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CAPÍTULO VI. AS NARRATIVAS DOS CAMPONESES POSSEIROS DENUNCIAM A VIOLÊNCIA DA OCUPAÇÃO DO CAPITAL NA

A SUBORDINAÇÃO DA RENDA DA TERRA: EXPROPRIAÇÃO E VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA

3.3 A terra e o conflito O MATOPIBA sob as garras dos capitalistas

Por ser a nova fronteira da agricultura capitalista, o MATOPIBA passa pelo processo de ocupação a imposição da violência contra os camponeses, os quais sofrem ameaças e expulsão de suas posses. Para a ampliação do agronegócio, é desejo do capital ver o território livre dos camponeses, os quais sofrem pressões de toda ordem para abandonaram suas terras. Assim, a chegada do agronegócio trouxe desarticulação ao campesinato, por meio da compra da terra, ou mesmo subordinando a produção camponesa, pois o capital, de algum modo, expropria a renda da terra, bem como o trabalho executado na terra.

A territorialização pelo capital aos munícipios do MATOPIBA que apresentam maiores concentrações de investimentos na agricultura capitalista não reconhece os direitos de posse dos camponeses, que realizam uma diversificada produção agropecuária e extrativista, e ainda com a utilização de áreas coletivas, a exemplo dos fundos e fechos de pasto no oeste baiano.

Portanto, a terra para o trabalho e para a reprodução da vida não é o modelo ideal na concepção dos capitalistas, por isso, esses territórios sofrem com a grilagem de empresas brasileiras e estrangeiras, prática antiga usada em diversas regiões do país que ainda é usada contra os posseiros do Cerrado e dos Gerais.

A construção de infraestrutura nas grandes fazendas do agronegócio, tais como os grandes reservatórios (piscinões) para armazenamento de água captada do Aquífero Urucuia e dos rios da região, e abertura de canais para irrigação estão transformando o território. A incorporação das novas tecnologias e o melhoramento dos solos colocam as terras na concorrência da produção agrícola. Por isso novas áreas de terras são incorporadas em decorrência da expansão da demanda por produtos, a exemplo do que ocorre com a soja, com uma demanda crescente.

As relações entre países, os intercâmbios culturais e comerciais estabelecem concorrência e a necessidade de fazer acordos comerciais. Além das grandes potências econômicas da América do Norte e da Europa, com as quais o Brasil tem relações econômicas importantes, destacam-se também as relações que o Brasil tem com países da América Central, América do Sul e África. Em especial, deve-se considerar as relações comerciais com os países asiáticos, em razão da demanda por grãos e matérias-primas em geral.

Vale ressaltar o papel estratégico do BRICS (Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul), formado por países emergentes e sua participação na comunidade internacional. São países que deslumbram crescimento econômico e com grande população e desempenham papel relevante no mercado mundial, pois são grandes produtores e consumidores de produtos agrícolas, minérios, tecnologias e outros.

Os países do BRICS tem papel de destaque na arena global, pois seu crescimento econômico fará dos emergentes as grandes potências econômicas nas próximas décadas. Nesses países, há matriz diversificada, com vocação em especial para a atividade agrícolas, como é o caso do Brasil e da Rússia. Já a Índia e a China são grandes mercados consumidores, considerando a dimensão territorial e a sua população, ou seja, hoje, o BRICS tem peso relevante como mercado consumidor, mas também nas decisões no campo político e econômico.

As bases usadas pelo criador do acrônimo BRICs para que esses países ganhassem tal destaque relacionado ao crescimento econômico e a população de cada país tem sido o catalizador e ao mesmo tempo os pilares fundamentais que fixam os ―emergentes‖ como atores com grande capacidade de se firmarem como as maiores potência deste século. ( SILVA, R. 2013, p. 27).

Esse bloco tem por finalidade estabelecer acordos comerciais centrados em diferentes ramos da economia, como agricultura, pecuária, ciência, tecnologia e investimentos financiados pelo banco criado pelo próprio bloco dos emergentes. As parcerias são firmadas de várias formas, a exemplo do que ocorre no MATOPIBA, com a presença de empresários chineses, que se dedicam exclusivamente à produção da soja no Cerrado nordestino.

A presença de diversas empresas estrangeiras, europeias, asiáticas e sul-americanas estão atuando nas fronteiras agrícolas brasileiras, e essas questões que devem ser entendidas dentro desse processo de integração global da mundialização da agricultura. Encontra-se, no Brasil, essa nova fase da ocupação do capital, ou, porque não dizer, da colonização dos territórios pelo agronegócio no Centro-Oeste, e recentemente está se expandindo nos estados, formando uma vasta região denominada MATOPIBA, onde o capital está integrando áreas com aptidão para atividades ligadas ao setor agroindustrial.

O encontro dessas ações integradas são definidas por meio de políticas públicas para subsidiar o agronegócio, pelo fato de ser o grande projeto para o campo brasileiro, centrado apenas nas commodities agrícolas. Os demais modelos de produção existentes são excluídos. O campesinato é considerado um estorvo para o desenvolvimento do agronegócio.

O fato de o Brasil se destacar como o maior fornecedor de matérias-primas para diversos países do mundo desperta o interesse de proprietários de terras e capitalistas, que veem na agricultura um meio extraordinário de fazer negócios e lucrar com a renda capitalizada da terra. A procura de terras em regiões prósperas para as atividades agrícolas está vinculada à demanda de produtos, o que faz com que as terras menos produtivas entrem no circuito da produção. Essa condição também aumenta o preço das terras e o valor dos arrendamentos, em detrimento do aumento do valor dos produtos brasileiros.

A questão agrária e os conflitos no MATOPIBA só podem ser compreendidos quando analisados e reconhecidos os principais sujeitos envolvidos no processo da apropriação da terra, principalmente os sujeitos que são as vítimas da desterritorialização imposta pela usura dos capitalistas e proprietários de terra na busca da maximização do lucro.

O aumento dos conflitos de terra na Bahia teve início em 1985. Até o ano de 2018, foram registrados 36.112 conflitos. Vários piques ocorreram durante esse período, conforme se deu no ano de 1988 e 1994. O período de 2000 a 2018 foi marcado por acentuado número de conflitos, com milhares de pessoas envolvidas na disputa pela terra.

Com a expansão do agronegócio no oeste baiano, região que integra o MATOPIBA, os camponeses dos territórios de fundo e fecho de pasto sofreram vários tipos de injustiças, como a expulsão dos seus lotes e grilagem de suas terras, ameaças de morte por fazendeiros e agentes de empresas estrangeiras que atuam na região.

Destacam-se, aqui, as empresas estrangeiras que possuem propriedade nesta região: Oeste Xingu Agri, (Japão), Agri Brasil (Holanda), Universo Verde (China) Floryl (Dinamarca) e Bunge (USA). O desassossego dos camponeses dos fundos e fecho de pasto teve início com a invasão dos territórios pelas empresas, como relata a moradora Elizete:

E ai, com isso, os camponeses que aqui viviam e vivem perceberam uma ameaça, né, estava perdendo o território e sentiram a necessidade de demarcar um pouco esse território. E ai foi quando surgiu o fecho, pra muita gente o arame farpado é sinônimo de concentração de terra. Pros fecho de pasto o arame farpado significou demarcar um território coletivo. Então, assim tem toda essa simbologia que traz nesse jeito tradicional de viver. Que foi uma necessidade de começar fechar em pequenas áreas ou grandes áreas construir cercas de arame farpado, complementando com rio, com riacho, cerca de pau pra demarcar o território, pra evitar essa invasão das empresas nas áreas das comunidades. E a partir daí é que foi surgindo e aí agora o conceito de fecho, que até então e ainda hoje todo mundo conhece como gerais‖. (ELIZETE, 17/7/2018).

O estado da Bahia apresentou altos índices de conflitos por terra no período de 1985 e 2018 (Gráfico 5). Esse aumento tem relação direta com os investimentos econômicos no setor agropecuário, principalmente na região do oeste baiano.

A chegada de fazendeiros, latifundiários e empresas nacionais e estrangeiras transformou totalmente a dinâmica socioespacial da região. A produção em larga escala incrementada pelo agronegócio traz no seu bojo também os conflitos, pois esse modelo desagrega o modo de vida dos camponeses, moradores de fundo e fecho de pasto, quilombolas e ribeirinhos, os principais sujeitos envolvidos nos conflitos.

Fonte: CPT -1985 a 2018. Organização José Novais de Jesus; elaboração Raphael de Souza 46 48 37 87 66 62 53 32 35 58 47 60 48 58 75 22 15 42 51 114 111 90 72 81 48 91 120 138 98 103 128 164 175 112 36.112 15.629 725 6 0 .5 4 1 21.961 22.058 24.622 11.789 7.432 41.761 38.113 51.848 35.409 77.752 101.552 50.695 5.887 5.491 3 1 .5 2 9 111.656 64.179 40.545 56.275 50.891 44.175 61.282 67.589 51.220 26.880 8 8 .6 2 2 77.770 103.963 118.334 11.009 - 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

SARNEY COLLOR/ITAMAR FHC LULA DILMA TEMER

Nº de Conflitos

Ano / Governo

Gráfico 5 - Estado da Bahia - Número de conflitos no campo e de pessoas envolvidadas - 1985- 2018

Nº CONFLITOS PESSOAS ENVOLVIDAS

Também caracterizada como áreas de uso comum para o pastoreio de bovinos, caprinos e ovinos, agora ameaçados por empresas e grileiros que compraram terras na região, os camponeses, para se defenderem dessa ameaça, se viram obrigados a cercar os fundos de pasto para evitar que os grileiros apropriassem das terras da comunidade. Com o fechamento dessas áreas, surgiu a denominação ―fecho de pasto‖. Os ―fechos‖ representam para os camponeses um modo de vida, devido às relações de parentesco e de amizade entre os membros que trabalham utilizando seus instrumentos de produção para permanecer no campo. A invasão das empresas transnacionais no Cerrado resultou em um processo desarticulador das formas de produção camponesa e do modo de vida de milhares de famílias, que estão sujeitas à violência imposta pela concentração da propriedade privada da terra. O intrigante é que o Brasil, por meio de regulamentações estatais, cria as condições para as empresas estrangeiras se estabelecerem no território nacional, o que está afetando os territórios camponeses, devido à política de expulsão da população rural.

Esse modelo de modernidade não inclui os camponeses num projeto que garanta a segurança, a posse e a permanência no campo, que leve em consideração o desenvolvimento do campo não somente pelo viés do agronegócio, mas com a inclusão e a participação do campesinato, que sempre tem demonstrado relevância na produção. A aumento dos conflitos agrários é resultado dessa guerra desleal entre os camponeses e o grande capital, com as tentativas de desarticular a agricultura camponesa e familiar.

A reforma agrária precisa ser vista sob outra ótica, como projeto de desenvolvimento econômico e social para o campo e não pensá-la somente como meio de contensão de conflitos sociais. A reforma agrária deve envolver diversos suportes para o bom uso da terra, mais adequada às pequenas propriedades, que exige racionalidade, planejamento, administração, contabilidade, assistência técnica e investimentos financeiros, pesquisa e extensão para criar novos mecanismos para melhorar a produção, gerar emprego e renda no campo, ou seja, desenvolvimento rural e sustentável para as famílias camponesas.

A confluência de diversos fatores, como a manutenção dos preços elevados das commodities, o aumento da produção de biocombustíveis e a turbulência nos mercados financeiros internacionais, tem atraído novos atores para o campo moderno, com o aumento do peso dos fatores externos nas estratégias produtivas e na dinâmica territorial das regiões agrícola brasileiras. Dentre os principais investidores em terras e na produção agrícola moderna, baseado no relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (2011) para 17 países da América Latina e Caribe, encontram-se: a) capitais do próprio setor agropecuário como produtores, operadores agrícolas e tradings; b) capitais não tradicionais do setor agrícola, como empresa petroquímica, automobilísticas, logística e construção, atraídas principalmente pela produção de biocombustíveis; c) empresas imobiliárias especializadas na valorização e comercialização de terras; d) fundos de investimentos financeiros (private equity) atraídos pela maior

―estabilidade‖ do mercado de terras, principalmente, a partir da crise de 2008, e pela possibilidade de especular com o seu valor, com a expectativa da crescente demanda por terras para a produção de alimentos, ração animal e biocombustíveis; e) Estados interessados em garantir seu abastecimento alimentar (China, países Árabes, Coreia do Sul e Japão), atuando por meio de empresas estatais e fundos soberanos; f) e empresas translatinas, como a presença de operadores agrícolas argentinos em terras brasileiras. Na maioria das vezes, esses atores atuam de forma articulada, por meio da formação de joint-ventures, participação acionária e parcerias com capitalistas nacionais e produtores locais. (FREDERICO e BUHLER, 2015, p, 205).

O avanço do agronegócio está levando os grandes grupos financeiros a articular suas ações a partir da valorização dos preços das commodities. A pressão dos fatores externos estão impondo novos arranjos territoriais, que se formam a partir da compra de terras nas regiões agrícolas brasileiras, pressionadas pelas forças estratégicas do capital produtivo e especulativo.

Após a crise de 2008, diversas empresas estrangeiras do setor agropecuário e de outros setores passam a especular a terra, devido à valorização ocorrida em razão da demanda crescente da produção de alimentos, de ração animal e de biocombustíveis, enfim, vários produtos que estão na pauta de exportação comercial para países como China e Japão, e outros países asiáticos interessados nos produtos brasileiros.

Há, também, o uso das terras brasileiras decorrente da articulação das empresas latinas, como é o caso de investidores argentinos que, em parceria com os capitalistas nacionais e produtores locais, buscam a exploração dos recursos naturais.

A demanda por terra aumentou significativamente após a crise de 2008. ―Somente 2008 e 2009 foi anunciado o interesse pelo capital externo na aquisição de mais 56 milhões de hectares em todo mundo - ante uma média global de expansão anual de terras agricultáveis de 1,9 milhão de hectares entre 1990 e 2007‖. (SAMUEL e BUHLER, 2015, p. 206). As empresas estrangeiras estão dando atenção especial ao agronegócio brasileiro, por ser um país que é considerado a nova fronteira agrícola.

O agronegócio, respaldado por um aparato tecnológico e subsidiado com dinheiro público, visa exclusivamente aumentar as exportações, estimuladas pelas demandas do mercado mundial, o que promoveu as transformações ocorridas no campo, proporcionadas pelo aumento de capital injetado na fronteira agrícola. A agricultura especializada é o foco dos investidores do agronegócio por considerar um ramo que garante rentabilidade econômica mediante a exploração do solo agrícola.

Ao analisar o (Mapa 12), a soja (principal cultura agroexportadora), nos estados de fronteira agrícola da Região Centro-Oeste e nos estados de fronteira da área conhecida como

região do MATOPIBA (Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins) entre 2017, é possível observar um crescimento significativo da área plantada e da quantidade de grãos produzida.

Os dados revelam a incorporação de novas áreas pelo agronegócio na fronteira agrícola. Isso fica demonstrado no aumento de área de soja plantada, que, anos últimos anos, vem registrando recordes na produção de soja, de acordo com os dados acima citados.

Oeste da Bahia também se destaca como uma das áreas mais dinâmicas do agronegócio. Trata-se de três décadas -, cujo uso e organização do território por parte de grandes produtores, empresas capitalizadas tem resultado em elevada produtividade agrícola, com fazendas altamente tecnificadas, acelerada concentração fundiária e forte pressão para a abertura de novas áreas, em particular, em direção aos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins. (FREDERICO e BUHLER, 2015, p.207).

O oeste baiano é destaque por ser uma região estratégica e dinâmica para o agronegócio, de modo que, nas últimas décadas, houve avanço da agricultura capitalista com a chegada de grandes produtores e empresas que vieram explorar a produção da soja no Cerrado do MATOPIBA.

Para a produção de soja no MATOPIBA, foram instaladas fazendas modernizadas, com uso de tecnologia altamente avançada, as quais têm obtido altos índices de produtividade agrícola, fator responsável para aceleração da concentração fundiária e a ampliação da abertura de novas áreas, principalmente em direção aos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins.

De fato, a organização do território pelo agronegócio responde a uma logística mercadológica, amparada na acumulação e na reprodução do capital. O Cerrado está incorporado nesse processo para a ―implantação de uma agricultura intensiva em capital e tecnologia, praticada em grandes propriedades, com substituição da vegetação original e/ou às práticas agropastoris e de coleta perpetrada por pequenos produtores campesinos‖ (SAMUEL e BUHLER, 2015, p. 207-208).

O mercado global exerce forte pressão para abertura de novas áreas a serem destinadas ao uso agrícola, a valorização das commodities tem forçado os capitalistas a procurarem terras, em particular, nas áreas de fronteira agrícola, com destaque para o MATOPIBA, que vem sofrendo ocupação do seu território por produtores e empresas ligados ao setor do agronegócio.

A recente expansão da agricultura tecnificada e capitalista nos estados da Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins nos últimos anos, deu nova dinamicidade na organização do território, com alterações significativas na paisagem do Cerrado, aumento da concentração da terra, violência no campo, crescimento das cidades, segregação espacial, empobrecimento da

classe trabalhadora. O agronegócio é um modelo que apresenta várias contradições, haja vista que causa miséria e violência, tudo isso para priorizar a concentração da renda.

Os novos arranjos territoriais são influenciados diretamente pelos processos de mundialização do capital e da agricultura, que tem por finalidade priorizar os monocultivos, com destaque para a produção da soja. A modernização é recente e intensa, promovida pelo capital, que dita o ritmo da produção, com o objetivo obter altos rendimentos, cuja acumulação de capital é baseada na exploração da mão de obra assalariada.

É necessário ter em mente que o papel do Estado, nesse sentido, tem sido o de respaldar os interesses do agronegócio, por considerar estratégico o modelo agrícola para o desenvolvimento do campo brasileiro, bem como a sua contribuição para o crescimento econômico do país. Por isso o setor recebe atenção especial, com destinação de recursos públicos para a construção de infraestrutura, compra de maquinários e modernização da propriedade e outros.

Mesmo dando vantagens econômicas ao agronegócio, não é constatada melhoria na qualidade de vida e da renda da população das cidades do agronegócio.

Por sua vez, a dinâmica de crescimento da produtividade física da agropecuária nas zonas consolidadas ou zonas de nova incorporação fundiária, não há evidência de correspondência com aumentos de salário, nem tão pouco de elevação do emprego de trabalhadores não qualificados, vinculados ao crescimento da produção. Em outros termos, a taxa de salário, o emprego e a massa salarial geradas no processo de produção e exportação de bens primários não crescem, ou até decrescem, enquanto que a produção e a exportação das principais cadeias das agroindustriais se expandem a elevação a elevadas taxas de 8 a 10% a.a. (DELGADO, 2012, P.116). Segundo a informação dos Censos agropecuários de 1996 e 2006 o ―pessoal ocupado na agropecuária decresceu na década intercensitária (-7,2%), passando de 17,85 milhões de pessoas em 1996 para 16,57 milhões em 2006. As contradições são, de fato, ocultadas pelos ideólogos do agronegócio.

O discurso apresentado é sempre de que o setor é uma pujança econômica e traz vantagens significativas para o crescimento do país, mas os dados comprovam e contradizem os argumentos, mostrando que não há transferência de distribuição de renda, também não há evidências de aumento na geração de empregos, nem mesmo elevação de salários aos trabalhadores sem qualificação.

A pobreza e os conflitos tendem a aumentar nas novas áreas de incorporação agrícola destinadas à produção para exportação. A forte pressão de grupos empresariais e industriais, que compram terras ou fazem arrendamento na fronteira agrícola, demonstra preocupação, em razão do aumento da violência e das ameaças aos territórios da produção camponesa.

São muitos os desafios dos movimentos sociais de luta em defesa dos trabalhadores camponeses e do Cerrado. Esses movimentos também sofrem perseguição dos grupos

econômicos e latifundiários, que, a qualquer custo, impõem a lógica do medo, com várias formas de violência, ameaças de morte às lideranças defensoras dos territórios de fundo e fecho de pasto, com é o caso do município de Correntina, no oeste baiano.

Tortura coletiva, amedrontar todo mundo. Levava lá todo mundo ameaçava. Há uma tentativa de criminalizar as lideranças dessas comunidades, Celino mesmo foi intimado uma ou duas vezes, uma vez, num foi? Interrogado como se fosse culpado. Eu fui interrogada, Elder foi interrogado, Digo foi chamado duas vezes que é outra liderança aqui da comunidade. E teve mais pessoas das comunidades que foram interrogados, teve gente que teve busca e apreensão na casa. A irmã de Branco teve busca e apreensão na casa, a juíza, a delegada pedia que houvesse busca e apreensão e detenção dos suspeitos. (ELIZABETE, entrevista realizada em 18/7/2018).

As lideranças são as que mais sofrem perseguição direta, por defenderem os interesses dos camponeses, ou seja, o direito de permanecerem no fundo e fecho de pasto. O poder público tenta criminalizar as lideranças com o intuito de desmobilizar a luta e a resistência em