amostra.