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20º CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA 12 a 17 de julho de 2021 UFPA Belém (PA)

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20º CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA 12 a 17 de julho de 2021

UFPA – Belém (PA)

Comitê de Pesquisa 16: CP16 - Sociologia da Estratificação e Desigualdades

Desemprego e proteção familiar entre profissionais urbanos com formação superior

Vitor Matheus Oliveira de Menezes

Programa de Pós-Graduação em Sociologia (USP)

Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

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1 Introdução

Boa parte dos estudos sociológicos sobre o desemprego focou nas classes populares, que são especialmente vulneráveis às flutuações do mercado de trabalho e à deterioração das condições de vida. O outro lado da moeda tem sido a pouca atenção conferida ao desemprego entre profissionais com formação superior e com níveis elevados de renda familiar. Ainda que esse grupo não seja suscetível às consequências mais severas do desemprego, como a ameaça à sobrevivência do grupo doméstico, sua inclusão como objeto de pesquisa constitui uma iniciativa importante para o campo de estudos sobre estratificação social.

Para lidar com essa lacuna, realizei entrevistas junto a bacharéis em Direito que haviam frequentado a Escola de Magistrados da Bahia (EMAB), uma instituição de renome localizada na cidade de Salvador (BA) que objetiva preparar juristas para o ingresso na carreira jurídica via concursos públicos. A despeito de certa diversidade na construção da amostra, os entrevistados contam com alto investimento educativo e acesso considerável a recursos. O significado atribuído ao desemprego, em especial sua constituição enquanto um “problema”, assume peculiaridades em relação aos estratos empobrecidos. Isso vale tanto para os impactos do desemprego no cotidiano dos trabalhadores e suas famílias quanto para os projetos familiares de subsistência e mobilidade socioeconômica.

Existe uma tentação inicial a classificar esses indivíduos como pertencentes à classe média, um conceito que costuma ser bastante fugidio. Estanque (2017) define a classe média como um agregado heterogêneo de categorias sociais, reunindo indivíduos em trabalhos não-manuais e que desfrutam de bens culturais e recursos significativos. No Brasil, o senso de pertencimento à classe média decorre da experimentação de “um padrão de vida estável”, com usufruto do Ensino Superior, espaços de lazer e um nível satisfatório de renda (Salata, 2015: 131). Cardoso e Préteicelle (2017) classificam esses indivíduos a partir de critérios objetivos, e para isso, enfatizam a divisão social do trabalho. O tipo de ocupação aparece como a variável mais importante, levando em conta os proventos, o conteúdo do trabalho e as posições hierárquicas na estrutura ocupacional.

Veremos que a amostra deste artigo compartilha algumas experiências fundamentais. Todos os entrevistados possuem formação superior na área do Direito, pleiteavam vagas em concursos públicos e estavam matriculados em uma instituição privada com alto valor de matrícula. Mas os perfis profissionais e as características familiares, particularmente o nível de renda, variam bastante. Partindo das contribuições acima, em especial a pesquisa de Cardoso e Préteicelle (2017), poderíamos enquadrar os entrevistados em um leque relativamente amplo

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2 de estratificação socioeconômica, que inclui desde uma classe média baixa até as camadas superiores da sociedade soteropolitana1.

Em vez de delimitar uma classe específica, para os propósitos deste artigo, é até mais útil apontar quais experiências são compartilhadas pelos entrevistados e quais destoam nas suas trajetórias. De maneira geral, veremos que três características sintetizam as condições de vida durante o desemprego: a satisfação das necessidades básicas é algo garantido pelas famílias, sem nenhum prejuízo provocado pela perda do trabalho ou pelo desemprego prolongado; o investimento educativo é significativo e tende a acompanhar as trajetórias pessoais; e a dedicação profissional representa um projeto de reprodução e mobilidade socioeconômica. Ainda assim, foram observadas variações importantes nas trajetórias, o que ilustra a estratificação interna da amostra.

No próximo tópico, o artigo introduz o campo de pesquisa, o perfil dos entrevistados e as escolhas metodológicas. Em seguida, cinco tópicos apresentam os resultados da pesquisa, a fim de elucidar como desempregados com formação superior agenciam o acesso a oportunidades econômicas, apoio social e subsídios públicos, e qual o papel das famílias nesse processo. Finalmente, o último tópico sumariza as contribuições mais importantes do artigo.

1. A EMAB e a procura por trabalho entre os profissionais do Direito

A Escola de Magistrados da Bahia (EMAB) foi fundada no ano de 1982, a partir de um convênio entre o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e a Associação de Magistrados da Bahia (AMAB). Seu objetivo é aperfeiçoar a formação de magistrados e preparar bacharéis em Direito para o ingresso na carreira jurídica via concursos públicos. Desde a sua fundação, a EMAB sedia suas atividades em Salvador (BA), no bairro de Nazaré.

Meu primeiro contato com a EMAB ocorreu no final de 2018, quando apresentei o projeto de pesquisa e me reuni com representantes da Escola. Já no início de 2019, após o retorno positivo da presidência e de membros do corpo técnico, obtive uma lista com o nome e o e-mail de todos os estudantes matriculados em cursos preparatórios nos anos de 2017 e 2018. Esses 148 indivíduos foram informados dos objetivos da pesquisa e dos temas que seriam abordados nas entrevistas, bem como de algumas garantias básicas, como o direito ao anonimato. Nos casos em que obtive uma resposta positiva, perguntei qual seria o ambiente mais confortável para a realização das entrevistas, que aconteceram em espaços públicos, no ambiente de trabalho ou na residência dos entrevistados.

Ao todo, 21 indivíduos demonstraram interesse em participar da pesquisa, número que considerei satisfatório, reconhecendo as dificuldades de um primeiro contato virtual, mesmo que

1 Os indivíduos que podem ser enquadrados como pertencentes às camadas superiores foram poucos, e sua classificação decorre, sobretudo, do nível de renda das famílias.

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3 mediado pela Escola. As entrevistas foram transcritas e avaliadas após a coleta de dados, o que me permitiu constatar a densidade do material coletado, sem a necessidade de buscar outros interlocutores. Vale notar que os trabalhadores foram entrevistados um bom tempo após a procura, e assim, muitos entrevistados já exerciam ocupações remuneradas. Isso me levou a adotar um olhar narrativo, abordando a trajetória dos trabalhadores desde a formação superior até o tempo presente, com foco nas relações familiares durante períodos de desemprego.

Os entrevistados responderam a um questionário socioeconômico, cujos resultados encontram-se disponíveis em anexo. A amostra foi composta por 12 homens e 9 mulheres, com idades que variaram entre 27 e 63 anos. Como era de se esperar, todos os entrevistados possuem o Ensino Superior completo, já que essa é uma condição para a matrícula nos cursos preparatórios da EMAB. A maior parte dos entrevistados (12) se declarou de cor parda, 6 se reconheceram como brancos, 2 como pretos e 1 como indígena. Sobre a alta incidência de trabalhadores pardos, é preciso lembrar que esse grupo é sobrerepresentado em Salvador, alcançando, segundo os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) no primeiro trimestre de 2019, 48% da força de trabalho com Ensino Superior completo, contra 28,9% no restante do país.

Os locais de residência costumam possuir boa infraestrutura, e nos bairros com alta desigualdade interna, como Mata Escura e Cabula, os entrevistados moravam em locais bem equipados, como condomínios fechados e prédios novos. Apenas dois trabalhadores estavam desempregados no momento de realização das entrevistas, ainda que muitos, classificados como advogados, não possuíssem uma clientela permanente, o que repercutiu no salário “variável” informado em anexo. Já outros entrevistados se encontravam mais bem posicionados no mercado de trabalho, exercendo funções como profissionais liberais e empregados do setor público. As diferenças no tipo de emprego e na composição familiar resultaram em uma renda domiciliar amplamente variável, de R$3.300 (mas com acesso a recursos familiares externos) a R$60.000.

2. Desemprego e condições de vida

Os efeitos do desemprego nas condições materiais costumam ser brandos. A perda do trabalho é interpretada mais como um prejuízo pessoal do que como uma ameaça às condições de vida experimentadas pelas famílias. Entre os jovens, isso se deve a uma forte divisão intergeracional da provisão doméstica, através da qual os entrevistados apenas arcam com as despesas pessoais e se dedicam a procurar trabalho. Como diz o Interlocutor 1, mesmo quando estava desempregado, “a renda da minha mãe mais meu padrasto dava um padrão de vida para gente bom [...] na nossa casa nunca faltou absolutamente nada”.

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4 O menor prejuízo material causado pelo desemprego entre os trabalhadores das camadas médias e superiores constitui um fenômeno intuitivo e já discutido pela literatura (Payne; Warr; Hartley, 1984). Ainda assim, vale reconhecer alguns aspectos importantes. Nenhum dos bacharéis recebia seguro-desemprego, devido aos longos períodos sem trabalho e ao engajamento anterior em trabalhos não-registrados. Durante a procura por trabalho, o acesso a recursos se ancorava unicamente em poupanças e na ajuda familiar, e em menor grau, em trabalhos esporádicos. Nos casos em que a provisão familiar era compartilhada, ou até mesmo quando os desempregados eram responsáveis apenas pelo próprio sustento (por exemplo, no caso dos jovens que residiam com os pais e estavam no início da carreira), o desemprego não repercutiu em quaisquer mudanças nos padrões de consumo.

O cenário é um pouco diferente quando referido aos entrevistados que desempenhavam papeis importantes de provisão doméstica antes da perda do trabalho. Nesses casos, ocorre uma reorganização das finanças familiares, sendo essa a principal dificuldade durante o desemprego. Como sintetiza o Interlocutor 2, “você tem que enxugar despesas, você tem que fazer uma gestão financeira boa [...] ficar mesmo só com aquilo que você não pode cortar, cortar um monte de supérfluos, farra, viagem, essas coisas”. Isso fez o Interlocutor 5 “zerar despesas que tinha, zerei parcela de cartão, carro quitado [...] Aí fica-se o que, a despesa normalmente, as despesas de custo fixo, todo mês [...] E tem despesa extra, aí tira da reserva que já foi montada lá atrás, que é para conseguir equacionar”. Nesses casos, o núcleo familiar foi capaz de lidar com a queda do nível de renda, pois além de um dos cônjuges trabalhar, havia sido possível juntar poupanças. O desemprego é acompanhado pela necessidade de equacionar as despesas e os recursos disponíveis, despontando como um desafio de gestão financeira, mas sem prejuízo à compra de bens e serviços básicos.

A Interlocutora 17, a única provedora de uma casa com quatro crianças, afirma que “não gastava com nada além do essencial” durante o desemprego, e nesse período, contou com a ajuda de parentes que residem no interior. Em uma situação relativamente confortável, se tranquilizava ao pensar que “eu não vou ficar desempregada a vida toda, vai aparecer alguma coisa”, e aproveitou “esse período como férias, vou descansar um pouco e estudar”. Considerando as condições financeiras favoráveis e o fato de que essas trajetórias são inscritas em uma temporalidade estendida, o que traduz o desenvolvimento profissional de longo-prazo, o desemprego não é interpretado como um momento de ruptura ou crise (Lane, 2009). É certo que a caracterização dessa procura pode destoar bastante entre os entrevistados, incluindo processos de reorganização profissional, prospecção de clientes e dedicação aos estudos. Mas, de maneira geral, as famílias garantem o acesso estável a recursos essenciais e uma inserção planejada no mercado de trabalho.

Em todos os casos, o desemprego aparece como uma situação transitória, passível de ser enfrentada através do planejamento financeiro, e como um problema particular dos

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5 entrevistados, não sendo registradas redes de desempregados. Nos piores cenários, é descrito como um período difícil, mas que nem de longe ameaça a sobrevivência do grupo doméstico.

Mesmo assim, a dificuldade de encontrar trabalho provoca um distanciamento entre as expectativas geradas no período de formação universitária e o cenário atual. Isso faz com que seja “muito complicado você manter o psicológico” (Interlocutora 3), pois existem “cobranças, tem cobranças internas próprias [...] você fica sem trabalhar, e aí você não fica tão à vontade, sendo meio bancado e tal” (Interlocutor 6). Sobre o assunto, vale lembrar a literatura que tem se dedicado a estudar os impactos psicológicos do desemprego, considerando a centralidade do mundo do trabalho para a satisfação pessoal, a organização de rotinas e acesso a status (Shamir, 1986; Mousteri; Daly; Delaney, 2018).

3. Suporte familiar material durante experiências de desemprego

O apoio financeiro traduz projetos familiares de reprodução ou mobilidade socioeconômica. Particularmente entre os jovens, esse apoio é descrito como uma “mesada” (Interlocutor 20), que demanda a dedicação aos estudos e a procura por emprego, como uma forma de garantir boas chances em um mercado de trabalho extremamente competitivo. Os achados dialogam com Coria et al. (2005), que analisando o caso chileno, defendem que as ajudas financeiras periódicas, atreladas a metas de sucesso pessoal, são um expediente importante nas famílias dos estratos médios. As falas abaixo expressam diálogos entre os entrevistados e seus parentes, sobretudo os que integram o núcleo familiar:

Eu moro com minha mãe e meu irmão, já estava percebendo essa angústia que eu estava, de chegar tarde em casa, sair cedo, não ter tempo final de semana, o tempo todo trabalhando. Aí eu conversei com ela, dessa minha vontade, eu já entrei na faculdade com essa vontade de fazer concurso [...] E aí quando ela me apoiou nessa decisão, inclusive financeiramente, de me manter, até eu passar num concurso, aí foi mais tranquilo para mim, ter esse apoio em casa. Ela sempre soube que eu sou uma pessoa focada, então me apoiou de todas as formas

Interlocutora 3, mulher, 28 anos, Ensino Superior completo, branca, Cabula

Mas se você olhar hoje, sou eu e minha esposa, minha esposa, ela tem um emprego fixo. Aí se você olhar assim, e a despesa normal, do dia a dia? Minha esposa, ela dá o suporte na parte fixa, na parte variável, que entra como advogado, ela vem para fazer as outras coisas maiores. Aí se perguntar, “ah, como é que você paga, condomínio, água, energia, telefone?”, isso é bancado pelo recurso que minha esposa tem disponível. Aí o que entra de extra são os projetos que a gente tem em comum, para fazer uma viagem para o exterior, para fazer alguma coisa, ou seja, esse valor que entrar, é o valor que vai ser destinado para isso. Uma parte, como eu falei, para reserva, para o futuro, e a outra parte a gente vai colocar. É um certo combinado entre a gente.

Interlocutor 5, homem, 41 anos, Ensino Superior completo, pardo, Vila Laura

A esfera familiar é atravessada por relações de solidariedade e autoridade, consensos e conflitos, e as negociações cotidianas permitem a redistribuição de direitos e obrigações entre seus membros (Bilac, 1994; Couto, 2005). Nas falas acima, essas negociações se dirigem aos arranjos financeiros entre os entrevistados e seus parentes, subsidiando a preparação para concursos e o sustento das unidades domésticas. Ademais, as posições sociais são mutáveis,

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6 e levando em conta as oportunidades econômicas e a competição por postos de trabalho, as estratégias de acesso a recursos podem ser continuamente recriadas (Grün, 1998). A saturação do mercado de trabalho jurídico embasa avaliações negativas sobre as chances de sucesso profissional no exercício da advocacia. A dedicação aos estudos e a introjeção do papel de “concurseiro”, com grande dispêndio de dinheiro em cursos, livros e sustento pessoal, constitui um objetivo pessoal e familiar.

O apoio financeiro representa um investimento de longo-prazo nas trajetórias profissionais, visando ganhos econômicos futuros. No Brasil, a maior parte das pesquisas empíricas sobre a relação entre as famílias e as instituições educativas tem focado no acompanhamento escolar de crianças e jovens, considerando a importância da transmissão de recursos, valores e práticas através da esfera familiar (Carvalho, 2004; Zago, 2011). Ao analisar os relatos de adultos com idades variadas, este artigo ressalta outro aspecto da temática, a saber, o investimento educativo contínuo realizado pelas famílias das camadas médias e superiores, fenômeno que acompanha a vida adulta. A Interlocutora 15 diz que “eu combinei com minha mãe: me dê dois anos para eu ficar trancada em casa estudando” até ser aprovada em um concurso, enquanto outras falas sublinham o ato de “bancar para você estudar [...] para ter um emprego público” (Interlocutor 16). Ainda que existam incertezas nesse percurso, como as associadas à capacidade de absorção do mercado de trabalho, os projetos familiares visam garantir as condições para que o sucesso profissional seja possível.

Via de regra, as famílias ajudam “o cara a garantir alguns livros que custam mais do que um salário-mínimo, os cursos preparatórios, tem bons cursos preparatórios, de preparação anual, que também custam uns 2 salários-mínimos. Então é um investimento alto, não é barato” (Interlocutor 6). A Interlocutora 14 segue linha semelhante, e revela que “meu pai me dá um suporte danado. Financeiro, ele que me sustenta, entendeu?”. Em face da alta competitividade dos concursos, “eu tenho meu pai que diz ‘não, eu estou aqui, o que você precisar, eu acho que você tem que fazer as coisas no seu tempo’ [...] Ele basicamente provê tudo [...] Ele que pagou os cursos que eu fiz, da magistratura”. A Interlocutora 11 resume esse cenário, afirmando que “a trajetória profissional sozinha não sobrevive se você não tiver o suporte familiar e financeiro. Isso para poder estudar é um luxo” (Interlocutora 11).

Os achados destoam um pouco dos descritos por Powell e Driscoll (1973), cuja pesquisa abordou profissionais especializados do setor tecnológico nos Estados Unidos. Os desempregados, todos do sexo masculino, exerciam papeis essenciais de provisão doméstica. Isso conferia um caráter decisivo às poupanças para o financiamento da procura por trabalho, limitando-se o suporte familiar ao apoio emocional. Já na amostra deste artigo, uma forte solidariedade intergeracional beneficia os profissionais desempregados, e novos arranjos de divisão sexual do trabalho permitem a provisão feminina durante o desemprego dos homens. Nesse sentido, existem certas aproximações com a pesquisa de Lane (2009), que mais

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7 recentemente, sublinhou o papel crescente das mulheres em amortecer os impactos materiais do desemprego masculino.

É possível antever que o apoio familiar está fortemente baseado na coabitação, responsável por reduzir os custos e manter ou fortalecer a proteção familiar. As unidades domésticas embasam a organização de rotinas, a alocação de recursos e a divisão de tarefas (Rapp, 1978). Compartilhar uma residência com parentes, que possuem responsabilidade afetiva e financeira sobre os desempregados, permite a desobrigação financeira e a elaboração de projetos mais duradouros de inserção profissional. Sendo assim, a relação entre cônjuges representa “uma parceria” (Interlocutor 2), fundada na divisão de encargos. O Interlocutor 18 aponta que “quando ela [sua esposa] conseguiu um emprego, melhorou mais ainda para mim”, pois ela “dividia os honorários” que recebia como turismóloga. Isso permitiu ao entrevistado passar dois anos só “dedicado ao concurso”. Nesse período, era possível garantir o sustento doméstico com certa tranquilidade, considerando que “minha filha tem dinheiro, [nome da outra filha] trabalha e tem dinheiro, minha mulher trabalha, tem dinheiro, não é? Meu filho é professor, tem dinheiro”. De maneira semelhante, o Interlocutor 21, após perder o emprego, “pagava o que eu podia, ela [a esposa] pagava a maioria [...] Só minha mulher mesmo, eu e ela, mais ninguém [...] Financeiramente é só eu e ela”.

Assim como na pesquisa de Leighton (1992) sobre o desemprego em famílias de classe média no Reino Unido, a provisão feminina (que se fortaleceu em face dos novos significados atribuídos ao trabalho remunerado das mulheres, bem como do aumento dos custos de vida e do desemprego masculino) garante a satisfação das necessidades familiares enquanto os homens procuram trabalho. Na pesquisa referida, a reorganização financeira das unidades domésticas permitia que os homens assumissem empregos de meio período ou trabalhos autônomos experimentais, o que no caso deste estudo, representa os advogados em início de carreira. A prevalência do casamento homogâmico, tão importante para as estratégias de reprodução social (Abreu Filho, 1981; Guerreiro, 1992), faz com que as relações conjugais sejam suficientes para amortecer os impactos do desemprego para parte dos entrevistados.

Já o apoio intergeracional se dirige a um investimento nas trajetórias pessoais, considerando a responsabilidade dos pais, e em alguns casos dos avós, de garantir que os trabalhadores sigam os projetos que mais lhes apetecem. A Interlocutora 11 diz que “eu posso me dar ao luxo de me preparar financeiramente”, já que “eu tenho um suporte familiar, porque eu moro em casa própria, da minha família. E eu tenho suporte familiar para isso, então eu não preciso trabalhar”. Outras falas descrevem a desobrigação financeira e o sustento propiciado pelas famílias, como em “ainda continuo com meus pais [...] a renda lá de casa ainda está junto com eles. Então auxiliou bastante esse dinheiro” (Interlocutor 4); e “carro, casa, despesas com luz, energia, essas coisas, eu não tinha [que contribuir]” (Interlocutor 16). Esse apoio difere um pouco do observado entre cônjuges, no qual o suporte se baseia na divisão de responsabilidades

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8 financeiras e na busca por retornos de curto-prazo, evitando a sobrecarga de um dos membros do casal. Já o apoio intergeracional inclui investimentos na formação que serão colhidos futuramente, fomentando a dependência familiar do indivíduo até que a inserção profissional, da forma como desejada, seja possível. Os dados convergem para a caracterização da família como um ambiente responsável pelo desenvolvimento e realização pessoal, ideário que é típico das sociedades ocidentais contemporâneas (Singly, 2000).

Na literatura sociológica, costuma-se dizer que os percursos entre a família, a escola e o mercado de trabalho se tornaram cada vez menos lineares, revelando “padrões de vida flexíveis e temporários”, e até mesmo “ondulatórios” (Guerreiro; Abrantes, 2007: 149). A vida adulta não é acompanhada por uma sucessão lógica entre a formação educativa, a inserção profissional e a gradativa independência para com a família de origem. Alguns entrevistados precisaram retornar à casa dos pais ou depender do envio de remessas de dinheiro enquanto estavam desempregados, o que permitiu uma procura por trabalho mais sistemática. Já outros, após experimentarem empregos indesejados, decidiram até mesmo se retirar do mercado de trabalho para se dedicarem inteiramente aos estudos, almejando a estabilidade e os melhores salários do setor público. Nesse período, se fiaram inteiramente na família de origem, em uma experiência planejada de desemprego e dependência financeira.

A maioria das falas relatou o apoio financeiro através das relações conjugais e da descendência direta, em detrimento das relações colaterais, assim como em pesquisas anteriores realizadas no continente europeu (Kellerhals; McCluskey, 1988; Aboim; Vasconcelos; Wall, 2013). Mas outros arranjos também se mostraram possíveis, a partir dos quais o suporte financeiro pode vir a mobilizar redes protetivas mais amplas, fundadas nas relações de parentesco. As falas a seguir ilustram o assunto:

Minha mãe custeava [as despesas] [...] Minha avó materna, que também ajudou bastante, ajuda ainda bastante, tem as irmãs e irmãos da minha mãe [...] Às vezes minha avó também ajudava com a questão financeira também, ou pagava um curso, ou quando precisava viajar para concurso, às vezes me ajudava a pagar a passagem, hospedagem, nesse sentido. E depois que eu comecei a trabalhar, aí fui custeando. E quando minha mãe faleceu, tinha um seguro de vida, que é o que ajudou a manter minha irmã e eu. E aí hoje é com esse dinheiro que a gente se banca.

Interlocutora 10, mulher, 32 anos, Ensino Superior completo, branca, Pituba

Minha ex-sogra pagava a parcela do apartamento que eu tinha comprado, minha mãe ajudava com água e luz e meu ex-marido com o mercado, e continuou pagando a escola dos meninos. [...] Cada um ia pagando um pouquinho das contas e a gente ia se virando [...] Com minha mãe eu tinha mais intimidade, claro, eu sei que ela não tinha grana, mas ela sempre perguntava como estava, não sei o que, e aí ela sempre mandava um dinheirinho. [...] Minha mãe sempre teve comércio, confecções. Nessa época ela tinha um comerciozinho no interior e costurava, sempre costurou. Meu ex-marido foi uma coisa assim, ele já pagava a escola dos meninos, mas ele sempre foi muito atencioso, nunca foi de soltar grana, mas nesse período ele até que foi mais. Eles mandavam mercado do interior, fazia mercadinho... [...] Eu acho que foi, minha família sempre teve aquela coisa de perguntar como tá, se tem, se não tem, sempre teve essa preocupação. A ajuda mais surpresa que eu fiquei foi a minha ex-sogra, eu não esperava.

Interlocutora 17, mulher, 45 anos, Ensino Superior completo, branca, Itinga

Na mobilização dessas ajudas, o tamanho da rede familiar é variável, levando em conta as demandas materiais e a disponibilidade de recursos. O Interlocutor 7 afirma que, enquanto

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9 estava desempregado, sua esposa e mãe “mantiveram a casa [...] porque senão eu não conseguia sobreviver”. Quando sua mãe faleceu, “aí foi um baque ainda maior, porque eu perdi a ajuda dela, financeira. Então só era minha esposa, e eu comecei a correr atrás para buscar alguma coisa”. Logo após, visto que o apoio da mãe “ia fazer falta, ele [o pai] começou a ajudar. Aí ele ajudava com 2 mil reais [...] Mensal, todo mês ele me dava 2 mil reais para ajudar na despesa”. Nessas e em outras narrativas, as redes de apoio apresentam um caráter mutável, levando em conta certos ciclos de expansão e contração dos contatos efetivamente ativados. Tais ciclos partem de mapeamentos familiares dos recursos e oportunidades percebidos como alcançáveis, apontando para o uso cotidiano do parentesco, a partir dos significados e objetivos conferidos aos vínculos genealógicos. Esse processo se associa ao que Bourdieu (1996: 130) chama de “criação continuada do sentimento familiar”, como um “princípio afetivo de coesão, isto é, adesão vital à existência de um grupo familiar e seus interesses”. Fundamentando o senso de pertencimento a uma família, as relações familiares decorrem de trocas materiais (dinheiro, propriedades e mercadorias) e simbólicas (direitos e deveres) entre seus participantes, e durante períodos de desemprego, a descrição de quem são os parentes presentes no dia a dia (participam das redes de apoio, e com os quais os entrevistados podem contar) varia a depender da efetividade dessas trocas.

4. Negociações, cobranças e papeis familiares

Em alguns casos, como na fala anterior do Interlocutor 7, os contatos estão disponíveis a depender da necessidade dos entrevistados, e as trocas ocorrem quando se avalia que o desempregado não é capaz de arcar com suas necessidades. Já em outras falas, o apoio financeiro se limita a um ou poucos nós da rede de parentesco, e assim, a inexistência de trocas materiais repercute em um enfraquecimento das trocas simbólicas, pelo menos no que diz respeito aos direitos e deveres durante a procura por trabalho. Como diz a Interlocutora 3, sua mãe sempre acompanhou de perto sua dedicação aos estudos, e reconhecia que a entrevistada era responsável e fazia valer o investimento financeiro. Enquanto isso, “os outros parentes são só para perguntar quando é que eu vou passar num concurso, se eu já passei, se já não estava na hora de eu estar fazendo alguma coisa”. A Interlocutora 3 se incomodava com a cobrança excessiva, mas a partir de um certo momento, parou de levar essas cobranças a sério, “porque quem me bancava financeiramente, quem via minha rotina de estudo, era minha mãe”.

Especialmente quando o apoio financeiro é disponibilizado pelos pais ou responsáveis, é seguido por cobranças sobre a dedicação dos entrevistados. Vale notar que as cobranças não são tanto direcionadas à procura imediata por empregos e ao aceite de propostas, e sim ao fato de que os indivíduos devem faz jus ao investimento familiar, se mantendo ativos. A Interlocutora 19 relata que, após obter o diploma, “tinha pressão da família, por estar parada dentro de casa,

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10 mas acho que a pressão era mais no sentido de descobrir o que eu queria fazer, a pressão não era tanto para me inserir no mercado de trabalho”. Por vezes, as cobranças também refletem uma forte moralidade familiar, refletindo o que se espera dos indivíduos adultos:

Meus pais sempre foram muito tranquilos em relação a isso, tranquilos que eu digo assim, sabendo que leva um tempo para você começar a ingressar na carreira. Mas ao mesmo tempo que eles me davam esse período para, vendo que eu estava batalhando para ingressar, a cobrança implícita era diária. Por mais que não saísse da boca deles, eu via que meu pai acordava para ir trabalhar, e via que eu estava em casa, de vez em quando no computador, ou de short, e era uma coisa que não era bem aceita. [...] Contribuir financeiramente para o custeio da minha família não, eu nunca tive que contribuir lá com a minha casa, a contribuição que eu dava era indireta, porque eu parava de receber mesada, na verdade. Mas nunca tive que contribuir, nesse ponto não. Seria realmente de desenvolvimento pessoal e de ingressar numa carreira, até para que eu viesse a me desvincular de minha casa, da minha família.

Interlocutor 20, homem, 27 anos, Ensino Superior completo, branco, Vilas do Atlântico

É relativamente assentada a ideia de que as famílias devem formar membros produtivos da sociedade, sempre ativos e disponíveis para o trabalho. Isso se assemelha a uma espécie de socialização ética, com vistas a preparar os indivíduos à participação no capitalismo competitivo. No sentido conferido por Bilac (1994) e Jelin (1984), o incentivo à disciplina no mercado de trabalho e nos processos educativos constitui uma forma de garantir a reprodução da posição de classe, visto que essa reprodução, especialmente nos estratos médios, está condicionada ao sucesso profissional. Mas às vezes, o que se espera do indivíduo não corresponde aos seus êxitos e aspirações, e as cobranças são interpretadas como injustas ou desproporcionais. O Interlocutor 1 diz que estava “demorando muito tempo pra poder ter minha vida, isso muitas vezes gerava até certas brigas dentro de casa, e não foram poucas as brigas não”. Isso ocorria porque “minha mãe sempre me ajudou, mas teve momentos que ela era extremamente, assim, incisiva”. Ao somar a cobrança com o fato de que “você não saiu de casa, não teve a sua vida, a sua independência [...] quando você junta tudo isso, a sua cabeça fica difícil”. Não à toa, parte da literatura sociológica se dedicou a estudar as tensões familiares durante o desemprego dos trabalhadores jovens, assim como sumarizado por Taylor (2002).

A formação de unidades domésticas pode pressionar o indivíduo a se tornar economicamente independente da família de origem. Isso não significa um afastamento completo em relação à família elementar, mas uma reescrita dos direitos e obrigações que fundamentam as relações de parentesco (Abreu Filho, 1981). Ainda que o indivíduo seja passível de ajudas, especialmente durante a procura por melhores empregos, se espera que ele ou ela arque com as necessidades da nova unidade doméstica.

Assim, a Interlocutora 19 relata que, “enquanto eu estou ainda na casa de meus pais, é tranquilo, porque eu tenho um suporte financeiro”. Mas ao se mudar com o esposo para uma nova residência nos meses seguintes à entrevista, “eu vou ter que começar a suportar sozinha, custos que eu não suportava na casa deles, aí tudo isso gera mais insegurança”. Ao reconhecer esse cenário, a entrevistada afirma que “eu preciso de uma fonte de renda para poder me

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11 manter, então a cabeça já está mais voltada para esse lado agora [...] Parar para estudar fica mais complicado, porque eu não vou ter fonte pra poder me custear”. Pelo menos em um sentido ideal, a formação de novas unidades domésticas traduz a autonomização dos filhos em relação aos pais, configurando uma redefinição dos papeis familiares (Wendling; Wagner, 2014). Na amostra desta pesquisa, isso ocorreu especialmente quando a formação de novas unidades domésticas decorria dos casamentos, enquanto os indivíduos que moravam sós ou com irmãos eram percebidos como uma extensão do núcleo familiar original, portanto incluídos nos direitos e obrigações advindos da casa dos pais.

Mesmo quando a família deseja contribuir com as trajetórias profissionais, a ajuda financeira possui limites. Bruschini e Ridenti (1994) destacam que a possibilidade de se desobrigar financeiramente durante a dedicação aos estudos constitui um marco definidor da posição de classe no Brasil, sendo também afetada pelo ciclo de vida das famílias. Os planos de inserção no mercado de trabalho, bem como o suporte familiar que subsidia essa inserção, são fatores que estratificam internamente a amostra.

Se, em falas anteriores, os entrevistados ressaltaram o apoio financeiro durante a preparação para concursos, outros entrevistados negaram essa possibilidade, ainda que o desemprego não tenha provocado prejuízos severos às condições de vida. A Interlocutora 12 afirma que precisou retomar a advocacia contra a vontade, pois “minha mãe não tinha condição de me dar esse suporte. Ela também não estava passando por uma fase financeira boa, então ela cobrava de mim, ela dizia que eu não ajudava. Então eu comecei a advogar justamente porque eu não tinha suporte nenhum para estudar”. Já a Interlocutora 13 revela que, “como minha família precisava mais da questão do financeiro”, ela não tinha “condições de abdicar” do trabalho, pois em sua casa é tudo “bem dividido, porque proporcionalmente, fica uma conta para cada uma [mãe, irmã e a entrevistada]”. A inserção no mercado de trabalho é percebida como um mal necessário, pois o ideal seria se afastar temporariamente da procura por trabalho e investir no ingresso em um emprego público, assim como realizado por outros colegas da EMAB.

Seguindo esse raciocínio, os indivíduos mapeiam as oportunidades e recursos disponíveis, ponderando suas chances econômicas, o que influi sobre a procura por trabalho. Vejamos dois exemplos ilustrativos. A Interlocutora 14 revela que seus familiares não se preocupam com o tempo necessário para passar em um concurso, eles “são muito tranquilos quanto a isso. Tudo tem seu tempo [...] ele [o pai] sempre pede paciência [...] Ele prefere que eu estude para concurso, porque é algo que dá uma estabilidade e uma segurança maior. Mas não me sinto pressionada não”. Já a Interlocutora 3 sempre se interessou pela magistratura estadual, “só que eu não poderia começar meus estudos já nesse nível [...] eu estava sendo mantida por minha mãe, então não conseguiria que ela ficasse muito tempo me mantendo”. Logo, a entrevistada decidiu “focar em concursos menores, de técnica analista e de procurador de municípios pequenos, que é mais tranquilo também, as provas”. Ao ser aprovada, a Interlocutora

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12 3 passou a estudar para processos seletivos futuros, enquanto seu salário ajudava “um pouco minha mãe, nessa questão financeira [...] eu comecei a retirar certas coisas que eram minhas”. No primeiro caso, o suporte familiar permitiu à entrevistada focar nos estudos e se afastar do mercado de trabalho, apenas exercendo atividades esporádicas como advogada. Já no segundo, o suporte familiar foi uma solução transitória, que difere um pouco dos investimentos de longo-prazo relatados pela maioria dos entrevistados. Por isso, a Interlocutora 3 precisou aproveitar rapidamente o apoio financeiro da mãe, se inscrevendo em vagas menos concorridas e postergando o plano de seguir na magistratura estadual.

Até aqui, as entrevistas explicitaram a permanência no mercado de trabalho jurídico, uma escolha feita com mais ou menos dificuldades. Contudo, a insuficiência de recursos e a ausência de contatos significativos pode obrigar os indivíduos a se aventurarem em outros ramos profissionais. A Interlocutora 13 afirma que, após ser demitida de um escritório de advocacia, “comecei a colocar currículo em tudo. E lhe digo, nem ser chamada para entrevista eu estava sendo chamada”. Ao ver sua situação, “meu pai tem uma loja, uma papelaria, e aí ele falou ‘a gente precisa se unir como família’”, pois a entrevistada não conseguia emprego e “a gente está passando por uma fase bem desafiadora no comércio [...] aí vamos ficar juntos, nem que a loja funcione só nós três [a entrevistada, seu pai e sua irmã]”. Ainda que isso garanta seu sustento, a Interlocutora 13 lamenta ter se afastado da advocacia, e conclui: “infelizmente hoje está muito difícil, então eu preciso da ajuda da minha família. Mas estou aos pouquinhos tentando, me comunicando, voltando a procurar”.

Para compreender essas e outras narrativas, os conceitos de “projeto” e “campo de possibilidades” me são úteis, seguindo as proposições de Velho (2003) que são reconhecidamente importantes para as pesquisas sobre carreiras profissionais (De Luca; Oliveira; Chiesa, 2016). Segundo o autor, os projetos são planos dirigidos ao futuro e decorrem de redes de relações, enquanto o campo de possibilidades traduz os determinantes (históricos, socioeconômicos, de socialização, de interação com outros projetos individuais e coletivos) que condicionam a elaboração e implementação dos projetos. No caso deste artigo, os projetos se dirigem às trajetórias profissionais, e podem ser apenas pessoais ou abarcar todo o corpo familiar, como se mostrou bastante comum. Esses projetos dependem da avaliação dos recursos e oportunidades disponíveis, que embasam, durante períodos de desemprego, os meios de procura por trabalho e o tempo dedicado a essa procura.

Vimos que muitas narrativas transpareceram a correspondência entre projetos pessoais e familiares, a partir da subsistência e do investimento de longo-prazo na carreira dos entrevistados. Já no caso da Interlocutora 13, ainda que não tenha ocorrido o desfecho ideal, a empresa do pai permitiu uma reorientação da trajetória profissional, e em um período difícil, uniu a família em torno de um empreendimento comum. A entrevistada prossegue, e afirma que “eu programei minha vida completamente diferente, eu digo, nunca imaginei trabalhar em papelaria,

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13 nunca”. Quando começou a trabalhar como advogada, pensou até mesmo que ia “alavancar” na profissão, “mas tudo que a gente acaba programando, acaba mudando”. A salvaguarda financeira disponibilizada pela família lhe permite arcar com suas despesas, enquanto planeja voltar ao mercado jurídico quando vislumbrar boas oportunidades, algo incentivado pelo pai, que “sempre fez questão que eu estudasse para concurso”.

5. Desemprego e suporte familiar não-monetário

Além da ajuda financeira, o suporte familiar é responsável por prover apoio emocional, como uma “motivação de casa [...] na nossa cabeça, a gente imagina que vai ser de uma forma, aí quando a gente vê que a realidade é tão mais difícil...” (Interlocutor 1). Ainda que existam cobranças de desempenho, o suporte familiar possibilita que os indivíduos planejem com cuidado a procura laboral, privilegiando a busca pela satisfação pessoal e por boas condições de trabalho. Se o apoio financeiro garante que a procura seja possível, o apoio emocional visa estimular os entrevistados a persistirem nos estudos e na prospecção de clientes, bem como minimizar os impactos negativos do desemprego na autoestima dos trabalhadores. O Interlocutor 5 afirma que o apoio emocional possui “importância total. Minha esposa, ela a todo momento, hiper compreensiva [...] Esse suporte emocional dela, essa parceria que ela tem comigo, é muito saudável, e faz com que essa transição e essa instabilidade no orçamento do advogado, a gente consiga passar numa boa”.

O assunto foi suscitado em diversas entrevistas, o que corrobora os achados da literatura sobre a relevância das relações afetivas e do suporte emocional durante experiências de desemprego (Huffmann et al., 2015; Blustein; Kozan; Connors-Kellgren, 2013). Mas se, nos estratos empobrecidos, esse suporte reflete o apoio familiar durante períodos de privação, aqui se dirige aos ganhos que o indivíduo pode obter, caso permaneça concentrado em sua trajetória profissional. A Interlocutora 3, por exemplo, diz que “minha mãe sempre me apoiou com concurso, porque foi algo que deu certo para ela [...] Ela sempre acreditou em mim, muito mais às vezes do que eu mesma. Então, isso para mim foi muito importante, essa questão, desse apoio emocional dela, de acreditar em mim, de saber que eu estava no caminho certo”.

Dentre as formas de apoio familiar, a indicação a vagas de emprego e a ajuda à inserção profissional também são dignas de nota. Para alguns advogados, muitos clientes são “indicações de família” (Interlocutor 2), e os “clientes iniciais normalmente eram parentes [...] até mesmo meus pais” (Interlocutor 4). Essa circulação “interna” de recursos, no seio das famílias, condiz com um repertório importante de enfrentamento ao desemprego. Nas falas abaixo, o papel das famílias em prover oportunidades no mercado de trabalho está vinculado aos recursos disponíveis, propiciando a circulação de informações e a conversão dos familiares em clientes, um repertório que é especialmente importante no início das carreiras.

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14 Por mais que você não esteja absorvido por uma grande estrutura, se você tiver os seus clientes próximos, sua família, vizinhos, amigos, você tem o que fazer, você sempre tem o que fazer. Tem processo pequeno, uma coisinha besta, uma audiência. [...] Porque assim, você não precisa de emprego, você precisa de cliente, e cliente só depende de você. Aliás, sua mãe é uma cliente em potencial, seu pai é um cliente em potencial, seus irmãos, seus parentes são clientes em potencial [...] Então basta você ter inscrição na OAB, você tendo inscrição na OAB, pelo menos você tem ali trabalho. Claro, pode não ser uma remuneração que você almeja, óbvio, mas no início é difícil. Mas você não fica sem ter o que fazer.

Interlocutor 9, homem, 32 anos, Ensino Superior completo, pardo, Itapuã

Ela [esposa] soube da abertura dessa vaga [analista jurídico no Tribunal de Justiça da Bahia], que era para comissionado, me indicou para a vaga. Eu vim aqui, entreguei currículo, fiz a entrevista, teve uma atividade que eles passaram, para desenvolver o voto, e acabei sendo contemplado.

Interlocutor 20, homem, 27 anos, Ensino Superior completo, branco, Vilas do Atlântico

As famílias propiciam uma ajuda difusa na prospecção de clientes, oferecendo causas ou indicando conhecidos. Complementando as falas acima, a Interlocutora 18 conta que “eu tinha decidido começar a parte jurídica da empresa de meu pai [...] Uma empresa de transportadora de combustíveis [...] aí iniciei vendo o andamento desses processos” (Interlocutora 18). Mas o real poder de influência das famílias no mercado jurídico, via processos seletivos e indicações de clientes, está condicionado à presença de parentes em posições estratégicas nesse mercado. Isso permite o acesso a informações e oportunidades em um ambiente altamente especializado, cuja participação é vedada aos indivíduos que não possuem os recursos e requisitos educativos mínimos.

Se sabe que a quantidade de recursos disponíveis afeta o papel das redes interpessoais na procura por trabalho (Lin, 2000; Guimarães, 2009). Ademais, em sociedades altamente fragmentadas e compostas por campos especializados de práticas, os ambientes nos quais circulam os nós dessas redes também interferem no que elas podem oferecer em termos de oportunidades econômicas. Como resume o Interlocutor 7, “quem não tem uma estrutura de família nessa área do Direito, para você começar do zero como eu comecei, é muito difícil. Pelo menos de 2013 até 2017, foi um sufoco para mim, foi um sufoco muito grande”. A experiência foi inversa à do Interlocutor 5, cujo “tio é advogado, hoje ele não advoga mais, por conta da idade. Aí tudo que ele tinha, começou a passar para mim [...] Alguns clientes que vem surgindo, ele passa diretamente, sem nenhum problema”. A possibilidade de seguir um legado familiar exerce uma influência importante sobre o sucesso profissional.

Sobre os tipos de solidariedade familiar, Fonseca (2002) lembra que a literatura acadêmica havia constatado a importância do cuidado compartilhado de crianças nas camadas médias e superiores. Mas na amostra deste artigo, poucos indivíduos (6) possuíam filhos, e quando isso ocorria, tendiam a ser adolescentes ou adultos. Decerto, deve-se associar esse padrão ao baixo índice de fecundidade nos estratos superiores de renda (Camarano et al, 2014). A isso se soma o fato de que o acesso a recursos pode viabilizar o usufruto de ambientes institucionais de cuidado, como as creches e, no caso do Interlocutor 7, uma escola privada que era gerida pela esposa, onde suas filhas permaneciam durante o dia. Não foram encontrados

(16)

15 muitos relatos sobre a ajuda familiar que se dirige ao cuidado de crianças, uma atividade decisiva para a participação no mercado de trabalho e em outros ambientes externos ao domicílio. A exceção foi a Interlocutora 17, que ao iniciar a carreira jurídica, precisou se mudar para Salvador a fim de procurar trabalho. Nesse período, precisou deixar “os dois [filhos] mais velhos com o pai e os dois mais novos com minha mãe [...] Eles ficaram lá, eu fiquei aqui dois anos, resolvi essa história de trabalho, mas o valor que eu ganhava era muito pouco ainda para trazer”. Depois de certo tempo, conseguiu um trabalho com boa remuneração, o que a possibilitou trazer os filhos para a capital, cuidados inicialmente junto com a mãe.

Já outras falas ressaltaram o desempenho de atividades de cuidado por parte dos entrevistados. A Interlocutora 3 conta que, “no período que eu estava estudando, minha avó teve câncer, passou por quimioterapia. E eu sou muito apegada a ela. Então no início, esses 6 meses de estudo que foram praticamente perdidos, foi o momento que eu fiquei mais com ela também. Praticamente eu me mudei para a casa dela”. Como resume, enquanto os planos profissionais são elaborados, “a vida acontece independente, então você tem que escolher em determinados momentos qual é seu foco. Naquele momento, o meu foco era minha avó”. Pesquisas sociológicas importantes se dedicaram a analisar os efeitos do envelhecimento progressivo nas relações familiares, considerando a demanda pelo cuidado de idosos, que costuma recair sobre as mulheres (Goldani, 2004; Guimarães; Hirata; Sugita, 2011). Recentemente, Camarano (2014) analisou os custos do cuidado familiar, e eu próprio estimei a associação entre o cuidado de idosos e as chances de desemprego de longa-duração, bem como entre o cuidado de idosos e as chances de inatividade (Menezes, 2021). O debate evidencia que elementos não-mercantis, nesse caso a partir da socialização do cuidado intergeracional, cumprem um papel essencial no funcionamento do mercado de trabalho.

6. Desemprego e divisão sexual do trabalho

O trabalho reprodutivo, que no caso das entrevistas abarca os afazeres domésticos e as atividades de cuidado, tende a ser realizado por parentes do sexo feminino e por trabalhadoras domésticas. É verdade que, em parte dos casos, esse tipo de trabalho é compartilhado entre homens e mulheres. Mas foram anotadas diferenças importantes na dedicação de tempo e nos tipos de atividade desempenhadas, mesmo em experiências aparentemente igualitárias. O Interlocutor 7 afirma que “cada um limpa o seu, elas [as filhas] limpam o quarto delas, eu limpo o nosso e a sala, e minha esposa limpa os banheiros e a cozinha”. Já na “limpeza de dia de sábado, eu ajudo ela [a esposa]”. Além da mulher arcar com as atividades mais pesadas e desgastantes, um padrão conhecido dos arranjos contemporâneos de divisão sexual do trabalho (Monticelli, 2021), a “ajuda” revela que a responsabilidade do trabalho reprodutivo recai, de fato, sobre a mulher. A Interlocutora 3 apresenta conteúdo

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16 semelhante, ao contar que “vai faxineira uma vez na semana, e os outros dias minha mãe faz comida [...] [a mãe] lava os pratos de manhã, eu lavo de noite, e meu irmão sempre foi tarefa besta, de encher a água e tirar o lixo”.

O assunto é relevante, pois além de explicitar a produção de hierarquias no ambiente doméstico, fundamentando os direitos e deveres que são distribuídos entre parentes, também interfere sobre a participação dos indivíduos no mercado de trabalho. O trabalho reprodutivo pode concorrer com a procura por empregos remunerados, sobretudo quando é necessário organizar rotinas rígidas e duradouras de dedicação aos estudos. Isso vale tanto para os afazeres domésticos quanto para as atividades de cuidado, assim como descrito anteriormente pela Interlocutora 3.

A terceirização do trabalho reprodutivo, nos casos em que “a gente tem uma diarista” (Interlocutor 2), se mostrou recorrente. A contratação de trabalhadoras domésticas traduz o modelo de delegação do trabalho reprodutivo (Hirata; Kergoat, 2007), o que faz com que muitos entrevistados não precisem contribuir com as tarefas domésticas. Segundo a Interlocutora 10, “moramos minha irmã e eu, e a gente tem uma diarista, então a gente não faz as tarefas, não limpa, não passa nem nada, porque tem ela”. Já o Interlocutor 20 afirma que é necessário se preocupar apenas “de vez em quando, somente com a gerência mesmo, a funcionária, ver se está fazendo tudo certinho [...] o grosso, a gente nunca teve que fazer”. Isso diminui o espaço conferido ao trabalho reprodutivo nas narrativas, e a participação nos afazeres domésticos se limita a algumas atividades esporádicas.

Uma diferença importante entre homens e mulheres diz respeito à intensificação da demanda por afazeres domésticos durante o desemprego, apenas observado entre estas últimas. A tendência, discutida por Lippe, Treas e Norbutas (2017), revela que o papel da mulher enquanto trabalhadora está condicionado à geração de renda, e quando essa geração não é possível, costuma ocorrer uma intensificação da demanda pelo trabalho reprodutivo. Segundo a Interlocutora 13, “minha mãe atualmente está desempregada, então como ela fica mais em casa, acaba organizando mais as coisas em casa”. Já ao abordar o assunto, a Interlocutora 14 se queixa das tarefas demandadas por seus pais, pois “é um pouco complicado, você estuda para concurso, a pessoa acha que você não faz nada, fica em casa”.

Mas certamente, o caso mais ilustrativo ficou por conta da Interlocutora 12. A entrevistada “não tinha suporte familiar para fazer o curso, então tinha muita demanda dentro de casa, e aí eu não consegui conciliar o curso com a demanda que eu tinha em casa”. Essa demanda era basicamente o exercício de tarefas domésticas e o cuidado de parentes doentes, e como resultado, “eu não tinha tempo para fazer uma rotina [...] minha mãe não estava me dando suporte nenhum para estudo, todo mundo reclamando [...] E aí em 2018 eu me frustrei e decidi que eu ia advogar”. Todo esse problema é sintetizado na frase “minha família me toma”, o que provocou a desistência dos estudos e um grande descontentamento em relação ao seu

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17 papel na rede de parentesco. O exemplo serve para evitar uma visão idílica sobre a vida familiar, e até mesmo uma constatação automática sobre a disponibilidade de suporte durante a procura por trabalho entre os profissionais com formação superior. Se a família costuma ser descrita como um ambiente de proteção e afeto, essa representação deve configurar mais uma questão de pesquisa do que um dado a priori.

Considerações finais

Esta pesquisa analisou o fenômeno do desemprego entre profissionais com formação superior e acesso considerável a recursos, levando em conta a disponibilização de suporte familiar material e afetivo. Vimos que a amostra é estratificada internamente, mas ainda assim, foi possível registrar algumas tendências importantes.

Para discutir os impactos do desemprego nas condições de vida, a pesquisa distinguiu os entrevistados a partir do seu papel nas redes de parentesco. De maneira geral, a sobrevivência do grupo doméstico encontra-se garantida, e todos os entrevistados ressaltaram o acesso a bens e serviços básicos como algo que independe da participação atual no mercado de trabalho. Por um lado, os indivíduos que desempenhavam atividades auxiliares de provisão, sobretudo os trabalhadores jovens, não experimentaram efeitos negativos sobre as condições de vida, até mesmo decorrentes de mudanças mínimas nos padrões de consumo. Por outro lado, os indivíduos que exerciam atividades importantes de provisão associaram o desemprego a uma necessidade de reorganização financeira, como uma forma de gerir os recursos disponíveis enquanto a renda se encontra prejudicada. Isso ocorre a partir do usufruto de poupanças e da circulação informal de dinheiro, tanto entre cônjuges quanto por via intergeracional.

O apoio financeiro visa garantir o sustento material e investir na educação dos entrevistados, como um projeto de longo-prazo que é compartilhado pelos indivíduos e suas famílias. Contudo, esse investimento acabou sendo limitado ou até mesmo interrompido em algumas trajetórias. Nos casos em que ocorre, é acompanhado por acordos entre os indivíduos e seus parentes, que tendem a ser mais incisivos quando a circulação de recursos se dá entre diferentes gerações. Além do envio periódico de remessas de dinheiro, a desobrigação financeira constitui uma modalidade importante de suporte, permitindo que parte dos entrevistados possa se dedicar aos estudos e à inserção planejada no mercado de trabalho. Ao apoio financeiro, se somam outras modalidades de suporte familiar, como o apoio emocional, a indicação a empregos e o repasse de clientes.

Em linhas gerais, as entrevistas revelaram um ajuste entre os projetos pessoais e familiares, com foco em planejamentos duradouros sobre as trajetórias profissionais, ainda que uma parte minoritária dos entrevistados tenha descrito iniciativas de curto-prazo voltadas a amortecer os efeitos negativos do desemprego. Em ambos os casos, os projetos pessoais

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18 refletem o modelo de organização familiar e a negociação de direitos e deveres. Por outro lado, foi possível observar disjunções entre os projetos pessoais e familiares, especialmente quando os indivíduos avaliam que o suporte familiar não é suficiente para garantir uma boa trajetória profissional, ou quando as cobranças que acompanham o investimento financeiro são interpretadas como injustas.

O artigo também discutiu como se dá a divisão de encargos produtivos e reprodutivos nas redes de parentesco. As falas ressaltaram a combinação ou o conflito entre essas modalidades de trabalho, sendo que alguns entrevistados, sobretudo do sexo feminino, enfatizaram os impactos negativos dos afazeres domésticos e das atividades de cuidado sobre a procura laboral. Já a contratação de diaristas visa garantir o foco dos entrevistados e suas famílias em atividades interpretadas como mais úteis ou produtivas, uma estratégia importante de reprodução social nas camadas médias e superiores. Finalmente, em alguns casos, o desemprego feminino foi sucedido pelo fortalecimento da demanda pelo trabalho doméstico, uma experiência não observada entre os trabalhadores do sexo masculino.

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ANEXO: Perfil dos entrevistados na EMAB

Fonte: Entrevistas desenvolvidas com ex-alunos da EMAB no ano de 2019.

Nota: No sexo, M se refere ao sexo masculino e F ao feminino. Na escolaridade, ESC se refere ao Ensino Superior completo. Os valores para os rendimentos e para o tempo de desemprego foram aproximações apresentadas pelos interlocutores durante as entrevistas.

Sexo Idade Estudo Raça Bairro Renda

familiar Emprego Salário

1 M 38 ESC Preto Mata Escura R$3.300 Advogado R$3.300

2 M 59 ESC Pardo Rio Vermelho R$3.300 Advogado Variável

3 F 28 ESC Branca Cabula R$20.000 Advogada R$2.500

4 M 30 ESC Pardo Canela R$11.000 Técnico

judiciário R$11.000

5 M 41 ESC Pardo Vila Laura R$13.000 Advogado Variável

6 M 32 ESC Pardo Pituba R$10.000 Desempregado

(2 anos) -

7 M 57 ESC Pardo Pituba R$6.000 Advogado Variável

8 M 34 ESC Pardo Brotas 4 SM Advogado Variável

9 M 32 ESC Pardo Itapuã R$20.000 Assessor de

desembargador R$10.000

10 F 32 ESC Branca Pituba R$15.000 Procuradora

municipal R$7.100

11 F 46 ESC Parda Canela R$20.000 Desempregada

(3 anos) -

12 F 29 ESC Preta Monte Serrat R$4.000 Advogada Variável

13 F 28 ESC Parda Paulo Afonso R$4.500 Vendedora Variável

14 F 35 ESC Parda Rio Vermelho R$25.000 Advogada Variável

15 F 31 ESC Branca Costa Azul R$7.000 Conciliadora R$2.000

16 M 32 ESC Branca Patamares R$12.000

Advogado e assessor parlamentar

R$10.000

17 F 45 ESC Branca Itinga R$3.500 Cargo

administrativo R$3.500

18 M 63 ESC Indígen

a Jauá R$6.000

Agente de

turismo R$6.000

19 F 29 ESC Parda Pituba R$60.000 Assessora de

juiz R$12.700

20 M 27 ESC Branca Vila do

Atlântico R$32.000

Assessor de

desembargador R$9.000

Referências

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