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RESTAURO RETÁBULO DE SÃO ROQUE Relatório Final

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Academic year: 2021

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CONJUNTO FRANCISCANO DE OLINDA

RESTAURO DE BENS INTEGRADOS DA ORDEM TERCEIRA

RETÁBULO DA CAPELA DE SÃO ROQUE

Relatório Final

(3)

World Monuments Fund 95 Madison Avenue New York, NY, 10016, USA Phone: (1) 646 424 9594 Fax: (1) 646 424 9593

www.wmf.org

American Express Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada

Rua Sete de Setembro, 80 - Carmo 83020-130, Olinda, PE, Brasil Tel: ( 55 81) 3439 3445 Fax: (55 81) 3429 1754

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Jorge Eduardo Lucena Tinoco, responsável técnico

Rosane Piccolo Loretto, coordenadora Franciza Toledo, consultora técnica

Carolina Brasileiro, estagiária de arquitetura Laura Alecrim, estagiária de arquitetura

Ana Elizabete da Silva (FUNDAJ), teste e análises químicas

Fernando Ponce de Leon (FUNDAJ), consultor história da arte Antônio Júnior (ETEPAM), testes e análises químicas

Raquel Bertuzzi, administração

Restauradores

Flávia Zanardini, coordenação de equipe de restauro Flávio Roberto Carvalho, restaurador

Francisca Edilene da Silva Souza, restauradora Josineide da Silva, restauradora

Marcela da Silva Alves, restauradora Maria Alessandra Andrade, restauradora

Maria Gorete da Silva, restauradora

Marlene Silva, restauradora Morgana Menezes da Costa, restauradora

Raquel Francisco de Lima, restauradora

Valéria Suzana Wanderley, restauradora Marina Russell, restauradora digital

José Floriano de Arruda Neto, mestre em carpintaria Carlos Fontes, carpinteiro

Rafael Batista, carpinteiro

Carlos Alberto Pinto Araújo, entalhador Almir Alves, entalhador

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INTRODUÇÃO ... 3

I LOCALIZAÇÃO, PROPRIEDADE E PROTEÇÃO NORMATIVA ... 4

1.1. A LOCALIZAÇÃO... 4

1.2. A PROPRIEDADE... 5

1.3 PROTEÇÃO NORMATIVA... 6

II O RETÁBULO DA CAPELA DE SÃO ROQUE... 8

2.1 OS ASPECTOS FORMAIS... 8

III A CONSERVAÇÃO DO RETÁBULO ... 12

3.1 A METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO... 12

3.1.1 A significância cultural do retábulo da Capela de São Roque... 12

3.1.2 Os objetivos da ação de conservação ... 13

3.1.3 As diretrizes da ação de conservação... 13

3.2 ESTUDOS PREPARATÓRIOS... 14

3.2.1 A situação inicial ... 14

3.2.2 O mapeamento e caracterização dos danos... 14

3.2.3 O microclima ... 20

3.2.4 As características do suporte do retábulo... 21

3.2.5 As características da camada pictórica e do douramento do retábulo ... 22

3.2.6 A pesquisa e identificação de intervenções anteriores ... 23

3.3 A INTERVENÇÃO... 26

3.3.1 Mobilização do canteiro e instalações provisórias ... 27

3.3.2 Documentação fotográfica e gráfica ... 28

3.3.3 Testes e análises microquímicas ... 30

3.3.4 Higienização superficial... 33

3.3.5 Refixação dos elementos em desagregação ... 33

3.3.6 Desmontes... 34

3.3.7 Limpezas químicas e mecânicas ... 35

3.3.8 Remoções de intervenções passadas ... 36

3.3.9 Consolidação estrutural ... 37

3.3.10 Reconstituição de áreas entalhadas ... 39

3.3.11 Remontagem... 41

3.3.12 Nivelamento ... 42

3.3.13 Reintegração pictórica ... 43

3.3.15 Redouramento... 43

3.3.14 Desmobilização do canteiro... 44

IV GUIA DE INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO PREVENTIVA... 45

(6)
(7)

INTRODUÇÃO

Este relatório apresenta os resultados finais da implantação do projeto de conservação dos bens artísticos integrados da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Olinda, especificamente do subprojeto de restauro do retábulo de São Roque, situado na capela homônima.

São abordados os seguintes pontos:

• Descrição do edifício da Ordem Terceira segundo os seguintes itens: localização,

propriedade, proteção normativa e aspectos formais;

• Metodologia de intervenção utilizada, enfocando a significância cultural do

retábulo, os objetivos da ação de conservação e as diretrizes da ação de conservação;

• Estudos preparatórios que antecedem o restauro, como a caracterização da

situação inicial, o mapeamento e caracterização dos danos, o microclima, as características do suporte do retábulo, da camada pictórica e do douramento, além da pesquisa e identificação de intervenções anteriores;

• Apresentação dos resultados finais da implantação do projeto de restauro do

retábulo de São Roque.

O projeto de conservação foi elaborado pelo Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI) em estreita colaboração com os proprietários do imóvel, isto é, Venerável a Ordem Terceira de São Francisco. O World Monuments Fund e o American

Express contribuíram com os recursos financeiros para a realização do trabalho.

A Prefeitura de Olinda contribuiu com recursos de contrapartida para a realização dos trabalhos.

A Escola Técnica Professor Agamenon Magalhães, por meio do especialista Antônio Júnior, realizou os testes químicos das amostras de pigmentos e outros materiais das pinturas dos forros.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) analisou os projetos de intervenção e autorizou a realização dos trabalhos de conservação.

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CAPÍTULO I

L

OCALIZAÇÃO

,

P

ROPRIEDADE E

P

ROTEÇÃO

N

ORMATIVA

1.1. A localização

O Conjunto Franciscano localiza-se na cidade de Olinda, Estado de Pernambuco, região tropical da América do Sul, no Nordeste do Brasil. O Conjunto está inserido no núcleo histórico da cidade de Olinda, com características físico-ambientais peculiares.

A cidade encontra-se na latitude 08°01’42” e longitude 34°51’42”, e possui altitude média de 16 m. O município faz limites com Paulista (norte), Oceano Atlântico (leste) e Recife (oeste e sul). Tem a distância de apenas 6,0 km da capital do Estado de Pernambuco, a cidade do Recife.

Imagem 1. Localização da cidade de Olinda na América do Sul

O clima de Olinda é tipicamente tropical, ou seja, quente e úmido, com uma temperatura média anual de 27° C, apresentando uma amplitude térmica de 5° C. A precipitação pluviométrica total anual varia de 1.000 a 2.000 mm.

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Por ser uma cidade tropical à beira do mar, a umidade relativa do ar apresenta uma média anual de 80%, sendo a mínima em torno de 74%, e a máxima de 97%.

Imagem 2. O sítio histórico de Olinda, os principais edifícios religiosos e o Conjunto Franciscano em seu terreno.

1.2. A propriedade

A propriedade tem o regime do direito privado, pertencendo à Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, que administra os bens móveis e imóveis dos franciscanos nos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A administração central está localizada na Rua do Imperador, 206, no Recife – PE.

No Brasil, a maioria das edificações da Ordem Terceira foi construída ao lado da Ordem Primeira. No caso particular de Olinda, os irmãos da Ordem Franciscana Secular do Brasil – OFS (Ordem Terceira) são os proprietários de, aproximadamente, 22% do conjunto arquitetônico construído. Também são os administradores do cemitério contíguo à Ordem Terceira, que rende à fraternidade receita financeira anual com a venda e aluguel de jazigos.

(10)

1.3 Proteção Normativa

O Conjunto Franciscano de Olinda está localizado no núcleo histórico da cidade. O centro histórico de Olinda foi tombado pelo Governo Federal em 1968, e reconhecido pela UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1982.

O Conjunto Franciscano foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 22 de julho 1938. É formado pela Igreja e Convento de Nossa Senhora das Neves, capela, casa de oração e claustro dos Terceiros Franciscanos, inclusive o adro e os cruzeiros fronteiros e toda a área da antiga cerca conventual.

Imagem 5. Polígono de tombamento do sítio histórico de Olinda

Fonte: André Pina, SEPACCTUR (2006) in Barreto (2008)

Imagem 6. Delimitação do sítio histórico de Olinda constante no dossiê para a UNESCO

Fonte: Fundação Pró-Memória (1982) in Barreto (2008)

No contexto das legislações de proteção à cidade, o conjunto apresenta as seguintes restrições edilícias: a legislação federal e a municipal.

Sob a égide da legislação federal de proteção aos bens culturais, instituída a partir do Decreto-Lei n° 25, de 30/novembro/1937, o Sítio Histórico de Olinda (SHO) regula-se pela Re-ratificação do Polígono de Tombamento do Município e seu Entorno, por meio da Notificação de nº1155/79. Por este documento, o terreno da cerca conventual dos franciscanos está localizado no Setor C – Área verde de preservação rigorosa, Sub-setor C3, conforme os dizeres abaixo:

O Sub-setor C3, se caracteriza como área especial de proteção florestal; Qualquer interferência na área se sujeita aos projetos especiais de ocupação e uso, tendo em vista a proteção à topografia, vegetação e paisagem; Só serão permitidas obras ou novas formas de ocupação que não impliquem em aterros, desmontes e/ou alterações de vegetação existente. Fica estabelecida a taxa máxima de ocupação em 5% (cinco) da área e gabarito máximo de 01 (um) pavimento, com altura máxima de 3m (três metros) até o nível da platibanda, permitindo acima disso telhado com o máximo de inclinação de 30% (trinta), medidos a partir da soleira, não podendo esta se encontrar a mais de 0.50m (meio metro) acima do meio fio.

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Em relação à legislação municipal de proteção, o Conjunto Franciscano está inserido na Zona de Especial Proteção Cultural (ZEPC1), no chamado Conjunto Monumental, Setor Verde 1 (SV 1), área de grande densidade de vegetação e solo virgem que envolve os monumentos tombados. Observa-se que os perímetros de proteção das duas legislações são coincidentes.

O Art. 26, Lei Municipal n° 4.849/1992, diz:

No Setor Verde 1 não será permitido aumento de taxa de ocupação existente, ficando os Setores Verdes 2 e 3 sujeitos aos projetos especiais de ocupação e uso, tendo em vista a proteção à topografia, vegetação e paisagem, sendo obrigatória análise especial pelo órgão federal competente e Conselho de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda e aprovação pela Prefeitura Municipal, observados os seguintes requisitos : I - Somente serão permitidas obras ou novas formas de ocupação que não impliquem em aterros, desmontes e/ou alteração da vegetação existentes; II - A taxa de ocupação permitida é de até 5% (cinco por cento) da área; III - O gabarito permitido é de 01 (um) pavimento (h= 3,00m).

A mencionada lei prossegue com várias outras determinações para a área do conjunto franciscano.

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CAPÍTULO II

O

R

ETÁBULO DA

C

APELA DE

S

ÃO

R

OQUE

2.1 Os aspectos formais

A Capela de São Roque, local que apresenta o maior número de obras de arte e bens integrados da Ordem Terceira, destaca-se pela presença dos seguintes elementos: forro em caixotões, com pinturas isoladas a óleo sobre painéis de madeira; cabeceira da nave com dois retábulos laterais ao arco cruzeiro, totalmente revestidos por talha em madeira policromada e com pintura dourada; dois retábulos localizados em cada ilharga da nave, sendo o do lado do Evangelho dedicado a São Bendito e o do lado da Epístola dedicado a Santo Antônio; cadeiral em madeira escura finamente entalhada nas laterais da nave central da capela; dois balcões em talha de madeira policromada; púpito entalhado; sanefas sobre as portas de acesso à sacristia e outras dependências da Ordem Terceira, também em madeira esculpida e policromada; e o retábulo da capela-mor dedicado a São Roque.

O retábulo encontra-se dividido em onze áreas distintas, sendo elas:

• Embasamento: Formado por 19 tábuas em cedro, emassadas e pintadas. Seu

fechamento superior é formado por uma mesa arrematada por frisos dourados.

• Bases de sustentação: Sustentam as quatro colunas que se dispõem

simetricamente no pé direito do retábulo. Este par de bases de sustentação é formado por primas em forma de bulbo, e encontram-se emassadas e pintadas de branco, apresentando ainda adornos dourados.

• Tablado central: Local onde estão assentados os dois nichos e o sacrário do

retábulo. Possui fechamento superior formado por uma mesa arrematada por frisos e florões dourados.

• Nichos: Abrigam as imagens de São Francisco de Assis no lado esquerdo e de

Santa Isabel de Hungria no lado direito, e nenhuma imagem no centro. São formados por tábuas de cedro e blocos entalhados, estando emassados, pintados e dourados em certos elementos.

• Sacrário: Localizado no centro do retábulo, encontra-se emassado e pintado de

branco, apresentando ainda adornos dourados.

• Colunas: Encontram-se dispostas aos pares, nos dois lados do retábulo, de forma

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adornos dourados) e capitel (emassado em com folhagens douradas), estando retorcidas em seu eixo vertical.

• Entablamentos: Estão situados acima de cada um dos pares de colunas, e

apresentam quatro níveis de escalonamento. São marcados por uma grande quantidade de frisos dourados horizontais que se dispõem acima da base emassada e pintada de branco.

• Coroamento: É formado por uma coroa central, a partir de onde partem volutas e

contra-volutas que formam um tímpano duplo em cada um dos lados do retábulo. Apresenta-se emassado e pintado de branco, com adornos dourados nas áreas de frisos.

• Arcos: Seis jogos de arcos compõem o conjunto que arremata o retábulo em sua

porção superior. Todos os arcos encontram-se emassados e pintados de branco, apresentando frisos com douramentos.

• Trono: O trono de São Roque é formado por três níveis escalonados ascendentes,

e se encontra emassado e pintado de branco. Os adornos dourados são verificados nas suas faces frontal e lateral, e se dispõem de modo a conformar almofadas.

• Esplendor: O esplendor encontra-se fixo no último nível do trono, e desta forma,

também faz parte do retábulo. Apresenta dois conjuntos de raios, sendo o primeiro emassado e pintado de amarelo claro, e o outro de dourado.

Cabe salientar que a atual configuração formal do retábulo de São Roque teve origem na transformação de um exemplar anterior que repousava no mesmo local. Desse modo, questiona-se: o que haveria na composição do atual retábulo determinada pela configuração anterior em estilo nacional português, segundo evidenciam os indícios formais?

Como considerações para resposta a esta questão, tem-se primeiramente que no espaço da pequena Capela Mor de São Roque é perceptível que sua largura e profundidade possibilitavam a montagem de um outro tipo de estrutura retabular: alçados mais elevados e compactos, ornamentação em relevo escultórico denso, douramento uniforme. Percebe-se também que há certa inadequação entre o tipo do retábulo atual, o qual se integra numa classificação de 4ª tipologia, de execução para finais do século XVIII (Germain Bazin/ Sandra Alvim), e o espaço no qual foi inserido, trazendo a seguinte dúvida: aquele retábulo atual parece ter sido superposto em planta e revestimentos da elevação de um retábulo anterior, identificável ao chamado estilo nacional português: colunas torças laterais prolongando-se em coroamento de arcos concêntricos, vigente entre c. 1690 - c. 1730. O aproveitamento da planta de base, da estrutura e superfícies de fundo anteriores identifica-se por várias evidências: disposição reentrante dos elementos arquitetônicos (bases das colunas, fustes, e pilastras de fundo, entablamentos duplos ou de níveis acrescentados); ainda na parte superior do vão do camarim do trono, vêem-se revestimentos em tabuado como arcos e planos semi-circulares superpostos, recurso de marcenaria desnecessário ou dispensável àquele frontão do retábulo atual. Observe-se também sobre este frontão que ele resultou

(14)

numa estrutura de terminação insuficiente para ocupar a área onde foi inserido, isto é, o tímpano do vão da abóbada do forro apainelado em caixotões.

Imagem 7. Vista frontal do retábulo de São Roque

Em visitas de estudo à Capela Mor de São Roque, observou-se ainda que nas laterais e posteriores das colunas do retábulo existiam painéis com entalhe raso de ornamentação em ramos de videira (e cachos de uvas), típica daquele estilo nacional português. Posteriormente, o desmonte daquele retábulo para seu restauro, mostrou que o revestimento atrás das colunas à maneira de pilastras, poderá ser talvez o revestimento de um anterior retábulo com painéis idênticos em seu entalhe e gramática ornamental, dispostos em ângulos duplos e reentrantes, caracterizando uma superfície de fundo da morfologia do chamado período nacional português.

Numa conclusão provisória, pode se considerar que o atual retábulo resultou de uma tentativa de atualização estilística, objetivando-se configurá-lo à maneira dos seus contemporâneos tal como se construíam nos finais do século XVIII, 1770-80-90. No entanto, aqueles retábulos de finais do século XVIII, pela sua estrutura arquitetônica mais elevada,

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vazada e mais afastada quanto às superfícies de fundo, resultaram mais bem sucedidos e elegantes do que o retábulo da Capela de S. Roque. Neste retábulo, há certa incompatibilidade entre sua estrutura híbrida e a amplitude de um espaço arquitetônico de construção anterior. Há várias evidências de sua atualização estilística, determinada por razões administrativas ou sócio-econômicas da instituição, associadas àquelas primordiais da necessária manutenção dos equipamentos litúrgicos em uso pelo culto católico. Parece ter havido a preservação dos originais pares de colunas do retábulo anterior, as quais parecem ter sido então “atualizadas”, afunilando-se a parte superior dos seus fustes, definindo-se ainda os seus primeiros terços com molduras e sulcos aspirais, transformando-as de anteriores colunas torças em novas colunas salomônicas, estas típicas dos retábulos joaninos e daqueles dos finais do século XVIII.

Outra evidência foi a preservação daqueles painéis – pilastras de entalhe em videira; por outro lado, fica evidente que uma atualização estilística para aquele retábulo não poderia ser alcançada apenas pelo acréscimo de novos elementos ornamentais: rocalhas em apainelados e nas bases de volumetria bombeada das colunas. Por sua vez, houve também dificuldade na composição do coroamento do frontão, cujos elementos arquitetônicos foram executados em recorte e relevo frágeis, associados a pouca espessura do seu entalhe. Da atualização ou reforma do retábulo vêm os dois Nichos laterais ao sacrário, dispostos no plano da banqueta (esta em painel ondulado com ornatos rococó). Os dois nichos têm suas caixas ornamentadas em cercaduras vazadas em rocalha. Eles têm coroamentos simétricos ajustados às curvaturas superiores das suas caixas: simulam volutas e feixes de plumas ao centro dessa composição ornamental. O entalhe destes nichos é comparável àquele dos mesmos que haviam no retábulo mor da Igreja da Conceição dos Militares(Recife) onde estavam as imagens de Santana Mestra e de São José Caminhante.

Outros retábulos são comparáveis com este de São Roque. Na Igreja do próprio Convento de São Francisco, o retábulo da Capela Mor parece de tipo semelhante àquele da vizinha Ordem Terceira. Embora atualizado com elementos de talha neoclássica, esse retábulo da igreja conventual franciscana foi bem melhor preservada, podendo servir de fonte comparativa para a série. Na Igreja do Amparo, em Olinda, percebe-se certas semelhanças com os retábulos laterais, especificamente quanto aos seus coroamentos. O retábulo da Capela Mor da Igreja do Convento de Santo Antônio de Recife deve inserir-se nesta série associando-se aqueles de Olinda já referidos.

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CAPÍTULO III

A

C

ONSERVAÇÃO DO

R

ETÁBULO

3.1 A metodologia de intervenção

A metodologia de intervenção utilizada pelo CECI parte do estabelecimento de três itens: da significância cultural do retábulo de São Roque, dos objetivos da ação de conservação e das diretrizes de conservação, conformando o tripé das ações que estão sendo empreendidas. Os tópicos abaixo detalham cada um destes itens e os relaciona entre si, indicando a orientação geral dos trabalhos.

3.1.1 A significância cultural do retábulo da Capela de São Roque

A teoria contemporânea do restauro, que tem Salvador Viñas (2004) como um dos principais porta-vozes, postula que os objetos e lugares não são por eles mesmos aquilo que é importante no patrimônio cultural, mas são importantes pelos significados que as pessoas atribuem a eles e pelos valores que representam. Esta afirmativa traz em sua essência, a idéia de que a conservação deve propiciar a continuidade da apreensão dos significados e valores dos quais os objetos são portadores, dentro de uma acepção culturalmente e temporalmente marcada.

Como o Conjunto Franciscano foi tombado pelo IPHAN em 1938, e juntamente a ele todos os seus bens integrados, o Retábulo de São Roque da Ordem Terceira também faz parte do sistema de proteção patrimonial até hoje vigente. O artifício do tombamento se fez presente neste caso para que seus valores fossem mantidos, e é a partir da compreensão destes valores que se pode abordar a significância cultural do retábulo.

Deve-se ressaltar o valor histórico e artístico, visto ser um retábulo que mescla uma produção estética afeita ao barroco, rococó e neoclássico, três estilos que tiveram no Estado de Pernambuco uma expressão bastante definida e notória. Este retábulo demonstra materialmente a transição destes estilos, guardando expressões de cada um deles. Deste modo, por meio de tais formas, podem ser verificados registros do século XVIII e XIX dos trabalhos de talha em madeira, pintura e douramento. Além disso, o valor religioso apresenta um grande destaque, visto que este retábulo é o maio ponto de confluência de fiéis

(17)

e dos irmãos presentes na Ordem Terceira de São Francisco, local onde se realizam as mais importantes cerimônias.

3.1.2 Os objetivos da ação de conservação

Para além dos objetivos gerais da conservação dos bens culturais, como aquele prescrito pela Carta de Veneza (1964) que advoga que os bens devem ser conservados tendo em vista a sua transmissão às gerações futuras, o estabelecimento de objetivos específicos para determinado objeto, é fundamental para a execução das atividades de conservação.

Neste contexto, os objetivos são os resultados que se desejam obter através de uma ação, ou de um conjunto de ações específicas. É importante destacar que estes objetivos estão tão ligados aos valores e à significância atribuídos aos objetos, quanto à própria matéria ou processo que os conformou. Assim, os objetivos de intervenção na estrutura física do objeto devem estar ao lado com aquilo que se deseja que o objeto expresse ao fim da ação. Neste sentido, os valores e a significância reconhecidos no objeto são de essencial importância para a determinação dos objetivos das ações que incidirão sobre ele.

Desta forma, o objetivo que foi estabelecido no início dos trabalhos de conservação foi referente à eliminação dos danos estruturais do retábulo, que estavam pondo em risco a permanência dos principais valores nele reconhecidos, e que se expressam preponderantemente por meio da sua materialidade.

Entretanto, poderá ser verificado de acordo com as descrições a seguir, que estas intervenções que objetivam restaurar as áreas danificadas estruturalmente potencializaram o aparecimento de alguns danos estéticos, que se encontravam encobertos anteriormente. Frente a esta situação, houve uma ampliação dos objetivos das atividades de conservação do retábulo, que partiu dos reparos dos danos estruturais e chegou até os reparos na camada pictórica e no douramento das peças.

A intenção da realização destas ações é proporcionar a continuidade da percepção dos valores históricos e artísticos que o retábulo é portador, e que o torna um bem patrimonial de interesse nacional.

3.1.3 As diretrizes da ação de conservação

O modo pelo qual as atividades de conservação serão desenvolvidas, assim como resultado final a ser obtido com a intervenção, estão intimamente relacionados aos princípios adotados. Neste sentido, a afinação entre os objetivos propostos e os princípios adotados é essencial para que as atividades de conservação se desenvolvam da forma mais eficaz possível, garantindo resultados satisfatórios.

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Os princípios comumente adotados pelo CECI no caso de intervenções estão vinculados à Teoria Contemporânea da Conservação, e podem ser expressos em linhas gerais nos quatro itens seguintes:

• Manutenção da autenticidade da matéria e do processo construtivo pelo qual a

matéria foi constituída, que testemunham os principais valores e a significância do bem cultural;

• Mínima intervenção possível como meio de assegurar a manutenção da

integridade material e, especialmente, da pátina do bem cultural;

• Utilização de materiais e técnicas tradicionais sempre que possível. Em casos

imperativos de utilização de materiais sintéticos, devem-se preceder estudos e análises específicas de compatibilidade e adaptação aos materiais originais;

• Garantia da máxima reversibilidade potencial à intervenção.

3.2 Estudos preparatórios 3.2.1 A situação inicial

O estado de conservação do Retábulo da Capela de São Roque foi resultado de três fatores: a deterioração dos materiais pelo decorrer do tempo, a ação de agentes externos como insetos xilófagos e morcegos, agravadas pela falta de manutenção adequada; e ações tomadas em intervenções anteriores.

São encontradas fissuras no madeiramento; manchas escuras decorrentes da ação de fungos na madeira; parafusos oxidados e conseqüentes fissuras e perdas da camada pictórica adjacente; perda do suporte de madeira por contato com águas pluviais e apodrecimento, sujeiras decorrentes da presença de excrementos de morcego, galerias e desgastes causados pela ação de insetos xilófagos; além de outros danos menos recorrentes.

A integridade do retábulo ainda é comprometida por ações de intervenções anteriores que utilizaram mão-de-obra e materiais inadequados no projeto de restauro. Conseqüência disto, grande parte do douramento original foi recoberto por purpurina e verniz impróprio e a maioria das superfícies recebeu uma camada de materiais diferentes do original (massa corrida e massa de vidro, por exemplo). Os serviços foram mal executados, o que ocasionaram abaloados de excesso de material e problemas no acabamento, havendo em diversas situações, sobreposição do material ao ornamento ou douramento.

3.2.2 A identificação e caracterização dos danos

A identificação dos danos das peças constituintes do Retábulo da Capela de São Roque foi realizada a partir do preenchimento das Fichas de Identificação de Danos (FID). Esta documentação subsidiará a análise norteadora das intervenções.

(19)

As Fichas de Identificação de Danos foram realizadas a partir de um levantamento arquitetônico do retábulo digitalizado no software Autocad 2006. Através do desenho digital as peças foram divididas em 27 agrupamentos aos quais correspondem cada ficha. Nesta fase é realizado um mapeamento que documenta a caracterização dos danos, as manifestações ou sintomas, as causas, natureza e origem (procedência), bem como os agentes patogênicos. Cabe salientar que esta ficha permite o registro dos danos presentes de acordo com dois níveis de análise, que são registrados na Ficha Básica de Identificação de Danos e da Ficha de Identificação Pormenorizada dos Danos.

As Fichas Básicas de Identificação de Danos consistem em um documento no formato A4, apenas com a elevação frontal do agrupamento a que se refere, onde são apontadas as observações iniciais dos danos do objeto em questão.

Imagem 8. Agrupamentos das peças do Retábulo da Capela de São Roque.

As Fichas de Identificação Pormenorizada dos Danos foram elaboradas a partir de um levantamento fotográfico por vários ângulos de visão. Apresentam-se também em formato A4 e contêm estas fotografias, que mostram todas as superfícies das peças, ao invés do desenho digital da Ficha Básica. Nesta fase, os danos são identificados através de observação mais minuciosa e são fotografados em detalhe para consultas posteriores. A medida que eram feitas as limpezas químicas e mecânicas foram ainda acrescentadas

(20)

informações a respeito de danos que até então estavam recobertos por sucessivas camadas de material, utilizando lápis verde para diferencia-las das anteriores.

Imagem 9. Exemplo de Ficha Básica.

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Durante o processo de preenchimento das Fichas de Identificação de Danos foram observadas algumas patologias mais recorrentes no que diz respeito a: estrutura; ornamentos; e camada pictórica, seja na superfície de cor branca ou no douramento.

A estrutura do retábulo é composta por madeiramento em grande parte original, mas que em certas situações recebeu enxertos para reforço ou preenchimento de lacunas. Algumas peças foram substituídas em intervenções anteriores, como por exemplo, parte do madeiramento dos arcos. Outras se encontram gravemente carcomidas por xilófagos ou deterioradas pela ação de excrementos de morcegos podendo ser necessária a substituição em fase posterior. Foram ainda detectadas fissuras na estrutura, sendo mais graves as encontradas nas colunas.

Imagem 11. Capitel da coluna (P.10) carcomido por xilófagos.

Imagem 12. Fissura na coluna (P.13).

Imagem 13. Peça do arco (P.26) com excrementos de morcego.

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Os ornamentos se encontram em grande parte no seu formato original havendo, ocasionalmente, a reprodução em material diferenciado. Os principais danos encontrados foram lacunas e fissuras leves a moderadas.

Imagem 15. Reprodução do ornamento do

embasamento (P.04) em massa corrida.

Imagem 16. Lacuna no ornamento do embasamento

(P.04).

Imagem 17. Perda de madeira do ornamento do nicho

(P.05).

A camada pictórica é a parte do retábulo que apresenta maiores descaracterizações. As superfícies brancas receberam uma camada de material diferenciado do original, na maior parte massa corrida, que foi aplicado sem grandes preocupações com o acabamento. Como resultado, as superfícies apresentam irregularidades, e em muitos casos, esta camada sobrepõe-se ao ornamento ou douramento. Também há a ocorrência de perda da camada pictórica em pequenas porções do retábulo, em especial por decorrência da oxidação de parafusos, que agem diretamente na superfície adjacente.

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Imagem 17. Excesso de massa corrida no fuste da coluna (P.13).

Imagem 19. Parafuso oxidado no esplendor (P.18).

Imagem 18. Massa corrida sobre ornamento da

coluna (P.10).

A maior parte do douramento original encontra-se recoberto por purpurina ou verniz, decorrentes de intervenção anterior. A purpurina é facilmente identificada pelas marcas de pinceladas deixadas e com o tempo adquiriu uma tonalidade esverdeada. O verniz utilizado, por não ser de qualidade e execução adequadas, gerou manchas avermelhadas. É também recorrente a perda do douramento, deixando exposta a camada de bolo armênio - resultado de pequenas fissuras e desgaste da folha de ouro - ou mesmo a madeira.

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Imagem 20. Purpurina sobre douramento original na base da coluna (P.10).

Imagem 21. Verniz sobre douramento original no ornamento da coluna (P.12).

Imagem 22. Exposição do bolo armênio no ornamento

da coluna (P.13) .

3.2.3 O microclima

A cidade de Olinda possui clima tropical sendo marcada pelas elevadas temperaturas e intensa umidade do ar durante a maior parte do ano. A temperatura média oscila entre 24 e 27 graus anualmente, enquanto a umidade relativa (UR) do ar vai de 74% a 97%.

Deve-se ao período de chuvas os altos gradientes de umidade, iniciando-se em março e indo até o final de agosto. Na maioria dos casos, as chuvas vêm do oceano em direção ao continente e são decorrentes do processo de evaporação e condensação da água, o que não gera atritos e descargas elétricas, resultantes em raios e trovões.

Deste modo, o Convento Franciscano, por se localizar bastante próximo ao mar, está continuamente exposto a chuvas torrenciais e elevados gradientes de temperatura e umidade. Este fator, juntamente a um telhado defeituoso, tem favorecido à deterioração do retábulo de São Roque, especialmente da área dos arcos e coroamento, onde se incluem a pintura, o douramento e o suporte.

(25)

No verão, a umidade absoluta, ou seja, a real quantidade de vapor d’água no ar, é alta, girando em torno dos 19 g/kg. Os dados climáticos coletados mostram valores de temperatura e UR bastante estáveis, porém altos, sobretudo no interior do altar-mor. Observa-se também que as oscilações diárias de temperatura e UR do ar têm favorecido a movimentação da madeira (expansão e contração num curto período de tempo) e que, apesar temperatura e UR serem mais estáveis, são muito altas, o que cria condições ideais para a proliferação de fungos, amolecimento da madeira, o ataque de insetos xilófagos, e a conseqüente biodeterioração do retábulo.

3.2.4 As características do suporte do retábulo

O retábulo apresenta dois suportes básicos: um para dar apoio e sustentação à estrutura e elementos escultóricos, constituído em alvenaria de tijolos, e outro para a manifestação da talha e ornamentação pictórica, executado em madeira.

A estrutura e os elementos escultóricos do retábulo estão apoiados sobre uma alvenaria de tijolos maciços de confecção artesanal, assente com argamassa de cal areia, não apresentando apuro da mão-de-obra na técnica construtiva. Após o desmonte do retábulo e através de análise visual, percebeu-se que essa alvenaria é integrante do corpo construído original da Capela e que se achou evidencias de ela ter sido alterada com a eliminação de partes e inclusão de abertura para ajustar-se à montagem das peças do retábulo.

A talha e ornamentação pictórica tem como suporte a madeira, identificada visualmente por expertise como sendo da família botânica das meliáceas, podendo ser das espécies Cedrela sp. (cedro) ou Swietenia sp. (mogno). Ambas sempre foram largamente utilizadas para a ornamentação de espaços arquitetônicos bem como na esculpir imagens de devoções religiosas. Isto porque se trata de espécie de madeira muito dócil ao entalhe dos mestres artífices. Tanto o cedro como o mogno são madeiras nobres da Mata Atlântica Brasileira, e muito resistentes ao ataque dos insetos xilófagos enquanto permanecer ativa sua resina aromática.

O camarim e trono estão estruturados e executados também em madeira. O primeiro possui barrotes, apoiados sobre o assoalho do ambiente trás-altar, utilizados para fixação das tábuas de fechamento. O trono eleva-se em três estágios para encimar o supedâneo do orago.

Observou-se que em alguns trechos do camarim e talha houve substituições e reaproveitamento de tábuas, inclusive de qualidade bem inferior ao cedro ou mogno (p.e. tábuas de terceira 1). Inclusive uma tábua foi destacada como exemplo de reaproveitamento de madeira. Trata-se de uma peça do trecho do pé-direito do retábulo, com entalhe em

(26)

ambas as faces sendo a primitiva com entalhe tecnicamente mais apurado e com vestígios de policromia e douramento. Provavelmente teve ter sido integrante de outro conjunto artístico da edificação.

Imagens 23 e 24. Alvenaria de suporte do retábulo.

3.2.5 As características da camada pictórica e do douramento do retábulo

Observa-se que há muitas sobreposições de camadas de pintura e nivelamento,

tanto nos lisos2 como nos ornatos. Muitas áreas acham-se grosseiramente revestidas com

camadas de brancos e dourados, tendo sido empregado, provavelmente, tinta sintética à base de PVA para os primeiros e purpurina para os últimos.

Imagem 25. Exemplo de sobreposições de camadas no canto do Tablado Central do retábulo.

(27)

3.2.6 A pesquisa e identificação de intervenções anteriores

Foi realizada uma pesquisa histórico-documental na 5° Superintendência Regional do IPHAN, locada na cidade do Recife, cujo enfoque foram os projetos referentes às ações executadas em toda a Ordem Terceira de São Francisco de Olinda. No total, foram catalogados 220 documentos, entre correspondências institucionais, cartas, ofícios, pareceres técnicos, matérias de jornal, folhas de composições de preços, orçamentos, fichas de acompanhamento de serviços, relatórios técnicos, instruções regionais, comunicados internos, termos, relatórios de acompanhamento, recibos de pagamento de serviços, notas fiscais, folhas de pagamento de funcionários, notas de empenho, notas de autorização, programas, memorandos, plantas, fotografias, além de textos avulsos. Tais documentos permitiram a reconstrução das histórias de intervenções que o retábulo já sofreu, ainda que sob a forma de fragmentos.

O primeiro registro detectado neste conjunto documental investigado se refere à folha de composições de preços anexa ao orçamento n° 020/50, da Ordem 3° de São Francisco, Capela de São Roque, do início da década de 1950. Neste documento, previam-se os gastos referentes à execução de serviços de refixação do forro em caixotões com retirada e renovação da estrutura de sustentação da nave e da capela-mor. Além disso, constavam a remoção, restauração, imunização e refixação de:

• Todas as obras de talha do altar-mor e seu nicho;

• Altares laterais do arco-cruzeiro;

• Arco cruzeiro;

• Paredes que contêm o arco cruzeiro;

• Tribunas;

• Altares laterais da nave;

• Arco de ligação entre a Capela de São Roque e a Igreja.

Apesar de não terem sido identificados os registros que iluminassem a execução de tais procedimentos, pode-se supor que os mesmos tenham apresentado grande envergadura, considerando-se o conjunto de procedimentos listados e o tempo necessário de execução. Esta obra, identificada por meio do número 112, aparece em uma série de documentos institucionais do IPHAN, onde sempre são listados os funcionários que estavam atuando, além dos materiais utilizados. Deste modo, através dos registros documentais encontrados, verificou-se que esta intervenção se desenvolveu de novembro de 1950 até junho de 1954.

Em 16 de janeiro de 1951, segundo consta no ofício n° 15/51, estava sendo realizado o planejamento das ações a serem empreendidas na cobertura e no forro da Capela de São Roque. Apesar destes elementos não fazerem parte do retábulo, os procedimentos neles realizados, assim como seu estado de conservação, estão diretamente ligados a este altar.

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• Remoção da coberta da capela-mor de São Roque (o lado do mar apresentava todos os caibros rolados nos apoios e estavam sendo sustentados pelo forro);

• A estrutura de suporte do forro encontrava-se bastante estragada, sendo

necessário substituí-la quase que totalmente, mantendo os tipos e os detalhes os mais fiéis possíveis;

• A instalação elétrica encontrava-se danificada pelo tempo e pelo material em que

foi feita, sendo aconselhável verificar a possibilidade de refazê-la totalmente;

• Re-feitura do beiral de tríplice-telha do lado do mar na capela-mor, que foi

substituído por uma platibanda com calha cimentada, responsável pelos maiores estragos verificados neste local.

Em setembro de 1951, foi dado início aos trabalhos de re-feitura de toda a coberta da nave, refixação do forro, recolocação dos painéis do forro da capela-mor, substituição dos trechos inaproveitáveis das molduras existentes, com o “aproveitamento máximo das peças autênticas”, segundo consta no ofício n° 217/51 de Ayrton da Costa Carvalho. Tal tratamento às molduras do forro foi estipulado pelas recomendações enviadas por Renato Soeiro. O distrito do Recife, após a realização de uma consulta registrada pela informação n° 115 de 14 de junho de 1951, decidiu pelos procedimentos de “limpeza, imunização, restauro com maior aproveitamento de peças autênticas, retirada de trechos impossíveis de aproveitar, introdução de novos elementos em madeira e pesquisa sobre a pintura primitiva de acabamento das peças”.

Entretanto, é importante pontuar que no ano de 1952, esta obra na Capela de São Roque sofreu uma pequena paralisação. Por meio do ofício n° 170/52, de 19 de agosto de 1952, foi verificado que a falta de verbas do 1° distrito do então DPHAN impossibilitou a continuidade dos trabalhos. Isto se deveu ao fato de ter escapado do orçamento inicial a restauração da “cimalha real que contorna a nave”. Também foi colocado que depois da permanência do conservador João José Rescala nesta obra, se impôs a limpeza dos painéis do forro, aumentando o valor dos gastos não previstos. Além disso, a previsão do custo para a refixação total do forro de caixotões da nave da capela também foi insuficiente, já que não se contou com a possibilidade de se substituírem alguns trechos das suas molduras, certos elementos da talha, nem reparos nas almofadas decorativas.

Após o fim desta paralisação, os trabalhos de restauro previstos desde década de 1950 foram executados, tanto no retábulo, como em alguns elementos da nave da Capela de São Roque e no forro do seu altar-mor. Entretanto, ao fim desta década, especificamente no dia 30 de junho de 1958, a irmandade da Ordem Terceira enviou o ofício n° 76-56/59, ao IPHAN, solicitando o envio de um técnico para que fossem tomadas providências quanto ao altar mor da Capela de São Roque e a sacristia, que se achavam fortemente atacados por cupim, merecendo uma especial atenção os seus forros.

(29)

Não há registros posteriores indicando o atendimento desta solicitação enviada pelos irmãos terceiros. Apenas no ano de 1985 foi encontrada uma nova notícia referente a reparos já realizados nesta capela, que se referia à realização de obras em caráter urgente na coberta da “Capela da Ordem Terceira de São Francisco de Olinda”, ou Capela de São Roque. Este documento foi enviado por Ayrton Almeida de Carvalho ao diretor da DTC/SPHAN/SEC, através do ofício n° 07/85/P, em 15 de janeiro de 1985, e ao Coordenador do Programa de Cidades Históricas, através do ofício n° 06/85/F, de 14 de janeiro de 1985.

A última intervenção de grande impacto que foi detectada, se refere àquela presente no memorando n° 21/96/ IPHAN/5°CR, enviado pelo Setor de Conservação e Restauração da 5° CR/IPHAN/MinC ao Chefe de Divisão Técnica da 5° CR/IPHAN/MinC. Tal documento era referente à solicitação de serviços de conservação nos altares e teto da Capela de São Roque da Ordem Terceira de São Francisco, realizada pelos próprios membros da irmandade com o auxílio do IPHAN. Por meio deste documento, verificou-se que foi acertado que o IPHAN contribuiria nos trabalhos de conservação desta capela com:

• Empréstimo de andaimes;

• Material necessário para a fixação do dourado e da policromia;

• Orientação técnica dos trabalhos;

• Dois auxiliares treinados;

• Possibilidade de treinar mão-de-obra para auxiliar nos trabalhos.

Neste trabalho, que teve a sua duração prevista de um a dois anos, a Ordem Terceira arcaria com os gastos referentes ao pagamento da mão-de-obra e com os demais materiais necessários. A lista de materiais que foi requerida contou com o seguinte:

• Pranchas de cedro;

• Parafusos galvanizados;

• Pó de cedro;

• 50 quilos de cola branca (de início);

• 10 litros de K-Otek CE 25 (de início);

• 50 litros de álcool 96°;

• 10 litros de mowilit;

• 300 lixas para madeira n° 36A;

• 300 lixas para madeira n° 150;

• 300 lixas para ferro n° 280;

• 300 lixas para ferro n° 200;

• 20 quilos de prego 1”x 15”;

• 20 quilos de prego 2” x 12”;

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• 3 galões de selador (de início);

• 2 quilos de pigmento xadrez amarelo;

• 2 quilos de pigmento xadrez vermelho;

• 2 quilos de pigmento xadrez verde;

• 2 quilos de pigmento xadrez preto;

• 20 litros de aguarrás (de início);

• 20 litros de xilol (de início);

• 20 litros de álcool etílico;

• 5 litros de amônia P.A.;

• 5 litros de acetona P.A.;

• 500 gramas de carboxi-metil-celulose (C.M.C.);

• 3 luvas de cano curto;

• 3 luvas de cano longo;

• 6 trinchas macias de 1 ½”; • 6 trinchas macias de 2 ½”; • 60 pincéis redondos n° 0; • 20 pincéis redondos n° 4; • 20 pincéis redondos n° 2; • 6 cabos de bisturi n° 3;

• 3 caixas de lâmina n° 15 (de início);

• 10 espátulas de dentista.

Do mesmo modo que ocorreu em intervenções anteriores, esta obra não teve o seu acompanhamento documentalmente registrado. Entretanto, pode-se supor com base em evidências materiais reveladas pelo estado inicial que se apresentava o retábulo, que esta intervenção foi executada, culminando em um resultado técnico e estético de pouca qualidade, pela natureza de alguns dos materiais utilizados e pela pouca perícia da mão-de-obra envolvida.

Assim, pode-se perceber que de acordo com os registros pesquisados na 5° Superintendência Regional do IPHAN, o retábulo passou por pelo menos duas grandes ações de restauro: uma empreendida na década de 1950 e outra na década de 1990, guardando registros físicos destas ações.

3.3 A intervenção

A intervenção, delineada após o estabelecimento da metodologia de intervenção (definição da significância cultural do retábulo da Capela de São Roque, dos objetivos e das diretrizes da ação de conservação) e os estudos preparatórios (análise da situação inicial, identificação e caracterização dos danos, características do suporte do retábulo,

(31)

características da camada pictórica e do douramento do retábulo e pesquisa e identificação de intervenções anteriores) se deu através das seguintes atividades:

• Mobilização do canteiro e instalações provisórias

• Documentação gráfica e fotográfica

• Refixação dos elementos em desagregação;

• Desmontes

• Higienização superficial

• Consolidação estrutural

• Remoção de intervenções passadas

• Limpezas químicas e mecânicas;

• Remontagem;

• Nivelamento;

• Reintegração pictórica;

• Proteção das superfícies;

• Desmobilização do canteiro de obras;

• Elaboração do relatório final.

3.3.1 Mobilização do canteiro e instalações provisórias

Foi instalada na fachada do Conjunto Franciscano a placa com o registro da obra de conservação, onde constam referências ao programa financiador – World Monuments Fund – e à entidade executora – Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI). Também foram realizadas as instalações provisórias de fornecimento de energia elétrica para as ligações de força e iluminação.

Imagem 26. Placa de Obras da Ordem Terceira de São Francisco Imagem 27. Estrutura de andaimes

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montagem dos andaimes, em estruturas tubulares, ficou a cargo da equipe de operários de obras do CECI e foi necessária para o desmonte do retábulo.

3.3.2 Documentação fotográfica e gráfica

A documentação fotográfica foi realizada pelos fotógrafos Assis e Leandro Lima, especialistas em documentação do patrimônio construído, trabalhando com câmera digital Nikon de 17 megapixels, acoplada a um software de edição de imagens. O procedimento do mapeamento digital possibilitou a composição de uma única imagem a partir de panoramas com tomadas fotográficas.

Paralelamente à documentação fotográfica, foi realizado levantamento arquitetônico do retábulo pelo método clássico de obtenção de medidas in loco, desenhado em Autocad 2006. Foram documentadas graficamente todas as peças componentes do retábulo, onde se incluem:

• Elevação frontal do retábulo com indicação de todas as suas partes componentes

e cotas gerais;

• Planta baixa da seção A, cortada a 2,80 m do nível do piso da capela-mor;

• Planta baixa da seção B, cortada a 4,75 m do nível do piso da capela-mor;

• Planta baixa da seção C, cortada a 6,90 m do nível do piso da capela-mor;

• Corte longitudinal do retábulo, indicando a sua perfilatura;

• Corte transversal do retábulo, indicando a montagem do camarim;

• Vista lateral direita, indicando a área interior do retábulo;

• Vista lateral direita, indicando a área exterior do retábulo;

• Vista lateral esquerda, indicando a área interior do retábulo;

• Vista lateral esquerda, indicando a área exterior do retábulo;

• Vista frontal anterior do retábulo;

• Vista frontal posterior do retábulo;

A documentação da obra é realizada através do registro diário dos serviços com as anotações no Livro de Ocorrências – Diário de Obras, das tomadas fotográficas de cada atividade e do registro gráfico dos elementos construtivos com respectivos danos. Foram ainda elaboradas fichas de Relatório de Atividades, sendo duas para cada conjunto de peças, uma delas contém a maior parte dos procedimentos executados, enquanto que a outra destina-se exclusivamente ao registro das atividades de marcenaria.

(33)
(34)

Imagem 30. Exemplo de ficha de relatório de atividades de marcenaria.

3.3.3 Testes e análises microquímicas

Foram realizados testes e análises microquímicas no Retábulo de São Roque com o intuito de identificar quais materiais foram utilizados no mesmo, tanto originalmente, quanto nas intervenções posteriores. Dessa forma, foram colhidas 21 amostras (ver item 3.2.5) nas peças do retábulo desmontado nas seguintes localizações:

• Coluna 1 camada externa

• Coluna 1 camada 2

• Coluna 1 camada 3

• Coluna 1 camada de suporte 1

• Coluna 2 camada externa

• Coluna 2 camada 2

• Coluna 2 camada 3

• Coluna 2 camada suporte 1

• Lateral do altar1 - c3

• Lateral do altar2 - c4

• Lateral do altar3 - c6

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• Nicho esquerdo

• Nicho direito

• Base

• Estrela do altar

• Estrela do altar direito

• Estrela do altar esquerdo

• Arco 1

• Arco 2

• Pedaço da parede

Nestas amostras, foram identificadas a presença das seguintes substâncias nesta ordem:

• Pva

• Gesso

• Cal branco

• Cal amarelo

• Gesso impregnado de taninos

• Celulose (madeira)

A presença do gesso (sulfato de cálcio) longe de ser uma intervenção recente é um recurso antigo utilizado para planear (deixar plana) a superfície de madeira minimizando as imperfeições.

A tabela abaixo correlaciona as substâncias que foram encontradas com os locais onde as mesmas predominaram.

Amostra nº Descrição / localização

Resultado

análise Substância predominante

1 Coluna 1 camada externa PVA Acetato de polivinila 2 Coluna 1 camada 2 cal Óxido de cálcio 3 Coluna 1 camada 3 cal Óxido de cálcio 4 Coluna 1 camada de suporte 1 gesso sulfato de cálcio 5 Coluna 2 camada externa PVA Acetato de polivinila 6 Coluna 2 camada 2 cal Óxido de cálcio 7 Coluna 2 camada 3 cal Óxido de cálcio 8 Coluna 2 camada suporte 1 gesso sulfato de cálcio 9 Lateral do altar1 - c3 cal Óxido de cálcio 10 Lateral do altar2 - c4 cal Óxido de cálcio 11 Lateral do altar3 - c6 cal Óxido de cálcio 12 Pé direito do altar lateral 4 - c6 PVA Acetato de polivinila 13 Nicho esquerdo cal Óxido de cálcio 14 Nicho direito cal Óxido de cálcio

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17 Estrela do altar direito cal Óxido de cálcio 18 Estrela do altar esquerdo cal Óxido de cálcio

19 arco 1 PVA Acetato de polivinila

20 arco 2 PVA Acetato de polivinila

21 pedaço da parede cal Óxido de cálcio

Na análise seqüencial do gesso foi identificada a presença de taninos, possivelmente exsudados provenientes da madeira utilizada, que foi confirmada com as análises nos ensaios microbiológicos realizados. Paralelamente, foram colhidas 12 amostras para se

verificar a presença de fungos manchadores, que não foi identificada3.

Conclui-se que a utilização da madeira da Plathymenia foliolosa Benth (Amarelo Vinhático), justifica a utilização do sulfato de cálcio (gesso) como camada niveladora pois o gesso não permite a passagem dos taninos exsudados da madeira para a superfície. O gesso age como camada impermeabilizante.

É interessante observar que pesquisadores nacionais publicaram trabalhos bastante interessantes com o objetivo avaliar in vitro a atividade antimicrobiana de plantas das famílias das Hymenaeal, Plathymenia e Guazuma, sobre microrganismos padrão Gram-positivos, Gram-negativos e Candida albicans.

Considerando a cândida albicans um fungo potencialmente resistente a diversos fungicidas e não foi resistente aos exsudados da família Plathymenia, podemos conjecturar que a mesma atividade também exista no Plathymenia foliolosa Benth, de tal forma que por ação destes taninos haja o impedimento do crescimento fúngico.

A utilização da camada niveladora com caulim (sulfo-silicato e alumínio), não é impermeável aos taninos provenientes da madeira, por formar um reticulo cristalino não uniforme, ainda que na presença do sulfato de cálcio.

Salienta-se que a presença de taninos já era esperada nos ensaios, o que não era esperado foi a enorme facilidade de dissolução dos mesmos, visto que foi obtida a exsudação

3 Método: Em placas de Petri esterilizadas, adicionaram-se 20,0 mL de ágar Mueller Hinton, obtendo-se assim a

camada-base. Após a solidificação, adicionou-se 1,0 mL da suspensão teste a 9,0 mL de ágar Mueller Hinton a cerca de 50°C e vertidos sobre a camada-base. Em seguida, confeccionaram-se poços/orifícios de 5,0 mm de diâmetro em pontos eqüidistantes, colocando-se neles 25 mg do extrato ou 25 µL da solução aquosa do exsudado bem como do solvente (agua). As placas foram pré-incubadas à temperatura ambiente durante duas horas e posteriormente incubadas a 37°C por 24 horas. Decorrido o período de incubação, mensuraram-se as zonas de inibição com o auxílio de régua milimetrada, no que diz respeito ao halo (diâmetro da área com ausência de desenvolvimento fúngico). Os extratos que apresentaram uma melhor atividade antimicrobiana foram

selecionados para a realização da determinação da concentração inibitória mínima onde houve uma redução de 91% do desenvolvimento fúngico. Existem vários componentes químicos nas plantas capazes de promover a inibição de determinados microrganismos, como, por exemplo, os flavonóides e os taninos. Os flavonóides são substâncias amplamente distribuídas na natureza, e contribuem para a coloração das flores, frutos e folhas. Muitos trabalhos descrevem os efeitos farmacológicos dos flavonóides, como a atividade antiinflamatória, imunomoduladora, antioxidante, diurética, antiespasmódica, antimicrobiana e anticancerígena.

(37)

em grande quantidade apenas na presença de água pura, utilizando outros solventes orgânicos a extração foi absoluta, nos ensaios de cultura fúngica utilizamos um exsudado de água e agár.

3.3.4 Higienização superficial

Foi realizada a limpeza e desinfecção do retábulo, tanto da área voltada para a capela, como da área voltada para o camarim, objetivando a eliminação das sujeiras, excrementos de morcegos, casas de insetos xilófagos, incrustações e parte da população microbiana. Este procedimento foi realizado à seco, com o auxílio de pincéis largos de cerdas macias, e de aspirador de pó.

3.3.5 Refixação dos elementos em desagregação

Os elementos da camada pictórica apresentando descolamentos, desagregações ou outras fragilidades foram refixados, por meio de seringa e agulha, com pequenas quantidades de álcool etílico hidratado (70%) a fim de melhorar a aderência da camada pictórica à base, e logo em seguida, também por meio de seringa e agulha, a cola coelho a 3,5% ou 5% foi aplicada morna.

Imagem 31. Refixação dos elementos em desagregação Imagem 32. Refixação dos elementos em desagregação

no esplendor

No esplendor, vários testes foram executados para a refixação, com cola coelho com percentual variando de 3,5%, 5% e 10%. O resultado não foi satisfatório, devido ao ressecamento da madeira e do gesso que servia de base para o douramento. Tentou-se então CMC a 5%, que apresentou problemas similares. Optou-se, finalmente, por álcool hidratado a 70% e em seguida o movilit, apresentando bons resultados.

(38)

3.3.6 Desmontes

Após a montagem dos andaimes, foi realizado o desmonte completo do retábulo. Para tanto, foi elaborado um mapa de desmonte, visando garantir a remontagem ao final dos trabalhos de restauro. É importante citar que todas as peças retiradas foram devidamente etiquetadas, indicando a correspondência com seu local originário no retábulo. O canteiro de obras foi organizado de modo a facilitar o acesso e o trabalho com os 27 agrupamentos de peças componentes do retábulo.

Este desmonte completo mostrou-se imperativo pela impossibilidade de proceder ao tratamento necessário à consolidação estrutural das peças danificadas in situ, já que muitas das mesmas apresentavam estado precário de conservação. Além disso, foi verificado que o retábulo encontrava-se praticamente solto da parede onde seus tufos estavam inseridos, sendo a sua remoção, para posterior recolocação, uma ação inevitável.

Durante o desmonte, os agrupamentos mais fragilizados receberam umas peças em madeira, temporárias, a fim de manter o conjunto unido até que se dessem as atividades de consolidação estrutural, refixando as peças.

rodapé central

rodapé direito rodapé esquerdo

A1.1A1.2A1.3

Friso central A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9.1A9.2A9.3 A1 B1 B2 B3B4 B5 B6 B7 B8 B10 B9 B11 B12 C1 C2 C3 C4 C5 C O L U N A 1 C6 C12 C11 C10 C9 C8 C7 C O L U N A 2 C O L U N A 3 C O L U N A 4 D1 D2 D3D4 D5 D6 D7 D8 D9D10D11 D12 E1 E3 E2 E8 E9 E10 E4 A9 E7 Arco 1 Arco 2 Arco 3 Arco 4 Cartela central Tablado central Sacrário Nicho central Nicho de São Franciso de Assis Camarim Nicho de Santa Isabel da Hungria

Fi-B1Fi-B2Fi-B3Fi-B4 Fi-B5

Fi-B6 Fi-B7

Fi-B8Fi-B9Fi-B10Fi-B11 Fi-B12

Fs-B1Fs-B2Fs-B3Fs-B4 Fs-B5Fs-B6 Fs-B7Fs-B8Fs-B9 Fs-B10 Fs-B11Fs-B12

Fi-C1

Fi-C2 Fi-C3

Fi-C4 Fi-C5 Fi-C6 Fi-C7 Fi-C8 Fi-C10

Fs-C1 Fs-C2 Fs-C3 Fs-C4

Fs-C5

Fi-C9 Fi-C8Fi-C9 Fi-C10Fi-C11Fi-C12

Capitel 1 Capitel 2Capitel 3 Capitel 4 Capitel 5Capitel 6Capitel 7Capitel 8

Arco 5

E5 E6

Base E1 Base E3 Base E8 Base E10

1 2 Arco interno A B C D E F

Imagem 33. Mapa de desmonte e identificação de todas as peças componentes do retábulo

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Imagem 35. Aplicação de peças de madeira para manter o conjunto unido.

Imagem 36. Peças com madeira mantendo o conjunto unido.

3.3.7 Limpezas químicas e mecânicas

A remoção mecânica foi feita com bisturi, para retirar excrementos de insetos e pingos de cal. Nas peças com grande desgaste por ataque de insetos xilófagos, das quais destacam-se as colunas, foi feita a desobstrução das galerias e de madeira podre, sendo em seguida aspirado para a retirada da poeira e de excrementos de cupim.

Para a limpeza das áreas com douramento, foi utilizado o removedor anjo neutralizado com aguarrás mineral, a fim de retirar a purpurina oxidada e o verniz avermelhado. O removedor foi aplicado com pincel e deixado para agir por alguns minutos, e foi então removido com uma estopa, retirando também a purpurina e o verniz. Em seguida, foi aplicada a aguarrás com algodão, neutralizando a ação do removedor.

Os cravos e parafusos oxidados foram escariados, com auxilio de microretífica. Em seguida foi feita uma impermeabilização destes com paraloid B-72, aplicado com pincel, a fim de evitar futuras corrosões.

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Imagem 39. Desobstrução das galerias numa coluna Imagem 40. Escarificação de parafuso oxidado

3.3.8 Remoções de intervenções passadas

A pesquisa documental na 5° Superintendência Regional do IPHAN em Recife, além das investigações in loco, permitiu identificar e localizar as intervenções passadas e averiguar o estado de conservação do retábulo em função das mesmas. Frente a esta situação, o CECI estipulou critérios de avaliação a fim de decidir pela permanência ou retirada destas intervenções passadas. Os critérios foram pautados nos quesitos técnicos, éticos e estéticos das intervenções, listados na relação abaixo:

• Pertinência da técnica adotada na intervenção;

• Qualidade de execução técnica na intervenção;

• Pertinência dos materiais utilizados na intervenção;

• Ausência de patologias na área original causadas pela intervenção;

• Harmonia entre as áreas originais e as que foram objeto de intervenção;

• Distinção visual entre as áreas originais e as que foram objeto de intervenção.

Ao se ponderar sobre cada um destes critérios, foi decidido pela remoção da massa corrida, possivelmente aplicada durante o restauro executado no ano de 1996. As razões que motivaram esta decisão se referem, sobretudo à má qualidade de execução técnica, já que pode ser verificado o acúmulo de massa em determinadas áreas de entalhe, fazendo com que determinadas formas percam seus contornos e arestas.

A remoção foi realizada mecanicamente, com o auxílio de um bisturi, tendo-se o cuidado de não se remover camadas de pintura ou gesso originais.

(41)

Imagem 41. Remoção mecânica da massa corrida da base de sustentação das colunas

Imagem 42. Remoção da massa corrida do pé direito, encontrando uma camada prévia em cor azul

3.3.9 Consolidação estrutural

A consolidação estrutural teve o objetivo de devolver às peças que conformam o retábulo, e que foram danificadas, as suas propriedades estruturais. Apesar de ter sido encontrado um grande número de danos na maior parte da superfície das peças, os mesmos não se estendem por grandes áreas, sendo suficiente a aplicação de enxertos. Estes enxertos aplicados são em madeira do tipo cedro ou ipê, e estão sendo fixados com cola de osso e com tarugos para fixar. Em alguns dos agrupamentos fez-se necessário o desmonte, a fim de ajustar suas junções e aplicar enxertos em trechos estragados. A remontagem das peças foi feita utilizando parafuso de latão.

Os enxertos estão sendo inseridos a fim de preencher áreas das peças que anteriormente se encontravam cobertas por massa corrida ou cimento ou de locais afetados pelo ataque de insetos xilófagos, pela umidade, ou pela água de chuva. Estes são inseridos de modo a causar a menor interferência nas peças originais. Objetiva-se tornar discerníveis as adições decorrentes desta intervenção, a fim de não cometer um falso histórico.

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Imagens 45 e 46. Processo de Consolidação Estrutural na peça do Entablamento Direito.

As lacunas existentes na madeira que dispensavam a aplicação de enxertos foram tratados de duas maneiras. Nas pequenas lacunas, optou-se pelo preenchimento com betume (pó de serra misturado à cola branca), aplicado com espátula. Nas grandes lacunas, foi utilizada uma mistura de cera (cera de abelha 75%, carnaúba 15%, breu 5% e cera microcristalina 5%) aplicada líquida com ajuda de um soprador térmico, mantendo assim a cera aquecida e possibilitando sua completa penetração nas lacunas.

Imagem 47. Aplicação de betume em pequenas

lacunas.

Imagem 48. Aplicação de cera com auxílio de soprador térmico.

Cabe ressaltar que foi dado um tratamento especial às colunas, já que as mesmas apresentavam-se ocas por dentro, necessitando de um preenchimento. Entretanto, esse preenchimento não poderia ser realizado com o uso de um material que viesse a aumentar sensivelmente o peso do retábulo, já que o mesmo é auto-portante e foi projetado para suportar uma determinada carga. Desse modo, optou-se por utilizar um material que pudesse preencher facilmente os interstícios do interior na coluna e não causasse um sobrepeso. Esse material foi a espuma expansiva de poliuretano mono-componente. A espuma é um material de remoção reversível e inerte ao contato com outros materiais, proporcionando uma fixação à prova de água e que bloqueia a passagem de insetos e roedores.

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Para sua aplicação, inicialmente a coluna foi envolvida com filme PVC, para evitar o vazamento da espuma após sua aplicação e expansão. A espuma mostrou ainda resultado satisfatório como meio de fixar o enxerto inserido no interior da coluna.

Imagens 49 e 50. Proteção da coluna com filme PVC e início do preenchimento com espuma expansiva de poliuretano

Imagens 51 e 52. Preenchimento com espuma expansiva de poliuretano e aspecto da coluna com o

preenchimento finalizado

3.3.10 Reconstituição de áreas entalhadas

A reconstituição de áreas entalhadas consistiu na inserção de enxertos modelados nas áreas de lacunas. Para tanto, blocos de cedro foram colados com cola animal e cola de osso em determinadas peças do retábulo, recebendo um reforço na fixação inicial por meio de parafusos (estes parafusos foram retirados após a secagem da cola). Os blocos de cedro aplicados apresentaram uma maior dimensão que a área da lacuna, já que os mesmos foram entalhados para a definição da sua forma final.

A reconstituição de tais áreas apenas foi realizada nas peças do retábulo cujas lacunas interferiam na percepção total da obra, ou seja, nem todas as lacunas foram reconstituídas. É importante pontuar que as áreas de entalhe que apresentavam trechos

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uma nova placa de cedro, para ser feita a transposição do entalhe à peça de origem. Este foi o caso dos capitéis de algumas colunas do retábulo.

Imagem 53. Bloco de cedro inserido na área a ser entalhada.

Imagem 54. Confecção do entalhe.

Imagem 55 e 56. Detalhes de entalhe no capitel de uma coluna.

Referências

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