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DO RECURSO À INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ EM PORTUGAL: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA

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DO RECURSO À INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ EM PORTUGAL: UMA

ANÁLISE EXPLORATÓRIA

Maria Isabel Baptista (ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa) Resumo

Este artigo é um exercício analítico em torno da evolução do recurso à interrupção voluntária da gravidez, em Portugal, nos últimos quatro anos. A nossa proposta vai no sentido de uma abordagem do fenómeno na perspetiva da regulação da fecundidade. Para tal apoiámo-nos na informação fornecida pelos relatórios da Direcção-Geral da Saúde sobre a interrupção da gravidez em Portugal, desde 15 de Julho de 2007 a 31 de Dezembro de 2011.

Palavras-chave: Interrupção voluntária da gravidez, fecundidade, intensidade da IVG, calendário da IVG, Portugal.

Abstract

This article is an analytical exercise of a major trend about the termination of pregnancy in Portugal in the last four years. Our approach considers such a trend from the perspective of fertility regulation. For this purpose we rely on the data provided by the reports of the Directorate-General of Health about the induced abortion in Portugal from the 15th of July 2007 to the 31st of December 2011.

Keywords: Induced abortion, fertility, total induced abortion rate, mean age at induced abortion, Portugal. Introdução

No Despacho da Secretaria de Estado da Saúde que em 16 de Março de 1976 introduziu as consultas de planeamento familiar na valência de saúde materna dos centros de saúde da Direção-Geral da Saúde (DGS), o acesso aos métodos contracetivos surgia como uma urgência na saúde em Portugal. Isto, sobretudo, pela sua ação preventiva contra o aborto.

Decorridos 31 anos, em 2007, a questão da saúde da mulher surge, mais uma vez, com alguma centralidade na argumentação (Santos et al., 2010) que levará a referendo, pela segunda vez10, a exclusão de ilicitude na interrupção da gravidez por opção da mulher. Quer isto dizer que, apesar da existência de um contexto marcado pela generalização do acesso e do recurso a métodos contracetivos de elevada eficácia (INE & INSA, 2007), o recurso ao aborto não se extinguiu, mantendo-se, devido à sua natureza insegura e clandestina, uma ameaça para a saúde das mulheres.

Na continuidade da vitória do SIM, no referendo de Fevereiro de 2007, a interrupção da gravidez por opção da mulher é despenalizada. Consequentemente, o aborto pode finalmente passar a ser em Portugal um procedimento mais seguro para a mulher, mesmo permanecendo uma prática recorrente no universo das mulheres em idade fértil. Uma permanência que, na atualidade, se apresenta, aparentemente como paradoxal, 10 O primeiro referendo foi em 1998, o NÃO ganhou (51%), e o segundo foi em 2007, o SIM ganhou (59,3%).

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em coexistência com a prevalência de métodos contracetivos de elevada eficácia e com a fecundidade a níveis que não garantem a substituição das gerações desde 198211.

De facto, em Portugal, o processo de transição das práticas contracetivas, no sentido da contraceção moderna, foi acompanhado pelo acentuar da queda da fecundidade (INE, 1980; 2001). Algo que é traduzido pela evolução do indicador conjuntural de fecundidade (ICF)12, que de 1976 a 2010, passa de 2,81 para 1,37 filhos em média por mulher (Dados do INE).

A premissa primeira de que parte este artigo é de que o recurso à interrupção voluntária da gravidez não só não evolui “contra a corrente”, como se articula com o comportamento da fecundidade. É nesta medida que nos propomos, a partir de uma análise dos relatórios anuais sobre a interrupção da gravidez, divulgados pela Divisão de Saúde Reprodutiva da DGS desde 2007, a apreender algumas das características que definem o recurso à IVG em Portugal.

Evolução da IVG – Comportamento global

Em Portugal, na sequência da entrada em vigor da portaria n.º741-A/2007 de 21 de Junho e ao abrigo da Lei n.º 16/2007, de 17 de Abril, a interrupção da gravidez por opção da mulher passou a poder ser efetuada até às 10 semanas, por médico, ou sob a sua direção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido. Neste âmbito, todas as interrupções da gravidez com enquadramento legal passaram a ser de declaração obrigatória à DGS, através do registo de interrupção da gravidez. Esse registo incide sobre a mulher que recorre à interrupção da gravidez e sobre a intervenção praticada. É com base no conjunto desses registos que são produzidos os relatórios anuais sobre o recurso à interrupção da gravidez.

No caso particular da interrupção da gravidez por opção da mulher, ou da denominada Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), tratando-se dos primeiros anos do efeito da lei, não se pode deixar de colocar a hipótese de que a informação disponibilizada por esses relatórios não dê conta da real incidência do fenómeno. Isto porque não sabemos até que ponto a via clandestina continua a concorrer com a via legal. E, por outro lado, também não sabemos se efetivamente todos os registos dos episódios de IVG são registados e se são bem registados. De qualquer modo, a hipótese que colocamos é a de que os volumes assumirão uma tendência para crescer durante estes primeiros anos (2011 é o quarto ano completo de funcionamento em pleno dos serviços), mesmo que o recurso à IVG se mantenha estável. Pois os valores deverão ser fortemente tributários do aumento do número de mulheres que passarão a recorrer à IVG dentro da lei.

Tabela 1 - IVG de 2007*– 2011**

IVG 2007 2008 2009 2010 2011 2007-11

Total 6107 18014 19222 19560 19802 82705

2008-09 2009-10 2010-11 2008-11

Variação 6,71% 1,76% 1,24% 9,93%

Fonte: DGS: Relatórios da IG 2007- 2011. * Período de 15Jul a 31Dez. ** Relatório de Abril de 2012 (não revisto).

11 Em 1982, o Índice Sintético de Fecundidade (ISF) situou-se, pela primeira vez, em Portugal, abaixo dos 2,1 filhos por

mulher: 2,08 (Dados do INE).

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Com efeito, a evolução dos valores absolutos dá-nos conta de que o número de IVGs tem vindo sempre a aumentar (Tabela 1). Contudo, através da variação dos valores ao longo do período e, excluindo o que ocorre na passagem de 2008 para 2009, percebemos que esse crescimento tem assumido uma expressividade inferior a 2%, com tendência para reduzir. O que se traduz numa média de 19149,5 abortos por ano, no período de 2008 a 2011.

Taxas Globais de IVG geral

Relativamente à frequência desta prática na população, e porque só podem abortar mulheres que estejam em idade de conceber, a mesma só poderá ser avaliada por referência à população feminina em idade fértil. Neste sentido, medimos a frequência da IVG no conjunto da população feminina dos 15 aos 49 anos, através do cálculo de uma taxa global de IVG geral.

Tabela 2 - Taxas Globais de IVG Geral (‰) e variações (%), de 2008-201113

2008 2009 2010 2011

TGIVGG 6,96 7,48 7,67 7,88

2008 2009 2010 2011

Variações 7,44 2,61 2,76

Fonte: DGS- Relatórios da IG 2008-2011; INE-Estimativas da pop. média feminina 2008-2010; Pop. feminina do recenseamento de 2011.

Confirma-se que a frequência da IVG assume ao longo do período em estudo uma tendência para aumentar, passando, de 2008 a 2011, de 6,96 para 7,88 IVGs anuais por mil mulheres em idade de procriar (Tabela 2). Como se pode verificar através da variação das taxas, o maior aumento é de 2008 para 2009, após o que é dada a observar uma clara desaceleração. No entanto, o acréscimo que se observa em 2011 é maior do que o observado em 2010.

Evolução da IVG – Comportamento por classes etárias

O número de IVGs numa categoria etária de mulheres não depende só da frequência do recurso ao aborto nessa categoria, mas também da importância desse grupo na população. O cálculo de taxas de IVG por idades permite dar conta dessa questão.

Podemos observar que as taxas de recurso à IVG aumentam com a idade da mulher até atingir um máximo aos 20-24 anos e de seguida decrescem até atingirem um mínimo aos 50-54 anos (Fig. 1). É de realçar que não só os 20-24 anos constitui a classe etária onde o recurso à IVG assume maior expressão, como também é aí que se regista o maior crescimento ao longo do período em análise.

Figura 1 - Taxas de IVG geral de 2008-2011 (‰)

13 Excluiu-se o ano de 2007 porque a informação não se refere a um período anual. No cálculo dos indicadores, a população

feminina de referência para 2011 foi a censitária, assumindo-se que esta seria a população a meio do período. Partiu-se do princípio que entre a data do recenseamento e 1 de Julho não houve alterações significativas na população.

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Fonte: DGS, Relatórios da IG 2008-2011.;INE, Estimativas da pop. média feminina 2008-2010; Pop. feminina do recenseamento de 2011.

Podemos observar que as taxas de recurso à IVG aumentam com a idade da mulher até atingir um máximo aos 20-24 anos e de seguida decrescem até atingirem um mínimo aos 50-54 anos (Figura 1). É de realçar que não só os 20-24 anos constitui a classe etária onde o recurso à IVG assume maior expressão, como também é aí que se regista o maior crescimento ao longo do período em análise.

Por outro lado, a classe etária dos 15-19 anos apresenta ao longo do período uma frequência do recurso à IVG sempre maior do que a referida à classe etária dos 35-39 anos (Quadro 3).

Finalmente, se excluirmos as menores de 15 anos e as mulheres pertencentes às classes etárias do final da carreira reprodutiva (dos 45 aos 54 anos), observamos que dos 20 aos 39 anos, a frequência é sempre crescente até 2011. Quanto às classes etárias dos 15-19 anos e dos 40-44 anos, estas assumem alguma particularidade no seu comportamento, na medida em que as suas taxas de IVG decrescem na passagem de 2010 para 2011 (Tabela 3).

Ora, sabendo-se que o recurso à IVG é largamente tributário da gravidez imprevista (Régnier-Loilier & Leridon, 2007), coloca-se a hipótese de que esta ocorra em todas as idades, mas com maior frequência entre os 15 e os 34 anos. Sendo que é no intervalo etário dos 20 aos 24 anos que se poderão encontrar as mulheres mais expostas ao risco da gravidez imprevista ou menos tolerantes perante a sua ocorrência. Porquanto, o recurso à IVG, por via da gravidez imprevista, prende-se, na actualidade, não só com a gestão contracetiva do percurso sexual, mas também com o planeamento do percurso procriativo (Almeida, 2004).

Relativamente à gestão contracetiva da parte das mulheres que recorrem à IVG (no momento da ocorrência da gravidez que esteve na origem da IVG), os relatórios nada referem. Mas quanto à influência de uma norma procriativa, podemos de forma indirecta apreender alguns sentidos que nos ajudem a consubstanciar a formulação da nossa hipótese comparando, para o mesmo período, o comportamento da IVG com o da fecundidade.

Na comparação das taxas de IVG geral com as taxas de fecundidade geral, para o período de 2008-2011, percebe-se que a maior frequência da fecundidade ocorre numa classe etária mais tardia do que aquela onde a prática da IVG é mais frequente (Tabela 3). Esta acentuação mais tardia sai reforçada pela tendência para subir que a fecundidade regista nas classes etárias dos 35-39 anos e dos 40-44 anos. Ao que tudo indica, estamos perante um adiamento da fecundidade que vai afetando sobretudo as idades dos 20 aos 29 anos. Idades onde se concentra a maior frequência da IVG.

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Taxas de Fecundidade geral Taxas de IVG geral Idades

completas 2008 2009 2010 2011 Idadescompletas 2008 2009 2010 2011

10-14 0,29 0,24 0,21 0,21 10-14 0,37 0,49 0,38 0,30 15-19 16,18 15,53 14,71 13,02 15-19 7,35 8,07 8,21 8,07 20-24 45,90 43,78 44,36 40,49 20-24 12,32 13,80 14,47 15,50 25-29 76,74 72,73 74,70 74,31 25-29 10,72 11,57 12,04 13,01 30-34 85,76 82,48 85,58 85,50 30-34 9,20 9,68 9,77 10,30 35-39 42,03 41,59 44,21 45,57 35-39 6,73 7,18 7,56 7,74 40-44 7,84 8,03 9,10 9,30 40-44 2,96 3,09 3,19 3,09 45-49 0,43 0,46 0,47 0,42 45-49 0,28 0,32 0,31 0,28 50-54 0,01 0,01 0,04 0,003 50-54 0,00 0,01 0,01 0,01 Fonte: INE - taxas de fecundidade geral 2008-2010; pop. feminina do recenseamento de 2011; nados-vivos 2011; estimativas da pop. média feminina 2008-2010. DGS - Relatórios da IG 2008-2011.

Quanto ao comportamento da IVG nas classes etárias dos 15-19 anos e dos 40-44 anos (cujas frequências reduziram de 2010 para 2011), a hipótese que aqui se reforça é a de que estaremos perante o efeito de factores diferentes. Se na classe etária mais tardia se pode remeter para o efeito deste adiamento da fecundidade, na classe etária mais precoce poderá remeter-se para melhorias ao nível da gestão contraceptiva da sexualidade. Todavia, como já foi referido anteriormente faltam-nos dados para abordar esta última dimensão.

Figura 2 - Taxas de Fecundidade e de IVG geral de 2008-2011 (‰)

Neste gráfico (Figura 2) pode observar-se que o maior pico da frequência da IVG antecede claramente o maior pico da frequência da fecundidade. E esta relação entre o comportamento da fecundidade e a prática da IVG torna-se ainda mais evidente na observação do gráfico seguinte (Figura. 3). Trata-se de um gráfico onde se vizualiza o rácio entre o número de IVG por classes etárias das mulheres e o número de nados vivos por classes etárias das mães14.

Figura 3 – Relação entre IVG e nados-vivos (%)

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Fonte: DGS, Relatórios da IG 2008-2011; INE, Nados-vivos 2008-2011.

Como se pode observar é na classe etária dos 30-34 anos que o número de IVGs por 100 nados vivos é menor. Deste modo, o comportamento da IVG para as idades entre os 20 e os 29 anos parece ser largamente tributário da gestão que as mulheres fazem do seu percurso procriativo. A mesma justificação também serve para o comportamento da IVG na classe etária dos 35-39 anos, mas no sentido inverso. Nesta classe etária, de 2010 para 2011, o peso da IVG por nados-vivos reduz, ficando abaixo do verificado para a classe etária dos 25-29 anos. Isto acontece porque, dado o adiamento nas idades mais jovens, as mulheres de idade superior a 35 anos assumem cada vez mais protagonismo na fecundidade.

Da observação do comportamento das duas últimas classes etárias (Figura 3) é percetível que, apesar de o aborto continuar a ter um forte papel na regularização do final da carreira reprodutiva (cf. INE, 2001), na relação entre o número de abortos e o número de nados-vivos, as IVGs perdem peso face aos nascimentos. Resultado que também aponta para o alongamento da carreira reprodutiva para idades mais tardias e, que está de acordo com o que ocorre nas idades mais jovens, onde a tendência é inversa (as IVGs ganham peso face aos nascimentos).

Evolução da IVG – Intensidade e calendário

Na medida em que estamos a falar em adiamento, comecemos por observar os valores do calendário.

Tabela 4 – Idade Média da mulher à IVG, Idade Média da mulher ao nascimento de um filho e Idade Média da mulher ao nascimento do 1º filho de 2008-2011

2008 2009 2010 2011

IMIVG 28,071 27,933 27,931 27,890

IMNF 30,2 30,3 30,6 30,9

IMN1ºF 28,4 28,6 28,9 29,2

Fonte: DGS: Relatórios da IG 2008-2011.; INE: Estimativas da pop. média feminina 2008-2010; Pop. feminina do Recenseamento de 2011; Idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho 2008-2011; Idade média da mãe ao nascimento de um filho 2008-2011.

A idade média no recurso à IVG antecede, ao longo de todo o período em estudo, em cerca de dois anos, a idade média ao nascimento de um filho (tabela 4). Percebendo-se que a primeira assume uma tendência para descer e a segunda uma tendência para subir. O mesmo se observa relativamente à comparação com a idade

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média ao nascimento do primeiro filho,apesar de estarem muito próximas em 2008, começam a distanciar-se ao longo do período.

A tendência será para se praticar uma IVG mais cedo e a iniciar-se o percurso procriativo mais tarde. Nesta perspectiva, o recurso à IVG apresenta-se como um indicador das dificuldades que as mulheres encontram em regular a sua fecundidade no âmbito de um percurso sexual não procriativo, que é suposto ser cada vez mais longo. Tanto mais que, a idade média à primeira relação sexual no feminino ronda os 17 anos (Ferreira, 2012). Pelo que não será de admirar que a intensidade do recurso à IVG, não só não decaia como possa aumentar.

Tabela 5 – Indicador Conjuntural de IVG, de 2008-2011

2008 2009 2010 2011

ICIVG 0,25 0,27 0,28 0,29

Fonte: DGS: Relatórios da IG 2008-2011; INE: Estimativas da pop. média feminina 2008-2010; Pop. feminina do Recenseamento de 2011;

Com efeito, essa é a tendência que na actualidade se desenha, na medida em que o indicador conjuntural de IVG15 passou de 0,25 abortos em média por mulher em 2008, para 0,29 abortos em média por mulher em 2011 (Tabela 5).

Na continuidade da leitura dos indicadores de calendário e intensidade, podemos colocar como hipótese que os valores que a intensidade da IVG assume, de 2008 a 2011, se devem a um maior recurso à IVG, sobretudo por parte de mulheres sem filhos.

Com efeito, se observarmos os dados que são disponibilizados nos relatórios, onde se cruza (em números absolutos e percentagens) o recurso à IVG e o número de filhos da mulher, podemos verificar que, de 2008 a 2011, são as mulheres sem filhos aquelas que mais recorrem à IVG (Tabela 6).

Tabela 6 – IVG por número de filhos da mulher, de 2008-2011

Nº Filhos 2008 % 2009 % 2010 % 2011 % 0 7144 39,66 7651 39,80 7760 39,67 7923 40,01 1 5195 28,84 5614 29,21 5687 29,07 5831 29,45 2 4173 23,17 4330 22,53 4462 22,81 4423 22,34 3 1087 6,03 1171 6,09 1211 6,19 1181 5,96 4 278 1,54 316 1,64 320 1,64 308 1,56 5 90 0,50 95 0,49 79 0,40 91 0,46 6 32 0,18 28 0,15 30 0,15 24 0,12 7 8 0,04 10 0,05 6 0,03 10 0,05 8 3 0,02 5 0,03 2 0,01 4 0,02 9 1 0,01 2 0,01 2 0,01 4 0,02 10 e + 3 0,03 0 0,00 1 0,01 3 0,02

156 A intensidade da IVG é a frequência total das IVGs que ocorrem numa coorte ou população feminina ao longo da carreira reprodutiva (15-49 anos). No âmbito de uma análise transversal, a frequência total é medida pelo número médio de IVGs por mulher, designado por Indicador Conjuntural de IVG (cf. Peixoto, 1993) ou, se seguirmos a terminologia do INE, definido como Índice Sintético de IVG.

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Totais 18012 100,00 19222 100,00 19560 100,00 19802 100,00 Fonte: DGS: relatórios da IG 2008-2011

Estes dados estão de acordo com a hipótese de que o recurso à IVG se prende em parte com o esforço por parte das mulheres em manter, sobretudo, o adiamento do momento de procriar o primeiro filho (cf. Oliveira, 2008). Contudo, também revelam o recurso à IVG por parte de mulheres com um ou dois filhos. O que remete para as dificuldades que estas também experimentam em regular a sua fecundidade, no sentido de espaçar os nascimentos ou limitar o número de filhos.

Considerações finais

O número de episódios de IVG em Portugal, sob enquadramento legal, tem assumido uma tendência para estabilizar por via de acréscimos inferiores a 2%. Importa, no entanto, aqui salientar o protagonismo das mulheres pertencentes sobretudo às classes etárias dos 20 aos 29 anos e, entre estas, das mulheres sem filhos. Um protagonismo que surge fortemente associado à tendência para o adiamento do momento de procriar. Olhando para a queda dos valores da fecundidade, conseguimos deduzir o efeito que a generalização da contraceção moderna teve também na redução da gravidez imprevista e, por aí, no recurso ao aborto por parte das mulheres em Portugal. Todavia, a ligação entre a prática contracetiva e o recurso à prática abortiva é complexa. Antes de mais o recurso à IVG deve ser entendido enquanto um processo resultante de uma sucessão de vários acontecimentos (Bajos & Ferrand, 2006).

Primeiro, é preciso que a mulher tenha relações sexuais sem querer engravidar, e que nesse âmbito não utilize nenhum método contracetivo, ou ocorra uma falha na eficácia do método que utiliza. Depois, face a uma gravidez imprevista que ela opte antes por interrompê-la em vez de prossegui-la. E finalmente, após a decisão de interromper a gravidez é preciso que aceda, dentro das condições e do tempo permitido por lei, ao ato de IVG.

Numa tal sucessão de acontecimentos são diversos os fatores que determinam o recurso à IVG por parte de uma mulher. E pelo exercício que aqui fizemos, a apreensão deste fenómeno passa obrigatoriamente pela apreensão do lugar que esta prática ocupa no sistema atual de regulação da fecundidade por via da ocorrência, sempre possível, de uma gravidez que não se espera e que não se deseja. Uma gravidez cuja interrupção surge como possibilidade de regularização de um projeto reprodutivo existente.

Bibliografia

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Referências

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