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Goiás – Área plantada de soja em 2000 e os 5 municípios com maior área plantada

CAPÍTULO VI. AS NARRATIVAS DOS CAMPONESES POSSEIROS DENUNCIAM A VIOLÊNCIA DA OCUPAÇÃO DO CAPITAL NA

Mapa 6 Goiás – Área plantada de soja em 2000 e os 5 municípios com maior área plantada

Mapa 7 - Goiás - Área plantada de soja em 2018 e os cinco municípios com maior área plantada

A ganância por lucro pelo capital financeiro ameaça à soberania nacional, uma vez que as terras brasileiras, submetidas a grupos estrangeiros para produzir grãos, etanol, e outros produtos, colocam o país a serviço das grandes corporações econômicas. Com isso, cada vez mais aumenta a burguesia rica controladora de um setor estratégico para o desenvolvimento do campo. A modernização conservadora reproduz variadas formas de exclusão e de exploração da mão de obra dos trabalhadores.

A modernização conservadora da agricultura e sua ideologização bloquearam a compreensão da realidade dos trabalhadores, portanto, do trabalho que não se resume a proletarização, diante do triunfalismo da produção capitalista moderna. Múltiplas formas de trabalho precário são consorciadas com o intuito de assegurar o padrão de acumulação do capital, expresso na agropecuária regional. (MENDONÇA, 2004, p. 174).

A leitura espacial dessa conjuntura implica considerar novas abordagens de análise para compreender a complexa realidade produzida pela inserção do Cerrado na internacionalização econômica. Houve aumento significativo da proletarização dos camponeses com o processo da introdução das novas tecnologias na agricultura.

As políticas públicas não vieram acompanhadas de uma política de reforma agrária e reforma agrícola. Assim, milhares de camponeses abandonam o campo por não terem condições de permanecer em suas terras por falta de financiamentos de créditos agrícolas.

Desse modo, a modernização da agricultura é intensificada pela territorialização das empresas agrícolas, amparada por um aparato tecnológico que favorece a utilização das tecnologias para a expropriação da renda terra.

Além das lavouras de arroz, milho e soja, outro fator relevante a ser analisado é o setor sucroenergético, que se expandiu na mesorregião sul goiano, em particular na região de planejamento denominada de Sudoeste Goiano, pela instalação de novas usinas, sobretudo para a produção de etanol [...]. (BORGES, 2011, p.52).

No entanto, a espacialização da cana-de-açúcar no Cerrado apresenta algumas preocupações, quais sejam, as áreas de produção de alimentos estão sendo substituídas pela cana (SAUER e PIETRAFESA, 2012, p. 4). Há registros de o estado, nos últimos anos, as áreas de grãos, principalmente de soja, têm sido substituídas, de forma acelerada, pela cultura da cana, sobretudo no sudoeste goiano, (BORGES 2011, p. 52). Desse modo, alguns fatores são observados criteriosamente para a instalação das usinas no estado de Goiás.

O deslocamento das empresas da região do Sudoeste do país que já não dispunha mais de terras para a expansão do setor, e por conseguinte não atenderia a demanda nacional e internacional, promoveu o Centro-Sul do Cerrado, particularmente em Goiás, a qual reunia as condições necessárias à expansão, tornando-se um dos alvos

do interesse dos grupos do setor, sobretudo à microrregião de Quirinópolis. Por outro lado, tal expansão demandava apropriação intensa e rápida devido ao momento histórico favorável, materializando-se muito rapidamente, em cerca de 5 anos, por práticas como arrendamento (parceria), fornecedores (terceirizados), ou mesmo compra de propriedades rurais (própria) e realizada com alto nível de tecnificação. (BORGES, 2011, p.26).

A modernização da agricultura integrou e estruturou estrategicamente setores industriais ligados ao sistema financeiro e estimulou a expansão do latifúndio. Vale dizer que o PRODECER contribuiu para a apropriação do Cerrado em três etapas: 1980, em terras do estado de Minas Gerais; em 1987, expande-se para Goiás, Mato Grosso, Bahia e Mato Grosso do Sul, além de incorporar novas áreas de Minas Gerais. Em 1995, o programa chega ao estado de Tocantins e Maranhão, (INOCÊNCIO, 2010).

Esses estados foram criteriosamente selecionados porque respondem adequadamente às exigências para incorporação do Cerrado na lógica da produção capitalista. A difusão de novas tecnologias marca no Cerrado um novo tempo, o tempo da fluidez, da reorganização do território que conduziu a inserção dos estados de Goiás, Bahia, Tocantins e Maranhão na dinâmica reprodutiva do capital, tudo isso impulsionado pelas ações originadas do PRODECER.

Então, ―competia, no PRODECER, a função de selecionar produtores, adquirir e distribuir terras, insumos, maquinários e equipamentos para a produção e comercialização dos produtos, construções de instalações coletivas e assistência técnicas‖, (Inocêncio, 2010, p. 106). A montagem de infraestrutura e logística daria amparo ao funcionamento do modelo que obedeceria à lógica do PRODECER, e as cooperativas cumpririam o papel de integrar produtores no processo de produção.

As cooperativas, por seu turno, foram criadas para serem instrumento de cooperação dos associados para enfrentar a lógica das relações de exploração do capital. No Cerrado, que já havia uma prática de trabalho coletivo, a intenção seria favorecer uma alternativa ao sistema capitalista.

Enquanto instrumento econômico propõe uma maneira particular de articulação dos fatores produtivos, excluindo relações de exploração capitalista. Em sua natureza social, procura superar a dominação mediante a geração de uma resposta positiva e coletiva ao sistema capitalista. Mas no caso do Cerrado, as cooperativas se articularam como instrumentos de viabilização econômico-produtiva do processo de modernização tecnológica e estratégica da territorialização do capital. (INOCÊNCIO, p. 101).

Como menciona a autora, as cooperativas do Cerrado deixaram de cumprir a função de articulação nas ações coletivas. Em vez disso, passam a contrariar os interesses e os objetivos dos produtores agrícolas que iniciaram o cultivo da soja no Cerrado. Contrariando esses

princípios, as cooperativas invertem a lógica da coisa, ou seja, elas tornam-se instrumento para viabilização econômica do setor produtivo e da modernização tecnológica que estrategicamente passa a contribuir para a territorialização do capital.

No Mapa 8, estão os dados da área plantada com a cultura da cana-de-açúcar em 2000, no Mapa 9, estão apresentados os municípios com maior área plantada no ano de 2018.

Ao analisar os dados da área plantada com a cultura da cana-de-açúcar em 2000, representada no (Mapa 7), destacam-se como principais produtores os municípios de Quirinopólis, Mineiros, Edéia, Goiatuba e Itumbiara, os cinco maiores produtores de cana-de-açúcar do estado. Juntos, formam mais de 25% da área plantada. No centro goiano, destaca-se o município de Goianésia, uma das usinas mais antigas do estado, tendo sido criada com recursos do Pró-Alcool.

No Mapa 8, estão apresentados os municípios com maior área plantada no ano de 2018. De acordo com dados, pode-se observar que o município de Quirinópolis ocupa o primeiro lugar no ranking de área plantada com cana-de-açúcar no estado; em segundo lugar destaca-se o município de Mineiros; seguido dos municípios de Edéia, Goiatuba e Itumbiara. A espacialização da cana-de-açúcar no estado demonstra o seu processo de evolução nas décadas recentes com o avanço do setor sucroenergético.

Em síntese, na década de 1970/1980, o Cerrado foi incorporado para a produção agrícola com a expansão da frente pioneira de desmatamento no Centro-Oeste. A frente de expansão deu origem às grandes plantações da monocultura da soja, do milho e do algodão. Foram destinados grandes investimentos nas áreas de ciência e tecnologia, com ênfase na pesquisa e melhoramento genético. As novas descobertas de sementes melhoradas para as condições climáticas do Cerrado contaram com a participação direta da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (EMBRAPA). A ciência e a tecnologia fez dos solos pobres terras férteis, consideradas, hoje, como uma das regiões maior produtoras de grãos do país.

O grande impulso no alargamento da fronteira foi dado pelo PRODECER, que expandiu a agricultura moderna e capitalista, ao incorporar uma vasta região, que se estende pelo sul do Maranhão, sul do Piauí, leste do estado do Tocantins, localizado na Região Norte e o oeste do estado da Bahia, desde o início dos anos 1990 até a primeira década do século XXI.

Dessa forma, o Cerrado do MATOPIBA entram na escala da produção agrícola destinada à exportação, o que trouxe aprofundamento dos conflitos entre o agronegócio e os camponeses, agricultores familiares, quilombolas, geraizeiros, vazanteiros e comunidades de fundo e fecho de pasto.

Mapa 8 - Estado de Goiás - Área plantada de cana-de-açúcar, por município