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Reabilitação urbana através de seus espaços públicos : corredor cultural e a praça Santos Andrade

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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUCAS MASSATO FUJIYAMA

REABILITAÇÃO URBANA ATRAVÉS DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS:

CORREDOR CULTURAL E A PRAÇA SANTOS ANDRADE

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2018

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LUCAS MASSATO FUJIYAMA

REABILITAÇÃO URBANA ATRAVÉS DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS:

CORREDOR CULTURAL E A PRAÇA SANTOS ANDRADE

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso 1, do curso superior de Arquitetura e Urbanismo do Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo – DEAAU, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Drª. Rafaela Antunes Fortunato

CURITIBA 2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

Corredor cultural: Setor Praça Santos Andrade

Por

LUCAS MASSATO FUJIYAMA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 15 de Junho de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Marco Nogara PUC PR

Prof. Thais Martins UT FPR

Profa. Debora Rocha UTFPR

Prof. Rafaela Fortunato (orientadora) UTFPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo

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Dedico este estudo a todos aqueles que acreditam numa cidade mais diversificada e democrática.

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AGRADECIMENTOS

Com muito carinho, emoção e reconhecimento da importância dessa pessoa, dedico os meus mais sinceros agradecimentos ao:

Meu pai, Masashi Fujiyama, pelo incentivo a seguir os meus sonhos e o que me faz sentir feliz.

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Ao longo da minha trajetória acadêmica, muitas pessoas foram relevantes para a minha construção pessoal e profissional, deixo registrado aqui minha gratidão a todos, que passaram por minha vida, em especial:

Aos colegas de faculdade que compartilharam seus conhecimentos e experiências e fizeram do ambiente acadêmico, um lugar mais leve de estar;

À minha amiga e irmã Renata Klimovicz Munhoz da Rocha por sempre estar do meu lado;

À equipe do NovoEscritório pela oportunidade de estar trabalhando junto à eles em projetos tão incríveis que me fazem acreditar na arquitetura como um importante instrumento social;

Aos arquitetos Caroline Güral Nunes e Luiz Claudio Vasconcellos Maingué por terem me inspirado e me apoiado com o tema desse trabalho, e também me fizeram ter um novo olhar sobre a arquitetura, de uma maneira profissional e ao mesmo tempo apaixonante;

Ao grande amigo Ricardo Garcia Scaramuci por ajudar a levar a vida de uma maneira mais leve;

À minha orientadora Dra. Rafaela Antunes Fortunato pela paciência e aprendizado nesse trabalho tão relevante para o meu crescimento pessoal e profissional;

Cada pessoa que passa por nós, nos deixa uma lição, poderia escrever um livro apenas com esses ensinamentos adquiridos nas relações, mas deixo isso para uma outra oportunidade, onde seja mais conveniente, é com amor que penso em todos.

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RESUMO

FUJIYAMA, Lucas Massato. Reabilitação Urbana Através de seus Espaços

Públicos : Corredor Cultural e Praça Santos Andrade. 2018. Monografia do

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2018.

O presente estudo busca propor um projeto urbano e paisagístico que possa criar uma conexão entre as sedes culturais curitibanas localizadas na região central da cidade, tendo o calçadão da XV como eixo principal de ligação entre elas. A praça Santos Andrade como espaço receptor desse Corredor Cultural, terá um enfoque maior de projeto, ligando assim, elementos que podem recuperar uma identidade da região central de Curitiba não só com os edifícios mas com os transeuntes também. A primeira etapa do trabalho consiste em entender como o estudo urbano pode ter influência para uma melhor experiência sensorial das pessoas que usam a cidade e como o cidadão se relaciona com o meio urbano e suas memórias. Os estudos de referência mais relevantes para o projeto são praças em áreas centrais da cidade que estabelecem uma forte conexão com os edifícios já existentes e a população; criando ainda, espaços que deem abertura para o cenário cultural urbano. Posteriormente unindo as informações referenciais e a interpretação da realidade é possível estabelecer diretrizes que sejam aplicáveis à cidade de Curitiba, respeitando o caráter histórico e de uso de sua região central.

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ABSTRACT

FUJIYAMA, Lucas Massato. Urban Rehabilitation Through its Public Spaces:

Cultural Corridor and Santos Andrade Square. 2018. Monograph of the Work

of Completion of Course (Bachelor of Architecture and Urbanism), Federal Technological University of Paraná, 2018.

The present study aims to propose an urban and landscape design project that can create a connection between the cultural centres of Curitiba located in the central region of the city, with the promenade of XV pathwalk as the main link between them. The Santos Andrade Square as a receptor space for this Cultural Corridor will have a greater focus on design, thus linking elements that can recover an identity of the central region of Curitiba not only with the buildings but also with the passers-by. The first stage of the work is to understand how the urban study can have influence for a better sensory experience of the people who use the city and how the citizen relates to the urban environment and its memories. The most relevant reference studies for the project are squares in central areas of the city that establish a strong connection with existing buildings and the population; creating spaces that open the urban cultural scene. Later joining the reference information and the interpretation of reality it is possible to establish guidelines that are applicable to the city of Curitiba, respecting the heritage and use of its central region.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Uso das propriedades do Pelourinho em 1999 ... 45 Tabela 2 - Estátuas da Praça Santos Andrade. ... 104 Tabela 3 - Matriz CDP para Praça Santos Andrade. ... 125

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1- Centro de Curitiba na escala macro. ... 109 Mapa 2 - Centro de Curitiba na escala meso (calçadão da XV). ... 113 Mapa 3 – Centro de Curitiba na escala micro (Praça Santos Andrade). ... 115

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LISTA DE ABREVIATURAS

IPAC -BA – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba BBC-UK – British Broadcast Corporation United Kingdom

ONU – Organização das Nações Unidas

SEI – Superintendência de Estudos Econômicos

SENAC – Serviço nacional de Aprendizagem Comercial SESC – Serviço Social do Comércio

UFPR – Universidade Federal do Paraná

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - a escala humana ... 23

Figura 2 - a escala do edifício ... 24

Figura 3 - Ruas vazia (insegurança) ... 26

Figura 4 - Rua cheia (segurança) ... 26

Figura 5 - Pruit Igoe vista aérea ... 27

Figura 6 - Corredores do conjunto Pruit Igoe ... 28

Figura 7 - Barcelona antes e depois ... 30

Figura 8 - projeto de superquadras em Barcelona ... 31

Figura 9 - Gráfico do Plano de Mobilidade de Barcelona. ... 32

Figura 10 - Projetos de intervenção urbana em Nova Iorque ... 33

Figura 11 - Parc de La Vilette ... 35

Figura 12 - Casa Friederich Kirchgässner ... 39

Figura 13 - Casa Friederich Kirchgässner atualmente ... 39

Figura 14 - Pelourinho em 1859. ... 45

Figura 15 - Pelourinho em 2015 ... 46

Figura 16 - Jardim da Prefeitura de Curitiba... 53

Figura 17 - Praça da Ucrânia ... 54

Figura 18 - Parque Barigui. ... 54

Figura 19 - Fonte de Jerusalém (Curitiba). ... 55

Figura 20 - Jardim Botânico (Rio de Janeiro) ... 56

Figura 21 - Calçadão da XV. ... 57

Figura 22 - Planento urbano radial de Curitiba (1943). ... 59

Figura 23 - Corte longitudinal praça Montt Varas. ... 63

Figura 24 - Perspectiva aérea da praça Montt Varas ... 63

Figura 25 - Esquema praça Montt Varas ... 64

Figura 26 - Praça Montt Varas ... 64

Figura 27 - Esquema Perspectivado Praça Montt Varas ... 65

Figura 28 - Praça Montt Varas à noite ... 66

Figura 29 - Esquema aéreo da Praça Montt Varas ... 67

Figura 30 - corte transversal Praça Montt Varas. ... 68

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Figura 32 - Old Post Office ... 69

Figura 33 - American Theatre... 70

Figura 34 - Esquema Perspectivado Old Post Office Plaza. ... 70

Figura 35 - Vista aérea Old Post Office Plaza. ... 71

Figura 36 - Planta Old Post Office Plaza. ... 73

Figura 37 - Imagem noturna da Old Post Office Plaza. ... 74

Figura 38 - Fachada do Grand Theatre na Old Post Office Plaza. ... 74

Figura 39 - Foto da antiga Old Market Square. ... 75

Figura 40 - Esquema Praça Old Market. ... 76

Figura 41 - Edifício da Câmara do Conselho de Nottingham. ... 77

Figura 42 - Esquema Perspectivado Old Market Square. ... 78

Figura 43 - Cascata no piso de granito presente na Old Market Square. ... 79

Figura 44 - Vista noturna da Old Market Square. ... 80

Figura 45 - Planta da Old Market Square. ... 81

Figura 46 - Projeto apresentado na Expo2017. ... 82

Figura 47 - Esquema comparativo dos estudos de caso. ... 84

Figura 48 - Praça Santos Andrade durante o dia. ... 101

Figura 49 - Praça Santos Andrade durante a noite. ... 102

Figura 50 - Árvores Protegidas na Praça Santos Andrade . ... 103

Figura 51 - Feira do Livro 2017 que ocorreu na Praça Santos Andrade. ... 106

Figura 52 - Feira de Inverno que ocorre na Praça Santos Andrade. ... 106

Figura 53 - Mapa Área Calma, Curitiba. ... 112

Figura 54 - Calçadão da XV. ... 114

Figura 55 - Diretriz projetual para Praça Santos Andrade ... 121

Figura 56 - Diretrizes de ciclovia para Praça Santos Andrade. ... 123

Figura 57 - Esquema praça Santos Andrade ... 125

Figura 58 - Pavilhão estadunidense na Bienal de Veneza, módulo 1. ... 126

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 15 1.1. DELIMITAÇÃO DO TEMA ... 16 1.2. PROBLEMA DA PESQUISA ... 16 1.3 OBJETIVOS ... 16 1.3.1. OBJETIVO GERAL... 16 1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 17 1.4 JUSTIFICATIVAS ... 17 1.5 METODOLOGIAS ... 18 1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO ... 19 2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ... 20

2.1. A RELAÇÃO ENTRE O INDIVÍDUO E A MALHA URBANA ... 20

2.1.1. A ESCALA HUMANA E A DA CIDADE ... 22

2.1.2. O PERTENCIMENTO AO AMBIENTE URBANO ... 25

2.1.2. CIDADES MODELO ... 28

2.2. OS ESPAÇOS PÚBLICOS ... 33

2.3. MEMÓRIA E PATRIMÔNIO ... 37

2.3.1. OS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO... 40

2.3.2. O TURISMO CULTURAL COMO ALTERNATIVA DE PROTEÇÃO ... 43

2.4. O ESPAÇO CULTURAL ... 46

2.5. A PRAÇA COMO CENÁRIO CULTURAL ... 50

2.5.1. O CONTEXTO DA PRAÇA COMO UM ESPAÇO PÚBLICO ... 50

2.5.2. REFÚGIOS VERDES ... 52

2.5.3. TIPOLOGIAS ... 53

2.6. O CRESCIMENTO URBANO: O CASO DE CURITIBA ... 58

2.5.5. DISCUSSÃO ... 60

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3.1. PRAÇA MONTT VARAS ... 62

3.2. OLD POST OFFICE PLAZA ... 68

3.3. OLD MARKET SQUARE ... 75

3.4. EXPO 2017 ... 81

3.5. CONSIDERAÇÕES QUANTO ÀS OBRAS ESTUDADAS... 82

4. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ... 85

4.1. O CENTRO CULTURAL ... 86

4.2. CALÇADÃO DA RUA XV ... 97

4.2.1. HISTÓRIA ... 97

4.2.1. LAZER E ENTRETENIMENTO ... 99

4.3. PRAÇA SANTOS ANDRADE ... 100

4.3.1. HISTÓRIA ... 100 4.3.2. PATRIMÔNIO ... 102 4.3.3. ATIVIDADES ... 105 4.3.4. ACESSIBILIDADE ... 107 4.4. ANÁLISE DO TERRENO ... 108 4.4.1. MACRO ... 110 4.4.2. MESO ... 114 4.4.3. MICRO ... 115 4.4.4. CONCLUSÃO DA ANÁLISE ... 116 4.5. O “DESAGRADO” SOCIAL ... 117 5. DIRETRIZES PROJETUAIS ... 118 5.1. PROPOSTAS ... 119

5.2. O VAZIO COMO ESPAÇO PARA INTERVENÇÕES ... 126

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 127

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1. INTRODUÇÃO

O modo como interagimos com a cidade e ela interage conosco é essencial para a criação de laços de identidade, que depois de formada pode vir a auxiliar numa melhor interação entre os indivíduos, formando assim um ciclo empático (JACOBS, 2001). Uma das maneiras mediadoras entre a pessoa e o meio no qual ela está fisicamente presente mais recorrente é o contato com à cultura, que infelizmente pode ser dificultado pela sua falta de acessibilidade. O potencial curitibano para com a cultura necessita de um espaço físico para ser devidamente expressado. A proposta de um Corredor Cultural em Curitiba surge no intuito de através da arquitetura e urbanismo propor ressignificações aos ambientes, e através de um projeto urbano, resgatar a identidade da rua e da praça como pontos de lazer e encontro (GNOATO, 2017). Ao percorrer o calçadão da XV de Novembro em sua extensão é possível notar o intenso fluxo durante os dias de semana, principalmente devido ao comércio e por ser um importante eixo de ligação entre as regiões centrais da cidade, mas a maior parte do movimento tem o caráter apenas transitório, o que acaba por não criar uma conexão da rua com as pessoas que a usam.

Enquanto isso a praça Santos Andrade abriga em sua maior parte os acadêmicos, estudantes da Universidade Federal do Paraná que utilizam a praça como uma extensão do Prédio Histórico; e nela também se localizam importantes sedes culturais, símbolos da história curitibana, como o Teatro Guaíra e a caixa Cultural. Porém analisando a praça, percebemos a desvalorização de seu espaço e a quebra de conexão no que deveria ser um eixo relevante entre o prédio histórico e o teatro Guaíra, escondendo suas potencialidades e os potenciais edifícios ao redor.

Como pode ser percebido há uma grande gama cultural ao longo dos espaços mencionados, porém não existe uma conexão entre elas, algo que as torne unânimes mas sem a perda de identidade da história que carrega cada uma, a facilidade na circulação das pessoas ao longo desse eixo cultural, traria um maior conforto e também uma apropriação mais viva das pessoas com a cidade, com as ruas, e os trechos pelos quais transitam.

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1.1. DELIMITAÇÃO DO TEMA

O presente trabalho tem como intuito dar embasamento teórico para a criação de um projeto de Corredor Cultural que liga as sedes culturais na região central de Curitiba, partindo de um eixo principal, o calçadão da XV de novembro, resgatando o centro de Curitiba como ponto de encontro e de atividades democráticas. A praça Santos Andrade no final desse eixo principal também entra no estudo de reabilitação, a fundo de otimizar sua função como um espaço público.

1.2. PROBLEMA DA PESQUISA

Como elaborar através de um plano urbano e paisagístico uma integração das sedes culturais de Curitiba, conectando também esses edifícios com os transeuntes que passam por elas? O questionamento se aplica também ao planejamento da cidade, em como criar ambientes numa escala urbana que possam interagir e gerar interações com as pessoas.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo central desse trabalho é a elaboração de um plano de projeto urbano integrador das sedes culturais curitibanas localizadas na região central de Curitiba, criando, nesse caminho que será o Corredor Cultural, ambientes que facilitem a propagação de cultura e entretenimento para as pessoas, onde a praça Santos Andrade recebe maior atenção por abrigar duas instituições importantes para o estudo: o Teatro Guaíra e o Prédio Histórico da UFPR.

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1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Como objetivos específicos têm-se:

l. Estudar a maneira pela qual um projeto urbano pode incentivar o maior uso da cidade pelos mais diversos grupos, embasando a pesquisa em urbanistas que estudam o espaço público;

ll. Apresentar projetos propostos que se assemelhem ao tema e fazer a relação entre eles, analisando as consequências possíveis, tanto positiva quanto negativas, que a reabilitação urbana pode atingir em lugares culturalmente diferentes;

lll. Analisar a relação do indivíduo com os espaços públicos urbano, e estudar uma maneira na qual essa relação possa se estender de ambientes abertos para fechados (que seriam as sedes cultuais);

lV. Integrar as praças ao seu eixo principal, criando uma ligação mais forte delas com o urbano ao redor;

V. Reestabelecer a força de identidade de uma área com tanto valor histórico, mas levando em consideração as mudanças já passadas por ela.

1.4 JUSTIFICATIVAS

A cultura representa a identidade do ser humano, onde ideias, comportamentos e símbolos podem ser expressados, das mais diversas maneiras possíveis. Segundo Declaração universal dos Direitos Humanos, estabelecida em 1948, todas as pessoas devem participar da vida cultural e praticá-la também, com o devido respeito às culturas diversas.

As sedes culturais portanto têm uma grande importância no cenário urbano, podendo propiciar atividades socialmente democráticas e ao mesmo tempo estabelecendo uma conexão não só de pessoas, mas arquitetônica, com a cidade também (LOPES, 1998).

Na realidade atual, Curitiba conta com amplas opções de espaços destinados à arte e cultura; apesar de majoritariamente localizados na região central da cidade, área de grande fluxo e circulação, essas sedes culturais estabelecem uma barreira com o meio urbano, a partir do momento que não

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“conversam” com o entorno, sendo pouco convidativas para quem passa por elas.

A falta de comunicação, não é exclusiva de cada uma, a conexão se perde a partir do espaço urbano que cria barreiras não necessariamente visuais entre as pessoas e a cidade, o pertencimento não é garantido ao cidadão em ambientes à ele desconhecidos, onde não há um certo apego histórico e cultural, não há identidade também (SERPA, 2015).

Em meio a esse contexto de falta de apropriação, o centro de Curitiba acaba que por adquirir uma identidade apenas comercial para as pessoas que por ele transitam, espaços públicos como o calçadão da XV e a praça Santos Andrade tornam-se apenas de passagem, Lynch (1990) observa que a cidade é vivida de dentro das casas, onde o lado externo é visto como um espaço inseguro, que não pertence ao cidadão.

O conceito de reabilitação surge então no intuito de reverter o processo de expansão urbana através do constante alargamento de suas fronteiras periféricas e ao mesmo tempo repovoar e dinamizar áreas centrais já consolidadas: isto contribui com a amenização da divergência social e espacial e melhora as possibilidades de integração de diversas classes de renda à economia e à vida urbana (Ministério das Cidades, 2005).

Através disso é de comum senso que o planejamento da cidade seja mais pensado para as pessoas, a irreversibilidade de edificações já construídas não é impedimento para que o ambiente urbano seja trazido na escala do cidadão. Assim, os espaços públicos surgem com a função de dar voz a quem faz uso da cidade (SERPA, 2015).

1.5 METODOLOGIAS

O método de pesquisa adotado para esta monografia é a pesquisa de referências bibliográficas, artigos de pesquisa e outras publicações possivelmente relevantes para o estudo do planejamento urbano de uma cidade, não só em quesitos técnicos mas psicológicos também, intencionando a entender a relação da pessoa com a cidade.

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Questões burocráticas e jurídicas devem ser analisadas também para garantir a realidade do projeto e dos usos permissíveis e permitidos ou proibidos nas áreas estudadas.

A interpretação da realidade será realizada com estudos in loco, entrevistas com as pessoas que transitam o local e percepções pessoais.

1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho está estruturado em seis principais capítulos.

O primeiro é o introdutório, onde é possível ter uma base para os próximos que virão, e entender superficialmente sobre o que esse trabalho se trata e as estratégias escolhidas para se chegar à conclusão dele.

O segundo capítulo é a conceituação temática, que será estudado a relação da cidade com o indivíduo, como a história e patrimônio influenciam na identidade com a malha urbana, e servirá de apoio para entender a influência do urbano em sua escala macro, com as pessoas que fazem uso da cidade.

As referências e estudos de caso poderão ser encontradas no terceiro capítulo, a intenção através delas é criar uma relação do espaço público inserido num meio já densificado por edifícios e o contexto também no qual eles foram inseridos e as consequentes mudanças que poderão ser geradas.

O capítulo quarto traz a interpretação da realidade, e a devida importância do estudo no local antes de qualquer mudança planejada, entender como o setor funciona atualmente e qual a ligação, se existir uma, entre as sedes culturais já existentes na área do Corredor Cultural.

No quinto capítulo encontram-se as diretrizes projetuais formadas a partir dos estudos de caso e interpretação da realidade, a fim de dar base e apresentar parâmetros para a realização do projeto urbano.

Por último, as considerações finais, que trazem uma ligação com o primeiro capítulo, sendo conferido se os objetivos específicos puderam ser alcançados e de que maneira isso foi possível.

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2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

No presente capítulo serão abordados diversos temas sobre o urbano, e que posteriormente se juntam para a elaboração das diretrizes de um projeto, que deve ser plural e com contribuições de diversas áreas de conhecimento.

Primeiramente, será explorada a influência do planejamento urbano sobre o indivíduo e como isso pode afetar positiva ou negativamente a experiência da pessoa com o espaço em que transita. Por segundo, ampliando a análise do urbano, o espaço público e sua importância; em terceiro, elementos da memória e patrimônio, e sua influência histórica nos ambientes, que criam um elo com a cidade e as pessoas que por ela transitam. Em seguida será realizada uma análise do espaço cultural observando o papel da cultura na sociedade e como através dela e da arquitetura é possível promover a junção de diferentes grupos. Por último o capítulo aborda as praças e suas tipologias, unindo os subitens anteriores e aplicando-os em espaços urbanos.

2.1. A RELAÇÃO ENTRE O INDIVÍDUO E A MALHA URBANA

Muito se fala da relação do indivíduo com a cidade, onde através de estudos experimentais e morfológicos, é possível estabelecer planos e projetos já direcionados a uma melhor experiência urbana.

No entanto, por mais que a intenção dos planos urbanos seja a de melhoria da vida pública, a partir de setorizações, mobiliários e criação de espaços; a prática acaba algumas vezes sendo deixada de lado devido às influências maiores de poder, implicando um sentimento de impotência ao cidadão e qualquer outra pessoa que faça uso do espaço supostamente planejado (HARVEY, 2001).

A falta de planejamento futuro para as cidades, também gera o descontrole do adensamento, gentrificação, ocupações irregulare, e outras consequências negativas. A cidade demanda atenção constante e em diferentes escalas, o trabalho de um planejamento urbano é delicado e deve contar com a participação de todos que fazem o uso da polis. Porém, muitas vezes devido à falta de acessibilidade e informações, os cidadãos ficam a parte daquilo que estão dentro: o município e suas funções. (GEHL, 2003).

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Com os vários problemas já instituídos na malha urbana, e o aumento da demanda por lotes e espaços vazios, uma alternativa imediata para uma cidade mais humana é a reabilitação dos espaços já existentes, procurando alternativas que possam agregar não necessariamente no quantitativo, mas a maior parte da população da maneira mais democrática possível. (ONU, 2016).

Por isso o estudo da cidade é necessário, a partir da maneira no qual ela funciona e como ela se comunica com as pessoas que por ela circulam. Onde os detalhes que nos passam as vezes despercebidos, têm grande relevância nessa relação. Harvey retrata bem em uma das passagens de seu livro “A Condição pós moderna”, até de uma maneira um tanto quanto dramática e fantasiosa, sobre a experiência do que é morar numa cidade e fazer parte dela.

Para o bem ou para o mal, [a cidade] o convida a refazê-la, a consolidá-la numa forma em que você possa viver neconsolidá-la. Você também. Decida quem você é, e a cidade mais uma vez vai assumir uma forma fixa ao seu redor. Decida o que ela é, e a sua própria identidade será revelada, como um mapa fixado, por triangulação. As cidades, ao contrário dos povoados e pequenos municípios, são plásticas por natureza. Moldamo-las à nossa imagem: eMoldamo-las, por sua vez, nos moldam por meio da resistência que oferecem, quando tentamos impor-lhes nossa própria forma pessoal. Nesse sentido, parece-me que viver numa cidade é uma arte, e precisamos do vocabulário da arte, do estilo, para descrever a relação peculiar entre homem e material que existe na contínua interação criativa da vida urbana. A cidade tal como a imaginamos, a suave cidade da ilusão, do mito, da aspiração, do pesadelo, é tão real, e talvez mais real, quanto a cidade dura que podemos localizar nos mapas e estatísticas, nas monografias de sociologia urbana, de demografia e de arquitetura. (HARVEY, 1989 p.9/10)

Enquanto posto por geógrafo, estar num ambiente urbano e por consequência estabelecer uma linguagem com ele, os elementos urbanos são necessários para que haja a interação entre o indivíduo e a cidade, a “arte” de viver numa cidade, demanda também definições de espaços e limite para que a malha seja transitável e acessível; Para Jacobs(2001) em seu livro Vida e Morte das Grandes Cidades, esses elementos não podem ser analisados de maneiras

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individuais, mas sim contextualizados no meio em que estão inseridos, ligados às ruas e edificações.

Os elementos básicos carregam juntos à sua morfologia, fatores que vão além do “palpável”, tratam também de sentimentos e sensações. Calçadas e quadras e como elas são inseridas na malha urbana são analisadas por Jacobs (2001) como elementos importantes no plano urbano, indo além do apenas “transitável” mas também abrangendo o conforto e a segurança de quem por eles circulam.

2.1.1. A ESCALA HUMANA E A DA CIDADE

Gehl (2015) em entrevista à revista AU, coloca em suma a situação de planejamento urbano da atualidade, e que infelizmente se alastra a partir do momento que a densidade nas cidades aumenta. Segundo o arquiteto, as edificações têm sido construídas num nível que um veículo aéreo possa ver, e não um pedestre na calçada, onde cidades não são mais construídas como conglomerações de espaços urbanos, mas como edificações individuais.

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Figura 1 - a escala humana

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Figura 2 - a escala do edifício

Fonte: GEHL, 2015.

Se forem analisadas por suas dimensões, as cidades diferenciam-se de acordo com o número de seus habitantes, se por aspectos econômicos distintos, com base, por exemplo, no valor da produção industrial e da receita do comércio e serviços e a renda de seus habitantes. Cidades pequenas, médias, grandes e

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centros metropolitanos, são classificadas a partir desses dois termos mencionados anteriormente.

As funções para as quais a localização no espaço desempenha ou desempenhou um papel crucial, se faz entre cidades monofuncionais, como uma função caracterizadora, e cidades polifuncionais, combinando diferentes funções (industrial, comercial, de serviços, portuária, etc.). A partir de suas funções, mas também de outros atributos como a renda de seus habitantes, estabelecem-se fluxos entre as cidades e entre estas e sua região metropolitana, bem como fluxos com centros e regiões extra-regionais. Caracterizam-se assim fluxos por mercadorias, pessoas, informações e de capital. (CORRÊA, 2003).

Em discussão, as escalas de acordo com a função tornam-se fundamentais na definição do perímetro urbano e do planejamento de seus setores e vias, estabelecendo uma hierarquização dos espaços, com estes já delimitados entra-se no critério da cidade para as pessoas, com zonas já definidas, de comércio, moradia e outros usos, pode-se definir a escala arquitetônica num nível mais humano.

2.1.2. O PERTENCIMENTO AO AMBIENTE URBANO

De modo a fundamentar a importância da malha urbana na relação entre os indivíduos a partir de seus elementos, é possível explicar o porquê elementos da natureza da cidade precisam ser estudados com cuidado. Assim num conjunto é possível qualificar a devida significância a tais elementos, não exatamente em suas maneiras mais funcionais, mas a questão que é relevante a este capítulo, se tratando sobre a relação cidade/indivíduo. O mais importante a ser analisado são os aspectos sensoriais ao andar por calçadas e quadras da região urbana.

O objetivo deste subitem não é ir até a raiz dos problemas sociais e como cada um afeta a cidade, mas trazer alguns questionamentos de como eles podem ser enfrentados em meio à crise urbana. E é a partir da interação que acontece no meio urbano, que sensações como a de insegurança e medo, comuns em grandes cidades, podem ser solucionados.

Segundo Jacobs (2001), o indivíduo como cidadão torna-se responsável do meio onde vive e frequenta, calçadas movimentadas constantemente são

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preferíveis de passeio, justamente pela sensação de segurança de estar num ambiente de maior fluxo e, consequentemente, mais pessoas cuidando do que acontece em sua volta. Essa “vigia” se estende para os edifícios que fazem parte da malha, pois a movimentação contínua é digna de ser observada por indivíduos que não necessariamente precisam estar na rua, para estar vivendo ela.

Figura 3 - Ruas vazia (insegurança)

Fonte: Autor: (2017).

Figura 4 - Rua cheia (segurança)

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O principal atributo de um distrito urbano próspero é que as pessoas se sintam seguras e protegidas na rua em meio a tantos desconhecidos (JACOBS, 2000, p. 30).

Um contra exemplo para ser usado na questão da segurança em cidades é a de Pruitt-Igoe e as ruas privadas de St. Louis. Newman (1996) que estudou o caso de degradação do conjunto, inserido de maneira questionável na malha urbana, percebeu que o sentimento de posse, de espaços considerados pertencentes às pessoas eram bem conservados, em contraponto com os decadentes espaços de uso conjunto.

O arquiteto, porém, se contrapõem ao argumento de Jacobs que estranhos nos espaços podem tanto ser considerado ameaças como também vigilantes, e essa dualidade não necessariamente causa a sensação de segurança.

Portanto, é possível unir esses dois pontos de vista e entender que o cidadão cuida daquilo que ele considera seu. Dessa forma a cidade e seus elementos devem estabelecer uma relação forte de pertencimento para com os cidadãos.

Figura 5 - Pruit Igoe vista aérea

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Figura 6 - Corredores do conjunto Pruit Igoe

Fonte: Defensible Space (1974).

2.1.2. CIDADES MODELO

O termo cidade modelo pode soar um pouco pretensioso, mas a intenção desse subcapítulo não é estabelecer elementos de “cópias” de planos urbanísticos que funcionaram, mas analisar como intervenções e mudanças em uma malha urbana já designada podem melhorar a relação do indivíduo com a cidade.

Para se ter o título de uma cidade modelo, numa linguagem global, alguns itens precisam ser compreendidos como: preparo para a vida em comunidade, com a requalificação do desenho urbano e a universalização dos serviços; garantia da mobilidade e da acessibilidade a partir de sistemas públicos de transportes de massa; uso e ocupação do solo mesclados a uma variada estrutura funcional; valorização da atratividade urbana a partir da identidade e qualidade ambiental; existência de uma base econômica sustentável; organização funcional e tecnológica para a realização de negócios; capacidade de articulação e troca de práticas inovadoras com outras cidades e comunidades; participação comunitária nas decisões; parcerias entre o setor público e o privado; planejamento contínuo e transparência na gestão. (SANCHÉZ et al., 1999).

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Conforme Sanchéz (1999) as cidades modelo são perfis de cidades dinâmicas e competitivas, porém, os exemplos usados aqui, apesar de serem cidades que podem ser bem caracterizadas num ranking internacional de economia, além dos itens acima citados, fazem jus ao termo de cidade modelo pela participação dos habitantes na cidade, pelas políticas urbanas também serem voltadas para a melhoria destes então são cidades que se adaptaram aos problemas atuais e através de planos urbanos, tentam resolver a problemática que tantas outras cidades sofrem, mas insistem em esconder por debaixo do tapete. A cidade quando recebe a devida atenção e gestão, trabalha de maneira funcional e prática, projetos de reabilitação e uso de espaços vazios são essenciais para o bom caminhamento da vida urbana.

Nesse subitem serão avaliados exemplos de algumas cidades que através de seus planejamentos urbanos, em conjunto com projetos arquitetônicos e outros de teores publicitários e políticos, que não vem ao caso para o projeto.

O caso de Barcelona é um dos mais conhecidos atualmente, onde políticos e arquitetos da cidade foram protagonistas das mudanças (Moix, 2002; Muñoz, 2008b). Sede dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade espanhola pasou por grandes transformações em um curto período de tempo, essas mudanças tiveram um alto valor significativo na ocupação de Barcelona, seja pelos turistas ou pelos próprios catalães. Um dos fatores que colaboraram para maior efetividade do plano foi a junção do setor público e privado na elaboração dos projetos envolvidos. (QUEIRÓS, 2010).

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Figura 7 - Barcelona antes e depois

Fonte: Prefeitura de Barcelona (2000)

Segundo Busquets (2004) a importância maior do projeto corresponde à recuperação da democracia e ao importante papel de associação dos “vizinhos”, uma relação harmoniosa entre políticos, arquitetos e engenheiros, mesmo que para a promoção da cidade internacionalmente, mas que teve benefícios diretos aos moradores da cidade.

Na versão de Capel (2005), afirma que sempre há salvação para os problemas urbanos, com uma boa gestão pública e política. Ambos concordam também que não existe um plano geral urbanístico, e o que se aplica em uma cidade não necessariamnete funcionará na outra, mas o ponto maior desse caso de planejamento estratégico, é como já foi comentado anteriormente, a participação constante das pessoas no ambiente usados por elas, a associação de diferentes áreas para o desenvolvimento urbano da cidade que consequetemente elevaria para o social e econômico.

Um dos fatores que apesar de não ser muito divulgado mas é de extrema relevância para o processo de requalificação de Barcelona, e a tranformação no que ela é hoje, é o fato dos próprios moradores da cidade reinvindicarem pelos direitos e melhorias dos bairros (ZAIDA, 2017).

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Em processos contínuos, infraestruturais e estéticos também, a cidade espanhola priorizou as pessoas, tornando as ruas centrais e de comércio, peatonais. Atualmente, Barcelona continua elaborando projetos estabelecidos através das necessidades da cidade, dados de pesquisa informaram que a maior parte da população fazia uso do transporte coletivo e outros meios sustentáveis. “Em 2011, os meios de transporte mais usados de Barcelona eram o transporte público (39,9%) e as caminhadas (31,9%). Logo atrás vinha o automóvel particular (26,7%) e, por último, a bicicleta (1,5%).” A prefeitura da cidade, embasando-se nos dados de mobilidade, desenvolveu então um plano urbano de superquadras (Prefeitura de Barcelona, 2013).

A proposta agrupa nove quadras da cidade em uma única superquadra (400x400 metros), onde calçadas forma alargadas, o limite de velocidade foi reduzido para 10 km/h nas áreas próximas aos espaços peatonais, e desviou-se o fluxo de veículos para as bordas, liberando o centro para pedestres e ciclistas. No interior da superquadra, os únicos veículos permitidos são os de emergência, os dos moradores e os de carga.

Figura 8 - projeto de superquadras em Barcelona

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Além do projeto urbano em si, o departamento de mobilidade urbana da Prefeitura de Barcelona (2013) afirma que moradores e estudantes de arquitetura terão a autonomia de decidir as atividades possíveis para o local, mostrando de novo o poder da participação popular numa cidade exemplo.

Figura 9 - Gráfico do Plano de Mobilidade de Barcelona.

Fonte: Plano de Mobilidade Urbana de Barcelona PMU 2013 – 2018 (2016)

Outro estudo de caso relevante para o presente trabalho é a cidade de Nova Iorque, além do famoso “sistema de grade” elaborado através do plano urbano “The Commissioners” em 1811 (MARCUSE, 1987) o crescimento da cidade demanda por novidades de ideias e projetos.

A partir daí, a Liga de Arquitetura, junto ao Museu da cidade de Nova Iorque e ao escritório de arquitetura Architizer, convocaram arquitetos e urbanistas para um concurso de projetos para uma nova malha urbana, projetos de intervenção das mais diferentes escalas foram mostrados, podendo assim ter um grande repertório projectual urbano (Architizer, 2014).

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Figura 10 - Projetos de intervenção urbana em Nova Iorque

Fonte: Architizer (2014).

Nesse projeto, a interação entre o indivíduo e a cidade, acontece a todo momento e acaba que como consequência estabelecendo uma outra relação tão discreta quanto à anterior: a do indivíduo com os outros ao redor. Essa “interação indireta” vamos dizer, pode acontecer num despretensioso passeio pela rua, onde forçadamente diferenças entram em contato, o que estimula a tolerância e a convivência pacífica entre estranhos (JACOBS, 1961).

2.2. OS ESPAÇOS PÚBLICOS

Segundo definições geográficas, o conceito de território, assim como o de espaço público, tem fundamentação política. No entanto, atualmente já não é mais possível dizer que território tenha apenas o cunho político, levando em conta que pode ser utilizado em praticamente tudo, econômico, cultural e social no processo de produção do espaço. (SERPA, 2015).

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Forma e conteúdo são a um só tempo produtos e processos: são autocondicionantes, autoreferentes e historicamente determinados. Na análise do espaço público urbano, forma e conteúdo são portanto indissociáveis (SERPA, 2015 p.15).

No contexto histórico o poderio se estabeleceu em espaços públicos com o surgimento do capitalismo mercantil do século XIII, onde começa um processo de troca e movimentação de mercadorias e de informações que constitui o comércio capitalista da época. (HABERMAS, 2001)

Como conta Haberma (2001), nesse cenário, a burguesia, com a ajuda do Estado, se estrutura nas cidades e no comércio, levando a uma crescente contraposição entre as esferas pública e privada, fato que gera uma perda de espaço de representatividade pública. Uma vez que não está mais sob o domínio do poder soberano, a burguesia vai então se constituindo como classe consciente. Nesse processo, mostra que os senhores feudais e sua representatividade pública cederam espaço a outra esfera, a esfera do poder público, no sentido moderno do termo, onde público torna-se sinônimo de estatal, com um funcionamento regulamentado segundo competências de um aparelho. Dessa maneira, o poderio senhorial transformou-se em "polícia" e as pessoas privadas, submetidas a ela, constituíram um "público" (HABERMAS, 2001).

Para Serpa (2015), o fator histórico de sobreposições de poderes em espaços públicos fragiliza o espaço a partir do momento que a criação de um território politizado é imposta, em um ambiente onde as pessoas passam, ficam e passeiam, mas cada um permanece fechado em sua individualidade não fazendo jus correto ao que é denominado de “público” nos espaços, tornam-se ambientes sem interação.

A partir do momento que se entra em um espaço público, não absorvem-se os elementos que estão ao redor de maneira vazia de conceitos, tudo tem um sentido pessoal a partir do que já foi vivenciado pela pessoa. O espaço público começa então a funcionar, quando há a interação entre pessoas, de diferentes visões, criando a quebra efetiva do público e privado em espaços urbanos (HARVEY, 2001).

Infelizmente, os territórios situados no espaço público, e que vão marcar diferenças/desigualdades relativas aos modos de consumo e estilos de vida dos

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diferentes grupos e classes, têm expressão material, retratando uma “projeção espacial de relações de poder” (SOUZA, 2012). No entanto, essas relações de poder não caracterizam uma atuação política dos grupos e classes sociais no espaço público da cidade contemporânea: revelam, ao contrário, processos de segregação baseados em limites/barreiras que vão impor uma incipiente, ou mesmo nula, interação social e espacial entre os agentes que se apropriam do espaço urbano.

Segundo Serpa (2015), numa comparação de espaços públicos das praias de Salvador praças de Paris, o autor aponta dois efeitos de apropriação do espaço, o efeito de classes sociais (segmentação) e os efeitos de massa (transversalidade), enquanto por um lado a segmentação gera o isolamento de grupos, no outro temos a transversalidade como a normatização do comportamento, onde a individualidade permanece.

Figura 11 - Parc de La Vilette

Fonte: Espaços públicos e acessibilidade (2004).

As barreiras em espaços públicos são erguidas constantemente e de maneiras imperceptíveis, pois não necessariamente são barreiras físicas, onde o espaço estabelece fronteiras de cunho social, e acaba por virar uma grande área, fragmentada por espaços privatizados, não partilhado, mas dividido entre diferentes grupos e agentes. A acessibilidade acaba que por virar então limitada e controlada simbologicamente. (JOSEPH, 1998).

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O arquiteto curitibano Jaime Lerner (2017), afirma que a identidade gera o sentimento de pertencimento, a referência que nos orienta enquanto cidadãos. No âmbito urbano, a identidade se reflete nos vínculos que estabelecemos com os espaços da cidade, seus elementos de referência - patrimônio histórico, rios, ruas, praças e parques - que passam a fazer parte constitutiva do nosso cotidiano, o fator do pertencimento, porém, só funcionará no espaço público se houver o contato e também o choque desses dois com os outros transeuntes.

O espaço público acaba que por virar então uma divisão territorial, voltando aos conceitos geográficos de território, onde através da soberania de poder auto intitulada pela cultura predominante cria uma “apropriação simbólico-expressiva do espaço”, o qual se torna portador de “significados e relações simbólicas” (ALMEIDA, 2014).

A auto segregação do espaço conforme mencionado por Serpa (2015), volta a ser indicada no Parc de La Vilette quando o autor cita uma pesquisa de autoria de Ahmed Merghoub na praça parisiense. Para avaliar a pesquisa, uma breve contextualização deve ser feita sobre La Vilette; projetada pelo arquiteto Bernard Tschumi criou um cenário cinematográfico através de grandes jardins, e na intenção de transformar a praça num antro cultural, o arquiteto posicionou grandes projetos arquitetônicos de cunho musical, teatral e educacional. O público da praça, majoritariamente jovem ia fazer então proveito de todos os elementos culturais presentes no parque.

No entanto, segundo as pesquisas de Merghoub (1993) foi constatado que muitos dos jovens não faziam uso dos instrumentos culturais presentes da praça, alguns se quer sabiam da existência deles. A não casualidade dos encontros que se dão no parque também foi algo recorrente nas respostas dos entrevistados, quando indagados se consideravam La Villette um local de interação e sociabilidade. Ou seja: quem vai ao parque encontrar pessoas, o faz para encontrar amigos e conhecidos, sendo difícil a interação com outros grupos e indivíduos, nos usos que fazem do parque.

[...] a não interação dos múltiplos agentes que intervêm em um espaço aparentemente comum, mas não partilhado realmente, é moeda corrente, em razão das desigualdades sociais, das barreiras culturais ou

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das separações de ordem funcional, e isso, em todas as escalas, do local ao mundial (LÉVI; LUSSAULT, 2003, p. 214, tradução de Serpa).

Despolitizado e segregado, o que é chamado hoje de espaço público é também objeto de consumo e expressão de modismos, espaço do lazer e da diversão de indivíduos, grupos/classes e frações de classe que dele se apropriam de modo territorializado e segregacionista (SERPA, 2015).

O processo então de pensar em um espaço público consistiria num então esforço da cidade de promoção de espaços onde há a obrigação de conviver, e consequentemente realizar trocas. Como uma arte performática, onde o indivíduo é posto de frente com algo que não lhe é comum, enfrentando assim as consequências do inesperado (LUSSAULT, 2003).

O exercício da vida pública que deve ser treinado a partir dos espaços formados na cidade. Os cidadãos são a peça chave para o bom funcionamento de uma cidade, para a perpetuação de sua história e preservação de seu patrimônio, e é no espaço público que sentimos que fazemos parte daquela cidade e ela faz parte de nós. (JACOBS, 2011).

2.3. MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

A história da cidade ocorre através das pessoas que passam por ela. Lembranças espaciais são de grande importância na construção da cidade, especialmente quando se trata dos espaços públicos por ela ofertados. Mudanças ao longo do tempo que retratam as melhorias (ou não) na composição urbana. Os edifícios e monumentos viram então testemunhos do tempo. Nesse capítulo será abordado a importância do patrimônio e as técnicas de proteção à ele usadas.

Segundo o Decreto-lei nº 25 de 1937, entende-se como patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de bens móveis e imóveis, cuja conservação seja de interesse público e que por sua vinculação a fatos memoráveis da história do país. Após a Constituição Federal o termo foi abrangido para obras com valor de identidade.

O entender da época, não só no estilo predominante dela, mas todo o contexto pelo qual ela passou, são fatores predominantes quando analisamos

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um patrimônio, não se mexe apenas com a recuperação e volta ao original, mas sim com materiais e técnicas adotados. O pensamento de conservação deve ir muito além do estético, pois tem que se levar em consideração se a intervenção na obra condiz com o que ela dialoga com o entorno. A contemporização entre o presente e antigo, caracteriza então o restauro. (BRANDI, 2004).

Segundo Poulot (2009, p.230), “[...] para sua inclusão no patrimônio, monumentos ou sítios culturais devem ser marcados, em primeiro lugar, com um sinal positivo por indivíduos ou grupo”.

Na atualidade, preservar a memória tem sido cada vez mais fomentado. Muito além dos meios acadêmicos ou técnicos, preservar o passado e seus traços deixou de ser tarefa restrita de historiadores, arqueólogos, arquitetos ou urbanistas; a memória não mais se restringe a objeto de estudo de antropólogos, etnólogos, cientistas sociais ou ainda psicólogos. Cada indivíduo faz-se historiador de si mesmo e do grupo em que está inserido e os discursos relativos à preservação do patrimônio – seja arquitetônico e urbanístico, ambiental ou cultural, material ou imaterial – ganham a mídia e aparecem cada vez mais intensos entre os mais distintos grupos. (CUNHA, 2004).

Um exemplo quando se trata do cuidado (ou a falta dele, no caso) com patrimônio, e da precariedade de ensino e conhecimento que temos sobre ele, é o da casa de Friederich Kirchgässner, em Curitiba. Concluída a obra em 1932, ícone e pionera do movimento modernista na cidade, a casa foi tombada pela Secretaria de Estado da Cultura em 1991. Intacta em seu interior, a casa tornou-se também símbolo de descaso curitibano. Atualmente a obra encontra-tornou-se “escondida” em meio as pichações.

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Figura 12 - Casa Friederich Kirchgässner

Fonte: Catálogo exposição: Kirchgässner - um modernista solitário (2017)

Figura 13 - Casa Friederich Kirchgässner atualmente

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O novo acaba que por virar superior ao antigo, ganhando mais visibilidade e consequentemente espaços na cidade. As intervenções feitas em edifícios já existentes foram, ao longo do tempo, voltadas, em geral, para sua adaptação às necessidades da época e ditadas por exigências práticas e de uso. No entanto, noções que floresceram, isolada e esporadicamente, a partir do Renascimento e amadureceram entre os séculos XV e XVIII, foram posteriormente conjugadas na formação das vertentes teóricas da restauração: o respeito pela matéria original; a ideia de reversibilidade e distinguibilidade da intervenção; a importância da documentação e de uma metodologia científica; o uso como um meio de preservar os edifícios e não como a finalidade da intervenção; o interesse por aspectos conservativos e de mínima intervenção; a noção de ruptura entre passado e presente (LAGUNES, 2011).

Lagunes (2011), relembra que preponderantes foram ainda o despontar do Iluminismo, os debates gerados pelas aceleradas transformações decorrentes da Revolução Industrial e pelas destruições após a Revolução Francesa. Assim, a preservação de monumentos históricos assume significado essencialmente cultural, entendido, neste texto, como pautado nos valores formais, históricos, simbólicos e memoriais, em contraposição às ações de cunho prático.

2.3.1. OS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO

A função social do patrimônio como objeto de identidade de um espaço adquiriu caráter social, assim falando:

[...] a efetivação da preservação dos bens culturais só se encontra socialmente definida, ou seja, só aparece como fato social, quando o Estado assume a sua proteção e, através da ordenação jurídica, os institui e delimita oficialmente, enquanto bem cultural, regulamentado o seu uso, a finalidade e o caráter desses bens dentro de leis específicas de propriedade, zoneamento, uso e ocupação do solo. (MILET, 1988 apud FONSECA, 1997, p.54).

Por medidas de proteção e regulamentação, os instrumentos de proteção foram estabelecidos por diferentes legislações ao longo do tempo, e atualmente

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constituem uma gama de alternativas a serem empregadas a depender da natureza do bem (IPHAN, 1972).

Os instrumentos são: tombamento, valoração do patrimônio cultural ferroviário e chancela da paisagem cultural. Para o projeto, consideremos apenas o tombamento como instrumento de maior relevância.

O tombamento foi instituído pelo Decreto Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, e proíbe a destruição de bens culturais tombados, colocando-os sob vigilância do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Para ser tombado, um bem passa por um processo administrativo, até ser inscrito em pelo menos um dos quatro Livros do Tombo instituídos pelo Decreto: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; Livro do Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes; e Livro do Tombo das Artes Aplicadas (Brasil, 1937).

As motivações que justificam e fundamentam a aplicação dos institutos jurídicos do tombamento de obras e do registro de bens imateriais pelo poder público agregam a esses bens novos valores e sentidos, inclusive legitimando-os, ao proclamá-los como pertencentes à esfera da cultura pública oficial. Esse fato apresenta implicações diretas para os inventários e para a identificação dos bens patrimoniais, no que diz respeito à definição de critérios, procedimentos de identificação e de registro. (ARANTES, 2006).

Um aspecto que deve ser observado é a crescente falta de mão-de-obra qualificada, devido à industrialização da construção civil, que deixa de valorizar um mestre ou pedreiro experiente e passa a contratar por valores mais baixos profissionais incapazes de executar um serviço bem-feito e dentro das especificações. O conhecimento das técnicas tradicionais tornou-se privilégio de poucos, na maioria arquitetos e restauradores especializados. Como resultado, a manutenção e restauração de estruturas tradicionais passa a ter mais custo do que a nova edificação com tecnologia contemporânea. (GATTERMAN, 2012).

Portanto, considera-se de devida importância, o desenvolvimento tecnológico e a formação profissional não só para a preservação, mas para a reforma e adequação dos edifícios para novos usos, prática incipiente no Brasil, sendo necessário o desenvolvimento de técnicas, produtos e a formação de mão de obra adequada às suas características, podendo resultar no impulso às atividades deste segmento no setor da construção civil. Além de oferecer solução habitacional, a proposta de reforma ou reciclagem de edifícios contribui para

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recuperar o patrimônio histórico, reverter o processo de abandono e, por vezes, se tornar indutor de outras iniciativas de reabilitação do entorno (Ministério das Cidades, 2005).

Em contraposição a história acompanhada dos sentidos envolvendo coletividades mais abrangentes são sobrepostos a outros localmente atribuídos aos bens selecionados (religiosos, práticos, afetivos), pondo em contato e tencionando realidades de diferentes escalas: local, regional, nacional e, até, mundial. O que é possível ligar com o subitem anterior, onde afirma-se que uma das causas da segregação nos espaços públicos é a sobreposição de poder (HARVEY, 2001).

Apesar de toda importância do tombamento, tanto na documentação quanto na parte social, a falta de conhecimento diante o fator histórico do bem tombado, causa algumas vezes a errada intervenção arquitetônica, ligada aos fatores contemporâneos, como se a preservação do bem fosse apenas uma regra, uma necessidade de estar ali, em contraponto novos elementos são adicionados sem necessariamente fazer ligação com o patrimônio. (GATTERMAN, 2012). Assim o autor afirma que a importância do bem tombado deve vir ligada ao pensamento de que a intervenção deve ser um conjunto e não uma soma de elementos independentes.

Portanto, além de medidas legais de defesa ao patrimônio, é importante salientar a cultura da preservação desde o início da educação, um exercício de cidadania, que deve ocorrer através da observação, onde ocorre o reconhecimento da obra, de sua função e significado; registro, que seria o aprofundamento da observação; exploração, onde ocorre o desenvolvimento da análise crítica através de pesquisa de fontes históricas; e por final a apropriação do patrimônio, por meio da intervenção criativa.

A discussão levada também intende a “globalização” e seu impacto sobre a identidade cultural contemporânea. Atualmente, a sociedade vive em mudança constante, rápida e permanente, conhecida também pelo termo “tempos líquidos” (BAUMAN, 2007), pois à medida em que áreas diferentes do planeta entram em conexão uma com as outras, ondas de transformação social atingem toda a superfície do mesmo.

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2.3.2. O TURISMO CULTURAL COMO ALTERNATIVA DE PROTEÇÃO

O patrimônio é representante documentativo da história de uma cidade e pode também ser elemento de atração cultural. Os projetos de revitalização, nestes casos, têm procurado uma parceria entre o Estado, que investe em infra estruturas e programas não-rentáveis, o setor privado que é estimulado a investir nestas áreas por meio de empreendimentos comerciais, e a sociedade que, através do consumo de bens e serviços da indústria cultural reintegra estas áreas à malha urbana (SERPA, 2015).

Atualmente, o turismo cultural é considerado um setor econômico dos mais promissores, pois além do desejo crescente das pessoas em conhecer outras culturas e lugares novos, este setor agrega valor ao bem ao necessitar de melhorias constantes dos equipamentos, transportes e produtos turísticos. A intenção de proteção ao patrimônio deve ser nobre, de maneira a intencionar a reeducação em relação às memórias da cidade, e não exclusivamente ao ganho monetário devido às visitações e turistas, deve haver então um reforço da identidade por parte daqueles que fazem parte da cidade, uma verdadeira apropriação daquilo que lhes é pertencente. (LUCHIARI, 2015).

Por outro lado, no período histórico atual, a lógica globalizante revela uma nova racionalidade da organização sócio espacial contemporânea, revestindo de novos valores e conteúdos tanto o espaço dos fluxos, que diz respeito à circulação, à informação e à comunicação, quanto o espaço dos fixos ou das formas, referente aos objetos naturais e técnicos presentes na paisagem, incluindo o patrimônio histórico. As chamadas verticalidades acabam por subverter a ordem dessa dinâmica local e impor novas funções às formas.

Na união vertical, os vetores de modernização são entrópicos. Eles trazem desordem às regiões onde se instalam, porque a ordem que criam é em seu próprio e exclusivo benefício. Isso se dá ao serviço do mercado, e tende a corroer a coesão horizontal que está posta ao serviço da sociedade civil tomada como um todo” (SANTOS, 2004, p.206).

Os centros históricos das cidades brasileiras mais adensadas ganham destaque especial nos inúmeros projetos de revitalização, hoje tão em voga, pelo setor turístico. Este mecanismo consiste em enobrecer, refuncionalizar, reabilitar

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uma dada área através do investimento de diversos capitais destinados à sua apropriação, segundo padrões de uma parcela dominante da sociedade, do ponto de vista político e econômico. Em inúmeros centros históricos de capitais nordestinas, as populações locais (em geral pobres, mendigos e prostitutas) foram desapropriados de suas antigas territorialidades para dar lugar a centros culturais, cafés, casas de espetáculos, restaurantes. Enquanto os projetos de revitalização exibem a estética da espetacularidade para o consumo do lazer, os usos sociais seletivos destas áreas não disfarçam o processo de segregação sócio espacial. Apesar do melhoramento estrutural do patrimônio, a fragmentação social acentua-se no uso direcionado ao consumo cultural, ou seja, exclusivo aos grandes grupos de pessoas que fazem do bem geral, apenas um entretenimento, onde uma foto já vale a visita. (LAGUNES, 2011).

Um exemplo clássico a ser usado aqui, é o do Pelourinho, em Salvador. Em 1985 o Pelourinho foi considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Pressionada por grupos locais soteropolitanos (aí entra a grande briga de territórios como ambientes políticos) para intervir mais pesadamente para reverter a degradação física da área, a Prefeitura chamou a arquiteta italiana Lina Bo Bardi para desenvolver um projeto da reabilitação para o centro histórico (Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1993).

A ideia da arquiteta era de manter os laços sócio-culturais da região, promovendo a cultura, o comércio e também a moradias de cunho social. Sendo assim, casas foram caídas, paredes e telhados restaurados, janelas e portas envernizadas, entre outras melhorias.

No entanto, tomando conta do potencial atrativo turístico da região, o governo do estado da Bahia resolveu interver no Pelourinho, definindo seus objetivos para a área em questão (IPAC-BA, 1995). Entre eles estavam:

a) Promover a reabilitação e a restauração físicas da área que levem em consideração o seu potencial econômico para a cidade e a região metropolitana; b) Promover as condições para uma preservação sustentável através do desenvolvimento das atividades econômicas;

Com as melhorias na infraestrutura, mas nas mãos do governo, casas foram totalmente reestruturadas e adquirindo novas funções, apesar do grande crescimento da região, onde a ocupação dos hotéis de Salvador aumentou de 210 mil para 340 mil hóspedes anuais entre 1981 e 1997, representando um

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aumento de 67% (SEI, 1998), houve uma mudança bruta de relocação de moradores da região, que se viram obrigados a vender seus lotes para os grandes empreendedores. A área total do Pelourinho, apenas 16% permaneceu residencial, enquanto 64,8% adquiriu uso comercial (WIPLIFI, 2000), segundo a tabela:

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Tabela 1 - Uso das propriedades do Pelourinho em 1999

Fonte: Mônica Wipifli (2000).

Figura 14 - Pelourinho em 1859.

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Figura 15 - Pelourinho em 2015

Fonte: Acervo Pessoal (2015).

Enquanto a gestão política não se sensibilizar de que o patrimônio segue junto da história social do local, e se atentar que espaços públicos não devem vir seguidos da intenção de lucros, e sim histórias e memórias das pessoas que compõem o local, a tendência é formar ambientes cada vez mais segregados e sem identidade, vulneráveis ao tempo e a espera de um próximo ponto turístico que passe pelos mesmo processos de gentrificação já sofridos pelo protagonista anterior. A cidade precisa pensar primeiramente naqueles que fazem parte da história dela, e promover melhorias de acordo com as necessidades dessas, e assim, consequentemente haverá uma integração mútua e saudável. (HARVEY, 2011).

O antropologista Paul Connerton (1998) afirma que as cidades têm adquirido escalas tão grandes e consequentemente espalhada, que acabam criando um anti valor de memória, se tornam “esquecíveis”; tendo origens nas partes sociais também, onde as relações estão menos definidas o que causa como consequência uma história efêmera.

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Neste subitem sobre o espaço cultural, abordarei através da junção dos conteúdos prévios da conceituação, como a mistura de culturas pode ser expressada em um único ambiente, a ponto de transformá-lo num verdadeiro espaço público e democrático.

A discussão sobre os públicos de diferentes grupos urbanos leva, antes de mais, o questionamento sobre as relações entre a oferta e a procura cultural, ou, se preferirmos, entre a produção e o consumo. Desta forma, o estudo dos públicos da cultura remete, decisivamente, para a multiplicidade, enquanto espaços organizados e socialmente estruturados de produção, e expressão. Analisar as formas culturais através das quais se exprime a contemporaneidade não é indissociável, em razão da distribuição desigual dos indivíduos na estrutura social, nem tão pouco das reconfigurações mais ou menos bruscas que atravessam as modernas sociedades.

Atualmente, se vive uma “crise” do espaço público das cidades, já analisada por vários autores da literatura urbanista (Chambers, 1990; Sorkin, 1992; Jacobs, 2000). Em regra, esta “crise” é vista como resultante da lógica cultural contemporânea que acentua, de um lado, o reino do individualismo e da domesticidade e, de outro lado, a cultura do movimento e da velocidade que, aplicada à técnica urbanística, organiza a cidade de acordo com o princípio geral de que os sujeitos se encontram em contínuo trânsito entre lugares (Sheller e Urry, 2000).

Em uma melhor contextualização, um dos fatores que origina a crise do espaço público é a tentativa de cópia do que deu certo, mas numa falsa aplicação ao contexto urbano local. Primeiramente surge espontaneidade civil, de algo novo, quando as ruas, praças, cafés e outros recintos formam cenários de entusiásticas manifestações públicas de indivíduos, grupos e movimentos sociais. Nesse processo, aqueles recintos públicos foram apropriados culturalmente e sujeitos a novas leituras e códigos de interpretação simbólica. “Participar” é a palavra de ordem mais mobilizadora, que contém uma carga simbólica muito particular: a de estar na rua, em grupo, soltando gestos e opiniões sobre a vida pública (CHAMBERS, 2000).

Porém, logo em seguida, Fortuna (1996) analisa que quando o novo deixa de ser algo tão atrativo quanto era antes, ocorre então o ciclo da europeização, reduzindo a preocupação com a infraestrutura específica do país. A participação

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pública dos cidadãos, grupos e movimentos sociais surge condicionada e, perante os efeitos sensíveis da globalização da economia, da cultura e da comunicação, o espaço público das cidades surge pautado pelos desígnios da massificação e da estetização dos consumos, do mesmo modo que o planeamento urbano e mesmo numerosas imagens identitárias e promocionais das cidades passam a sujeitar-se à lógica do mercado. É a chamada colonização do espaço público urbano.

Uma das falhas na formação do espaço cultural está na homogeneização cultural, dada a entender como um complexo de inferioridade brasileiro sob as culturas que um dia já forma dominantes, mas que ainda é transparecido no modo de agir e pensar no planejamento da cidade. Segundo o autor, o diretor do museu de artes de São Paulo (MASP), Pietro Maria Bardi, um dos grandes problemas do país está na falta de confiança pela identidade local, “que seria ainda maior se a cultura brasileira fosse adotada como um valor positivo de criação”.

A diversidade de situações e níveis desiguais de envolvimento e benefício das novas políticas culturais tornam claras as dificuldades de instituir ações socialmente abrangentes de redesenvolvimento cultural das cidades. A razão desta dificuldade está na própria característica da cidade moderna, feita de fragmentações e incoerências políticas, sociais e culturais. Se é destes fragmentos que se pode constituir e revigorar a imagem cultural de uma qualquer cidade, não é menos verdade que, em tempo de globalização, de crescente competitividade intra e inter cidades, a identificação de uma imagem emblemática ou de apropriação de revela paradoxal, e pode mesmo incorrer no reforço daquelas fragmentações e incoerências. Por outras palavras, as cidades não podem ser globalmente globais, nem para dentro nem para fora, hegemonização de um ou vários dos seus “fragmentos” (que assim se tornam imagem de marca local) projeta-se na localização ou na subordinação de outros, sejam eles grupos ou movimentos sociais, espaços ou monumentos, linguagens, artes ou saberes, atividades ou acontecimentos (FORTUNA, 2002).

A presença do estranho anula a eficácia dos nossos juízos e preconceitos, pois que é uma categoria desafiadora dos esquemas classificatórios elementares por se situar algures entre o amigo, ou o conhecido, de um lado, e o inimigo, ou o opositor, do outro. Imagina-se saber reconhecer e o que esperar

Referências

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