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Rev. Bras. Ciênc. Esporte vol.39 número4

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Academic year: 2018

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RevBrasCiêncEsporte.2017;39(4):458---460

www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

RESENHA

Avaliar

As

práticas

corporais

no

campo

da

saúde

:

o

que

podem

os

diálogos

entre

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¸ão

física

e

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coletiva

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Evaluar

Las

prácticas

corporales

en

el

ámbito

sanitario

:

qué

pueden

lograr

los

diálogos

entre

educación

física

y

salud

colectiva.

Coma ambic¸ão depensar aformac¸ãoem educac¸ãofísica voltadaparaaatuac¸ão naáreadasaúde,vemapúblicoa coletâneaAspráticascorporaisnocampodasaúde(Fraga, CarvalhoeGomes,2013),comoitocapítulos.Inicialmente, eles foram redigidos para umseminário1 organizado pelo

projetoPolíticasdeformac¸ão emeducac¸ãofísica e saúde coletiva: atividade física/práticas corporais no SUS, uma pesquisainterinstitucionalqueenvolveUSP,UFRGSeUFES. Naintroduc¸ãoàobra,osorganizadoresAlexBrancoFraga (UFRGS),YaraMariadeCarvalho(USP)eIvanMarceloGomes (Ufes)explicamqueseuobjetivoéaconstruc¸ãode‘‘críticas ao predomínio da racionalidade biomédica na educac¸ão física’’(p. 12).Paratanto, reuniram-sepesquisadoresdas áreas de educac¸ão física e saúde coletiva que ‘‘têm em comum as ciências humanas e sociais como fundamento teórico-conceitualemetodológico’’(p.15).

Asreflexõesquecompõemolivroabordamatensãoentre dois conceitos fundamentais à educac¸ão física: atividade físicae práticascorporais.Sem negligenciaremque ativi-dade física tem ‘‘tradic¸ão e reconhecimento’’ (p. 13) na educac¸ão física,assume-sequepráticascorporaisfornece um ‘‘contraponto à discussão e intervenc¸ão centrada na atividade física’’ (p. 13), além de ter o ‘‘potencial para intervirnoprocessosaúde-doenc¸ademodomaisarticulado comosprincípiosdoSUS’’(p.14).

1Oeventoocorreuem12e13denovembrode2012.

O capítulo 1 --- ‘‘Por uma política da vida a partir da relac¸ãocorpoevida’’eocapítulo2---‘‘Apolítica davida e asaúde’’, redigidosporSelvinoAssmanne RuiMachado Gomes,respectivamente,estudaramoprimeirodosquatro temasdoevento:Políticasdavidaepedagogiasdocorpo. Os dois capítulos optam por uma abordagem panorâmica e lanc¸am mão de um amplo leque de autores oriundos, sobretudo, da filosofia. Todavia, Agamben e Foucault é que fornecem, a cada um dos analistas a base para construíremsuasreflexões.Assmannassumeaanálisefeita por Agamben sobrea potência como condic¸ão fundamen-tal para pensarmos a historicidade de pares conceituais fundantesda‘‘políticadavida quetemos’’ (p.46), como animalidade/humanidade, corporalidade/espiritualidade. Issoéfeitocomvistaauma‘‘novaética’’(p.47).

Gomesvoltasuaatenc¸ãoparaacríticaaoutilitarismoda sociedadecontemporânea,emqueaatenc¸ãoquesedáao corposustenta-senoprocessohistóricoquelevouo‘‘homem aconstituir-seasiprópriocomoobjetodereflexão’’(p.62). O Estado, o mercado e a dinâmica societária das ‘‘novas tribos’’ fazem docorpoum‘‘lugar dediscursos’’ (p. 62), um‘‘regimedeverdade’’(p.80)emqueasproblemáticas tocantesàatividadefísica/práticascorporaisvoltadaspara asaúdesãopensadas.

A reflexão sobrePerspectivas depesquisa em saúdeé oeixode‘‘Mapascorporaisnarrados’’,deDeniseCastaldo et al.; e ‘‘Pistas do método da cartografia na pesquisa em saúde’’, redigido porEduardo Passos. DeniseCastaldo etal.pensamasdeterminantessociaisdasaúdede trabal-hadoreslatino-americanosresidentesnoCanadá.Ousode mapascorporaisévistocomoumapossibilidadedecaptara formacomo‘‘aspessoaspensamsobresuasprópriasvidas’’ (p.84).Trata-sedesolicitaraosinvestigadosqueconstruam umarepresentac¸ãovisualda‘‘intersecc¸ãodasaúde,gênero, migrac¸ãoefatorescontextuais’’(p.85).

Eduardo Passos também se inquieta pelas dificuldades de pesquisa do campoda saúdecoletiva, devidas ao hib-ridismo(p.101)característicodeseuobjeto.Asreflexõesde Deleuzee Guattarisustentamasuperac¸ãodo‘‘taylorismo epistemológico’’ (p. 103), por meio de umconhecimento produzidocartograficamenteem quearealidadedeixa de ser uma mera representac¸ão parcializada pela atividade intelectual. Nisso, transversalidade e processualidade são características incontornáveispara o pesquisador quefica

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2017.07.003

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RESENHA 459

‘‘no limite instável entreo que comuna e o que difere’’ (p.111).

Oterceiroeixodereflexões---PráticascorporaiseoSUS

---éformado peloscapítulos5e 6:‘‘Esquecimentoativoe práticascorporaisemsaúde’’,deLuizFernandoSilvaBilibio; e ‘‘Práticas corporais e o SUS: tensões teóricas e práti-cas’’, cujaautoria é deTadeu João RibeiroBaptista e de maiscincocolaboradores.Bilibiousaumcaso-pensamento2

para estudar ashesitac¸ões de um professor de educac¸ão físicaaotentar‘‘escapardaracionalidadesanitárialigadaà aptidãofísica’’(p.123).Oautorapoia-seemNietzschepara construirum‘‘procedimentogenealógico’’(p.128)queleve ao rompimento do ‘‘compromisso histórico com a lógica instrumental do paradigma biomédico soluc¸ão-problema’’ (p. 128). Defende-se a necessidade de se ‘‘transvalorar valores’’(p. 131)para quepossamospensara ‘‘dimensão dionisíacadaspráticascorporais’’(p. 135)epromoverum ‘‘exercíciodeesquecimentoativo’’(p. 135)em relac¸ão à culturaprofissional,materializadanosdilemasdoprofessor quedávidaaocaso-pensamentoestudadonoseuinício.

No capítulo sexto, Baptista et al. fazem um levanta-mento do enfoque dado por pesquisadores da educac¸ão físicaàsaúdepública,principalmentequandosãoanalisados documentosepolíticasbrasileirasvoltadasparaapromoc¸ão da saúde. Depois são apresentadas práticas formativas no campo da saúde existentes no curso de bacharelado em educac¸ão física daUniversidade Federal de Goiás,no qual se busca a construc¸ão de um ‘‘espac¸o de tensão’’ relacionada à ‘‘disputasobreprocessos sociais’’ (p. 171), adota-senaformac¸ãodosacadêmicosos‘‘aportes teórico-metodológicosdasaúde coletiva’’(p. 155).Essa tensãoé estudadanosproblemascotidianosquearealizac¸ãoda pro-postapedagógicadoreferidocursotemenfrentado.

Osdoisúltimoscapítulosdo‘‘seminário-livro’’(p.16)se debruc¸amsobreasinterfacesentreeducac¸ãofísicaesaúde coletiva. O sétimo estudo é de Valter Bracht, intitulado ‘‘Educac¸ão física e saúde coletiva: reflexões pedagógi-cas’’.Inicialmenteeleabordaahistóriadorelacionamento entreeducac¸ãofísicaescolar esaúde.Evidencia-se que a educac¸ão física escolar se tornou ‘‘apenas um problema de fisiologia e não de pedagogia’’ (p. 179). Observa-se a existênciadeumavisãocríticaaessaconfigurac¸ão, notam-seoslimitesdessacrítica.Afinal, ao‘‘ampliaro conceito desaúde’’,essanovavisãopensouaeducac¸ãofísica esco-lar não como fomentadora direta da saúde por meio de suas práticas, mas,sim, como umageradora de reflexões sobrea saúde, agora assumida,também, em suas dimen-sõeshistóricasesociais.Brachtvêqueessaopc¸ãoenfatiza umaformac¸ãoprofissionalemeducac¸ãofísicamaisatenta à dimensão conceitualdasaúde, por eleavaliada, ainda, como ‘‘limitada’’ (p.189), em que pesemalgunsavanc¸os queseobteve comesseencaminhamento.Para resolvero impasse,Brachtdefendeatesedequeaosconceitossobre as práticas voltadas para a saúdeagreguem-se, também,

2Apartirdainfluênciadeleuzianacomo‘‘estratégiadeproduc¸ão

de conhecimento’’,sobre o caso-pensamentoafirmam Siegmann eFonseca, (2007): ‘‘Um métodocomposto de um olhar sensível do pesquisadorpara si mesmoeparao outrodentroda prática clínica,masqueprocedeaumaanálisecríticadesuasexperiências profissionais’’.

‘‘práticas(corporais)alternativas’’(p.197),sobreasquais oautorrestringe-seadizerquemaioresdetalhessobreelas aindaestãosendoinvestigados.

Noúltimocapítulodacoletânea,AlcindoAntonioFerlae maisdois colaboradoresinvestigampossíveiscolaborac¸ões advindasdasaúdecoletivaàformac¸ãoemeducac¸ãofísica. Lemosumaperguntaindicativadoescopodosautores:‘‘O quepodeaideiadeintegralidadenaproduc¸ãodemudanc¸as notrabalhoenaeducac¸ãodosprofissionais?’’(p.198)Eles observamqueumadasmaioresdificuldadesdaintervenc¸ão daeducac¸ãofísicajuntoao SUSéaformac¸ão‘‘permeada peloconhecimentobiomédicohegemônico’’,umaformac¸ão baseadana‘‘lógicadequeaspessoassão,principalmente, seuscorpos biológicos’’ (p. 220). Nela, a intervenc¸ão da educac¸ãofísicanocampodasaúdeéum‘‘anexo’’(p.220) aosdemais componentes da equipe de saúde, do mesmo modoqueoprofessordeeducac¸ãofísicana escolaé con-siderado um ‘‘anexo’’ à equipe pedagógica que toma as decisõesmaisrelevantes.Osautoresafirmamqueaideiade integralidade,aomesmotemporesultanteecriadoradesse limite,acabaporsereduzir‘‘àsomadeprescric¸õesdetodos osprofissionaisdaequipe’’(p.221).Parasuperaressas difi-culdadese tornar a educac¸ão física maiscapacitadapara umtrabalhonocampodasaúdeque‘‘sejavivo,criativoe dinâmico’’(p.224)éretomadaaimportânciadesesuperar o conceito atividade física em nome de práticas corpo-rais.Osautores,assimcomoBracht,tambémnãoabordam de modo mais sistemático a construc¸ão de possibilidades concretas paraa construc¸ãode entendimentos e alterna-tivas que superem a já mencionada ‘‘tradic¸ão’’ (p. 13), manifestanasjácitadasresistênciasqueessamudanc¸atem enfrentado.

A interface entre os campos da saúde coletiva e da educac¸ão física tem produzido reflexões de grande interesseparaaformac¸ãoemeducac¸ãofísica.Comefeito, osorganizadoresdacoletâneasãonomesimportantesnesse esforc¸ointelectualpromissor,umdosdesdobramentosmais interessantesdasanálises sobre o papelhistórico e social da educac¸ão física, que passaram a existir, sistematica-mente, depois da década de 1980. Além disso, deve ser observadoqueopotencialdessediálogoentreosdois cam-posem telatemsuaforc¸ae visibilidadeaumentadaspela realizac¸ãodeumprojetointerinstitucionaldepesquisa.Essa escolhadeu àsintenc¸ões investigativasdos organizadores e,consequentemente, aoprimeiro livro que delasresulta umimpactomaior,secomparadascomoutrasiniciativasde pesquisaquenãoacontecemdemodointegrado.

Como é uma obra que apresenta uma pesquisa ainda construc¸ão3,percebe-sequeaempreitadaéplenaem

difi-culdades. Evidencia-se a percepc¸ão de que as mudanc¸as almejadas, embora sustentadas em referenciais teóricos importantes para um diálogo/debate muito profícuo com a ‘‘tradic¸ão biomédica’’, esbarram em hábitos instalados nopensamentoenapráticadosprofissionais,dosusuários,

3Os organizadores publicaram uma segunda coletânea em

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das instituic¸ões formativas e de saúde. Eles guiam, tam-bém,umaparcelaimportante deacadêmicosquepensam apresenc¸ahistóricadaeducac¸ãofísicanasaúdeedasaúde naeducac¸ãofísica.Essa percepc¸ãoé valiosae asanálises publicadasnolivrocolocar-se-ãocomorelevantesestímulos paraqueodiálogoentreaeducac¸ãofísicaeasaúdecoletiva seampliecomofitodesuperaressesdesafios.Paratermos umaideiadosresultadosdessesestímulosnoâmbitorestrito aodesenvolvimentodaspesquisasfeitaspelosorganizadores dacoletânea, pode-se avaliar que eles jáproduziram um enfrentamentomaiscontundentedasituac¸ãodiagnosticada secompararmosaopróprioteordasanálisesquelemosno livroemquestão.Alémdajámencionadasegundacoletânea publicada(vernota4),emoutrotrabalhode2015(Carvalho, Gomes e Fraga, 2015) é circunscrita a problemática das pesquisascomacontundênciaquetipicamenteseextraide umprocessoreflexivometiculoso,possibilitaaospassosque daísãodadosumamaiorliberdadeevigornaexpressãodas ideias.Aoseindagarsobre‘‘oproblema’’queestudam,eles afirmam:

Oproblema? Opróprio conceitodesaúdena educac¸ão física...aindamuito restritoao mensurável, ao dizível e também ao visível nos modos de compreender o corpo e de como produzimos saúde. Portanto, estamos nos colocando diante do desafio de nos descolar de determinada forma de pensar a respeito da saúde. E pensar já é difícil, porque nós só pensamosquandosomosforc¸adosa isso,quando acon-tece algo que nos incita, ou que nos perturba, ou que nos desconcerta, ou, ainda, que nos machuca (Carvalho,GomeseFraga,2015,p.149).4

Essaretóricamaisincisiva,secomparadacomapostura dos organizadores no livro de 2013 em tela, não é ape-nas uma mudanc¸a formal ou linguística. Ela denota uma maiorclarezadosdesafiosqueseapresentam.Abordá-los,

4Outroexemplodarelevânciaproduzidapelaspesquisasemtela

podeserlidoemoutroexcertodomesmocapítulo:fazerum‘‘... contrapontoàmedicalizac¸ãodavida,àracionalidadebiomédicae aosjulgamentosqueo tempotodo excluem odiferente, aquele quenão se encaixanasclassificac¸õeseordens, nosexige reati-var,noplanodacultura,aformadapotência,anossavitalidade’’ (Carvalho,GomeseFraga,2015,p.151).

atacá-los,pormeiodaampliac¸ãodessasanálisesserá fun-damental não apenas para se superar a séria e dolorosa ‘‘dificuldade do pensamento’’. O que está em jogo é a construc¸ãodeproposic¸õesdealternativasviáveisquefac¸am frenteaoslimitesepistemológicosepolíticos,precisamente delimitadosporAspráticascorporaisnocampodasaúde.

Financiamento

A)Auxílioàpesquisa,Fundac¸ãoAraucária---Edital14/2012 UniversaldePesquisa Básicae Aplicada, protocolo37389, convênio132/2014.B)BolsadeProdutividadeemPesquisa. CNPq,editalProdutividadeemPesquisaPQ2015,processo 304633/2015-1.

Referências

Carvalho de YM, Gomes I, Fraga AB. Educac¸ão física+ ciênciashumanas+saúde.In:StiggerMP,editor.Educac¸ãofísica+ humanas.Campinas:AutoresAssociados;2015.p.129---54.

FragaAB,CarvalhodeYM,GomesIM.Práticascorporaisnocampo dasaúde:umapolíticaemformac¸ão.PortoAlegre:RedeUnida; 2015.

FragaAB,CarvalhodeYM,GomesIM.Aspráticascorporaisnocampo dasaúde.SãoPaulo:Hucitec;2013.

Siegmann C, Fonseca TMG. Caso-pensamento como estraté-gia na produc¸ão de conhecimento. Interface (Botucatu) 2007;11:53---63.

CarlosHeroldJunior

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