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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA JOSÉ NOVAIS DE JESUS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

JOSÉ NOVAIS DE JESUS

A MONOPOLIZAÇÃO DA RENDA DA TERRA E OS CONFLITOS AGRÁRIOS NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA

GOIÂNIA 2020

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JOSÉ NOVAIS DE JESUS

A MONOPOLIZAÇÃO DA RENDA DA TERRA E OS CONFLITOS AGRÁRIOS NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), como requisito para obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de Concentração: Natureza e Produção do Espaço

Linha de Pesquisa: Dinâmica Socioespacial Orientador: Professor Doutor Manoel Calaça

GOIÂNIA 2020

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Jesus, José Novais de.

A monopolização da renda da terra e os conflitos agrários na fronteira agrícola do MATOPIBA [manuscrito] / José Novais de Jesus. - 2020.

CDXCVI, 496 f.

Orientador: Prof. Dr. Manoel Calaça.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Goiânia, 2020.

Bibliografia. Apêndice.

Inclui siglas, mapas, fotografias, gráfico, lista de tabelas.

1. Cerrado. 2. MATOPIBA. 3. Território. 4. Conflitos. 5. Violência. I. , Manoel Calaça, orient. II. Título.

CDU 911

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através

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JOSÉ NOVAIS DE JESUS

A MONOPOLIZAÇÃO DA RENDA DA TERRA E OS CONFLITOS AGRÁRIOS NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA

Tese defendida e aprovada dia 03 de Novembro de 2020 pela Banca examinadora constituída pelos professores: Orientador Dr. MANOEL CALAÇA IESA/UFG Presidente da Banca

Dr. Eguimar Felício Chaveiro

Instituto de Estudos Socioambientais - IESA/UFG Membro

Dra. Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira Instituto de Estudos Socioambientais - IESA/UFG

Membro

Dr. Elizeu Ribeiro Lira

Universidade Federal do Tocantins/UFT Membro Externo

Dra. Guiomar Inez Germani Universidade Federal da Bahia/UFBA

Membro Externo

Dr. Ronan Eustáquio Borges

Instituto de Estudos Socioambientais - IESA/UFG Suplente

Dra. Maria Erlan Inocêncio

Universidade Estadual de Goiás/Unidade Ipameri Suplente

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Aos meus pais, Maurílio Pereira de Jesus; Maria Ribeiro de Novais; A minha companheira Maria Alessandra Augusto de Souza, pela paciência e apoio;

Aos camponeses posseiros que lutam para permanecerem na TERRA e aos trabalhadores sem-terra que incansavelmente lutam pela Reforma Agrária e o fim latifúndio brasileiro.

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AGRADECIMENTOS

Para a construção deste trabalho, durante a minha caminhada acadêmica, eu pude contar com a participação individual e coletiva de várias pessoas que, de forma direta e indireta, os quais deram valiosas contribuições para que eu pudesse desenvolver a pesquisa. Quero agradecer imensamente às lideranças dos sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras; aos agentes da Comissão Pastoral da Terra, às lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, aos representantes das associações de fundo e fecho de pasto do oeste baiano, aos camponeses posseiros por terem me proporcionado conhecer a realidade, um laboratório a ser interpretado para compreender as contradições das faces obscuras do que de fato ocorre no seio dos territórios das famílias camponesas.

Agradeço à banca de qualificação, ao professor Dr. Adriano Rodrigues de Oliveira e à professora Dra. Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira, pelas contribuições, provocações oriundas da reflexão que ajudaram na construção e reconstrução dos caminhos a serem trilhados para a condução da pesquisa.

E todos aqueles colegas que, de uma forma ou de outra, também contribuíram para a pesquisa.

Em especial ao Prof. Dr. Manoel Calaça, pelo acompanhamento nas andanças pelos Cerrado e Gerais, visitando as comunidades camponesas nos municípios de Correntina (BA), Currais e Bom Jesus da Gurgueia (PI), Balsas e Riachão (MA) e Porto Nacional (TO), que além de orientador para a construção da pesquisa se tornou um amigo.

Agradeço, também, a todos os entrevistados/as que dedicaram o seu precioso tempo durante os trabalhos de campo para coleta de dados e informações relevantes para a interpretação da realidade estudada, bem como os sujeitos sociais envolvidos no processo de luta e de resistência, todos militantes dos movimentos de luta pela terra.

A todos colaboradores e servidores do IESA - UFG.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), pela concessão da bolsa de estudo, que foi fundamental para a realização da pesquisa teórica e a empírica, em especial para a concretização dos trabalhos de campo no Centro-Norte do Brasil.

Por fim, agradeço de forma especial a todos os sujeitos sociais envolvidos nessa pesquisa.

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LISTA DE FIGURAS

Mapa 1 - Delimitação territorial do MATOPIBA e do bioma Cerrado – 2019 31 Mapa 2 - Produção de soja por município no Brasil no ano de 1975 87

Mapa 3 - Brasil: Projetos do PRODECER 92

Mapa 4 - Produção de soja por município no Brasil no ano de 1985 97 Mapa 5 - Brasil - Principais rotas de escoamento da produção agrícola 2017 107 Mapa 6 - Goiás – Área plantada de soja em 2000 e os 5 municípios com maior área

plantada 126

Mapa 7 - Goiás – Área plantada de soja em 2018 e os 5 municípios com maior área

plantada 127

Mapa 8 - Estado de Goiás - Área plantada de cana-de-açúcar, por município e ranking

dos cinco municípios com maior área plantada – 2000 131

Mapa 9 - Estado de Goiás- Área plantada de cana-de-açúcar, por município e ranking

dos cinco municípios com maior área plantada – 2018 132

Mapa 10 - Brasil - Produção de soja por município no Brasil -1995 135 Mapa 11 - Região do MATOPIBA – Cobertura vegetal e uso do solo (2016) e classificação dos 20 municípios com maior valor de produção agropecuária - 2018 160 Mapa 12 - Brasil - Produção de soja por município no ano de 2017 188 Mapa 13 - Brasil - Espacialização do número de posseiros envolvidos em conflitos no

campo - 2018 215

Mapa 14 - Área de abrangência da localização do SAU - Sistema Aquífero Urucuia -

2019 267

Mapa 15 - Estado do Maranhão - Localização dos poços artesianos cadastrados pela

ANA e das principais bacias hidrográficas – 2019 270

Mapa 16 - Estado do Tocantins - Localização dos poços artesianos cadastrados pela

ANA e das principais bacias hidrográficas – 2019 271

Mapa 17 - Estado do Piauí - Localização dos poços artesianos cadastrados pela ANA

e das principais bacias hidrográficas 273

Mapa 18 - Localização dos poços artesianos cadastrados pela ANA e das principais

bacias hidrográficas no extremo oeste baiano-BA. 274

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Mapa 20 - Produção de arroz por município no Brasil no de 1975 354 Mapa 21 - Produção de arroz por município no Brasil no ano de 1985 356

Mapa 22 - MATOPIBA: infraestrutura de transportes 359

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LISTA DE FOTOS

Foto 1- Confinamento de engorda de gado de corte nelore Mozarlândia – GO 100 Foto 2 - Santa Filomena: Família preparando o almoço - Comunidade Vão do Vico – Santa

Filomena - PI 220

Foto 3 - Barreiras (BA) - Sede de fazenda em terras griladas no oeste baiano - 2019 225 Foto 4 - Juízes suspeitos de envolvimento em esquema de grilagem de terras no oeste baiano-

BA - 16/12/2019 226

Foto 5 - Município de Correntina(BA) - Feira da agricultura familiar - 2018 239

Foto 6- Rio Arrojado, no município de Correntina - BA 282

Foto 7- Protesto das Comunidades Tradicionais contra apropriação irracional das águas dos rios pelas empresas do Agronegócio no Município de Correntina-Bahia, 2017 283 Foto 8 - Rego para irrigação de plantio de feijão cordeiro na agricultura camponesa 288 Foto 9 - Município de São Desiderio-BA - Fardos de algodão armazenados na propriedade

– 2019 318

Foto 10 - Bom Jesus (PI) - Instalações da Bunge – 2019 330

Foto 11 - Área que foi realizada a colheita do milho – Bom Jesus-Piauí 334

Foto 12- Área desmatada e solo preparado para o plantio 335

Foto 13- Integração pecuária e agricultura – Bom Jesus-Piauí 336 Foto 14- Produção de arroz da agricultura camponesa – Balsas-Maranhão 355 Foto 15 - Lago que cerca o Acampamento Clodomir Santos de Moraes 376 Foto 16 - Publicidade de vendas de implementos do agronegócio no MATOPIBA 377 Foto 17- Porto Nacional (TO) - Momento da socialização do almoço no acampamento do

MST - Clodomir Santos de Moraes 402

Foto 18- Fetag - PI denuncia ameaças de grileiros a pequenos agricultores 413 Foto 19 - Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santa Filomena-PI 415

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Foto 21- Trabalho Coletivo - Mulheres raspando mandioca para o fabrico de farinha 453 Foto 22-23- STTR- Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Agricultores e

Agriculturas Familiares de Balsas-Maranhão 454

Foto 24 Moirão demarcando a propriedade dos posseiros no município de Balsas

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Brasil – venda de agrotóxicos por cultura - 2015 51 Gráfico 2 - Brasil - População nos censos demográficos e a situação do domicílio

1980-2010 58 Gráfico 3 - Estado de Goiás – Número de conflitos por terra e de pessoas envolvidas,

por período de governo e por ano – 1985/2018 102

Gráfico 4- Brasil - Número de imóveis e área ocupada por classes de área – 2014 (%) 110 Gráfico 5 - Estado da Bahia - Número de conflitos no campo e de pessoas envolvidas -

1985-2018 184

Gráfico 6 - Brasil - Número de conflitos por terra e número de famílias envolvidas

1985-2018 294

Gráfico 7 - Brasil - Número de ocupações (1988-2017) 294

Gráfico 8 - Brasil - Evolução do nº de trabalhadores rurais assassinados no campo -

1985 - 2019 298

Gráfico 9 -Brasil - Número de assentamentos (2017) 301

Gráfico 10 - Brasil - Número de famílias assentadas (2017) 304 Gráfico 11 - Estado do Piauí - Nº de conflitos no campo e pessoas envolvidas -

1985-2018 328

Gráfico 12 - Maranhão - Número de Conflitos e pessoas envolvidas 352 Gráfico 13 - Estado do Tocantins - Evolução do nº de conflitos no campo e do nº de

pessoas envolvidas - 1985-2018 365

Gráfico 14 - MATOPIBA - Número de conflitos por terra, por UF -1993 – 2018 408 Gráfico 15 - MATOPIBA - Número de famílias envolvidas em conflitos por terra, por

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Sementes de produtos transgênicos liberados para uso no Brasil - 2020 50 Quadro 2- BRASIL - Produção de alimentos pela agricultura familiar - 2006 66 Quadro 3- BRASIL - Projeto do PRODECER por estados - 2002 98

Quadro 4- BRASIL - Conflitos pela água - 2002 a 2018 276

Quadro 5- MATOPIBA – Causadores de conflitos no campo - 2018 278

Quadro 6- Conflitos pela água no MATOPIBA- 2002 a 2018 285

Quadro 7- Conflitos pela água 2018 - Grupos sociais envolvidos 287 Quadro 8- Empresas estrangeiras atuante na região do MATOPIBA 2015 316 Quadro 9- MATOPIBA - Empresas com presença de capital estrangeiros (2018) 324

Quadro 10- Ações da ADECOAGRO no Brasil - 2019 332

Quadro 119 - Trabalho escravo no MATOPIBA - 2004 a 2018 332 Quadro 12 - Propriedades Agrícolas da BrasilAgro -2018 339 Quadro 13- MATOPIBA – Empresas privadas financiadas pelo BNDES/FINEN-2018 345 Quadro 14 - Propriedade Agrícola da Brasil Agro - 2018 - Bahia e Piauí 346 Quadro 15- Estado do Tocantins - Dez municípios maiores produtores de arroz - 2013 362

Quadro 16 - Conflitos por terra Tocantins 367

Quadro 17 - MATOPIBA - Movimentos socioterritoriais que atuaram de 2000 - 2016 419 Quadro 18 - MATOPIBA - Movimentos socioterritoriais - onde atuaram em 2016 424 Quadro 19 - MATOPIBA - Número de ocupações de terras - 1990 - 2018 438 Quadro 20 MATOPIBA – Projetos de assentamentos rurais por unidade da federação

-2017 440

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - MATOPIBA - número de pessoas ameaçadas de morte - 1990 – 2018 227 Tabela 2 - Empresas agrícolas familiares (médio e grande porte) e imobiliárias

agrícolas financeirizadas 343

Tabela 3 - Violência contra a posse: destruição das roças das famílias camponesas no

MATOPIBA - 1990 – 2018 405

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LISTA DE SIGLAS

ABRE - Associação Baiana de Reflorestamento

ACCFC - Associação dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de Clemente ANA – Agência Nacional de Água e Saneamento Básico

ULTAB - A União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícola do Brasil AATR - Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais da Bahia BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CAI - Complexo agroindustrial CAR - Cadastro Ambiental Rural CPT - Comissão Pastoral da Terra

EMATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FISET - Fundo de Investimento Setorial FUNAI - Fundação Nacional Indígena

GEMACAU - Grupo Especial de Mediação e Acompanhamento de Conflitos Agrários e Urbanos

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos naturais renováveis IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEMA - Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos INTERPI - Instituto Terras do Piauí

INTERTINS - Instituto de Terras do Estado do Tocantins ITR - Imposto Territorial Rural

MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens MATOPIBA - Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia

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MP - Movimento dos Pequenos

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MTL - Movimento Trabalhadores Livre

ONG - Organização Não Governamental PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PDA - Plano de Desenvolvimento Agropecuária

POLOCENTRO - Programa Para o Desenvolvimento do Cerrado

PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PT- Partido dos Trabalhadores

SAU - Sistema Aquífero Urucuia

SEPROMI - Secretaria de Promoção da Igualdade Racial - Governo da Bahia STR - Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STJ - Superior Tribunal de Justiça

SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste TAC - Termo de Ajustamento de Conduta

TJ-BA - Tribunal de Justiça da Bahia UDR - União Democrática Ruralista

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Reis do Agronegócio

Chico Cesar

Ó donos do agrobiz, ó reis do agronegócio Ó produtores de alimento com veneno Vocês que aumentam todo ano sua posse E que poluem cada palmo de terreno E que possuem cada qual um latifúndio E que destratam e destroem o ambiente De cada mente de vocês olhei no fundo E vi o quanto cada um, no fundo, mente. Vocês desterram povaréus ao léu que erram E não empregam tanta gente como pregam Vocês não matam nem a fome que há na terra Nem alimentam tanto a gente como alegam É o pequeno produtor que nos provê e os Seus deputados não protegem, como dizem Outra mentira de vocês, pinóquios veios Vocês já viram como tá o seu nariz, hem?

Vocês me dizem que o Brasil não desenvolve Sem o agrobiz feroz, desenvolvimentista Mas até hoje na verdade nunca houve Um

desenvolvimento tão destrutivista É o que diz aquele que vocês não ouvem O cientista, essa voz, a da ciência Tampouco a voz da consciência os comove Vocês só ouvem algo por

conveniência

Para vocês, que emitem montes de dióxido Para vocês, que têm um gênio neurastênico Pobre tem mais é que comer com agrotóxico Povo tem mais é que comer se tem transgênico É o que acha, é o que disse um certo dia Miss motosserrainha do desmatamento Já o que acho é que vocês é que deviam Diariamente só comer seu "alimento"

Vocês se elegem e legislam, feito cínicos Em causa própria ou de empresa coligada O frigo, a múlti de transgene e agentes químicos

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Que bancam cada deputado da bancada Té

comunista cai no lobby antiecológico Do ruralista cujo clã é um grande clube Inclui até quem é racista e homofóbico Vocês abafam, mas tá tudo no youtube

Vocês que enxotam o que luta por justiça

Vocês que oprimem quem produz e que preserva Vocês que pilham, assediam e cobiçam A terra indígena, o quilombo e a reserva Vocês que podam e que fodem e que ferram Quem represente pela frente uma barreira Seja o posseiro, o seringueiro ou o sem-terra O extrativista, o ambientalista ou a freira Vocês que criam, matam cruelmente bois Cujas carcaças formam um enorme lixo Vocês que exterminam peixes, caracóis Sapos e pássaros e abelhas do seu nicho E que rebaixam planta, bicho e outros entes E acham pobre, preto e índio "tudo" chucro Por que dispensam tal desprezo a um vivente? Por que só prezam e só pensam no seu lucro? Eu vejo a liberdade dada aos que se põem Além da lei, na lista do trabalho escravo E a anistia concedida aos que destroem O verde, a vida, sem morrer com um centavo Com dor eu vejo cenas de horror tão fortes Tal como eu vejo com amor a fonte linda E além do monte o pôr-do-sol porque por sorte Vocês não destruíram o horizonte... Ainda

Seu avião derrama a chuva de veneno Na plantação e causa a náusea violenta E a intoxicação "né" adultos e pequenos Na mãe que contamina o filho que amamenta Provoca aborto e suicídio o inseticida Mas na mansão o fato não sensibiliza Vocês já não tão nem aí co'aquelas vidas Vejam como é que o grobiz desumaniza

Desmata minas, a Amazônia, mato grosso Infecta solo, rio, ar, lençol freático

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Consome, mais do que qualquer outro negócio Um quatrilhão de litros d'água, o que é dramático Por tanto mal, do qual vocês não se redimem Por tal excesso que só leva à escassez Por essa seca, essa crise, esse crime Não há maiores

responsáveis que vocês

Eu vejo o campo de vocês ficar infértil

Num tempo um tanto longe ainda, mas não muito E eu vejo a terra de vocês restar estéril Num tempo cada vez mais perto, e lhes pergunto O que será que os seus filhos acharão de Vocês diante de um legado tão nefasto Vocês que fazem das fazendas hoje um grande Deserto verde só de soja, cana ou pasto?

Pelos milhares que ontem foram e amanhã serão Mortos pelo grão-negócio de vocês

Pelos milhares dessas vítimas de câncer De fome e sede, e fogo e bala, e de avcs

Saibam vocês, que ganham "cum" negócio desse Muitos milhões, enquanto perdem sua alma que eu me alegraria se afinal morresse Este sistema que nos causa tanto trauma

Que eu me alegraria se afinal morresse Este sistema que nos causa tanto trauma Que eu me alegraria se afinal morresse Este sistema que nos causa tanto trauma Que eu me alegraria se afinal morresse Este sistema que nos causa tanto trauma Ó donos do agrobiz, ó reis do agronegócio Ó produtores de alimento com veneno

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 29

CAPÍTULO I. A EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NO BRASIL 47 1.1 A expansão da fronteira agrícola e as transformações recentes no espaço agrário

brasileiro 54

1.2 A discussão sobre a fronteira do Centro-Oeste: no contexto do desenvolvimento

do modo de produção capitalista 71

1.3 PRODECER e as transformações da agricultura no Cerrado – Goiás, a fronteira

agrícola tradicional 86

1.4 A territorialização do monopólio e a monopolização do território na fronteira

agrícola - O estado de Goiás 103

CAPÍTULO II. O PAPEL DO ESTADO E A INFLUÊNCIA DA GEOPOLÍTICA MUNDIAL NO AVANÇO DO AGRONEGÓCIO NO

CERRADO BRASILEIRO 115

2.1 O processo de mundialização da agricultura impulsiona o avanço do agronegócio

no Cerrado 115

2.2 As políticas públicas como instrumento para expansão da fronteira agrícola no

MATAPIBA 141

2.3 As transformações socioterritoriais: o processo de territorialização do capital no

campo 148

2.4 A modernização do território e a mobilidade do capital e do trabalho 153 CAPÍTULO III. A SUBORDINAÇÃO DA RENDA DA TERRA: EXPROPRIAÇÃO E VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO

MATOPIBA 162

3.1 A renda da terra e a expropriação do campesinato 165

3.2 Renda da terra - Diferencial I e Diferencial II 172

3.3 A terra e o conflito - O MATOPIBA sob as garras dos capitalistas 180 3.4 A metamorfose pela posse da terra na fronteira agrícola do MATOPIBA e as

(24)

CAPÍTULO IV. DISPUTAS TERRITORIAS NA FRONTEIRA AGRÍCOLA

DO MATOPIBA E AS LUTAS DE CLASSES 201

4.1 A gênese do posseiro na fronteira agrícola do MATOPIBA: as disputas pela posse

e pela permanência na terra 202

4.2. Apropriação e uso do território: grilagem e titulação das terras 229 4.3 Os conflitos agrários nos territórios de fundo e fecho de pasto no oeste baiano 245

4.4 Os conflitos e a disputa pela água no MATOPIBA 264

4.5 O avanço do capitalismo no campo - intensificação dos conflitos e violência

contra camponeses sem-terra, indígenas e quilombolas 291

CAPÍTULO V. A ESTRANGEIRIZAÇÃO DAS TERRAS NA FRONTEIRA

AGRÍCOLA DO MATOPIBA 307

5.1 O financiamento do setor privado estrangeiro na compra de terra e os conflitos

socioterritoriais no MATOPIBA 308

5.2 Investimentos públicos destinados ao agronegócio no MATOPIBA 337 5.3 As ações das empresas transnacionais no controle da terra e do território: a chegada da soja no estado do Maranhão e as suas consequências para agricultura

camponesa 348

5.4 O estado do Tocantins - o centro da logística integradora da fronteira agrícola

brasileira 357

5.5 Os conflitos no campo e a luta pela terra no estado do Tocantins 364 5.6 O estado do Piauí no circuito da agricultura moderna 378 5.7 A ocupação do agronegócio no oeste da Bahia e o levante dos camponeses

posseiros na defesa do seu território 383

CAPÍTULO VI. AS NARRATIVAS DOS CAMPONESES POSSEIROS DENUNCIAM A VIOLÊNCIA DA OCUPAÇÃO DO CAPITAL NA

FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA 391

6.1 Os novos elementos da ocupação da fronteira agrícola: estrangeirização da terra,

grilagem, expulsão e violência contra os camponeses 392

6.2. A barbárie do latifúndio e a reação dos camponeses posseiros na defesa do seu

território 398

6.3 Os desafios da luta pela terra: a unificação dos movimentos sociais é questão crucial no embate político de enfrentamento ao latifúndio e ao capital

(25)

6.4 A reforma agrária e as estratégias de resistências dos camponeses frente à expansão do agronegócio 424 6.5. As mobilizações dos movimentos sociais na defesa da reforma agrária, pela

posse e permanência na terra nos estados do MATOPIBA 429

6.6 A luta dos insurgentes contra a opressão expropriadora do capital agrário na

fronteira agrícola do MATOPIBA 446

CONSIDERAÇÕES FINAIS 462

REFERÊNCIAS

APÊNDICES

469

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RESUMO

Esta tese versa sobre a monopolização da renda da terra, sobre os conflitos agrários e a violência no campo, decorrentes das transformações espaciais motivadas pela expansão do agronegócio na fronteira agrícola na região do MATOPIBA, acrônimo dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Decreto Presidencial 8.447/2015). A abordagem é qualitativa, a metodologia utilizada foi o estudo de caso e os procedimentos metodológicos se compuseram de: levantamento bibliográfico; análise de documentos; trabalhos de campo com observação direta; rodas de conversas e entrevistas. Entre as questões que balizam essa investigação, destacam-se as ações decorrentes do contexto histórico e conjuntural das estratégias geopolíticas que foram as bases principais que conduziram o processo de modernização agrícola do Cerrado e a apropriação desse território. A tese elaborada evidencia que há uma aplicação de grandes volumes de financiamentos dos bancos, fundos de pensão, empresas nacionais, estrangeiras e fazendeiros para a aquisição de terras agrícolas (compras e/ou arrendamentos) na fronteira do MATOPIBA, destinados à produção de commodities agrícolas. Esses novos atores comandam o processo de expansão territorial do agronegócio, o que tem contribuído para a geração de conflitos pela posse e pela propriedade da terra, aumentando a grilagem de terras públicas, das terras de uso comunal e a expulsão violenta dos posseiros do campo. Os conflitos envolvem os camponeses posseiros, de fundo e fecho de pasto, sem-terra, indígenas e comunidades quilombolas. Constatou-se, também, nesta pesquisa, que o custo social e ambiental resultante da aquisição ilegal das terras por meio da grilagem acelera o desmatamento do Cerrado e os vários tipos de violência, tais como: ameaças de morte, assassinatos, queima de casas, destruição de lavouras, expulsão das propriedades, violência física, e a criminalização dos movimentos sociais. Compreende-se que latifundiários e grileiros, bem como a anuência do Poder Judiciário, em nome da defesa da propriedade privada, impedem a efetivação da reforma agrária e o reconhecimento legal do direito de posse dos posseiros, ou seja, impedem a necessária regularização fundiária. A disputa pela terra no MATOPIBA é o centro dos conflitos sociais da região, alimentados pela saga usurpadora do grande capital, que tem como base as atividades implementadas pelo agronegócio. Autores como: Martins (1990); Oliveira (2007; 2016); Fernandes (2013); entre outros, foram essenciais para a construção teórica da pesquisa.

Palavras - Chave: Cerrado. MATOPIBA. Território. Conflitos. Violência. Camponeses. Posseiros. Reforma agrária.

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ABSTRACT

This thesis deals with the monopolization of land rent, agrarian conflicts and violence in the countryside, resulting from spatial transformations due to the expansion of agribusiness on the agricultural frontier in the MATOPIBA region, an acronym for the states of Maranhão, Tocantins, Piauí and Bahia ((Decreto Presidencial [Presidential Decree] 8.447/2015). The approach is qualitative, the methodology used was the case study and the methodological procedures consisted of: bibliographic survey; document analysis; field work with direct observation; conversations and interviews. Among the issues that guide this investigation, the actions resulting from the historical and conjunctural context of the geopolitical strategies that were the main bases that led the agricultural modernization process of the Cerrado and the appropriation of this territory are highlighted. The elaborated thesis shows that there is an application of large volumes of financing from banks, pension funds, national and foreign companies and farmers for the acquisition of agricultural land (purchases and / or leases) on the MATOPIBA border, destined to the production of agricultural commodities. These new actors are in charge of the process of territorial expansion of agribusiness, which has contributed to the generation of conflicts over land tenure and ownership, increasing the land squatting (grilagem) of public lands, lands for communal use and the violent expulsion of squatters from the countryside. Conflicts involve squatter peasants (of Fundo and Fecho de Pasto communities), landless, indigenous and quilombola communities. It was also found in this research that the social and environmental cost resulting from illegal land acquisition through land squatting (grilagem) accelerates the deforestation of the Cerrado and the various types of violence, such as: death threats, murders, burning of houses, destruction of crops, expulsion of properties, physical violence and the criminalization of social movements. It is understood that landowners and land grabbers, as well as the consent of the Judiciary, in the name of the defense of private property, prevent the implementation of agrarian reform and the legal recognition of the tenure rights of the squatters, that is, they prevent the necessary land regularization. The dispute for land in MATOPIBA is the center of social conflicts in the region, powered by the usurper saga of big capital, which is based on the activities implemented by agribusiness. Authors such as: Martins (1990); Oliveira (2007; 2016); Fernandes (2013); among others, they were essential for the theoretical construction of this research.

Keywords: Cerrado. MATOPIBA. Territory. Conflicts. Violence. Peasants. Squatter. Land reform.

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RESUMEN

Esta tesis trata sobre la monopolización de la renta de la tierra, los conflictos agrarios y la violencia en el campo, resultado de las transformaciones espaciales debido a la expansión de la agroindustria en la frontera agrícola de la región de MATOPIBA, acrónimo de los estados de Maranhão, Tocantins, Piauí y Bahía (Decreto Presidencial 8.447/2015). El enfoque es cualitativo, la metodología utilizada fue el estudio de caso y los procedimientos metodológicos consistieron en: levantamiento bibliográfico; análisis de documentos; trabajo de campo con observación directa; conversaciones y entrevistas. Entre los temas que orientan esta investigación, destacamos las acciones resultantes del contexto histórico y coyuntural de las estrategias geopolíticas que fueron las principales bases que lideraron el proceso de modernización agrícola del Cerrado y la apropiación de este territorio. La tesis elaborada muestra que existe una aplicación de grandes volúmenes de financiamiento de bancos, fondos de pensiones, empresas nacionales y extranjeras y agricultores para la adquisición de tierras agrícolas (compras y/o arrendamientos) en la frontera de MATOPIBA, destinadas a la producción de commodities agrícolas. Esos nuevos actores están a cargo del proceso de expansión territorial de la agroindustria, que ha contribuido para la generación de conflictos por la tenencia y propiedad de la tierra, lo que genera el aumento del acaparamiento de tierras públicas, de las tierras de uso comunal y la violenta expulsión de ocupantes del campo. Los conflictos involucran ocupantes ilegales, terratenientes, pastores, comunidades sin tierra, indígenas y quilombolas. También se constató, en esta investigación, que el costo social y ambiental derivado de la adquisición ilegal de tierras a través del acaparamiento de tierras acelera la deforestación del Cerrado y los diversos tipos de violencia, tales como: amenazas de muerte, asesinatos, quema de viviendas, destrucción de cultivos, expulsión de bienes, violencia física y criminalización de los movimientos sociales. Se entiende que los terratenientes y acaparadores, así como el consentimiento del Poder Judicial, en nombre de la defensa de la propiedad privada, impiden la implementación de la reforma agraria y el reconocimiento legal de los derechos de tenencia de los ocupantes ilegales, es decir, impiden la necesaria regularización de tierras. La disputa por la tierra en MATOPIBA es el centro de los conflictos sociales en la región, alimentados por la saga usurpadora del gran capital, que se fundamenta en las actividades implementadas por la agroindustria. Autores como: Martins (1990); Oliveira (2007; 2016); Fernandes (2013), entre otros, fueron fundamentales para la construcción teórica de la investigación.

Palabras-clave: Cerrado. MATOPIBA. Territorio. Conflictos. Violencia. Campesinos. Propietarios. Reforma agraria.

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INTRODUÇÃO

O Brasil, agroextrativista desde as origens, sempre cumpriu o papel de produtor de bens primários. Durante séculos, o país serviu aos grandes mercados como o principal fornecedor de matéria-prima, tendo como destaque a produção agrícola, devido à oferta de grandes extensões de terras de boa fertilidade e disponibilidade de água em abundância.

As transformações no espaço agrário pertinente ao processo de modernização agrícola se deu no boom econômico pós-guerra. Vultosos investimentos financeiros, fruto das políticas públicas e capitais estrangeiros, foram destinados à ocupação territorial do Cerrado, sobretudo, a partir das décadas de 1970.

Os programas governamentais atenderam aos apelos dos capitalistas, onde a lógica concentradora do latifúndio impuseram a exclusão do camponês do pacto político, mas, ao mesmo tempo define sua ação política e o seu lugar no processo histórico (MARTINS, 1990, p.25).

Após a crise econômica de 2008, corporações financeiras passaram a conduzir novo processo de apropriação da terra e especulação imobiliária na fronteira agrícola no MATOPIBA, constituído por municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O agronegócio integrou essa região ao circuito das cadeias produtivas, comandadas por empresas mundiais, em consonância com os interesses do mercado mundial das

commodities agrícolas. Com a crise suprarreferida, os atores capitalistas reinventam novos

métodos para lhes assegurar à expropriação da renda da terra e, assim, garantir a acumulação do lucro, o que expõe os camponeses posseiros e os povos do campo em situação de vulnerabilidade.

Sendo a terra um instrumento de trabalho, sua concepção é modificada quando novos elementos são adicionados sobre o prisma da subordinação da renda da terra, por isso, utilizam-se os modernos meios científicos e tecnológicos que encurtam o tempo da produção, com a inserção das novas cultivares de sementes (transgenia), fertilizantes químicos, agrotóxicos, maquinários e o georreferenciamento, agora usada no mapeamento de imóveis rurais e também na gestão produtiva do imóvel.

O processo de concentração da terra sob o modo capitalista de produção difere do processo de concentração do capital. Difere porque a concentração da terra é produto do monopólio de uma classe sobre um meio de produção específico, particular, que é a terra (OLIVEIRA, 2007, p. 66).

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Desse modo, o Brasil integra a dinâmica geopolítica e geoeconômica no que concerne aos interesses e estratégias das grandes corporações econômicas e financeiras mundiais. Empresas transnacionais passaram a controlar os circuitos das cadeias produtivas do setor agroindustrial e assim conduziram o processo de modernização da agricultura no campo brasileiro.

Pode-se dizer que as grandes empresas do agronegócio já pensam o planeta como uma ―grande fazenda agrícola‖ a ser explorada para produzir renda, diante das novas demandas e possibilidades de geração de lucro, utilizando-se dos meios da compra e venda de terra e do arrendamento de propriedades agrícolas em diversos pontos do globo.

Diante desse avanço do capital, o Cerrado está sob constante ameaça dirigida pelas ações do agronegócio, concretizadas no desmatamento desordenado e do aumento permanente dos conflitos no campo, de tal modo que esses novos elementos são causadores da desarticulação da agricultura camponesa e familiar na região do MATOPIBA, conforme delimitação territorial da área em questão no (Mapa 1).

Todavia, a captura do Cerrado pelo capitalismo agrário, especuladores e imobiliárias agrícolas operadas por grandes empresas apropriam-se das terras do MATOPIBA e transformam essa região na grande fronteira agrícola do território brasileiro. A vastidão territorial chama atenção dos grandes empresários agrícolas e fazendeiros, os quais encontram facilidades e condições de acesso à terra, que é conquistada por meio das velhas práticas históricas, como é o caso da grilagem das terras públicas e devolutas.

As novas realidades surgem a partir desse conjunto de elementos da qual a questão central é a terra. Assim, apresentam novos desafios para a geografia agrária ou social para desvendar esse emaranhado de coisas que se organizam e se desorganizam no lugar, no espaço, na região e no território regido por uma ordem universal de um modelo que impõe a padronização dos modelos e de valores.

Para contrapor a esse modelo predatório de produção, novas alternativas contra-hegemônicas passam a ser aventadas, a partir das ações coletivas amparadas nos laços de solidariedade entre os humanos.

O recorte temporal da pesquisa tem como abrangência as décadas de 1960 a 2020, um contexto histórico e geográfico para delimitar o marco da análise das transformações tecnológicas do setor agroindustrial impulsionadas pela expansão da agricultura capitalista, especificamente nas áreas de Cerrado no MATOPIBA. Com isso, constata-se que o movimento da fronteira agrícola apresenta novo processo de modernização seletiva do território conduzidos pelos novos atores econômicos da geopolítica mundial.

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A seleção do recorte espacial teve como base os novos acontecimentos que se sucederam com a expansão da nova fronteira agrícola da região do MATOPIBA. A expansão

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do agronegócio na reorganização da ocupação territorial do Cerrado, dirigida pelo capital financeiro internacional, acelera o processo de estrangeirização da terra.

São essas as principais condicionantes que colocam os camponeses, posseiros e as comunidades tradicionais no centro dos conflitos agrários, submetendo-os à expulsão forçada com violência armada para a subtração dos seus territórios.

Portanto, o estudo se embasou a partir da reflexão teórica e da pesquisa de campo que teve como finalidade fazer a mediação com a realidade concreta e subjetiva dos sujeitos sociais envolvidos nos conflitos agrários do município de Correntina, na região do oeste baiano, bem como nos municípios de Currais, Bom Jesus do Piauí e Santa Filomena no sul do Piauí, no estado do Maranhão os municípios de Balsas e Riachão; o Acampamento dos Sem Terra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – (MST), município de Ipueiras, no estado do Tocantins.

Diante desse contexto social, econômico e político, torna-se necessário compreender o movimento dinâmico e complexo que vem ocorrendo com a expansão do capital agrário internacional e nacional na nova fronteira agrícola da região do MATOPIBA, assim como a identificação dos principais atores causadores dos conflitos e da violência no campo violência essa, fruto do capitalismo que comandam um novo processo de expropriação das terras e de direitos dos camponeses, consumado com a grilagem de terras públicas e devolutas.

Buscou-se, aqui, analisar como as empresas nacionais, transnacionais, fundos de pensão e o agronegócio respaldam e aceleram a ocupação territorial do Cerrado para perseguir a acumulação do capital. Os novos arranjos espaciais oriundos da modernização e tecnificação da agricultura capitalista avançam nos espaços da produção camponesa e familiar, mas deparam com as resistências dos movimentos sociais, dos posseiros e dos sem-terra, que reivindicam a reforma agrária e a regularização fundiária.

Nesse contexto, a mundialização do capital insere a fronteira agrícola na mundialização da agricultura capitalista, ou seja, os centros econômicos passam a comandar a exploração concentradora das grandes propriedades agrícolas brasileiras destinadas à produção de matérias-primas para o consumo do mercado interno e externo. Para tanto, os novos elementos presentes na fronteira agrícola consistem na expropriação e na grilagem da terra e sua inserção como ativo financeiro no mercado especulativo imobiliário agrícola.

Os diversos problemas de ordem política, sociais, econômicas e ambientais conflitam com os interesses e reivindicações das comunidades tradicionais nos estados do MATOPIBA. A exploração do trabalho assalariado e da renda da terra é executada pelas empresas transnacionais, fundo de pensão, fazendeiros e grileiros.

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As informações levantadas pela Rede Social e Direitos Humanos (2017), ressaltam que a aquisição desses lotes é, muitas vezes, precedida pela coerção aos camponeses posseiros para que vendam as áreas a baixo custo. Os dramas dessas consequências procedem do movimento dinâmico da expansão da fronteira agrícola, cujos acontecimentos resultam dos investimentos de capitais das empresas ligadas ao agronegócio e às transnacionais.

As novas realidades confrontam com os contextos nacional, regional e local que transformaram o Cerrado no epicentro da produção de commodities agrícolas. Assim sendo, faz-se necessário analisar os enormes problemas socioambientais, grilagem de terra, violência e conflitos no campo que são deflagrados contra camponeses, posseiros, povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Diante das contradições do desenvolvimento marcado pela intensa expansão da fronteira agrícola, o MATOPIBA precisa ser refletido e compreendido na sua totalidade.

O objeto de estudo dessa tese é a região do MATOPIBA, neologismo formado pelo acrônimo dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, abrangendo 73.173.485 hectares, totalizando 317 municípios, assim distribuídos: 135 no Maranhão, 139 no Tocantins, 13 no Piauí e 30 na Bahia. Nessa área, localizam-se 46 unidades de conservação, 36 terras indígenas e 781 assentamentos de reforma agrária e áreas de quilombolas (PORANTIM, 2016).

Instituído pelo Decreto Presidencial nº 8.447, de 2015, o Plano de Desenvolvimento Agrícola do MATOPIBA segue o modelo agroextrativista para exportação, como foi o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER), criado no final da década de 1970.

A escolha dos lugares para a pesquisa de campo partiu da necessidade de entender o novo movimento decorrente da termodinâmica socioespacial da expansão da fronteira agrícola e o boom da produção de soja, milho, algodão, fruticultura, silvicultura e criação de bovinocultura de corte na região do MATOPIBA. Tais situações explicitam o uso exploratório e predatório dos recursos naturais e da expropriação da renda da terra para a acumulação do capital.

A ocorrência constante dos conflitos agrários refletem as consequências dos novos arranjos da territorialização do capital, e o relevante papel das lideranças dos movimentos sociais e das lideranças comunitárias na defesa contumaz dos direitos dos sujeitos sociais invisibilizados frente à ocupação e apropriação ilegal do Cerrado da fronteira agrícola do MATOPIBA.

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Dessa forma, o estado do Maranhão integra o território para a exploração agropecuária do agronegócio, que nas décadas recentes intensificou a expansão das atividades do setor agroindustrial, com a maciça presença de recursos financeiros de empresas estrangeiras.

A expansão dessas atividades fez aumentar a explosão dos conflitos por terra e a violência no campo. Além disso, vale destacar que a ocupação do capital na região sul do estado ocorre de forma intensiva, com a ocupação de grandes extensões de terras, destinadas à produção de grãos. O avanço do capitalismo agrário já reflete a pressão imposta aos posseiros e aos agricultores familiares, que sofrem as consequências perversas do atual modelo agrícola que se instalou no estado.

As intensas lutas pela terra que envolvem as populações locais subsequentes à territorialização do agronegócio, que marca novo processo de desarticulação do campesinato, regido pela lógica das classes dominantes e da burguesia agrária no sul do estado, são articuladas por empresas do setor agroindustrial com os grileiros locais que mediam o comércio e o arrendamento das propriedades agrícolas para a produção de grãos e também para fins especulativos.

Constata-se que as lideranças dos diversos movimentos sociais, entre eles o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e as associações comunitárias que atuam na região sul do Maranhão, exercendo a defesa dos direitos dos camponeses posseiros, agricultores familiares e as denominadas comunidades tradicionais, são os principais sujeitos afetados com a expansão do agronegócio.

Diante dessa realidade de conflitos por terra, segundo as lideranças dos movimentos sociais, o estado não tem dado respaldo no trato no que se refere à regularização fundiária. Sem a proteção dos direitos constitucionais para o reconhecimento legal dos posseiros, para os povos indígenas, quilombolas e agricultores familiares, ficam expostos e vulneráveis aos diversos tipos de violência.

Vale salientar que foram muitas as dificuldades encontradas para a realização da pesquisa. O primeiro problema está na distância do campo de estudo. Foi trabalhoso planejar com as lideranças antecipadamente, tanto que algumas dificuldades surgiram principalmente ao entrar em contato com diversas pessoas para organizar a pesquisa de campo.

As lideranças se recusavam a conversar sobre o assunto, pois todas estavam ameaçadas de morte, por isso se recusavam a receber pesquisadores para dar entrevista sobre a questão dos conflitos e da violência envolvendo os camponeses e posseiros. Após planejar com os representantes, o itinerário foi organizado. Portanto, foram realizadas treze entrevistas com diversas lideranças, camponeses e posseiros no MATOPIBA.

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A pesquisa de campo no estado do Maranhão foi realizada no município de Balsas, 22/7/2019, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Balsas, Presidenta do STR – Osvaldina de Souza Barros; Maria de Jesus de Souza Reis - Secretaria de Políticas Agrárias e Agrícolas (conflitos com posseiros); 23/7/2019, visita à comunidade Bela Vista, em Balsas; 8 famílias de posseiros, dentre eles, o posseiro Antônio Ribeiro de Souza; 23/7/2019, visita ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Riachão, Presidente: José Nilton Costa de Souza, e Josimar Pereira Santos - Secretário de Políticas Agrárias e Agrícolas, Assentamento Rural.

No estado do Tocantins, os efeitos nocivos dessa expansão decorrem da territorialização do capital que abarca todas as regiões do estado, principalmente o leste, área estratégica em função da integração com a região do oeste baiano.

O destaque desse estado é o aumento da produção das commodities agrícolas, também responsável pela violência proveniente da valorização da terra e a pressão sobre os camponeses de onde emergem os conflitos envolvendo os sem-terra e camponeses posseiros, que vivem sob intensa ameaça liderada por fazendeiros e grileiros.

No estado do Tocantins foram os municípios de Porto Nacional, em 10 de outubro de 2019, Ipueiras – acampamento dos sem-terra do (MST), onde foram entrevistados os acampados e lideranças do (MST) de Porto Nacional, (Messias Vieira Barbosa e Zenilda Ferraz).

O destaque para o estado do Piauí é para a região sul, que nos últimos anos vem registrando um crescimento significativo da agricultura moderna capitalista e o desenvolvimento da pecuária de corte que replica na contradição clássica no desenvolvimento do capitalismo, ou seja, por um lado, se observa a pujança do crescimento econômico e, por outro, veem-se as consequências destrutivas nas comunidades tradicionais, devido à concentração da riqueza incrementada pelo agronegócio.

Por isso, examinar os rastros da destruição do agronegócio é pertinente para saber as diversas formas de violação de direitos humanos que conduz o afastamento forçado dos camponeses posseiros dos seus territórios, por meio de atos coercitivos nos municípios de Bom Jesus do Piauí, Currais e Santa Filomena no estado do Piauí.

As lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), e outros, não são bem vistos pelos capitalistas do agro, uma vez que esses agentes e demais lideranças dos movimentos sociais se organizam, lutam e oferecem resistência no campo. Por isso, na sua maioria, esses sujeitos estão ameaçados de morte, por serem considerados estorvo em relação aos interesses do agronegócio.

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No sul do estado do Piauí, foi no município de Currais - Fazenda Flores - Projeto de Assentamento Rural - Taboca, 15/7/2019, entrevista com a militante sindical Claudia Regina Carvalho Santos.

No Município de Bom Jesus do Piauí, foi entrevistado o agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que refletiu sobres os conflitos e a grilagem de terra e os financiamentos dos fundos de pensão como atores econômicos, responsáveis pela compra e arrendamento de propriedades agrícolas na região, 15/7/2019.

No Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Bom Jesus - PI, entrevista com a presidenta Maria de Fátima Alves - a luta pela terra e os conflitos no campo. Na Comunidade Pirajá – Roberval, 16/7/2019, entrevista com o agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Altamiran Lopes Ribeiro; - conflitos no campo; 17/7/2019 - Rio Preto – Bom Jesus do Piauí; povos indígenas Gamela.

No município de Santa Filomena, em 18/7/2019 – estivemos também no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Filomena, Presidente do STR – Antônio Alves de Carvalho - conflitos no campo, 20/7/2019 - Comunidade Vão do Vico Entrevista – Hermínio Ribeiro de Souza - conflitos com camponeses posseiros empresa ADM (grilagem de terra).

No estado da Bahia, merece destaque a região do oeste baiano, que é considerada o centro de comando do agronegócio no MATOPIBA. Dessa forma, os municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães serviram como a porta de entrada do agronegócio no sul do Piauí e no sul do Maranhão.

O levantamento de dados empíricos foram realizados no município de Correntina, devido aos registros dos constantes conflitos pela disputa de água e de terra, onde houve manifestações públicas organizadas pelos camponeses posseiros e vários seguimentos da sociedade organizada e movimentos sociais que protestaram contra o capital e suas práticas destrutivas.

Esse município apresenta algumas características relevantes do ponto de vista das estratégias de resistências da população contra a privatização dos recursos hídricos, o represamento das águas e da luta em defesa da proteção dos rios.

O primeiro campo foi realizado no mês de julho de 2018, no município de Correntina, oeste da Bahia, onde foram feitas visitas às comunidades rurais, entrevistas com as lideranças dos movimentos sociais que representam os camponeses posseiros dos territórios de fundo e fecho de pasto de Brejo Verde; com o presidente da Associação Ambientalista Corrente Verde e, assim, buscar novos elementos para entender o processo de expropriação dos camponeses, expulsão das posses, a grilagem e a intensificação dos conflitos agrários.

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A pressão do capital e o avanço da produção agrícola do agronegócio no oeste da Bahia ameaçam as terras da produção camponesa. As lideranças locais se mobilizaram juntamente com os trabalhadores camponeses e agricultores familiares para resistir às ações de violência das empresas, grileiros e jagunços armados, ou seja, esse é o novo e o velho mecanismo que estrategicamente os agrocapitalistas estão apropriando de terra públicas e avançando nas terras já ocupadas por posseiros.

Diante dessa realidade conflituosa, diversas entidades atuam na defesa dos direitos dos camponeses posseiros, assentados, ribeirinhos, quilombolas e povos indígenas. As lideranças são representantes das Associações de Fundo e Fecho de Pasto, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, Comissão Pastoral da Terra (CPT); Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - (MST) e a Associação Ambientalista Corrente Verde (AACV).

As lideranças dos movimentos sociais, nesse contexto de instabilidade e insegurança, exercem o papel de mediador dos conflitos no campo que se extrapolam com o avanço exponencial da ocupação geográfica e desordenada do Cerrado pelos agentes econômicos do setor agroindustrial.

A discussão pertinente ao número de conflitos referentes à disputa e luta pela terra no MATOPIBA se utilizou de dados estatísticos a partir da análise e da leitura das informações organizadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), bem como do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (IPEA).

Vê-se, pois, que é alarmante o aumento dos números dos conflitos e assassinatos no campo brasileiro e no MATOPIBA, contabilizados entre 1985 a 2019. Os dados e as informações in loco revelaram, a partir dos relatos dos trabalhadores camponeses posseiros, as formas de violência o qual são submetidos, com destruição das roças e casas por grileiros e empresas que expandem suas propriedades com o uso da grilagem de terras públicas.

A pesquisa se fundamentou na análise de dados estatísticos, documentos jurídicos, jornalísticos e relatórios de entidades sociais. As informações extraídas da realidade concreta tratam das questões que se concentram com os problemas agrários, desapossamento de posseiros, mas, também as ações do campesinato, constatadas no movimento da resistência camponesa articulados pelos movimentos sociais, com destaque para o MST e CPT, que ocupam historicamente o seu lugar na luta pela terra, pela reforma agrária e justiça social no Brasil. Essas ações populares organizadas são resultados obtidos a partir da formação de inúmeros projetos de Assentamentos Rurais e Acampamentos Rurais de Sem Terra.

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A dispersão geográfica dos conflitos no espaço e no tempo tem sua causa na aceleração da reprodução das novas formas para a acumulação do capital financeiro na fronteira agrícola da região do MATOPIBA, dirigida por fazendeiros, grileiros e pelas empresas, Adecoagro S.A, ADM do Brasil LTD, SLC agrícola, BrasilAgro, Bunge, Cargill, Insolo Agroindustrial, CHS, Monsanto, Sollus Capital, Radar, Multigraim S.A, Mitsubishi, Vanguarda Agro, Tigra Agro; Mitsui, Insoio, CalyxAgro, Brasil Iowa Forms, Sojitz do Brasil S.A, enfim, várias empresas que compram terras e vão cercando as propriedades dos camponeses, forçando-os a vender as posses, ou, na sua maioria, são expulsos sem receber nenhuma indenização.

Diante dessa violência, camponeses posseiros e os diferentes grupos que compõem o campesinato desenvolvem alternativas de lutas individuais e coletivas para permanecerem na terra e nos seus territórios.

A chegada dessas empresas mudou a realidade das comunidades camponesas, reorganizou o mercado de terras, estimulou a grilagem e a exploração dos recursos naturais. A imposição do capital mundial na esfera regional implica a expansão dos conflitos entre os novos agentes capitalistas do agronegócio e a desagregação do campesinato na fronteira agrícola.

O espaço da fronteira nasce e se estrutura sob tensões, uma vez que se colocam em lados opostos os novos empresários personificadores do capital e as comunidades camponesas, indígenas e negras [...] (ALVES, 2006, p. 4).

As consequências da modernização tecnológica no setor agrícola respaldam a aceleração da violência contra os sujeitos sociais, anulando suas formas de existência. Institui-se, assim, uma tendência à permanência de apenas um tempo do fazer e viver, o tempo do capital, marcado pela imposição de formas homogêneas de produzir ditadas pelo mercado (ALVES, 2006, p. 05). Dessa forma, a desigualdade social se aprofunda, a concentração da renda aumenta e os conflitos no campo se intensificam.

As principais consequências do processo de modernização tecnológica no setor agrícola respalda a aceleração da concentração da terra, contribui para o aumento do desmatamento nas áreas de Cerrado, a expansão das grandes áreas de monoculturas de produção de lavouras em larga escala destinadas à exportação, causador da degradação do meio ambiente, expropriação das terras e dos direitos dos camponeses, aumento do trabalho assalariado, tendo como fruto dessa dinâmica da acumulação do capital a aumento da violência contra os sujeitos sociais, anulando suas formas de existência.

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O esquema da grilagem para especulação imobiliária começa quando o Estado distribui terras devolutas de chapada para o agronegócio e ignora o direito de uso comunal secular destas áreas, expropriando as comunidades locais, conforme informações da Rede Social de Direitos Humanos (2018, p. 56). A expansão ilegal das propriedades de terras se dá com a falsificação de documentos e por meio da prática da violência.

Os pressupostos teóricos e metodológicos serviram para fazer a condução sistematizada da pesquisa científica, utilizando-se dos instrumentos das categorias de análises da ciência geográfica para ler e interpretar criticamente as transformações das relações socioespaciais e as dinâmicas socioterritoriais, a partir da realidade concreta e complexa, problemática e contraditória decorrentes das ações impositivas do capital, que tem como meta principal a exploração da maximização do lucro, expropriação e subordinação da renda da terra.

Em vista disso, o método que conduziu a pesquisa buscou analisar a extensão geográfica dos conflitos pela terra oriundos pelo antagonismo das lutas de classes no interior da fronteira agrícola, de modo que o projeto de desenvolvimento do campesinato para o campo se contrapõe ao modelo agrocapitalista predatório que assenta na destruição das práticas e dos saberes da agricultura camponesa.

A expansão econômica que ordena a ocupação desordenada do Cerrado na região do MATOPIBA obedece ao projeto hegemônico do capital mundial, que aposta na apropriação da terra, na produção agropecuária e na silvicultura, os meios necessários para a acumulação e a reprodução do lucro.

Para explicar a complexidade do movimento das dinâmicas territoriais na fronteira agrícola da região do MATOPIBA, partiu-se da estruturação teórica para seguir o itinerário amparado pelo método do materialismo histórico, que tem como propósito alicerçar a pesquisa para a apreensão do movimento da realidade concreta e na compreensão do mundo abstrato e do mundo real.

Partindo dessa constatação, elabora-se a reflexão da realidade com base no contexto social, político, econômico, ambiental e histórico, e formam-se as bases para uma interpretação holística e sistêmica da realidade e do fenômeno em estudo. As recíprocas contradições apresentadas pela usurpação da renda, resultante da concentração da propriedade privada, devem ser consideradas como a causa primeira das desigualdades sociais.

Para tanto, utilizou-se a pesquisa de campo para coleta de dados, informações e observação envolvendo a participação dos sujeitos envolvidos nos conflitos por terra. O levantamento das informações se deu in loco, por meio de visitas às famílias nas comunidades

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rurais, com diversas lideranças: sindicais, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e agentes pastorais da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

As entrevistas se deram por meio de rodas de conversas, participação coletiva onde o grupo fazia exposição dialogada e reflexão sobre os conflitos e a grilagem de terras. Esta prática pedagógica da pesquisa focal conduz à reflexão, dando mais liberdade e autonomia aos sujeitos protagonistas dos conflitos para expor de forma mais profunda e livre a problemática da conflitualidade vivenciadas pelos camponeses, posseiros e sem-terra e as diversas frações de grupos pertencentes ao campesinato.

Os principais sujeitos sociais vítimas da desagregação e da exclusão do novo processo da modernização da agricultura capitalista no Cerrado são os trabalhadores camponeses posseiros, camponeses de fundo e fecho de pasto; sem-terra, quilombolas, indígenas e ribeirinhos, ameaçados pelas ações violentas dos grileiros que impõem a expulsão forçada às famílias e apropriam ilegalmente das suas terras.

As ações de apoio à luta do campesinato se assentam no relevante papel desempenhado pelas lideranças sindicais, agentes pastorais da Comissão Pastoral da Terra – (CPT), lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – (MST), bem como representantes das associações locais de pequenos agricultores das comunidades camponesas e as Associações de Fundo e Fecho de Pasto.

A dinâmica das ações do capital promove o aumento dos conflitos e da violência estimulada pela grilagem de terra, ameaças de morte, tentativas de assassinato e assassinato de lideranças dos trabalhadores camponeses. Esse é o método dos latifundiários e das empresas para introduzir os conflitos no campo, substituindo o diálogo e os preceitos legais pela violência. Os congressistas da bancada ruralista, mídia e setores da oligarquia agrária criminalizam os movimentos sociais, neutralizando suas ações na defesa da luta pela terra e pelo território.

A discussão referente à região do MATOPIBA se configura a partir de um projeto estratégico de ocupação territorial da nova fronteira agrícola moderna financiada pelo Estado, que contou com os investimentos públicos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de investimentos privados que destinam recursos para promover melhorias na infraestrutura e dinamizar os fluxos de produção, comercialização, distribuição e consumo.

Dessa forma, essa região é destinada a atender os interesses do capital financeiro e do agronegócio brasileiro, com ênfase na produção em larga escala dedicada à exportação. Para tanto, a logística da infraestrutura da integração regional, com a implementação da Ferrovia Norte-Sul, passa a exercer papel relevante de mobilidade e fluidez, fazendo a integração com

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as rodovias, as hidrovias e os portos marítimos e secos, que são as principais rotas de saída para a escoação da produção agrícola do território nacional.

Para melhor didática, este trabalho está organizado e estruturado em seis capítulos, compreendendo as discussões sobre a questão agrária e o papel da modernização da agricultura brasileira, a formação e a expansão da fronteira agrícola nas áreas de Cerrado, no Centro-Oeste brasileiro, comandada pela produção da soja.

São abordados, também, o mercado e os conflitos pela disputa de terra, os fatores econômicos e sociais que conduziram o assenhoramento da fronteira agrícola no Centro-Oeste brasileiro e a questão dos conflitos agrários nos estados do MATOPIBA, decorrentes da expansão do capital.

A recente convergência de múltiplas crises - alimentícia, energética, climática, ambiental e financeira - trouxe a questão da terra de volta para o centro das discussões sobre políticas de desenvolvimento [...] (REDE SOCIAL DE DIREITOS HUMANOS, 2018).

Dessa forma, o primeiro capítulo faz uma reflexão da fronteira agrícola brasileira e o processo de ocupação e apropriação das terras a partir da modernização da agricultura brasileira. Essa apropriação se insere a partir das novas demandas capitalistas e exigências do mercado mundial, com a participação de empresas, tecnologia dedicada ao desenvolvimento da agricultura e pecuária, como é o caso da criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que teve participação relevante nesse processo para expansão da soja no Cerrado.

A formação da nova fronteira, divulgada em campanhas publicitárias com o slogan ―marcha para o oeste‖, décadas depois transformou o Centro-Oeste numa região entre as maiores produtoras de grãos no Brasil.

Estimulados pelas políticas de subsídios agrícolas e pelo planejamento econômico regional, os grandes e médios produtores passaram a receber subsídios para produzir grãos, com a participação até mesmo do governo japonês, tudo seguindo orientação do Programa de Desenvolvimento do Cerrado – PRODECER, nas décadas de 1970/1980, que foi a frente pioneira da fronteira agrícola do Centro-Oeste, impulsionada pela modernização da agricultura no Cerrado no Centro-Oeste.

O projeto de modernização já tinha como finalidade destinar a produção para o mercado externo. As políticas públicas modernizaram o território criando as condições de infraestrutura que impulsionaram a expansão da fronteira agrícola, com o uso avançado de tecnologia, dando ênfase ao plantio de grandes extensões de monocultivos, aplicação intensiva de defensivos agrícolas.

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Essa situação estimulou o desmatamento da vegetação nativa, bem como a substituição dos sistemas de produção camponesa pelos novos e modernos padrões da agricultura, que teve como o carro chefe a produção da soja.

Assim, a discussão sobre a territorialização do monopólio e a monopolização na fronteira agrícola contou com a participação de grandes empresas do setor agroindustrial. Dessa forma, o aparato tecnológico agora é também utilizado como uma forma de controle e domínio territorial do setor agrícola produtivo.

O segundo capítulo reflete o papel do Estado e a influência da geopolítica no processo de modernização da agricultura no Cerrado brasileiro, desencadeado após a segunda grande guerra mundial.

As grandes empresas passaram a expandir seu controle territorial em escala planetária, por isso a mundialização da agricultura nesse contexto ganha novos elementos a partir do monopólio das grandes empresas do setor agroindustrial que passam comandar a produção de grãos nos países em desenvolvimento. Vale ressaltar que os anos 1970/1980 foram marcados por vários programas governamentais para expandir a produção agropecuária no Cerrado.

Desse modo, o Estado também tem desempenhado papel relevante para a expansão da fronteira agrícola do agronegócio no Cerrado do MATOPIBA, aliado à modernização do território a partir da intensificação da mobilidade do capital que dinamizou o trabalho e a distribuição populacional no campo e na cidade.

No terceiro capítulo, discute-se o problema da violência, da expropriação da renda da terra e da subordinação da produção camponesa ao modo de produção capitalista. Faz-se, também, uma análise de como procede a valorização da terra e a renda fundiária, considerando a capacidade fértil da terra e a aproximação do mercado consumidor, e ainda a inserção das terras de baixa fertilidade para produzir por meio da correção do solo.

Para tanto, foi utilizado um aparato tecnológico que melhora a capacidade produtiva do solo com a incorporação de adubos químicos, o que eleva os custos com a correção e, consequentemente, o aumento no valor dos produtos. Portanto, as demandas do mercado e o aumento do consumo de matérias-primas tornam viável a utilização das terras fracas.

Com o advento dos instrumentos tecnológicos e a dependência da agricultura, a indústria, a ciência e o conhecimento científico transformaram a relação trabalho e natureza, mercado e consumo e a intensificação da exploração do trabalho assalariado.

Dessa maneira, os novos arranjos do capital no campo explicitam a concentração da terra e as tensões sociais no campo, envolvendo, de um lado, os empresários, e de outro, os

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