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Potencialidades de Acordos Preferenciais de Comércio entre o Brasil e seus principais parceirosPreferential Trade Agreements potential between Brazil and its major partners

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POTENCIALIDADES DE ACORDOS PREFERENCIAIS DE COMÉRCIO ENTRE O BRASIL E SEUS PRINCIPAIS PARCEIROS

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Economia para obtenção do título de Magister Scientiae.

VIÇOSA

MINAS GERAIS – BRASIL 2016

(2)
(3)

POTENCIALIDADES DE ACORDOS PREFERENCIAIS DE COMÉRCIO ENTRE O BRASIL E SEUS PRINCIPAIS PARCEIROS

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Economia, para obtenção do título de Magister Scientiae.

APROVADA: 07 de julho de 2016.

__________________________ _________________________

Orlando Monteiro da Silva Antônio Carvalho Campos

(Coorientador)

___________________________

Elaine Aparecida Fernandes

(4)

Como a aurora precursora Do farol da divindade Foi o 20 de Setembro O precursor da liberdade

Mostremos valor constância Nesta ímpia e injusta guerra Sirvam nossas façanhas De modelo a toda Terra

Mas não basta pra ser livre Ser forte, aguerrido e bravo Povo que não tem virtude Acaba por ser escravo.”

(5)

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS... v

LISTA DE FIGURAS... vii

RESUMO... viii

ABSTRACT... ix

1. INTRODUÇÂO... 1

1.1. Considerações iniciais... 1

1.2. O problema e sua importância... 5

1.3. Objetivo geral... 10

1.4. Objetivos específicos... 11

2. ACORDOS PREFERENCIAIS DE COMÉRCIO... 12

2.1 A proliferação dos Acordos Preferenciais de Comércio... 13

2.2 O Brasil no contexto de Acordos Preferenciais de Comércio... 17

3. REFERENCIAL TEÓRICO... 21

3.1. O Modelo vinerano de comércio... 21

3.2. Contribuições na análise da criação e desvio de comércio... 25

4. MODELO GLOBAL TRADE ANALYSIS PROJECT (GTAP)………. 29

4.1. Descrição do modelo... 29

4.2. Estrutura do modelo... 30

4.3 Relações contábeis do modelo... 31

4.3.1 Distribuição das vendas aos mercados regionais... 31

(6)

4.3.3. Fonte das aquisições das firmas... 33

4.3.4 Fontes e disposição da renda regional... 34

4.3.5. Setores Globais... 36

4.4 Variações do bem-estar ... 37

4.5 Fechamento... 37

4.6 Agregação... 38

4.7 Descrição dos cenários utilizados... 39

4.8 Fonte de dados... 40

5. RESULTADOS... 41

A) Descrição dos cenários... 41

1. Cenários com supressão tarifária total... 41

1.1 O acordo entre Brasil e China... 41

1.2 O acordo entre Brasil e EUA... 46

1.3 O acordo entre Brasil e Argentina... 49

2. Cenários com supressão parcial de tarifas... 53

2.1 O acordo entre Brasil e China... 53

2.2 O acordo entre Brasil e EUA... 59

2.3 O acordo entre Brasil e Argentina... 65

B) Síntese dos resultados... 71

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 74

(7)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Acordos Preferenciais de Comércio em vigor e notificados à OMC... 16

Tabela 2 - Acordos comerciais do qual o Brasil faz parte... 19

Tabela 3 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e China... 42

Tabela 4 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões... 43

Tabela 5 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 44

Tabela 6 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 45

Tabela 7 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e EUA... 46

Tabela 8 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões... 46

Tabela 9 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 48

Tabela 10 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 48

Tabela 11 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e Argentina ... 49

Tabela 12 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões... 50

Tabela 13 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 51

Tabela 14 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 51

Tabela 15 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e China... 53

Tabela 16 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões.... 54

Tabela 17 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 56

Tabela 18 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 58

Tabela 19 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e EUA... 59

(8)

Tabela 20 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões... 60

Tabela 21 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 61

Tabela 22 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 63

Tabela 23 - Efeitos macroeconômicos do acordo preferencial entre Brasil e Argentina ... 65

Tabela 24 - Decomposição do bem-estar no Brasil, por setor – US$ milhões... 67

Tabela 25 - Variação percentual em variáveis selecionadas para o Brasil... 68

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e China - importações e

exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015... 3

Figura 2 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e Estados Unidos - importações e exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015... 4

Figura 3 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e Argentina - importações e exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015... 5

Figura 4 - Evolução dos Acordos Preferenciais de Comércio no mundo entre 1949 e 2016... 14

Figura 5 - Criação e desvio de comércio... 23

Figura 6 - Estrutura de produção do modelo GTAP padrão... 30

Figura 7 - Economia multirregional aberta sem intervenção governamental... 31

Figura 8 - Subsídios à exportação... 35

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RESUMO

PELEGRINI, Tatiane. M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, julho de 2016. Potencialidades de Acordos Preferenciais de Comércio entre o Brasil e seus principais parceiros. Orientadora: Elaine Aparecida Fernandes.

Os acordos preferenciais de comércio têm sido considerados uma estratégica básica de desenvolvimento comercial entre países, dada a grande expansão ocorrida, recentemente, das relações comerciais em nível global. O propósito deste trabalho foi examinar os possíveis ganhos de bem-estar decorrentes de acordos comerciais entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais da atualidade - China, Estados Unidos e Argentina - sob a ótica de um modelo de equilíbrio geral computável, o chamado modelo GTAP (Global Trade Analysis Project). Os resultados foram apresentados sob duas hipóteses: i) envolve a negociação de acordos preferenciais com liberalização tarifária total e ii) acordos com uma supressão da ordem de 33% nas tarifas de importação e subsídios à exportação. No primeiro cenário, o Brasil obteve ganhos de bem-estar consideráveis em todos os cenários analisados, com saldos deficitários na Balança Comercial, dado o impulso superior das importações. Destacam-se os ganhos de bem-estar nos setores relacionados à agricultura e alimentos processados em um acordo sino-brasileiro, enquanto nas relações bilaterais com os EUA e a Argentina, observa-se efeitos de diminuição das exportações brasileiras na agricultura frente a aumentos na produção e exportação de bens com maior valor agregado, como manufaturas leves e pesadas. Nos acordos comerciais simulados com supressão parcial de tarifas, o Brasil também obteve ganhos significativos em termos de crescimento do PIB e de bem-estar, embora essas vantagens fossem reduzidas quando comparados ao cenário com liberalização total. As importações brasileiras tiveram maiores aumentos quando comparados aos aumentos das exportações. No acordo entre Brasil e China, os ganhos de bem-estar são positivos e relacionados aos setores de bens agrícolas e alimentos processados, com destaque para os ganhos de bem-estar. O acordo celebrado com os EUA promove estímulos à indústria brasileira, com ganhos de bem-estar, maior produção e exportações brasileiras em manufaturas leves e pesadas, em especial nos setores intensivos em mão de obra. Por fim, em um acordo entre Brasil e Argentina, pode-se verificar que os ganhos em bem-estar são pouco significativos para o primeiro, além de ocorrer uma piora nos termos de troca. Há um aumento na produção e exportação no setor de maquinaria e equipamentos e manufaturas leves. De modo geral, as oportunidades de ganhos com APCs deveriam ser mais exploradas pelo governo brasileiro, onde setores estratégicos poderiam ter sua importância ampliada, espelhando as vantagens comparativas de produção que puderam ser observadas em cada cenário. A principal medida a ser adotada seria a implantação pequenas reduções tarifárias, para categorias de bens específicas.

(11)

ABSTRACT

PELEGRINI, Tatiane. M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, July, 2016. Preferential Trade Agreements potential between Brazil and its major partners. Adviser: Elaine Aparecida Fernandes.

The preferential trade agreements have been considered one of the basic strategies of trade development between countries, given the current expansion occurred in the trade relations globally. The purpose of this study was to examine the potential welfare gains from trade agreements between Brazil and its main today's trading partners: China, United States and Argentina from the perspective of a computable general equilibrium model, GTAP model (Global Trade Analysis Project). The results were presented in two cases: i) involves the negotiation of preferential agreements with full tariff liberalization and ii) agreements with a suppression of the order of 33% in import tariffs and export subsidies. In the first scenario, Brazil has considerable welfare gains in all scenarios analyzed, with deficit balances in the trade balance, given the greater momentum of imports. Noteworthy are the welfare gains in sectors related to agriculture and processed food in a Chinese-Brazilian agreement, while in bilateral relations with the US and Argentina observed lowering effects of Brazilian exports in agriculture compared to increases in production and export of goods with higher added value, such as light and heavy manufacturing. In trade agreements, simulated with partial elimination of tariffs, Brazil has significant gains in terms of GDP growth and well-being, although these benefits were reduced when compared to the scenario with full liberalization. Brazilian imports had higher increases compared to exports. In the agreement between Brazil and China welfare gains are positive and related to the sectors of agricultural goods and processed foods, have featured in welfare gains. The agreement with the US promotes incentives for Brazilian industry, with welfare gains, increased production and Brazilian exports in lights and heavy manufacturing, particularly in sectors intensive in labor. Finally, in an agreement between Brazil and Argentina can be seen that the welfare gains are negligible for the first, and there is a worsening in the terms of trade. There is an increase in production and exports in the machinery and equipment sector and light manufacturing. Overall, the earnings opportunities with APCs should be further explored by the Brazilian government, as strategic sectors could have gained in importance, reflecting the comparative advantages of production that could be observed in each scenario. Based on this, the main measure to be adopted would be the implementation of small tariff reductions for specific goods categories.

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

É em um contexto de revolução tecnológica e avanço capitalista, no que tange à ampliação e concentração de capital, que os países têm tido uma integração cada vez mais dependente e concorrencial (ALMEIDA, 2001). Esse novo cenário da economia internacional tem sido modificado pela presença dos países emergentes, que se tornaram elementos de sustentação da economia mundial e se transformaram em polos de expansão do comércio internacional após a crise financeira de 2008, através do incremento de exportações e importações (THORSTENSEN, 2011).

Entre os países emergentes, definidos como economias em crescimento que apresentam uma renda per capita que varia de baixa a média1, destacam-se os países componentes do BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul). Os BRICS têm se configurado como um agrupamento de países que têm adquirido crescente relevância política e econômica no cenário internacional, repercutindo as políticas adotadas em reação à crise econômica e ingressando na agenda de negociações mundiais. Esses países vêm configurando suas relações comerciais em busca de novas alianças e novos mercados para escoamento da produção (NAIDIN, 2013).

No que se refere ao Brasil, este tem tido uma ampliação mais gradual no grau de inserção comercial na economia mundial do que os demais países desenvolvidos que apresentam taxas de crescimento mais elevadas. Este fato é de suma importância quando se observa que o país depende de suas relações exteriores em razão da complementaridade estratégica entre os mercados doméstico e externo, sendo que “O caso brasileiro tem uma complexidade própria, de uma grande economia em desenvolvimento que, ao buscar uma orientação maior para fora, o faz de modo necessariamente mais gradual, em razão de suas baixas taxas de poupança” (SARQUIS, 2011, p. 98).

Atualmente, o Brasil tem apresentado expressivo crescimento no comércio internacional do agronegócio, sendo reconhecido como grande produtor e exportador de produtos agrícolas e agroindustriais para mais de 200 países

1ARNOLD e QUELCH (1998).

(13)

(BRASIL, 2015). De acordo com Black e Avila (2013), a pauta de exportações brasileiras tem uma grande concentração em commodities, que representam um papel predominante na determinação do saldo comercial brasileiro. A partir de 2002, um quadro favorável de crescimento da economia mundial e da demanda por matérias primas valorizou o preço desses produtos e elevou os termos de troca, o que estimulou o crescimento da produção e das exportações brasileiras concentradas em commodities.

Em 2015, o total da corrente de comércio exterior brasileira diminuiu 20,2% em comparação com 2014, de US$ 454,2 bilhões para US$ 362,5 bilhões. Entre as exportações totais brasileiras no ano de 2015, 45,6% correspondem a bens básicos, 38,1% a bens manufaturados e 13,8% a bens semimanufaturados (BRASIL, 2016). Além disso, os principais parceiros comerciais do Brasil foram China, Estados Unidos e Argentina e, por isso, o presente estudo se dedica a analisar as inter-relações comerciais para esses países.

A corrente comercial entre Brasil e China, por exemplo, foi da ordem de US$ 66,3 bilhões com participação de 18,3% do total das transações comerciais. Em relação aos Estados Unidos, o valor foi de US$ 50,5 bilhões, com participação de 13,9%, enquanto a Argentina representou 6,4% do total das transações comerciais com um volume transacionado de US$ 23 bilhões (BRASIL, 2016).

A partir de 2009, a China configurou-se como o maior parceiro comercial do Brasil, ultrapassando EUA e Argentina, tradicionais parceiros do comércio brasileiro. Atualmente, a relação bilateral sino-brasileira é caracterizada por meio da complementaridade das estruturas econômicas de cada país. Através da Figura 1, verifica-se que o Brasil é um grande importador de produtos manufaturados da China, onde a importação desses bens correspondeu a 97% das importações totais brasileiras no ano de 2015. Por outro lado, a maioria das importações chinesas é constituída por bens básicos brasileiros, que atingiu um montante de 80,1% das importações totais chinesas no ano de 2015.

Souza (2006) destaca que o Brasil, rico em recursos naturais, é capaz de fornecer à China matérias-primas e produtos agrícolas, enquanto esta, com um grande volume de mão de obra, baixa remuneração e estímulos governamentais, está apta a prover produtos manufaturados a preços competitivos.

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Figura 1 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e China - importações e exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior 2016.

A relação comercial do Brasil com os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial brasileiro, se constitui como uma parceria estratégica nas áreas comerciais e políticas. A pauta de comércio exterior brasileiro mostra-se mais equilibrada e favorável ao incluir bens de média e alta intensidade tecnológica, possibilitando um maior desenvolvimento da indústria brasileira em áreas estratégicas e uma diminuição da dependência por exportações de produtos para os quais o Brasil possui vantagens comparativas históricas em commodities (SEBBEN, 2011).

Essa relação pode ser visualizada através da Figura 2, através da qual observa-se que, de forma oposta a relação sino-brasileira, o Brasil exporta para os Estados Unidos um volume de bens semimanufaturados e manufaturados, superior à parcela de bens básicos. Entretanto, observa-se que entre os anos de 2005 e 2015, a exportação de manufaturas para os Estados Unidos sofreu uma redução de 71% para 57% do volume total exportado. Isso ocorreu em detrimento de um aumento no volume importado de bens manufaturados pelo Brasil.

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Figura 2 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e Estados Unidos- importações e exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior, 2016.

O comércio bilateral Brasil-Argentina se constitui como o maior fluxo comercial da América Latina, sendo considerado complementar em função do grande número de diversidades industriais e da capacidade de produção em setores integrados dos países (SARQUIS, 2011). A intensidade do comércio entre estes países representa, segundo Lins (2013), um aumento nas desigualdades socioeconômicas e nos processos de integração que pode gerar tensões e ações unilaterais capazes de prejudicar a coesão do Mercado Comum do Sul2 (Mercosul).

De acordo com a Figura 3, verifica-se que o Brasil mantém com a Argentina uma relação que pode ser considerada semelhante à dos Estados Unidos. O intercâmbio de bens manufaturados é maior que o de bens básicos e semimanufaturados, sendo que o Brasil tem elevado progressivamente o nível de importações de bens manufaturados e reduzido a importação de bens básicos.

2 Instituído por meio do Tratado de Assunção em 1991 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o Mercosul tem como principal objetivo ampliar o mercado dos países envolvidos no acordo através da integração a fim de acelerar seus processos de desenvolvimento econômico (TRATADO DE ASSUNÇÃO, 1991, p.1).

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Figura 3 - Intercâmbio Comercial entre Brasil e Argentina - importações e exportações brasileiras por fator agregado entre 2005 e 2015

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior, 2016.

Assim, tendo em vista as relações supracitadas entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais e a progressiva integração econômica mundial, os atos relacionados à elaboração de estratégias de inserção internacional, baseada na intensificação do comércio internacional e no foro de negociações multilaterais, têm escopo privilegiado.

1.2. O problema e sua importância

A crise econômica e financeira atual vem gerando importantes efeitos sobre o comércio internacional ao elevar as tensões e desafios que entravam o processo de negociação multilateral entre os países. Além de aumentar as tensões, segundo Thorstensen e Ferraz (2014), ela favorece os estímulos políticos e econômicos à negociação de acordos preferenciais de comércio (PTAs)3. Assim sendo, o aumento desses acordos preferenciais “(...) tem sido a estratégica básica de desenvolvimento comercial entre os países, em detrimento de uma estratégia mais geral, baseada em uma liberação multilateral dos mercados” (VILELA, 2012, p. 12).

Diante desse contexto e observando que o Brasil ainda é um país relativamente isolado no cenário das relações preferenciais, exceto pela ALADI

3Preferential Trade Agreements dizem respeito a pactos comerciais entre grupos de países que visam à redução de tarifas em determinados produtos aos países assinantes do acordo.

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(Associação Latino-Americana de Integração), o presente trabalho investigou as potencialidades de ganhos de bem-estar provenientes de acordos comerciais regionais entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais – China, Estados Unidos e Argentina. Por intermédio de tais acordos, o Brasil poderia explorar novas oportunidades de ganhos de competitividade, pois o país vem tendo perda relativa de seu acesso a muitos mercados internacionais, o que vem ocorrendo devido às preferências tarifárias, cotas agrícolas e redução de barreiras não tarifárias concedidas por parceiros comerciais a outros países, negociadas por meio de PTAs. Esses acordos envolvem concessões tarifárias recíprocas, afetam muitos setores e têm impactos complexos sobre a economia nacional.

Dentre os efeitos possíveis de uma maior integração via acordos preferenciais de comércio está uma integração profunda entre os países, com redução de custos de transação e eliminação de antagonismos entre quadros nacionais que poderiam implicar em entraves à produção internacional. A redução de tarifas e a negociação de mecanismos de proteção aos setores mais sensíveis podem permitir ao Brasil uma maior inserção no comércio internacional e aproximação entre os níveis de desenvolvimento das regiões envolvidas.

Ao se considerar a intensidade entre as relações comerciais envolvendo Brasil, China, Estados Unidos e Argentina, levando em conta que esses países são os fornecedores mais eficientes dos produtos que os mesmos tendem a comercializar entre eles, espera-se que um acordo comercial entre as partes envolvidas seja benéfico. O argumento favorável ao acordo se refere à ocorrência da criação de comércio, ou seja, a troca de um fornecedor menos eficiente, externo ao bloco, por um mais eficiente, pertencente ao bloco, sendo o segundo fornecedor favorecido pelo diferencial de tarifas externas. Nesse caso, haveria um aumento de bem-estar no bloco formado entre os países.

Viner (1950) é considerado o primeiro a analisar, de forma estatística, os acordos preferenciais de comércio e conclui que os resultados desses acordos, muitas vezes, são ambíguos. O autor introduz os conceitos de criação de comércio (ganhos de bem-estar)4 e desvio de comércio (perda de bem-estar)5, conceitos estes que foram amplamente utilizados por diversos autores.

4 A criação de comércio ocorre quando se substitui uma fonte mais cara por uma mais barata,

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O paradigma de criação e desvio de comércio, proposto por Viner (1950), postula que quando o país i forma um acordo de comércio com o país j, as importações provenientes de j irão aumentar (criação de comércio), porém as importações de outros países serão reduzidas (desvio de comércio). Os dois efeitos resultam, em grande medida, de mudanças nos preços relativos das importações provenientes dos demais países. No entanto, o aumento de importações provenientes de j para i após o recém-formado PTA pode ser menor, caso i já tenha acordos preferenciais de comércio pré-existentes com outros países. Atribui-se a esse fato o "efeito de diluição" (na criação de comércio) que surge em função de j não desfrutar de maior participação nos lucros ou no mercado de i sobre os países com os quais i já tem um PTA em vigor. Esses conceitos de Viner foram utilizados na presente pesquisa.

Em relação à literatura empírica, observou-se que ela é vasta. Os trabalhos de Balassa (1962), Kemp e Wan (1976), McMillan e McCann (1981), Helpman e Krugman (1985), Ben-David (1996), Venables (2003), Magee (2008), Krishna (2011), Mossay e Tabuchi (2015), Chang e Xiao (2015) podem ser citados como exemplos.

Balassa (1962) verifica que a eliminação de barreiras comerciais entre países proporciona um ambiente de integração econômica mais intensa, que resulta em um aumento do volume comercial e diversificação entre os bens comercializados nesses mercados. Kemp e Wan (1976) destacam a possibilidade de construir uma união comercial que melhore o bem-estar dos países membros sem afetar o resto do mundo, assim como Helpman e Krugman (1985) afirmam que adoções de tarifas menores implicam em aumentos de bem-estar, embora exista um trade-off entre distorções oriundas da perda causada pela tarifa e os ganhos nos termos de troca. McMillan e McCann (1981) também se dedicaram a compreender o bem-estar proveniente de uma união aduaneira através de um modelo de três commodities, argumentando que os países participantes de acordos bilaterais possuem incentivos, aumentos de bem-estar, para adotar a diminuição progressiva de tarifas até o livre comércio quando as mercadorias transacionadas tornam-se substitutas líquidas.

Ben-David (1996) estimou a conexão entre o volume de comércio com a convergência e divergência da renda entre países, verificando que a convergência de renda ocorre com países que têm um volume de comércio transacionado entre si

5O desvio de comércio, caracterizado pela substituição de um fornecedor mais barato por um mais

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mais intensa e mais concentrada em produtos primários. Venables (2003) analisou os efeitos de uma integração econômica através de uma abordagem voltada às vantagens comparativas6 entre os membros de uma união comercial e o resto do mundo. O autor estabelece a distribuição de renda entre os membros de uma união comercial com base nas vantagens comparativas, nas quais um país que possui uma vantagem comparativa “intermediária” tem mais vantagens com uma união do que países com vantagem comparativa “extrema”. Desse modo, uma união entre dois países pobres pode causar uma divergência de renda através da divisão desigual de custos e benefícios, enquanto duas economias ricas pode ter convergência de renda.

Por sua vez, Krishna (2011) analisou quanto foi efetivamente liberado por meio de acordos preferenciais multilaterais de comércio. O autor verifica que, independentemente do grande número de PTAs, negociados recentemente, uma parcela relativamente pequena do comércio mundial, 30%, é realizada em virtude de tais acordos preferenciais. Mossay e Tabuchi (2015) voltam a análise sobre a liberalização de mercados através de acordos preferenciais de comércio sobre os pressupostos de concorrência imperfeita (monopolística) e presença de efeitos sobre os preços. A principal conclusão dos autores é que a celebração de um PTA aumenta o salário relativo, o bem-estar e os termos de troca na área de integração, enquanto esses indicadores são rebaixados em países que não participam do acordo. Chang e Xiao (2015) examinam o bem-estar proveniente de uniões aduaneiras e áreas de livre comércio entre países membros com diferentes tamanhos de mercado. Os resultados indicam que sem tarifas que determinem a origem dos produtos transacionados não se formam áreas de livre comércio efetivas, em razão destas garantirem que produtos provenientes de países não membros possuam tarifas externas mais altas que países membros. Ademais, países com assimetrias no tamanho de mercado possuem melhorias de bem-estar através de áreas de livre comércio, embora acordos preferenciais de comércio surjam, principalmente, entre economias que possuam mercados similares.

6 O princípio das vantagens comparativas de comércio proposto por David Ricardo alega que os países exportam (importam) bens produzidos onde o trabalho é relativamente mais (menos) eficiente. Por meio de trocas é possível que ambos os países obtenham ganhos no comércio, pois obterão as mercadorias com menor custo.

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No que concerne ao caso brasileiro, diversos estudos empíricos têm abordado a adoção de acordos comerciais, suas principais motivações e os consequentes ganhos e perdas para a economia brasileira. Carvalho e Parente (1999), por exemplo, elaboraram estimativas dos efeitos da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) sobre os fluxos comerciais brasileiros em cenários de liberalização total e parcial de tarifas comerciais. De acordo com os autores, um acordo de integração entre as Américas faria com que o Brasil tivesse um aumento do volume total importado e uma redução do total exportado, dado o potencial exportador dos Estados Unidos dentro do referido bloco. Monte e Teixeira (2007) também avaliaram os impactos da criação da Alca, com gradual diminuição de tarifas, nos principais indicadores de crescimento e bem-estar da economia brasileira, além de identificarem os setores de produção mais competitivos. Nos cenários analisados, o indicador de crescimento econômico (PIB) brasileiro apresentou mudanças positivas, com pequenas variações, assim como os indicadores de bem-estar, utilidade per capita e variação equivalente. A Balança Comercial brasileira foi deficitária em todos os cenários, dado o aumento no volume importado de produtos manufaturados7.

Kume et al. (2004) verificaram os impactos das propostas de liberalização comercial entre o Mercosul e a União Europeia para produtos industrializados e agroindustriais. Os resultados obtidos demonstraram que um acordo de livre comércio não é capaz de explorar a complementaridade econômica entre os países do Mercosul e o bloco europeu, sendo preciso a negociação de dois acordos distintos que explorem diferentes agrupamentos de bens: industrializados e de origem agropecuária. Lins (2013) explora as relações comerciais internacionais e inter-regionais dos países membros do Mercosul enfatizando a importância econômica do Brasil para a união e avanço do bloco. O principal resultado apontado pelo autor é a inserção internacional mais acentuada experimentada pelo Brasil, em comparação aos demais países do Mercosul, durante as últimas décadas.

Sobre as economias emergentes, Thorstensen (2011) analisa a Política de Defesa Comercial dos BICs (Brasil, Índia e China), destacando semelhanças e contrastes após exame dos principais elementos da regulação dos instrumentos de defesa. A autora destaca as políticas de defesa e considera que a indústria brasileira

7 Destaca-se o aumento na produção interna e exportação de bens manufaturados, tais como: produtos florestais, têxteis e calçados.

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tem sido cada vez mais ameaçada diante de restrições internas e da concorrência com importações de países extremamente competitivos. Além disso, o Brasil possui uma atuação pouco expressiva no uso de instrumentos de defesa comercial, quando comparado a Índia e China. Já Vilela (2012), enfatizando a crescente relação comercial sino-brasileira, examinou os ganhos de bem-estar provenientes de acordos preferenciais de comércio e de desalinhamentos cambiais entre Brasil e China. O autor concluiu que um acordo preferencial entre estes países resultaria em um ganho mútuo de bem-estar, à medida que o comércio entre eles aprofundar em setores nos quais eles produzem com maior eficiência, comparativamente ao restante do mundo. Por fim, Thorstensen e Ferraz (2014) elaboraram um estudo, voltado para a análise do grande número de acordos preferenciais de comércio existentes no cenário político comercial internacional, mostrando a baixa adesão do Brasil no processo.

Observa-se, a partir dos trabalhos supracitados, especialmente os que tratam da inserção internacional brasileira via acordos preferenciais de comércio, que existe uma escassez de evidências empíricas que visam mensurar os ganhos e perdas de bem-estar setoriais gerados pelos acordos entre os parceiros comerciais brasileiros mais importantes. Essa questão ganha acentuada relevância quando se considera que o Brasil não apresenta avanços no sentido de aproveitar as vantagens advindas de uma maior integração em cadeias de valor inter-regionais e globais (NAIDIN, 2013). Sendo assim, este trabalho, em um primeiro momento, diferenciou os produtos nos quais cada economia possui maior vantagem competitiva como fornecedor eficiente para, em seguida, simular acordos preferenciais de comércio entre os mais importantes parceiros comerciais do Brasil. O intuito dessa investigação é verificar de que forma os efeitos da celebração de PTAs e a inserção comercial nas cadeias globais de valor atuariam na economia nacional.

1.3. Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho é fazer uma avaliação integrada e individual de possíveis acordos preferenciais de comércio (PTAs) entre o Brasil e os seus principais parceiros comerciais da atualidade – China, Estados Unidos e Argentina.

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1.4 Objetivos específicos

 Realizar simulações de acordos preferenciais de comércio entre o Brasil e seus principais parceiros;

 Determinar, em um cenário com eliminação e redução de barreiras tarifárias, os benefícios ou perdas econômicas advindas de acordos preferenciais de comércio;

 Verificar os setores nos quais o Brasil e seus principais parceiros comerciais possuem maiores vantagens como fornecedores eficientes;

 Mensurar as variações macroeconômicas decorrentes da eliminação nas tarifas do comércio internacional entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais.

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2. ACORDOS PREFERENCIAIS DE COMÉRCIO

O comércio internacional é regulado pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) de 1994, que criou a Organização Mundial do Comércio (OMC). O GATT, negociado durante a Rodada do Uruguai8, tem como princípios fundamentais a não discriminação e reciprocidade. O primeiro princípio determina que os países não devem estabelecer preferências a certos parceiros comerciais, alegando que vantagens e privilégios concedidos a um país devem ser estendidos a todos os demais (Princípio da Nação Mais Favorecida); já o segundo garante a formulação de regras generalizadas e uniformes.

Os Acordos Preferenciais de Comércio, de natureza discriminatória, ultrapassam os princípios básicos do GATT, entretanto a OMC permite que seus membros deixem de cumprir a cláusula de Nação Mais Favorecida mediante certas normas9 que estabelecem os principais requisitos para que os acordos sejam compatíveis com o sistema multilateral de comércio. O Artigo XXIV do GATT é o dispositivo que garante que zonas preferenciais de comércio e uniões aduaneiras devem fomentar a troca entre seus membros por meio de preferências não recíprocas, desde que atendam determinadas condições. A exceção contida no Acordo Geral, portanto, pretende estimular iniciativas regionais que tendem à reciprocidade e, em última instância, ao multilateralismo.

Nesse contexto, os Acordos Preferenciais de Comércio têm se tornado um importante instrumento de política comercial, pois os mesmos podem ser considerados uma característica irreversível da atual regulação do comércio internacional. A promoção do comércio em um nível preferencial estimula economias em desenvolvimento a implementarem reformas que facilitem sua integração aos mercado mundiais, especialmente com países desenvolvidos. Além disso, a proliferação destes acordos pode beneficiar o sistema multilateral de comércio, promovendo o bom funcionamento das cadeias globais de valor, a abertura e a liberalização competitiva nas relações comerciais internacionais (CRAWFORD e FIORENTINO, 2005).

8Última rodada de negociações multilaterais concluída promovida no âmbito do GATT. Foi iniciada oficialmente em 1986 na cidade de Punta del Este, onde estabeleceu um novo paradigma no sistema multilateral de comércio, pela incorporação de negociações de áreas além de mercadorias (serviços, propriedade intelectual) e pela criação da OMC.

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2.1 A proliferação dos Acordos Preferenciais de Comércio

De acordo com Panagariya (2000), os PTAs podem ser definidos como uma união entre países, na qual é acordada a incidência de uma tarifa menor para bens produzidos pelos países-membros, em detrimento dos produtos produzidos pelo restante do mundo, aos quais são aplicadas tarifas maiores. Os acordos podem ser classificados como bilaterais ou multilaterais. O primeiro ocorre quando assinado entre dois lados, país ou outro território aduaneiro, bloco comercial ou um grupo informal de países; o segundo envolve mais de dois parceiros. Para Balassa (1962), a eliminação de barreiras comerciais entre países proporciona um ambiente de integração econômica mais intensa, donde tais medidas resultam em um aumento do volume comercial e diversificação entre os bens comercializados nesses mercados.

Duas fases de regionalismo na história de Acordos Preferenciais são distinguidas por Bhagwati (1993): a primeira, do imediato pós-guerra até 1960, é caracterizada por numerosas tentativas de formação de acordos entre países desenvolvidos e em países em desenvolvimento; a segunda, entre 1960 até 1990, teria os Estados Unidos como protagonista no aprofundamento do regionalismo. Oliveira e Badin (2013) argumentam que há uma terceira fase, atualmente em vigor, que abarca o final dos anos de 1990 e o início do século XXI, caracterizada pela proliferação de acordos comerciais por meio da criação de regras e mecanismos de integração.

De acordo com Thorstensen et al.(2013), os primeiros acordos tiveram como objetivo a expansão e criação da Comunidade Europeia em 1957, além de outros dispositivos de integração regional nos anos de 1960, que atestaram a importância do regionalismo nas estratégias políticas e comerciais dos países no pós-Segunda Guerra Mundial. No entanto, a maior evolução ocorreu a partir do início da década de 1990, quando houve uma expansão no número de comerciais regionais, bilaterais ou plurilaterais de alcance parcial ou geral (Figura 4). Segundo a OMC (2016), no início dos anos de 1990 havia 70 PTAs em vigor, enquanto em fevereiro de 2016, cerca de 625 notificações de acordos (contando bens, serviços e adesões isoladas) tinham sido recebidas pelo GATT/OMC; destes, 419 já estavam em vigor.

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0

5

10

15

20

25

30

Notificação de APCs Ativos

Notificação de APCs Inativos

Figura 4 - Evolução dos Acordos Preferenciais de Comércio no mundo entre 1949 e 2016. Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados da OMC (2016).

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O histórico das negociações de PTAs apresenta, de acordo com Naidin (2013), duas tendências consideráveis: i) o contínuo crescimento de acordos preferenciais (denotado através da Figura 4) e ii) o aprofundamento no conteúdo dos acordos, que acompanham as mudanças da economia mundial, por meio de uma maior inserção nas cadeias globais de produção. De acordo com Vilela (2012), a contínua e crescente celebração de PTAs tem contribuído para fragmentar a regulação do comércio internacional em uma grande quantidade de acordos que afirmam a interdependência das mais distintas nações. Este aumento é impulsionado pelo crescimento das trocas comerciais de bens e serviços e pelo incremento dos fluxos de capital, criando condições para uma nova estratégia de desenvolvimento comercial, no qual uma liberalização de mercados tem ficado em segundo plano.

Alguns países têm utilizado em grande escala os PTAs a fim de expandir suas fronteiras comerciais. A Europa tem a maior concentração de acordos (Tabela 1), a partir dos quais a União Europeia (UE) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) têm uma atuação mais efetiva, ampliando constantemente a extensão de acordos preferenciais, especialmente com países do Sudeste Asiático, Leste Europeu, Mercosul e os BRICS. Os EUA têm atuado de maneira ativa durante a última década, assinando acordos com países na América Latina, África, Oriente Médio e Ásia. Recentemente, no ano de 2015, os EUA foram signatários do Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP) em conjunto com 11 países (Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã). O TTP é considerado o maior tratado de livre comércio da história (Mega-regional), que abrange 40% das riquezas do mundo (UNITED STATES, 2015).

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Tabela 1 – Acordos Preferenciais de Comércio em vigor e notificados à OMC

País PTAs em vigor PTAs notificados à OMC

EU 36 12 EFTA 24 5 EUA 14 1 México 13 1 Chile 26 0 China 13 3 Coreia do Sul 16 2 Japão 14 3 Cingapura 22 3 Índia 16 4 Nova Zelândia 11 1

Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados da OMC (2016).

A América Latina tem feito um esforço, segundo Thorstensen et al. (2013), em estabelecer PTAs entre os países da América Central e da América do Sul. Chama atenção a política de additive regionalism do México e Chile, que consiste em negociar acordos comerciais bilaterais entre os principais parceiros comerciais, estratégia que se exemplifica através da assinatura desses países do TPP, como supracitado. O continente asiático, especialmente China, Coreia do Sul, Japão e Cingapura, tem ganhado destaque ao estruturarem acordos preferenciais com o objetivo de integrar as cadeias produtivas da região. A China, de forma semelhante à política japonesa, vem ampliando suas negociações aos países da Oceania e América Latina – grande fornecedora de matérias-primas (OLIVEIRA, 2013).

De acordo com Badin (2013), China e Índia combinaram uma série de acordos-quadro como primeira forma de aproximação entre as partes dos acordos de comércio. De fato, a Índia merece destaque pela multiplicidade de PTAs negociados nos últimos anos, com especial atenção para as relações com os demais países da Ásia, Oceania e América Latina. Na região do Pacífico, a Nova Zelândia tem sido considerada a principal articuladora nas negociações de acordos com o Sudeste asiático e demais ilhas da Oceania.

Assim sendo, o objetivo geral das nações signatárias desses acordos é criar condições vantajosas relacionadas ao comércio, que podem pertencer à esfera política, econômica e de segurança. Os acordos têm se tornado cada vez mais flexíveis, não só no que tange a agregação de parceiros comerciais, mas na finalidade de assegurar o acesso ao mercado mundial; a manutenção dos

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investimentos diretos estrangeiros e da competitividade dos países; o estabelecimento de regras de origem, salvaguardas nacionais e medidas de defesa comercial; a normatização de barreiras técnicas e medidas fitossanitárias, entre outros dispositivos (CRAWFORD e FIORENTINO, 2005; OLIVEIRA e BADIN, 2013).

Diante desse contexto, as economias que não estão conscientes da multilateralidade do comércio internacional tendem a ficar retraídas e marginalizadas, com baixa competitividade do trabalho e das indústrias, acesso restrito ao comércio, bloqueio de investimentos, entre outras consequências da falta de flexibilidade na política econômica internacional.

A próxima seção aborda como tem sido o desempenho do Brasil diante da proliferação de Acordos Preferenciais de Comércio e quais as implicações mais imediatas de um isolamento perante uma maior integração comercial e produtiva mundial.

2.2 O Brasil no contexto de Acordos Preferenciais de Comércio

O Brasil tem privilegiado a esfera multilateral das negociações internacionais, uma vez que optou por priorizar as negociações da Rodada de Dahoa10, postergando as negociações de PTAs. Essa postura fez com que o país ficasse isolado perante outras economias tanto pelo pequeno número de acordos no qual o mesmo é signatário, quanto pela deficiência na elaboração de um modelo que afetasse as exportações brasileiras em um novo cenário de competição (THORSTENSEN et al., 2013). Segundo Thorstensen, Badin e Müller (2014), o desenvolvimento de acordos comerciais e de normas adequadas à realidade econômica permitiria o aumento das exportações de bens e serviços, além de uma atuação mais efetiva do Brasil no comércio internacional.

O isolamento do Brasil apenas agrava o quadro de baixo desempenho das exportações brasileiras. É muito provável que o Brasil, ator importante em todo o processo de negociação de Doha, considerado um rule maker, passe a mero espectador da elaboração das regras que pautarão o comércio futuro, uma vez que tais regras serão definidas pelos grandes parceiros, deixando Brasil com o papel de simples rule taker. (THORSTENSEN, BADIN e MÜLLER, p. 2, 2014).

10Lançada em novembro de 2001, em Doha, no Catar, os ministros das relações exteriores e do

comércio comprometeram-se a buscar a liberalização comercial e o crescimento econômico dos países em desenvolvimento.

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Definida como preocupante, a posição que o Brasil ocupa no comércio internacional atualmente não é favorável. Cervo e Lessa (2014) afirmam que após um período de ascensão brasileira como potência emergente, a inserção internacional do país entrou em declínio. De fato, o grande projeto brasileiro de integração regional foi a entrada, em 1991, no Mercado Comum do Sul (Mercosul) juntamente com a Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (com adesão em 2012). A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) instituída em 1980 também é considerada um grande instrumento de integração que conta, atualmente, com 13 países membros11. Ao se considerar o plano regional, os dois acordos juntos, Mercosul e ALADI, responderam por apenas 9,42% e 7,57% das exportações brasileiras de 2015, respectivamente (BRASIL, 2016). Embora representem uma parcela pouco considerável do intercâmbio internacional brasileiro, a importância desses mercados está na participação das exportações de bens manufaturados, que corresponderam a 78,18% das exportações totais para o Mercosul e 85,51% das exportações totais para a ALADI no ano de 2015.

Com foco no eixo político, o Brasil tem se voltado à negociação de acordos que intensifiquem as relações Sul-Sul, sem pretensões muito claras de integração produtiva ou regional (NAIDIN, 2013). No plano extrarregional, o Brasil, em conjunto com o Mercosul, é signatário de PTAs com Índia, Israel, União Aduaneira do Sul da África, Egito e Palestina, onde apenas os dois primeiros estão em vigor. Esses países juntos representam pouca expressão nas exportações brasileiras, nas quais corresponderam por 3,9% das exportações totais no ano de 2015. A Tabela 2 ilustra os acordos comerciais do qual o Brasil faz parte, o que enfatiza o caráter Sul-Sul das negociações de PTAs.

11 Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

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Tabela 2 - Acordos comerciais do qual o Brasil faz parte

Parceiro Comercial Grau de integração Escopo Entrada em vigor

Brasil - ALADI AEP Bens 18/03/1981

Brasil – Mercosul UA e AIE Bens e Serviços

Bens: 29/11/1991

Serviços: 07/12/2005

Mercosul – Índia APTF Bens 01/06/2009

Mercosul - PTN* AEP Bens 11/02/1973

Mercosul - México

Acordo Quadro para estabelecer um ALC (setor automotivo)

Bens 01/01/2003

Mercosul – CAN** ALC

Bens, infraestrutura

física e investimentos

22/04/2005

Mercosul - Turquia Acordo Quadro para

estabelecer um ALC - 16/12/2010

Mercosul - Israel ALC Bens, serviços e

investimentos 28/04/2010

Mercosul – SACU*** APTF Bens -

Mercosul - Egito ALC

Bens (cláusula evolutiva para serviços e investimentos) - Mercosul –

Palestina ALC Bens -

Fonte: Adaptado de Naidin (2013). *Protocol on Trade Negotiations; **Inclui Equador, Colômbia e Venezuela; ***Southern African Customs Union (inclui África do Sul, Namíbia, Botsuana, Lesoto e Suazilândia). APTF: Acordo de Preferências Tarifárias Fixas; AEP: Acordo de Escopo Parcial; UA: União Aduaneira; AIE: Acordo de Integração Econômica; ALC: Área de Livre Comércio; PTA: Acordo Preferencial Comercial.

Através da Tabela 2 observa-se que o Brasil privilegiou acordos de caráter tarifário com países em desenvolvimento, especialmente aqueles pertencentes à região sul-americana, que não apresentam um caráter expressivo do comércio brasileiro. Em contrapartida, o Brasil não tem acordos com seus principais parceiros comerciais: China, Estados Unidos e Argentina que, juntos, representaram 39,4% das importações e o destino de 37,9% das exportações totais brasileiras no ano de 2015 (BRASIL, 2016). Segundo Oliveira e Badin (2013), o Brasil tem suas negociações internacionais restritas à América Latina, e vem tornando-se um exportador de poucas commodities e um importador de manufaturas asiáticas.

A falta de uma política brasileira mais efetiva de inserção internacional por meio de acordos preferenciais tem resultado em uma visível perda de

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competitividade e de espaço em importantes mercados, como os da Comunidade Europeia e Estados Unidos, especialmente pelo fato desses países já serem signatários de acordos com seus principais parceiros comerciais. Diante disso, a economia brasileira vem perdendo referências e se isolando perante uma nova tendência no cenário econômico mundial. “O Brasil, paralisado por problemas de competitividade, adia cada vez mais o destino que terá de enfrentar cedo ou tarde” (OLIVEIRA e BADIN, p. 10, 2013).

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. O Modelo vinerano de comércio

Uma, dentre inúmeras questões controversas em economia, é a maneira como são formados os acordos preferenciais de comércio em uniões aduaneiras e áreas de livre comércio. Seus efeitos sobre o bem-estar em diferentes grupos e países e as consequências do processo de liberalização comercial multilateral são bastante discutidos na literatura especializada.

Ao investigar esse tema com maior profundidade para o caso de uniões aduaneiras, Jacob Viner publica, em 1950, sua obra seminal, intitulada The Customs Union Issue. Até então, persistia um consenso geral na teoria econômica clássica do comércio internacional, cuja principal premissa postulava que movimentos em direção ao livre comércio, como abolição ou redução de barreiras e a formação de áreas de integração econômica, geravam aumentos de bem-estar.

Nas décadas de 1930 e 1940, os problemas teóricos da integração econômica receberam maior atenção, sendo esta dada a posição favorável de protecionistas e adeptos do livre mercado ao estabelecimento de uniões alfandegárias (CAVALCANTI, 1997). Logo após a Segunda Guerra, as transformações da economia mundial e as mudanças tecnológicas trouxeram consigo a necessidade de um novo paradigma teórico para compreender a nova dinâmica do comércio internacional. A partir desse momento, os pressupostos básicos dos modelos clássicos e neoclássicos não se adequavam mais à realidade. Este fato fez surgir as tendências do regionalismo e multilateralismo (MOREIRA, 2012). Nesse contexto, Viner (1950) foi pioneiro quando mostrou que as uniões aduaneiras produziam efeitos de bem-estar tanto positivos quanto negativos.

Ao observar que os efeitos sobre o bem-estar de acordos preferenciais de comércio podem ser ambíguos, Viner (1950) desenvolve a teoria tradicional da integração internacional a partir dos conceitos de criação e desvio de comércio, refutando o consenso existente até então na teoria clássica.

A criação de comércio diz respeito à substituição de uma fonte fornecedora de bens mais cara por uma mais barata (aumento do bem-estar), donde uma eliminação de barreiras comerciais faz com que um país deixe de produzir internamente um bem para importá-lo a um menor preço (menor custo de produção). Esse efeito se dá sobre o consumo e a produção, através dos quais os

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consumidores são beneficiados com uma baixa do preço relativo dos bens produzidos dentro da área integrada e os produtores têm uma melhor alocação de recursos baseada nas vantagens comparativas.

O desvio de comércio, substituição de um fornecedor mais barato por um mais custoso (redução do bem-estar), faz com que um país, membro de uma determinada união alfandegária, importe um bem mais caro em detrimento da importação de um bem mais barato de um terceiro país – não membro desta união. Este efeito se dá pela ineficiência da alocação de recursos e pelo prejuízo dos consumidores, no qual os bens produzidos fora da região integrada são relativamente mais caros. Viner (1950) considera que o resultado líquido de uma união aduaneira depende das magnitudes relativas dos efeitos de criação e desvio de comércio:

Where the trade-creating force is predominant, one of the members at least must benefit, both may benefit, the two combined must have a net benefit, and the world at large benefits (…). Where the trade-diverting effect is predominant, one at least of the member countries is bound to be injured, both may be injured, the two combined will suffer a net injury, and there will be injury to the outside world and to the world at large (VINER, p. 44, 1950).

Para ilustrar os efeitos de criação e desvio de comércio (Figura 5), tem-se o exemplo desenvolvido por Panagariya (2000) que pressupõe três países: A, B e C, que comercializam aço entre si. Considera-se que os países A e B são potenciais parceiros comerciais de uma união, sendo A importador e B exportador de aço, enquanto C representa o resto do mundo. Na Figura 5, a curva vertical DADA representa a demanda por aço do país A. As firmas nos países A, B e C fornecem aço a preços constantes, PA, PB e PC, respectivamente. Sob a hipótese de perfeita competição, os preços correspondem ao custo marginal de produção em cada país (Px = Cmgx).

Por suposição, assume-se o país A como o fornecedor de aço mais ineficiente e C como o mais eficiente, sendo PA>PB>PC. Outro pressuposto do modelo é que os países B e C não comercializam entre si.

Inicialmente, o país A impõe uma tarifa não discriminatória, t, por unidade de aço comercializado. Esta tarifa é imposta de forma que PA > PC + t > PB. Toda a quantidade demandada, Q0, é importada de C, onde o preço pago pelos consumidores é PC + t, com área e + f coletada em receitas tarifárias pelo governo do país A.

(34)

Em um segundo momento, supõe-se que o país A elimina a tarifa sobre B enquanto a mantém sobre o país C, PC + t > PB, sendo que o país A adquire agora suas importações de B ao invés de C ao preço PB. Em função dessa mudança, não criar um “novo comércio” e substituir o país menos eficiente B pelo mais eficiente C, a união causa o desvio de comércio – o país A perde a receita tarifária e + f.

A perda líquida para o país A e o mundo a partir da união é a área e.

Figura 5. Criação e desvio de comércio Fonte: Panagariya (2000).

A seguir, supõe-se uma tarifa inicial não discriminatória no país A, t’, alta o suficiente para resultar em PA<PC + t’< PB + t. Esta tarifa alta pressiona os preços nos mercados B e C a partir do mercado de A. Toda a demanda por aço, Q0, é satisfeita pelas firmas do país A, aos preços de PA. Mais uma vez, o país A remove a tarifa sobre B e não sobre C. Essa mudança promove uma alteração na fonte de oferta de A para B. O preço do aço pago pelos compradores do país A diminui de PA para PB, promovendo um ganho no excedente do consumidor igual a f + g. Como essa união promove novo comércio entre A e B e está associada a uma mudança de um fornecedor de alto custo em A para um fornecedor de baixo custo em B ocorre criação de comércio, sendo o bem-estar de A e do mundo elevado em f + g, enquanto o bem-estar de B e C não é modificado.

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Em resumo, o modelo de Panagariya (2000) conclui que o benefício da criação de comércio, área (f + g), é igual a Q0.PAPB; a perda do desvio de comércio, área e, é igual a Q0.PBPC. Entretanto, o autor chama a atenção para o fato de que os benefícios de acordos preferenciais de comércio dependem tanto da extensão da criação de comércio, como da redução de custos nos países que passam a integrar uma união como fornecedora; bem como as perdas de bem-estar são determinadas pelo desvio de comércio e pela magnitude do aumento de preços.

Durante as três décadas que se seguiram ao trabalho de Viner, os efeitos da integração tiveram um grande número de contribuições, embora, o modelo vineriano, fundamentado nos conceitos de criação e desvio de comércio, seja considerado como “espinha dorsal” da teoria. Viner (1950) considera em sua análise o chamado efeito produção, enfatizando a substituição de fontes de oferta para um bem como resultado de uma união aduaneira, além de supor que os bens são consumidos em proporções fixas, sem considerar os preços relativos.

Outros autores, como Meade (1955), Lipsey (1957) e Gehrels (1956-1957) complementaram sua análise, incluindo os efeitos de uma união aduaneira na substituição de bens (efeito consumo) e admitindo que o consumo modifica-se em função de variações nos preços relativos. Para os autores, o bem-estar tende a aumentar no caso de uma redução de tarifas e o desvio de comércio pode ser benéfico, desde que a perda de bem-estar seja compensada por um aumento na satisfação dos consumidores após a eliminação de barreiras comerciais dentro da união.

Meade (1955) considerou, assim como Viner, que os efeitos de uma união aduaneira na substituição entre bens, o efeito consumo, pode ser positivo (criação de comércio) e negativo (desvio de comércio). A variação dos preços relativos gera um efeito substituição de mercadorias que tende a elevar o volume de importações de um país-membro da união aduaneira, já que os bens ficam relativamente mais baratos. Dessa forma, uma elevação de bem-estar ocorre através de uma melhora na eficiência das trocas, possibilitada por uma menor discriminação entre os bens transacionados dentro da união aduaneira.

Lipsey (1957) demonstrou que o desvio de comércio promove uma perda de bem-estar quando os bens são consumidos em uma proporção fixa, porém, esse efeito pode ser positivo se os consumidores puderem alterar a estrutura de consumo

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em resposta as variações relativas dos preços. O autor também argumenta que após a formação de uma união aduaneira, os ganhos de bem-estar ocorrem ao país que tem suas importações desviadas pela área da união e para o mundo como um todo.

Gehrels (1956-1957) argumenta que o desvio de comércio promovido por uma união aduaneira não é sinônimo de agravamento da posição de um país importador. Ao analisar a ótica da produção, o autor sugere que o desvio de comércio pode ser benéfico, embora, de modo geral, os países que não participam da união sejam prejudicados.

A partir do supracitado, observa-se que a teoria tradicional, representada principalmente por Viner (1950), analisa a integração sob a ótica do bem-estar considerando apenas os ganhos estáticos em uma estrutura de equilíbrio parcial. Os ganhos estáticos estão relacionados à eficiência no comércio adquirida através da realocação dos fatores de produção. Ao complementar a análise de Viner, Meade (1955), Lipsey (1957) e Gehrels (1956-1957) identificam a importância do efeito consumo e os aspectos positivos no desvio de comércio, enquanto autores subsequentes realizam extensões ao modelo vineriano básico.

3.2. Contribuições na análise da criação e desvio de comércio

A partir da introdução do efeito consumo na análise do desvio e criação de comércio, foram criadas condições para discussões do modelo vineriano, assim como acréscimos e mutações. Desde a contribuição inicial de Viner, as variações no bem-estar econômico derivadas das variações na eficiência produtiva e das trocas têm tido destaque nos posteriores trabalhos sobre a teoria da integração regional, nos quais as mutações da teoria atingiram um limite na virada da década de 1960, com um ponto de inflexão no ano de 1965.

Vanek (1965) utiliza um maior número de bens no modelo, considerando os preços flexíveis e os mercados competitivos, além do exclusivo uso de equilíbrio geral e uso de funções de preferências ordinais. De acordo com o autor, embora tarifas especiais beneficiem economias desiguais, há uma tendência de serem firmados acordos entre economias complementares. Vanek (1965) também apontou que uma união aduaneira não implica em uma perda de bem-estar para os países

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não membros, uma vez que seja imposta uma Tarifa Externa Comum (TEC) menor que as tarifas pré-união nos países membros.

Na década de 1970, destacam-se as contribuições de Bhagwati (1971) e Kemp e Wan (1976), que enfatizam os ganhos de bem-estar. O primeiro pressupõe que o desvio de comércio pode levar a um aumento no bem-estar da união, dada a elasticidade de oferta de um bem ser positiva e finita. O efeito líquido no bem-estar depende da magnitude dos ganhos de eficiência relativos à perda gerada pela substituição de fornecedores mais caros por mais baratos. O autor afirma ainda que a eliminação da possibilidade do desvio de comércio gera um incremento no bem-estar de uma união na hipótese de uma elasticidade de demanda por importações igual a zero.

Kemp e Wan (1976) sugerem que um acordo preferencial de comércio sempre é capaz de gerar incrementos de bem-estar, tanto para os países membros como para o resto do mundo. Respaldados nas conclusões da análise anteriormente feita por Vanek (1965), os autores afirmam que o estabelecimento de uma TEC “apropriada” garantiria que os blocos comerciais poderiam compensar os países não integrantes, por meio de um mecanismo distributivo que manteria os fluxos comerciais inalterados. Dessa forma, “The proposition is interesting also because it implies that an incentive to form and enlarge customs unions persists until the world is one big customs union (...)” (KEMP e WAN, p. 96, 1976).

De acordo com Vilela (2012), a partir de 1980 o regionalismo tornou-se um fenômeno mundial, com a ascensão norte-americana nas negociações internacionais, a assinatura da Single European Act12 e o colapso da União Soviética. No início dessa década, Paul e Ronald Wonnacott realizaram um estudo acerca da redução unilateral de tarifas, onde um PTA é considerado uma estratégia para que um grupo de pequenos países, que enfrentam elevados custos de transporte ou barreiras comerciais, possa acessar e abrir mercados. Wonnacott e Wonnacott (1981) apontam que se o acesso ao mercado de países parceiros de uma integração é mais importante que outros mercados estrangeiros, um PTA produz apenas ganhos de bem-estar para os seus membros.

12 O Ato Europeu Único foi aprovado em fevereiro de 1986, assim como seu programa de medidas para completar o mercado interno da Comunidade Europeia em 1992. Entre as principais resoluções, destaca-se eliminação das fronteiras internas técnicas e físicas, que se colocavam à livre circulação dos cidadãos e das mercadorias (MORAVCSIK, 1991).

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Dornbusch (1986), de forma contrária a Bhagwati (1971), propõe que os efeitos de criação e desvio de comércio em uma união aduaneira ocorram simultaneamente. Ao instituir uma TEC, alguns dos produtos dos países membros se tornam mais baratos que os do resto do mundo, mesmo que estes não sejam os mais eficientes produtores (criação de comércio). Assim, as importações do resto do mundo são substituídas pelas importações de um dos países do acordo (desvio de comércio).

A teoria das uniões aduaneiras recebeu escassas contribuições após a década de 1990. Isso ocorreu pelo fato da análise vineriana não receber um reconhecimento explícito nos ganhos regionais provenientes da integração (PANAGARIYA, 2000). Entre os trabalhos mais relevantes, Summers (1991) se destaca. O autor demonstrou que países membros de um acordo preferencial eram parceiros naturais (possuem um alto volume comercial transacionado, independentemente de acordos), sendo que os efeitos de criação de comércio eram superiores aos desvios, elevando o bem-estar mundial. Ele via no crescente regionalismo um vetor de mudanças favoráveis na estrutura comercial mundial, uma vez que acordos regionais eram mais inclinados a acelerar o processo de liberalização de mercados.

Ainda na mesma década, Meade-Lipsey-Gehrels, Wonnacott (1996) estabeleceu que o desvio de comércio não necessariamente implicaria em um prejuízo no bem-estar em ambos os países ou no restante do mundo. Isso se torna possível através de mudanças no lado da oferta que desencadeiam uma redução nos custos de produção em função do aumento do comércio, da competição e especialização geradas por um processo de liberalização comercial. Embora não seja possível precisar as variações no bem-estar provenientes do desvio de comércio, podem ser selecionados países parceiros que minimizem o desvio e maximizem a criação de comércio.

Mais recentemente, destaca-se a contribuição de Venables (2003). O autor aborda os efeitos de criação e desvio de comércio de uma união aduaneira por meio da análise das vantagens comparativas relativas. A distribuição de renda seria feita baseada nas vantagens comparativas de produção dos países membros. É interessante notar que pode ocorrer uma convergência das rendas per capita entre

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