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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

OBRAS DIDÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

DAIANA MACHADO DOS SANTOS

SÃO PAULO - SP 2021

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DAIANA MACHADO DOS SANTOS

OBRAS DIDÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Dissertação de Mestrado, apresentada à Universidade São Judas Tadeu desenvolvida no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física , na linha de pesquisa Estudos Socioculturais e Pedagógicos da Educação Física sob orientação da Profa. Dra.

Elisabete dos Santos Freire.

Profa. Dra. Elisabete dos Santos Freire (Orientadora)

Profa. Dra. Luciana Venâncio (Avaliadora externa)

Profa. Dra. Graciele Rodrigues Massoli (Avaliadora interna)

SÃO PAULO – SP

2021

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu

Bibliotecária: Adriana Aparecida Magalhães - CRB8/ 010264

Santos, Daiana Machado dos.

S237o Obras didáticas para a Educação Física Escolar /Daiana Machado dos Santos.

- São Paulo, 2021.

f.: 165; il.; 30 cm.

Orientadora: Elisabete dos Santos Freire.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2021.

1. Livro didático - PNLD. 2. Currículo. 3. Educação Física escolar. I. Freire, Elisabete dos Santos. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física . III. Título

CDD 22 – 796

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RESUMO

Uma das políticas públicas mais bem-sucedida em continuidade e abrangência, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático - PNLD, desde sua criação em 1985, permanece ativo e em constante aprimoramento. Em 2018, pela primeira vez, a Educação Física é inserida como um dos componentes curriculares a serem atendidos pelo programa. Todas as quatro obras que participaram da seleção foram aceitas e compuseram o catálogo de escolhas do PNLD para o ano de 2019. Entre os quatro materiais, cada escola beneficiada pelo programa tinha a incumbência de escolher apenas uma obra, a ser utilizada no quadriênio 2019-2022. Estas obras, apesar de estarem vinculadas ao PNLD, estão intituladas como um Manual do Professor/professora e não foram disponibilizadas, até o momento, aos aluno/alunas. Assim, considerando que a existência de obras didáticas, podem servir de apoio aos professor/professoraes de EF, embora não seja algo novo, estes materiais surgem nas escolas e podem ser utilizados de diferentes maneiras. O presente trabalho busca responder os seguintes problemas de pesquisa: Quais as características das obras didáticas para a Educação Física , presentes no PNLD, atendem aos critérios expressos no Edital de convocação para o quadriênio 2019-2022? Quais concepções de Educação Física fundamentam essas obras? Para encontrar as respostas para estas perguntas, realizo este estudo com o objetivo de analisar as obras de Educação Física disponibilizadas pelo PNLD para o quadriênio 2019-2022, identificando suas características e concepções defendidas.

Quanto a metodologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa, caráter documental, descritiva, por meio de uma análise de conteúdo. Entre os principais resultados apontamos a relevância de inserir a EF ao PNLD, política pública educacional importante em abrangência e continuidade. As obras têm semelhanças, especialmente em organização e seleção de temas, assim como fragilidades técnicas e metodológicas. Entre as potencialidades estão uma possivel ampliação do leque de possibilidades de tematizar e problematizar a cultura corporal nos anos iniciais. Entendemos que as obras atendem, ainda que de forma frágil, aos elementos indicados no edital, porém não basta negar as obras e o PNLD, é preciso que os editais ampliem a presença de outros elementos, como por exemplo: textos de autores brasileiros negros e indígenas, práticas de matriz africana e indígena que extrapolassem apenas a capoeira e o huka-huka, mais imagens que conduzam a leitura e reflexão dos temas, presença de projetos integradores com os demais componentes, maior coerência entre a base teórica e metodológica assumida pelas obras e uma ampla revisão aos critérios expressos nos editais. Que professor/professoraes/as possam dialogar nas suas redes, pois podemos afirmar que sem a atuação docente, a qual deva ser coerente e coesa, não há possibilidade nenhuma de sucesso, seja com ou sem o material, quadra, equipamentos. O material tem cunho ideológico, esvaziado de temas e proposições, entretanto é o professor/professora que o interpretará, o articulará a novas propostas dentro da escola e fora dela, olhando para este documento e o articulando ao seu contexto. É preciso que os critérios de construção, avaliação e seleção dos editais sejam mais amplos e explícitos, propondo construções que empoderem, que liberte, que transforme, que de fato nas brechas o professor/professora/a professor/professoraa e o aluno/aluna/a aluno/aluna compreendam sua existência e sua potência frente a esta sociedade, ainda tão racista, machista e colonial.

Palavras-chaves: Livro Didático. Plano Nacional do Livro Didático. Currículo. Educação Física Escolar.

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ABSTRACT

One of the most successful public policies in terms of continuity and scope, the National Program of Books and Didactic Material - PNLD, since its creation in 1985, remains active and constantly improving. In 2018, for the first time, Physical Education is included as one of the curricular components to be covered by the program. The four works that participated in the selection were accepted and included in the PNLD options catalog for the year 2019. Among the four materials, each school would benefit from the program responsible for choosing only one work, to be used in the 2019-2022 edition These works, despite being linked to the PNLD, have the title of Teaching Manual / Faculty and, at this time, are not available to students. So, considering that the existence of didactic works could serve as support to PE teachers, although not something new, these materials appear in schools and can be used in different ways. The present work seeks to answer the following research problems:

What are the characteristics of the didactic works for Physical Education, present in the PNLD, fulfill the criteria expressed in the Convocation for the 2019-2022 cuatrienio? What are the conceptions of Physical Education underlying these works? To find the answers to these questions, I carry out this study with the objective of analyzing the Physical Education works available by the PNLD for the 2019-2022 framework, identifying their characteristics and defended concepts. As far as the methodology is concerned, it is a qualitative investigation, of a documentary, descriptive nature, through an analysis of content. Among the main results, we highlight the relevance of the insertion of the EP in the PNLD, an important educational public policy in scope and continuity.

The work has similarities, especially regarding the organization and selection of themes, as well as technical and methodological weaknesses. Among the potentialities there is a possible expansion of the range of possibilities to thematize and problematize body culture in the first years. We understand that the works comply, even weakly, with the elements indicated in the notice, but it is not enough to deny the works and the PNLD, it is necessary that the notices expand the presence of other elements, such as: texts by black Brazilian authors and practices Indigenous, African and Indigenous people that go further from capoeira and the huka-huka, more images that lead to the reading and reflection of the themes, presence of integrative projects with the other components, greater coherence between the theoretical and methodological bases assumed by the works and a broad revision of the criteria expressed in the notifications. Which teacher / teacher can dialogue in their networks, we can decide that without the teaching action, which must be coherent and united, there is no possibility of success, it is with without material, field, equipment. The material has an ideological character, void of themes and propositions, without embargo the teacher/teacher who will interpret it, will articulate it to new proposals within the school, looking at this document and articulating it to its context. It is necessary that the criteria for construction, evaluation and selection of warnings are broader and more explicit, proposing constructions that empower, that free, that transform, that allow for gaps between the teacher / teacher / teacher / student and student / the student / student understands its existence and its power in this society, as well as racist, sexist and colonial.

Keywords: text book. National Text Books Plan. Resume. School Physical Education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Escolas Atendidas por Livros Didáticos ... 28

Figura 2: Etapas do Programa Nacional do Livro e do Material Didático ... 47

Figura 3: Práticas Corporais – Educação Física ... 48

Figura 4: Encontros ... 49

Figura 5: Manual do Professor/professora para Educação Física ... 49

Figura 6: Práticas Corporais e a Educação Física Brasileira ... 50

Figura 7: Avaliadores... 53

Figura 8: Macro e Micro na análise dos manuais escolares ... 58

Figura 9: Relação de manuais para o professor/professora ... 61

Figura 10: Levantamento em base de dados ... 62

Figura 11: Articulação dos fenômenos econômicos ... 74

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Lista de siglas

ATPC – Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BM – Banco Mundial

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

CGPLI - Coordenação-Geral dos Programas do Livro EF – Educação Física

EFE – Educação Física Escolar EJA – Educação de Jovens e Adultos

FNDE – Fundo Nacional do Desenvolmento da Educação LD – Livro Didática

MEC – Ministério da Educação

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico PNE – Plano Nacional De Educação

PNLD – Plano Nacional do Livro e do Material Didático SD – Sequência Didática

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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AGRADECIMENTOS

A Deus, sempre e em primeiro lugar. Pela sua infinita bondade e misericórdia. À minha família, especialmente a minha mãe, mulher forte e lutadora.

Às minhas irmãs, Ana Raquel e Ana Karoline, por também acreditarem e realizarem na sua prática profissional o inédito viável, sempre!

Ao meu pai, o qual sempre valorizou a educação e os/as professor/professoraes/as, como uma profissão digna de todo respeito.

Aos outros da família que sempre me apoiaram, direta ou indiretamente.

À Profa. Dra. Elisabete dos Santos Freire, não somente por ter me orientado, mas por me conduzir ao crescimento pessoal e profissional, que, outrossim, impactaram o modo de eu ver o mundo. Esse foi o resultado mais valioso do percurso empreendido. Agradeço pela compreensão, pelas orientações, muitas vezes além do território acadêmico, pelas lições de vida, por me ensinar, por meio do exemplo, a acreditar no ser humano e em sua capacidade de transformar a si e ao mundo. Que sua grandeza humana possa atingir a tantos outros, como me atingiu!

Aos colegas de profissão e de esperança do Grupo de Pesquisa Diálogo e Focus.

Obrigada pelo ativismo não ingênuo, pela convicção e comprometimento, expressos nos atos e palavras sempre coerentes e por sempre colocar a Educação Física , a escola pública, laica e não neutra no centro dos interesses.

Aos professor/professoraes que passaram por toda minha vida acadêmica, especialmente aos professor/professoraes Daniel Teixeira Maldonado, Elisabete dos Santos Freire, Graciele Massoli Rodrigues, Isabel Porto Filgueiras, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Marcos Garcia Neira.

À Universidade São Judas Tadeu porque, além de especialmente fraterna, mantém um Programa de Pós-Graduação em Educação Física , reconhecendo e proporcionando espaços de diálogo para professor/professoraes e professor/professoraas. Estendo aqui meus agradecimentos a todos/as os/as funcionários/as da USJT, principalmente aos da Secretaria Acadêmica da Pós-Graduação.

Aos meus aluno/alunas e alunas, os quais me motivam a melhorar e acreditar que a educação é um ato político e por que não, de amor!

Aos amigos Leonardo Ferreira, Wagner Bueno, Silvana Leal, Maria Teresa, Alexandre

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Nolasco, Miguel Vieira e Renata Cristina Garcia, pelo apoio sempre sincero.

Aos colegas que tive o privilégio de caminhar junto durante o mestrado, pelos diálogos, trocas de conhecimentos e reflexões. Especialmente ao amigo Diogo Diedrich L. Grellmann, Kleison Amorin e Thiago Montavani Vilas Boas, pela cumplicidade e amorosidade na escuta.

À Capes, pela bolsa taxa concedida, que foi imprescindível para a realização deste trabalho.

A tantos outros sujeitos que passaram por mim durante esta trajetória, que por falha da memória possa eu ter esquecido de nominá-los.

A todos e todas, muito obrigada. Abraço fraterno e cheio de esperança, até porque “eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais [...] amar e mudar as coisas me interessa mais1”.

1 Alucinação, Belchior.

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SUMÁRIO

1. DA PESQUISADORA CONTAMINA A ESCOLHA DO TEMA E O OLHAR

PARA A PESQUISA. LUGAR SOCIAL... ... 11

2. INTRODUÇÃO ... 21

3. JUSTIFICATIVA ... 28

4. METODOLOGIA ... 30

5. REVISÃO DE LITERATURA: O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA (DE 2000 A 2019) ... 32

6. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL ... 48

7. O LIVRO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O PNLD ... 56

8. LIVRO DIDÁTICO E POLÍTICA INTERNACIONAL ... 67

9. A ANÁLISE DAS OBRAS ... 76

9.1 AS OBRAS DIDÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DO EDITAL À CONCEPÇÃO ... 77

9.2 ORGANIZAÇÃO GERAL (A) ... 78

9.4 ORGANIZAÇÃO DAS OBRAS (B) ... 87

9.5 PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA ... 104

9.6 PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO DA APRENDIZAGEM ... 120

9.7 CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DAS OBRAS ... 129

9.8 OBSERVÂNCIA DE TEMAS CONTEMPORÂNEOS NO CONJUNTO DOS CONTEÚDOS DA OBRA ... 131

9.9 OBSERVÂNCIA DE PRINCÍPIOS ÉTICOS E DEMOCRÁTICOS NECESSÁRIOS À CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA, AO RESPEITO À DIVERSIDADE E AO CONVÍVIO SOCIAL REPUBLICANO ... 132

9.10 DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ... 136

9.11 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS ... 138

9.12 PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ... 140

9.13 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO, RESPEITO E VALORIZAÇÃO DO IDOSO 142 9.14 SAÚDE, SEXUALIDADE, VIDA FAMILIAR E SOCIAL, EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO, EDUCAÇÃO FINANCEIRA E FISCAL, TRABALHO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA E DIVERSIDADE CULTURAL... 144

9.15 RESPEITO A LEGISLAÇÃO, AS DIRETRIZES E AS NORMAS OFICIAIS RELATIVAS À EDUCAÇÃO INFANTIL E AO ENSINO FUNDAMENTAL ... 145

9.16 SEÇÃO SOBRE AS IMAGENS ... 146

9.17 DISCUSSÃO ... 151

10.CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 156

11. REFERÊNCIAS ... 159

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1. DA PESQUISADORA CONTAMINA A ESCOLHA DO TEMA E O OLHAR PARA A PESQUISA. LUGAR SOCIAL...

Antes de tudo uma mulher!

Ser uma mulher não é uma tarefa fácil. Ser mulher pesquisadora é uma tarefa mais difícil ainda, especialmente no Brasil. Mas é preciso que a cada oportunidade afirmemos e nos reafirmemos como tal! Já tive momentos de achar que pouco as mulheres fizeram na história e de pensar que só tivemos homens corajosos e valentes na nossa história. Olha o risco de não questionarmos os currículos, sua influência sobre as pessoas e sociedade. Ele pode contar a história que quiser e formar pessoas que quiser. É literalmente uma arma poderosa.

O poeta palestino Mourid Barghouti já nos alertou: “Se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história e começar com o que vem “em segundo lugar”. Comece a história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso dos países africanos e não com a criação colonial dos países africanos e você tem uma história totalmente diferente”.

O poeta está tratando de como podemos destruir uma pessoa, e aponta para o jeito mais simples que é contando a sua história. São justamente as histórias únicas que criam estereótipos.

Elas não são apenas mentirosas como na grande maioria também são incompletas. Fico pensando a quantidade esmagadora de mulheres que lutaram por suas causas, que não se calaram, que escreveram suas histórias, e por motivos óbvios foram alijadas da história. Sendo assim, a importância de cada mulher contar sua história, escrever e reescrever, sempre que necessário for é imprescindível.

Tomo para mim as palavras de Marilena Chauí ao dizer que se via como

“professor/professoraa por ato político e não ato materno”. Por tempos sabemos que as mulheres foram vistas como mais amáveis, carinhosas e cuidadosas, o que as atribuiu um instinto materno por natureza e as institui o magistério por vocação. Mas, Chauí sinaliza justamente para outro caminho, o qual me agrada muito. Mas antes de chegarmos nesta parte do ser professor/professoraa vamos olhar quantas marcas carrego as quais me fazem o que eu sou.

Eu não tive uma vida muito fácil. Trabalhei desde os dez anos de idade. Na época,

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12 cuidando de uma criança próximo da minha casa. Ficava com ele e fazia algumas tarefas da casa. Trabalhei como babá por alguns anos que se seguiram. Não é fácil ter sobre você responsabilidades desde muito cedo. Creio ter sido uma aluna dedicada, sempre amei a escola, os materiais, os professor/professoraes, a rotina escolar, e sempre desejei ser professor/professoraa. Creio que meus professor/professoraes não transmitiram a mim a ideia de uma classe falida e desvalorizada pela sociedade, antes como a melhor maneira de mudar o mundo por meio dos aluno/alunas.

Eu sinto que eu e minhas irmãs, apesar de vocação, fomos influenciadas pelos nossos pais, os quais sempre respeitaram e admiraram muito os professor/professoraes. Hoje com trinta e quatro anos, professor/professoraa de Educação Física na Escola Estadual Professor/professora Paulo Nogueira, em Guarulhos São Paulo percebo o quanto um professor/professora pode mudar o mundo, desde sempre.

Meus pais, agricultores, nascidos no interior do Paraná na década de 50, não tiveram oportunidade de estudar. Os motivos, os mais clássicos: ajudar na lavoura, casamento e filhos muito cedo, dificuldades de deslocamento, falta de apoio dos pais, além de uma escola pública para poucos e excludente.

Após alguns anos de casados, já com a primeira filha, vieram para a cidade. Minha mãe trabalhando como costureira e meu pai como motorista. Minha mãe, apesar das dificuldades de acessar a escola, nunca se conformou, estudou depois de adulta e sempre fez o que podia para que nós pudéssemos ter acesso à educação pública. Não era fácil comprar livros, materiais, uniformes para três filhas. Nossa como as coisas mudaram e ainda bem por isso.

Em casa somos eu e minhas duas irmãs. A primeira, minha irmã Ana Raquel, nasceu em 1980, eu em 1986 e por último, em 1998 a Ana Karoline. Todas escolhemos por ser professor/professoraa.

Morei até meus 14 anos na casa em que nasci, na cidade de São João, no interior do Paraná. Foi um tempo muito bom, muitos vizinhos, amigos, muitas lembranças agradáveis!

Depois, morei em Pato Branco, na casa de uma família onde cuidei de mais duas crianças. Fiquei lá até ingressar na faculdade. Atualmente eu resido em Guarulhos/SP. Foi difícil mudar para uma cidade tão grande. Porém, ao me casar em 2009, fez-se necessário.

Minhas irmãs e eu estudamos todas nas mesmas escolas. Grande parte das minhas professor/professoraas foram da Raquel, que também foram da Karol. Eu estudei na Creche Municipal Irineu Sperotto, depois na Escola Municipal São João na qual fui alfabetizada. O Ensino Fundamental II foi na Escola Estadual Princesa Isabel, iniciei o Ensino Médio no Colégio

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13 Estadual Castro Alves e a partir do 2º ano fui transferida para o antigo CEFET, hoje Universidade Federal Tecnológica do Paraná em Pato Branco. Esse período foi o mais difícil, pois além da distância, havia os inúmeros gastos e as defasagens que eu trazia comigo. Sou muito grata aos professor/professoraes que passaram pela minha vida acadêmica, pois cada um, a seu modo, deixou um pedacinho de si.

“Sempre me vi como professor/professora”

É muito bom quando sabemos o que queremos ser quando crescer. Marilena Chauí diz

“sempre me vi como professor/professoraa”. Certamente este é o meu caso. Eu sabia que queria ser professor/professoraa, não exatamente se seria de português, de geografia ou de Educação Física , mas tinha como certo que seria professor/professoraa.

Iniciei a graduação em Educação Física no Paraná, na Universidade Paranaense, por meio do PROUNI (certamente sem este programa as coisas teriam sido bem mais difíceis). Ao ser contemplada mudei-me para Toledo/PR. Apesar de ser bolsista na Universidade pelo Prouni, participei de muitos Projetos que eram desenvolvidos com a comunidade, tais como programas com crianças deficientes, adultos e idosos.

Com relação à vida profissional na educação, minha primeira experiência foi no Cemei Pratty Donaduzzi como auxiliar de sala do Maternal II. Depois, ao chegar em Guarulhos, em 2009, tive a oportunidade de trabalhar no Colégio Mater Amabilis. Lá vivenciei experiências na área técnica, administrativa e educacional. Foi nesta escola que realizei boa parte do meu estágio supervisionado.

Ao sair da Unipar/PR e vir para a Universidade de Guarulhos – UNG, tive que escolher o que eu gostaria de cursar, pois aqui em SP já havia a divisão dos cursos em licenciatura ou bacharel. Não foi difícil optar por licenciatura, uma vez que este sempre foi minha escolha.

“Educar também é um admirável modo de vida...”

Minha trajetória acadêmica foi muito importante e repleta de sentido e significados.

Ao terminar a Licenciatura em Educação Física comecei a procurar por uma pós-graduação.

Não sei se todos, mas minha sensação ao terminar a faculdade era de que eu precisava aprender a dar aulas (risos) porque sinceramente, eu não sabia se sabia. Tinha muitos questionamentos envolvendo a prática, a idade certa para as crianças realizarem determinadas atividades, a

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14 construção de planejamento, a escolha dos temas para as aulas, dificuldades em realizar determinadas práticas por nunca as ter vivenciado dentro ou fora da universidade e da escola.

A primeira ideia foi realizar uma pós-graduação em Educação Física Escolar, mas além de não ter muitas opções gratuitas, as principais ofertas eram em Motricidade, Psicopedagogia ou Desenvolvimento Motor. Todas estas possibilidades se afastavam muito da minha ideia de formação continuada.

Apesar de um grande desejo em continuar meus estudos, isso só foi possível em abril de 2012 por meio da Universidade Estadual de Ponta Grossa do Estado do Paraná e a UAB.

Durante a realização desta pós-graduação eu tive a oportunidade de rever (se assim posso dizer) os principais conteúdos relacionados à Educação Física e à escola, porém de forma mais direta e intencional para o professor/professora. Nesta ocasião, apresentei como trabalho de conclusão de curso, um artigo sobre a “Avaliação na Proposta Curricular do Estado de São Paulo” (naquele momento, além de ser uma novidade nas escolas o caderno do aluno/aluna e do professor/professora, era um documento que suscitava uma enxurrada de críticas). Vale lembrar que antes de entrar nesta pós-graduação, participei durante dois semestres como aluna especial do Programa em Educação na UNESP Rio Claro. Fui teimosa e dediquei-me a participar por um ano, mas depois conformei-me (por hora) que talvez aquele não fosse meu lugar naquele momento (como bem asseverou uma das professor/professoraas em uma fala durante as aulas).

Este pensamento apesar de me incomodar, consolava-me (um misto de estranheza) e só veio a ser desconstruído quando tive a oportunidade de ingressar na pós-graduação do IFSP, no ano de 2014, quando tive o privilégio de compreender inúmeras questões por meio de textos, debates e reflexões, mas isso é uma outra questão. Minha relação com o IFSP já existia, pois de 2011 a 2014 cursei minha segunda graduação na área de Tecnologia em Gestão de Turismo.

No ano de 2013, motivada por uma colega de profissão, prestamos uma prova de concurso público no Estado de São Paulo. Fui aprovada, e vim a tomar posse em dezembro de 2016, porém foi uma das melhores coisas que me aconteceu para a compreensão do sentido da minha trajetória e pela aproximação verdadeira com o campo de atuação. Lembro-me das palavras da minha irmã mais velha dizendo: “- Daí você só vai entender algumas questões da educação quando você ministrar aula em escola pública”. De fato, ela tinha razão. Colocar todas as ideias e reflexões que até então havia aprendido, foi incrível, ou melhor, tem sido incrível.

Vejo a educação, no meu caso por meio da Educação Física escolar, como um ato político, o qual é preciso lutar, envolver-se, defender, resistir.

Atualmente, sou Professor/professora de Educação Básica II – Especialista em

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15 Educação Física e estou na função de Diretora de Serviço desde 2015, onde exerço inúmeras parceria com a Coordenadora Pedagógica e com a Orientadora Educacional, com ações com base na redução de evasão escolar, do desenvolvimento educacional dos aluno/alunas, entre outras.

De 2013 a 2015 substitui uma professor/professoraa na ETEC. Neste período, assumi nove turmas, sendo de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Era minha primeira experiência, foi difícil, muitas dúvidas, insegurança. Mas sentia muito amparada pelos colegas e pela direção da escola. Ninguém ficava tentando te amedrontar, tratavam-me como tratavam qualquer outro professor/professora. Outra coisa que julgo muito importante é a construção coletiva do PPP, calendário e planejamento. Coisas que não vejo no Estado, onde há muita desinformação e falta de organização coletiva. Muitos coordenadores são meros repetidores da Diretoria de Ensino, quando propõe para pensar sobre determinado assunto temos total autonomia, desde que você termine em duas aulas de ATPC. Quando questionadas sobre qualquer demanda, ou respondem com grosseria ou dizem que vão verificar (mas não sei onde, porque nunca volta a resposta).

Logo da chegada dos das obras didáticas de Educação Física perguntei como se deu a escolha, considerando que em nenhum momento eu e meu colega fomos chamados para dialogarmos sobre. O que recebemos de resposta: “- eu (coordenadora e professor/professoraa de matemática) juntamente com a diretora (professor/professoraa de pedagogia e especialista em Educação Especial) escolhemos o que julgamos melhor, por que ele é muito bonitinho”.

Desde 2017, meu primeiro ano como professor/professoraa, fiquei horrorizada com a maneira que tratavam os especialistas. Várias vezes esqueceram de nos chamar para conselho de classe/ano, reunião de pais, etc. Não há um reconhecimento da Educação Física dentro da escola. Parece que estamos ali para levar os aluno/alunas para a quadra e deixar que corram até perder as forças. Me sinto desrespeitada com essa atitude da escola, da direção dos colegas. Mas isso é o retrato de muitas outras escolas. Às vezes me perguntam porque não vou para a Prefeitura de SP ou retorno para a escola privada, respondo que não, que o Estado é a verdadeira expressão da ideia de uma educação para a liberdade e ali que temos que ver a educação pública e democrática na prática, é ali que alcanço a dimensão política por meio do ensinar. Não estou ali porque não tenho para onde ir, ou porque fracassei (como muitos pensam de bons professor/professoraes no Estado) mas estou ali por motivos políticos, acreditando sempre no poder da educação para transformar uma criança, duas ou o mundo todo. É muito gratificante quando você consegue realizar o “inédito viável” na escola pública e influenciar pessoas, permitir que elas se apropriem de conteúdos que as conduziram para a reflexão, transformação

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16 crítica e genuína. Que sejam capazes de se libertarem. Quando saio da escola, depois das minhas aulas, saio com a certeza que a minha parte eu fiz. Para mim, isso já vale muito a pena!

Continuando, depois da primeira experiência, realizei uma segunda pós-graduação, agora em Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná novamente pela UAB, a qual foi também uma experiência muito significativa. Construí uma melhor compreensão das questões burocráticas. Infelizmente, a burocracia acaba por nos afastar da real democracia. Neste momento, uma das disciplinas que mais gostei de estudar foi Gestão do Projeto Político Pedagógico. Acredito que não foi um “amor desinteressado”, pois quem está na educação pública sabe muito bem a importância da construção coerente e coesa com todos da comunidade escolar. Sendo assim, dediquei- me a analisar a construção e a efetivação dos mesmos em duas escolas públicas. Sabe o que eu aprendi? Que o papel é o elemento mais democrático do mundo inteiro, pois ele aceita tudo, mas também percebi que há muitos indícios de mudança e de novos caminhos. Muitos professor/professoraes que têm questionado as escolas sobre estas questões e que exigem que o PPP seja um documento coletivo e participativo.

Neste período que estive realizando a pós em Gestão escolar, ingressei no Curso de Pedagogia na Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná – Polo Laranjeiras do Sul/PR (UAB), pois além de um desejo pessoal eu sentia a necessidade de compreender outros saberes.

Tem sido uma boa experiência. Estou no 4º ano do curso, no período dos estágios finais. Acabei de postar meu trabalho de conclusão de curso o qual trata de uma análise da BNCC e os pressupostos teóricos de Tomaz Tadeu da Silva. Sinto-me esperançosa!

Em 2018, concluí a Especialização em Formação de Professor/professoraes – Ênfase no Ensino Superior. Foi um momento muito especial. Primeiro pela trajetória que percorri desde o ingresso e pelas coisas boas que nos acontece no caminho, como amigos, colegas, professor/professoraes, anseios, expectativas e frustrações, sonhos e tantas alegrias. Foi, neste momento, que tive o privilégio de conhecer o professor/professora Daniel T. Maldonado, o qual além de orientar meu trabalho de conclusão de curso, também me apresentou ao grupo de pesquisa da USJT, o qual tenho feito parte desde então. Veja você os desígnios! A Luciana Venâncio, além de professor/professoraa, foi minha orientadora na graduação e o Luiz Sanches, meu professor/professora. Ambos com relação muito próxima com o grupo em questão. Dois docentes que fizeram muita diferença na minha formação inicial e até hoje isso se reverbera.

Participar do grupo tem sido muito gratificante, primeiro por pensarmos e discutirmos sobre Educação Física escolar e segundo, pela urgência da nossa área frente a própria história de avanços e retrocessos.

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17 Aproveitando, vale dizer que o ano de 2018 foi um ano muito especial tanto na minha vida acadêmica quanto profissional. Foi possível, por meio do convite dos colegas do grupo de pesquisa Val, Daniel e Uirá, relatar duas das experiências pedagógicas que realizei na ETEC com aluno/alunas do Ensino Médio. Foi muito bom relembrar e ver isso sendo disponibilizado para tantos outros professor/professoraes. São estas ações que legitimam a Educação Física escolar. Que trazem o professor/professora da escola para a reflexão da ação de sua prática.

Outras conquistas estão no grupo que participo com um grupo de professor/professoraes, orientados pelo professor/professora Paulino Orso, da UNIOESTE/PR sobre Pedagogia Histórico-Crítica do professor/professora Dermeval Saviani. Além dos encontros com os professor/professoraes, todos de áreas diferentes, foi possível produzirmos um artigo sobre nossas reflexões. Foi incrível chegar ao final dos encontros e percebermos que aqueles textos e debates fizeram sentido para a prática como docente e para a compreensão de uma educação democrática. No ano que passou estudamos o livro “Escola e Democracia”. Durante os últimos anos, participei de muitos congressos e palestras voltados à área educacional e isso me motiva a compreender não só a minha realidade, mas a educação, a escola, o aluno/aluna, etc.

Em janeiro de 2019 ingresso como aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação Física . Ingressar neste programa, neste curso e nesta universidade, e por que não dizer com esta orientadora, a Profa. Dra. Elisabete Freire, é tão significativo devido as trajetórias, os caminhos e sujeitos que se cruzam e se reencontram.

Agora, no último semestre e vivendo um momento especialmente único para todos nós, lembrar e recordar estas trajetórias nos causam no mínimo um saudosismo.

Vale dizer quantas aprendizagens e conquistas foram possíveis. Participei o CONBRACE em Natal, do SEMEFE na USJT, do Seminário de EFE e de Metodologia do Ensino da EFE, ambos na USP, entre disciplinas que abriram novos horizontes.

Mas, não quero terminar aqui sem dizer uma última coisa (certa de que, tantas outras não foram ditas aqui devido a memória falha). Você leitor lembra-se que no início falei que comecei a trabalhar cedo, que tive várias dificuldades. Mas, saiba que, eu reconheço meus privilégios. Reconheço que nunca fiquei fora da escola, que nunca me foi obrigado a fazer algo que não queria, que tive a oportunidade de participar de várias atividades acadêmicas, comprar livros, e tantas outras oportunidades.

Pensando em escrever estas palavras introdutórias, do quanto a história de vida da pesquisadora influencia a pesquisa, a escolha do tema (o qual é algo que me instiga e me move) e a sua forma de olhar para ele, estou também certa de meus privilégios, os quais tão caros a outros

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18 tantos.

Recentemente, temos acompanhado fatos brutais resultado de uma sociedade tão desigual e violenta, preconceituosa, acostumada a fechar os olhos as diferenças que nos saltaram aos olhos nestes tempos. A exemplo recordo de Mirtes, mãe de Miguel de 5 anos que caiu do 9º andar de um prédio de luxo no Recife, em plena pandemia global, enquanto a patroa fazia as unhas e a mãe levava o cachorro para passear. De João Pedro, de 14 anos, morto a tiros no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio em 18 de maio de 2020, após dizer a mãe que não se preocupasse pois estava dentro de casa. De George Floyd, um cidadão negro de 46 anos assassinado por um policial branco, após 8 minutos e 46 segundos sem poder respirar em 25 de maio de 2020, o qual dizia “eu não consigo respirar”. De tantas mulheres que sofrem com violência doméstica todos os dias, que lutam para dar uma vida melhor para seus filhos.

Frente a estes e tantos milhões de outros, os quais não tomam as manchetes, tenho plena certeza de meus privilégios, os quais me beneficiam e me colocam no lugar que me encontro. Me reconheço como uma racista em desconstrução beneficiada por uma estrutura muito além de meu posicionamento individual.

Enfim, compartilho este poema de Bertolt Brecht, o qual fala muito da nossa atual situação política, social e humana. Que possamos lutar e resistir, porém, sem que percamos a esperança. Como disse Paulo Freire: “Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”.

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OS QUE LUTAM Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;

Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

Bertolt Brecht

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Samba da Utopia

Ceumar

Se o mundo ficar pesado Eu vou pedir emprestado

A palavra poesia Se o mundo emburrecer Eu vou rezar pra chover

Palavra sabedoria Se o mundo andar pra trás

Vou escrever num cartaz A palavra rebeldia Se a gente desanimar Eu vou colher no pomar

A palavra teimosia Se acontecer afinal De entrar em nosso quintal

A palavra tirania Pegue o tambor e o ganzá

Vamos pra rua gritar A palavra utopia

Composição: Jonathan Silva

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2. INTRODUÇÃO

A ideia de estudar o processo de seleção, adoção e possibilidade de utilização da obra didática para o componente curricular de Educação Física , surgiu com a pronta surpresa, de ser comunicada e receber em mãos, durante uma Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo – ATPC, o Manual do Professor/professora de Educação Física Encontros (anos iniciais). A minha surpresa foi tamanha que no momento não me veio à mente as perguntas que me suscitaram a seguir. Pensei, enfim a Educação Física Escolar está galgando seu espaço dentro da escola, junto aos demais componentes. Aqueles e aquelas que estão dentro da escola, sabem bem sobre o que me leva a pensar dessa forma.. Avançamos muito com relação ao nosso fazer pedagógico, porém creio em muitos momentos que nossas barreiras ainda não foram transpostas. Esse foi o primeiro grande motivo. Um livro de Educação Física participante do PNLD junto a um coletivo de outros componentes. Para mim, inédito. Mesmo tendo sido criticado severamente, nas últimas décadas os livros didáticos vêm suscitando um vivo interesse entre os pesquisadores (CASSIANO, 2013; MUNAKATA, 1997; 2003; 2012;

2016; VIEIRA, 2014; 2020). Desde então, a história dos livros passou a constituir um domínio de pesquisa em pleno desenvolvimento, em um número cada vez maior de países, e seria pouco realista pretender traçar um “estado da arte” sobre o que foi feito e escrito e, mais ainda, do que se pesquisa e se escreve atualmente pelo mundo. Em pesquisa no Banco de Dados de Teses e Dissertações foi possível encontrar inúmeros estudos, que serão apresentados na sequência deste texto.

As relações com os livros didáticos certamente mudaram muito. Nós acreditávamos, que tínhamos o acesso a todo o conteúdo “essencial” naquele livro. Precisávamos dar conta dele durante o ano. Autores como Cassiano (2013) e Munakata (1997; 2003; 2012; 2016) vão se debruçar sobre a figura do livro didático e a sua centralidade na escola. Vieira (2014; 2020) dedicou-se especialmente sobre os materiais didáticos para a Educação Física Escolar, os quais a autora chamou de materiais didáticos impressos também faz um apanhado histórico. Entre outros, a autora apresenta a presença do LD em vários momentos da história, sempre pautado pelo momento histórico.

Marani, Sanches Neto e Freire (2017) ao buscar conhecer a percepção dos professor/professoraes frente ao plano de referência e sua implantação constataram que os são favoráveis a existência de um currículo comum, que uniformiza a prática pedagógica, assim

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22 como ressaltam que a existência de um documento norteador é especialmente importante para os professor/professoraes iniciantes. Entre as críticas mais latentes estavam a concepção e a organização dos conteúdos.

Autores como Seixas (2011), Branquinho (2011), Lagoeiro (2012), Marques (2014), Tenório (2012) e Barros (2014) foram apontados por Marani, Sanches Neto e Freire (2017) por ocuparam-se em conhecer a percepção dos professor/professoraes sobre o impacto desta nova política educacional que tem atraído a atenção de pesquisadores da Educação Física.

Para Julia (2001) o Livro Didático é compreendido como parte da cultura escolar, como instrumento de socialização, que colabora na divulgação dos conteúdos de ensino das disciplinas escolares, na transmissão desses conhecimentos, muitas das vezes por programas oficiais. Portanto, era uma enciclopédia, tudo que precisávamos saber estaria ali ou em algum outro livro na biblioteca municipal.

Sustento ainda minha escolha por este tema, não só pelo exposto acima, mas considerando que esta mesma temática em outros momentos cruzou minhas inquietações e me instiga. Em abril de 2012 ingressei na Pós-Graduação Lato Senso em Educação Física Escolar pela Universidade Estadual de Ponta Grossa onde tive o privilégio de pesquisar sobre “A avaliação na Proposta Curricular de Educação Física do Estado de São Paulo” sob a orientação da Dr.ª Silvia Christina Madrid Finck. Inquietas pelo processo que havia ocorrido em 2010 da implantação dos Cadernos do Professor/professora e do Aluno/aluna nas escolas estaduais, nos debruçamos então sobre como estes materiais escolares olhavam para a avaliação proposta pelo material e realizada pelo professor/professora.

Depois, em 2017 ao apresentar o trabalho de conclusão de curso em Gestão Escolar novamente foi conduzida, pelo desejo pessoal e pelas literaturas que me instigam, a olhar para a construção coletiva e participativa do Projeto Político Pedagógico e a Proposta Pedagógica de duas escolas estaduais. Para minha surpresa, os LD estavam novamente lá, pautando inúmeras das decisões e escolhas das professor/professoraas.

Para tanto, não tenho como objetivo levantar uma bandeira de apoio ao Livro Didático Educação Física , tão pouco demonizá-lo. Nosso objetivo é abarcar, limitando-nos necessariamente a alguns exemplos, as principais problemáticas identificadas e temas abordados pela pesquisa histórica sobre os livros e edições didáticas, destacando as tendências mais marcantes e as possíveis perspectivas de superação.

A partir de 1980, com a emergência do chamado Movimento Renovador da Educação Física (DARIDO; RANGEL, 2011), além de metodologias de ensino, emerge ao pensamento

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23 dos envolvidos na área mudanças quanto ao que deveria ser a sua prática na escola, bem como o que ensinar, por que ensinar e como avaliar. Maldonado et al. (2018, p. 103) entendem que como resultado das reflexões e proposições teóricas desta década, fruto do movimento renovador da EF, uma nova tradição didático-pedagógica da Educação Física escolar brasileira esteja sendo produzida. Desde este período se intensificam as transformações na Educação Física Escolar, inclusive nas políticas públicas, por meio de seus currículos e propostas até a organização didático metodológica pelo professor/professora na escola. Estas transformações estão muito pautadas pelos momentos políticos, históricos, sociais, bem conhecido na EF. Já na promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), anunciava-se uma base nacional curricular. No Art. 26 da Lei, “os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos” ficou alterado pela redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013.

Definir temas, metodologias de ensino e processos avaliativos para a composição de um currículo não é tarefa simples e para a Educação Física Escolar torna-se um grande desafio.

Isso devido a história e as raízes da EFE, a qual sempre valorizou mais o fazer, não atribuindo a esta o pensamento reflexivo e crítico. Quando decidimos pela proposta curricular da escola ou em alguns casos do Estado, Município, pautamo-nos na ideia de que cidadão pretendemos formar. Qualquer currículo, têm, antes de tudo, o objetivo de formar um determinado sujeito para uma determinada sociedade (SILVA, 2017). Para isso, ao propor-se um currículo nacional (BNCC) e um material didático é preciso considerar muitas influências, as quais vamos buscar apresentar neste trabalho.

Em 2017, o Brasil passou a adotar uma Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017, 3ª versão) que propõe-se a explicitar os direitos de aprendizagem de todos os aluno/alunas da Educação Básica. Conforme consta em Brasil (2017), a BNCC define-se como uma política de Estado e um conjunto de orientações pedagógicas de referência nacional com base nas competências e habilidades a serem atingidas nos diferentes componentes curriculares.

Ela também pretende servir de referência para a construção dos currículos de todas as redes públicas do país. Conforme texto de apresentação da BNCC, sua homologação representa um avanço importante, a qual deveria ser para a equidade e qualidade da Educação brasileira (BRASIL, 2017). Porém, um currículo único para um país como o Brasil, com uma história de avanços e retrocessos na educação, não se configura como uma barreira fácil e única de ser

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24 derrubada.

Para os que são simpatizantes à implantação de um currículo a nível nacional, a BNCC pode ser vista como um importante passo a para a construção de um currículo mais coeso, onde as unidades temáticas e seus objetos de conhecimento são responsabilidade da política educacional e dos sistemas de ensino, sendo aplicados pelos professor/professoraes seguindo o respeito às particularidades culturais e aos direitos de aprendizagem estudantil.

[...] seria um erro atribuir à BNCC o conceito de currículo formal, cujo objetivo está na padronização dos conteúdos escolares. O documento deve ser encarado como um documento orientador na construção ou reestruturação de propostas curriculares dos sistemas de ensino na esfera pública e nas instituições privadas. Logo, o seu foco está em “o quê ensinar”, ou seja, em conteúdo, competências e habilidades. “Como ensinar e avaliar”, ou seja, as metodologias de ensino e a avaliação da aprendizagem, que também compõem um currículo, não entram diretamente no documento, ficando a cargo de redes de ensino, unidades escolares e professor/professoraes. (BEZERRA, 2018, s/p).

Após a implantação da BNCC em 2018, para surpresa (pelo menos a minha) as escolas de todo o Brasil escolheram entre os livros didáticos habituais, o Manual do Professor/professora de Educação Física 4, subsidiado pela Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) o qual fará parte do quadriênio 2019-2022 para Educação Física . A perspectiva do MEC foi que o edital do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para 2019, voltado para os anos iniciais e que alinhado com as diretrizes da Base Nacional estivesse encaminhado para a sua efetivação já em 2019. O documento é dividido por áreas do conhecimento e está pautado no novo formato de livros didáticos.

O livro coexiste com outros instrumentos didáticos, mas continua ocupando um lugar privilegiado, o de papel central como objeto de estudo e do conhecimento para diversos componentes. A exemplo de sua centralidade, mesmo com inúmeras possibilidades multimídias e digitais, durante este momento pandêmico, muitos pais ainda buscavam por materiais impressos em suas escolas, assim como, também houve a publicação de materiais impressos, cartilhas, livros e apostilas fornecidas por prefeituras e municípios. Não deixemos de considerar que, esta centralidade está vinculada a outros fatores, como a falta de acesso a tecnologias e demais ferramentas.

Historicamente, comparada a outras disciplinas obrigatórias, a Educação Física não tem presença no PNLD, assim como outros componentes curriculares, e tal situação foi construída com o pensamento que “na aula de Educação Física não se reflete, não se discute, enfim, não se pensa e, portanto, não se lê, mas apenas se executa” (PAULA, 2003, p. 09). Vieira (2020) apresentou um levantamento de obras didáticas produzidas entre os anos 1890 até 1930 e constatou que sempre houve a presença intencional de se ter um material de apoio e/ou

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25 referência ao professor/professora. Vale dizer que a autora também destaca que na sua grande maioria estes materiais sempre se destinaram aos professor/professoraes.

Souza Júnior et al. (2015) considera o livro, como ponto de apoio no estabelecimento de regras e normas no processo de ensino-aprendizagem [...], servindo também como manual específico de práticas pedagógicas. Esse caráter não formal no currículo, sem a sistematização teórico-prática, podemos dizer até mesmo via livros didáticos, provocou uma possível falsa ideia da não necessidade de se ter livros didáticos em determinados componentes, resultando em uma negligência com relação à transmissão dos saberes da área.

Para o Coletivo de Autores (2012, p. 61), “a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada de cultura corporal”. Os temas da cultura corporal, tratados na escola, são expressos para garantir que estes dialoguem dialeticamente, entre os interesses do sujeito e da sociedade. Para tanto, deve ser tratada de igual forma pelos programas e políticas públicas, subsidiando materiais e propostas também para esta área, não a relegando novamente reforçando a construção histórica já existente.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), obra do Ministério da Educação que incentivaram uma vasta literatura em torno de cada componente curricular, inclusive para a Educação Física configura-se como um importante marco para a mudança da identidade e finalidade da EF dentro do espaço escolar (entre outros). Podemos dizer que até aquele momento, não havia à disposição (professor/professora/escola) um material de dimensão governamental para nossa área, o qual tinha condições de subsidiar a prática pedagógica até então produzida. Além disso, os PCN apresentaram os temas transversais. Outra importante medida para a reflexão da EF e de diversos temas latentes a sociedade.

Os PCN propunham que a EF deveria sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantissem aos aluno/alunas o acesso aos conhecimentos práticos e conceituais sobre as manifestações da cultura corporal, tais como jogos, ginásticas, danças, esportes e lutas. Para alcançar tal objetivo, os docentes deveriam mudar a ênfase da aptidão física e do rendimento padronizado para uma concepção mais abrangente que contemplasse todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal (BRASIL, 1997, p. 24).

Para Maldonado e Silva (2017, p. 99) nota-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais foram uma primeira tentativa de determinar, em nível nacional, os objetivos, conteúdos, critérios de avaliação e orientações didáticas para que os docentes trabalhassem com seus aluno/alunas nas diferentes escolas do território nacional. Após os Parâmetros Curriculares Nacionais,

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26 discussões surgiram e foram se estabelecendo reflexões no sentido de compreender e questionar as práticas realizadas na EF escolar.

Outros avanços com relação a estas questões surgiram em âmbito estadual e até municipal. O Estado de São Paulo, por exemplo, implantou a Proposta Curricular de Educação Física na rede de ensino. (SÃO PAULO, 2008). Para um estado como São Paulo, a proposta e os Cadernos do aluno/aluna foram importantes, entretanto há críticas a seleção e organização de conteúdo, não na EF mas em todos os componentes curriculares.

Não podemos esquecer de citar o Livro Didático do Estado do Paraná, o qual foi pioneiro na produção do livro didático público para a Educação Física escolar (2006), produto do já existente Projeto Folhas. Iniciativa similar e bem-sucedida foi encontrada no Nordeste, com a publicação do Livro Público do Município de João Pessoa (2012), capital da Paraíba.

Também fruto do coletivo dos professor/professoraes e professor/professoraas da rede.

Para Souza Júnior et al. (2015), o livro didático público do Paraná é responsável por gerar um aumento, mesmo que tímido, do interesse e da produção de livros didáticos para a Educação Física , assim como estudos sobre o tema, a partir de sua primeira publicação. Para Rodrigues e Darido (2011) o LD do Paraná surge com um perfil diferenciado dos demais livros didáticos publicados em território nacional, pois foi constituído pelo coletivo de professor/professoraes da própria rede e foi distribuído gratuitamente a todos os aluno/alunas.

Todas estas iniciativas, debates e preposições se devem às tentativas de articular o currículo as necessidades regionais, por exemplo e, ao papel central que o currículo tem dentro do campo educacional e em especial para a área da EF escolar. Estas propostas imprimem um novo caráter a EF escolar, o qual configura-se num objeto de referência da teoria e da prática pedagógica. Busca-se, então, elucidar alguns pontos ligados ao processo de escolha, planejamento e processo ensino- aprendizagem da Educação Física escolar, numa perspectiva de renovação dos parâmetros pedagógicos da disciplina, das políticas educacionais quanto à intencionalidade dos seus objetivos, deixando-os a cargo de programas educativos.

Segundo Gil (2007), um problema deve ser formulado na forma de pergunta, ser claro e preciso, ser empírico, suscetível de solução e delimitado a uma dimensão viável. Dessa forma, o presente estudo busca responder às seguintes perguntas:

Quais as características das obras didáticas para a Educação Física , presentes no PNLD, atendem aos critérios expressos no Edital de convocação para o quadriênio 2019-2022?

Quais concepções de Educação Física fundamentam essas obras?

Para encontrar as respostas para essas perguntas, realizo este estudo com o objetivo de

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27 analisar as obras de Educação Física disponibilizadas pelo PNLD para o quadriênio 2019-2022, identificando suas características e concepções defendidas.

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3. JUSTIFICATIVA

Considerando a relevância deste artefato, o livro didático e sua centralidade no ambiente escolar, são inquestionáveis. Mesmo que coberto de críticas, como material ideológico, altos custos governamentais e efetividade duvidosa, é uma política pública muito relevante e que tem se perpetuado no decorrer dos anos, assim como tem sido estudado e refletido. Ao considerar o livro didático como objeto de estudo, não se pode contemplá-lo de forma neutra, de modo que se faz necessário considerar as variáveis sócio-político-econômico- culturais existentes de forma não linear em nosso contexto histórico.

O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) compreende um conjunto de ações voltadas para a distribuição de obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, destinados aos aluno/alunas e professor/professoraes das escolas públicas de educação básica do País.

O PNLD também contempla as instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público. As escolas participantes do PNLD recebem materiais de forma sistemática, regular e gratuita.

Trata-se, portanto, de um Programa abrangente, constituindo-se em um dos principais instrumentos de apoio ao processo de ensino-aprendizagem nas Escolas beneficiadas.

(FNDE, 2020).

Assim como a escolha ou preferência por determinado material pelo professor/professora deve levar em conta critérios que se afastem da preferência pessoal, antes tenha critérios científicos e que levem o aluno/aluna a desenvolver sua criticidade e reflexão do mundo que o rodeia.

Historicamente, comparada a outras disciplinas obrigatórias, a Educação Física não tem presença no PNLD desse tipo de material, ou seja, um conhecimento advindo da repetição e da prática de movimentos, um “fazer por fazer” reforçado pela concepção de “atividade”, presente no Parecer n. 853/71 e na Resolução n. 8/71 (DARIDO ET AL., 2010).

Com isso, verifica-se uma possibilidade de (re) configurar a Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com um novo olhar sobre as práticas corporais e sob o respaldo da apropriação, ressignificação e ampliação daquilo que se convencionou denominar linguagem corporal.

Para Choppin (2008) o livro escolar é ainda um elemento essencial da construção identitária. Para ele por muito tempo as investigações históricas sobre o LD escolar foram negligenciadas, inclusive pelo status secundário do manual no ramo dos livros.

Outro ponto relevante apresentado por Apple (1995) diz respeito aos LD estabelecerem grande parte das condições materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula (tratando- se de outros componentes).

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29 Sacristán (1995) considera que entre a prescrição curricular e o currículo real, que se desenvolve na prática, existe uma elaboração intermediaria do mesmo que é a que aparece nos materiais pedagógicos e, particularmente por meio dos livros didáticos.

Tendo em vista que o livro didático não é neutro e que essa discussão sai do âmbito nacional extrapolando para o âmbito empresarial internacional, que tem poder de investimento e de controle de mercado, entendendo que o PNLD é uma política pública relevante, abrangente e continua e que todas as suas ações desembocam na escola e, por conseguinte nos sujeitos, consideramos importante toda a preposição de análise, investigação e compreensão deste segmento. Bittencourt (p. 3) enfatiza que o LD deve ser, também, “considerado como veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. Para tanto, compreendê- lo, investiga-lo nas suas múltiplas facetas é uma justificativa real a muitos pesquisadores.

Portanto, a justificativa de investigação por parte da pesquisadora, se dá na centralidade do PNLD dentro da nossa política pública educacional, e a presença pela primeira vez da EF no rol de disciplinas atendidas, assim como refletir sobre o caráter ideológico e vertical. Considerando a continuidade do PNLD, a EF tem a possibilidade de se estabelecer e colocar suas singularidades, assim como outras disciplinas. Além disso, este documento traz novas perspectivas, inquietações e desafios, principalmente no que tange a uma universalização dos conteúdos no território nacional. Considera-se oportuno que a Educação Física se insira nas discussões do livro didático e com isso compreender melhor os desdobramentos de seu uso em aulas desse componente curricular.

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4. METODOLOGIA

Este trabalho é resultado de uma pesquisa qualitativa, de caráter documental, descritiva, por meio de uma análise de conteúdo. Esta forma de pesquisa bibliográfica possui caráter exploratório, pois permite maior familiaridade com o problema, aprimoramento de ideias ou descoberta de intuições (GIL, 2007). A revisão bibliográfica deve constituir o “estado da arte” e demonstrar que a pesquisa em questão contribui com algo novo para o corpo de conhecimento existente (LEVY; ELLIS, 2006).

Para tanto, nos propomos a realizar um levantamento dos últimos dez anos da produção em artigos clássicos na área de estudo, livros-texto que compilam conhecimentos na área, artigos de referência indicados por especialistas para conhecer o atual estágio do corpo de conhecimentos sobre o assunto que se pretende estudar (LEVY; ELLIS, 2006). Estes autores descrevem uma revisão sistemática por meio de um processo com entrada, processamento e saída.

Após esta análise bibliográfica, foram analisadas as quatro obras didáticas da Educação Física , assim como o edital que orientou sua elaboração. Assim, as etapas de análise são assim descritas:

Análise do edital de convocação;

Organização de categorias para organização das análises. As categorias foram extraídas do próprio edital e determinadas em subitens.

Análise das obras frente ao edital de convocação, verificando de que forma estas obras atendem o edital e em que medida.

Para o percurso teórico-metodológico, a pesquisadora realizou uma análise ampla de todo o edital, especialmente ao que tratava da Educação Física e das obras para este componente curricular e uma análise ampla das obras.

Para a coleta e análise das informações referente a pesquisa foi necessário tomar como referência a analise de conteúdo proposta pela autora Laurence Bardin (1977). De acordo com essa autora “as diferentes fases da análise de conteúdo, tal como o inquérito sociológico ou a experimentação organizam-se em torno de três polos cronológicos:

a pré-análise: fase de organização, sistematização de ideias iniciais, propostas para conduções posteriores, é por meio da exploração dos materiais, leitura e anotações que se toma a codificação necessária as demais fases. Nesta etapa, realizamos uma vista as obras e ao edital, sinalizamos tópicos mais relevantes, realizamos levantamento de dados que podem subsidiar a

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31 análise. Este primeiro momento podemos chamar de reconhecimento do objeto a ser analisado.

a exploração do material: momento de extrair do edital e das obras o que subsidiará não apenas a discussão, mas as próprias categorias de análise. Leitura atenciosa, levantamento de dados, de imagens, organização de mapas de apoio, como mapas conceituais, indicação de textos e a própria seleção das categorias de análise. Estas categorias emergiram da própria etapa de análise, a qual demandou atenção e organização das ideias.

o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação” (BARDIN, 1977, p. 133).

É importante salientar que esses três eixos, são um ponto de partida mas, não esgotam a aplicação do método.

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5. REVISÃO DE LITERATURA: O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA (DE 2000 A 2019)

A revisão de literatura teve um recorte temporal de vinte anos, compreendendo as teses e dissertações defendidas entre os anos 2000 e 2019, publicadas no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. O levantamento foi realizado durante o mês de março de 2020.

Considerou-se para a primeira seleção da pesquisa, os descritores “livro (s) didático (s) ” e/ou

“material (ais) didático (s) ”.

Foram levantadas, como dito acima, um número muito alto de trabalhos. Após foi realizado alguns filtros e chegamos inicialmente a um total 427 trabalhos, dos quais a pesquisadora leu o título, resumo e palavras chaves para incluí-los ou não, ao grupo de trabalhos a compor a revisão literária. Esses trabalhos, precisavam apresentar os termos “livro (s) didático (s)” e/ou “material (ais) didático (s)” no título, resumo ou nas palavras chaves.

A seleção de dissertações e teses ocorreu a partir de três critérios: o primeiro, pelo título da publicação para localizar, imediatamente, documentos que abordassem a temática “livro (s) didático (s) ” e/ou “material (ais) didático (s) ”; o segundo, pelo resumo, com o propósito de constatar a abordagem da pesquisa sobre o tema; e o terceiro critério, pela leitura na íntegra para selecionar aqueles que apresentassem análise sobre “livro (s) didático (s) ” e/ou “material (ais) didático (s)”.

Destes filtros foram identificados um total de 33 trabalhos, sendo 09 teses de doutorado e 24 dissertações de mestrado. Os trabalhos foram apresentados por ordem cronológica, sendo:

2007 com apenas 01; 2009 com 07; 2010 com 10; 2011 com 04; 2012 com 08; 2014, 2015 e 2017 com apenas 01 em cada ano. Deste montante, 23 foram em instituições públicas, sendo 16 em Universidades Federais e 07 em Universidades Estaduais, além de 10 em Universidades privadas. Destas últimas, 05 foram na mesma instituição, com o mesmo orientador em quatro, o professor/professora Kazumi Munakata (PUC/SP), porém todas no mesmo programa.

Destas trinta e três teses e dissertações, apenas duas teses não estavam nos programas de Mestrado ou Doutorado em Educação. Ambas estavam no Programa de Doutorado, um de Educação em Ciências e o outro em Línguas Modernas, sendo respectivamente uma instituição particular e outra pública estadual.

Esse panorama nos mostra que quase cinquenta por cento dos trabalhos estão em

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33 Universidades Federais e aproximadamente setenta por cento em instituições públicas, sinalizando para sua relevância e interesse, até por que o livro didático e sua utilização na escola fazem parte da cultura escolar.

A figura 1 apresenta os números de escolas atendidas, aluno/alunas beneficiados e exemplares distribuídos, assim como o valor gasto por estas ações. Utilizamos os dados de 2019 pois é o ano referente a primeira inclusão dos didáticos de Educação Física .

Figura 1: Escolas Atendidas por Livros idáticos - Fonte: FNDE, 20195.

Podemos perceber que no Brasil, as políticas públicas adotadas pelo Estado com relação ao livro didático dão ao país uma particular inserção no contexto internacional. Amorim (2006), ao caracterizar o Brasil em relação aos programas de livros escolares no mundo no início do século XXI, observa que o país, por meio do PNLD, detém o maior programa de distribuição de livros didáticos do mundo. Porém, em comparação aos dados expressos no PISA isso não demonstra avanços gerais comparado a países como Colômbia e Chile, por exemplo. Falaremos disso mais à frente. Retornemos então a revisão de literatura.

Os trabalhos analisados apontam para inúmeras temáticas: contextos legislativos e normativos que o regulamentam ou que regulamentam a sua concepção, produção, difusão, financiamento e utilização. A forte influência exercida pelo Banco Mundial (BIRD) na política macroeconômica brasileira irradia-se sobre diversos setores, entre eles, a educação.

Filgueiras (2011) baseando-se em autores como Chervel (1990), Goodson (1990) e Choppin (1998; 2000; 2002; 2004), analisou os processos de avaliação de livros didáticos no Brasil, pela perspectiva histórica desde os anos 1930, quando da primeira avaliação organizada em âmbito federal.

5 Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/pnld/dados-estatisticos. Acesso em 26/04/2020.

Referências

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