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Quando Deus se Tornou Um: A origem deuteronomista na unificação de "Iahweh e Elohim"

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Academic year: 2020

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QUANDO DEUS SE TORNOU UM:

A ORIGEM DEUTERONOMISTA NA

UNIFICAÇÃO DE IAHWEH E ELOHIM*

DOUGLAS OLIVEIRA DOS SANTOS**

Ouça Israel, Iahweh é o nosso Elohim que é Iahweh e que são um. Tu amas Iahweh que é Elohim de todo coração, de toda alma, sentimento, de toda força, Torna a declarar a esta como a existência acima do coração, este que nomeou a min.

(Deuteronômio 6, 4-6, tradução nossa)

N

o processo educacional contemporâneo, podemos observar que o estudo sobre

os hebreus se dá de forma sintetizada, se muitas contribuições para a compreen-são de nossa realidade. Entretanto o que nos leva a questionar é o fato de que a cultura ocidental legitima o seu deus mediante a história do deus ou deuses dos hebreus, mas podemos perceber é que de fato prevalece é a cultura grega sobre a nossa formação, talvez pelo fato de sempre colocarmos os conceitos ocidentais sobre os escritos hebraicos.

Resumo: o livro do Deuteronômio marca um momento em que o povo de Israel assumiria a

terra de Canaã, porém sua narrativa sobre o Sagrado descreve vários aspectos que remonta o reino dividido. Essa construção descreve o conflito politico e religioso entre Judá e Israel, que eram divididos entre as duas divindades Iahweh e Elohim. Esses conflitos buscam ser resolvido pela escola Deuteronomista, na tentativa de unificar as duas divindades e assim também os dois reinos. Esse discurso busca desconstruir a ideia anacrônica de que a concepção de Deus ocidental é a mesma concepção do Deuteronômio, princípios estes defendidos pelo fundamentalismo e ortodoxíssimo. Nesse processo buscaremos compreender os problemas das traduções e contextualizações e as causas pelas quais se originaram a Escola Deuteronomista.

Palavras-chave: Iahweh. Elohim. Sagrado. Divindade. Deuteronomismo.

* Recebido em: 05.06.2014. Aprovado em: 20.06.2014.

** Mestrando em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail: pr.douglasdossantos@ hotmail.com.

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Qualquer homem a qualquer nação, segundo os seus fins, as suas forças em necessidade de um certo conhecimento do passado sob a forma de uma história, que pode ser monumental, tradicionalista ou critica. Mas não têm necessidade dela à maneira de uma multidão de pensadores puros que encaram a vida de fora, nem como indivíduos ávidos de saber e só de saber. Todas as suas necessidades se originam para a vida e estão submetidas ao domínio à alta direção da vida (NIETZSCHE, 1977, p.133).

É comum ouvirmos que os hebreus eram monoteístas. Para a teologia tradicional1

isso se faz verdade absoluta, “O real é a interpretação que o homem atribui a realidade. O real existe a partir das ideias, dos signos e dos símbolos que são atribuídos à realidade percebida” (LAPLATINE; TRINDADE, 2005, p. 12). É nessa perspectiva que buscamos observar as análises atribuídas aos documentos Deuteronomista2. Uns dos textos mais observados é

Deu-teronômio 6,4-7 que diz o seguinte:

Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo cami-nho, ao deitar-te e ao levantar-te. (BIBLÍA, Tradução: João Ferreira de Almeida)

Quando observamos a tradução de João Ferreira de Almeida de fato nos faz pensar que o texto fala de um monoteísmo, no entanto se observarmos o texto original podemos entender que o Deuteronomista diz que a divindade3 Iahweh e Elohim era apenas uma

divin-dade. Partindo desse pressuposto qual seria a necessidade desta escola fazer essa afirmativa se o povo já se considerava monoteísta? Então pra que estabelecer novos atributos a essa divin-dade? Será que os atributos destinados a essa ou essas divindades não eram capaz de expressar quem elas eram ou quem ela é?

O texto apresentado nos leva a refletir quem é o Sagrado4 hebreu, porém este texto

é uma parte do decálogo5 hebreu. Quando se fala de decálogo, pensa-se logo no livro de

Deu-teronômio, o qual apresenta a lei, que por sua vez vai apresentar a compreensão do Sagrado pelos Hebreus, este que se apresenta como uma divindade que abençoa ou que castiga.

Deuteronômio é uma palavra de origem grega composta da palavra “deutero” que significa “segundo” e “nomos” de significado lei, possuindo o significado de “segunda lei”. Alguns preferem interpretar “repetição da lei”. A intenção que dá é que ela não foi produzida mais, repetida. “No Deuteronômio, porém, a lei aparece não como decretada, e sim como reproduzida e exposta” (DAVIS, 1971, p. 155), a reprodução dessa lei pode ser vista em vários momentos da história.

Segundo Harris et’al (1998) no “Dicionário Internacional do Antigo Testamento” afirma que o livro possui três divisões bem claras, todas dando ênfases às divindades: Capí-tulos 1,6 até 4,40 relembra uma breve historia de Israel, lembrando o que a divindade havia feito. Portanto, mostram a divindade agindo sobre o povo no passado. Do capitulo 4 até o 26 contêm a repetição das leis, fazendo com que o povo coloque em relevância a espiritualidade e a urgência de sua observância. E do capítulo 27 ao 31, trata das bênção e maldições ocasio-nadas mediante o cumprimento ou não da lei.

O livro de Deuteronômio, aparentemente, parece ser um livro projetado para legiti-mar a lei, pois ele mostra, em primeira instância, uma divindade à qual o povo deveria obede-cer por gratidão, imposição das regras e por fim por medo de serem castigadas. Fazendo uma analise simplória pode-se perceber que o próprio livro de Deuteronômio possibilita várias al-ternativas para adorar essa divindade. Mas como essa divindade é compreendida? “A verdade

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é que Deus jamais é totalmente visível ou completamente conhecido no Antigo Testamento” (SMITH, 2001, p. 99). O fato é que essa deveria ser adorada de qualquer forma, tanto pela gratidão, imposição ou pela força, isso significa que essa divindade pode ser compreendida de três formas. Porém o que nos faz questionar, não são as formas, mas a divindade. Que divindade seria essa? Iahweh ou Elohim? Mediante as informações anteriores e os questiona-mentos, percebemos que se deve observar o Deuteronômio não apenas como a exposição de um acontecimento histórico, mas um livro que possui uma importância ideológica que vai bem além. Ele possui uma influencia política, social, econômica e religiosa para um contexto que se passa em crise politica e religiosa.

A perícope6 (Deuteronomio 6.4), conhecida como “shemá” que segundo o

Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português (2003), traduz como “ouvir, prestar a tensão, dar ouvidos e entendimento” esse verbo é a primeira palavra do versículo e aparece no imperativo, ele determina, ele ordem o povo a adorar a dar ouvido a divindade. Talvez seja o cume de toda a mensagem. Nele se coloca a obrigação do povo Hebreu para com uma divindade, a divindade que se revelou a Moisés.

Quando observamos as diversas traduções em português é notório que o texto nos fala de um monoteísmo. Essa compreensão é perceptível mediante três aspectos: o primeiro é que nós (leitores) somos monoteístas e enquadramos os textos à nossa realidade. O segundo aspecto é que “Senhor” e “Deus” são inseridos como tradução, porém os mesmos fazem parte da nossa cultura e não das dos hebreus. O terceiro é que os tradutores queriam dar o sentido monoteísta no texto.

Podemos observar que a expressão “é o único Senhor” aparece em várias traduções: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” (Almeida corrigida e revisada fiel), “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” (Almeida revisada imprensa bíblica), “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.” (NVI), “Ouve, ó Israel; Jeová nosso Deus é o único Deus.” (Sociedade bíblica Britânica), “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” (Ave Maria).

Já na Bíblia de Jerusalém os tradutores tentam corrigir um erro, pois a palavra “Se-nhor” em hebraico é “adonai” e o nome que aparece no texto é Iahweh , nome próprio de uma das divindades hebraicas. Dessa forma sua tradução se dá da seguinte forma: “Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é único Iahweh!”, porém continua com o sentido mo-noteísta com a expressão “Deus é único Iahweh”, pois se interpreta “Iahweh” como “Deus”. A tradução TLH (Tradução da Linguagem de Hoje) “Escute, povo de Israel! O SENHOR, e somente o SENHOR, é o nosso Deus.” nem merece ser comentada pela tamanha distancia com o texto.

O texto em hebraico diz o seguinte , para ser bem claro trazemos as palavras com suas respectivas traduções: ( - Ouça), ( -Isra-el), ( -Iahweh) ( - Elohim nosso), ( -Iahweh) e ( -um), que literalmente traduzido seria dessa forma: “Ouça Israel Iahweh Elohim nosso Iahweh um”, no hebraico não se utiliza o verbo “ser” entre substantivos e adjetivos é por isso que em todas as traduções a utilização desse verbo é percebido, pois em geral ao se traduzir o texto inserimos o verbo “ser” para gerar sentido às frases, valendo-nos dessa regra compreendemos que o texto nos diz o seguinte: “Ouça Israel, Iahweh é o nosso Elohim que é Iahweh e eles são um”. Nessa pers-pectiva percebemos que a ideia não é dizer que existe uma divindade, mas afirmar que tanto Iahweh como Elohim eram uma única divindade.

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Nesse sentido devemos observar que o texto é da classe Deuteronomista. O que vem a ser essa classe? Ela faz uma tentativa de unir as duas concepções da divindade hebraicas tentando torná-las uma. Outra coisa importante é que segundo Storniolo e Balancin (1992) entender que esse texto foi produzido no reino dividido.

A BEIRA DO JORDÃO

No capítulo 4,44 pode-se observar uma introdução semelhante ao primeiro capi-tulo do livro. Isso significa que há uma tentativa de ligar a primeira parte com a segunda, ou seja, liga-se á divindade protetora à divindade da lei. Apresenta-se no livro de Deuteronômio um cenário, em que o povo está presente a obter a vitória após muitos anos de caminhada no deserto. Antes de o povo possuir a terra prometida, Moisés fez a releitura dos mandamentos, lembrando a experiência do Sinai, “Nos lábios de Deus, os dez mandamentos, originariamen-te independenoriginariamen-tes e em paroriginariamen-te compatíveis às outras leis orientais, passam a ser considerada lei revelada” (LOPES, 1995, p. 16), existe uma tentativa de legitimar a lei judaica contrapondo as religiões de outros povos.

É interessante observar que, ao ler as leis ou discursá-las, Moisés faz alguns acrésci-mos como se o povo já estivesse vivendo aquelas situações. Concepções que aquele povo ainda não obtinha um desses fatores é a ênfase desnecessária da terra do Egito. Segundo Harris et al. (1998), no Dicionário Internacional do Antigo Testamento, Moisés dá um aspecto negativo do Egito designado uma força e um poder difícil de superar. Isso significa que o não cum-primento da lei é retornar ao Egito, por isso o povo deveria obedecer à lei. O cumcum-primento dessas leis trazia uma esperança que era prolongar seus dias na terra que há de possuir uma recompensa pela obediência à lei da divindade. No entanto, percebemos que Moisés retoma uma temática improvável nesse período.

Com relação à lei, Moisés trás novos aspectos como se o povo vivesse de maneira sedentária, ele faz relatos de animais, dando a entender que o povo tinha grandes rebanhos e possuía terras para cultivo.

O deserto era para a maioria dos tempos do Antigo Testamento, um péssimo lugar... que não se pode semear, e que não produz nem figueiras, nem vinhas, nem romeiras; e além disso não tem água para beber (Número XX, 5); era mesmo considerado como um inimigo que ameaçava o seu confortável modo de vida, uma terra de ninguém habitada por serpentes, escorpiões, burros selvagens (HEA-TON, 1965, p. 34).

Seria difícil entender esse cultivo se a própria narrativa afirmava que o povo comia maná e codornizes. Também no livro faz menção do escravismo como seria possível se o escravismo no nomadismo não era utilizado. Moisés se baseia em uma estrutura sedentária, onde “o povo era a massa camponesa que compunha a grande maioria da população, viviam em pequenas aldeias [...]” (PIXLEY, 1989, p. 10). Ao ressaltar essa nova estrutura Moisés enquadra seu discurso em um período de dificuldade, pressões e preocupações políticas, que se enquadra no período de expansão Assíria.

O cenário político internacional de século VII a. C. é turbulento, graças a febre expansionista que havia no oriente médio: pressões, guerra e dominações das grandes potências (Síria, Assíria, Egito), com as conseqüentes alianças, divisões políticas, vassalagens com pesados tributos, exílios (STOR-NIOLO, 1992, p. 33).

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No inicio do livro de Josué é narrado o mesmo período. Lá não se fala da lei-tura da lei, nem do Egito, e nem menciona como o povo iria viver; pelo contrario, Josué manda servos espias à cidade para saber como era, pois eles ainda não sabiam como a ci-dade estava naquele momento. Após as espionagens foram trazidos os detalhes da cici-dade. Moisés não poderia ter usado dessa fonte, pois ele já tinha morrido como cita o início do livro.

É importante observar que Moisés cita duas divindades e dá uma única caracterís-tica às duas. Ele dá ênfase à lei mediante Iahweh e Elohim, entrando em contradição com o êxodo em que a divindade possuía apenas um nome, Iahweh, e agora Moisés legitima Elohim com Iahweh, sendo que a origem da unificação se dá com a Escola Deuteronomista no reino dividido.

Como as duas divindades tinham características diferentes Moisés dá uma única às duas. Em primeiro alugar, ele coloca as divindades como sendo autora da lei; em segundo a divindade era a mesma que conduziu o povo da terra do Egito à terra prometida. Nesse aspec-to, não podemos ver os fatos como apenas interpretações literais, pois “o sentido da História não é evidente na sua superfície. Para descobrir seu sentido é necessário explorar a profun-didade dos eventos” (PIXLEY, 1989, p. 9). Em terceiro, as divindades eram apenas uma, é importante deixar claro que nesse momento elas não eram a única divindade.

O que o texto denota é que o povo do deserto entrou em Canaã com essa informa-ção, portanto poderia se dizer que o pensamento teológico já estava muito avançado. O que não se compreende é o fato de uma teologia ter se avançado em um período tão arcaico com informações desnecessárias a um povo que só queria entrar na terra prometida e que já co-nhecia a lei mediante suas experiências. O que se pergunta é para que seriam utilizadas tantas informações desnecessárias?

A ortodoxia7 teológica contrapõe essas indagações afirmando que: “O mundo está

cheio de obras notáveis, em que, de um modo ou de outro modo, se procura interpretar a Bíblia sem o sobrenatural, e não poucos se têm deixado se levar por essas lábias materialistas e arruinando a sua vida espiritual” (MESQUITA, 1973, p. 126). Porém percebemos que o próprio discurso religioso se encontra dentro de contextos históricos, onde o mesmo passa a fazer sentido. Então percebamos como se deu a construção dessa divindade e em que contexto ela se encaixa.

UM LIVRO ESCONDIDO

No período de Ezequias, rei de Judá, apresenta algumas características que se ade-quaram ao contexto de Deuteronômio 6 de 4 a 6, bem como toda a estrutura de linguagem e costumes.

O livro de Reis deixa bem claro que no tempo em que Ezequias assume o reinado, Judá sofria pressão de Senaqueribe, rei da Assíria. Ezequias, que não queria pagar o contrato de vassalagem8, passa a ter a ideia de se rebelar contra a Assíria.

Foi montada uma estratégia para que o seu exército fosse forte “Apesar dos con-selhos de Isaias, seguiu uma política complexa de alianças com o Egito, e com o rei de Babilônia, que durante algum tempo, esteve resolvendo contra o rei da Assíria” (CHAR-PENTIER, 1986, p. 85). O primeiro objetivo era fazer com que o povo se tornasse um. “Ezequias se uniria ao Egito e a Babilônia, formando uma liga anti-Assíria; ao mesmo

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tempo, promove uma reforma político-religiosa, buscando reunificar o Norte e o Sul, a fim de restabelecer a antiga unidade do império davídico-salomônico” (SELLIN, 1977, p. 28). Talvez por esse fato venha a grande influência levita, que tinha o objetivo de catequizar. 2 Reis 18,6 fala que Ezequias guardava os mandamento de Moisés, ou seja, a idéia do deute-ronômio primitivo.

Quando Acaz reinou, ele fez com que o povo se tomasse idólatra e por causa da idolatria, foi neces-sário uma ênfase na lei. Como Ezequias sabia que existe uma similaridade entre os acontecimentos da divindade do sul e do norte ele nacionaliza a divindade, ‘Dado que os limites do povo e da fé coincidem. Deus só vive preso apenas aos limites culturais, mas também dentro dos limites da ação’ (SELLIN, 1982, p. 104).

Ezequias estimula o povo a lutar pela terra de sua divindade. A Crítica Tex-tual argumentam que essa lei poderia ter sido modificada nesse período porque a lei de Moisés não se adequava à realidade do povo; então, é por isso que há uma grande ênfase na idolatria. Na tentativa de fazer com que Judá e Israel se unissem era necessário que houvesse uma divindade poderosa. “Ezequias não limitou seus esforços a Judá. Como Josias depois dele, ele procurou persuadir o povo do extinto estado do norte a participar do programa e aderir à adoração de Iahweh em Jerusalém (II Cr. 30, 1-12)”. (BRIGHT, 1972, p 379). Por isso se vê o nome de Iahweh se unindo com o de Elohim. E o povo de-veria obedecer com todas as suas forças e emoções, Ezequias resolveu fazer uma (reforma religiosa). “A terra estava de todo corrompida com a idolatria. A primeira medida foi der-rubar os altares que haviam sido colocados por Salomão e que nenhum dos melhores reis tiveram coragem de destruir. Era lugar de culto popular” (MESQUITA, 1979, p. 147). Essa reforma consiste em uma nova forma de ver a divindade, pois a mesma não poderia estar subjugada a outro reino nem a outras divindades. Ela deveria ser exclusiva, porém era muito forte a influencia Javista, “[...] o nacionalismo, o zelo Javista convergiam em larga escala na política de Ezequias [...]” (BRIGHT, 1972, p. 378). Isso era ressaltado por Ezequias, por acreditar que a divindade do Sul era predominante, devido os aconte-cimentos mediante a historia dos Hebreus.

Talvez a forma mais adequada de compreender a historia da religião nesse processo de formação de um povo tenham contribuído com suas afirmações religiosas próprias e que determinadas tra-dições ligadas a uma divindade da luta tenha recebido maior destaque juntamente como elemento afirmador do próprio do experimento Israel. Assim, o Deus pode ser entendida como a divindade originaria do Israel tribal. Em um processo de amalgamação social, a divindade yahveh, trazidas pelos grupos do êxodo e do Sinai, provavelmente foi mais reverenciada no contexto de batalhas por liberação e conquista de liberdade e paz, [...] (REIMER, 2003, p. 977)

Ezequias contava com a fraqueza da Assíria para se restabelecer, nesse momento a Assíria sofria com a morte de seu Sargão II, o que Ezequias não contava era que Senaqueribe restituiria o seu reino. Foi então que os planos de Ezequias foram frustrados, e a Assíria domi-nou Judá fazendo com que ela retornasse a pagar o contrato de vassalagem.

Provavelmente nesse período o livro foi copiado e alterado por Ezequias e poste-riormente foi perdido ou escondido no templo. É importante observar que no período de Ezequias começam a se responder várias questões do Deuteronômio: As informações inúteis usadas por Moisés começam a ter utilidade nesse período.

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Josias e uma Reforma

No período do rei Josias não era muito diferente do período de Ezequias, pois ele também se aproveitava da morte de Assurbanipal, rei da Assíria. Josias vê a possibilidade de se tornar independente da Assíria e com isso volta à estratégia de Ezequias. Em primeiro lugar, com o enfraquecimento da Assíria, a Babilônia entendeu que seria um momento propício e a partir da possibilidade do desenvolvimento de Judá, Volta-se à idéia da aliança.

Javé, o Deus de Israel, aparece num contexto fortemente aliancista. Ele é o grande rei o senhor da aliança. Deste conceito geral deveria as ideias mais refinadas da teologia Israelita. [...] A aliança mosaica retratava Deus como o grande Rei que tornava seu Deus e ele se tornava seu povo (THOMPSON, 1985, p. 67).

Como no período havia uma grande quantidade de divindades, era necessária a ele-vação de uma única divindade, mas significa que teria de ter ideia monoteísta. Porém o povo deveria adorar uma única divindade, sendo esta maior de todas.

O primeiro passo foi destruir os altares, os ídolos, imagens, tudo que viesse a trazer uma concepção sincrética, pois o povo teria que se unir com uma única divindade; juntos poderiam vencer mediante essa divindade. Depois de os altares serem derrubados, Josias passa para a sua segunda estratégia que é a reforma do templo, visto que estava em decadência.

Josias então envia Safã, o escrivão, para subir até Hilquias, o sumo sacerdote, a fim de resolver algumas questões com relação ao templo. Quando Safã chega lá, Hilquais mostra o livro da lei, o qual ele havia encontrado.

A reforma do culto, realizada em seguida (cap. 23), mostra claramente, que por ela foi realizada a idéia fundamental do Deuteronômio, que só permitia um único lugar de culto, pode-se supor, segu-ramente, que o Deuteronômio foi exatamente, este mesmo código de leis. Contêm muitos matérias antigos, mas em sua forma natural foi redigido provavelmente, apenas no século em que foi achado e quando começou a vigorar (RENDTORFF, 1978, p .17).

Argumenta-se que Hilquais poderia ter escrito a lei, outros argumentam que seria improvável, pois a lei não beneficiaria o sacerdotalismo; o que interessava é que o livro foi en-contrado, e seria impossível também que fosse todo o livro de Deuteronômio, pois os escribas dizem que Josias leu o livro várias vezes e pelo tamanho seria impossível.

Há uma possibilidade de Josias ter modificado o livro para a sua realidade. O livro foi alterado por Josias, ou Ezequias, quem sabe, pelos dois. “A complicação das leis é feita em função de um Rei ‘eleito’ por lahweh entre os israelitas e não um estrangeiro (Dt. 17, 15)” (CAZELLES, 1986, p. 184). Há evidencias de que a lei foi de fato alterada. “Na realidade, pelo menos a elaboração de uma camada do Deuteronomista deve provir do tempo de Josias ou do século anterior” (SCHREINER, 1978, p. 242), essa alteração evidencia o pontapé da reforma religiosa promovida por Josias.

Começam-se a desmascarar o fator obscuro dos relatos de Moisés, pois a lei que Moisés cita é uma lei que se encaixa totalmente no contexto de Josias, tanto pelos escravos quanto pela terra. A lei se identifica com o povo e com isso, a estratégia de Josias começava com o povo de Israel e Judá como um povo e uma só lei que veio de Moisés, o grande líder.

Os problemas teológicos de Josias ainda não estavam resolvidos, pois o objetivo dele era unir o povo pelo Sagrado e não só pela lei; a lei seria a prática do povo, mas o que motivaria o povo a se unir seria o Sagrado.

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Josias já havia derrubado os altares oferecidos a ídolos, contudo ele não poderia der-ribar todas as divindades, pois os Hebreus estavam dividido entre, Iahweh e Elohim, que pos-suía características diferentes; se ele negasse uma teria que desistir com uma aliança. Ai que entra a grande legitimação do texto. Deveria haver uma divindade. Então resolveu-se trans-formar em uma as duas divindades, dizendo que lahweh é Elohim e que Elohim é lahweh, dando assim uma única característica à característica da lei. Nesse caso a legitimação dos profetas se tomava de estrema importância, que ressaltava o juízo da divindade, conclamando o povo para um nacionalismo.

Os escritos de Deuteronômio tomaram a mensagem do juízo, anunciada pelos profetas trabalha-ram zelosamente para levar a lsrael a uma escuta dócil e permanecer no estado de salvação. Todo verdadeiro profeta era encarado como um Moisés ressuscitado ( 18, 15 ss). Eles faziam um convite concreto para que o povo abandonasse os vários cultos e se reunisse no único lugar escolhido para lahweh, lugar onde eles fizeram descer o seu nome (WOLFF, 1978, p.41).

Agora o plano estava completo, o povo seria um único povo, teria uma única divin-dade e com uma única lei, dando origem a Escola Deuteronomista. Seria uma história em que Moisés fala ao povo contra a idolatria e apresenta uma lei contextualizada, unem-se as duas divindades e o povo deveria servi-la com todas as suas forças.

MORTE DAS OUTRAS DIVINDADES

No objetivo de unificação das tribos e na tentativa de fazer com que o povo se voltasse para uma única divindade, o profeta lsaias se faz presente na construção de um con-ceito monoteísta. Quando Ezequias propõe a primeira reforma ele “ [...] reconhece o status especial de lsaias e vai ao profeta para em contato com Javé. Neste ponto Ezequias segue a lei Deuteronomica (Dl 18, 15-22). Da mesma forma como os reis em suas reformas religiosas” (WILSON, 1993, p. 198), para que a unificação da divindade desse certo era preciso legiti-mação desses conceitos.

No período de Josias as concepções da divindade sofreram muitas influências do profeta lsaias, pois ele combatia a idolatria e essa concepção fazia com que o povo abandonasse as outras divindades. “ Assim, o profeta se dirige aos ídolos, não às nações, desafiando-os para demonstrarem o seu conhecimento do futuro, ou mostrarem o seu poder de fazer qualquer coisa bem ou mal” (CRABTRRE, 1967, p. 77), é nesse contexto que lsaías contribui para que os hebreus acreditassem que as duas divindades era apenas uma. Isso vai ser o princípio que se tomará base para o Deutero-lsaías9, na sua defesa monoteísta.

Depois que o povo foi levado cativo, houve a grande composição do livro; talvez aí o livro tenha sido totalmente completo. O livro é contado por um povo vitorioso que já tinha sido cativo uma vez e a divindade o havia libertado. O povo se encontrava em uma situação difícil, estava desanimado com a sua divindade, pois a mesma havia esquecido o povo e dei-xado que Babilônia o levassem cativo.

Dêutero-Isaías que era influenciado pelo Próto-Isaías10 encabeça a morte das

divin-dades e retorna o pensamento de fazer o povo se afastar da idolatria. O Proto-Isaias estava presente no período de Josias, só que agora com uma concepção monoteísta. Talvez as tradu-ções hoje sofreram essa influência por suas tradutradu-ções como “O nosso Senhor Deus é único Senhor” criando uma margem do desenvolvimento monoteísta.

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Os profetas teriam sido os criadores do que o autor (Kunen) chamou de monoteísmo ético. [...] O pensador Nikiprowetzky, na década de 1970, retomou a idéia do monoteísmo ético, afirmando que o seu surgimento estaria relacionado com o desenvolvimento de um nacionalismo no inícios do antigo Israel (REIMER, 2003, p. 969).

Com o aniquilamento das outras divindades o povo não teria escolha para ado-rar. Ressalta-se o patriotismo e mostra-se que Iahweh e Elohim eram o único, o único da lei. A divindade que agora se aproxima da concepção do Deus Ocidental começa a vigorar, pois os Hebreus não haviam tido experiência com outra divindade, mas sim com Iahweh que era Elohim. “lahweh é incomparável e único: Iahweh é sem igual, e o profeta não vê ninguém que lhe possa ser comparado [...] Algumas declarações deixam transpa-recer fé mais explicita num Deus único” (AMSLER et al., 1992, p. 325), agora o povo deveria adorá-lo com toda força, entendimento e coração, pois essa divindade se revelou a Moisés mediante a lei.

A lei faria com que a característica dessa divindade fosse presente no povo e com isso não sumiria a identidade dos hebreus, não haveria difusão religiosa, pois quanto o povo saísse de Babilônia sairia com Iahweh que é Elohim e não com uma divindade qualquer, pois as outras divindades já haviam morrido.

O PROBLEMA

Mediante a análise deste texto, podemos observar que há uma relatividade na con-cepção do Sagrado no meio dos Hebreus: o povo estava dividido entre Iahweh e Elohim, duas concepções totalmente diferentes. É interessante observar que o povo constrói sua teologia encima de suas necessidades. Eles não precisavam encarar o Sagrado e nem argumentar-lhe contra, pois ela se enquadra com sua realidade, não como necessidade individual, mas como necessidade para a população.

Quando a realidade era mudada mudava-se a concepção da divindade, ou a divin-dade mudava de atitude, pois pode-se observar que no Artigo Testamento a divindivin-dade não é atemporal. Ela precisa da historia para existir. O fato é que a divindade dos Hebreus exigia exclusividade.

Quando observamos o cristianismo percebemos que o mesmo se utiliza da estrutu-ração Deuteronomista para legitimar Deus. Pode se compreender que a concepção de Deus se enquadra na revelação progressiva. Deus se revela na medida em que o homem pode co-nhecer.

O interessante é saber que a escola Deuteronômista não entra em contradição com duas concepções; na realidade, ela fez uma nova concepção, sem ferir os parâmetros éticos dos Hebreus e da divindade. As compreensões não se acabam na escola Deuteronomista, pois cada dia que se passa o povo mudava de realidade.

Apesar das manipulações politicas estabelecidas nas relações politicas, percebemos que o princípio interpretativo contemporâneo das escrituras sagradas, principalmente quan-do influenciadas pelo fundamentalismo religioso, acabam na tentativa de proteger seus pres-supostos em relação à soberania de Deus. Acabam limitando o sagrado em seus conceitos sem perceber que a construção do mesmo é dinâmica, rompendo em cada momento da história com as concepções engessadas da sociedade.

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WHEN GOD BECAME ONE: THE DEUTERONOMIST SOURCE IN THE UNIFICATION OF IAHWEH AND ELOHIM

Abstract: the book of Deuteronomy marks a time when the people of Israel would take the land of Canaan, but his narrative on the Holy describes several aspects that dates back to the divided kingdom, this construction describes the political and religious conflict between Judah and Israel, which were divided between the two deities Iahwhe and Elohim, seek such conflicts be resolved by the Deuteronomic school, in an attempt to unify the two deities and so did the two kingdoms. This discourse seeks to deconstruct the anachronistic idea that the Western conception of God is the same conception of Deuteronomy, principles defended by fundamentalism and ortodoxíssimo. In this case try to understand the problems of translation and contextualization and the causes for which they originated the Deuteronomistic School.

Keywords: Iahweh. Elohim. Holy. Divinity and Deuteronomismo.

Notas

1 Teologia Tradicional: referimos ao método de interpretação fundamentalista, que interpreta as escrituras literalmente, e o método de interpretação ortodoxa que vai contra o método histórico crítico.

2 Deuteronomista: Era historiográfica do antigo testamento que enfatiza a ideia de um único povo, único Deus e única fé, busca da unificação religiosa entre os hebreus.

3 Divindade: este termo é utilizado para evitarmos o termo “Deus”, pois quando usamos este termo, acabamos transportando nossos conceitos relacionados a Deus, no texto.

4 Sagrado: Termo sugerido por Rodolf Otto em seu livro “O Sagrado”, que conceitua como o mesmo sendo “tremendo, misterioso e fascinante”.

5 Decálogo: vem de duas palavras grega, “Deca” que significa “dez” e “logos” que significa “Compreensão”, “compreensão dos dez mandamentos, comumente entendido como “os dez mandamentos”.

6 Perícope: é a delimitação de um texto, que contem uma mensagem definida. 7 Ortodoxia: ver a nota 1

8 Vassalagem: contrato estabelecido entre os detentores do império para com os povos dominados, eles pagavam pela sua proteção. No caso do império Assírio os povos dominados pagavam para serem protegidos dos próprios Assírios.

9 Deutero-Isaias: Teoria que defende que o livro de Isaias foi escrito por vários autores, a palavra “Deutero” significa “segundo”, esse termo indica o segundo autor do livro, que teria vivido no cativeiro Babilônico. 10 Próto-Isaías: a palavra “Próto” significa “primeiro”, indica o primeiro Isaias.

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