R evista da Socieda de Brasileira de M edicina Tropical 23(1): 65, jan-m ar, 199 0
NECROLÓGICO
João Alves Meira
O P rofessor Jo ã o A lves M e ira faleceu em São P aulo en 8 de dezem bro de 1989, aos 84 anos de idade. N e sta m esm a cidade ele fez seus estudos prim ários e ginasiais, ingressando em 1922 n a F a culdade de Iwedicm a e C irurgia de S ão Paulo. C edo, ainda quando estudante de m edicina, m ostrou sua vocação científica e universitária ao publicar três trabalhos e ser interno voluntário d a 3? C a d eira de C línica M édica. D esd e então, tais atividades foram constantes durante to d a su a vida profissional. Recém - formado, defendeu tese de D o u to r em M edicina. Sem pre exerceu funções docentes n a U niversidade de São Paulo, com o assistente de C línica M édica, P ro fessor C ated rático de D o en ças T ropicais e Infectuosas da F acu ld ad e de M edicina ou P rofessor C atredático de D oenças T ransm issíveis d a F acu ld ad e de H igiene e Saúde Pública.
A lém d a C línica M éd ica foi assistente de P ara- sitologia, de 1931 a 1936, trabalhando com Sam uel P essoa. D epois fez o curso de M edicina T ropical n a T ulane U niversity, em L uisiana (E E L U ) . D u ran te seis m eses ficou em Belém do P ará, com issionado no SE SP, com o D ireto r do In stitu to E v an d ro C hagas.
N o período de 1 9 63-1970 foi D ireto r d a F a culdade de M edicina d a U S P e em 1975 foi indicado P rofessor Em érito. E x-presidente da Sociedade Brasi leira de M edicina T ropical, no período 1975-1976.
E ra , antes de tudo, um clínico. T eve em c a sa o m estre e o m odelo a ser seguido n a p essoa de D om ingos R ubião A lves M eira, seu p ai e C atedrático de C línica M édica, de quen herdou o gosto p ela pesquisa e ensino. T rab alh o u inicialm ente no H ospital C entral d a S anta C a sa de M isericórdia de São P aulo e depois no H ospital das C línicas. A té o final de sua vida ainda atendia doentes em seu consultório.
P ublicou m ais de um a centena de trabalhos científicos principalm ente sobre esquistossom ose, mas tam bém a respeito de leptospirose, tétano, anci- lostom ose, isosporose, m alária, eosinofilia e outros. Suas publicações cuidadosam ente elaboradas, com excelente revisão bibliográfica e sem pre sobre assun
tos de interesse, auxiliaram no conhecim ento de várias entidades m órbidas. A s contribuições sobre as form as clínicas d a esquistossom ose são fundam entais, prin cipalm ente a arterite pulm onar esquistossom ótica, assim p o r ele designada.
E m 1957, m ereci a benevolência de, durante alguns m eses, ser recebido em seu Serviço no H ospital das C línicas, onde encontrei am biente e condições p a ra aprim orar-m e no estudo das doenças infecciosas e parasitárias. E le dispunha de um a E nferm aria n.uito bem in stalad a com 69 leitos onde exercia com m aes tria suas atividades. N as visitas m édicas, a beira do leito, d iscorria com erudição sobre a doença de todos os doentes internados, cujas histórias clínicas sabia de cor. O Serviço era m uito bem organizado com rotina eficiente e reuniões de alto nível. H av ia bons livros textos e um laboratório anexo. L á encontrei um grupo de assistentes m uito ativos, entre os quais Jo sé M aria F erreira, R icardo V eronesi, A m ato N eto , P ereira da C unha, Jaim e Segai, A lbuquerque, B assoi, D elm o Luís A ltério, G ildo dei N egro. E ra a m elhor E nfer m aria de M oléstias Infecciosas e P arasitárias do país. Q uando instalei a C línica de D o en ças Infectuosas e P arasitárias n a F acu ld ad e de M edicina d a B ahia o m odelo foi o Serviço do P ro fesso r M eira. O m esm o aconteceu com J. R odrigues d a Silva, no R io de Janeiro, R uy Jo ã o M arques em Recife e M iroslau B aranski em C uritiba. A ssim , o P rofessor M eira teve grande e enobrecedora influência n a m odernização dos Serviços de M edicina T ropical im plantados no país a partir d a décad a de 1950. A dem ais, a excelência de suas aulas teóricas e o zelo, com petência, capaci dade de trab alh o e tirocínio co m que se dedicava à C á te d ra eram um paradigm a p a ra todos os que tiveram o privilégio de conviver com ele. Sem pre o relem brarei com gratidão. H om em de feitio sereno, afável, íntegro, m odesto, dotado do senso do cum prim ento do dever e acim a de tudo, digno. A cred itav a que “ a felicidade está em absorver o espírito p o r um a vocação que o satisfaça” . A serviço de seus ideais, m esm o ferido nos em bates, palm ilhou sem pre a senda do trabalho, sem vacilações.
O P rofessor M e ira deix a viúva e três filhos. U m deles, D om ingos A lves M e ira tam bém é P rofessor de M edicina e traz com h o n ra a nobre h eran ça do nom e famoso.
A lu izio P rata
Núcleo de Medicina Tropical, Universidade de Brasília