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programa academia da cidade de Belo Horizonte Análise discursiva sobre promoc¸ão da saúdeno CIÊNCIAS DO ESPORTE

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Revista Brasileira de

CIÊNCIAS DO ESPORTE

ARTIGO ORIGINAL

Análise discursiva sobre promoc ¸ão da saúde

no programa academia da cidade de Belo Horizonte

Marcos Gonc ¸alves Maciel

a

, Luiz Alex Silva Saraiva

b

,

José Clerton de Oliveira Martins

c

e Simone Teresinha Meurer

d,∗

aUniversidadedoEstadodeMinasGerais,DepartamentodeCiênciasdoMovimentoHumano,Ibirité,MinasGerais,Brasil

bUniversidadeFederaldeMinasGerais,DepartamentodeCiênciasAdministrativasdaFaculdadedeCiênciasEconômicas,Belo Horizonte,MinasGerais,Brasil

cUniversidadedeFortaleza,DepartamentodePsicologia,Fortaleza,Ceará,Brasil

dInstitutoFederaldeMinasGerais,Formiga,MinasGerais,Brasil

Recebidoem7desetembrode2017;aceitoem2demarçode2018 DisponívelnaInternetem4demaiode2018

PALAVRAS-CHAVE Atividadefísica;

Saúde;

Discurso;

Ideologia

Resumo Oobjetivodesteestudofoifazerumaanálisediscursivadatemáticapromoc¸ãoda saúdeconsiderandoocorpusdositedoProgramaAcademiadaCidadedeBeloHorizonte/MG e do discurso de profissionais de educac¸ão física e alunos vinculados a ele. A pesquisase caracteriza como qualitativa, descritiva, do tipoestudo de caso.Para a interpretac¸ãodas informac¸ões adotamos a abordagem sociocognitiva do discurso. Identificamos a adoc¸ão da concepc¸ãobiomédicadesaúde,tantonodiscursocontidonocorpusanalisadoquantodosentre- vistados.Concluímosqueháumdiscursohegemônicosobreapromoc¸ãodasaúdequenorteia arepresentac¸ãosocialconstruídaarespeitodatemática.

© 2018Publicado porElsevier Editora Ltda.em nome deCol´egio Brasileirode Ciˆenciasdo Esporte.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.

org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

KEYWORDS Physicalactivity;

Health;

Discourse;

Ideology

Discursive analysis about health promotion in a governmentalprogram of physical activity

Abstract The objectiveofthisstudy was toconductadiscursive analysisofthetheme of healthpromotionconsideringthecorpusofthewebsiteoftheAcademyProgramoftheCity ofBeloHorizonte/MGandthediscourseofPhysicalEducationprofessionalsanduserslinked toit.Theresearchischaracterizedasqualitative,descriptive,ofthecasestudytype.Forthe interpretationoftheinformationweadoptedthesociocognitiveapproachofthediscourse.We identifiedtheadoptionofthebiomedicalconceptionofhealth,bothinthediscoursecontained

Autorparacorrespondência.

E-mail:simone.meurer@uemg.br(S.T.Meurer).

https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.007

0101-3289/©2018PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeCol´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.Este ´eumartigoOpenAccess sobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

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inthecorpusanalyzedandintheinterviewees.Weconcludethatthereisahegemonicdiscourse onhealthpromotionthatguidesthesocialrepresentationbuiltonthetheme.

©2018PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofCol´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.

Thisisanopenaccess articleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/

licenses/by-nc-nd/4.0/).

PALABRASCLAVE Actividadfísica;

Salud;

Discurso;

Ideología

Análisisdiscursivosobrelapromocióndelasaludenunprogramagubernamentalsobre actividadfísica

Resumen Elobjetivodeesteestudiofuellevaracabounanálisisdiscursivodelatemática promociónde lasaludteniendo encuentaelcorpus delsitio delPrograma Academiade la CiudaddeBeloHorizonte/MGydeldiscursodeprofesionalesdeeducaciónfísicayusuariosvin- culadosconeste.Lainvestigaciónescualitativa,descriptiva,deltipoestudiodecaso.Parala interpretacióndelasinformaciones,adoptamoselenfoquesociocognitivodeldiscurso.Identi- ficamoslaadopcióndelaconcepciónbiomédicadelasaludtantoeneldiscursocontenidoenel corpusanalizadocomoenlosentrevistados.Concluimosquehayundiscursohegemónicosobre lapromocióndelasaludqueorientalarepresentaciónsocialconstruidasobrelatemática.

©2018PublicadoporElsevier EditoraLtda.ennombredeCol´egioBrasileirodeCiˆenciasdo Esporte.Esteesunart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.

org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Introduc ¸ão

ACartadeOttawa(Brasil,2002)propõealgumasestratégias paraapromoc¸ãodasaúde.Estasurgiuoriginalmentenocon- textodassociedadesdesenvolvidas,devidoànecessidadede controlar oselevados custos daassistência médicanessas nac¸ões(Brasil,2002;Zucchietal.,2000).Umdospontos- -chavepara sealcanc¸ar essaproposta é a intervenc¸ão na modificac¸ãodoestilo devida dapopulac¸ão,sendo enten- dido pela Word Health Organization (WHO, 2004) como ummododeviverbaseadoempadrõesdecomportamento identificáveis que são determinados pela relac¸ão entre ascaracterísticasindividuais,interac¸õessociais,condic¸ões socioeconômicaseambientais.Umadasestratégiasparase promover a alterac¸ão do estilo de vida é a criac¸ão, por exemplo,deespac¸ospúblicos quefavorec¸am apráticada atividadefísica.

NoBrasilidentifica-seaampliac¸ãodeprogramasgover- namentaisdeatividadefísica(PGAF) (Beckeretal.,2016;

Amorimetal.,2013).Umdosexemplosdessesprogramas,e quetemsidoobjetodeestudo,éaAcademiadaCidadede BeloHorizonte/MG(PAC-BH)(Silvaetal.,2014;Costaetal., 2013).Tendoemvistaosaspectosideológicosepolíticosper- meadosnessasac¸ões,sefaznecessáriaumaanálisecrítica dessaproposta,paraalémdaperspectivaepidemiológica.

Assim,afeituradeestudosqualitativospodecontribuir paraumamaiorcompreensãodamultiplicidadeecomplexi- dadedosfatoresqueenvolvematemáticaemquestão.Uma dastécnicasadotadasparaainterpretac¸ãodosfenômenos sociaiséaanálisecríticadodiscurso(Fairclough,2001).Essa fazusodalinguagempresentenasrelac¸õessociais,expres- sasideologicamente,entendequeodiscursotemcomofoco identificarosentido, enãoo conteúdo,dotexto propria- mentedito;ouseja,buscadesvendarumsentidoquenãoé traduzido,masproduzidopelalinguagem.

De forma mais específica, neste trabalho adotamos a abordagem sociocognitiva do discurso desenvolvida pelo linguista(vanDijk,2012).Oautor propõeaanáliseapar- tir da tríade discurso+cognic¸ão+sociedade, pois concebe que é impensável tecer uma teorizac¸ão social sem os aspectoscognitivos, assimcomoumateoriacognitivasem umateoriasocial.Considerandoessesaspectos,oobjetivo deste estudo é fazer uma análise discursiva da temática promoc¸ão da saúde contida no site do PAC-BH e do dis- cursodeprofissionaisdeeducac¸ãofísicaealunosvinculados aele.

Métodos

Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, descritiva e de campo,do tipo estudo decaso (Creswell, 2010).Os dadosforamcoletadosnoPAC-BH,aescolhadopoloinves- tigadoe dosparticipantes foideformaintencional.Como técnica de coletados dados foi adotada a entrevista em profundidade, com um roteiro semiestruturado (Strauss e Corbin, 2008), onúmero departicipantes foi definidopor saturac¸ão.Asentrevistasforamfeitasemjaneirode2016, em uma sala do polo e/ou nas casas dos participantes, conformeprévioagendamento;foramgravadaseposterior- mentetranscritas---digitalizadasparaumeditordetextos.

Para a interpretac¸ão dos resultados usamos a abordagem sociocognitivadodiscurso(vanDijk,2012).Oconteúdodo textoanalisado,corpus,estácontidonositedoPAC-BH.

Quanto aos aspectos éticos, o estudo foi aprovado pelos comitês de Ética e Pesquisa, sob os pareceres de números,1.548.799e1.808.411.Paramanteroanonimato dosparticipantes,criamosumnomefictícioparaosalunos, seguidopelasuaidade;osprofissionaisserãoidentificados comoP1,P2,P3.

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Resultados e discussão

Participaram desta pesquisa 18 pessoas, 15 alunos --- seis homensenovemulheres,com51,9anosdemédiadeidade --- e três profissionais de educac¸ão física, com médias de 29,6anosdeidadee6,3anosdetempodeformac¸ãoaca- dêmica. Todososprofissionais sãobacharéis em educac¸ão física--- um temmestrado em educac¸ão física,outro uma especializac¸ão lato sensu e outro, à época, cursava uma especializac¸ãolatosensu---,atuavamnoPAC-BHemmédia havia3,6anos.Desses,uméocupantedecargoadministra- tivo---coordenadorregionaldoPAC-BH ---edoisministram asaulasnopolo.

Considerandoocenáriomundial,pesquisasapontamalta prevalênciadedoenc¸ascrônicas nãotransmissíveis(DCNT) em diferentes perfis populacionais (Brasil, 2014; Duncan, Chor,Aquino,Benseno,2012).Tendoemvistaaabordagem sociocognitiva(vanDijk,2012),o contextosocial écarac- terizadocomo aqueleem que ocorreo discursoenquanto práticasocial,ouseja,asinter-relac¸õessociais,políticase culturaisqueatuamdeformainterdependente.Portanto,o discursoadotadonessecontextopelasmídias,pelosgover- nosepelasinstituic¸õesnãogovernamentais,comoaWorld Health Organization (2005), é o incentivo, dentre outras ac¸ões, à mudanc¸a de determinados hábitos dapopulac¸ão consideradosprejudiciaisàsaúde(VarniereGomes,2017).

Umdosdiscursosadotadoséoincentivoàadoc¸ãodoestilo devidafisicamenteativo(MacieleSoares,2016).

Conforme(vanDijk, 2012),osdiscursossãoproduzidos ecompreendidoscomoumafunc¸ãodeatitudessocialmente compartilhadasvinculadasàsideologias,normaseaosvalo- rese,possivelmente,aoutrasformasde‘‘cognic¸ãosocial’’, ouseja, as representac¸õessociais. Segundo esseautor, o processo de produc¸ão do discursopode ser caracterizado como a formulac¸ão deum modelo mental, que se dáem nívelcognitivo. Assim,algoque alguémsabe outemuma opiniãosobreumassuntoégradualmentetransformadonos sentidosdeumdiscursoe,emseguida,expressadocomoum modelodecontexto,porexemplo,oestilodevidasaudável.

Deacordocom(Falcone,2011),seháintenc¸ãodetornar umapráticasocial(i)legítima,issosedáapartirdasac¸õesde naturezassociaisecognitivas.Segundoaautora,‘‘[...]essas operac¸õesresultamematividadesdecategorizac¸õesdeato- res e grupos sociais, tendo como sustentac¸ão os modelos mentais e as representac¸ões sociais construídas coletiva- mente sobreesses grupos eseusparticipantes’’ (Falcone, 2011,p.18).

Kochetal.(2011,p.83)corroboramessaperspectivae destacamque a ‘‘[...] cognic¸ão é umaconstruc¸ão social, intersubjetiva, local e historicamente situada’’. Ademais, segundo (van Dijk, 2012), a memória social --- entendida como um conjunto de conhecimentos socialmente cons- truídos --- reflete a maneira como o discurso é formulado conjuntamente pelas pessoas em situac¸ões interacionais concretas.Portanto,essasrelac¸õesestãodiretamentevin- culadasàconstruc¸ãodasrepresentac¸õessociais.

Naanálisedatemáticaemquestão, determinadacate- goria profissional, maisespecificamente a da saúdecomo abordada neste trabalho, tende a repassar para as pes- soasumconhecimentoque reproduzumdiscurso(Verase Baptista, 2011). Tendo em vista o PGAF analisado neste

estudo, essa categoria é representada, sobretudo, pela educac¸ãofísica,quedesenvolveasatividadesdiretamente comosalunos.

Seconsiderarmosocorpusemanálise,istoé,otextode divulgac¸ãodoPAC-BHcontidonositedaprefeitura(Prefei- turaMunicipal dePrefeitura Municipalde Belo Horizonte, 2017), identifica-se como intenc¸ão o estabelecimento de ummodelo mentaldevinculac¸ão deumalinearidadecau- sal entre a vivência da atividade física, por si só, como promoc¸ãodasaúde,desconsidera ainfluências dosoutros determinantessociaisparase obteresseconstruto, como podeserobservadonostrechosaseguir:‘‘[...]Apráticade exercíciosfísicostornou-seumanecessidadedoserhumano.

Eaidadenãoimportaquandosedesejaterumavidasaudá- vel,éprecisoapenasmanterumadisciplinafísicaemental [...]’’;‘‘[...]Promoversaúdeecontribuirparamelhoriada qualidadedevidasãoosprincipais objetivosdaAcademia daCidade[...]’’.

A construc¸ão desse modelo mental específico dar-se- -ia em nível individual e coletivo, mas, também, de formaindependente.Emoutraspalavras,umapessoapode assumir esse discurso distintamente em relac¸ão à cole- tividade e vice-versa. Esse fato justifica o motivo das pessoas/coletividades (re)agirem de forma diferenciada diantedeummesmodiscurso.

Todavia, segundo (van Dijk, 2012), é preciso ter em mente que todo processo de compreensão é coordenado pelalinguagemeessa,porsuavez,interagecomomodelo de contexto. Esse informa ao usuário da língua quais os objetivosdodiscurso,quemsãoosseusparticipanteseos seuspapéis,oquesesabe,ounão,sobreumassunto.Tais informac¸õessãocruciaisparaentenderaspropriedadesdos diferentesdiscursos.

Umavez formado o modelo mental, aspessoas podem generalizá-loe,assim,construirestruturasdeconhecimento maisgeraiseabstratas,noentantoeleémutável.Assim,por meiodoconhecimentosocial,porexemplo,produzidopela áreadasaúde,pode-secriarumconhecimentocultural,ou desensocomum,emqueaspessoasacabamporreproduzir umdiscurso(vanDijk,2012,2004e2005).

Emsíntese,aanálisedocorpusdenotaqueaprefeitura ofereceoPAC-BHaoscidadãoseasatividadesalifeitasserão capazesdepromoverasaúde.Mas,poroutrolado,otexto transferesubliminarmenteumamensagemderesponsabili- dadeaocidadão,istoé,defrequentaroprogramaeseguir suasorientac¸ões.Casonãoofac¸a,opoderpúblicocumpriu oseupapelsocialpormeiodaspolíticaspúblicas.Ditode outraforma,háumesvaziamentosutildaresponsabilidade doEstado.Essetipodediscursopodeteroobjetivodecriar umalegitimac¸ãosocialquantoàsac¸õestomadas(Falcone, 2011).

Para identificar a representac¸ão social que os profissi- onais têm sobre a temática, perguntamos a eles o que compreendem por promoc¸ão da saúde. Alguns fragmen- tos das falas são transcritos: ‘‘É essa conscientizac¸ão da populac¸ãoemdiminuiroagravo,diminuirdoenc¸as,diminuir asdoenc¸ascrônicasnãotransmissíveis;reduc¸ãodedanosà saúde’’(P1);‘‘[...]sãoac¸õesdesenvolvidasemproldobem- -estardousuáriooudosujeito[...]Então,sãoac¸õesquevão promoversejaqualforoconceitodesaúdeparaousuário, porque àsvezes o profissional tem umconceito e para o

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usuárioéoutro[...]’’(P2);‘‘Éamelhoriadaqualidadede vidadetodososaspectos:questão medicamentosa, ques- tãodepromoc¸ãodaqualidadedevidapelaatividadefísica, orientac¸ãodealimentac¸ão,orientac¸ãodesaúdeemgeral’’

(P3).

Àinterpretac¸ãodosdepoimentospercebe-se,emgeral, queodiscursoestáalinhadoaoconceitoassumidopeloPAC- -BH,que,porsuavez,épropostopelaWHO.Portanto,háa reproduc¸ãodeumdiscursodominante,notadamentevincu- ladoàáreabiomédica.Assim,essa áreadeconhecimento cria representac¸ões sociais permeadas por modelos men- taisconstruídosecompartilhadosideologicamenteporseus adeptos,pessoaseinstituic¸ões,que,porsuavez,osdefen- demepropagamsocialmente,oquereforc¸aseusprincípios.

Diversos autores tecem críticas à proposta da WHO (Ferreiraetal.,2011;Arantesetal.,2008;Heidmannetal., 2006;Carvalho, 2004). Arepresentac¸ão social dessapers- pectivadenota,também,que aspessoas devamassumira responsabilidadesobreosefeitosdeletériosdeseushábitos devida,consideradoscomonãosaudáveis.Essaabordagem sugereumconjuntodeintervenc¸õessobreosestilosdevida daspessoas,enfatiza ac¸õesdecontrole, inicialmente,em áreascomportamentaisdemaiorprevalênciadeproblemas desaúde,comootabagismo,oalcoolismo,asdrogas,aina- tividadefísicaeoshábitosalimentares(Macieletal.,2014;

MaltaeSilvaJr.,2013).

Não se nega que esses aspectos são nocivos à vida.

Todavia,oqueéquestionadoéoestabelecimentodenorma- tivassociaisarbitrárias(Canguilhem,2009),paraenquadrar as pessoas em determinada categoria como saudável ou doente.(Canguilhem,2009)destacaquenãosedeveasso- ciar, por exemplo, normatizac¸ão e saúde, ou anomalia e patologia,como sea vida seresumisseao funcionamento fisiológicodo organismo. Esse autor entende que a saúde caracteriza-seem poderadoecer e sairdo estadopatoló- gico.

Ainda conforme esse autor (Canguilhem, 2009), acei- tarumdeterminadoconceitoouideiadesaúdenormativa implicaescolhercertasintervenc¸õessobreocorpoeavida daspessoas e,aomesmotempo,naredefinic¸ãodoespac¸o noqualseexerceocontrolesocial.Portanto,definiroque ésaudávelounãoéprimeiramenteumaquestãodepoder, políticaeideologia.

ImportantedestacarqueemboraoPAC-BHapresenteem suapropostadesenvolverapromoc¸ãodasaúde,umaparcela dosalunosjátemumaoumúltiplasDCNT(Ruas,2016;Las Casasetal.,2014;Costaetal.,2013).Tendoemvistaessa realidade,entendemosquedeveriamconstardapropostado programae docorpus analisado, igualmente, informac¸ões quantoàprevenc¸ãoeao tratamentodedoenc¸as.Todavia, háumsilenciamentododiscursoaesserespeito,comoque ocultaaexistênciade‘‘pessoasdoentes’’noprograma,ou queelasnãopossamfazerpartedele.

De modo sumário, a prevenc¸ão da doenc¸a tem como característicasbásicas,comoapresentadopor(Buss,2003), ac¸õesvoltadasparagruposalvosespecíficos.Portanto,são centralizadas na intervenc¸ão médica, com envolvimento de diferentes profissionais da área da saúde. Czeresnia (2003)corrobora e complementa que essemodelo é pau- tadoporintervenc¸õesorientadasaevitarosurgimentode doenc¸as específicas, reduzir sua incidência e prevalência

naspopulac¸ões.Aindasegundoessaautora,abase dodis- curso preventivo é o controle da transmissãode doenc¸as infecciosaseareduc¸ãodoriscoDCNT.Paratanto,sãousa- das estratégias de educac¸ão em saúde, a divulgac¸ão de informac¸ão científica e de recomendac¸ões normativas de mudanc¸asdehábitoscomportamentais,comoasdesenvol- vidasnoPAC-BH.

DeacordocomCzeresnia(2003),aprevenc¸ãodadoenc¸a diferencia-sedapromoc¸ãodasaúdepornãofocaremuma determinadadoenc¸aouagravo,masatuarparaaumentara saúdeeobem-estargeral.Emoutraspalavras,asestraté- giasdepromoc¸ãoenfatizamatransformac¸ãodascondic¸ões devida e detrabalho,que influenciama estruturasubja- centeaosproblemasdesaúde,demandamumaabordagem intersetorialemultiprofissional.Entretanto,essasac¸õesnão são identificadas pelos alunos. Pelo contrário, eles apre- sentam várias reclamac¸ões quanto à ausência dogoverno na execuc¸ão do seu papel social de implantar ac¸ões que impactemosdeterminantessociais.

ACartadeOttawapropõeacriac¸ãodepolíticaspúblicase ambientessaudáveis.Igualmente,estabeleceanecessidade deseadequaroatendimentoeaorientac¸ãodosservic¸osde saúdeàpopulac¸ão. Importantedestacarque oPAC-BHfaz parte daestratégiadaatenc¸ãoprimáriaàsaúdepormeio das ac¸ões desenvolvidas pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS)(LasCasasetal.,2014).

Quandodeterminado aluno daUBS é identificado com algumaDCNT,oupelomenosempotencial,éencaminhado ao PAC-BH.Noentanto,após iniciarasaulas,essemesmo aluno não recebe ‘‘acompanhamento diferenciado’’ pela UBS,tendoquepassarportodoomorosoprocessodeespera paramarcac¸ãodeconsultase/oufeituradeexamesclínicos --- podelevar meses e atéanos --- para monitoramentodo seuquadrodesaúde.Portanto,nãoháumaintegrac¸ãodas ac¸ões,comoapresentadonasfalasdealgunsalunossobrea avaliac¸ãodoatendimentodaUBS:‘‘Melhoraroatendimento nospostosdesaúde.Euachoquedeveriatermaismédico (serefereaopostodesaúde),remédio,vacina’’(Mário,60);

‘‘[...]achoqueaprefeituranãotemcondic¸ãodeteresse remédio’’(Regina,60).

Entendemos que falar em saúde é pensar na com- pletude da vida, no holos (Almeida Filho, 2011), e não apenas nos aspectos biomédicos, que preconizam, sobre- tudo, umanormatizac¸ãodasfunc¸õesfisiológicasenquanto saúde.(Canguilhem,2009)criticaessaperspectivareduci- onista e tambémquestiona a definic¸ão de saúde a partir unicamentedoestadopatológico,defendeaideiadeuma subjetivac¸ãodasaúde.

Esseautoracreditaqueolimiteentreonormaleopato- lógico,tendoapenascomoreferênciaasmédiasaritméticas dedeterminadasfunc¸õesfisiológicas,torna-seimpreciso,se esseforoprincipalparâmetroparaavaliarasaúde.Aocon- cordarcom (Canguilhem,2009),autorescomo (Czeresnia, 2012)e(Safatle,2011)relatamqueaocategorizaropato- lógico como umsistema isolado, isto é, analisar somente determinados órgãos e/ou sistemas, não se considera a relac¸ãodatotalidadeindivisíveldoser.

Enfim,selevarmosem considerac¸ãoaadoc¸ãodaabor- dagem sociocognitiva, é possível observar que o discurso interfere nasrepresentac¸ões sociaiscomo a promoc¸ão da saúde.Essasrepresentac¸õesexpressamformashegemônicas

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naformac¸ãodeumdiscursodelegitimac¸ão,naturalizac¸ãoe atéumabanalizac¸ão,porexemplo,davivênciadaatividade física,porsisó,comopromoc¸ãodasaúde.

Assim,omodelomentaldodiscursobiomédico,aobuscar ocontrolesocialquantoàconcepc¸ãoeàpráticadesaúde, acabapornaturalizarapropostadeumestilodevidaidea- lizadocomosaudável,geraformassofisticadasdeocultac¸ão daresponsabilidadedopoderpúblicodepromovercondic¸ões dignasdevidaàpopulac¸ão.Ointuitopodeserestabelecer visõessimplistasque buscamanaturalizac¸ãodos sistemas designificac¸ãodasrepresentac¸õessociaisanalisadas.

Conflitos de interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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