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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS

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A

TAQUE

A

MPLIADO A

I

NCÊNDIOS

F

LORESTAIS

Julho – Setembro

2007

R

ELATÓRIO

F

INAL

(2)

Coordenação, Análise e Redacção

Hermínio Botelho Carlos Loureiro Paulo Fernandes

Monitores nas Equipas de Monitorização

Bruno Fernandes Carla Santos

Fernando José Barros Helena Barbosa João Nicolau Mateus João Tomé Luís Sarabando Manuel Gomes Nelson Melo Monitores no CNOS Paula Lopes Ricardo Esperança

Este trabalho foi realizado no âmbito do Protocolo entre a Autoridade Nacional de

Protecção Civil (ANPC) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), destinado à avaliação do ataque ampliado a incêndios florestais na fase Charlie, no ano de 2007.

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Sumário Executivo

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Meteorologia e incêndios em 2007

O ambiente meteorológico de 15 de Maio a 15 de Outubro foi em 2007 mais favorável às operações de combate de incêndios que em qualquer um dos períodos homólogos em 2000-2006. Apenas 35% dos dias registaram um perigo de incêndio muito elevado ou extremo, contrastando com a média de 57% para 2000-2006, e o índice de perigo FWI nunca atingiu os níveis realmente extremos que marcaram 2003, 2004 e 2005.

Os grandes incêndios (superfície ardida superior a 100 ha) coincidiram com os picos do FWI. Em 2007 a probabilidade média diária de ocorrência de fogos desta dimensão situou-se em 0,38 face a 0,54 em 2000-2006. Seriam expectáveis 54 dias com grandes incêndios em 2007 de acordo com a tendência de 2000-2006. O facto de tal ter sucedido em apenas 19 dias sugere um melhor desempenho do dispositivo operacional. Em 2007 ocorreram fogos ≥100 ha em um quarto dos dias com perigo muito elevado e em 80% dos dias com perigo extremo, quando em 2000-2006 tal sucedeu respectivamente em mais de três quartos e em quase todos os dias incluídos naquelas classe de perigo. Apesar de ser visível em 2007 uma melhoria do ataque ampliado face à média de 2000-2006 não há evidências de uma evolução positiva real, já que o desempenho de 2007 é similar àquele obtido nos melhores anos anteriores (2000 e 2006).

Para um determinado nível de perigo meteorológico, especialmente em condições mais severas, o número de fogos foi em 2007 substancialmente inferior, confirmando uma tendência com início em 2004. Relativamente a 2000-2006 o número de ocorrências ajustado para as condições meteorológicas baixou cerca de 46%, o que terá libertado recursos para o combate ampliado.

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Efectividade do combate ampliado: ilações da análise de incêndios

individuais

Em 2007 ocorreram seis incêndios cuja área individual superou 500 ha. Quatro ficaram aquém (-25% – -54%), um praticamente igualou, e o maior (Sardoal, 2820 ha) mais que duplicou a superfície ardida relativamente aos fogos que em 2003-06 ocorreram na mesma classe de perigo meteorológico.

A análise de 36 incêndios em ataque ampliado revelou que a área queimada por incêndio dependeu igualmente das condições meteorológicas e da duração do fogo. A superfície ardida (em valor absoluto ou por unidade de tempo) não apresentou qualquer relação com a quantidade de meios no TO, nem mesmo ao exprimir por unidade de área (por ha) os veículos e guarnição.

O momento em que os incêndios foram declarados como circunscritos coincidiu com ambientes meteorológicos moderados em três quartos dos casos. A contenção de cerca de 58% das ocorrências deu-se ao entardecer e durante a noite e madrugada, sendo que apenas 22% dos incêndios passaram à fase “circunscrita” entre as 12 e as 18 horas, o período mais favorável à propagação do fogo. Os incêndios com início à tarde foram maioritariamente (78%) circunscritos num dos restantes períodos. As oportunidades nocturnas de controlo do fogo ajudam a explicar a relativamente curta duração (8 horas em média, com uma variação de 2 a 16 horas) dos 36 incêndios, apesar de apenas terem sido confinadas na manhã ou tarde seguintes as ocorrências com início entre as 18 horas e as 6 horas por serem objecto de um menor esforço de combate.

Observações efectuadas no decurso da monitorização de incêndios

O PCO não existiu em todos os incêndios visitados e por vezes é estabelecido tarde relativamente à evolução do incêndio, especialmente nas ocorrências nocturnas, diferindo entre fogos com a mesma tipologia o procedimento relativo ao momento de montagem do PCO. Não estão portanto normalizados os

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procedimentos nem claramente definidas as condições que implicam a entrada em funcionamento do PCO, e consequentemente a passagem a ataque ampliado. Em muitos casos houve dificuldade em conhecer a localização/posicionamento dos meios presentes no TO no momento de montagem do PCO, e constatou-se por vezes a ausência de planeamento do combate. O VCOC é geralmente mobilizado por iniciativa do CODIS e nem sempre é disponibilizado com a necessária rapidez.

A estrutura do PCO variou em resposta à complexidade da ocorrência. Nem sempre são estabelecidas (e nem sempre parecem necessárias) as posições de adjuntos do COS e de células específicas para o Planeamento, Combate ou Logística. A existência de TO sem PCO, mas onde a complexidade do incêndio determina, por exemplo, a sectorização, é demonstrativa da ausência de critérios homogéneos na condução do combate.

É variável o recurso a instrumentos de apoio à decisão e planeamento que são essenciais para uma correcta condução das operações de combate ampliado, caso da implementação de SITAC (sendo variável a organização de informação), apoio SIG e meteorológico, apoio aos meios aéreos (em alguns casos acumulado pelo COS), e criação de ZCR.

É sempre incompleto o registo do despacho de meios de combate, provavelmente reflectindo a falta de conhecimento da movimentação de meios na chegada ao TO. Embora o SITAC permita conhecer a quantidade e posicionamento dos meios envolvidos no combate, o seu carácter efémero impede uma análise a posteriori da forma como decorreu o combate, que poderia constituir um importante instrumento pedagógico e de valorização dos recursos de comando.

O procedimento de mobilização de meios para uma ocorrência não aparenta estar estandardizado. No registo de envio de meios deveriam ser assinalados aqueles que fazem parte dos grupos distritais e colunas nacionais. Os critérios que presidem à decisão de mobilização de GRIF da CNIF, ou de GRIF distritais nem sempre são claros, assim como a mobilização de meios militares. Na ausência de documentação do seu posicionamento no TO foi impossível detectar os efeitos

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destes meios na evolução do incêndio. Não são ponderados os custos de mobilizar efectivos que percorrem maiores distâncias até ao TO, em alguns casos apenas para efectuarem operações de rescaldo.

O fluxo de informação entre o TO e CDOS/CNOS é extremamente parco em informação que objectivamente permita perceber a evolução do incêndio e as estratégias e tácticas de supressão utilizadas. Regra geral a informação transmitida a partir do TO não descreve quantitativamente as condições (meteorologia, terreno, vegetação) de evolução do fogo nem as características do mesmo. A localização imprecisa do local da ocorrência, descontextualizada da cartografia da área envolvente nem sempre permite uma correcta avaliação das condições locais e potencial de desenvolvimento do fogo.

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Recomendações

Recomendações gerais relacionadas com a meteorologia e o comportamento do fogo

ƒ flexibilizar a atribuição dos níveis de prontidão à escala nacional e regional em função dos níveis de perigo de incêndio (FWI);

ƒ aproveitar a utilidade operacional dos índices individuais do sistema FWI; ƒ maior uso da informação meteorológica à escala local;

ƒ planear a estratégia e tácticas de supressão com base na evolução previsível do incêndio;

ƒ adequar os meios utilizados e as tácticas de combate ao comportamento do fogo, nomeadamente aumentando a importância relativa das manobras de ataque indirecto;

ƒ mobilizar e render meios em função da evolução prevista do incêndio; ƒ aumentar o rácio homem / veículo para expandir as oportunidades de

controlo perimetral, nomeadamente através do combate com ferramenta manual;

ƒ ajustar os níveis de prontidão e da disponibilidade de meios ao ciclo meteorológico diário, nomeadamente dando maior ênfase às manobras nocturnas;

ƒ ajustar a alocação e gestão de meios de combate ao ciclo de vida do incêndio;

ƒ aumentar a utilização de meios mecanizados a fim de reduzir a duração do rescaldo e da vigilância pós-incêndio;

ƒ especializar pessoal em meteorologia do fogo no seio do CNOS e/ou IM; ƒ especializar pessoal em análise avançada de incêndios.

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Planeamento dos meios de combate: ficha “Dados de Planeamento”

ƒ aumentar o número de classes de velocidade de propagação do fogo a fim de expandir a capacidade de despacho de meios em situações meteorológicas relativamente moderadas;

ƒ não contemplar a possibilidade de ataque directo à cabeça de incêndios de velocidade superior a 700 m/h;

ƒ não limitar a incêndios de velocidade inferior a 700 m/h a possibilidade de conduzir operações de fogo táctico;

ƒ derivar factores de ajustamento para determinar a velocidade de propagação em diferentes tipos de vegetação (a regra actual é aplicável a matos altos ou a fogo de copas em floresta e quando a humidade do combustível é inferior a 5%).

Recomendações baseadas na monitorização dos incêndios Normalizar (criar NOP)

ƒ a avaliação da situação (pré-montagem do PCO) a fim de transmitir informação padronizada;

ƒ os procedimentos de coordenação de meios na chegada ao TO; ƒ as condições em que se dá a passagem a ataque ampliado; ƒ o momento de activação do PCO e o procedimento a adoptar;

ƒ a composição do PCO, relativamente à atribuição de funções de apoio ao comando, de acordo com a complexidade do TO;

ƒ a periodicidade das transmissões do TO para o CDOS/CNOS com ponto de situação;

ƒ a informação a transmitir do TO para o CDOS/CNOS para conhecimento da evolução do incêndio;

ƒ os procedimentos no registo SITAC;

ƒ a organização na área envolvente ao posto de comando e ZCR;

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ƒ os procedimentos de envio de meios para TO (despacho central, acolhimento no TO, colocação no TO, …);

ƒ os procedimentos do Plano Estratégico de Acção do PCO;

ƒ a chegada de meios ao TO – passagem obrigatória pelo PCO ou ZCR ou envio directo para sectores com criação de “portas de despacho”;

ƒ o preenchimento de todos os campos na Base de dados PC Digital.

Equipar

ƒ com meios de comunicação adequados todos os elementos no TO; ƒ guarnições com lanternas individuais;

ƒ ECIN para apoiar manobras de uso do fogo no TO efectuadas pelos GAUF.

Desenvolver / Promover

ƒ a criação de Posto de Comando Simplificado;

ƒ um registo histórico de transcrição de informação relativa ao SITAC; ƒ a informação a incluir no SITAC;

ƒ ficha de tarefa padrão para as ECIN, simples e com toda a informação necessária;

ƒ o registo de indicadores de rendimento e adequação dos meios à dimensão da ocorrência;

ƒ indicadores relativos ao tempo de autonomia das ECIN, necessidades de reabastecimento, necessidades de substituição, capacidade de combate face ao tipo de fogo;

ƒ o apoio de especialistas de análise do fogo; ƒ o apoio de técnicos locais (DFCI e GTF); ƒ o apoio ao PCO por parte de ERAS;

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ƒ a recolha de informação sobre os tempos de actividade de cada equipa; ƒ a recolha de informação relativa ao combate ao incêndio para

preenchimento da REIF;

ƒ “portas de despacho” ou diferentes ZCR no TO em incêndios extensos; ƒ o número e nível de formação dos GAUF, separando de preferência as

funções de análise das funções de uso do fogo e nelas especializando os elementos dos grupos.

Formar

ƒ chefes de equipa em avaliação básica de comportamento do fogo; ƒ responsáveis pelos registos no TO;

ƒ especialistas para células de comando do Sistema de Comando Operacional;

ƒ pessoal de apoio técnico ao PCO;

ƒ comandos na elaboração do Plano Estratégico de Acção do PCO; ƒ guarnições no uso de ferramentas manuais;

ƒ para o combate nocturno a incêndios florestais; ƒ os comandos de sector/comando de ECIN;

ƒ elementos de comando móvel para recolocação de meios ou reforço do combate, a partir de uma perspectiva geral do TO;

ƒ equipas de apoio às manobras de uso do fogo pelos GAUF.

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A

VALIAÇÃO DO

D

ESEMPENHO DO

A

TAQUE

A

MPLIADO A

I

NCÊNDIOS

FLORESTAIS

Julho – Setembro

2007

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Índice

I. Nota Prévia... 3

III. Considerandos Gerais ... 7

IV. Objecto da Avaliação... 9

V. Objectivos do Estudo... 10

VI. Esquema metodológico global... 11

Ataque Ampliado ... 11

Metodologia adoptada ... 11

Equipas de Monitorização de Incêndios Florestais ... 12

Fichas de recolha de dados ... 14

VII. Análise dos Incêndios em 2007... 16

1. Enquadramento meteorológico... 16

2. Relação entre o perigo meteorológico e a ocorrência de incêndios... 20

2.1. Observação versus probabilidade de dias com grandes incêndios.. 21

2.2. Proporção de dias com grandes incêndios por classe de perigo meteorológico ... 21

3. Efectividade do combate ampliado: análise de incêndios individuais.... 22

3.1. Área individual dos incêndios com mais de 500 ha... 22

3.2. Incêndios em ataque ampliado... 24

3.3. Recomendações gerais relacionadas com a meteorologia e o comportamento do fogo ... 28

4. Planeamento dos meios de combate: ficha “Dados de Planeamento”. 29 5. Número de ocorrências e ataque ampliado... 30

6. Equipas de Monitorização de Incêndios Florestais em ataque ampliado 34 6.1. Funcionamento do Posto de Comando Operacional (PCO)... 36

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6.2 Meios no TO... 42

6.3 Operações na frente de fogo... 43

6.4 Pontos críticos identificados... 44

6.5 Rendimento das manobras de combate ... 46

6.6 Equipas GAUF ... 46

7. Recomendações relativas à melhoria da estruturação e funcionamento do dispositivo de Ataque Ampliado e processo de monitorização. ... 48

ANEXOS... 54

Anexo 1 - Classes de Perigo de Incêndio Florestal ... 55

Anexo 2 - Distribuição (%) anual de dias por classe de perigo meteorológico de incêndio* no período de 15 de Maio a 15 de Outubro... 57

Anexo 3 - Probabilidade de grandes incêndios ... 58

Anexo 4 - Estimativa* e observação de dias com grandes incêndios (≥ 100 ha) no período de 15 de Maio a 15 de Outubro... 59

Anexo 5 - Proporção de dias com grandes incêndios por classe de perigo de incêndio no período de 15 de Maio a 15 de Outubro. ... 60

Anexo 6 - Modelo para a área ardida por incêndios ≥ 500 hectares ... 62

Anexo 7 - Organograma do Sistema de Comando Operacional ... 63

Anexo 8 - Rede Operacional dos Bombeiros ... 64

Anexo 9 – Ficha “Dados de Planeamento”... 65

Anexo 10 – Fichas de Monitorização ... 66

Anexo 11 – Glossário... 76

(15)

I. NOTA

PRÉVIA

O presente Relatório Final culmina a análise de dados obtidos no acompanhamento dos incêndios florestais, com a apresentação de resultados do estudo protocolado entre a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

O Acompanhamento e a Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado são reportados à fase CHARLIE, período de 1 de Julho a 30 de Setembro 2007, no qual se realizaram as acções programadas na Proposta de Protocolo, ainda que com limitações de ordem conjuntural (a anormalidade meteorológica), e de carácter logístico, devido a dificuldades administrativas que limitaram o planeamento inicial, a afectação de recursos e criaram alguma inércia de coordenação CNOS/UTAD.

A reduzida incidência de incêndios significativos, num espaço temporal curto e com grande dispersão territorial, limitou significativamente o número de acções de acompanhamento dos incêndios na fase de ataque ampliado. A evolução da precipitação e da temperatura do ar ditaram um Inverno e início de Primavera mais secos e quentes do que o normal em todo o território. O mês de Junho foi particularmente chuvoso, e ainda que o mês de Julho tenha sido já mais quente e seco, as circunstâncias compatíveis com uma actividade de fogo significativa tardaram. Em Agosto condições similares prevaleceram e em Setembro uma depressão no Atlântico condicionou o tempo, à excepção da primeira semana, sob influência da circulação de leste.

De acordo com os dados provisórios das estatísticas de incêndios da DGRF, até ao fim do mês de Setembro, o ano de 2007 constituiu um ano excepcional do ponto de vista do número de ocorrências (10.395, correspondentes a 42% da média anual no período 2002- 2006) e da superfície ardida (16.605 ha, 8% do valor médio do mesmo período). Apesar da meteorologia favorável que afectou algumas regiões de Portugal continental, diversos indicadores que isolam os parâmetros

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meteorológicos indicam uma melhoria sensível não só do comportamento do público, em especial nos dias de maior perigo de incêndio, mas também uma melhoria progressiva do sistema de combate nos dois últimos anos.

A relação institucional ANPC / UTAD foi bastante profícua, no que respeita às relações pessoais entre o Comando Nacional de Operações de Socorro e os membros coordenadores da equipa da UTAD, pese embora algum atraso inicial na disponibilização de meios e recursos, instrumentais e financeiros, que tiveram incidência negativa na instalação das equipas de monitorização no terreno, e dos equipamentos necessários utilizar no Teatro de Operações.

Houve dificuldades iniciais na atempada informação para o accionamento das equipas, cuja decisão dependia de comunicação do CNOS ou com o seu conhecimento prévio. Este foi um procedimento que exigiu adequação em conformidade com a necessidade de responder aos movimentos no terreno, indispensáveis ao planeamento das deslocações dos Monitores de Incêndios Florestais (MIF), a nível nacional.

Estes constrangimentos de ordem operacional e conjuntural afectaram a qualidade dos elementos recolhidos no âmbito do trabalho de campo comprometendo alguns dos objectivos e acções programadas e, naturalmente, alguns dos resultados. Estas incidências do percurso de criação da estrutura e da sua implementação operativa, têm naturais implicações na geração de fluxos específicos de informação indispensáveis para responder a componentes relevantes na Avaliação do Desempenho dos Meios.

Conscientes das dificuldades em implementar um procedimento de monitorização complexo e dinâmico, num horizonte temporal limitado, adoptou-se um processamento contínuo de acompanhamento, controlo e avaliação do processo. As actividades de monitorização do sistema de combate ao longo do tempo, para o registo de dados, especificamente elaboradas de modo a permitir quantificar os níveis de eficácia de desempenho operacional, permitiram a análise do seu impacte nos resultados esperados e os factores críticos que inibiam a concretização das acções planeadas, de acordo com os objectivos inicialmente definidos.

(17)

II. ENQUADRAMENTO OPERACIONAL DO ATAQUE

AMPLIADO

De acordo com a Directiva Operacional Nacional nº 02/2007 o Ataque Ampliado tem como conceito operacional:

(a) Assegurar, em incêndios não dominados à nascença, o reforço imediato do TO com ECIN e ELAC dos CB Locais ou de CB Adjacentes, Grupos de Combate a Incêndios Florestais (GCIF), tractores agrícolas ou florestais com alfaias adequadas e máquinas de rasto. Todos os reforços, provenientes até ao limite das capacidades do respectivo Distrito, são activados à ordem dos CDOS;

(b) Assegurar as decisões tácticas necessárias ao empenhamento em simultâneo de Equipas terrestres para combate ao incêndio na floresta e Equipas terrestres para combate ao incêndio nas zonas de interface floresta/urbano;

(c) Assegurar, depois de esgotadas as capacidades do Distrito, e a pedido do respectivo CDOS, o reforço do TO com Grupos de Reforço de Incêndios Florestais (GRIF), integrados, ou não, em Colunas de Reforço;

(d) Assegurar, também, a margem de manobra necessária ao reforço no Distrito de outros TO, podendo envolver recursos humanos e materiais das restantes organizações integrantes do DECIF;

(e) Empregar métodos de combate directo, paralelo e/ou indirecto, através do empenhamento de Equipas, Brigadas ou Grupos terrestres com ferramentas manuais, tractores agrícolas ou máquinas de rasto e técnicas de fogos tácticos (contra fogo);

(f) Empregar as Equipas de Reconhecimento e Avaliação de Situação (ERAS), à ordem do CNOS, na avaliação da situação operacional dos TO, sempre que a situação se justifique.

(g) Empregar as Equipas de Analistas de Incêndios (ANI) e as Equipas de Fogos Tácticos de Supressão (EFTS), sob a coordenação do CNOS, na análise de

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incêndios, na identificação de oportunidades e na intervenção, com recurso à utilização de fogos tácticos de supressão;

(h) Empregar, excepcionalmente, os Helicópteros Bombardeiros Pesados (HEBP) em incêndios de ataque ampliado em “task force”, integrando-o no “Plano Estratégico de Acção do Posto de Comando Operacional (PCO)” de acordo com as NOP do CNOS. Este emprego de meios só se tornará efectivo por iniciativa do CNOS ou se processado através do respectivo CDOS.

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III. CONSIDERANDOS

GERAIS

A Lei nº 27/2006, de 3 de Julho que aprovou a Lei de Bases de Protecção Civil, bem como o Decreto-lei nº 124/2006, de 28 de Junho que aprovou as medidas e acções a desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, esta última antecedida pela Resolução de Conselho de Ministros nº 65/2006 que anunciou um quadro de responsabilidades muito claro cometendo a responsabilidade das acções de prevenção à Direcção Geral de Recursos Florestais, a vigilância, detecção e fiscalização à Guarda Nacional Republicana e o combate à Autoridade Nacional de Protecção Civil e a sua ligação funcional ao nível do Sistema Integrado de Protecção e Socorro, designadamente:

(i) Que a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) tem como missão planear, coordenar e executar a política de Protecção Civil, designadamente, na prevenção e reacção a acidentes graves e catástrofes, de protecção e socorro das populações e de superintendência da actividade dos Bombeiros;

(ii) Que estas missões, se projectam através da adopção de medidas que

visem o desenvolvimento para uma política de execução a agilizar através da colaboração institucional de outras entidades capacitadas e credenciadas no que concerne às diversas áreas de especialização;

(iii) Que o Plano de Actividades da ANPC contempla em razão da competência da sua intervenção a nível nacional, o da protecção e socorro das populações na defesa do património, ambiente e valorização do território valores a proteger sem protrair a defesa dos recursos florestais, em conjugação de esforços com todos os agentes de protecção civil nos diversos domínios de actuação;

(20)

(iv) Que a elaboração de um estudo de investigação de carácter científico focalizado na avaliação por parte de técnicos especializados no âmbito do ataque ampliado em incêndios bem como a definição de indicadores para aferir dessa avaliação se revela indispensável para o aperfeiçoamento e entendimento doutrinal.

(21)

IV. OBJECTO

DA

AVALIAÇÃO

A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) na sua missão de planeamento, coordenação e execução da política de Protecção Civil, acordou com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) a avaliação das operações de ataque ampliado a incêndios florestais.

O protocolo estabelecido entre a Autoridade Nacional de Protecção Civil e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para acompanhamento e monitorização das operações de ataque ampliado a incêndios florestais teve como objectivo principal a avaliação do desempenho do dispositivo de combate ampliado, incluindo a definição de indicadores de avaliação, indicadores de operação relativos ao envolvimento de recursos humanos e equipamentos e acompanhamento no terreno da evolução de incêndios onde se verificou intervenção de Equipas de Avaliação e Uso de Fogos Tácticos.

O Estudo de Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado em Incêndios Florestais compreende a utilização de instrumentos operativos adequados às diversas fases do processo, que resultam do quadro de referência enunciado, nomeadamente da Directiva Operacional Nacional, que enquadra o conceito e enuncia os aspectos operacionais.

A monitorização do sistema no Teatro de Operações foi o procedimento adoptado para acompanhar e controlar o processo de intervenção e identificar eventuais divergências de funcionamento, de operatividade e articulação, através da utilização de um conjunto de indicadores de desempenho no combate a incêndios florestais.

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V. OBJECTIVOS

DO

ESTUDO

Objectivos específic o s Objectivos operacion a is Objectivos gerais D e fin iç ã o d e in d ic a d o re s d e a va lia ç ã o Acompanhamento no terr eno da evol ução de incêndios onde inte rve nham as Equ ipas d e A valiação e de Fogos Tá c tic o s o u o ut ro s in c ê nd io s e m fa se d e a ta q ue a m p lia d o

Produção, com base

na PC Digital, de relatórios semana

is com base em indicadore s d e o p e ra ç ã o r e la tiv o s a o envolvimento de recurso s humano s e eq uipamen tos – por par te do mo nitor do CNOS Produ zir re comendaçõ e s re lativ a s à e strutu ração e funcioname nto d e u m dispo sitiv o de Mo nitorização do A taque A m pliado Monitorar a instalação e funciona mento do Posto d e Coma ndo Operaciona l; Monitorar o Teatro d e O p eraçõ e s, d a área do incêndio

e a localização dos mei

o s de combate; Monitorar a Frente do Fogo acompa nhando as manobra s de fogo tácti c o. Ide ntificação dos me ios de ajuda à de cisão, as es trat égi a s, tácti c a s e m o vi m e nt açã o d o s mei o s;

Cartografia do perímetro do fogo,

registo das alteraçõ es meteorológi c as e da e volu ç ão do i ncêndio; A valiação do de sempenho na aplicação de dife re ntes táctica s de comba te.

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VI. ESQUEMA

METODOLÓGICO

GLOBAL

Ataque Ampliado

De acordo com as directivas da ANPC, a passagem a ataque ampliado compreende a organização do combate de acordo com o Sistema de Comando Operacional no TO, dando origem à montagem do PCO.

A duração da ocorrência e o número de efectivos envolvidos no combate são também indicadores para a inclusão nas ocorrências mais significativas.

Assim, foi para este estudo considerado que um incêndio florestal passa a ataque ampliado quando falha a primeira intervenção e o incêndio evolui desfavoravelmente, implicando o reforço dos meios no terreno e conduzindo à montagem de um Posto de Comando Operacional.

Partiu-se do pressuposto de que toda a orgânica do sistema de combate a incêndios florestais assenta nos procedimentos emanados da Directiva Operacional Nacional 02/2007, que define o organigrama do Sistema de Comando Operacional e estrutura da Rede Operacional dos Bombeiros (Anexo7 e Anexo 8).

Metodologia adoptada

Foi delineado um procedimento baseado em dois vectores.

1. O acompanhamento das acções de combate no TO, com duas equipas no terreno, procurando abranger três pontos do combate: o PCO, acções no TO e a frente de fogo e a actuação das equipas de uso e análise do fogo (GAUF).

2. A recolha de informação no CNOS, relativa à evolução das ocorrências e ao registo de informação sobre o decorrer das operações e sua transmissão entre os diferentes comandos CNOS/CDOS/COS.

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UTAD - COORDENAÇÃO DAS EQUIPAS MONITOR do CNOS MONITOR do Posto de Comando Operacional MONITOR do Teatro de Operações MONITOR da Frente de Fogo

Os procedimentos adoptados ao longo do processo de monitorização nas diferentes fases do projecto, levaram à identificação de dificuldades na recolha de informação e desvios processuais que, de algum modo, podiam comprometer o alcance das metas previstas, levando à redefinição dos indicadores e, mesmo, à revisão dos objectivos iniciais, atendendo às dinâmicas não previstas do processo, nomeadamente a anormalidade climatológica, e ao seu impacto sobre os resultados.

Equipas de Monitorização de Incêndios Florestais

A monitorização de incêndios florestais (MIF), pelas equipas constituídas no âmbito do protocolo ANPC/UTAD, decorreu durante o período correspondente à Fase CHARLIE da Directiva Operacional Nacional (entre 1 de Julho e 30 de

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Setembro). Foram constituídas, como previsto no protocolo, duas equipas de três elementos, pré-posicionadas no Norte (Vila Real) e no Centro (Lousã). Estas equipas foram apoiadas pelos elementos posicionados no CNOS, que forneceram informação relativa às ocorrências.

A cada equipa de acompanhamento foram providenciados transporte e equipamento para recolha de informação. Todos os elementos estavam equipados com EPI e com rádio individual de BA. Cada equipa dispunha de PC portátil e impressora, estação meteorológica portátil, câmara de vídeo, câmara fotográfica e binóculos.

Em meados de Agosto foi decidido substituir as viaturas ligeiras, que asseguravam o transporte das equipas, por viaturas todo terreno, de forma a garantir uma maior capacidade de movimentação às equipas.

O procedimento utilizado no acompanhamento dos incêndios no terreno procurou abranger as três vertentes previstas nas fichas de registo anteriormente referidas. Após confirmação com o CNOS, as equipas de monitorização deslocavam-se para a ocorrência. À chegada era contactado o COS ou o PCO, caso existisse.

O elemento que acompanhou a actividade dos PCO procurou sempre recolher informação sem perturbar o funcionamento do mesmo. O acolhimento das equipas efectuou-se sempre num espírito da maior cooperação, sendo os elementos das equipas MIF muitas vezes convidados a acompanhar o COS no reconhecimento da situação no TO.

As informações foram recolhidas por observação directa ou através dos registos existentes no PCO, nomeadamente cartografia e SITAC. No entanto, dependendo do momento de chegada ao incêndio, nem sempre foi possível recolher toda a informação desde o início do funcionamento do PCO. Em alguns momentos foi possível recolher opiniões e informação do COS.

Quando possível um elemento da equipa deslocou-se no TO recolhendo informação sobre o desenrolar do incêndio e as intervenções das equipas de combate. Esta recolha de informação procurou abranger várias secções do

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perímetro de incêndio e várias fases do combate. A ideia inicial foi de recolher dados ao longo do tempo, documentando a progressão do incêndio e as intervenções. Devido às já referidas particularidades deste ano, que condicionaram a duração dos incêndios, associado à dificuldade em chegar rapidamente ao local do incêndio, na maioria dos casos não foi possível efectuar a recolha desta informação. Embora esporadicamente, foi por vezes manifestado algum desagrado, por parte de elementos das equipas de combate, pelo facto de estarem a ser filmados.

Os filmes e fotos foram importantes para complementar posteriormente o preenchimento das fichas de recolha de dados.

Quando no TO se encontrava uma equipa do GAUF, um dos elementos acompanhou as suas intervenções ou deslocações para reconhecimento do TO.

Os dados recolhidos no terreno pelas equipas de campo foram complementados pelos registos recolhidos no CNOS pelo elemento de apoio, e que forneceram informação sobre os meios deslocados para a ocorrência e tempo de chegada/saída ao TO, comunicações do TO e meteorologia da área do incêndio.

Os registos de campo tiveram por base um conjunto de fichas desenvolvidas para o efeito (Anexo 10) e utilizadas pelos monitores de campo para recolha de informação em três pontos: actividade do PCO, actividade das ECIN e avaliação das condições de propagação do incêndio dentro do TO e acções das equipas GAUF e condições de propagação do incêndio nas várias frentes de fogo.

Fichas de recolha de dados

PCO.1 – Funciona como uma check-list e destina-se a confirmar a composição do PCO, atribuição de funções de comando de acordo com o estabelecido pelo Sistema de Comando Operacional da Directiva Operacional Nacional.

(27)

PCO.2 – Identifica a existência de um Plano de Controlo do Incêndio, a existência de meios técnicos de apoio à decisão, e as entidades que providenciam informação ao PCO.

PCO.3 – Regista as presenças no PCO ao longo do tempo e o tipo de apoio prestado.

PCO.4 – Regista o despacho de meios a partir do PCO para o TO, o tipo de informação fornecida às equipas, e verifica o equipamento que elas possuem.

TO.1 – Regista dados sobre o comportamento do fogo em diferentes zonas do TO, incluindo características da chama, da propagação e do tipo de vegetação afectada.

TO.2 – Regista a acção dos meios de combate no TO, procurando obter valores do rendimento das equipas relativamente a diferentes técnicas de combate empregues.

TO.3 – Regista características das operações de rescaldo no perímetro do incêndio.

FF.1 – Regista dados sobre o comportamento do fogo na frente, características do terreno e acções de combate empregues, procurando obter valores do rendimento de manobras executadas ou apoiadas pelas equipas GAUF.

FF.2 – Regista as características do terreno, vegetação e comportamento esperado do incêndio, procurando recolher dados para identificação de oportunidades de combate à progressão do incêndio.

(28)

VII. ANÁLISE DOS INCÊNDIOS EM 2007

1. Enquadramento meteorológico

A análise será baseada no índice FWI de perigo meteorológico de incêndio, que exprime o efeito combinado do vento, temperatura do ar, humidade do ar e precipitação na intensidade do fogo, e cuja classificação foi ajustada para Portugal por Palheiro et al.1 (2006). No Anexo 1 descrevem-se as implicações de

cada classe de perigo na efectividade dos meios de combate.

Figura 1. Evolução dos sub-índices de humidade do combustível morto FFMC (combustível fino à superfície), DMC (manta morta) e DC (índice de seca) no período de 15 de Maio a 15 de Outubro de 2007. Valores médios diários das 85 estações meteorológicas do IM.

1Palheiro, P., P. Fernandes, M. Cruz. 2006. A fire behaviour-based fire danger classification for

maritime pine stands: comparison of two approaches. In Proc. 5th Int. Conf. Forest Fire research, D. X.

Viegas (Ed.). Elsevier B. V., Amsterdam. CD-Rom.

(29)

As Figuras 1 e 2 indicam a evolução temporal dos componentes do perigo de incêndio no período de 15 de Maio a 15 de Outubro de 2007.

São patentes quebras regulares nos índices, correspondendo a uma sequência de episódios de precipitação que contribuíram substancialmente para um ambiente meteorológico relativamente favorável às operações de controlo de incêndios. Os relatórios produzidos pelo IM2 (2007) descrevem as condições

meteorológicas prevalecentes nos meses de Maio a Setembro de 2007.

Figura 2. Evolução do índice de perigo de incêndio FWI e dos seus componentes ISI (velocidade de propagação) e BUI (combustível disponível) no período de 15 de Maio a 15 de Outubro de 2007. Valores médios diários das 85 estações meteorológicas do IM.

2 IM (2007). Avaliação mensal das classes de risco de incêndio e índice meteorológico de risco

de incêndio florestal – FWI. Lisboa.

(30)

Circunstâncias compatíveis com uma actividade de fogo significativa tardaram até Julho, com a influência do anticiclone dos Açores e de uma depressão de origem térmica localizada sobre a Península Ibérica. Condições similares prevaleceram em Agosto. Uma depressão no Atlântico condicionou o mês de Setembro, à excepção da primeira semana, sob influência da circulação de leste.

Os dias incluídos nas classes de perigo reduzido ou moderado ─ quando a ignição não é possível ou o fogo é facilmente debelado ─ representaram 39,0% do total em 2007 (Anexo 2). Trata-se de um valor muito elevado que diverge da média 2000-2006 (24,1%) e que situa 2007 ao nível de 2002 (40,3%) e 2004 (37,8%). Mais significativo, e distinguindo 2007 de qualquer um dos anos do período 2000-2006, é porém o facto de apenas 35,0% dos dias se classificarem como de perigo muito elevado ou extremo, contrastando com a média de 56,7% para 2000-2006; o segundo ano mais favorável foi 2002, com 45,5% dos dias nestas classes.

Uma percentagem muito elevada da área ardida distribui-se por um número relativamente reduzido de dias correspondentes às situações meteorológicas mais severas e que concentram os incêndios de maior dimensão. Assim, é pertinente examinar a distribuição do FWI para os dias classificados como de perigo muito elevado ou extremo (Figura 3). Em 2007, e de novo em contraste com qualquer um dos anos do período 2000-2006, é visível a grande assimetria da distribuição, que se apresenta fortemente enviesada para a esquerda. Em 2007 estiveram muito pouco representados os dias com índice mais elevado (FWI>40), similarmente a 2001, ano em que a ocorrência de dias com valores intermédios de FWI (30-35) foi porém razoavelmente superior. Dias com um FWI realmente elevado (>50), tão relevantes em 2003, 2004 e 2005, não se verificaram em 2007. O percentil 97 do FWI, que pode ser adoptado como critério de delimitação dos dias mais severos, atingiu o valor 44 em 2007, bastante abaixo dos valores registados de 2003 a 2006, e que variaram de 48 a 52.

(31)

2000 2001

2002 2003

2004 2005

2006 2007

Figura 3. Distribuição 2000-2007 do índice FWI (média nacional, dados fornecidos pela DGRF) nos dias classificados como de perigo de incêndio muito elevado ou extremo (FWI > 24,5).

(32)

2. Relação entre o perigo meteorológico e a ocorrência de

incêndios

A Figura 4 apõe ao índice FWI os dias com incêndios de dimensão superior a 100 ha e a 500 ha no período de 15 de Maio a 15 de Outubro. É bastante evidente a associação destes eventos com os picos do FWI, sobretudo no que respeita aos fogos acima de 500 ha, que coincidem sempre com dias em que FWI > 35.

Figura 4. Índice de perigo FWI no período 15 de Maio – 15 de Outubro de 2007 e dias com incêndios de área superior a 100 e a 500 hectares.

O resultado da análise da actividade de incêndios em situações meteorológicas comparáveis constitui um indicador aceitável da eficiência relativa do dispositivo operacional de pré-supressão e supressão do fogo em anos distintos.

(33)

Para o período de 15 de Maio a 15 de Outubro foi possível comparar 2007 com 2000-2006 no que respeita:

i) ao número de dias com ocorrência de incêndios de dimensão superior a 100 hectares face ao FWI;

ii) à proporção de dias com incêndios de dimensão superior a 100, 500 e 1000 ha por classe de perigo meteorológico.

2.1. Observação versus probabilidade de dias com grandes incêndios

Construiu-se um modelo preditivo da probabilidade diária de ocorrência de incêndios com 100 ou mais hectares, com base nos dados de 2000-2006 e em função do FWI médio diário (Anexo 3). Da aplicação do modelo (Anexo 4) resultou para 2007 uma probabilidade média diária de 0,38 face a 0,54 para 2000-2006, o que é consistente com as condições meteorológicas moderadas que se verificaram em 2007. Os valores de probabilidade correspondentes à mediana, percentil 75 e percentil 90 foram também inferiores em 2007. No período 2000-2006 houve em média 84 dias por ano com fogos >100 ha e o modelo correspondentemente estimou 89 dias. Em 2007 somente se verificaram fogos desta magnitude em 19 dias, mas o modelo efectuou uma estimativa de 54 dias, o que sugere um melhor desempenho do dispositivo operacional.

2.2. Proporção de dias com grandes incêndios por classe de perigo

meteorológico

Em 2007 diminuiu o número de dias com incêndios acima de 100, 500 e 1000 ha em todas as classes de perigo face à média de 2000-2006 (Anexo V). Esta diminuição é especialmente notória nas classes de perigo muito elevado e extremo, já que as condições meteorológicas que caracterizam as restantes classes não são favoráveis a fogos dessa dimensão. É de realçar que:

(34)

ƒ em 2007 ocorreram fogos ≥100 ha em 80% dos dias com perigo extremo, quando em 2000-2006 tal sucedeu em quase todos os dias incluídos naquela classe de perigo;

ƒ em 2000-2006 mais de três quartos dos dias com perigo muito elevado registaram fogos ≥100 ha mas em 2007 tal sucedeu em apenas um quarto desses dias;

ƒ as maior reduções relativas verificaram-se no nº de incêndios ≥500 ha e ≥1000 ha no nível de perigo muito elevado.

Na classe de perigo muito elevado os anos de 2000, 2006 e 2007 registaram uma proporção semelhante de dias com incêndios ≥1000 ha. O ano de 2000 foi ligeiramente mais severo que 2007 na classe de perigo extremo, mas somente 7% dos dias de 2000 registaram fogos daquela magnitude, enquanto em 2007 esses dias constituíram 20% do total. Os resultados são assim sugestivos de uma melhoria genérica do ataque ampliado em 2007 face ao período 2000-2006, mas não atestam uma evolução positiva real já que aproximam o desempenho de 2007 daquele obtido nos melhores anos anteriores (2000, 2006).

3. Efectividade do combate ampliado: análise de incêndios

individuais

3.1. Área individual dos incêndios com mais de 500 ha

Devido a informação insuficiente não foi possível analisar a área ardida por todos os grandes incêndios. Para os incêndios com ≥500 ha, que ocorreram sempre em dias classificados como de perigo extremo, foi construído um modelo (com os dados de 2003-2006) que relaciona a superfície ardida com o índice FWI calculado com informação proveniente de uma ou mais estações meteorológicas do IM localizadas na vizinhança do incêndio (Anexo 6). Dada a enorme dispersão das observações em torno da curva ajustada (ver gráfico no Anexo 6)

(35)

complementámos a análise considerando o desvio de área ardida relativamente à mediana de 2003-2006 para a classe de perigo extremo.

Considerando o desvio relativamente à área ardida estimada pelo modelo (Quadro 1), cinco dos incêndios ficaram bastante aquém (-50 – -75%) da predição, enquanto o maior fogo (Sardoal) atingiu uma dimensão próxima daquela que supostamente teria se tivesse ocorrido nas mesmas condições meteorológicas em 2003-06.

Quadro 1. Área ardida pelos incêndios de dimensão superior a 500 ha: valores observados, estimados (modelo 2006) e desvios em relação a 2003-2006.

Área ardida, ha

Concelho, freguesia Data

Obs. Estim. *Desvio %

**Desvio da classe de perigo extremo Sardoal, Sardoal 20/08/2007 2820 2689 4,9 115,3 Nisa, S. Matias 29/07/2007 1265 2544 -50,3 -3,4 Mértola, Espírito Santo 20/08/2007 978 2347 -58,3 -25,3 Figueira de Castelo

Rodrigo, Colmeal 21/08/2007 712 2565 -72,2 -45,6 Pombal, Pelariga 06/09/2007 706 1992 -64,6 -46,1 Mértola, Espírito Santo 29/07/2007 609 2403 -74,6 -53,5

* Calculado como (Obs. – Estim.)/Estim x 100

** Relativamente à mediana 2003-06, calculado como *.

Os cinco fogos acima referidos estão mais próximos de 2003-06 (-3 – -54%) se o critério de apreciação for o desvio relativamente à mediana daquele período,

(36)

enquanto o maior incêndio diverge dele acentuadamente (115%). O diminuto número de casos em análise torna a análise inconclusiva.

3.2. Incêndios em ataque ampliado

A Directiva Operacional Nacional 2/2007, fazendo referência ao termo “ataque ampliado”, não esclarece as condições em que se considerará a passagem de ataque inicial para a fase seguinte.

Verificou-se igualmente a inexistência de uma Norma Operacional Permanente relativa ao conceito e normalização de procedimentos em situação de ataque ampliado.

Analisaram-se 36 incêndios com base na informação colhida e pré-tratada no CNOS, respeitante ao desenrolar das operações e meios humanos e materiais utilizados e às condições meteorológicas. Obtiveram-se para cada um dos fogos os índices de perigo FWI, calculados com dados da mais próxima estação ou estações meteorológicas do IM. Quase todos estes incêndios foram alvo de combate ampliado e apenas um não decorreu em situação de perigo meteorológico muito elevado ou extremo.

No Quadro 2 consideramos os indicadores duração (até à contenção), área ardida e velocidade média de expansão do incêndio, calculada simplesmente como a razão entre a superfície ardida total do fogo e a sua duração. Equiparámos o momento da contenção do fogo à referência “circunscrito”, pelo que a referida taxa de crescimento do fogo constitui uma aproximação por excesso ao valor real. A superfície ardida por incêndio dependeu, em partes iguais, das condições meteorológicas (FWI) e da duração do fogo, mas estas variáveis apenas explicam 37% da variação observada. A área ardida por unidade de tempo aumentou proporcionalmente com o quadrado do índice FWI (Figura 5).

(37)

Quadro 2. Características básicas e meteorologia no momento da contenção para 36 incêndios ocorridos em Portugal de Julho a Setembro de 2007.

Parâmetro Média Mediana Intervalo

Duração 7,7 7,5 1,6 – 16,3

Área ardida, ha 317 154 41 - 2820

Velocidade de expansão, ha/hora 42 33 3 - 165

FWI 40 37 20 - 67

Condições meteorológicas no momento da contenção

Temperatura, oC 23 22 10 - 35

Humidade relativa, % 51 52 20 - 89

Velocidade do vento, km/h 10 11 0 - 22

Humidade do combustível morto, % 11 11 6 - 17

É interessante analisar as condições meteorológicas verificadas aquando da contenção dos incêndios. Os valores da média e da mediana para a temperatura ambiente, humidade relativa do ar e humidade do combustível morto no Quadro 2 indicam genericamente que os fogos se controlaram sob condições meteorológicas relativamente suaves. Esta constatação é reforçada pela análise da distribuição das variáveis que mostra que aquando da contenção a temperatura do ar era inferior a 25 ºC, a humidade do ar superior a 36% e a humidade do combustível maior que 8% em três quartos dos fogos.

Dividindo o dia em quatro períodos de seis horas e analisando a distribuição da hora da contenção dos incêndios por período verifica-se que:

ƒ 36,1% dos fogos são confinados entre as 18 e as 24 horas, ƒ 22,2% entre as 0 e as 6 horas,

ƒ 19,4% entre as 6 e as 12 horas e ƒ 22,2% entre as 12 e as 18 horas.

(38)

Figura 5. Relação (y = 0,027 x1,968) entre a velocidade média de expansão do

incêndio e o índice FWI para 36 incêndios ocorridos em Portugal no Verão de 2007.

Cerca de 58% das ocorrências passam assim à fase “circunscrita” ao entardecer e durante a noite e madrugada, sendo que menos de um quarto dos incêndios é contido no período em que as condições meteorológicas mais favorecem a propagação do fogo. Estes resultados são consistentes com as condições meteorológicas do Quadro 2 e evidenciam as oportunidades de controlo dos incêndios que em 2007 o período nocturno ofereceu, ajudando a explicar a relativamente curta duração dos incêndios. Note-se por exemplo que no maior incêndio do ano, o do Sardoal, a humidade relativa do ar era já 82% à meia-noite, apesar das condições extremamente favoráveis à propagação registadas na tarde anterior.

O Quadro 3 distribui os fogos em função dos respectivos períodos de início e de contenção. Nenhum dos fogos que principiou de manhã foi debelado antes do final da tarde, e os incêndios com início à tarde foram maioritariamente (78%) circunscritos num dos restantes períodos. É interessante constatar que todas as

(39)

ocorrências com início entre as 18 horas e as 6 horas foram confinadas na manhã ou tarde seguintes, mal-grado o favorecimento do combate nocturno pelas condições meteorológicas.

Quadro 3. Distribuição (%) dos 36 incêndios por períodos de início e de contenção. Período de início Período de contenção 0 - 6 6 - 12 12 - 18 18 - 24 0 - 6 0 50 26 0 6 - 12 75 0 4 60 12 - 18 25 0 22 40 18 - 24 0 50 48 0

O tempo que mediou da contenção do fogo ao início da fase de rescaldo constituiu em média cerca de 37% do tempo necessário para circunscrever o incêndio, com um máximo de 119%. Quanto à duração do rescaldo, representa cerca de metade do tempo total entre o início do incêndio e a fase de vigilância, com uma variação de 17 a 86%.

(40)

3.3. Recomendações gerais relacionadas com a meteorologia e o

comportamento do fogo

As análises efectuadas nesta secção conduzem a algumas recomendações de natureza genérica. As condições meteorológicas são determinantes para o resultado das operações de combate ampliado, particularmente em Portugal. Como tal deveriam condicionar muitas das decisões relacionadas com o combate ampliado, da alocação de meios às tácticas/estratégias de supressão. Assim, recomenda-se:

ƒ que se flexibilize e torne função dos níveis de perigo de incêndio (FWI) a atribuição dos níveis de prontidão à escala nacional e regional;

ƒ que se tire partido da utilidade operacional dos índices individuais do Sistema Canadiano de Perigo de Incêndio;

ƒ que se utilize mais a informação meteorológica à escala local;

ƒ que o planeamento da estratégia e tácticas de supressão seja auxiliado pela evolução previsível do incêndio, obtida através de simuladores do comportamento do fogo.

O sucesso das acções de combate empreendidas nos dias e períodos do dia mais críticos é bastante limitado, independentemente da quantidade de meios disponíveis no TO. Um melhor desempenho e gestão dos meios requer:

ƒ a adequação dos meios utilizados e das tácticas de combate ao comportamento do fogo, nomeadamente aumentando a importância relativa das manobras de ataque indirecto;

ƒ que a mobilização e rendição de meios sejam função da evolução prevista do incêndio;

ƒ o aumento do rácio homem / veículo para expandir as oportunidades de controlo perimetral, nomeadamente através do combate com ferramenta manual;

(41)

ƒ o ajustamento dos níveis de prontidão e da disponibilidade dos meios ao ciclo diário, explorando as oportunidades meteorológicas que este oferece, nomeadamente colocando maior ênfase nas manobras nocturnas;

ƒ que se ajuste a alocação e gestão de meios de combate ao ciclo de vida do incêndio;

ƒ o aumento da utilização de meios mecanizados a fim de reduzir a duração do rescaldo e da vigilância pós-incêndio.

A implementação destas recomendações pressupõe um esforço muito importante de formação e especialização. Em particular, constituem necessidades críticas:

ƒ a especialização, no seio do CNOS e/ou IM, de pessoal em meteorologia do fogo;

ƒ a especialização de pessoal em análise avançada de incêndios.

4. Planeamento dos meios de combate: ficha “Dados de

Planeamento”

A ficha “Dados de Planeamento” (Anexo 9) quantifica os meios necessários por tipo de acção de combate em função da velocidade de propagação da cabeça do incêndio. É expectável que da sua utilização a partir de 2008 advenha um aumento da racionalização da afectação de meios. Ressalvem-se porém as limitações da ficha, a saber:

ƒ 1. Apenas se consideram três classes de velocidade de propagação do

fogo (<700 m/h, 700-1500 m/h, >1500 m/h). A primeira destas classes praticamente engloba os níveis de perigo de incêndio reduzido a muito elevado, pelo que as outras duas classes se enquadram na classe de perigo extremo. Tal implica uma capacidade reduzida de planeamento dos meios a afectar a incêndios em situações meteorológicas relativamente moderadas,

(42)

dando pelo contrário ênfase às situações em que as oportunidades de controlo da cabeça do incêndio são bastante limitadas (ver Anexo 1).

ƒ 2. A tabela ignora que a capacidade de supressão dos meios de

combate é limitada pelo comportamento do fogo e pressupõe que o ataque directo à cabeça do incêndio é efectivo e seguro em incêndios de elevada intensidade, nomeadamente quanto a sua velocidade excede 700 m/h. Tal não é o caso, pelo que a linha “Ataque na cabeça do incêndio” não deveria ser preenchida nessas situações.

ƒ 3. A tabela subestima (“sob reserva” e “interdito”) a possibilidade de

conduzir operações de fogo táctico nas situações extremas.

ƒ 4. A regra empírica velocidade do fogo = 3% da velocidade do vento (em

unidades de km/h) constitui uma aproximação grosseira que é útil somente em matos altos (>1,5 m) ou fogo de copas em floresta e quando a humidade do combustível é inferior a 5%. Com base em simulação do comportamento do fogo seria possível derivar factores de ajustamento para diferentes tipos de vegetação.

Tal como já referido, o uso de simuladores do comportamento do fogo, em tempo real ou para elaborar tabelas para situações específicas, conduziria a um planeamento mais efectivo e rigoroso dos meios a afectar ao incêndio. Esta melhoria não é porém favorecida pelo generalizadamente reduzido nível de formação e conhecimento em comportamento do fogo.

5. Número de ocorrências e ataque ampliado

As análises comparativas anteriores procuraram isolar o efeito das condições meteorológicas, cuja variação inter-anual explica em Portugal cerca de 80% da variação na área ardida (Pereira et al. 2003)3.

3 Pereira, M.G., R. M. Trigo, C. C. Câmara, J. M. C. Pereira, S. M. Leite. 2003. Synoptic patterns

associated with large summer forest fires in Portugal. Agriculture and Forest Meteorology 129, 11-25.

(43)

Além do efeito do combate ampliado, os resultados espelham porém a conjugação dos esforços de prevenção de ignições, gestão de combustíveis, vigilância, detecção e primeira intervenção, bem como da topografia. O número de ocorrências de fogo pode indirectamente pesar bastante no desempenho do ataque ampliado, através da influência que tem nos recursos disponíveis para o combate.

O índice FFMC constitui o indicador mais adequado da facilidade de ignição. Convertendo-o no teor de humidade do combustível morto e fino à superfície verifica-se que está fortemente (e negativamente) associado ao nº de ignições registadas em 2007 (Figura 6). Por não ter sido disponibilizada em tempo útil a informação relativamente ao FFMC para 2000-06 recorreu-se ao índice FWI, ajustando-se para este período a curva que consta da Figura 7. A Figura 7 sugere que para um determinado nível de perigo meteorológico, especialmente em condições mais severas, o nº de fogos foi em 2007 substancialmente inferior.

Figura 6. Associação entre o nº de ocorrências e a humidade do combustível morto à superfície (estimada a partir do FFMC) no período de 15 de Maio a 15 de Outubro de 2007.

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Figura 7. Relação entre o número diário de ocorrências e o índice de perigo FWI no período de 15 de Maio a 15 de Outubro para o período 2000-2007. Os fogos

de 2007 estão a verde. A curva y=0,816 x1,595 relaciona as duas variáveis no período

2000-2006.

Em 2007 (15 Maio – 15 Outubro) o número de ignições diminui 59,3% face à média de 2000-06. Após retirar o efeito da meteorologia (que a equação na legenda da Figura 7 exprime), constata-se da Figura 8 que o número de fogos em 2004-2007 se reduziu bastante em comparação com 2000-2003. Em 2007 o número de ocorrências ajustado para as condições meteorológicas baixou 45,5% relativamente a 2000-2006. É lícito considerar que esta diminuição afectou positivamente o desempenho do ataque ampliado, apesar de não ser possível quantificar o respectivo efeito.

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Protocolo ANPC/UTAD Relatório final Figura 8. Número médio diário de ocorrências de fogo em 2000-2007: valores

registados, estimados (y=0,816 FWI1,595) e desvio face às estimativas.

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6. Equipas de Monitorização de Incêndios Florestais em ataque

ampliado

De acordo com o previsto no protocolo, o accionamento dessas equipas foi sempre efectuado por indicação ou com conhecimento prévio do CNOS. Em alguns dos casos a chegada ao TO das equipas MIF ocorreu após a extinção do incêndio, não sendo possível acompanhar a montagem do dispositivo de combate.

Por definição, um grande incêndio florestal é aquele cuja área ardida é igual ou superior a 100 ha. Verificou-se que a determinação da área afectada não segue um procedimento padrão. O momento em que é determinada, a realização de cartografia, a entidade responsável ou a precisão com que é realizada variam entre ocorrências. Tal origina que alguns incêndios não são inicialmente contabilizados nesta classe ou perdem essa classificação em relatórios posteriores (p.e. relatórios DGRF de 15 de Setembro e de 30 de Setembro).

A elaboração de Relatórios Especiais de Incêndio Florestal (REIF), previsto para “realizar no prazo máximo de 8 dias úteis após o fim da operação”, nem sempre ocorre neste período e em todos as ocorrências onde a área excedeu os 100 ha. Por vezes porque ao incêndio foi atribuída erradamente área inferior.

No período entre 1 de Julho e 30 de Setembro, de acordo com dados da DGRF, ocorreram 20 incêndios com área igual ou superior a 100 ha. Destas ocorrências, as do mês de Julho (sete no total) tiveram a particularidade de se localizarem todas a sul do Tejo, contrariando o padrão histórico dos grandes incêndios.

A actividade das equipas MIF durante o mês de Agosto decorreu essencialmente na zona Centro. Neste período verificou uma rápida resposta dos meios de combate ao aparecimento de ocorrências, o que origina que as equipa MIF encontrassem, à chegada, a maioria dos incêndios em fase de rescaldo ou mesmo extintos. De forma a acompanhar a tendência de localização das ocorrências, as equipas foram deslocadas no final do mês para o Centro-Sul, passando a equipa MIF Norte para Viseu/Guarda e a equipa MIF Centro para

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Abrantes/Constância. Neste mês as equipas MIF visitaram 9 incêndios. Dos incêndios visitados 3 tiveram área ardida superior a 100 ha.

Quadro 4. Lista das ocorrências onde as equipas MIF estiveram presentes.

Concelho Local Data

Mértola Fernandes 05-Jul

Santiago do Cacém Vale de Água (Chaparralão) 11-Jul

Mértola Mesquita 29-Jul

Sever do Vouga Pecegueiro 03-Ago

Cantanhede Marvão 04-Ago

Tabuaço Granja do Têdo/Pinheiros 08-Ago

Mirandela Mourel 14-Ago

Tomar Sabacheira 20-Ago

Sardoal Sardoal 21-Ago

Guarda Guilhafonso 22-Ago

Cinfães Pinheiros 24-Ago

Pampilhosa da Serra Pampilhosa da Serra 24-Ago

Góis Vila Nova do Ceira 01-Set

Leiria Colmeias (Lagares) 05-Set

Boticas Sapelos 05-Set

Gouveia Vila Franca da Serra 06-Set

Cinfães Vilar de Arca 06-Set

Pombal Pelariga (Pousadas Vedras) 06-Set

Terras do Bouro Valdosende 07-Set

Gondomar Mêdas 07-Set

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A primeira quinzena do mês de Setembro apresenta a ocorrência de sete grandes incêndios entre os dias 2 e 7. As equipas MIF estiveram nesta semana presentes em três destes incêndios, tendo-se deslocado a um total de 8 incêndios.

6.1. Funcionamento do Posto de Comando Operacional (PCO)

Não ficou claro em todas as ocorrências o momento de passagem a ataque ampliado. Pareceu ser aceite pelos intervenientes no combate que este momento ocorre quando se dá a montagem do PCO. No entanto verifica-se a falta de normalização de procedimentos e a definição clara das condições em que se determina a entrada em funcionamento do PCO, e consequentemente a passagem a ataque ampliado.

Verifica-se que em alguns casos a montagem do PCO ocorre relativamente tarde no desenrolar do incêndio (Figura 9), e é geralmente a partir da iniciativa do CODIS, quando presente no TO, que o VCOC é mobilizado. Devem ser confirmados os procedimentos para a mobilização do VCOC e tempo que decorre entre a activação e a entrada em funcionamento no TO, que por vezes não se verifica com a necessária rapidez na disponibilização deste meio.

1 - 2 14% 3 - 4 50% 5 - 6 9% 7 - 8 18% 9 - 12 9%

Figura 9. Início de funcionamento do PCO (horas após 1.º alerta).

(49)

Nem sempre se encontra nas comunicações registo do momento em que o PCO foi montado, sendo a indicação fornecida após solicitação do CNOS sobre a hora e a posição do PCO. Não há registo do momento em que se dá a mudança de COS.

No Quadro 5 apresentam-se as estatísticas relativas aos elementos respeitantes à montagem do posto de comando (PCO) e aos meios (veículos e guarnição) existentes no teatro de operações quando se dá a montagem do PCO (horaPCO), quando o fogo é dado como circunscrito (horaCirc) e o total de meios (tot) despachados para a ocorrência.

Quadro 5. Momento de montagem do PCO, meios (absolutos, em % do total, por ha) presentes quando o PCO é estabelecido, quando o fogo é circunscrito (Circ) e totais (tot), para 22 incêndios ocorridos em Portugal de Julho a Setembro de 2007. G=guarnição; V=veículos.

Parâmetro Média Mediana Intervalo

Montagem do PCO, horas desde início do fogo

5,0 4,0 2 – 12 G_horaPCO 140 127 51 - 255 V_horaPCO 41 40 13 - 71 % meios_horaPCO 59,5 57,2 26 – 100 G_horaCirc 176 43 43 - 508 V_horaCirc 50 41 10 - 149 % meios_horaCirc 81 85 47 - 100 G_tot 219 180 43 - 577 V_tot 62 53 10 - 172 G_horaCirc / ha 34 26 8 - 108 V_horaCirc / ha 10 7 2 - 28 G_tot / ha 42 34 8 - 116 V_tot / ha 12 10 2 - 32

(50)

Não se verificou a existência de qualquer relação entre a superfície ardida, em valor absoluto ou por unidade de tempo, e a quantidade de meios empregues, mesmo exprimindo os veículos e a guarnição por unidade de área (por ha). Da mesma forma não parece haver uma relação da área ardida com os elementos relativos ao PCO, CODIS e GRIF.

Nos incêndios visitados pelas equipas de campo nem sempre se encontrou o PCO em funcionamento. Para incêndios com a mesma tipologia (duração, meios envolvidos, área ardida …) o modo de procedimento relativamente ao momento de montagem do PCO difere. Em alguns casos o planeamento do combate não existia, e a organização de informação no registo SITAC era variável ou inexistente.

Verifica-se que quando a activação do PCO ocorre após as duas primeiras horas, os meios presentes no TO (Figura 10) constituem mais de metade do total de meios presentes no combate até final. Esta percentagem corresponde na maioria dos casos a valores de 100 a 200 efectivos. Nos casos em que a activação do PCO se dá mais oito horas após o início da ocorrência, o número de efectivos no TO é mais reduzido, menos de 100, o que pode justificar a decisão tardia para montagem do PCO.

(51)

44,0

57,3 58,5

77,4

59,9

1-2 3-4 5-6 7-8 9-12

Horas após início do incêndio

Figura 10. Média da percentagem do total de efectivos presentes no TO no momento de activação do PCO.

Nos casos onde se verificou o funcionamento do PCO, a complexidade da sua organização foi variável (Figura 11), evidenciando uma adaptação à complexidade da ocorrência. A criação das posições de adjuntos ao COS ocorreu em 43% dos casos observados e de Células especificas para o Planeamento, Combate ou Logística em 57% dos casos.

(52)

No entanto em alguns dos casos onde esta função não foi atribuída não pareceu ser necessária a sua criação. Também é variável o recurso a instrumentos de apoio à decisão e planeamento, que nos parecem essenciais para uma correcta condução das operações de combate ampliado, caso da implementação de SITAC (96%), apoio SIG (71%) e meteorológico (71%), apoio aos meios aéreos (57%), que em alguns casos é acumulado pelo COS, e criação de ZCR (71%). 100 86 86 71 71 71 57 57 43 43 SE C T ORES SITAC APO IO GAUF APOIO SIG A P OI O M E T E O ZCR APO IO MA c m d CÉLULAS cm d A D J U NTO S PLANO CF

Figura 11. Organização do PCO. Percentagem de Casos Identificados

Num único caso (Sever do Vouga) foi possível verificar que antes da chegada do VCOC ao TO, uma primeira viatura de comando iniciava o registo da chegada de meios e seu posicionamento no TO. Este procedimento anterior à existência física do VCOC no PCO permitiu a transferência de informação, proporcionando um planeamento continuado das operações.

(53)

Em muitos outros casos existiu alguma dificuldade, no momento de montagem do PCO, em conhecer a localização/posicionamento dos meios que já se encontravam no TO. Esta situação foi apontada por alguns COS como um contratempo na organização das operações de combate ampliado, sendo assinalada alguma dificuldade em conseguir a informação sobre posicionamento dos meios, para poder dar início ao planeamento do combate.

Mesmo em TO onde não se verificou a presença e funcionamento do PCO, o combate foi organizado por sectores. Este procedimento evidencia alguma complexidade do incêndio, sendo demonstrativo da não existência de critérios homogéneos no modo como se determina o funcionamento de PCO.

Tal variabilidade de procedimentos evidencia a necessidade de estabelecer normas de procedimento nos critérios que determinam a criação do PCO.

A localização dos veículos na ZCR, em plena faixa de rodagem e sem a devida sinalização, é um aspecto menos positivo a assinalar, assim como o cuidado na condução. Este aspecto foi recorrente nos TO. Quando não existe alternativa para o posicionamento e concentração de veículos nos TO, tendo estes que ocupar a via de circulação, o seu posicionamento deveria ser identificado, e acautelada a circulação de veículos civis. A condução com velocidade excessiva, quando a situação de emergência está perfeitamente ultrapassada, é evidente em alguns casos e deverá ser acautelada com recurso a formação de condutores.

Referências

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