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20º Congresso Brasileiro de Sociologia. 12 a 17 de julho de UFPA Belém, PA

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20º Congresso Brasileiro de Sociologia

12 a 17 de julho de 2020

UFPA – Belém, PA

Comitês de Pesquisa Sociologia da estratificação e das desigualdades

O avanço do agronegócio e o índice de crescimento sustentável dos municípios

MAURÍCIO MUNHOZ FERRAZ

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O AVANÇO DO AGRONEGÓCIO E O ÍNDICE DE CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL DOS MUNICÍPIOS DO MATO GROSSO

Maurício Munhoz Ferraz1

Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar os impactos do agronegócio sobre a vida da população mato-grossense a partir do Índice de Crescimento Sustentável dos Municípios (ICSM), tendo por variáveis: PIB per capita, Porcentagem de famílias que recebem o bolsa família, Salário médio, Participação do serviço público no PIB, Índice de educação do ensino básico, Mortalidade infantil, Focos de calor, Área de floresta por km². . Em termos teóricos, a pesquisa seguirá a base de autores que discutem o processo de acumulação capitalista. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa, com técnicas de abordagem quantitativa, tendo como recorte temporal o período de 2000 a 2019. O Censo Agropecuário de 2017 confirma a expansão das lavouras temporárias, a base do agronegócio, e o processo de acumulação de terras no Estado, o que está vinculado à facilidade tributária dada à agricultura em grande escala, como a total isenção de tributos sobre a venda dos produtos primários para exportação, segundo a Lei Kandir, e da baixa carga tributária interna aplicada sobre a produção de grãos e ao setor pecuário, pelo governo de Mato Grosso. Ao adotar o índice de crescimento sustentável dos municípios, ICSM, como ferramenta para analisar o impacto do avanço do agronegócio na qualidade de vida das pessoas, o estudo conclui que, apesar do agronegócio ser há mais de vinte anos o modelo econômico preponderante no Estado, os indicadores de renda, sociais e ambientais de seus municípios são ruins, mesmo que aqueles municípios grandes produtores de grãos contem com bons índices de renda

Palavras-chave: Agronegócio, Acumulação, Sistema Tributário, Agricultura Familiar, ICSM

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo foi analisar os impactos do agronegócio sobre a vida da população mato-grossense a partir dos Índice de Crescimento Sustentável dos Municípios (ICSM), tendo por variáveis: PIB per capita, Porcentagem de famílias que recebem o bolsa família, Salário médio, Participação do serviço público no PIB, Índice de educação do ensino básico, Mortalidade infantil, Focos de calor, Área de floresta por km².

Diante disso o estudo identificou como problema: de que modo a agricultura em grande escala de Mato Grosso acumula capital em proporção suficiente para seu avanço sobre o modelo da agricultura familiar, e se tornar o modelo econômico preponderante no Estado?

E como hipótese para explicar o problema: o grande poderio econômico da agricultura em grande escala, impulsionado pela facilidade do modelo tributário nacional e estadual, está avançando na compra ou arrendamento da terra do pequeno agricultor, cada vez com menos viabilidade econômica de sobreviver com o modo de produção da agricultura familiar.

Avaliando os dados dos censos agropecuários de 1975 até 20172, portanto, utilizando

dados secundários de pesquisa, este estudo se utiliza das noções de frente pioneira e frente de expansão3 para refletir sobre o avanço do agronegócio em Mato Grosso, suas condições legais

sobre o uso da terra, e suas consequências como o enfraquecimento da pequena agricultura, ou da agricultura familiar.

Para efeito deste estudo, foi estabelecido o termo “agronegócio”4 como os

empreendimentos de produção de grãos (soja, milho e algodão) e pecuária, em grande escala e, “condições legais sobre o uso da terra”, como a situação documental (legalidade jurídica) do solo ou mesmo o avanço da produção em áreas de proteção permanente ou em áreas indígenas.

Com tais considerações, cabe dizer que a metodologia utilizada foi com base na leitura de autores que abordam o processo de acumulação de capital na agricultura , autores que discutem a questão da expansão da fronteira agrícola na Amazônia e a expulsão de trabalhadores rurais como Martins (1997, 1996, 1995, 1993, 1988, 1982) entre outros e, por

2 Censo agropecuário de 2017, divulgado em 2019 pelo IBGE.

3 Frente pioneira se define economicamente pela presença do capital na produção e na exploração capitalista das

terras, e a frente de expansão pelos grupos que saem em busca de terras para garantir a sobrevivência como uma concepção que percebe a ocupação do espaço sem a mediação do capital, tomando como referência primeira o indígena e significando a situação de contato. Ambas representam momentos históricos distintos e combinados de diferentes modalidades da expansão territorial do capital, portanto, expressões de um mesmo processo, ou seja, um dos momentos de um mesmo processo (MARTINS,1997).

4 Ray Goldberg e John Davis (1957) chamaram agribusiness “a soma total das operações de produção e distribuição

de suprimentos agrícolas, as operações de produção nas unidades agrícolas, e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos com eles”.

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fim, como fator que fomenta a acumulação de capital e do poder financeiro dos grandes produtores, está a facilidade tributária dada ao segmento, fruto da total isenção tributária dos produtos in natura e semielaborados para exportação, de acordo com a Lei Kandir5, e da baixa

carga tributária interna aplicada sobre a produção de grãos como a soja e o algodão, e do setor pecuário, pela Secretaria de Fazenda de Mato Grosso.

O Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE, confirma o avanço das áreas plantadas pelas lavouras temporárias em Mato Grosso, especialmente pela soja e algodão. Por outro lado, lavouras permanentes, típicas da agricultura familiar, estão em alta velocidade de queda, em proporção ao total do Estado.

O mesmo Censo permite demonstrar que, em Mato Grosso, o modo de produção se dá em grandes latifúndios o que representa uma acentuada concentração de rendas e riquezas, ao contrário de estados como Rio Grande do Sul e Paraná, além de países como os Estados Unidos, que mantêm uma estrutura fundiária de produção formada por pequenas propriedades.

Como uma das formas de medir as consequências desse modo de produção, adota-se o ICSM (Índice de Crescimento Sustentável dos Municípios), uma referência para a comparação entre os municípios em termos de qualidade de vida da população, por meio de quatro dimensões fundamentais para a vida humana: renda, educação, saúde e meio ambiente, e suas bases econômicas. O estudo busca correlacionar o avanço do agronegócio com o ICSM. Considerando que muito destes indicadores dependem de políticas que fogem da órbita exclusiva dos municípios, posto que renda, educação, saúde e ambiente, também, são temas de competências dos demais entes federativos.

Os números apontam para profundas desigualdade regionais e sociais, e desastres ambientais em Mato Grosso, e demonstram que, apesar de o agronegócio ser, há mais de vinte anos, o modelo econômico preponderante no Estado, os indicadores de renda, sociais e ambientais de seus municípios são ruins. Os municípios produtores de grãos contam com índices de renda bons, o que não é necessariamente correspondente nos sociais e são sempre negativos nos ambientais.

Neste sentido, fica evidente que uma estrutura fundiária muito concentradora, como é o caso de Mato Grosso, amplia as desigualdades sociais e regionais do Estado e apontam para a importância do fomento à agricultura familiar, que, além de fixar o homem no campo tem

5Lei complementar nº 87 publicada em 13 de setembro de 1996, entrou em vigor em 01 de novembro de 1996 no

Brasil, dispõe sobre o imposto dos estados e do Distrito Federal, nas operações relativas à circulação de mercadorias e serviços (ICMS). A Lei Kandir isenta do tributo ICMS os produtos e serviços destinados à exportação. A lei tem este nome em virtude do seu autor, o ex-deputado federal Antônio Kandir.

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características de distribuição de renda mais eficientes, e mesmo que não despertem tanto interesse ao fluxo de capital, seja nacional ou transacional(como o agronegócio desperta) pode completar o ciclo produtivo no campo, ou seja, enquanto o agronegócio serve principalmente para a exportação, a agricultura familiar serve para a levar alimento à mesa do brasileiro.

Para se pensar agronegócio, é preciso compreender a organização comercial das tradings, e o poder que elas concentram de articulação comercial e institucional, como por exemplo com o governo brasileiro para manutenção do atual mecanismo tributário, especialmente da lei Kandir, (lembrando que: esta lei, além de representar o não pagamento de tributos também é um forte instrumento para a não industrialização do Brasil, pois se exportar sem industrializar não paga imposto, por que industrializar?). Certamente, com isso o Brasil fortalece sua balança comercial, mas com prevalência da produção primária exportadora, uma tendência que não parece mudar, mesmo que as estruturas sociais e ambientais internas do país realcem desigualdades sociais e regionais, o que é ainda mais cruel em Mato Grosso, que tem em sua estrutura fundiária outro mecanismo de concentração de renda.

O capítulo 4 deste trabalho demonstra o avanço do agronegócio em Mato Grosso, através de um modo de produção formado por latifúndios. A relação do crescimento da produção de grãos com o modelo tributário nacional e estadual se destaca como instrumento de acumulação do capital entre os agentes do agronegócio, em detrimento da agricultura familiar, que perde espaço continuamente.

O capítulo 5 se debruça sobre os efeitos sociais, econômicos e ambientais do modelo econômico preponderante em Mato Grosso, utilizando o ICSM como ferramenta para correlacionar o avanço do agronegócio e a qualidade de vida dos cidadãos mato-grossenses.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A natureza da pesquisa é quali-quanti, dado que ora se utiliza de técnicas documentais e bibliográficas, próprias das pesquisas qualitativas, ora das técnicas quantitativas como a criação de indicadores analíticos, conforme Goldenberg (2004).

Quanto ao recorte temporal e geográfico, a pesquisa estabeleceu o período de 2000 a 2019, quando o agronegócio se tornou o principal móvel da economia mato-grossense, conforme é apontado por diversos estudos e pesquisas feitas no Estado.

O principal indicador apresentado, o ICSM, Índice de Crescimento Sustentável dos Municípios, foi construído anteriormente pelo próprio autor a partir de diversos indicadores

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sociais, econômicos e ambientais dos 141 municípios de Mato Grosso. O índice foi utilizado em um trabalho do autor, que lhe rendeu o Prêmio Celso Furtado6, categoria Faixa de Fronteira

em 2017, com o título “Agroecologia na Fronteira”.

É uma ferramenta que pode auxiliar na compreensão do nível de desenvolvimento e crescimento sustentável dos municípios de Mato Grosso, podendo ser ampliado para outras regiões, e ser útil para a elaboração e acompanhamento de políticas públicas, como a ampliação da agricultura familiar nas localidades.

O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH7, criado pela ONU, revolucionou a forma

como a sociedade passou a medir a qualidade de vida das pessoas. Contando com três dimensões do bem-estar humano: renda, educação e saúde, o IDH se tornou um índice mais sofisticado do que o PIB (Produto Interno Bruto), que avalia apenas a produção de riquezas, para fazer a comparação dos níveis de desenvolvimento das diferentes regiões.

Porém, o IDH não avança no diagnóstico de como a pobreza está enraizada ou como os segmentos econômicos influenciam a dinâmica de crescimento das localidades, tampouco insere algum indicador ambiental na formação do seu índice, além do que, sua apuração se dá apenas de dez em dez anos.

O ICSM atende expectativas que o IDH não trabalha, e é calculado da seguinte forma:

𝐼𝐶𝑆𝑀 = ∑ 𝑥𝑖 8

𝑖=1

+ 𝑥𝑖+1+ ⋯ + 𝑥8(1)

sendo 𝑥𝑖… 𝑥8 valores que variam de 1 a 5 dependendo da avaliação qualitativa da variável ou

índice, no ICSM são avaliadas 8 variáveis: 1. PIB per capita;

2. Porcentagem de famílias que recebem o bolsa família; 3. Salário médio;

4. Participação do serviço público no PIB; 5. Índice de educação do ensino básico; 6. Mortalidade infantil;

6 O Prêmio Celso Furtado de desenvolvimento regional é oferecido pelo Ministério da Integração Regional do

governo brasileiro, para estudos que busquem a diminuição das desigualdades regionais no Brasil.

7 O IDH é calculado levando em conta a média ponderada de três indicadores: Saúde, Educação e Renda, sendo

que para Saúde se leva em conta a expectativa de vida ao nascer, Educação são os níveis de escolarização da população em geral e índice de alfabetização de adultos e Renda é o PIB per capita, levando em consideração o PPC (Paridade do Poder de Compra).

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7. Focos de calor;

8. Área de floresta por km².

Cada uma tem o mesmo peso, 1, dentro do índice e a partir delas são feitas as avaliações qualitativas que variam de 1 sendo péssimo e 5 sendo ótimo. Por exemplo, se a porcentagem de dependência das famílias em um município é maior que 20% essa variável recebe um valor 1 (péssimo) e assim sucessivamente para todas as outras variáveis e ao final, somam se os valores.

A Tabela 1 demonstra como a pontuação do ICSM é construída através de cada um dos 8 (oito) indicadores. Na Tabela 3, no apêndice, as cores em cada coluna de indicadores correspondem a cada uma das avaliações a) péssimo em vermelho, b) ruim em marrom, c) regular em amarelo d) bom em verde e e) ótimo em azul de acordo com os gradientes apresentados no quadro.

A Tabela 2 é um resumo de como os municípios são classificados por ICSM, também com a cor correspondente, que também estarão presentes nas Tabelas 3 e 4 de acordo com os municípios sendo a) estagnado em vermelho b) reduzido em marrom c) moderado em amarelo d) dinâmico em verde, ou e) próspero em azul.

Tabela 1 – Pontuação, por indicador

Fonte: ICSM, 2017, adaptado pelo pesquisador.

Tabela 2 –Classificação, por municípios de Mato Grosso

Fonte: ICSM, 2017, adaptado pelo pesquisador.

% bolsa salário médio % serv publicos Ideb mortalidade/mil pib per capita/mil área floresta km2 foco de calor

1 péssimo mais de 20 menos de 2 mais de 30 menos de 4 mais de 20 menos de 10 menos de 10 895-2226

2 ruím mais 15 a 20 de 2 a 2,2 mais de 20 a 30 de 4 a 4,5 mais de 15 a 20 de 10 a 15 de 10 a 100 623-894

3 regular mais 10 a 15 mais 2,2 a 2,5 mais de 12 a 20 mais de 4,5 a 4,8 mais de 10 a 15 mais de 15 a 25 mais de 100 a 1000 384-622

4 bom mais 8 a 10 mais 2,5 a 3 mais de 8 a 12 mais de 4,8 a 5 mais de 8 a 10 mais de 25 a 40 mais de 1000 a 4000 211-383

5

otimo até 8 mais de 3 menos de 8 mais de 5 menos de 8 mais de 40 mais de 4000 0-210

TOTAL ICSM pib per capita

municípios % POPULAÇÃO % PIB/R$ mil % médiaR$/2014 média US$/2014 similar pos. mundo de 08 A 17 Estagnado 27 19,15 171.159 5,00 2.144.475 2,14 12.529,14 5.377,31 Iraque 104 de 18 a 21 Reduzido 45 31,91 935.112 27,31 17.608.000 17,55 18.829,83 8.081,47 Botsuana 86 de 22 a 25 Moderado 35 24,82 863.223 25,21 22.533.000 22,45 26.103,34 11.203,15 Gabão 70 de 26 a 29 Dinâmico 23 16,31 1.138.930 33,26 41.646.268 41,50 36.566,13 15.693,62 Chile 57 de 30 a 40 Próspero 11 7,80 315.721 9,22 18.569.000 18,50 58.814,59 25.242,31 Coreia Sul 40

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Com o constante processo de modernização da agricultura e a dinâmica atual do agronegócio em Mato Grosso, com sua consolidação como uma das grandes fronteiras de expansão agrícola moderna, isto é, voltada para a produção e exportação de commodities, convivendo com a presença de grandes corporações nacionais e transnacionais do agronegócio e características claras de uma agricultura científica globalizada, é certo dizer que existe no começo desse século vinte e um, um modo de produção a servir o agronegócio de Mato Grosso, que não é o mesmo de duas décadas atrás. E, como dizia Marx (1980): Quando muda o modo de produção, é preciso mudar suas teorias correspondentes.

O desafio é compreender o novo mecanismo produtivo, do qual o agronegócio se utiliza, para se compreender o processo de acumulação do capital por parte dos capitalistas do agronegócio.

Para tal esforço, o estudo buscou compreender o conceito de “Mais Valia” sob o influxo do novo modo de produção. A ideia de mais valia absoluta, ou a produtividade do trabalho, foi substituída pelo aumento da lucratividade, proporcionada pelo sistema tributário que beneficia o agronegócio em Mato Grosso.

De qualquer maneira a aparência dos fenômenos, sob a forma de lucro, e a essência dos fenômenos, vista pela orientação marxista de “mais valia”, estão dialogando neste trabalho, ou seja, para o capitalista é lucro, para a sociologia é mais valia.

Marx (1980) teorizou sobre o desenvolvimento desigual e Trotsky (1978) acrescentou que o desenvolvimento além de desigual é combinado, defesa que fez a partir de suas análises da dinâmica histórica das nações atrasadas e Bourdieu (2007) com sua ideia de campo, ou seja, sua visão de troca e de disputas, como a que se vê entre a grande e pequena agricultura, apresentou a diversidade de capitais existentes, como o financeiro, cultural, tecnológico, jurídico, comercial e simbólico. De acordo com a quantidade de capitais de cada um, se molda e se estabelece sua força.

Furtado (2003) ao descrever o mito do desenvolvimento econômico demonstra que o subdesenvolvimento é um fenômeno histórico singular, que existe um profundo contraste entre as economias subdesenvolvidas e as centrais, e que isso se reflete nas relações internas dos países, especialmente na agricultura, com os países centrais subsidiando a vida no campo

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4 O AVANÇO DO AGRONEGÓCIO E O MODELO TRIBUTÁRIO COMO

MAIS VALIA

Exercendo seu poder central, a União estabeleceu a Lei Kandir,8 em 1996, como forma

de melhorar o balanço de pagamentos do Brasil, que então estava deficitário, mas certamente ao incentivar os contribuintes que exportam, deixou de lado a isonomia e igualdade tributária com outros setores econômicos, em nome do superávit da balança de pagamentos do país.

Com efeito, as exportações aumentaram. Especialmente as do agronegócio, que começava a ganhar sua musculatura a partir da execução da lei.

Nos dias de hoje, passados 20 anos da aplicabilidade da lei, a situação tributária privilegiada do segmento continua. Mas com a melhoria das tecnologias nas áreas plantadas a lucratividade também se dá pela tecnologia.

Pode-se dizer que um produtor de soja, por exemplo, há 25 anos pagava uma carga tributária alta e tinha uma produtividade baixa, o que inibia sua lucratividade. Atualmente este produtor não paga tributos sobre a produção exportada, paga relativamente pouco sobre a produção vendida internamente e teve um grande aumento da sua produtividade, conforme os Quadros de 1 a 4 demonstrarão.

A manutenção da Lei Kandir, portanto, agora parece desnecessária, pois, além de tirar a arrecadação dos tributos, sobre a produção exportada, dos Estados e Municípios, ela inibe um projeto de desenvolvimento para o país, ao desestimular a industrialização da produção. Uma vez que: se exportar in natura ou semielaborado não paga qualquer tipo de tributo, porque se dar ao trabalho de industrializar?

No entanto, para grande parte dos produtores rurais do agronegócio, o mecanismo de financiamento das safras, por meio do qual algumas empresas tradings9 estão ganhando cada

vez mais espaço, acabam criando uma relação de dependência.

8Lei complementar brasileira nº 87 publicada em 13 de setembro de 1996, entrou em vigor em 01 de novembro de

1996 no Brasil, dispõe sobre o imposto dos estados e do Distrito Federal, nas operações relativas à circulação de mercadorias e serviços (ICMS). A Lei Kandir isenta do tributo ICMS os produtos e serviços destinados à exportação. A lei tem este nome em virtude do seu autor, o ex-deputado federal Antônio Kandir.

9As cinco principais tradings que atuam em Mato Grosso são: 1) Amaggi, de capital brasileiro e as demais

estrangeiras 2) Bumge 3) Cargil 4) ADM e 5) Dreifus, além de outras de menor porte, que compram a produção e fornecem insumos e equipamentos para a safra agrícola, numa relação comercial de troca e com inclusão de juros e outros mecanismos que tiram a lucratividade do produtor, através de uma modalidade de negócio chamada de barter.

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Essas empresas são operadoras de compra, especialmente antecipada da produção. Esta compra está vinculada ao fornecimento de implementos e defensivos agrícolas10. Com isso,

grande parte dos produtores do agronegócio sequer são, na prática, beneficiados com o mecanismo tributário destinado ao setor, pois têm grande parte de suas receitas comprometidas com as chamadas tradings.

Quadro 1– Arrecadação de ICMS por segmentos em Mato Grosso, 2018

Fonte: Relatório da análise das receitas públicas 2018, Sefaz-MT. Adaptado pelo pesquisador *grifo do pesquisador.

O processo de acumulação do capital nas mãos dos grandes produtores também tem reduzido a participação da pequena agricultura, ou agricultura familiar na economia do Estado. Um dos efeitos visíveis é que os grandes estão comprando as terras dos pequenos, como o Quadro 4, mais adiante, evidencia.

Conforme veremos, por meio do índice de crescimento sustentável dos municípios, ICSM, a perversidade deste modelo de tributação indica que o atual modo de produção produz e reproduz desigualdades, além de causar impactos significativos ao meio ambiente, está

10Os chamados agrotóxicos representam uma ameaça à saúde pública em Mato Grosso, segundo um estudo da

UFMT em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz, intitulado “Distribuição espacial do agrotóxico no Brasil” coordenado pelo professor Dr. Pignati (2017). O Estudo gerou um documentário chamado “Nuvens de veneno”.

2018 EM R$ FATURAMENTO

TOTAL EXPORTAÇÃO

FATURAMENTO

TRIBUTAVEL ICMS PAGO

ALIQUO-TA REAL % ALGODÃO 12.020.760.000,00 3.351.780.000,00 8.668.960.000,00 102.350.000,00 1,18 ARROZ* 983.110.000,00 4.150.000,00 978.960.000,00 142.440.000,00 14,55 BEBIDAS 4.039.600.000,00 - 4.039.600.000,00 710.750.000,00 17,59 COMBUSTÍVEIS 20.455.850.000,00 - 20.455.850.000,00 2.683.410.000,00 13,12 COMUNICAÇÃO 5.727.090.000,00 - 4.008.960.000,00 459.650.000,00 11,47 ENERGIA ELETRICA 6.555.180.000,00 - 6.555.180.000,00 1.326.120.000,00 20,23 MADEIRA 1.633.000.000,00 446.140.000,00 1.186.850.000,00 56.160.000,00 4,73 MEDICAMENTOS 3.651.980.000,00 - 3.651.980.000,00 268.060.000,00 7,34 PECUÁRIA 28.246.110.000,00 8.774.650.000,00 19.471.470.000,00 512.000.000,00 2,63 SOJA* 48.437.430.000,00 35.329.140.000,00 13.108.290.000,00 378.640.000,00 2,89 SUPERMERCADOS 5.413.890.000,00 - 5.413.890.000,00 572.820.000,00 10,58 TRANSPORTES 7.478.130.000,00 - 7.478.130.000,00 335.860.000,00 4,49 VAREJO 15.270.770.000,00 - 15.270.770.000,00 1.445.400.000,00 9,47 VEÍCULOS 7.840.500.000,00 - 7.840.500.000,00 823.250.000,00 10,50 OUTROS 3.797.130.000,00 - 3.797.130.000,00 159.000.000,00 4,19 171.550.530.000,00 47.905.860.000,00 121.926.520.000,00 9.975.910.000,00

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aniquilando a agricultura familiar e quiçá um possível processo de industrialização em Mato Grosso, assim como no Brasil.

O fato é que pagar menos tributos dá ao grande produtor um mecanismo para acumular capital, em detrimento do pequeno agricultor ou de outros segmentos da economia. Trata se de uma versão atualizada do conceito de “mais valia” de Marx, principalmente se for considerado o avanço da tecnologia de produção dos grãos em Mato Grosso, o que indica que os aportes financeiros introduzidos com a isenção tributária, criada em 1996 para estimular as exportações brasileiras e a produção de grãos, já foi substituído pela tecnologia, ou seja, o produtor já tem seu ganho e lucratividade com o modo de produção, algo demonstrável no Quadro 4.

Quadro 2 – Produtividade das culturas em MT, toneladas por hectares.

CULTURA 1980 2016

SOJA 1,66 3,18

MILHO 1,71 5,98

ALGODÃO 1,10 2,42

CANA DE AÇÚCAR 49,97 73,20

Fonte: Embrapa, 2017. Adaptado pelo pesquisador.

O Censo Agropecuário 201711 do IBGE confirma claramente a tendência de evolução

das áreas de lavouras temporárias em Mato Grosso, especialmente soja e algodão, enquanto as lavouras permanentes, a maioria delas advindas da agricultura familiar, perdem espaço proporcionalmente, em alta velocidade, consoante informações do Quadro 6.

Quadro 3 – Resultados dos Censos Agropecuários Mato Grosso 1975/2017 DADOS

ESTRUTURAIS Censo

1975 1980 1985 1995 2006 2017

Estabelecimentos 56.118 63.383 77.921 78.762 112.987 118.676

Área total (ha) 21.949.146 34.554.548 37.835.651 49.839.631 48.688.711 54.830.819

11Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola 2017, principal e mais completa investigação estatística e territorial

sobre a produção agropecuária do país, teve a coleta de dados realizada pelo IBGE de outubro de 2017 a fevereiro de 2018, adotando-se como referência o período de 1º de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2017. São dados sobre a propriedade, produção, área, pessoal ocupado, etc. A data de referência adotada para a pesquisa é 30 de setembro de 2017, referentes as informações sobre estoques, efetivos da pecuária, da lavoura permanente e da silvicultura, entre outras totalizações.

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Utilização das terras (ha)

Lavouras Permanentes 42.174 129.800 136.605 169.734 408.550 105.244

Lavouras Temporárias 459.093 1.423.448 1.992.838 2.782.011 6.018.182 9.684.623

Fonte: IBGE 2019, adaptado pelo pesquisador.

Enquanto Mato Grosso é o maior Estado produtor de soja, em número de estabelecimentos produtores fica apenas em sétimo lugar. Os latifúndios dominam a produção do Estado, o que demonstra também, claramente, a concentração de rendas e riquezas do agronegócio.

Em Mato Grosso se produz, em média, 4.147 toneladas por empreendimento. Por sua vez, no Rio Grande do Sul, estado com estrutura de pequenas propriedades, a média foi de 181 toneladas por empreendimento.

Para cada US$ 1 bilhão que a soja fatura em Mato Grosso, cada empreendimento fica com a média de US$ 141 mil. No Rio Grande do Sul, para cada US$ 1 bilhão que a soja fatura, cada empreendimento fica com a média de US$ 10 mil.

Quando comparado às culturas da agricultura familiar, a estruturação fundiária de Mato Grosso parece ainda mais perversa. Segundo o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, foram produzidas 42 mil toneladas de banana em Mato Grosso, através de 3.600 empreendimentos considerados de agricultura familiar. A produção de café, também pela agricultura familiar no Estado, foi de 5,7 mil toneladas, segundo o censo, em 2.600 empreendimentos.

5 OS EFEITOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS DO MODELO

ECONÔMICO PREPONDERANTE EM MATO GROSSO

O ICSM traça um perfil da economia municipal, apresentando as principais atividades existentes e outras em potencial. O índice foi criado pelo próprio autor, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso em 2017, e as variáveis utilizadas para definição do índice se encontram na Tabela 4, no apêndice.

O ICSM busca colocar em discussão o sentido de crescimento sustentável em parâmetro com o sentido de desenvolvimento, que o IDH se esforçou em ampliar ao definir como algo que “diz respeito à relação entre rendas e realizações, entre mercadorias e capacidades, entre nossa riqueza econômica e nossa possibilidade de viver do modo como gostaríamos” (SEN, 2010).

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Como o ICSM, neste primeiro estudo, se limitou ao estado de Mato Grosso, os dados apontaram para as similitudes regionais, para com os produtos da agricultura familiar, que mesmo modestamente, estão presentes em todos os municípios do Estado, assim como a pecuária. Na verdade, é característica do pequeno produtor em Mato Grosso ter suas poucas “cabeças de gado” para leite e corte, convivendo com a produção agrícola para subsistência ou para o comércio na feira de final de semana.

Quanto aos indicadores de saúde, educação e ambiental, a relação não é proporcionalmente direta com o grau de dinamismo da economia dos municípios, ou seja, não são necessariamente os municípios com maior dinamismo os que possuem os melhores indicadores sociais, conforme aponta o exemplo do Quadro 10.

Quando se analisam os municípios, caso a caso, fica claro que aqueles classificados como prósperos (soma total do ICSM) contam com pontuação ótima nos indicadores econômicos, mas em relação à saúde, educação, ou área de floresta, o desempenho é quase sempre bem inferior. De acordo com o ICSM, os municípios são classificados com crescimento a) Estagnado; b) Reduzido; c) Moderado; d) Dinâmico, e e) Próspero.

Outra dimensão do bem-estar da sociedade introduzida pelo ICSM foi a ambiental, mediante a aferição da existência de áreas de floresta nos municípios, e dos focos de calor. A intenção de incluir tal indicador foi valorizar o capital ambiental dos municípios, uma vez que as florestas agregam, além do potencial econômico, um valor subjetivo, ou seja, se preservada influi na qualidade de vida do cidadão, inclusive fomentando a biodiversidade (daí a importância de técnicas como o manejo sustentável), mas os focos de calor, que nem sempre indicam incêndio florestal, representam o contrário.

De qualquer forma, uma constatação inevitável é que a soja, o maior destaque do chamado agronegócio ou plantação em grande escala em latifúndios, avança em todas as regiões de Mato Grosso, por vezes disputando espaço com culturas típicas da agricultura familiar, como as do arroz e a do feijão que ainda estão presentes em praticamente todos os municípios de Mato Grosso. A tradicional pecuária ou a piscicultura, mais recentemente, também têm presença em todo o Estado.

Mas a manutenção das pequenas propriedades agrícolas está sob fortes ameaças, sobretudo da velocidade cada vez maior com que os grandes latifúndios se ampliam. O estado de Mato Grosso tem diversos planos de fomento para a produção de soja, algodão, milho e

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pecuária, inclusive com generosas renúncias fiscais para os insumos agrícolas, também conhecidos como agrotóxicos, mas não há incentivo real para a agricultura familiar.

No atual ritmo de desenvolvimento, a perspectiva é a de que a produção agrícola em grande escala e a pecuária assumam cada vez mais importância na economia de Mato Grosso.

Quadro 7 – Participação média das atividades econômicas no PIB de Mato Grosso, por região12 (2017)

Fonte: IBGE, elaboração Secretaria Adjunta de Gestão e Planejamento Metropolitano, SAGPM, do Estado de Mato Grosso.

Com isso, a característica primária exportadora da economia do Estado se acentua, o que deixa Mato Grosso muito suscetível às crises internacionais ou mesmo às mudanças de planos de países importadores, como a China, que é a maior compradora da soja brasileira, mas que pode, a qualquer momento, diminuir suas compras.

O reflexo disso fica claro nos indicadores sociais do ICSM. Enquanto os municípios com maior produção agrícola, como a soja, são os com maiores PIB per capita, menor quantidade de famílias dependentes do programa “Bolsa Família” e o PIB municipal é menos dependente do setor público, ao passo que os medidores de educação, saúde, ambiental não são necessariamente melhores, e em comparação com países desenvolvidos são ruins.

12Regiões administrativas, anexo 1. Considerando que a região CENTRO é a que mais concentra a produção de

grãos em Mato Grosso.

Agropecuária média Indústria média

Serviços média Setor público média

120 100 80 60 40 20 0

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Quadro 8 – Famílias beneficiadas pelo Bolsa Família (BF) e ICSM médio, por região de MT 2019

Fonte: Ministério da Cidadania 2019, Elaboração SAGPM.

6. Conclusão

O se propôs a analisar os impactos do agronegócio sobre a vida da população mato-grossense. Para medir os efeitos do modo de produção preponderante em Mato Grosso, o estudo se utilizou de um indicador para avaliar as consequências sociais, econômicas e ambientais que o agronegócio produz para o conjunto de cidadãos: O ICSM.

Por meio desta ferramenta, criada pelo autor, inspirada no IDH, mas com diferenças em algumas variáveis, como o tempo (O ICSM é anual enquanto o IDH é decenal), e pela inclusão de indicadores além dos utilizados pelo IDH , como os ambientais, além de se aprofundar mais no estudo das causas da pobreza presente nos município, evidenciou se que os municípios melhores colocados no seu ranking total, aqueles considerados prósperos, são basicamente os que têm grande produção agrícola, mas parcos indicadores sociais e ambientais.

Com efeito, os municípios com maior produção agrícola, como a soja, são os com maiores “PIB per capita”, menor quantidade de famílias dependentes do programa “Bolsa Família” e menor percentual do “PIB municipal do setor público”, o que demonstra um maior grau de dinamismo e prosperidade da economia.

Por outro lado, os indicadores sociais, como os da “saúde” e “educação” não são necessariamente melhores nos municípios grandes produtores agrícolas, e os “ambientais” estão

ICSM média (eixo à direita) Familias beneficiadas 0 0,00% 5 5,00% 10 10,00% 15 15,00% 20 20,00% 25 25,00% 30 30,00% 35 35,00%

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claramente ameaçados pelo modo de produção do agronegócio, considerando-se o avanço do quadro de desmatamento, inclusive em áreas de preservação ambiental como as terras indígenas.

Se for certo dizer que a presença das atividades agrícolas em grande escala diminui as raízes da pobreza nos municípios, aquecendo suas economias, também pode-se constatar que os efeitos desse aquecimento não são tão eficientes para atender às dimensões essenciais para o desenvolvimento humano, como saúde e educação e, no caso de Mato Grosso, é um modelo concentrador de rendas e riquezas pois tem estrutura fundiária baseada em grandes propriedades o que está sendo ampliado com o passar dos anos.

Em perspectiva, o atual modelo econômico preponderante em Mato Grosso, primário exportador, não parece ser suficiente para garantir o crescimento sustentável dos seus municípios e a atual dependência que o Estado tem de poucas atividades econômicas privadas, como a soja, algodão e a pecuária, deixam sua economia bastante vulnerável às oscilações do mercado internacional.

O Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE, demonstra o aumento das áreas de produção de lavouras temporárias, como a soja e algodão, em Mato Grosso, enquanto que as áreas de lavoura permanente diminuem, proporcionalmente, ao longo dos anos. O processo de acumulação de terras, e do capital, nas mãos de poucos grandes proprietários do agronegócio e o enfraquecimento da agricultura familiar são demonstradas pelo Censo, assim como a acentuada concentração de rendas e riquezas para, relativamente, poucos proprietários no modo de produção da principal cultura do Estado, a soja.

Mas não se pode olhar para os números do Estado sem entender que suas atividades agropecuárias em grande escala, inclusive seus insumos como os agrotóxicos, têm um sistema tributário privilegiado, em outras palavras, pagam poucos tributos, o que sobrecarrega os outros setores da economia e o cidadão comum, sobre os quais recai a carga tributária mais alta do país13. Além disso, esses produtores acumulam capital, aceleradamente, devido a esta indulgência tributária

Esta contradição tributária também explica, em grande parte, o porquê de a população em geral conviver com saúde e educação pública precária e 16% das famílias de mato-grossenses viverem em condições de pobreza e extrema pobreza, recebendo a ajuda do “Bolsa Família” do governo federal14.

13Ano base 2018. Disponível em:

<https://studiofiscal.jusbrasil.com.br/artigos/140175728/veja-o-ranking-dos-estados-por-carga-tributaria>. Acesso em 11/04/2019:

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Diante disso, a hipótese levantada por esse estudo de que o poderio econômico da agricultura em grande escala, impulsionado pela facilidade do modelo tributário nacional e estadual, está avançando sobre o pequeno agricultor, tornando se o modelo econômico preponderante no Estado, parece estar comprovada

O estudo buscou demonstrar como se atingiu este atual estágio, compreendendo o avanço das frentes pioneiras, que em alguns municípios de Mato Grosso foram representadas pelos madeireiros, garimpeiros e pecuaristas, o que sempre se confundiu com o avanço da frente de exploração, como uma concepção que percebe a ocupação do espaço sem a mediação do capital, tomando como referência primeira o indígena e significando a situação de contato que agora está se convertendo em um modelo de desenvolvimento combinado e desigual.

O estudo propôs uma análise, por meio do ICSM, e concluiu que Mato Grosso é um estado com profundas desigualdades sociais e regionais. Apesar do agronegócio, há mais de vinte anos, ser a maior força econômica no Estado, os avanços sociais são tímidos e os ambientais são negativos.

O ICSM revela um preocupante legado para as próximas gerações: o avanço acelerado do desmatamento, aliado ao alto consumo de água doce e utilização extensiva de agrotóxicos, como que a sustentar os sucessivos recordes de produção dos latifúndios.

De certo, por meio dos dados do ICSM, confirmam-se os do Censo Agropecuário do IBGE e as estatísticas de exportação em Mato Grosso. Todos indicam que, por um lado, vê se a agricultura em grande escala e a pecuária em latifúndio florescer e, por outro, a agricultura familiar ser desestimulada. Por isso, o estudo conclui que enquanto permanecer o modelo atual, pode-se dizer que Mato Grosso não é pensado para o seu povo, e sim para o mercado externo.

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